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2018-tcc-abbsiqueira

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ 
FACULDADE DE DIREITO 
GRADUAÇÃO EM DIREITO 
 
 
 
 
 
 
ANA BEATRIZ BARROS DE SIQUEIRA 
 
 
 
 
 
 
OS LIMITES JURÍDICOS AO DESARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL: 
UMA ANÁLISE CRÍTICA DA JURISPRUDÊNCIA ATUAL DO SUPREMO 
TRIBUNAL FEDERAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA 
2018 
 
ANA BEATRIZ BARROS DE SIQUEIRA 
 
 
 
 
 
 
 
OS LIMITES JURÍDICOS AO DESARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL: UMA 
ANÁLISE CRÍTICA DA JURISPRUDÊNCIA ATUAL DO SUPREMO TRIBUNAL 
FEDERAL 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao Programa de 
Graduação em Direito da Universidade Federal 
do Ceará, como requisito parcial à obtenção do 
título de bacharel em Direito. 
 
Área de concentração: Processual Penal. Direito 
Penal. 
 
Orientador: Prof. Dr. Sérgio Bruno Araújo 
Rebouças. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA 
2018
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação 
Universidade Federal do Ceará
Biblioteca Universitária
Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)
S628l Siqueira, Ana Beatriz Barros de.
 Os limites jurídicos ao desarquivamento do inquérito policial : uma análise crítica da jurisprudência
atual do Supremo Tribunal Federal / Ana Beatriz Barros de Siqueira. – 2018.
 84 f. 
 Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Direito,
Curso de Direito, Fortaleza, 2018.
 Orientação: Prof. Dr. Sérgio Bruno Araújo Rebouças.
 1. Inquérito policial . 2. Desarquivamento . 3. Coisa julgada. I. Título.
 CDD 340
 
ANA BEATRIZ BARROS DE SIQUEIRA 
 
 
 
 
 
 
 
OS LIMITES JURÍDICOS AO DESARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL: UMA 
ANÁLISE CRÍTICA À JURISPRUDÊNCIA ATUAL DO SUPREMO TRIBUNAL 
FEDERAL 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao Programa de 
Graduação em Direito da Universidade Federal 
do Ceará, como requisito parcial à obtenção do 
título de bacharel em Direito. 
 
Área de concentração: Direito Processual Penal. 
Direito Penal. 
 
 
Aprovada em: 08/06/2018. 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
________________________________________ 
Prof. Dr. Sérgio Bruno Araújo Rebouças (Orientador) 
Universidade Federal do Ceará (UFC) 
 
 
_________________________________________ 
Prof. Dr. Alex Xavier Santiago da Silva 
Universidade Federal do Ceará (UFC) 
 
 
_________________________________________ 
Mestranda Lara Dourado Mapurunga Pereira 
Universidade Federal do Ceará (UFC) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aos meus pais, Sandra e Germano, pelos quais 
guardo o mais profundo amor e a mais alta 
admiração. 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
A Deus, a quem confio toda a minha vida e em quem deposito inteiramente a minha 
fé. 
Aos meus pais, Sandra Helena Barros de Siqueira e Germano Silveira de Siqueira, 
por serem a minha maior fonte de inspiração. Vocês me motivam diariamente a ser uma 
estudante dedicada, uma profissional ética e um ser humano justo. Obrigada por todo amor, 
todo o cuidado e todo apoio em cada momento da minha vida. A minha formação enquanto 
indivíduo é essencialmente devida aos seus esforços em me proporcionarem o melhor que 
podem e em me ensinarem valores tão nobres. 
Ao meu irmão, João Victor Barros de Siqueira, por todo amor e companheirismo, e 
a cada um da minha família que se manteve ao meu lado, desejando sempre o melhor. Às 
minhas avós, principalmente, eu agradeço cada oração. 
Aos amigos e colegas de faculdade e, especialmente, às ilustríssimas e tão 
essenciais, Brenda Barros Freitas, Débora dos Santos Rocha, Gabriela Bustamante Hortêncio 
de Medeiros, Lara Ferreira Sampaio, Luisa Sousa Gomes e Mariana França Mascarenhas. 
Obrigada por compartilharem tanto comigo: as risadas, as dúvidas, os conselhos, as 
inseguranças, as conquistas. Vocês são as responsáveis pelos momentos mais leves e felizes 
durante essa graduação. Orgulho-me muito de cada uma e espero sempre poder cultivar a nossa 
amizade. 
Às minhas tão amadas amigas, Beatriz Vasconcelos de Azevedo, Bruna Levy Costa 
Lima, Dímitra Bernardino Kyrtata, Hanna Levy Almeida, Mariana Costa Laranjeira, Martina 
Quezado Vargas Valle e Raíssa Cavalcante Vasconcelos. Obrigada por, desde a infância, 
compartilharem comigo a amizade mais verdadeira e preciosa de todas. 
Ao querido amigo, David Peixoto dos Santos, não só pelos auxílios materiais 
durante a produção deste trabalho, mas também pelo companheirismo e pelo o apoio ao longo 
desse período. 
À Defensoria Pública da União no Ceará, por ser uma instituição tão inspiradora, 
na qual tive a oportunidade de estagiar, e onde conheci pessoas admiráveis. Defensores, 
servidores, estagiários e assistidos, todos foram igualmente responsáveis pelo meu crescimento 
profissional e pessoal durante a graduação. 
Ao estimado professor Sérgio Bruno Araújo Rebouças, de quem tive a honra de ser 
monitora e de quem recebi a mais solícita orientação na elaboração deste trabalho. Agradeço 
por todos os ensinamentos e por toda a confiança e expresso minha mais sincera admiração. 
 
Ao professor Alex Xavier Santiago da Silva, pela sua inegável competência 
enquanto docente, e à mestranda Lara Dourado Mapurunga Pereira, colega de faculdade pela 
qual tenho enorme admiração, ambos por haverem prontamente aceitado o convite para compor 
a banca avaliadora desta monografia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Mais vale arriscar-se a salvar um culpado do que a 
condenar um inocente. 
Voltaire. 
 
RESUMO 
 
Este trabalho visa analisar juridicamente a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal quanto 
à possibilidade de desarquivamento do inquérito policial, tendo como principal objetivo a 
análise crítica da decisão proferida pelo plenário da Corte, no julgamento do Habeas Corpus nº 
87.395/PR, de acordo com a qual é válido o desarquivamento do inquérito quando este tiver 
sido arquivado mediante determinação de decisão judicial que reconheceu a presença de 
excludente de ilicitude. Busca-se examinar a natureza jurídica e os efeitos da decisão de 
arquivamento, a fim de compreender se essa decisão é apta a produzir efeitos próprios da coisa 
julgada. O estudo foi desenvolvido com base em uma pesquisa jurisprudencial e bibliográfica, 
incluindo-se, como material de apoio, livros, artigos científicos e consultas a sítios eletrônicos, 
além da legislação pátria referente ao tema. Para a efetiva compreensão da temática, trata-se 
dos fundamentos e características das investigações preliminares, com principal enfoque no 
inquérito policial, bem como do procedimento de arquivamento, na forma do art. 28 do Código 
de Processo Penal, e do desarquivamento, previsto no art. 18 do mesmo diploma legal. Após, 
colacionam-se posições doutrinarias acerca da natureza jurídica da decisão de arquivamento e 
de seus efeitos, principalmente quanto à constituição ou não da coisa julgada. Ao fim, expõem-
se e examinam-se os principais julgados do Supremo Tribunal Federal sobre a matéria, 
realizando-se uma análise crítica da decisão de julgamento do Habeas Corpus nº 87.395/PR, 
através da exposição dos votos vencidos, relacionando-os com institutos próprios do direito 
processual penal. 
 
 
Palavras-chave: Inquérito policial. Desarquivamento. Coisa julgada. 
 
ABSTRACT 
 
This work aims to juridically analyze the Brazilian Federal Supreme Court jurisprudence about 
the possibility of reopening the police investigation, having as main focus the critical analysis 
of the Court decision in Habeas Corpus nº 87.395 / PR, according to which it is valid to reopen 
the police investigation even if it has beenclosed by the determination of a judicial decision 
that recognized the presence of a cause that excludes the illicitness. It seeks to examine the legal 
nature and effects of the decision that closes the police investigation, in order to understand 
whether there is the constitution of res judicata. The study was developed based on a 
jurisprudential and bibliographical research, including as support material, books, scientific 
articles and queries to electronic sites, in addition to the national legislation related to the 
subject. For the effective understanding of the thematic, the foundations and characteristics of 
the preliminary investigations, with main focus in the police inquiry, were explored, as well as 
the procedure of the inquiry archiving foreseen in article 28 of the Criminal Procedure Code, 
and the reopening of the investigations foreseen in article 18 of the same law. Then, there is an 
exposition of doctrinal positions about the legal nature of the decision that determinates the 
inquiry archiving and its effects, mainly as to the constitution or not of the res judicata. Finally, 
the Federal Supreme Court most important judgments are exposed and examined, and the 
Habeas Corpus nº 87.395/ PR judgment decision is critically analysed, bringing the losing votes 
most important aspects and relating them to institutes of criminal procedural law. 
 
 
Keywords: Police inquiry. Reopening of the investigation. Res judicata. 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
Art.: Artigo 
CP: Código Penal 
CPP: Código de Processo Penal 
CF: Constituição Federal 
STF: Supremo Tribunal Federal 
STJ: Superior Tribunal de Justiça 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 13 
2 O ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL ................................................... 15 
2.1 Inquérito Policial ......................................................................................................... 15 
2.1.1 Aspectos introdutórios ...................................................................................... 15 
2.1.2 Conceito e natureza jurídica ............................................................................. 18 
2.1.3 Características .................................................................................................. 20 
2.1.4 Atribuições das autoridades .............................................................................. 26 
2.2 Aspectos gerais sobre o arquivamento ........................................................................ 30 
2.3 Causas permissivas de arquivamento .......................................................................... 34 
2.3.1 Ausência de pressupostos processuais e condições da ação ............................ 36 
2.3.2 Atipicidade penal do fato .................................................................................. 37 
2.3.3 Existência de causa excludente de ilicitude ...................................................... 38 
2.3.4 Presença de causa excludente de culpabilidade ............................................... 39 
2.3.5 Extinção da punibilidade do agente .................................................................. 40 
3. A POSSIBILIDADE DE REABERTURA DAS INVESTIGAÇÕES E OS EFEITOS 
DA DECISÃO DE ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL .......................... 42 
3.1 Desarquivamento e oferecimento da denúncia ............................................................ 42 
3.2 Decisão de arquivamento............................................................................................. 47 
3.2.1 Natureza jurídica e irrecorribilidade ................................................................ 48 
3.2.2 Constituição da coisa julgada ........................................................................... 53 
4 OS LIMITES JURÍDICOS AO DESARQUIVAMENTO À LUZ DA 
JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL ....................................... 60 
4.1 Ausência de pressuposto processual e de condição da ação ........................................ 60 
4.2 Atipicidade penal e extinção de punibilidade .............................................................. 61 
4.3 Causas excludentes de ilicitude e de culpabilidade ..................................................... 64 
4.3.1 Julgamento do Habeas Corpus nº 87.395/PR ................................................... 64 
4.3.2 Caráter absolutório da decisão ........................................................................ 68 
4.3.3 Segurança jurídica ............................................................................................ 71 
4.3.4 Vedação da Revisão Criminal pro societate ..................................................... 73 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 77 
REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 79 
13 
 
1 INTRODUÇÃO 
O Ministério Público, como titular privativo da ação penal de iniciativa pública, 
pode, ao invés de oferecer a denúncia em relação a um fato objeto de apuração em um inquérito 
policial, requerer ao Poder Judiciário o arquivamento do procedimento de investigação 
preliminar. 
O pedido de arquivamento ocorre, na maioria das vezes, quando, apesar das 
diligências realizadas pela autoridade policial no curso das investigações, não se obtém 
elementos probatórios mínimos para consubstanciar o exercício da ação penal. Em outros casos, 
no entanto, decorre da conclusão pelo Ministério Público quanto à inviabilidade da ação, em 
razão da presença de elementos que excluem o delito ou que extinguem a sua punibilidade. 
Não obstante, o Código de Processo Penal prevê em seu art. 18 que, mesmo após o 
inquérito policial haver sido arquivado por determinação judicial, a autoridade policial poderá 
retomar as investigações se de novas provas tiver notícia. Da mesma forma, a Súmula nº 524 
do Supremo Tribunal Federal dispõe que arquivado o inquérito policial, poderá ser proposta 
ação penal, desde que surjam novas provas. 
Trata-se do instituto do desarquivamento das peças de informação, permitindo que, 
mesmo após o arquivamento do inquérito, as investigações sejam retomadas, quando a 
autoridade policial obtiver notícia de novas provas. 
A possibilidade de desarquivamento do inquérito policial se torna controvertida, 
quando o fundamento que houver ensejado o arquivamento tiver sido a atipicidade penal do 
fato, a presença de alguma das causas excludentes de ilicitude ou de culpabilidade ou a 
verificação da extinção da punibilidade do agente. 
Tanto na doutrina como na jurisprudência, há posicionamentos no sentido de que, 
em casos como esses, não se aplicaria a regra contida no art. 18 do CPP, visto que o 
arquivamento do inquérito teria se fundamentado em uma questão de mérito, importando a 
constituição da coisa julgada e impossibilitando a revisão da determinação judicial. Por outro 
lado, há quem defenda que o desarquivamento é possível independentemente da causa que o 
fundamentou o arquivamento, desde que sejam noticiadas novas provas. 
O Supremo Tribunal Federal apresenta julgados sobre a temática, havendo já 
decidido quando será e quando não será válido o desarquivamento do inquérito policial, a partir 
da causa em que se fundamentou a decisão de arquivamento. Em 2017, no julgamento do 
Habeas Corpus nº 87.395/PR, o STF firmou seu entendimento sobre a possibilidade do 
desarquivamento do inquérito policial, quando este tiver sido arquivado com fundamento na 
14 
 
presença de uma causa excludente de ilicitude, posicionando-se pela sua validade. O 
posicionamento é questionável, razão pela qual nesta monografia será realizada uma análise 
crítica dessa decisão. 
Quanto aos aspectosmetodológicos, o presente trabalho foi desenvolvido com base 
em um exame jurídico-doutrinário sobre o assunto, através de pesquisas jurisprudenciais, no 
âmbito do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça, e bibliográficas, 
envolvendo o conteúdo de livros, artigos científicos e consultas a sítios eletrônicos, além da 
legislação pátria referente ao tema. 
Apoiada em tal acervo, a monografia foi dividia em três capítulos, que tratam, 
respectivamente, do inquérito policial, do desarquivamento do inquérito e dos efeitos da decisão 
de arquivamento e dos limites jurídicos ao desarquivamento, à luz da jurisprudência atual do 
Supremo Tribunal Federal. 
No primeiro capítulo, discorrer-se-á sobre os fundamentos e caraterísticas das 
investigações preliminares, com principal enfoque no inquérito policial, abordando o 
procedimento de arquivamento das peças de informação e identificando as causas que 
justificam o seu requerimento. 
No segundo capítulo, tratar-se-á da natureza jurídica e dos efeitos da decisão que 
determina o arquivamento, considerando a possibilidade de retomada das investigações, 
prevista no art. 18 do CPP, e do ulterior oferecimento da denúncia, conforme a súmula nº 524 
do STF, analisando-se sob a perspectiva doutrinária a presença de efeitos próprios da coisa 
julgada a partir da decisão que determina o arquivamento do inquérito. 
Por fim, no terceiro capítulo, será realizada exposição dos julgados do Supremo 
Tribunal Federal sobre a temática, dividindo as suas análises a partir das causas que se 
fundamentaram o pedido de arquivamento. Após, quanto à possibilidade de desarquivamento 
quando o arquivamento tiver se fundamentado em causa excludente de ilicitude, será feita uma 
análise crítica, com base na exposição dos votos divergentes proferidos durante o julgamento 
do Habeas Corpus nº 87.395/PR associando-os a institutos e a conceitos doutrinários próprios 
do Direito Processual Penal, quais sejam, o caráter absolutório da decisão, a segurança jurídica, 
e a vedação da revisão criminal pro societate. 
 
 
 
 
15 
 
2 O ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL 
 
Para a melhor compreensão do tema objeto deste trabalho, é imprescindível a 
discorrer sobre o arquivamento do inquérito policial. Portanto, serão, primeiramente, 
apresentados os fundamentos, a natureza jurídica e as características das investigações 
preliminares, principalmente aquelas relativas ao inquérito policial. 
Em seguida, tratar-se-á do arquivamento do inquérito policial, abordando seu 
procedimento, conforme está previsto no Código de Processo Penal, e expandindo o seu estudo 
através da exposição da visão da doutrina sobre o assunto. 
Por fim, como resultado da pesquisa conjunta entre os entendimentos 
jurisprudenciais e doutrinários, serão expostas causas em que se permite o arquivamento do 
inquérito policial, discorrendo-se brevemente sobre cada uma delas. 
 
2.1 Inquérito Policial 
 
Trata-se o inquérito policial da espécie de procedimento de investigação preliminar 
tradicionalmente adotada pelo ordenamento jurídico brasileiro, destacando-se como a principal 
peça informativa na prática processual penal, razão pela qual sobre ele será dedicada maior 
ênfase neste estudo.1 
Destarte, é fundamental a realização de uma breve introdução acerca do direito de 
punir do Estado (jus puniendi) e da persecução penal (persecutio criminis), de modo a justificar 
a existência da etapa investigativa preliminar. 
Em seguida, concentrando-se no inquérito policial enquanto principal 
procedimento investigativo preliminar, é importante discorrer sobre as suas principais 
características e sobre a atuação dos órgãos policial, acusador e jurisdicional durante fase pré-
processual, para, ao final, tratar-se do procedimento de arquivamento previsto no Código de 
Processo Penal e de suas hipóteses autorizadoras. 
 
2.1.1 Aspectos introdutórios 
 
 
1 Também compreendem as espécies de investigação preliminar, dentre outros, o Procedimento Investigatório 
Criminal no âmbito do Ministério Público, a Comissão Parlamentar de Inquérito, o Termo Circunstanciado e o 
Inquérito Policial Militar. 
16 
 
Nos dizeres de Frederico Marques, “da prática de um fato aparentemente delituoso, 
nasce para o Estado o direito de punir.”. Isso porque, atualmente, abolida a fase de vingança 
privada, é de função exclusiva do Estado o exercício do jus puniendi, sendo vedada qualquer 
forma de repressão pessoal. Ao particular, apesar da possibilidade de vingar-se de seu ofensor, 
não é conferido o direito de exercer a sanção penal, sendo esse serviço de monopólio do Estado.2 
A prática de uma infração penal faz surgir, por consequência, uma lide entre o 
Estado e o indivíduo, que resulta do conflito entre o direito subjetivo de punir do Estado e o 
direito à liberdade do indivíduo. O jus libertatis atua, portanto, como limite à atuação do Estado 
na qualidade de ente repressor dos delitos, impedindo que haja a prevalência imediata da 
pretensão punitiva estatal.3 
Dessa forma, O jus puniendi não é medida auto-executável, não consistindo em 
consequência automática da prática de uma conduta aparentemente delituosa. O exercício do 
direito de punir apresenta-se na forma de coerção indireta, sendo necessário para a aplicação da 
sanctio juris que se demonstre a existência do próprio direito de punir, de modo a não violar a 
garantia individual à liberdade.4 
A feição indireta da coação penal torna necessária a existência de uma atividade, 
também estatal, cuja finalidade seja a averiguação da existência ou não do direito de punir em 
concreto, de forma a autorizar a imposição da sanção penal. Essa atividade é denominada de 
persecutio criminis, processo que, nos preceitos de Marques, compreende a fase da investigação 
criminal e a ação penal.5 
Nesse sentido, o referido autor discorre: 
O “processo penal” só se instaura com a propositura da ação. Esta, no entanto, é 
precedida de uma fase de pesquisas, ou informatio delicti, em que se colhem os dados 
necessários para ser pedida a imposição da pena. Verifica-se, portanto, que a 
persecutio criminis apresenta dois momentos distintos: o da investigação e o da ação 
penal. Esta consiste no pedido de julgamento da pretensão punitiva, enquanto que a 
primeira é atividade preparatória da ação penal, de caráter preliminar e informativo: 
inquisitivo nihil est quam informatio delicti.6 (grifo do autor) 
De acordo com Tourinho Filho, como titular do direito de punir, diante da notícia 
da prática de um ato possivelmente delituoso, deverá o Estado buscar elementos que 
 
2 MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal. Campinas: Bookseller, 1997, v. 1, p. 23. 
3 Ibidem, p. 25. 
4 Ibidem, p. 26. 
5 Ibidem, p. 128. 
6 Ibidem, p. 128. 
17 
 
comprovem a existência da infração penal e que indiquem a sua autoria, como forma de 
autorizar a instauração da persecução penal em juízo.7 
Em se tratando de ação penal de iniciativa pública, caberá ao órgão do Ministério 
Público a persecutio criminis in judicio, que consiste na promoção e no acompanhamento da 
ação penal. Não obstante, para a sua atuação em juízo, faz-se necessária a disposição de 
elementos que sustentem pretensão punitiva estatal. Para tanto, o art. 144 da Constituição 
Federal de 1988 prevê a existência a polícia judiciária, cuja função consiste em investigar o fato 
em tese criminoso, a fim de apurar sua autoria e materialidade.8 
Logo, é importante a existência de uma fase pré-processual, que tenha por 
finalidade o esclarecimento dos elementos constitutivos do fato supostamente delituoso. Essa 
etapa é denominada de investigação preliminar ou, como designa Aury Lopes Júnior, de 
instrução preliminar, sendo conceituada pelo processualista como: 
O conjunto de atividades desenvolvidasconcatenadamente por órgãos do Estado, a 
partir de uma notícia-crime, com caráter prévio e de natureza preparatória com relação 
ao processo penal, e que pretende averiguar a autoria e as circunstâncias de um fato 
aparentemente delituoso, com o fim de justificar o processo ou o não processo. 9 
Esclarece o referido escritor que, o processo penal não deve iniciar-se de forma 
imediata, sendo necessário para a sua instauração a coleta prévia de elementos aptos a justificar 
a propositura da ação penal. Isso porque, o processo penal acarreta em si mesmo diversas penas 
processuais ao investigado, não se podendo admitir que primeiro se acuse para que 
posteriormente se investigue o fato e sua autoria. A fase preliminar apresenta, pois, essa 
finalidade investigativa, cujo ponto de maior relevância consiste na conclusão pelo exercício 
ou não da atividade acusatória do Estado.10 
Segundo Aury Lopes Júnior, o principal fundamento da investigação preliminar se 
revela na instrumentalidade constitucional do próprio processo penal. Isso significa afirmar que, 
para além de ser um meio necessário para se atingir a satisfação da pretensão acusatória estatal, 
a existência do processo penal – assim como a da fase preliminar - tem como principal 
justificativa proporcionar a máxima eficácia dos direitos e garantias fundamentais previstos 
constitucionalmente, de forma a preservar a dignidade da pessoa humana frente aos 
constrangimentos que o processo acarreta.11 
 
7 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal. 35. ed., rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2013, v. 1, 
p. 225. 
8 Ibidem, p. 225. 
9 LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 252. 
10 Ibidem, p. 250. 
11 Ibidem, p. 253. 
18 
 
Partindo desse pressuposto, o autor aponta três fundamentos da investigação 
preliminar. O primeiro deles consiste na busca do fato oculto, traduzindo-se no esclarecimento, 
em grau de probabilidade, da autoria e da materialidade delitiva. Além disso, justifica-se na sua 
função simbólica, de assegurar a paz social através da certeza de que todas os atos 
possivelmente delituosos serão investigados. Respalda-se, por fim, na função de filtro 
processual, de forma a evitar acusações infundadas.12 
 
A função de filtro processual consiste em evitar a abertura de um processo penal sem o mínimo 
de lastro probatório. Isso porque, além de reduzir os custos processuais, a instauração do 
processo penal acarreta inevitável sofrimento ao indivíduo, devido ao seu estado de ânsia 
prolongado, assim como provoca à pessoa elevada estigmatização social e jurídica.13 
Acerca da estigmatização originada pelo processo penal, devem ser destacadas as 
seguintes considerações de Lopes Júnior: 
O termo “estigmatizar” encontra sua origem etimológica no latim stigma, que alude à 
marca feita com ferro candente, sinal da infâmia, que foi, com a evolução da 
humanidade, sendo substituída por diferentes instrumentos de marcação. O processo 
penal em geral e a acusação formal em especial soa hoje manifestações da infâmia, 
sendo o ferro candente substituído pela denúncia ou queixa abusiva e infundada.14 
Desse modo, a fase preliminar não deve ser entendida como uma preparação para o 
procedimento em juízo, mas sim como um obstáculo a ser superado para que se dê início ao 
processo penal.15 
 
2.1.2 Conceito e natureza jurídica 
 
No ordenamento jurídico brasileiro, a forma de investigação preliminar que vem 
sendo tradicionalmente adotada é o inquérito policial, cujo surgimento na legislação pátria 
ocorreu por meio da Lei nº 2.033 de 20 de setembro de 1871.16 O Decreto nº 4.824 de 22 de 
 
12 LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 253. 
13 Ibidem, p. 258. 
14 Ibidem, p. 259. 
15 CARNELUTTI, Francesco. Derecho procesal civil y penal. Tradução de Enrique Figueiroa Afonso. México: 
Episa, 1997, p. 338-349 apud LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, 
p. 259. 
16 BRASIL. Lei nº 2.033, de 20 de setembro de 1871. Altera differentes [sic] disposições da Legislação 
Judiciaria [sic]. Rio de Janeiro, Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lim/LIM2033.htm>. 
Acesso em: 20 mar. 2018. “Art. 10. Aos Chefes, Delegados e Subdelegados de Policia [sic], além das suas actuaes 
[sic] attribuições [sic] tão somente [sic] restringidas pelas disposições do artigo antecedente, e § único [sic], fica 
pertencendo o preparo do processo dos crimes, de que trata o art. 12 § 7º do Codigo [sic] do Processo Criminal até 
a sentença exclusivamente. Por escripto [sic] serão tomadas nos mesmos processos, com os depoimentos das 
testemunhas, as exposições da accusação [sic] e defesa; e os competentes julgadores, antes de proferirem suas 
decisões, deverão rectificar [sic] o processo no que fôr [sic] preciso. § 1º Para a formação da culpa nos crimes 
19 
 
novembro de 187117, por sua vez, ao regulamentar a essa espécie de investigação, definiu-a 
como um procedimento escrito consistente na realização de todas as diligências necessárias 
para a descoberta do fato criminoso, em suas circunstâncias e autoria.18 
Segundo Bonfim, o inquérito policial deve ser compreendido, como “o 
procedimento administrativo, preparatório e inquisitivo, presidido pela autoridade policial, e 
constituído por um complexo de diligências realizadas pela polícia judiciária com vistas à 
apuração de uma infração penal e à identificação de seus autores”.19 
Evidencia-se daí a sua natureza jurídica de procedimento administrativo pré-
processual, não dispondo de uma estrutura verdadeiramente dialética, própria das relações 
jurídicas processuais. Atua, portanto, como peça informativa e preparatória para o eventual 
exercício da ação penal.20 
Pela análise conjunta das normas previstas nos arts. 4º e 12 do Código Processual 
Penal21, verifica-se que a finalidade do inquérito policial consiste na apuração da infração penal 
em sua materialidade e autoria. Almeja-se, no entanto, a apuração desses elementos apenas em 
um grau de probabilidade, visto que o campo de cognição nesta fase é limitado. 22 
Será o destinatário imediato dessa atividade o Ministério Público, em se tratando 
de crime cuja ação penal seja de iniciativa pública, ou o ofendido, em se tratando de ação penal 
de iniciativa privada, visto que, com a reunião dos elementos colhidos pela polícia judiciária, 
poderão formar sua opinio delicti para eventual propositura da denúncia ou queixa.23 
 
communs [sic] as mesmas autoridades policiaes [sic] deverão em seus districtos [sic] proceder ás diligencias 
necessárias [sic] para descobrimento dos factos criminosos e suas circumstancias [sic], e transmittirão [sic] aos 
Promotores Publicos [sic], com os autos de corpo de delicto [sic] e indicação das testemunhas mais idoneas [sic], 
todos os esclarecimentos colligidos [sic]; e desta remessa ao mesmo tempo darão parte á autoridade competente 
para a formação da culpa [...]”. 
17 BRASIL. Decreto nº 4.824, de 22 de novembro de 1871. Regula a execução da Lei nº 2033 de 24 de Setembro 
do corrente anno [sic], que alterou differentes [sic] disposições da Legislação Judiciaria. Rio de Janeiro, 
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/historicos/dim/dim4824.htm>. Acesso em: 20 mar. 
2018. “Art. 42. O inquerito [sic]policial consiste em todas as diligencias necessárias [sic] para o descobrimento 
dos factos criminosos, de suas circumstancias [sic] e dos seus autores e complices [sic]; e deve ser reduzido a 
instrumento escripto [sic], observando-se nelle [sic]o seguinte: [...]”. 
18 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal. 35. ed., rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2013, v. 1, 
p. 228. 
19 BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processopenal. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 100 
20 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal. 3. ed., rev., ampl. e atual. Salvador: JusPODIVM, 
2015, p. 109. 
21 BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, 
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 18 mai. 
2018. “Art. 4º. A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas 
circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria.”. “Art. 12. O inquérito policial 
acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que servir de base a uma ou outra.”. 
22 LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 271. 
23 MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal. 18. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2006, p. 60. 
20 
 
Nesse sentido, Tourinho Filho esclarece que, no inquérito policial “se apuram a 
infração penal com todas as suas circunstâncias e a respectiva autoria. Tais informações tem 
por finalidade permitir que o titular da ação penal, seja o Ministério Público, seja o ofendido, 
possa exercer o jus persequendi in judicio”.24 
Por conseguinte, não cabe à autoridade policial realizar nenhum juízo de valor, 
ainda que provisório, sobre, por exemplo, a ilicitude do fato ou a culpabilidade do indivíduo. 
Deve somente atuar na colheita de prova da autoria e materialidade delitiva na execução de 
providências acautelatórias dos vestígios deixados pela infração. Tal valoração é reservada 
apenas àquele a quem compete expressar a opinio delicti, visto que será este o titular da eventual 
ação penal.25 
 
2.1.3 Características 
 
De acordo com Aury Lopes Júnior, a autonomia e a instrumentalidade são as 
características determinantes dos procedimentos de investigação preliminar. São autônomos, 
pois, da mesma forma em que podem originar um processo penal, poderão não o fazer, sendo 
o que se verifica no caso do arquivamento da peça informativa. Além disso, a autonomia se 
constata da existência dispensável de uma investigação prévia à propositura da ação penal, visto 
que o órgão acusador já pode ter em sua posse elementos suficientes para a instauração da fase 
processual.26 
 Logo, os procedimentos pré-processuais existem independentemente do exercício 
da ação penal a posteriori, da mesma forma que a ação penal prescinde da realização de 
investigações prévias para ser promovida. 
A instrumentalidade dos procedimentos preliminares, por sua vez, deriva da própria 
instrumentalidade do processo penal. Trata-se de uma instrumentalidade qualificada, visto que 
a investigação preliminar está a serviço do processo penal, que se apresenta como mecanismo 
para a efetivação da pena (nulla poena sine iudicio).27 
No que concerne especificamente do inquérito policial, a doutrina apresenta como 
suas principais características a formalidade, a discricionariedade, o sigilo e o seu caráter 
inquisitivo, obrigatório e indisponível. 
 
24 TOURINHO FILHO, op. cit., p. 239. 
25 TORNAGHI, Hélio. Instituicoes de processo penal. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 1977, p. 250. 
26 LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 252 
27 Ibidem, p. 252. 
21 
 
O inquérito policial é considerado um procedimento formal, visto que, durante o 
seu curso, as autoridades policiais e demais agentes da polícia judiciária devem respeitar certas 
formalidades, a fim de evitar a prática de atos ilegais.28 
Nesse sentido, o art. 9º do Código Processual Penal29 exige que o procedimento seja 
escrito, vedando-se a existência de uma investigação verbal.30 Trata-se de uma maneira de 
possibilitar o controle de legalidade da atividade policial, a ser exercido pelo órgão judicial, de 
forma a preservar as garantias constitucionais do investigado.31 
A necessidade de documentação das apurações consiste também em uma forma de 
atender à sua própria finalidade, já que, em se tratando de um procedimento que visa a prestar 
informações ao titular da ação penal, a fim de lhe conceder respaldo probatório para intentá-la, 
não seria viável a existência de outra forma, que não a escrita.32 
O procedimento do inquérito policial é igualmente determinado pela 
discricionariedade que dispõe a autoridade policial. O caráter formal do inquérito não indica 
que seu procedimento seja marcado por formalismos e rigidez. Pelo contrário, no curso do 
inquérito, a autoridade policial atua de forma discricionária, não havendo nenhuma forma 
previamente determinada para a sua atuação, de forma a conduzir as investigações sem 
necessitar prestar obediência a uma sequência de atos previstos em lei.33 
A discricionariedade consiste na atuação dentro dos limites estabelecidos pela lei, 
que confere ao agente certa abertura para agir de acordo com a oportunidade e a conveniência. 
Logo, ao mesmo tempo que a legislação confere à autoridade policial certa margem de escolha, 
estabelece seus limites. Não se confunde, por isso, com a arbitrariedade, conforme discorre 
Bandeira de Mello: 
Não se confundem discricionariedade e arbitrariedade. Ao agir arbitrariamente o 
agente estará agredindo a ordem jurídica, pois terá se comportado fora do que lhe 
permite a lei. seu ato, em consequência, é ilícito e por isso mesmo corrigível 
judicialmente. Ao agir discricionariamente o agente estará, quando a lei lhe outorgar 
tal faculdade (que é simultaneamente um dever), cumprindo a determinação 
normativa de ajuizar sobre o melhor meio de dar satisfação ao interesse público por 
 
28 RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 16. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 40. 
29 BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível 
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 18 mai. 2018. 
“Art. 9o Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, 
neste caso, rubricadas pela autoridade.” 
30 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 13.ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 78. 
31 BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 104. 
32 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal. 35. ed., rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2013, v. 1, 
p. 243. 
33 RANGEL, op. cit., p. 94 
22 
 
força da indeterminação legal quanto ao comportamento adequado à satisfação do 
interesse público no caso concreto.34 (grifo do autor) 
Durante as investigações preliminares, as atribuições da polícia apresentam caráter 
discricionário, na medida em que a autoridade policial dispõe da faculdade de agir ou deixar de 
agir, desde que dentro dos limites fixados de forma estrita pela lei. 35 
O inquérito policial apresenta ainda notável caráter sigiloso. Trata-se de um sigilo 
necessário à efetividade das investigações, visto que, muitos dos atos a serem realizados durante 
o inquérito policial são incompatíveis com a publicidade inerente aos atos administrativos. Caso 
as diligências fossem acessíveis a quem sobre elas manifestasse interesse, haveria grande risco 
de se frustrar o objetivo da investigação.36 
Nesse aspecto, Tourinho Filho defende que deve ser admitida a relativização do 
princípio da publicidade na fase preliminar, visto que tal princípio é passível de restrições 
durante o curso do próprio processo penal.37 Igualmente, Tornaghi sustenta que “se mesmo na 
fase judicial, eminentemente acusatória, a lei impõe ou permite o sigilo (v. g., arts. 486, 561, 
VI, e 745), não é de estranhar que mande assegurar o segredo, sem o qual o inquérito seria uma 
burla ou um atentado”.38 
Do mesmo modo, é o que prevê o art. 20 do Código Processual Penal39, quando 
dispõe que durante o inquérito, a autoridade policial, asseguraráo sigilo essencial à elucidação 
do fato ou necessário pelo interesse social. 
Consoante Amintas Vidal, o sigilo é medida que deve ser imposta quando 
necessária às apurações do fato, visto que a divulgação das diligências poderá prejudicar o 
esclarecimento do fato investigado, podendo acarretar o desfazimento de elementos 
 
34 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 14. Ed. São Paulo: Malheiros, 2002, 
p. 382. 
35 MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal. Rio de Janeiro: Forense, 1961, p. 154-
156 apud MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal. 18. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2006, p. 61. 
36 De acordo com Mirabete (op. cit., p. 61), tal sigilo não se estenderá, por óbvio ao órgão acusador, nos termos 
da Lei n.º 8.625/93. Nesse sentido: BRASIL. Lei nº 8.625, de 12 de fevereiro de 1993. Lei Orgânica Nacional do 
Ministério Público. Brasília, DF, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8625.htm>. 
Acesso em: 15 mar. 2018. “Art. 26. No exercício de suas funções, o Ministério Público poderá: [...] IV - requisitar 
diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial e de inquérito policial militar, observado o disposto 
no art. 129, inciso VIII, da Constituição Federal, podendo acompanhá-los; [...]”; “Art. 41. Constituem 
prerrogativas dos membros do Ministério Público, no exercício de sua função, além de outras previstas na Lei 
Orgânica: [...] VIII - examinar, em qualquer repartição policial, autos de flagrante ou inquérito, findos ou em 
andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos; [...]”. 
37 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal. 35. ed., rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2013, v. 1, 
p. 243. 
38 TORNAGHI, Hélio. Instituições de processo penal. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 1977, p. 254. 
39 BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível 
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 18 mai. 2018. 
“Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse 
da sociedade.” 
23 
 
comprobatórios da infração, suas circunstâncias e autoria.40 Além disso, o sigilo pode ser 
imprescindível quando, conforme Espínola Filho, se tratar de crime cuja repercussão social 
possa causar danos à paz pública.41 
Da soma de tais características, conclui-se que o inquérito policial é um 
procedimento de cunho eminentemente inquisitivo. A esse respeito, Capez discorre: 
Caracteriza-se como inquisitivo o procedimento em que as atividades persecutórias 
concentram-se nas mãos de uma única autoridade, a qual, por isso, prescinde, para a 
sua atuação, da provocação de quem quer que seja, podendo e devendo agir de oficio, 
empreendendo, com discricionariedade, as atividades necessárias ao esclarecimento 
do crime e da sua autoria.42 
A doutrina tradicionalmente defende que o caráter inquisitivo do inquérito policial 
torna-o incompatível com os princípios da ampla defesa e do contraditório. Conforme esse 
entendimento, não seria exigida a oportunização de defesa ao investigado, visto que ele não 
está sendo acusado de qualquer infração penal, mas apresenta-se, de acordo com Rangel, apenas 
como objeto de uma pesquisa realizada pela autoridade policial.43 
Segundo Bonfim, resguardados os direitos e garantias fundamentais do investigado, 
este apresenta-se somente como objeto da atividade investigatória. Ainda, para o referido autor, 
quando a Constituição44, em seu art. 5º, LV, consagra os princípios do contraditório e ampla 
defesa, confere esses direitos apenas àqueles que foram acusados, não os aplicando, portanto, 
àqueles que estão sendo investigados preliminarmente, pois ainda não há acusação 
propriamente dita.45 
Em contraposição, a doutrina mais moderna reconhece a existência do contraditório 
e da ampla defesa na fase pré-processual. Nessa perspectiva, o investigado não é tratado como 
objeto de investigação, mas sim como sujeito de direitos, devendo-lhe ser garantido também o 
acesso à ampla defesa e ao contraditório, ainda que em grau inferior ao da fase judicial.46 
De acordo com Rebouças, o caráter inquisitivo do inquérito policial significa que, 
em regra, os atos ocorrem unilateralmente, o que, entretanto, não obsta a existência do 
 
40 GOMES, Amintas Vidal. Manual do Delegado. [S. l.: s. n.], [20--?] apud TOURINHO FILHO, op. cit., p. 244. 
41 ESPINOLA FILHO, Eduardo. Código de processo penal brasileiro anotado. Rio de Janeiro: Borsoi, 1954 
apud TOURINHO FILHO, op. cit., p. 244. 
42 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 13.ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 79. 
43 RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 16. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 92. 
44BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Disponível 
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 28 fev. 2018. 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos 
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade, nos termos seguintes: [...] LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados 
em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; [...]. 
45 BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 106-107. 
46 REBOUÇAS, Sérgio. Curso de direito processual penal. Salvador: Juspodivm, 2017, p. 172-173. 
24 
 
contraditório ou da ampla defesa. Esse entendimento é corroborado pelo direito do defensor em 
ter acesso aos autos do inquérito47, do mesmo modo que pela garantia do advogado em assistir 
o investigado durante as apurações, podendo estar presente durante o interrogatório, bem como 
apresentar quesitos e assistente técnico à perícia.48 49 
De acordo com Lauria Tucci e Cruz e Tucci, o constituinte, no art. 5º, LV, da 
Constituição Federal de 1988, estendeu as garantias do contraditório e da ampla defesa também 
aos procedimentos administrativos, afirmando que: 
quando se menciona “acusados em geral”, na examinada preceituação constitucional, 
certamente pretende se dar a mais larga extensão às palavras, com referência obvia a 
qualquer espécie de acusação, inclusive a ainda não formalmente concretizada. Assim 
não fosse, afigurar-se-ia de todo desnecessária a adição de “em geral”; bastaria a 
alusão a “acusados”.50 
Em sua doutrina, o processualista defende a presença do contraditório da 
integralidade da persecução penal, o que se revela também na assistência de advogado ao preso 
constitucionalmente prevista no art. 5º, LXIII. Nesse aspecto, cita Nores, em sua referência ao 
art. 40 da Constituição Provincial argentina, segundo o qual “é inviolável a defesa em juízo da 
pessoa e de seus direitos. Todo acusado tem direito à defesa técnica, ainda a cargo do Estado, 
desde o primeiro momento da persecução penal”.51 52 
 
47 Nesse sentido: BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula Vinculante nº 14. Diário da Justiça Eletrônico. 
Brasília, 09 fev. 2009. Disponível em: 
<http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=14.NUME.%20E%20S.FLSV.&base=ba
seSumulasVinculantes>. Acesso em: 25 mar. 2018. “é direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso 
amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com 
competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.”; BRASIL. Lei nº 8.906, de 04 
de julho de 1994. Dispõe sobre o Estatuto da Advocacia e a Ordemdos Advogados do Brasil (OAB). Brasília, 
DF, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8906.htm>. Acesso em: 25 mar. 2018. “Art. 7º 
São direitos do advogado: [...] XIV - examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, 
mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda 
que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital; [...]”. 
48 BRASIL. Lei nº 8.906, de 04 de julho de 1994. Dispõe sobre o Estatuto da Advocacia e a Ordem dos 
Advogados do Brasil (OAB). Brasília, DF. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8906.htm>. Acesso em: 12 abr. 2018. “Art. 7º São direitos do 
advogado: [...] XXI - assistir a seus clientes investigados durante a apuração de infrações, sob pena de nulidade 
absoluta do respectivo interrogatório ou depoimento e, subsequentemente, de todos os elementos investigatórios e 
probatórios dele decorrentes ou derivados, direta ou indiretamente, podendo, inclusive, no curso da respectiva 
apuração: (Incluído pela Lei nº 13.245, de 2016) a) apresentar razões e quesitos; [...]”. 
49 REBOUÇAS, Sérgio. Curso de direito processual penal. Salvador: Juspodivm, 2017, p 172-173. 
50 TUCCI, Rogério Lauria; TUCCI, José Rogério Cruz e,. Constituição de 1988 e processo: regramentos e 
garantias constitucionais do processo .São Paulo: Saraiva, 1989, p. 25. 
51 NORES, José I Cafferata et al. Manual de derecho procesal penal. [S. l.]: Advocatus, [20--], p. 165, tradução 
nossa. Disponível em: <http://www.profprocesalpenal.com.ar/archivos/9c56835f-Manual.Cordoba.pdf>. Acesso 
em: 10 maio 2018. 
52 NORES, José I Cafferata. Eficácia de la Persecución Penal y Garantías Procesales en la Constitución de 
Córdoba. [S. l.: s. n.], [19--], p. 29-30 apud TUCCI, op. cit., p. 29. 
25 
 
Ainda, conforme Mirabete, pode-se caracterizar o inquérito policial como 
procedimento obrigatório. Isso porque, em se tratando de ação penal de iniciativa pública, 
diante do conhecimento de uma prática aparentemente delituosa, deverá a autoridade policial 
obrigatoriamente proceder à instauração do procedimento investigativo.53 
Tal característica não se confunde, entretanto, com a ideia de imprescindibilidade 
do inquérito policial, visto que, conforme já exposto, os procedimentos de investigação 
preliminar caracterizam-se pela sua autonomia, sendo, por isso, dispensáveis, isto é, não 
obrigatórios. 
O teor do art. 12, do Código Processual Penal somado às disposições dos arts. 27, 
art. 39, §5º e art. 46, §1º, do mesmo instrumento processual apontam que a peça acusatória pode 
ter como suporte outras peças informativas, desde que suficientes para que haja a justa causa 
para o oferecimento da denúncia ou da queixa, entendida como a materialidade delitiva e os 
indícios mínimos de sua autoria.54 55 
A esse respeito, assevera Tourinho Filho: 
O inquérito policial é peça meramente informativa. Nele se apuram a infração penal 
com todas as suas circunstâncias e a respectiva autoria. Tais informações tem por 
finalidade permitir que o titular da ação penal, seja o Ministério Público, seja o 
ofendido, possa exercer o jus persequendi in judicio, isto é, possa iniciar a ação penal. 
Se esta é a finalidade do inquérito, desde que o titular da ação penal (ministério 
Público ou ofendido) tenha em mãos as informações necessárias, isto é, os elementos 
imprescindíveis ao oferecimento de denúncia ou queixa, é evidente que o inquérito 
será perfeitamente dispensável.56 
Por fim, o inquérito policial deve ser entendido como um procedimento 
indisponível, na medida que, uma vez instaurado pela autoridade policial, esta não poderá 
 
53 MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal. 18. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2006, p. 62. 
54 BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível 
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 18 mai. 2018. 
“Art. 27. Qualquer pessoa do povo poderá provocar a iniciativa do Ministério Público, nos casos em que caiba a 
ação pública, fornecendo-lhe, por escrito, informações sobre o fato e a autoria e indicando o tempo, o lugar e os 
elementos de convicção.” “Art. 39. O direito de representação poderá ser exercido, pessoalmente ou por 
procurador com poderes especiais, mediante declaração, escrita ou oral, feita ao juiz, ao órgão do Ministério 
Público, ou à autoridade policial. [...] § 5o O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com a 
representação forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a 
denúncia no prazo de quinze dias.” “Art. 46. O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será de 
5 dias, contado da data em que o órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial, e de 15 dias, 
se o réu estiver solto ou afiançado. No último caso, se houver devolução do inquérito à autoridade policial (art. 
16), contar-se-á o prazo da data em que o órgão do Ministério Público receber novamente os autos. § 1o Quando o 
Ministério Público dispensar o inquérito policial, o prazo para o oferecimento da denúncia contar-se-á da data em 
que tiver recebido as peças de informações ou a representação.” 
55 MIRABETE, op. cit., p. 60. 
56 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal. 35. ed., rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2013, v. 1, 
p. 239-240. 
26 
 
arquivá-lo.57 A lei confere apenas ao órgão acusador o direito de dispor do procedimento 
investigatório, devendo submeter sua pretensão ao órgão jurisdicional, quando, apenas assim, 
poderá ser autorizado o arquivamento dos autos do inquérito.58 
 
2.1.4 Atribuições das autoridades 
 
Conforme já destacado, a atividade investigativa será levada a cabo pela polícia 
judiciária, de caráter eminentemente repressivo, através dos agentes da Polícia Civil e da Polícia 
Federal.59 60 
À autoridade policial incumbe a presidência do inquérito policial, agindo com 
discricionariedade para determinar as diligências a serem realizadas durante o curso da 
investigação, sendo-lhe também atribuída a prática de outros atos.61 
Na forma do art. 5º do Código Processual Penal62, à autoridade policial compete a 
instauração do inquérito, devendo fazê-lo tão quanto tenha notícia da suposta infração penal. A 
notitia criminis, por sua vez, poderá ser de conhecimento espontâneo pelo órgão policial ou 
provocado por outrem. Será espontâneo quando a ciência pela autoridade da prática de um fato 
aparentemente delituoso ocorrer, de forma direta e imediata, no o exercício de sua atividade 
funcional. Por outro lado, será provocado quando a notícia for transmitida por uma das diversas 
formas previstas no ordenamento jurídico.63 
 
57 Nesse sentido: BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de 
Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 
18 mai. 2018. “Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito.”. 
58 MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal. 18. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2006, p. 62 
59 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Disponível 
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 28 fev. 2018. 
“Art. 144. [...] § 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União 
e estruturado em carreira, destina-se a: I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento 
de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras 
infrações cuja prática tenha repercussãointerestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se 
dispuser em lei; [...] IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União [...] § 4º Às polícias 
civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de 
polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares”. 
60 MIRABETE, op. cit., p. 57-58. 
61 O Código Processual Penal, que, em seu art. 4º, confere à autoridade policial a titularidade do inquérito policial 
concede, no seu parágrafo único, a outras autoridades administrativas a elaboração de inquérito, desde que haja 
atribuição legal para investigar (LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 
2014, p. 281). 
62 BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível 
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 18 mai. 2018. 
“Art. 5o Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado: I - de ofício; II - mediante requisição da 
autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para 
representá-lo.” 
63 MIRABETE, op. cit., p 64-65. 
27 
 
De acordo com o art. 5º, I e II, do Código Processual Penal, nos crimes de ação 
penal de iniciativa pública, o inquérito policial será iniciado de ofício pela autoridade policial, 
ou mediante o requerimento do ofendido ou requisição da autoridade judiciária ou do Ministério 
Público. 
Segundo Tornaghi, o magistrado e o Ministério Público não têm o poder de ordenar 
à polícia a instaurar o inquérito. Todavia, por se tratar de requisição das referidas autoridades, 
o pedido deve ser atendido pelo órgão policial, salvo se manifestamente ilegal. Isso porque, não 
é conferida à autoridade policial a possibilidade de não instaurar o inquérito, não havendo, 
ainda, sequer previsão legal do indeferimento da requisição, como há na hipótese de 
requerimento do ofendido.64 
Em se tratando de ação penal de iniciativa pública condicionada à representação do 
ofendido ou à requisição do Ministro da Justiça ou de iniciativa privada, a instauração do 
inquérito policial tem como condição a requerimento destes sujeitos.65 66 
Quanto as demais atividades de atribuição da polícia judiciária, o art. 6º, I a X, do 
Código Processual Penal67, elenca, de forma exemplificativa, algumas diligências que a 
autoridade policial deve realizar durante o inquérito, a fim de apurar os fatos apresentados na 
notitia criminis, tais como a apreensão de objetos, a determinação da realização do exame de 
corpo de delito - se for o caso-, a oitiva do ofendido, do investigado e de testemunhas.68 
Além disso, a Lei nº 12.830/2013 atribui privativamente ao delegado de polícia o 
indiciamento.69 Trata-se de ato fundamentado, por meio do qual a autoridade policial aponta 
 
64 TORNAGHI, Hélio. Instituições de processo penal. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 1977, p. 257-258. 
65 Inteligência do art. 5º, § 4º, do Código de Processo Penal (Art. 5o Nos crimes de ação pública o inquérito policial 
será iniciado: [...] § 4o O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação, não poderá sem 
ela ser iniciado.). 
66 MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal. 18. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2006, p. 68-69. 
67 BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível 
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 18 mai. 2018. 
“Art. 6o Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá: I - dirigir-se ao 
local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos 
criminais; II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais; 
III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias; IV - ouvir o ofendido; 
V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no Capítulo III do Título Vll, deste Livro, 
devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura; VI - proceder a 
reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações; VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo 
de delito e a quaisquer outras perícias; VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se 
possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes; IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o 
ponto de vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois 
do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e 
caráter. X - colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem alguma deficiência e 
o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa.” 
68 GRECO FILHO, Vicente. Manual de processo penal. São Paulo: Saraiva, 1991, p. 84. 
69 BRASIL. Lei nº 12.830, de 20 de junho de 2013. Dispõe sobre a investigação criminal conduzida pelo 
delegado de polícia. Brasília, DF, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
28 
 
formalmente determinada pessoa como autor ou partícipe da infração penal objeto de 
investigação.70 
Em regra71, o prazo para a conclusão das investigações é de 10 (dez) dias, se o 
indiciado tiver sido preso em flagrante ou preventivamente, ou de 30 (dias), quando este estiver 
solto. Quanto à possibilidade da prorrogação desse prazo, majoritariamente entende-se sê-la 
inadmissível quando o investigado estiver preso.72 Por outro lado, estando ele solto, a legislação 
permite a prorrogação do prazo, mediante a oitiva do magistrado, considerando a doutrina 
também ser obrigatória a oitiva prévia do Ministério Público.73 
A conclusão do procedimento inquisitivo sucede com a elaboração de um relatório 
pela autoridade policial, no qual apresentará o que fora investigado, de maneira objetiva, 
podendo incluir uma tipificação penal, a qual, no entanto, não vinculará a atuação do Parquet. 
Ato contínuo, os autos serão encaminhados ao órgão judicial, que abrirá vistas ao membro do 
Ministério Público atuante. Este, por sua vez, poderá requerer à polícia novas diligências que 
entenda necessárias à formação da opinio delicti, ou, caso verifique a presença de elementos 
suficientes, poderá oferecer a peça acusatória, ou, ainda, requerer o arquivamento da peça 
informativa.74 
Assim sendo, percebe-se que, apesar de destinatário da peça informativa, ao 
Ministério Público não é conferido o poder de conduzir o inquérito policial. Sua função 
institucional, na forma do art. 129, I, da Constituição Federal, consiste na promoção da ação 
penal pública, em caráter privativo. Não obstante, poderá atuar requisitando instauração do 
 
2014/2013/lei/l12830.htm>. Acesso em: 12 abr. 2018. “Art. 2o As funções de polícia judiciária e a apuração de 
infrações penais exercidas pelo delegado de polícia são de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de 
Estado. [...]§ 6o O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por ato fundamentado, mediante 
análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria, materialidade e suas circunstâncias. [...]”. 
70 REBOUÇAS, Sérgio. Curso de direito processual penal. Salvador: Juspodivm, 2017, p. 183. 
71 Na legislação brasileira, existem prazos especiais para a conclusão do inquérito policial. Como exemplo, tem-
se a Lei nº 11.343/2006, que dispõe em seu art. 51, caput, que “o inquérito policial será concluído no prazo de 30 
(trinta) dias, se o indiciado estiver preso, e de 90 (noventa) dias, quandosolto”. (BRASIL. Lei nº 11.343, de 23 de 
agosto de 2006. Lei de Drogas. Brasília. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2006/lei/l11343.htm>. Acesso em: 12 jun. 2018). 
72 Nesse sentido: BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de 
Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 
18 mai. 2018. “Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em 
flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a 
ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela. § 1o A autoridade fará 
minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará autos ao juiz competente. § 2o No relatório poderá a 
autoridade indicar testemunhas que não tiverem sido inquiridas, mencionando o lugar onde possam ser 
encontradas. § 3o Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a autoridade poderá requerer 
ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz.” 
73 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal. 3. ed., rev., ampl. e atual. Salvador: Juspodvim, 2015, 
p. 149. 
74 LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 314. 
29 
 
inquérito e no acompanhamento do procedimento, podendo requerer diligências à autoridade 
policial, conforme prevê o art. 129, VIII, da Constituição Federal75, bem como o art. 26, IV da 
Lei nº 8.625/93 – Lei Orgânica Nacional do Ministério Público.76 77 78 
Incumbe ainda ao Ministério Público realizar um controle externo da atividade 
policial. Sua atuação consiste tanto na fiscalização das atividades persecutórias, acompanhando 
a produção de provas que poderão lhe servir, bem como na repressão de eventuais abusos por 
parte da polícia.79 80 
Com efeito, o procedimento do inquérito policial é marcado pela autonomia e 
discricionariedade da autoridade policial e pelo acompanhamento do Ministério Público, 
quando se tratar de ação penal de iniciativa pública. Todavia, durante a fase pré-processual faz-
 
75 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 28 fev. 2018. “Art. 
129. São funções institucionais do Ministério Público: I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma 
da lei; [...] VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os 
fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais; [...]”. 
76 Nesse sentido: BRASIL. Lei nº 8.625, de 12 de fevereiro de 1993. Lei Orgânica Nacional do Ministério 
Público. Brasília, DF. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8625.htm>. Acesso em: 15 
mar. 2018. “Art. 26. No exercício de suas funções, o Ministério Público poderá: [...] IV - requisitar diligências 
investigatórias e a instauração de inquérito policial e de inquérito policial militar, observado o disposto no art. 129, 
inciso VIII, da Constituição Federal, podendo acompanhá-los; [...]”. 
77 Importante salientar que é conferida ao Ministério Público a possibilidade de exercer a atividade investigativa 
preliminar, mediante a instauração do Procedimento Investigatório Criminal no âmbito do próprio órgão, na forma 
da Resolução nº 181/2017 do Conselho Nacional do Ministério Público. (BRASIL. Conselho Nacional do 
Ministério Público (CNMP). Resolução nº 181, de 7 de agosto de 2017. Dispõe sobre instauração e tramitação do 
procedimento investigatório criminal a cargo do Ministério Público. Brasília, DF. Disponível em: 
<http://www.cnmp.mp.br/portal/images/Resolucoes/Resolu%C3%A7%C3%A3o-181.pdf>. acesso em: 29 mar. 
2018). 
78 MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal. 18. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2006, p 58-59. 
79 Nesse sentido: BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília. 
Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 28 
fev. 2018. “Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: [...] VII - exercer o controle externo da 
atividade policial, na forma da lei complementar mencionada no artigo anterior; [...].”; BRASIL. Lei 
Complementar nº 75, de 20 mai. 1993. Dispõe sobre a organização, as atribuições e o estatuto do Ministério 
Público da União. Brasília, DF. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp75.htm>. 
Acesso em: 10 mar. 2018. “Art. 9º O Ministério Público da União exercerá o controle externo da atividade policial 
por meio de medidas judiciais e extrajudiciais podendo: [...].”; BRASIL. Conselho Nacional do Ministério Público 
(CNMP). Resolução nº 20, de 28 de maio de 2007. Regulamenta o art. 9º da Lei Complementar nº 75, de 20 
de maio de 1993 e o art. 80 da Lei nº 8.625, de 12 de fevereiro de 1993, disciplinando, no âmbito do Ministério 
Público, o controle externo da atividade policial. Brasília, DF. Disponível em: 
<http://www.cnmp.mp.br/portal/images/Resoluçao_nº_20_alterada_pelas_Resoluções-65-98_113_e_121.pdf>. 
Acesso em: 10 mar. 2018. “Art. 2º O controle externo da atividade policial pelo Ministério Público tem como 
objetivo manter a regularidade e a adequação dos procedimentos empregados na execução da atividade policial, 
bem como a integração das funções do Ministério Público e das Polícias voltada para a persecução penal e o 
interesse público, atentando, especialmente, para: I – o respeito aos direitos fundamentais assegurados na 
Constituição Federal e nas leis; II – a preservação da ordem pública, da incolumidade das pessoas e do patrimônio 
público; III – a prevenção da criminalidade; IV – a finalidade, a celeridade, o aperfeiçoamento e a indisponibilidade 
da persecução penal; V – a prevenção ou a correção de irregularidades, ilegalidades ou de abuso de poder 
relacionados à atividade de investigação criminal; VI – a superação de falhas na produção probatória, inclusive 
técnicas, para fins de investigação criminal; VII – a probidade administrativa no exercício da atividade policial.” 
80 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal. 3. ed., rev., ampl. e atual. Salvador: Juspodvim, 2015, 
p. 189-190. 
30 
 
se necessária a intervenção judicial, limitada a assegurar a observância das garantias 
constitucionais do investigado. 
Segundo Aury Lopes Júnior, o juiz atua como garantidor da observância aos direitos 
fundamentais do sujeito passivo da investigação e faz o controle de legalidade dos atos do 
inquérito. Sua atuação deve ser bastante limitada, devendo, excetuados alguns casos previstos 
em lei, serem provocados pela autoridade policial, pelo ministério público ou pelo 
investigado.81 
Para Rangel, a atuação limitada do órgão jurisdicional se justifica pela adoção pelo 
ordenamento jurídico brasileiro do sistema processual penal acusatório. Este, em contraposição 
ao sistema processual penal inquisitivo, é determinado pelo caráter não arguitivo do magistrado, 
com vistas a preservar sua imparcialidade. Apresenta-se na forma do acto trium personarum, 
por meio do qual as funções de defesa, acusação e julgamento são atribuídas a três sujeitos 
processuais distintos. Sob essa perspectiva, caberá ao juiz somente o desempenho da função 
jurisdicional, ao passo que ao Ministério Público, ou ao ofendido, caberá o exercício da 
acusação.82 
Por outro lado, a despeito do exercício de controle da observância das garantias 
fundamentais do indivíduo, função de maior relevância prática do órgão jurisdicional verifica-
se no proferimento da decisão que determina o arquivamento do inquérito, visto que, como será 
tratado a seguir, a atuação do magistrado é imprescindívelà sua concretização. 
 
2.2 Aspectos gerais sobre o arquivamento 
 
Concluído o procedimento investigatório pela polícia judiciária, os autos do 
inquérito serão encaminhados ao órgão jurisdicional competente, que abrirá vistas ao membro 
oficiante do Ministério Público. Este, diante das informações documentadas no inquérito, 
poderá proceder das seguintes formas. 
Caso entenda serem as informações coligidas insuficientes para formação da sua 
opinio delicti, poderá o Parquet tanto realizar diligências complementares, bem como requerê-
las à autoridade policial. De acordo com Greco Filho, nesse caso, não cabe ao juiz decidir sobre 
tal pedido, devendo apenas remeter os autos ao órgão policial, sem realizar qualquer juízo de 
valor sobre a necessidade de novas apurações.83 
 
81 LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 281. 
82 RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 16. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 50-52. 
83 GRECO FILHO, Vicente. Manual de processo penal. São Paulo: Saraiva, 1991, p. 87-88. 
31 
 
Em sentido diverso, poderá constatar que os elementos informativos contidos no 
inquérito já são suficientes para a elaboração da opinio delicti. Em se posicionando pela 
viabilidade da ação penal, deverá oferecê-la dentro do prazo previsto no Código de Processo 
Penal.84 85 
Em contrapartida, a opinio delicti pode se apresentar no entendimento pela ausência 
de suporte para o oferecimento da ação penal. Nessa circunstância, deverá o Ministério Público 
requerer ao órgão jurisdicional competente o arquivamento do inquérito policial.86 
A esse respeito, Polastri assevera: 
Caso não estejam presentes as condições e requisitos que autorizem o oferecimento à 
denúncia, inexistindo outras diligências apuratórias, o órgão do parquet, ao contrário 
de dar início à ação penal, a abortará em seu nascedouro, através do arquivamento 
dos elementos até então existentes.87 (grifo do autor) 
Na legislação pátria, o arquivamento do inquérito policial e das demais peças de 
informação encontra-se previsto no art. 28 do Código de Processo Penal, que dispõe: 
Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requerer 
o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no 
caso de considerar improcedentes as razões invocadas, fará remessa do inquérito ou 
peças de informação ao procurador-geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro 
órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, 
ao qual só então estará o juiz obrigado a atender.88 
Ao Ministério Público, como titular privativo da ação penal de iniciativa pública, 
compete exclusivamente o requerimento de arquivamento do inquérito policial.89 Não é, 
portanto, atribuição da autoridade policial arquivá-lo de ofício ou requerer o seu arquivamento. 
 
84 BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível 
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 18 mai. 2018. 
“Art. 46. O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será de 5 dias, contado da data em que o 
órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial, e de 15 dias, se o réu estiver solto ou afiançado. 
No último caso, se houver devolução do inquérito à autoridade policial (art. 16), contar-se-á o prazo da data em 
que o órgão do Ministério Público receber novamente os autos.” 
85 GRECO FILHO, Vicente. Manual de processo penal. São Paulo: Saraiva, 1991, p. 91. 
86 Insta salientar que, conforme explica Greco Filho (op. cit., p. 88), a formação da sua opinio delicti pode levar à 
conclusão pela incompetência do juízo, devendo nesse caso o Ministério Público requerer ao juiz alteração da 
competência. 
87 LIMA, Marcellus Polastri. Curso de processo penal. 7. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013, p. 123. 
88 BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro. Disponível 
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 18 mai. 2018. 
89 Em se tratando da ação penal de iniciativa privada, a discussão acerca do arquivamento do inquérito policial não 
apresenta muita relevância, tendo em vista a presença dos institutos da renúncia e da decadência. Não obstante, 
Renato Brasileiro sustenta que o ofendido poderia requerer o arquivamento do inquérito policial quando, apesar 
das diligências realizas do curso das investigações, não houver indícios mínimos da autoria delitiva. Isso porque 
não haverá a decadência, visto que o marco inicial para a contagem do prazo decadencial inicia-se com o 
conhecimento do autor do fato, razão pela qual também não poderia se falar em renúncia tácita. (LIMA, Renato 
Brasileiro de. Manual de processo penal. 3. ed., rev., ampl. e atual. Salvador: Juspodivm, 2015, p. 170-171). 
32 
 
Isso porque, à esta concerne apenas a coleta de informações sobre o fato objeto da investigação, 
não lhe incumbindo valorar os elementos colhidos.90 
Não cabe igualmente ao magistrado determinar o arquivamento do inquérito 
policial de ofício. Caso contrário, haveria evidente distanciamento do sistema processual penal 
acusatório, que pressupõe a separação das funções de acusação, defesa e julgamento entre três 
órgãos distintos. Dessa forma, ao magistrado compete o arquivamento do inquérito, mas desde 
que requerido pelo Ministério Público, visto que este funciona como titular da ação penal, lhe 
sendo atribuída de forma exclusiva a formação da opinio delicti.91 
Incumbe ao magistrado apenas decidir sobre o pedido de arquivamento apresentado 
pelo órgão ministerial. Essa atribuição da autoridade judiciária se justifica, na medida em que 
é o juiz quem deve exercer o controle externo acerca da observância do princípio da 
obrigatoriedade da ação penal pública.92 
Sobre a fiscalização do princípio da obrigatoriedade da ação penal pública, Jardim 
assevera: 
A exigência de o arquivamento do inquérito ou das peças de informação vir a ser 
submetido à apreciação judicial nada mais é do que a consagração de um mecanismo 
de controle externo do princípio da obrigatoriedade da ação penal pública. Caso 
vigorasse o princípio da oportunidade, não haveria lugar para a fiscalização do que 
não existe – a obrigatoriedade. Poderíamos ter, sim, um duplo juízo de conveniência 
ou oportunidade sobre a propositura da demanda penal.93 
Destarte, o requerimento de arquivamento deverá ser apresentado ao juiz de forma 
escrita e fundamentada, contendo as razões pelas quais o Parquet entende ser essa providência 
necessária.94 95 O pedido deverá ser sempre expresso, sendo vedada a figura do arquivamento 
implícito.96 
 
90 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 13.ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2006, p.102. 
91 LIMA, Marcellus Polastri. Curso de processo penal. 7. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013, p. 124 
92 JARDIM, Afrânio Silva. Direito Processual Penal. 11. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 166. 
93 Ibidem, p. 166. 
94 De acordo com o STF, o pedido é irretratável. Nesse sentido: BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Inquérito nº 
2028. Relatora: Ministra Ellen Gracie. Diário da Justiça. Brasília, 16/12/2005. Disponível em: 
<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=80676>. Acesso em: 19 maio 2018; 
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Inquérito nº 2054. Relatora: Ministra Ellen Gracie. Diário da Justiça. 
Brasília, 06/10/2006. Disponível em: 
<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=80682>. Acesso em: 19 maio 2018. 
95 LIMA, op. cit., p. 124. 
96 “Entende-se como arquivamento implícito o fenômeno de ordem processual decorrente

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