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Sangramento Uterino Anormal - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 1 Sangramento Uterino Anormal - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO INTRODUÇÃO DEFINIÇÃO Fluxo sanguíneo proveniente do corpo do útero, em volume excessivo, não relacionado à gestação, com indicação de intervenção imediata, a fim de se reduzir a perda sanguínea e evitar instabilidades clínica e hemodinâmica CARACTERÍSTICAS AUMENTO DE Quantidade ou volume Duração ou frequência REPERCUSSÕES Físicas Emocionais Sangramento Uterino Anormal - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 2 Sociais Materiais Qualidade de vida das mulheres ACOMPANHADO OU ISOLADO? Pode se apresentar como episódio isolado ou manifestação aguda de uma condição crônica EPIDEMIOLOGIA Acomete 40% das mulheres 1/3 das consultas ginecológicas 2/3 das indicações de histerectomia Prejudica a qualidade de vida de 2/3 dos casos Causa mais comum da anemia ferropriva PARÂMETROS Sangramento Uterino Anormal - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 3 NORMALIDADE FREQUÊNCIA AUSENTE Amenorreia INFREQUENTE > 38 dias NORMAL ≥ 24 a ≤ 38 dias FREQUENTE < 24 dias DURAÇÃO NORMAL ≤ 8 dias PROLONGADA > 8 dias REGULARIDADE NORMAL variação entre o mais curto e o mais longo dos ciclos ≤ 7 a 9 dias IRREGULAR variação entre o mais curto e o mais longo dos ciclos ≥ 8 a 10 dias VOLUME SANGUÍNEO LEVE Referido pela paciente NORMAL Referido pela paciente INTENSO Referido pela paciente ETIOLOGIA PALM-COEIN PALM Causas estruturais COEIN Causas não estruturais Sangramento Uterino Anormal - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 4 PÓLIPOS ENDOMETRIAIS Prevalência: até 50% em mulheres com SUA Período: peri e pós menopausa Causa: crescimento localizado do tecido endometrial, coberto por endotélio Características: fragilidade vascular + microerosões + inflamação crônica na superfície do pólipo Diagnóstico padrão-ouro: histeroscopia ADENOMIOSE Sangramento Uterino Anormal - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 5 Prevalência: 5 a 70% em mulheres com SUA Características: vascularização miometral pela invasão do endométrio, dificuldade nas contrações do miométrio por desequilíbrio entre as prostaglandinas locais no tecido mioendometrial, ou simples aumento do volume uterino pelo aumento da área endometrial Quadro clínico: dor pélvica + fluxo menstrual prolongado ou fluxo com maior volume Diagnóstico: USG transvaginal e RNM Conduta: pode ser tratada com os mesmos medicamentos usados nos leiomiomas, já que também é uma doença estrogênio dependente, mas o tratamento definitivo é a histerectomia, realizada predominantemente em mulheres acima de 40 anos sem desejo reprodutivo LEIOMIOMA Definição: tumores benignos do músculo liso, sendo a neoplasia mais comum em mulheres Fatores: tumores dependentes de estrogênio que atingem basicamente mulheres em idade fértil (pico entre as 3ª e 5ª décadas) Fatores de risco: história familiar, raça negra, menarca precoce e nuliparidade, hipertensão arterial, uso de álcool e obesidade Sangramento Uterino Anormal - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 6 Fatores protetores: uso de anticoncepcionais orais (ACO), tabagismo e primiparidade precoce Características: elevados fatores angiogênicos, fatores de crescimento do endotélio vascular (VEGF), fator ligante da heparina e fator de crescimento derivado das plaquetas Principais tipos: submucosos Diagnóstico: histeroscopia e exames de imagem (USG transvaginal e RM) Conduta medicamentosa: danazol, gestrinoma e análogos ou antagonistas de GnRH Miomectomia histeroscópica: deseja engravidar + mioma submucoso Miomectomia histeroscópica: deseja engravidar + mioma subseroso Embolização de artéria uterina: múltiplos miomas não pediculados + desejo de engravidar ou risco cirúrgico proibitivo ou deseja preservar útero Histerectomia via vaginal: prole constituída + sintomas importantes se útero < 300 cm3 Histerectomia via abdominal: prole constituída + sintomas importantes se útero > 300 cm3 Sangramento Uterino Anormal - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 7 HIPERPLASIA E MALIGNIDADE ENDOMETRIAL Período: pós menopausa Fatores de risco: obesidade, HAS, DM, nuliparidade, menopausa tardia, anovulação crônica Etiologia: estimulação estrogênica crônica do endométrio, sem a contraposição de progesterona, resultando em ciclos anovulatórios crônicos Clínica: sangramentos excessivos, dismenorreia e aumento discreto do tamanho do útero Diagnóstico: USG-TV ou histeroscopia Submucoso – 0: pediculado; 1: > 50% intramural; 2: < 50% intramural. Intramural – 3: 100% intramural; 4: intramural. Subseroso – 5: > 50% intramural; 6: < 50% intramural; 7: pediculado. Outro – 8: cervical. Sangramento Uterino Anormal - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 8 Conduta: curetagem, uso de progestágenos e até mesmo histerectomia (lesões atípicas) COAGULOPATIA Clínica: aumento do volume menstrual desde a menarca, epistaxe, gengivorragia, histórico de dificuldade de coagulação em traumas ou cirurgias Principal causa: doença de von Willebrand Outras causas: hemofilia, disfunções plaquetárias, púrpura trombocitopênica, distúrbios coagulação associados a doenças como hepatopatias e leucemia DISFUNÇÃO OVULATÓRIA Definição: sangramento anormal causado por uma ação anormal hormonal no endométrio, na maioria das vezes relacionado à anovulação e, portanto, por um estímulo constante de estrogênio sem contraposição da progesterona Faixa etária: muito comum nos extremos reprodutivos, por imaturidade do eixo hipotalâmico-hipofisário-ovariano na adolescência e falência ovariana no climatério Conduta: progesterona na 2º fase (Cetato de medroxiprogsterona, 10 mg, 14 dias), ACO, análogo de GnRH, DIU com levonorgestrel e AINE’s CAUSAS ENDOMETRIAIS Sangramento Uterino Anormal - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 9 Definição: presença de tecido endometrial fora do útero, atingindo 5 a 10% das mulheres em idade fértil, sendo a maioria assintomática Fatores de risco: história familiar, raça asiática e branca, menarca precoce/nuliparidade, IMC baixo e consumo elevado de álcool e café Causas: hiperplasia e câncer de endométrio Características: volume excessivo, sangramento prolongado e, com frequência, manutenção da ciclicidade em padrão normal Distúrbios bioquímicos: alteração nas metaloproteinases matriciais e fatores de crescimento do endotélio vascular Não desejam engravidar e a doença é leve/moderada: tratamento clínico com ACO contínuos (mais usado), progestágenos cíclicos, danazol, gestrinoma, GnRH e AINE’s Desejam engravidar ou a doença é moderada/grave: o tratamento deve ser cirúrgico, especialmente com a laparoscopia e exérese de todos os focos endometriais IATROGÊNICAS Causas: dispositivos intrauterinos, tanto medicados como não medicados; uso oral de anticoagulantes ou preparações de heparina, ou medicações que reduzem os níveis circulantes de estrogênios e progesterona (ácido valproico, rifampicina, griseofulvina); uso de anabolizantes; ou, com menor possibilidade, o tabagismo Sangramento Uterino Anormal - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 10 CAUSAS NÃO CLASSIFICADAS Causas estruturais: malformações arteriovenosas e defeitos estruturais pós cesárea (istmocele) Causas não estruturais: produtos dos neutrófilos, como citocinas, e fatores de crescimento POR FAIXA ETÁRIA NEONATOS Retirada de estrogênio INFÂNCIA Corpo estranho, trauma, infecção, prolapso uretral, sarcoma botrioide, tumor ovariano, puberdade precoce, vulvovaginite ADOLESCENTES Anovulação, púrpura trombocitopênica idiopática, doença de von Willebrand, disfunção tireoidiana ou hepática, hiperprolactinemia, síndrome dos ovários policísticos, estresse, gestação, infecção e anomalias genitais ADULTAS Anovulação, gestação, câncer, pólipos cervicais e endometriais, leiomiomas, adenomiose, infecção, disfunção endócrina, disfunções renais e hepáticas, ACO, SIU de levonorgestrel, DIU de cobre e implantes subdérmicos PERIMENOPAUSA Anovulação, câncer, pólipos cervicais e endometriais, leiomiomas, adenomiose, disfunção tireoidiana PÓS-MENOPAUSA Atrofia, câncer, hiperplasia endometrial,tumor vulvar, tumor vaginal, tumor cervical, terapia de reposição hormonal, pólipos endometriais ou cervicais DIAGNÓSTICO Sangramento Uterino Anormal - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 11 OBJETIVOS 1. Excluir possíveis complicações da gravidez a. hCG + beta-hCG + USG transvaginal 2. Excluir uso de medicamentos a. Estradiol e progesterona 3. Identificar doenças sistêmicas intercorrentes 4. Avaliar as condições dos órgãos pélvicos 5. Verificar a função do eixo Hipotálamo Hipófise a. Ciclicidade menstrual b. Dados antropométricos c. Hiperandrogenismo d. Bulimia e. Anorexia f. Atividade física excessiva ANAMNESE 1. História menstrual 2. Estilo de vida, atividade, estresse 3. Sono, sede, olfato, comportamento 4. Perda de peso, vômitos, hábitos 5. Sintomas de hipoestrogenismo 6. Sintomas de hiperestrogenismo 7. Uso de medicamentos, drogas EXAME FÍSICO 1. Verificar pulso e pressão arterial Sangramento Uterino Anormal - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 12 2. Conformação corporal global 3. Coloração amarelada da pele 4. Presença de sinais de hiperandrogenismo 5. Sinais de hipo ou hiperandrogenismo 6. Exame ginecológico detalhado EXAMES COMPLEMENTARES COAGULOGRAMA Testes iniciais: hemograma, plaquetas, TAP e PTT Indicação: pacientes com sangramento menstrual aumentado desde a menarca ou com história familiar sugerindo coagulopatias ou com história de hemorragia pós-parto ou sangramentos frequentes USG Método de primeira escolha para avaliação de anormalidades estruturais uterinas Transvaginal: permite obter imagens de melhor qualidade, pela maior proximidade das estruturas com o transdutor de alta frequência Pélvica transabdominal: se paciente não tiver iniciado sua vida sexual ou não tolerar o uso da sonda transvaginal HISTEROSSONOGRAFIA (HSS) Sangramento Uterino Anormal - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 13 Instilação de solução salina durante a USGTV, distendo a cavidade uterina e permitindo melhor visão intracavitária, aumentando a sensibilidade e especificidade em identificar lesões focais no endométrio HISTEROSCOPIA (HSC) Visualização direta da cavidade uterina + coleta de material Método padrão-ouro: investigação endometrial Indicação: apenas quando a USGTV for inconclusiva RM Indicação: apenas quando a USGTV for inconclusiva BIÓPSIA DE ENDOMÉTRIO Método padrão-ouro: diagnóstico de afecções endometriais Uso: excluir neoplasias ou hiperplasia atípica Indicação: sangramento intermenstrual persistente, SUA em mulheres maiores de 45 anos e falha no tratamento Sangramento Uterino Anormal - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 14 Método ideal: biópsia endometrial dirigida por histeroscopia CURETAGEM UTERINA Não é um método diagnóstico de primeira linha para avaliação do endométrio DOSAGEM DE TSH E T4 LIVRE Deve ser realizada apenas quando outros sinais e sintomas de disfunção tireoidiana estão presentes DOSAGEM DE HORMÔNIOS SEXUAIS Sua avaliação não é recomendada em mulheres com SUA OUTROS Glicemia jejum, insulina basal Ureia, creatinina, clearence creatinina TGO, TGP, bilirrubinas, proteínas Colpocitologia oncótica, inflamatória Colposcopia, biópsia de endométrio Sangramento Uterino Anormal - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 15 Histerosalpingografia FLUXOGRAMA CONDUTA OBJETIVOS 1. Corrigir a etiologia primária subjacente, se presente e viável 2. Melhorar a qualidade de vida 3. Prevenir um episódio de sangramento uterino agudo Sangramento Uterino Anormal - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 16 4. Prevenir ou tratar a anemia 5. Estabelecer um padrão de sangramento regular (ou amenorreia) 6. Prevenir hiperplasia/carcinoma endometrial INSTABILIDADE HEMODINÂMICA ESTROGÊNIOS EQUINOS CONJUGADOS (EEC) EM ALTAS DOSES 1. EEC 1,25 mg VO de 6/6h por 21 a 25 dias 2. Acetato de medroxiprogesterona 10 mg 1x/dia por 10 dias 3. Realizar pausa de 7 dias para sangramento de deprivação 4. Reiniciar com ACO 1x/dia para manutenção ACO EM ALTAS DOSES 1. ACO com 30 a 35 mcg de etinilestradiol VO de 8/8h por 7 dias 2. Realizar pausa de 7 dias para sangramento de deprivação 3. Reiniciar com ACO 1x/dia para manutenção ANTIFIBRINOLÍTICOS 1. Ácido tranexâmico solução injetável de 50 mg/ml: 500 a 1.000 mg por injeção IV lenta (50 mg/min), sem diluição, 3 vezes ao dia 2. Uso > 3 dias: indica-se VO ESTABILIDADE HEMODINÂMICA ESTROGÊNIOS EQUINOS CONJUGADOS (EEC) EM ALTAS DOSES 1. EEC 1,25 mg VO de 6/6h por 21 a 25 dias 2. Acetato de medroxiprogesterona 10 mg 1x/dia por 10 dias 3. Realizar pausa de 7 dias para sangramento de deprivação 4. Reiniciar com ACO 1x/dia para manutenção Sangramento Uterino Anormal - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 17 ACO EM ALTAS DOSES 1. ACO com 30 a 35 mcg de etinilestradiol VO de 8/8h por 7 dias 2. Realizar pausa de 7 dias para sangramento de deprivação 3. Reiniciar com ACO 1x/dia para manutenção PROGESTOGÊNIOS EM ALTAS DOSES 1. Acetato de medroxiprogesterona 20 mg VO de 12/12h por 7 dias 2. Acetato de megestrol 20 a 60 mg VO de 12/12h por 7 dias AINE 1. Ácido mefenâmico 500 mg de 8/8h 2. Naproxeno 500 mg de 12/12h 3. Ibuprofeno 600 mg 1x/dia ANTIFIBRINOLÍTICOS 1. Ácido tranexâmico 250 mg 4 a 6 comprimidos (1-1,5 g) 3x/dia de 8/8h CIRÚRGICO TAMPONAMENTO UTERINO 1. Introdução de um cateter de Foley 2. Infusão de 30 ml de líquido no seu balonete CURETAGEM UTERINA 1. Dilatação do colo uterino 2. Curetagem uterina sob anestesia geral HISTERECTOMIA 1. Único procedimento que garante solução definitiva para o SUA Sangramento Uterino Anormal - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 18 2. Reservada para mulheres com prole constituída, em casos de falha de tratamentos menos agressivos e de necessidade de pronta intervenção