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BIG BOSS BRASIL Monitoramento de mensagens pessoais no computador corporativo gera polêmica CARREIRAS LÍQUIDAS Desenvolver talentos adequados ao contexto é o novo mantra da gestão de pessoas MAIS UMA DOSE Alta no consumo de remédios para dormir ou aumentar o foco acende alerta nas companhias R $ 35 ,0 0 • e d iç ã o 8 4 v o c ê r h • v o c e r h .a b r il .c o m .b r A habilidade de se comunicar virou a competência mais desejada nas empresas, mas o diálogo nunca foi tão difícil. Saiba por que regredimos e como fazer com que as pessoas se entendam na era do trabalho híbrido COMUNICAÇÃO O ELO PERDIDO DA Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH SUMÁRIO FEVEREIRO / MARÇO 2023 ILUSTRAÇÃO DA CAPA: GUSTAVO MAGALHÃES 24 O elO perdIdO dA COMUNICAÇÃO Por que regredimos na habilidade de nos comunicar e como fazer com que as pessoas se entendam no trabalho híbrido 8 | CARTA AO LEITOR 9 | FEEDBACK 58 | MELHORES PRÁTICAS Energisa Rondônia cria programa de sucessão com aceleração de carreira 60 | LEIS & GESTÃO Empresas monitoram até o WhatsApp dos funcionários. A prática é ilegal? 62 | NA ESTANTE Novo livro questiona a motivação baseada em recompensas 66 | NA REAL As tendências para o RH em 2023 BOLETIM 10 | Notas Ford inaugura espaço tecnológico de treinamento 14 | Macro Estudos mostram que criar conexão emocional engaja mais do que a proximidade física 18 | Desafio do RH Daniel Tucci, novo diretor de RH da Renault 20 | Olhar do Presidente Fabricio Campolina, presidente da J&J MedTech SEÇÕES 38 CArreIrAs líqUIdAs A metáfora de ser como a água, desenvolvendo talentos adequados a cada contexto, é o novo mantra da gestão de pessoas 44 A pArANOIA tá ON Mesmo que funcionários trabalhem bem à distância, líderes acham difícil confiar em quem não está à vista. Entenda esse descompasso 48 vICIAdOs eM reMédIO Aumento nas vendas de medicamentos para melhorar o sono e o desempenho cognitivo acende alerta nas empresas 54 A NOvA MeNtOrIA O passo além nos programas de diversidade, equidade e inclusão é personalizar a qualificação de grupos minorizados. Saiba mais FOTO: CEL SO DON I FEV / MAR 2023 VOCÊ RH 4 Fabiana Galetol, diretora de pessoas da Sodexo: rede social corporativa substitui meios de comunicação tradicionais, como e-mail Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH ASSINATURAS VENDAS CORPORATIVAS, PROJETOS ESPECIAIS E VENDAS EM LOTE assinaturacorporativa@abril.com.br ATENDIMENTO minhaabril.com.br WhatsApp: 11 3584-9200 Telefones: SAC 11 3584-9200 Renovação 0800-7752112 De segunda a sexta-feira, das 9 às 17h30 E-mail: atendimento@abril.com.br VENDAS www.assineabril.com.br WhatsApp: 11 3584-9200 Telefones: SAC 11 3584-9200 De segunda a sexta-feira, das 9 às 17h30 PARA BAIXAR SUA REVISTA DIGITAL Acesse revistasdigitaisabril.com.br CORRESPONDÊNCIA Comentários sobre o conteúdo editorial de VOCÊ RH, sugestões e críticas: via redes sociais da revista (endereços na seção Feedback) Por razões de espaço ou clareza, eles poderão ser publicados de forma reduzida ANUNCIE Anuncie em VOCÊ RH e fale com o público leitor mais qualificado do Brasil: publicidade@abril.com.br FA LE COM VOCÊ RH 84 (ISSN 244709500), ano 16, no 2, é uma publicação bimestral da Editora Abril. VOCÊ RH não admite publicidade redacional. REDAÇÃO E CORRESPONDÊNCIA Rua Cerro Corá, 2.175, lojas 101 a 105 (1o e 2o andar), Vila Romana, CEP 05061-450, São Paulo, SP DIRETORIA EXECUTIVA DE DESENVOLVIMENTO EDITORIAL E AUDIÊNCIA Andrea Abelleira DIRETORIA EXECUTIVA DE OPERAÇÕES Guilherme Valente DIRETORIA DE MONETIZAÇÃO E RELACIONAMENTO COM CLIENTES Erick Carvalho SERVIÇO AO ASSINANTE Autoatendimento minhaabril.com.br WhatsApp 11 3584-9200 Telefones: SAC 11 3584-9200 Renovação 0800-7752112, de segunda a sexta-feira, das 9 às 17h30 IMPRESSA NA PLURAL INDÚSTRIA GRÁFICA LTDA: Av. Marcos Penteado de Ulhôa Rodrigues, 700, Tamboré, CEP 06543-001, Santana de Parnaíba, SP www.grupoabril.com.br VICTOR CIVITA (1907-1990) ROBERTO CIVITA (1936-2013) Fundada em 1950 Publisher: Fábio Carvalho Editora-chefe: Marcia Kedouk Editor de arte: Pedro Emílio Repórter: Letícia Furlan Estagiária: Juliana Brunes (arte) Colaboradora: Raquel Siqueira Ramos (revisão) Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH 8 VOCÊ RH FEV / MAR 2023 A comunicação sempre foi um desafio nas empresas, mas no pós-pande- mia a questão se agravou. A adoção em maior escala do trabalho híbri- do, com parte das equipes atuando à distância, trouxe mudanças na forma como os profissionais intera- gem — mas esse não é o problema, já que temos tecnologias suficien- temente avançadas para manter o entrosamen- to online. A falha aqui é humana. O cara a cara tem grandes vantagens, claro, e uma delas é a maior facilidade de entender e ser entendido durante uma conversa. No presencial, os sinais não verbais, como o olhar, o sorriso, o tom de voz, a linguagem do corpo que a tela não mostra, são tão eficientes quanto as palavras, senão mais importantes do que elas. A ques- tão é que o híbrido veio para ficar, e é preciso aprender a ter eficiência nesse modelo também. Uma das principais críticas à comunicação digital é a suposta diminuição no engajamento atribuída à distância entre os profissionais. Mas uma pesquisa da consultoria Gartner, que você vê nesta edição, mostra que a proximi- dade emocional, e não a física, é mais eficaz no fortalecimento de laços com o trabalho e os colegas. E é aqui que o negócio desanda. CARTA AO LEITOR Criar conexão emocional exige que as pes- soas, principalmente as lideranças, desenvol- vam — e demonstrem — empatia, confiança e escuta. Mas o que se vê segue no caminho contrário. Tem CEO que determina a volta ao presencial para que os funcionários “parem de fingir que trabalham” e só muda de ideia quando precisa fechar escritórios para cortar despesas com os espaços físicos. Está aí o Elon Musk, que não nos deixa mentir. A real é que faltam processos estruturados e claros que permitam a fluidez e o entendimento do trabalho em qualquer nível e modelo de atu- ação, mostra a jornalista Marcella Centofanti na reportagem de capa desta edição. Diálogos ríspidos tomaram o lugar de conversas antes amigáveis, gestores se mostram inacessíveis no ambiente online... Se essas não são boas práticas no presencial, por que ganham ter- reno no remoto? Porque o mundo corporativo se transforma cada vez mais rápido, mas as pessoas não se adaptam na mesma velocidade. Ninguém se entende MARCIA KEDOUK EDITORA-CHEFE Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH FEEDBACK revistavocerhrevista-voce-rh@revistavocerhvocerh@abril.com.br revistavocerh FEV / MAR 2023 VOCÊ RH 9 Legado não é apenas o que a gente deixa para as pessoas, mas sobretudo o que a gente deixa nas pessoas. A imortalidade também se manifesta nos valores que você transmitiu, na sociedade que impactou, nas vidas que transformou, no legado que deixou. (Sobre a reportagem de capa, Qual é o Seu Legado?, ed. 83) Mauro Wainstock Será um avanço incrível! Para que isso ocorra é fundamental uma liderança madura na compreensão do quanto é estratégica essa abertura. Estamos longe ainda. (Sobre a reportagem O Fim do Fit Cultural, ed. 83) Crislaine Belluzzo Veiga É legal ver que muitas empresas estão se adaptando ao modelo híbrido, mas ainda há várias que custam a entender que essa é a realidade agora. Pode ser difícil mudar a forma de trabalhar e se acostumar com a ideia de ter funcionários atuando de casa, mas a gente precisa se adaptar. (Sobre a reportagem Os Mitos do Trabalho Presencial, ed.83) Henrique dos Santos Uma das vantagens do trabalho remoto é a possibilidade de ser assíncrono. Ao estabelecer a obrigatoriedade do controle de horário, a lei joga por terra essa questão. O que vai acontecer em muitos casos é o acordo informal entre o trabalhador e a empresa. (Sobre a reportagem Controle Remoto, ed. 83) Marcel Fleming dos Santos Tenho a impressão de que a intenção [com a regulamentação do trabalho remoto] é boa, mas o caminho, nem tanto. Nas horas em que o funcionário precisar e puder parar o trabalho no meio do expediente para resolver algo pessoal, como ficará no registro de jornada? (Sobre a reportagem Controle Remoto, ed. 83) André Uzum Mesmo para os líderes que já têm anos de trabalho, é importante se atualizar sobre técnicas de feedback, inteligência emocional e gestão de situações difíceis. O que vejo por aí são executivos mais “antigos”, que acham que não precisam aprender mais nada e não se preparam para a conversa de carreira, não reúnem dados e fatos para serem discutidos, querem ser rápidos demais, não dão atenção ao funcionário, não têm objetividade e às vezes são até grosseiros. (Sobre o trecho de livro Como se Livrar dos Feedbacks Inúteis, ed. 83) Paula Coscarelli A relação entre produtividade, engajamento e lucro com a satisfação dos funcionários está sendo comprovada por várias pesquisas. Investir na evolução dos líderes para que o clima organizacional seja bom a ponto de aumentar o engajamento das pessoas dá lucro. (Sobre o artigo As Reflexões para 2023, ed. 83) Sandra Carnevali Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH 10 VOCÊ RH FEV / MAR 2023 FOTOS: DI V U L GAÇÃO A Ford inaugurou em São Paulo um espaço multifuncional para a realização de trei- namentos e ações para consumidores e parceiros. É o Ford Academy, que fica em uma unidade do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) Daniel Justo, presidente da Ford América do Sul: academia de qualificação com mais de 90 cursos IMersÃO pArA O fUtUrO no bairro do Ipiranga. “Funciona como uma academia da marca”, diz Daniel Justo, presidente da Ford América do Sul. “Ali promovemos uma verdadeira imersão nos valores e propósitos da Ford, e também em produtos, tecnologias e servi- ços.” O local oferece mais de 90 cursos de qualificação em novas tecnologias, como as embarcadas em veículos híbridos e elétricos. Além de salas de aula, há estações REPORTAGEM: MARCIA KEDOUK E LETÍCIA FURLAN para atividades práticas e espaços de protótipos dos lançamentos que estão por vir. Uma das iniciativas em desenvolvimento na academia é o < Enter >, projeto de qualificação técnica e comportamental gratuita para pessoas de baixa renda, com 440 horas de aulas presenciais. Em 2023, serão 200 vagas para esse público, que vai ter acesso a men- toria e assessoria para inclusão no mercado de trabalho. BOLETIM NOTAS Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH FEV / MAR 2023 VOCÊ RH 11 CLIMA DE INSATISFAÇÃO Quatro em cada dez profissionais ouvidos em uma pesquisa da plataforma de benefícios Betterfly afirmam ter vontade de pedir demissão do atual emprego. O levantamento, que ouviu 4 mil funcionários de companhias no Brasil, Chile, Argentina, Colômbia, Equador, Peru, México e Espanha, indica os principais pontos de insatisfa- ção. Veja os dados: MOTIVOS DO DESCONTENTAMENTO O SIGNIFICADO DO BEM-ESTAR NO TRABALHO Gabriela Al-Cici, diretora de RH da Prudential: meta de ter 50% dos cargos de liderança ocupados por mulheres até 2024 SIGA A LÍDER A seguradora Prudential quer ter 50% dos car- gos de liderança ocupados por mulheres até 2024. Para chegar lá, a companhia desenvol- veu o programa Liderança Feminina, com oito meses de workshops, palestras e sessões de coaching para as funcionárias, especialmente as gestoras. São 15 participantes na primeira turma. Outra iniciativa foi a criação de um grupo de afinidade para debater a inclusão feminina no mercado de trabalho. “elas já representam 55% do quadro geral de colaboradores e ocu- pam posições estratégicas na alta liderança”, diz Gabriela al-Cici, diretora de rH da segu- radora. a companhia anunciou recentemente Patricia freitas como nova CeO da Prudential do Brasil. a executiva está na empresa desde 2015 e sucede a David Legher, que ocupará a presidência regional da américa Latina. 54% SENTEM EXAUSTÃO 61% ACREDITAM QUE O BOM CLIMA ENTRE AS PESSOAS É FUNDAMENTAL 50% SOFREM SOBRECARGA DE TRABALHO 60% ACHAM QUE BEM-ESTAR É SER FELIZ AO REALIZAR AS TAREFAS 47% ALEGAM FALTA DE RECONHECIMENTO 48% VALORIZAM O EQUILÍBRIO ENTRE VIDA PESSOAL E PROFISSIONAL Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH 12 VOCÊ RH FEV / MAR 2023 FOTOS: DI V U L GAÇÃO REPORTAGEM: MARCIA KEDOUK E LETÍCIA FURLAN REPRESENTATIVIDADE NA SAÚDE A farmacêutica Sanofi anunciou durante o Fórum Econômico Mun- dial em Davos, na Suíça, o lançamento de um programa de bolsas de estudo para grupos minorizados. A iniciativa prevê ajuda de custo com mensalidades em escolas de ensino superior e outras despesas para pessoas negras, mulheres, membros da comunidade LGBTQIA+ e pessoas com deficiência que queiram seguir carreira em saúde humana. Serão 100 vagas por ano em cada país participante: Brasil, Estados Unidos, Japão, França e Reino Unido. Além do suporte finan- ceiro, a Sanofi no Brasil vai oferecer mentoria e oportunidades de estágio e emprego aos selecionados. A ação acontece depois de uma pesquisa com mais de 11.500 respondentes encomendada pela em- presa mostrar uma crise de confiança de grupos minorizados com o setor de saúde. Segundo o estudo, 59% dos pacientes de populações sub-representadas gostariam de ter acesso a profissionais de diver- sas origens. “Quando falamos em representatividade, assumimos compromissos que pretendemos atingir até 2025, como ter 30% de profissionais pretos e pardos, 22% de pessoas com 50 anos ou mais e 7% de talentos com deficiência em nosso quadro de colaboradores”, diz Pedro Pittella, diretor de pessoas da Sanofi no Brasil. EXPOSIÇÃO AO RISCO Treinar os funcionários sobre a importância de adotar medidas de proteção de dados corpora- tivos é fundamental, principal- mente quando há equipes atu- ando à distância. Uma pesquisa da Cisco com 6.700 líderes com responsabilidades em cibersegu- rança em 27 países, incluindo o Brasil, revela que a maioria dos empregados utiliza dispositivos pessoais para acesso a ferramen- tas de trabalho. Saiba mais BOLETIM NOTAS 92% revelam que as equipes utilizam pelo menos duas redes — como a de casa, cafeterias, shoppings — para se conectar ao trabalho 84% dos entrevistados no Brasil dizem que os funcionários fazem login para trabalhar a partir de dispositivos não registrados na rede da companhia 67% afirmam que os profissionais passam pelo menos 10% do dia trabalhando em dispositivos pessoais 41% contam que os funcionários usam mais de cinco redes para fazer a conexão com ferramentas da empresa Pedro Pittella, diretor de pessoas da Sanofi: 100 bolsas de estudo por ano para grupos minorizados Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH FEV / MAR 2023 VOCÊ RH 13 Madalena Ribeiro, diretora de RH da Libbs: funcionários podem morar em qualquer lugar do mundo O AVANÇO DO METAVERSO As oportunidades para trabalhar com o metaverso já começam a se popularizar em várias áreas. É o que mostra um mapeamento da empresa de inteligência de dados Cortex com 2 milhões de vagas anunciadas no Brasil entre outubro de 2022 e janeiro de 2023. Segundo a pesquisa, os cargos mais buscados são analista de marketing, assistente de inova- ção e designer 3D, além de pro- gramador de realidade virtual e profissionais de teste de software. Para estágio, a principal procura estava em comunicação, direito digital e recursos humanos. TRABALHAR DE QUALQUER LUGAR Com uma política de trabalho remoto estabelecida desde2021, a farmacêutica brasileira Libbs ampliou sua política de flexibilidade com um programa de moradia no exterior. Os funcionários po- derão morar em qualquer lugar do mundo por até 18 meses sem alteração do contrato de trabalho. “Caso o colaborador decida continuar morando fora do país após esse tempo, o caso é reava- liado para uma residência permanente por período indeterminado devido à mudança definitiva, em regime a ser combinado com a empresa”, afirma Madalena Ribeiro, diretora de RH da Libbs. Já tem gente morando na Itália, Canadá, Índia, México e Portugal. Além de ter salários e benefícios mantidos, outras regalias fa- cilitam a transição, como o adiantamento de um mês de salário para a mudança. A farmacêutica também definiu boas práticas de reuniões: os que atuam em fusos horários com até cinco horas de diferença para o Brasil fazem no máximo um encontro virtual por dia. Para intervalos maiores, a recomendação é de uma por semana. Para participar do programa é preciso ter aprovação do gestor imediato, trabalhar sob o regime CLT e exercer atividade que possa ser realizada de forma 100% remota. A EVOLUÇÃO DO HÍBRIDO funcionários preferem não ter dia fixo para ir ao escritório, mostra um levantamento da consultoria Kultua com 3.128 profissionais. Os participantes colocaram o híbrido flexível no topo do ranking de melhores modelos de trabalho. O formato 100% remoto aparece em segundo, seguido do híbrido fixo, em que a empresa ou as equipes determinam os dias de presença. Na lanterninha ficou o presencial. Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH ILUSTR AÇÃO: KOL ON KO / GET T Y I M AGES | M ACROV ECT OR / F R EEPI K | F R EEPI K / F L AT ICON14 VOCÊ RH FEV / MAR 2023 BOLETIM MACRO - Gartner* CONEXÃO EMOCIONAL ESTUDOS DA CONSULTORIA GARTNER INDICAM QUE FOCAR A PROXIMIDADE EMOCIONAL DOS FUNCIONÁRIOS, E NÃO A FÍSICA, É MAIS EFICAZ PARA FORTALECER A CULTURA CORPORATIVA Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH FEV / MAR 2023 VOCÊ RH 15 OS DOIS TIPOS DE PROXIMIDADE GRAU DE SINTONIA *EM PR ESA DE BENCH M A R K I NG GL OBA L DE CA PI TA L H U M A NO. CON TAT O: V I T OR IO.BR ETA S@ GA RT N ER .COM A conexão dos profissionais com a cultura da empresa pode aumentar 27% quando eles experimentam proximidade emocional com o trabalho. Já a proximidade física por si só não tem impacto no engajamento com a companhia Estudo com 3.559 profissionais mostrou que trabalhar sozinho no escritório é o pior modelo para o desenvolvimento da conexão emocional — mais do que atuar de forma individual à distância. Veja as porcentagens de funcionários que experimentam esse tipo de proximidade em cada situação 1 FÍSICA Acontece quando os funcionários são vistos e criam laços por proximidade. Se existe uma intenção para as pessoas estarem no local mesmo podendo atuar à distância, o escritório tem o potencial de satisfazer um dos desejos mais básicos do ser humano: o de pertencimento. 2 EMOCIONAL Ocorre quando os profissionais se sentem vistos, reconhecidos e valorizados, conectados a algo maior do que eles mesmos — por exemplo, a uma equipe, um projeto ou um propósito. Em um ambiente pré-pandêmico, as proximidades física e emocional ocorriam juntas e naturalmente. LINK CULTURAL Apostar no presencial para difundir e fortalecer a cultura, com experiências no escritório, proximidade física e experiências baseadas no coletivo, e não no individual, tem se mostrado uma opção frágil. Veja as porcentagens de profissionais que se sentem conectados com a empresa nos diferentes cenários SE SENTEM CONECTADOS QUANDO A CULTURA É DIFUNDIDA PELA PRESENÇA NA EMPRESA3% É O AUMENTO DA CONEXÃO QUANDO HÁ APENAS PROXIMIDADE FÍSICA0% SE SENTEM CONECTADOS QUANDO AS EXPERIÊNCIAS NA COMPANHIA SÃO INDIVIDUALIZADAS19% SE SENTEM CONECTADOS QUANDO AS EXPERIÊNCIAS NA EMPRESA SÃO COLETIVAS9% É O AUMENTO DA CONEXÃO QUANDO HÁ PROXIMIDADE EMOCIONAL27% SE SENTEM CONECTADOS QUANDO A CULTURA É DIFUNDIDA PELO ENVOLVIMENTO NO TRABALHO43% 41% 43% 51% 54% Na empresa, trabalhando sozinho De forma remota, trabalhando sozinho Na empresa, em reuniões virtuais De forma remota, em reuniões virtuais 55% Na empresa, em reuniões presenciais Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH 16 VOCÊ RH FEV / MAR 2023 MUDANÇAS CONSOLIDADAS Um dos desafios na criação de conexão e senso de pertencimento é a atenção aos novos anseios dos profissionais. Líderes de RH apontam quatro questões que se tornaram fundamentais: flexibilidade, bem-estar, propósito compartilhado e “experiência da pessoa”, em vez da tradicional estratégia de “experiência do colaborador” dizem que a existência de políticas flexíveis de trabalho vão influenciar a decisão de permanência no atual emprego 52% dos profissionais afirmam que vão considerar apenas opções de trabalho remoto na procura por um novo emprego 45% dos funcionários acreditam que a empresa na qual trabalham os enxerga como pessoas 45% valorizam a person-first experience, considerando importante que a empresa os vejam como pessoas, não apenas como funcionários 82% das companhias adotaram novos benefícios voltados para o bem-estar ou ampliaram as práticas já existentes 70% dos empregados esperam que a empresa defenda ativamente causas que eles consideram importantes 53% BOLETIM MACRO - Gartner* Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH FEV / MAR 2023 VOCÊ RH 17*EM PR ESA DE BENCH M A R K I NG GL OBA L DE CA PI TA L H U M A NO. CON TAT O: V I T OR IO.BR ETA S@ GA RT N ER .COM MOMENTOS QUE IMPORTAM Em vez de exigir que os funcionários voltem ao escritório com mais frequência, a liderança deve encontrar maneiras de nutrir a proximidade emocional sem depender da física. Para isso, é preciso fazer com que as pessoas se sintam valorizadas e parte de algo maior novamente, independentemente do local em que trabalham. Estes são os cinco principais momentos que importam para o engajamento com a cultura corporativa, segundo estudo com 4 mil participantes FEEDBACK FORMAL As avaliações de desempenho são o segundo momento mais significativo para a conexão. Daí a importância de a gestão reconhecer as contribuições individuais para o sucesso da equipe. Quando a melhoria é necessária, os líderes devem apoiar e oferecer soluções para ajudar os funcionários a atingir os objetivos, levando em consideração suas circunstâncias pessoais e seu bem-estar.2 APOIO EM SITUAÇÕES DIFÍCEIS Em um ambiente híbrido ou remoto, os profissionais às vezes não conseguem escapar das distrações ao trabalhar em casa. Os líderes devem se preparar para interrupções pessoais na rotina dos funcionários, desenvolvendo a empatia como fariam com qualquer outra habilidade: com treinamento e prática.3 CELEBRAÇÃO DE RESULTADOS Quando as equipes atuam à distância, podem nem perceber quando um trabalho do qual participaram foi concluído e se houve sucesso na realização dele. Os gestores devem aproveitar o ambiente virtual para elogiar um trabalho bem-feito — mas de forma sincera, comentando os principais pontos.4 COMPARTILHAMENTO DE PROPÓSITO O quinto momento mais relevante para a criação de conexão acontece quando os funcionários ouvem os líderes falarem sobre o propósito organizacional. Os gestores devem comentar funções individuais, de equipes e da empresa, porque isso permite que cada um perceba que contribui, mesmo à distância, para algo maior.5 RECONHECIMENTO DE PARES Três em cada cinco funcionários dizem que os momentos de reconhecimento dos colegas criam um forte senso de conexão à cultura da empresa. Os líderes e o RH podem incentivar essas práticas reservando parte de algumas reuniões para agradecer pelo trabalho de determinados profissionais, organizando celebrações virtuais ou enviando vales-presente em datas comemorativas.1 Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH 18 VOCÊ RH FEV / MAR 2023 FOTO: T U LIO V I DA L BOLETIM DESAFIO DO RH Os NOvOs ACIONIstAs dA reNAUlt DANIEL TUCCI, QUE ASSUMIU EM OUTUBRO DE 2022 COMO DIRETOR DE RH DA RENAULT, FALA SOBRE O RECÉM-LANÇADO PLANO DE AÇÕES PARA FUNCIONÁRIOS E A CONSOLIDAÇÃO DO TRABALHO REMOTO NO GRUPO LETÍCIA FURLAN Daniel Tucci, diretor de RH da Renault Brasil: seis ações gratuitas para cada funcionário do grupo Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH FEV / MAR 2023 VOCÊ RH 19 NÃO TER UM MODELO DE TRABALHO FLEXÍVEL É ESTAR DESALINHADO COM AS EXPECTATIVAS ATUAIS DOS PROFISSIONAIS” E m 1998, quando a montadora francesa Renault iniciava suas operações no Brasil, Daniel Tucci concluía sua primeira experiência em recursos humanos, como trainee da American Express. Desde então, o administrador com mestrado em filosofia passou por companhias como Claro, Santander, Nike e GE até chegar, em 2019, à fabricante de veículos, como diretor de gestão de talentos para a América Latina. Em outubro de 2022, assumiu a direção de RH da Renault no Brasil, em um momento em que o setor automobilístico passa por profundas mudanças. “É preciso diferenciar o que é tradição do que é tradicional”, diz. “Tradição é o orgulho de pertencer, a história da marca. Tradicional se refere a práticas que já estão aí há algum tempo e que não necessariamente nos ajudam a avançar.” O desAfIO O aperfeiçoamento da eficiência energética dos motores a combustão e o crescimento do mercado de carros elétricos no Brasil trazem novas necessidades também para a gestão de pessoas, como a de atrair e engajar talentos diversos, inclusive da área de tecnologia. Uma das medidas adotadas pela multinacional é a consolidação do modelo flexível de trabalho, com 29% do total de profissionais no país atuando à distância. Considerando apenas o administrativo, são 79% nessa configuração. “O trabalho remoto é um fato e vai continuar — queremos, inclusive, expandi-lo cada vez mais”, afirma. “Não ter um programa de trabalho flexível é estar desalinhado com as expectativas atuais dos profissionais brasileiros, independentemente do segmento de atuação.” Outra prática é a criação de um plano de participação acionária, o Renaulution Shareplan, para mais de 110 mil funcionários em 29 países, incluindo o Brasil. Lançada em novembro de 2022, a iniciativa pretende triplicar o número de colaboradores acionistas no grupo, chegando a 10% do capital social até 2030. Cada um receberá gratuitamente seis ações com preço de referência fixado em 31,46 euros e terá facilidades e desconto de 30% para a aquisição de uma quantidade maior, pagando 22,02 euros por ação. O limite para a compra equivale a 25% da remuneração bruta anual do empregado. Para se tornar elegível à oferta, era preciso ter pelo menos três meses de casa entre 1º de janeiro de 2021 e 12 de dezembro de 2022, data de encerramento das inscrições no programa. “Ao se tornarem sócios, os funcionários se sentem parte do negócio”, diz Daniel. Para divulgar o plano aos mais de 6 mil colaboradores no Brasil, as áreas de recursos humanos e de comunicação fizeram uma força-tarefa que envolveu todos os meios: aplicativo corporativo, e-mail, mídia impressa, palestras, reuniões gerenciais e orientações nas fábricas. O Renaulution Shareplan faz parte de um novo posicionamento estratégico da Renault, divulgado em 2021, que prevê recuperar a geração de caixa e as margens de lucro até 2023, investir na renovação de produtos até 2025 e, a partir daí, focar o modelo de negócios em mobilidade e tecnologia. Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH 20 VOCÊ RH FEV / MAR 2023 FOTO: DI V U L GAÇÃO dIvIdIr pArA CresCer A multinacional Johnson & Johnson anunciou em novembro de 2020 a divisão de seu conglomerado em duas unidades: uma de produtos médicos e farmacêuticos e outra com suas marcas de consumo, como Band-Aid e Tylenol. O processo é longo, mas já produziu alterações na alta liderança. Uma delas foi a chegada de Fabricio Campolina à presidência da J&J MedTech, em setembro de 2022. Na Johnson desde 2005, o executivo, que é graduado em ciência da computação e tem MBA em administração, acredita que seu legado no cargo será tornar a empresa mais digital. “Queremos inovar na nossa cultura corporativa e trabalhar com inteligência artificial para tirar valor e conhecimento das informações [sobre o público interno] que temos”, afirma. Esse é um grande desafio para uma empresa da área médica que, segundo Fabricio, tende a ser mais resistente a mudanças. Na entrevista a seguir, ele fala sobre os novos rumos da companhia e sua visão do papel do RH na empreitada. NOVO PRESIDENTE DA JOHNSON &JOHNSON MEDTECH BRASIL FALA SOBRE AS MUDANÇAS NA COMPANHIA E O PAPEL ESTRATÉGICO DO RH NA NOVA FASE KARINA SÉRGIO GOMES BOLETIM OLHAR DO PRESIDENTE Diante dessas áreas tão exigidas nos últimos três anos, a médica e a de tecnologia, quais são os seus principais desafios na MedTech? Assumo num momento muito bom para a empresa, que acho que nos dá liberdade de promover algumas mudanças necessárias. Os desafios se concentram no aspecto cultural, no entendimento de como nós conseguimos evoluir como organização e nos tornar uma empresa digital. O que é preciso mudar na cultura corporativa? Éramos uma empresa tradicional de dispositivos médicos — fios de sutura, próteses de joelhos, por exemplo —, muito hierárquica e segregada em suas áreas. Queremos inovar. E para isso precisamos consolidar nossos dados [internos] e trabalhar com inteligência artificial para tirar valor e conhecimento das informações que temos. A partir de agora, os times passam a se reorganizar em equipes ágeis, em que o foco está em resolver um problema, trazendo pessoas de diversos departamentos para atuar em conjunto de ponta a ponta. Para as equipes, o que muda? Passamos a ter uma liderança servidora, que dá autonomia e condições para que as pessoas resolvam os problemas e gerem valor com muito mais agilidade. Passamos também a educar nossos funcionários Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH Fabricio Campolina, presidente da J&J MedTech: diminuir hierarquias e usar inteligência artificial na gestão estão entre os desafios à frente do novo cargo FEV / MAR 2023 VOCÊ RH 21 Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH 22 VOCÊ RH FEV / MAR 2023 BOLETIM OLHAR DO PRESIDENTE É PRECISO TER A CORAGEM DE ESCOLHER ONDE BOTAR NOSSA ENERGIA. TENTAR FAZER TUDO É UMA ARMADILHA" com o que chamamos de destreza digital. Esse é o meu grande desafio no momento. Os brasileiros costumam aderir rápido a novas tecnologias de comunicação. Essa inclinação também se reflete na área médica? O setor de saúde no Brasil não é diferente do existente em outros países. Por outro lado, a saúde é bem diferente de outros setores. Eu vim da área de comunicação e telecom, então senti esse contraste. As áreas médica e de saúde são muito tradicionais. E têm que ser tradicionais, porque estamos lidando com vidas — não podemos tomar riscos relacionados a vidas. Mas isso não pode virar uma desculpa para que a gente não busque evoluir. A saúde tem um ritmo bem mais lento no que se refere a mudanças de cultura e de forma de trabalho do que os demais segmentos. Qual modelo de gestão você colocou em prática quando assumiu a presidência? Um dos meus primeiros pilares é um ambiente de segurança psicológica. Todos os funcionários precisam se sentir à vontade para ser quem são e poder expressar as suas ideias. Tenho uma crença muito forte na diversidade das opiniões e na importância da inclusão. Outro aspecto que acho importante é a questão da priorização: entender o que é mais importante, ter a coragem de escolher onde vamos botar nossa energia. Tentar fazer tudo é uma armadilha. Você comenta bastante sobre a importância de ter um RH estratégico. Como vê essa área?Quando pensamos em qual cultura queremos criar dentro da organização e quais ações precisamos fazer em direção a esse objetivo, isso deve ser resolvido com o RH. Outro ponto: qual é o perfil do líder do futuro de que precisamos para ter sucesso? Não hoje, mas daqui a três, cinco anos. O RH precisa ter essa visão para avançarmos na jornada. A área é uma aliada fundamental para nos orientar sobre como equilibrar o “performar” e o transformar, o que às vezes é algo bastante complexo. Em 2022, você trabalhou na criação do programa 1000 DEVs, em que recrutaram jovens na periferia de São Paulo para serem trainees de algumas empresas. Como CEO, você pretende expandir esses projetos? Sem dúvida. Essa iniciativa surgiu ao constatarmos a necessidade de oferecer oportunidades para jovens em situação de vulnerabilidade social. E sempre ouvimos de nossos parceiros que há dificuldade em recrutar desenvolvedores — percebemos esse desafio inclusive dentro da própria Johnson. Por meio de entidades, que atuam dentro de programas de Jovem Aprendiz, fizemos contato com jovens que haviam terminado o ensino médio e tinham interesse em se qualificar como desenvolvedores. Em parceria com a Edutec, uma startup da área de educação, oferecemos um curso de seis meses, no período noturno, para eles aprenderem a ser programadores. Várias empresas parceiras contrataram esses jovens — a Johnson contratou cinco deles. Agora estamos tentando ampliar esse projeto. Nosso propósito é ter mil jovens capacitados em dois ou três anos. Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH 24 VOCÊ RH FEV / MAR 2023 COMUNICAÇÃO COMPETÊNCIA MAIS DESEJADA ENTRE OS PROFISSIONAIS NO PÓS-PANDEMIA, A COMUNICAÇÃO NUNCA FOI TÃO DIFÍCIL NAS EMPRESAS. SAIBA COMO FAZER COM QUE AS PESSOAS SE ENTENDAM NA ERA DO TRABALHO HÍBRIDO MARCELLA CENTOFANTI O ELO PERDIDO DA COMUNICAÇÃO VCRH84 Matéria de Capa.indd 24 1/23/23 6:50 PM Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH FEV / MAR 2023 VOCÊ RH 25ILUSTR AÇÃO: GUSTAVO M AGA L H Ã ES VCRH84 Matéria de Capa.indd 25 1/23/23 6:50 PM Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH 26 VOCÊ RH FEV / MAR 2023 uando não somos mais capazes de mudar uma situação, somos desa- fiados a mudar a nós mesmos”, escreveu o psicólogo austríaco Vi- ktor Frankl, sobrevivente do Ho- locausto. Nos últimos três anos, a humanidade foi confrontada com essa necessidade descrita pelo autor do livro Em Busca de Sen- tido (Editora Vozes). A pandemia de covid-19 impôs a empresas e funcionários a urgência de se adaptarem a um mundo em rá- pida transformação. De todos os desafios impostos pela transição abrupta do modelo presencial para o remoto, a comunicação foi, possivelmente, o maior deles. Essa percepção foi confirmada pela pesquisa State of Remote Work 2022 (“Estado de trabalho remoto”, em tradução livre), fei- ta pela Buffer, companhia britâ- nica de gerenciamento de mídias sociais. O estudo revelou que a maior mudança para as pessoas que adotaram o home office foi a maneira de se comunicar (veja o quadro). O levantamento, que ouviu 2.118 profissionais de 16 países, havia chegado à mesma conclusão em entrevistas reali- zadas no ano anterior. De fato, no modelo presencial, existe uma espontaneidade que diminui a necessidade de se ex- pressar com tanta clareza. Um encontro no corredor ou o café na copa podem resolver uma de- manda que, à distância, precisa ser formalizada no aplicativo corporativo de mensagens. A linguagem corporal também é menos transparente na tela. Pessoalmente, um colega perce- be, só de olhar, que o outro não está em um bom dia — e deixa algum pedido não urgente para um momento mais oportuno. Chats não modulam o tom de voz, e uma palavra mal colocada pode azedar o clima do time. Saber se expressar nunca foi tão importante. “Muitas empresas perceberam que não tinham processos estruturados para se comunicar. Era tudo na base da conversa. A palavra, principal- mente escrita, ganhou importân- cia depois da pandemia”, afirma Vivian Rio Stella, idealizadora da VRS Academy e professora de comunicação da Faculdade Cásper Líbero e da FIA Business School. “O trabalho remoto ou híbrido trouxe a necessidade de fixar objetivos de uma forma mais estruturada, com recorrência e rituais, para criar uma conexão entre as pessoas, mesmo que elas estejam distantes. Ouso dizer que a gestão ficou mais profissional.” “Q Básico e necessário Para Rodrigo Vianna, CEO da empresa de recrutamento Mappit, a comunicação é a habilidade mais importante em um profissional atualmente, porque não dá para correr os riscos que a falta dela traz. “O cara pode entregar os O trabalho remoto trouxe a necessidade de criar conexão entre as pessoas, mesmo que elas estejam distantes. A gestão ficou mais profissional” Vivian Rio Stella, professora da FIA Business School COMUNICAÇÃO VCRH84 Matéria de Capa.indd 26 1/23/23 6:51 PM Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH FEV / MAR 2023 VOCÊ RH 27 Alessandra Micillo, gerente de RH da Martin Brower: reunião trimestral da alta liderança com os 1.200 funcionários melhores resultados, mas, se ele só interage com a equipe na base da porrada, tem zero carinho com os outros e a escuta dele é péssi- ma, não dá para contratá-lo. Aos poucos, ele vai quebrar os vínculos de confiança entre as pessoas e destruir o time”, diz. O levantamento Inteligência Emocional e Saúde Mental no Ambiente de Trabalho, realizado pela The School of Life em par- ceria com a Robert Half, também indica que a capacidade de se comunicar está em xeque: é a competência que mais falta nos liderados, ausente em 32% deles, mostra o estudo. “É muito mais fácil treinar um profissional para manejar determinado sistema do que ensiná-lo a ser empático com um colega de equipe. Por isso, no recrutamento, na seleção e no dia a dia, as habilidades compor- tamentais são tão importantes quanto as técnicas”, conclui a pesquisa, feita em agosto de 2022 com 800 profissionais empregados. A percepção dessa lacuna não está só nos estudos — as pessoas têm notado a importância da co- municação para a carreira. Entre os dez cursos mais populares de 2022 do LinkedIn Learning, quatro estão relacionados ao tema (veja o quadro): comunicação interpessoal (terceiro colocado), fundamentos da colaboração em equipe (sétimo), vieses inconscien- tes (oitavo) e comunicando-se com confiança (décimo). Na tela, todo mundo é igual A adoção em maior escala do trabalho remoto ou híbrido mo- dificou a percepção da hierarquia FOTO: CEL SO DON I VCRH84 Matéria de Capa.indd 27 1/23/23 6:51 PM Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH 28 VOCÊ RH FEV / MAR 2023 MUDANÇA À DISTÂNCIA A Buffer, empresa britânica de gerenciamento de mídias sociais, perguntou a profissionais de 16 países quais foram as maiores alterações desde que eles saíram do modelo presencial. O resultado mostra o impacto da comunicação nessa transição relatam alterações na forma de colaborar ou se comunicar56% dedicam mais horas ao trabalho53% fazem mais chamadas de vídeo51% consideram que nada mudou8% afirmam que a forma de fazer o próprio trabalho mudou45% COMUNICAÇÃO VCRH84 Matéria de Capa.indd 28 1/23/23 6:52 PM Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH FEV / MAR 2023 VOCÊ RH 29 Gabriela Dias, diretora de RH da Evonik: 93 gestores treinados em comunicação, empatia e colaboração entre os funcionários. À distân- cia, o chefe não tem uma mesa maior nem uma sala separada por uma secretária. O CEO e o estagiário são iguais na tela: ambos ocupam um singelo retân- gulo, muitas vezes com a imagem emoldurada por um fundo difuso ou falso. Essa democratização de espaços cria proximidade — ou a expectativa de que ela aconteça, afirma Wilma Dal Col, diretora de gestão estratégicade pessoas do ManpowerGroup Brasil. “As conversas da liderança com as equipes não podem ser somente sobre tarefas, e sim sobre pro- pósito, desafios e resultados que precisam ser alcançados”, diz. Na Martin Brower, multina- cional americana do segmen- to de logística, supply chain e distribuição, uma das soluções para fortalecer a conexão com as equipes foi criar um even- to trimestral presencial com transmissão online apresentado pela alta liderança. Instituído em 2022, o Conecta MB apresenta os resultados da companhia e a visão dos gestores para os 1.200 funcionários, dos quais 35% trabalham no modelo híbrido. “O evento surgiu da necessidade de tornar o fluxo de informações mais fluido, homogêneo e cons- tante”, afirma Alessandra Micillo, gerente de RH para o Brasil e a América Latina da Martin Bro- wer. “As pessoas querem saber como as coisas estão indo e o que os clientes estão pensando. É uma maneira de aproximar a alta liderança de todos os públicos e criar confiança entre eles.” Não se trata de uma ocasião em que apenas os de cima falam FOTO: CEL SO DON I VCRH84 Matéria de Capa.indd 29 1/23/23 6:52 PM Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH FOTO: CEL SO DON I30 VOCÊ RH FEV / MAR 2023 Luciana Avanci, gerente de gente e gestão da HSI: evento mensal com as mulheres da empresa para falar sobre comunicação em ambiente majoritariamente masculino e os de baixo ouvem. Perguntas são encorajadas. “Os porta-vozes são acessíveis e é importante pa- ra nós que as pessoas se sintam confortáveis para se manifes- tar”, diz Alessandra. Para evitar constrangimento, as dúvidas podem ser encaminhadas de forma anônima. Fala que eu te escuto Já se foi o tempo, por sinal, em que a comunicação organiza- cional se resumia a transmitir recados, por qualquer que fosse o canal: conferência, e-mail, página da intranet, mural ou jornal impresso. A via, que era de mão única, hoje caminha em sentido duplo: não basta falar — é preciso escutar. Essa mu- dança vem numa crescente no país na última década, puxada pela ampliação dos programas de compliance nas companhias e pela maior abertura para debates de temas como assédio sexual e moral. O movimento aumentou a partir de 2017, quando reporta- gens publicadas pelo jornal The New York Times e pela revista The New Yorker apresentaram denúncias de estupro contra o produtor de cinema Harvey Weinstein. A hashtag #MeToo explodiu nas redes sociais, com famosos e anônimos relatando histórias pessoais. O movimento impactou enor- memente o mundo corporativo, em que estruturas hierárquicas são um prato cheio para abusos de poder. “A maneira como um gestor se porta atualmente é completamente diferente do que era permitido lá atrás”, afirma Gabriela Dias, diretora COMUNICAÇÃO VCRH84 Matéria de Capa.indd 30 1/23/23 6:52 PM Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH FEV / MAR 2023 VOCÊ RH 31 COMUNICAÇÃO ASSERTIVA O que não pode faltar na estratégia das companhias interessadas na boa troca de informações Slack, Teams, Meet, Zoom, WhatsApp, chamada telefônica. As ferramentas de comunicação à distância são tantas que ficou confuso saber qual usar. Alguém envia um e-mail, na sequência manda um WhatsApp e escreve uma mensagem no chat. Por onde o interlocutor responde? “Essa sobreposição de canais causa um desencontro de informações e dificulta a criação de um histórico da conversa”, afirma a professora especialista em linguística Vivian Rio Stella. É importante que a empresa sinalize ao funcionário para que serve cada ferramenta. Combinado não sai caro. COMBINE OS CANAIS ADEQUADOS Escuta é o substantivo da moda. “Com tantas reuniões, e-mails e mensagens, a gente acha que já se comunica bastante, quando na verdade só transmite conteúdo. Comunicação não é só falar, mas também escutar. Só assim é possível construir relações de confiança”, afirma Vivian. FALE, MAS TAMBÉM OUÇA O trabalho remoto dificultou a vida dos prolixos. As reuniões, que duravam 1h30, sendo meia hora de cafezinho e bate-papo, agora levam 30 minutos. E as pessoas estão mais desatentas na tela. Na interação online, é tentador abrir uma aba no computador e passear pelo Instagram enquanto o colega da fala arrastada dá voltas e voltas sem chegar a lugar nenhum. Antes de dizer algo, uma boa prática é refletir: qual conteúdo é sintético e, ao mesmo tempo, relevante para o outro? SEJA DIRETO E SUCINTO VCRH84 Matéria de Capa.indd 31 1/23/23 6:53 PM Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH 32 VOCÊ RH FEV / MAR 2023 de recursos humanos para a América Central e do Sul da Evonik, multinacional alemã do segmento químico. “Comentá- rios e brincadeiras possíveis no passado já não cabem mais. É preciso ter muito cuidado sobre o que falar e como falar.” A habilidade ficou ainda mais delicada quando a covid-19 im- pôs o distanciamento social. “Uma das habilidades que a gente teve que desenvolver na pandemia foi a escuta, para en- tender como cada colaborador estava reagindo àquele momento difícil”, diz Gabriela. “A comu- nicação não se resume a uma área dentro da empresa. Ela é uma responsabilidade de todos nós, e a valorização dela é uma tendência que veio para ficar.” Em 2022, a Evonik treinou 93 gestores em temas como ciên- cia da colaboração, conexões entre as equipes, autenticida- de e empatia. A ideia é que as lideranças estejam prepara- das para identificar problemas enfrentados pelos liderados e acolhê-los, quando necessário. Afinal, quando uma companhia fomenta um ambiente de segu- rança psicológica e incentiva os profissionais a compartilhar vulnerabilidades, ela precisa também preparar o interlocutor que vai receber a mensagem. A exemplo da Martin Brower, a cada trimestre a Evonik or- ganiza os seus chamados town halls, eventos de apresentação dos resultados do negócio para todos os 750 funcionários da região. A cerimônia dura 1h30, com metade do tempo dedicada ao esclarecimento de dúvidas. “Nós poderíamos apresentar os dados unilateralmente, mas quisemos aumentar a confiança das pessoas na organização, es- pecialmente durante a pandemia, um período de grande incerteza. Por isso, a gente abriu um espaço gigante para as pessoas pergun- tarem qualquer coisa, inclusive anonimamente”, afirma Gabriela. Diversidade e inclusão Tornar o ambiente corporativo mais acolhedor passa, inevitavel- mente, pelo caminho da inclu- são. “A geração Z e os millennials cobram das organizações uma posição firme em relação à diver- sidade. E a comunicação é o pilar mais importante para trabalhar esse tema nas empresas”, diz Ro- drigo, da Mappit. A discussão chegou até mesmo ao notoriamente pouco diverso mercado financeiro. Quem nunca viu memes dos “faria limers” enfi- leirados: homens, brancos, jovens e idênticos até na camisa com das empresas fazem pesquisa de opinião dos funcionários pelo menos uma vez ao ano das companhias que coletam o feedback dos empregados têm uma estratégia de comunicação interna dos tomadores de decisão dizem que a comunicação interna não é importante para os resultados da empresa QUESTÃO GLOBAL 81% 72% dos empregadores sempre agem com base nas informações coletadas nas pesquisas internas 24% dos líderes acham difícil mensurar o valor que a comunicação interna traz para os negócios 42% 18% Pesquisa da consultoria ITPR com líderes de RH, marketing e relações públicas de empresas com mais de 100 funcionários no Reino Unido identificou desafios na comunicação interna que valem para companhias em outros países COMUNICAÇÃO VCRH84 Matéria de Capa.indd 32 1/23/23 6:53 PM Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH FEV / MAR 2023 VOCÊ RH 33 OS GARGALOS Problemas de comunicação estão entre as principais queixas de funcionários em relação às empresas, mostra estudo da consultoria ITPR no Reino Unido o mesmo tom de azul claro? Na HSI, gestorade fundos de inves- timentos imobiliários, as mulhe- res se uniram para se fortalecer no ambiente majoritariamente masculino. A iniciativa começou em 2021, quando seis das líderes da companhia participaram de um programa de empoderamen- to feminino encabeçado pela consultoria Fin4She, focada na equidade de gênero. Promovida pelo RH, a parceria durou um ano e trabalhou o autoconhecimento das participantes, com um olhar para a carreira. Ao término do treinamento, em março de 2022, decidiu-se estender a iniciativa a todas as 25 mulheres da empresa, o equi- valente a um terço do efetivo. “A experiência foi tão enriquecedora que a gente resolveu reproduzi-la internamente e expandir a sua atuação”, conta Luciana Avanci, gerente de gente e gestão da HSI. Assim nasceu o HShe, um encon- tro realizado uma vez por mês e do qual participam de estagiárias a superintendentes. Trata-se de uma espécie de roda de conversa, que reúne também executivas convidadas de outras corporações e profissionais do mercado, para debater temas como oratória fe- minina e comunicação assertiva. De acordo com Luciana, o grupo aproximou colaboradoras de áreas diferentes e fomentou a criação de um programa de mentoria, feito em duplas. “O objetivo é promover a troca de vivências e criar um senso de equipe, com proximi- dade e integração, para agregar o time feminino da empresa”, diz a gerente. A partir desses grupos podem sair ações para a melhoria ALTOS NÍVEIS DE ESTRESSE46% SALÁRIO RUIM45% FALTA DE BENEFÍCIOS27% FALTA DE ORÇAMENTO PARA INVESTIR NO DESENVOLVIMENTO DO NEGÓCIO E EM TREINAMENTO24% EQUIPAMENTO DE TRABALHO RUIM OU ANTIGO22% FALTA DE INFORMAÇÕES SOBRE O NEGÓCIO21% QUANTIDADE INSUFICIENTE DE EVENTOS SOCIAIS CORPORATIVOS21% FALTA DE COMUNICAÇÃO OFICIAL SOBRE ACONTECIMENTOS NA EMPRESA13% INACESSIBILIDADE DA ALTA LIDERANÇA11% AMBIENTE DE TRABALHO RUIM9% OUTROS1% FALTA DE COMUNICAÇÃO COM GESTORES SENIORES34% FALTA DE OPORTUNIDADES DE DESENVOLVIMENTO PESSOAL31% VCRH84 Matéria de Capa.indd 33 1/23/23 6:53 PM Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH 1 EVITAR A INFOXICAÇÃO O termo está mais atual do que quando foi cunhado pelo físico espanhol Alfons Cornella, em 1996. Mistura de “informação” com “intoxicação”, o neologismo se refere à fadiga causada pelo excesso de conteúdos. E-mails, mensagens no chat, áudios de WhatsApp, comunicados na intranet, cursos na área da academia, infinitas reuniões por videochamada. Quem aguenta essa overdose de dados? A health tech Pipo Saúde criou um documento para guiar os funcionários pelas ferramentas disponíveis e evitar excessos. O material esclarece dúvidas como quando escolher um canal síncrono (em tempo real, como uma chamada) e assíncrono (e-mail), que assunto é urgente ou não e quais pessoas convidar para uma reunião. “O guia nasceu depois que a empresa se tornou 100% remota e começou a entender os desafios da comunicação à distância”, afirma a líder de pessoas da companhia, Marcela Ziliotto. 4 DEDICAR TEMPO E ESTUDO Já se foi a época em que comunicação era prerrogativa do RH ou de um departamento focado nisso. Hoje, trata-se de um elemento importante em todas as áreas. Mas algumas lideranças ainda não entenderam a sua importância. Exemplo disso são os gestores que deixam para elaborar uma apresentação importante na última hora ou não se preparam adequadamente para uma conversa difícil, como uma demissão. Escrever e falar bem exige tempo e dedicação. “Às vezes, vemos uma altíssima liderança num palco e pensamos: ‘Nossa, essa pessoa nasceu falando bem’. Não, ela treinou, praticou e foi exposta a várias situações antes de saber se apresentar”, afirma a professora Vivian Rio Stella. “A comunicação parece inata, mas ela requer estudo e prática para ser internalizada.” 3 ACOLHER A DIVERSIDADE As companhias querem formar times diversos, mas não estão preparadas para recebê-los. “A gente contratava PCDs e pessoas pretas, por exemplo, mas elas não se sentiam acolhidas pelos colegas das empresas”, conta Rodrigo Vianna, CEO da recrutadora Mappit. “Quando percebemos isso, demos um passo atrás e recomendamos que as companhias treinassem seus colaboradores antes de recrutar.” Um treinamento de comunicação não violenta com foco na diversidade, oferecido pela Mappit em parceria com as consultorias CKZ Diversidade e Black ID, ajudou a resolver o problema. 2 TREINAR A MÉDIA LIDERANÇA Gerentes, supervisores e coordenadores exercem um papel fundamental de ligação entre a alta gestão e o chão da fábrica. São eles que escutam os desabafos do time e, ao mesmo tempo, transmitem as mensagens que vêm de cima. “A média gestão precisa ser um pouco mais preparada para trabalhar a comunicação”, diz Wilma Dal Col, diretora de gestão estratégica de pessoas do ManpowerGroup. “A equipe fica mais tranquila quando compreende as decisões da empresa, mesmo que não concorde com elas. Comunicar e ser transparente é ser sábio.” 34 VOCÊ RH FEV / MAR 2023 A boa comunicação é uma habilidade que se conquista com prática e medidas efetivas COMUNICAÇÃO QUATRO DESAFIOS DAS EMPRESAS VCRH84 Matéria de Capa.indd 34 1/23/23 6:53 PM Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH FEV / MAR 2023 VOCÊ RH 35 do bem-estar da equipe. Na Mar- tin Brower, as mães solicitaram — e conseguiram em 2022 — a criação de uma sala exclusiva para amamentação. Além disso, a companhia passou a oferecer absorventes nos banheiros. As demandas surgiram a partir do evento Diálogo da Diversidade, criado pelo RH da multinacional. “A ação começou pequenininha, há sete anos. A gente não sabia nada sobre o tema, mas entendeu que precisava discuti-lo”, afirma Alessandra, da Martin Brower. Rodas de conversa realizadas mensalmente no escritório cen- tral, em Osasco (SP), debatiam temas como autistas no mercado de trabalho e o que é LGBTQIA+. A iniciativa ganhou força na pandemia, quando passou a ser realizada online. “As pessoas se sentiram mais confortáveis para participar e entenderam o pro- pósito de discutir assuntos que muitas vezes são tabus”, conta Alessandra. Os encontros, que reuniam de 30 a 50 colaboradores presencialmente, chegaram a 150 participantes no modelo virtu- al. O sucesso inspirou a matriz americana a criar um comitê de diversidade, que se espalhou para todas as filiais. Do jornalzinho para as redes Na tentativa de falar a mesma lin- guagem dos funcionários, profis- sionais de RH entenderam que os meios de comunicação mudaram. O e-mail, ferramenta oficial para avisos, já não é suficiente para transmitir mensagens. Na era da infoxicação (veja o quadro), é fácil um correio eletrônico cair no buraco negro da caixa de entra- da e passar batido por um olhar sobrecarregado ou desatento. Se essa é uma realidade para quem fica o dia sentado no computa- dor, imagine para quem trabalha longe dele. Na Martin Brower, 25% do efetivo é composto de motoristas dedicados à entrega de produtos. Para alcançá-los, a empresa decidiu ir aonde eles já estão: o Instagram. Os avisos da companhia são feitos numa conta fechada e de- dicada somente aos funcionários. Quinzenalmente, o RH ainda re- aliza lives com líderes, liderados e consultores. Assuntos mais sensíveis, como informações es- tratégicas da multinacional, con- tinuam restritos à plataforma de reuniões corporativas. “Antes da pandemia, a gente tinha menos de 200 seguidores no perfil exclusivo do Instagram. Hoje, são mais de 600”, diz Alessandra. Com o mesmo intuito de es- palhar melhor suas notícias, a empresa de serviços corporati- vos Sodexo criou em 2022 a sua própria rede social. O Conecta+ é um aplicativo colaborativo do RH e dos demais departamentos que funciona tanto no desktop quanto no celular. “As pessoas cansaram dos e-mails e nem abriam mais as mensagens”, afirma Fabiana Galetol, diretora de pessoas da companhia. “Nossos comunicados ficaram obsoletos. Como todo mundo acessa pelo menos uma vez ao dia o LinkedIn e oInsta- gram, a gente migrou para esse modelo.” A ferramenta permite que funcionários façam comen- tários, deem likes e postem fotos. Pelo aplicativo, o RH visualiza métricas — como plataforma de acesso e número de usuários to- tais e ativos — sobre as iniciativas que funcionam ou não. Áreas e eventos ganharam ícones espe- ciais para acesso direto, o que evita o excesso de informações na timeline. “No início, a gente precisou estimular a participação das pessoas para criar essa cul- tura. Quando perguntavam sobre um anúncio, a gente avisava que estava no Conecta+”, diz Fabiana. “Em oito meses, chegamos a 100% dos colaboradores participando, e o engajamento é altíssimo. Temos uma comunicação simplificada, efetiva e interativa.” Alguém pode entregar os melhores resultados, mas, se tem zero carinho com as pessoas e escuta péssima, não dá para contratá-lo” Rodrigo Vianna, CEO da empresa de recrutamento Mappit Funcionário, não. Influenciador Inspirada nas redes sociais, a So- dexo deu um passo além e elegeu 35 influencers dentre seus mil funcionários, somando efetivos e terceirizados. Os nomes foram escolhidos pelas diretorias exe- cutivas de acordo com o perfil de cada um. “São talentos da organi- zação reconhecidos pelos colegas pelo carisma, pela facilidade de se comunicar e por gostar desse papel. Eles pertencem a todas as áreas da empresa e têm níveis hierárquicos diferentes”, explica a diretora. Segundo ela, 30% VCRH84 Matéria de Capa.indd 35 1/23/23 6:53 PM Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH 36 VOCÊ RH FEV / MAR 2023 dos influenciadores não ocupam cargos de liderança na Sodexo. Essas pessoas são convidadas a participar do chamado Comitê Acelera, criado na pandemia com o objetivo de melhorar a comunicação na companhia. “Se queremos que a nossa população conheça melhor algum resultado da empresa, por exemplo, reuni- mos o comitê e treinamos o pitch [apresentação concisa] sobre aquela informação”, conta Fabia- na. Os embaixadores — como a diretora se refere ao grupo — são encorajados a promover debates com os colegas na sua área de influência. A ideia é, mais do que informar, trocar experiências, ou- vir os funcionários e compartilhar exemplos práticos. No mundo pós-pandêmico, comunicar-se bem não é tarefa exclusiva de um grupo de líderes, mas de qualquer profissional. “A comunicação se tornou uma competência básica para todas as pessoas. Sem ela, você não consegue atuar nem mesmo nas atividades com menor interação humana”, afirma Wilma, do Man- powerGroup Brasil. “Pode pare- cer paradoxal, mas as pessoas demonstram mais necessidade de conversar na tela do que pre- sencialmente.” Para Wilma, as companhias estão numa fase de aprendizado da habilidade de se comunicar no modelo remoto ou híbrido. Diz ela: “Acredito eu que a gente ainda leve o desenrolar de uma década para fazer isso com mais excelência. Não que eu seja pessimista — sou muito otimista e acho que já melhora- mos bastante. Mas creio que seja um aprendizado.” Fabiana Galetol, diretora de pessoas da Sodexo: rede social corporativa substitui meios de comunicação tradicionais, como e-mail FOTO: CEL SO DON I COMUNICAÇÃO VCRH84 Matéria de Capa.indd 36 1/23/23 6:53 PM Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH FEV / MAR 2023 VOCÊ RH 37 OS 10 CURSOS MAIS POPULARES DO LINKEDIN EM 2022 Comunicação é competência trabalhada em quatro das disciplinas mais buscadas DEFINIÇÃO DE METAS: OBJETIVOS E PRINCIPAIS RESULTADOS1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 USANDO PERGUNTAS PARA ESTIMULAR O PENSAMENTO CRÍTICO E A CURIOSIDADE FUNDAMENTOS DA COLABORAÇÃO EM EQUIPE VIESES INCONSCIENTES COMUNICANDO-SE COM CONFIANÇA APRENDENDO PYTHON TREINAMENTO ESSENCIAL DE EXCEL CULTIVANDO UMA MENTALIDADE DE CRESCIMENTO FUNDAMENTOS DE GERENCIAMENTO DE PROJETOS COMUNICAÇÃO INTERPESSOAL VCRH84 Matéria de Capa.indd 37 1/23/23 6:53 PM Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH POR QUE A METÁFORA DE SER COMO A ÁGUA, DESENVOLVENDO COMPETÊNCIAS DE ACORDO COM O QUE PEDE O CONTEXTO, É O NOVO MANTRA DA GESTÃO DE PESSOAS BÁRBARA NÓR CARREIRAS LÍQUIDAS fUtUrO dO trAbAlhO 38 VOCÊ RH FEV / MAR 2023 ILUSTR AÇÃO: LUCI A NO L OZ A NO / GET T Y I M AGES VCRH84 - Carreiras Líquidas.indd 38 1/23/23 4:51 PM Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH FEV / MAR 2023 VOCÊ RH 39 e water, my friend”, disse o personagem de Bruce Lee em Longstreet, sé- rie de 1971. A frase do célebre artista marcial ressurgiu no mundo corporativo de 2023 como síntese da competência básica para a gestão de pessoas, de negócios e de si mesmo em tempos instáveis: seja água. “Coloque água em um copo, ela se torna o copo. Co- loque água em um bule, ela se torna o bule. A água pode fluir ou rastejar ou pingar ou cair”, disse Lee. Ser um profissional líquido é ad- quirir outras habilidades de acordo com o que pede o contexto. Daí deriva também a carreira líquida, que traz a ideia de algo flexível e adaptável — bem distante, aliás, da própria definição do termo “car- reira”, que significava, no original em latim, um caminho pré-traçado para carros. Se antes essa imagem “B VCRH84 - Carreiras Líquidas.indd 39 1/23/23 4:51 PM Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH 40 VOCÊ RH FEV / MAR 2023 fUtUrO dO trAbAlhO correspondia ao que era a vida profissional, quase sempre uma trajetória linear e ascendente na mesma empresa, agora a definição não dá mais conta da multiplicidade do mundo do trabalho. Não só as pessoas ficam menos tempo nas companhias, deixando de desenvolver uma trajetória contí- nua, como as funções e habilidades se tornam obsoletas em bem menos tempo (veja o quadro). A busca por organizações mais enxutas e eficientes também diminui as opor- tunidades de evolução para cargos mais altos, tradicional marca de su- cesso e de crescimento profissional. A inquietação não é nova. Na década de 1970, Douglas T. Hall, pesquisador estadunidense, de- senvolvia o conceito de “carreira proteana”, inspirado no mito de Proteu, deus grego que tinha a ca- pacidade de se transformar sempre que necessário para desafiar os oponentes e ser tão maleável quanto a água. Já naquela época, o estudio- so percebeu que as mudanças no mercado de trabalho, cada vez mais competitivo e tecnológico, exigiriam uma habilidade parecida. “O profis- sional e as organizações precisam se transformar, assim como Proteu, à medida que veem mudanças no contexto. As competências e habi- lidades necessárias vão se transfor- mando”, diz Lina Nakata, professora do MBA em gestão de negócios da FIA Business School. Hoje, essa necessidade é mais intensa por causa da transformação tecnológica, diz Adriano Almeida, cofundador e diretor de negócios da Alura, plataforma de educação em tecnologia. Um exemplo disso seria o profissional de RH que pre- cisa alinhar práticas com a equipe A IMPORTÂNCIA DE SER ÁGUA Permitir que as pessoas desenvolvam habilidades que vão além de sua função e área de atuação é mais do que uma estratégia eficiente de engajamento e competitividade — é uma necessidade Fontes: *pesquisa da Citrix com 2000 profissionais e 500 RHs nos Estados Unidos, feita em 2021 / **pesquisa da Gartner de 2021 de TI e entender sobre análise de dados. O catalisador desse proces- so, diz Adriano, são as habilidades digitais, que a cada dia passam a ser necessárias em mais áreas. “Na carreira líquida, o profissional não tem mais um papel claro, porque não dá para prever tudo que ele vai precisar fazer no dia a dia”, afirma. Mas transformações de menta- lidade como essa são lentas e não acontecem na mesma velocidade entre diferentes pessoas e áreas de uma empresa. É por isso que conceitos antigos de carreira convi- vem com novos, e os líderes devem estar atentos a isso. “Muitas pessoas ainda têma expectativa de que as empresas deem respostas para sua trajetória, que direcionem seu crescimento”, diz Ricardo Ruzzarin, cofundador da consultoria Resolu- tion. Mas é preciso dizer: adotar o discurso de que cada um deve ser o protagonista da própria carreira sem oferecer recursos para que isso seja possível está entre os principais erros das companhias na transição da gestão para formatos modernos. Carreira como experiência Para Rafaella Lopes, diretora de RH da farmacêutica AstraZeneca, a tendência é dar mais ênfase à experiência de trabalho, em vez do cargo, do status e da hierarquia. E a executiva percebe essa mudança de visão nos próprios funcionários. “Muitos me procuram mais para perguntar como podem desen- volver determinada habilidade do que para saber como se tornar gestor”, afirma Rafaella. Em 2018, a AstraZeneca lançou no Brasil o Plano 100, uma plata- forma online global que permite dos funcionários e 62% dos diretores de RH acreditam que os trabalhadores precisarão aperfeiçoar ou adquirir novas habilidades ao menos uma vez por ano para se manterem competitivos no mercado global* 82% 88% dos funcionários afirmam que, na busca por um emprego, procuram empresas que ofereçam velocidade de aprendizagem* 58% da força de trabalho precisa de novas habilidades para desempenhar seu trabalho** 33% das habilidades requeridas em anúncios de emprego de 2017 em TI, finanças e vendas já se tornaram obsoletas** VCRH84 - Carreiras Líquidas.indd 40 Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH FEV / MAR 2023 VOCÊ RH 41 Rafaella Lopes, diretora de RH da AstraZeneca: plataforma global permite que funcionários dediquem até 30% do expediente a projetos multidisciplinares que os funcionários se candidatem para participar de projetos em diferentes países e áreas, como o lançamento de um novo produto na Europa ou nos Estados Unidos ou um trabalho multidisciplinar de diversidade. Em geral, os selecio- nados dedicam de 20% a 30% do tempo à iniciativa, combinando o período com o gestor. A parti- cipação pode ser feita de forma remota, e o programa envolve feedbacks formais e o registro do que cada um aprendeu. “Para o funcionário, é uma forma de se expor, desenvolver uma habilidade diferente em outro segmento e ter uma experiência de contribuição internacional”, diz Rafaella. Para a empresa, a vantagem é contar com profissionais mais afi- nados com os desafios do negócio. Em 2022, oito brasileiros se envol- veram em projetos na plataforma. Agora a ideia é ampliar o número de participantes, com maior di- vulgação das oportunidades e engajamento dos líderes. Outra iniciativa é o job rotation, que permite que funcionários saiam de sua função temporaria- mente para experimentar a rotina em outro departamento, e depois voltem para a ocupação de origem. Em média, são três participantes por mês. “O profissional nunca volta igual, porque carrega todo o aprendizado que teve”, afirma Ra- faella. Por vezes, o programa acaba resultando em movimentações la- terais, quando o funcionário gosta tanto da nova área que decide ficar por lá se existe a possibilidade. Para a prática funcionar, a par- ticipação da liderança é funda- mental, já que é por meio das conversas de desenvolvimento VCRH84 - Carreiras Líquidas.indd 41 1/23/23 4:51 PM Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH 42 VOCÊ RH FEV / MAR 2023 fUtUrO dO trAbAlhO COMO MOTIVAR A FLUIDEZ Cinco práticas que ajudam os profissionais a transitar por diferentes espectros do conhecimento 1 FALE SOBRE CARREIRA Crie espaços para que os funcionários conversem sobre as expectativas e as possibilidades de cada um na empresa. Essa prática diminui o risco de frustrações e mal-entendidos e ajuda o RH a entender se a companhia tem conseguido ser um local de desenvolvimento. 2 ESTIMULE O PROTAGONISMO De nada adianta declarar que cada um é responsável pela carreira se não há autonomia para os funcionários nem divulgação ampla das oportunidades. Mudar de área e ganhar exposição na empresa não podem ser iniciativas malvistas nem julgadas como “traição” ao líder. 3 PREPARE A LIDERANÇA Líderes devem ter conversas abertas sobre o que cada um da equipe deseja, falando de forma honesta inclusive sobre as possibilidades de concretização desses planos naquele momento. Além disso, não podem se apegar à ideia de reter para si os melhores profissionais. 4 AJUSTE POLÍTICAS Na avaliação de desempenho, considere a disposição de um funcionário em aprender diferentes habilidades, em vez de analisar suas especialidades. E remunere de forma justa, para que os profissionais não dependam de uma subida de cargo para ter um salário adequado. 5 ESTIMULE O PROTAGONISMO Não são só os treinamentos formais que contam. É preciso mostrar ao funcionário as diversas possibilidades de desenvolvimento — da troca de experiências com colegas à participação em ações voluntárias ou projetos multidisciplinares. com os gestores que os potenciais candidatos para o job rotation são identificados. “Quando há uma posição, procuramos nesse reposi- tório quem gostaria de participar”, diz Rafaella. Segundo ela, um dos pontos mais positivos da prática é o fato de que as pessoas se sentem muito mais confortáveis em errar e aprender quando sabem que têm sua função original garantida. Falta conscientização Outro entrave à adoção da carreira líquida é a cultura do líder posses- sivo com a equipe. “Uma parte da liderança quer segurar os melho- res talentos na equipe, por vezes fazendo promessas de promoção que não são cumpridas”, afirma Lina, professora da FIA. Isso gera frustração — e os profissionais se sentem limitados ou enganados. Essa questão leva a outro ponto: muitas vezes, o que é cobrado nas metas das lideranças não corres- ponde ao discurso das carreiras líquidas. Um gestor que “perde” seus talentos para outras áreas pode ter sua avaliação compro- metida, por exemplo. Além disso, muitas ferramentas que o RH usa, como a avaliação de desempenho e o programa de desenvolvimento, ainda estão ancoradas em concei- tos antigos, como plano para que o profissional possa “subir” em sua área e competências desejadas para a liderança de determinado depar- tamento. Não sobra espaço para que o funcionário seja dono de sua carreira e explore diferentes seg- mentos e habilidades. “O RH surgiu no modelo de comando e controle e sempre teve essa visão de acompa- nhar o ponto, o comportamento das pessoas, os números”, diz Ricardo, VCRH84 - Carreiras Líquidas.indd 42 1/23/23 4:51 PM Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH FEV / MAR 2023 VOCÊ RH 43 da Resolution. Para ele, a área de gestão de pessoas precisa se trans- formar junto com as ideias sobre carreira e ser uma comunicadora da mudança, garantindo que ela seja bem assimilada. Caso contrá- rio, mesmo que tanto a empresa quanto as pessoas queiram uma carreira mais flexível, dificilmente essa mudança vai acontecer. Foi isso que Carolina Prado, diretora de RH da Privalia, outlet online de roupas, percebeu ao che- gar à empresa, em 2018. Na época, ela fez um processo de escuta dos cerca de 400 funcionários para entender as expectativas e as prin- cipais queixas. O que ela viu foi que muitos esperavam poder se movi- mentar na empresa como forma de testar o trabalho em outras áreas de atuação. Quando percebiam que não havia essa oportunidade, se frustravam — e alguns pediam demissão para encontrar em outras companhias o que buscavam. Essa dinâmica era especialmente perceptível em jovens no início da vida profissional e que ainda tinham dúvidas sobre o que pode- riam fazer no trabalho. “As pessoas têm uma formação acadêmica, e o mercado acha que elas precisam seguir naquela área até o fim, mas isso não necessariamenteé verda- de”, afirma Carolina. Para incentivar mais movimen- tações laterais, a empresa passou a oferecer, em 2019, workshops sobre o tema, falando também das oportunidades internas. Depois de uma pausa na pandemia, em 2022 os eventos foram retomados de forma híbrida: presencial e online. Um deles é o Insights Privalia, no qual uma área apresenta um pouco de sua forma de trabalhar e sua estrutura para outros funcionários. O objetivo é estimular a troca de experiências, inclusive com job ro- tations. Segundo Carolina, 95% das vagas são divulgadas internamente antes de ir ao mercado e, em 2022, cerca de 10% das movimentações internas para novas áreas tiveram como finalidade o desenvolvimento e a retenção. Outras oportunidades para entrar em contato com dife- rentes áreas é participar de um projeto interdisciplinar ou substituir profissionais de licença. Já no workshop de carreira, pes- soas que passaram por diferentes áreas na Privalia, inclusive direto- res, compartilham suas trajetórias. Ao final da oficina, os participantes fazem junto com o RH um mape- amento de como guiar a carreira de forma mais autônoma e fora de uma trilha pré-concebida. Ca- da workshop tem a participação de cerca de 25 pessoas — no ano passado, foram oito edições. A ideia, agora, é fazer pelo menos dez ao ano e aumentar a quantidade de participantes. O novo treinamento Adquirir habilidades que não estão previstas na função ou na própria área de atuação requer também uma mudança na qualificação dos profissionais. E o principal ponto aqui é a personalização. “Precisa- mos trabalhar a mentalidade de fluidez e ver que as pessoas podem aprender de múltiplas formas, e não só em uma sala de aula”, diz Ricardo, da Resolution. Na AstraZeneca, uma forma de democratizar a aprendizagem de al- to desempenho é o mentoring aber- to a qualquer interessado, e não só a um grupo de elite. Os profissionais podem se cadastrar no programa tanto como mentores quanto como mentorados. A plataforma permite selecionar profissionais de acordo com as habilidades e experiências desejadas ou então escolher funcionários específicos. Os participantes recebem um kit com orientações para o processo e podem preencher avaliações para cada encontro. Em 2022, foram 38 mentorias formais. A prática é bem-vinda, inclu- sive, como forma de enfrentar a escassez de talentos qualificados. Quando a empresa prepara dentro de casa pessoas com múltiplas habilidades, capazes de exercer diferentes funções, a busca no mercado tende a ser mais estra- tégica do que reativa, sobretudo em tecnologia. Apesar de esse segmento ser um dos mais críti- cos para as companhias, apenas 26% delas incentivam ativamente o desenvolvimento nessa área entre funcionários que não têm formação no setor, de acordo com uma pesquisa da plataforma de educação Alura em parceria com a plataforma LandTech. Por trás dessa defasagem reside o medo da perda de talentos, diz Adriano, cofundador da Alura. “Mas isso é sabotar o negócio”, diz. Afinal, privar as pessoas de agregar habilidades que vão além de seu momento de carreira sig- nifica abrir mão de profissionais e, principalmente, ficar atrás na competitividade. Porque o mun- do muda cada vez mais rápido: funcionários e empresas precisam aprender a se reinventar. Como dizia o filósofo polonês Zygmunt Bauman, vivemos tempos líquidos. Nada é para durar. VCRH84 - Carreiras Líquidas.indd 43 1/23/23 4:51 PM Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH MESMO QUE OS FUNCIONÁRIOS TRABALHEM MUITO — E BEM — À DISTÂNCIA, LÍDERES ACHAM DIFÍCIL CONFIAR EM QUEM NÃO ESTÁ À VISTA. ESSE DESCOMPASSO TEM NOME E SERÁ UM DOS TEMAS MAIS QUENTES DA GESTÃO DE PESSOAS EM 2023 RICARDO IVANOV 44 VOCÊ RH FEV / MAR 2023 ILUSTR AÇÃO: M H J/ GET T Y I M AGES lIderANÇA A pArANOIA dA prOdUtIvIdAde Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH F uncionários se con- sideram produtivos, mas gestores acham difícil acreditar que, longe de seus olhos, as equipes estejam mesmo trabalhando o suficiente. Bem- -vindo à paranoia da produtividade, alcunha que nasceu a partir de uma pesquisa da Microsoft de setembro passado que avaliou os comportamen- tos de trabalho de 20.006 líde- res e liderados em 11 países, incluindo o Brasil. Segundo o estudo, 85% dos gestores não confiam que, no modelo remo- to ou híbrido, seus colabora- dores rendam como deveriam — embora 87% desses últimos digam que atuam muito bem nesse modelo, obrigado. No apanhado do Brasil do relató- rio, o número de tomadores de decisão de negócios que não põem fé na produtividade à distância sobe um pouquinho: de 85% para 88%. O termo pegou, e já são 86 mil menções a “productivity paranoia” em buscas no Goo- gle, com análises e mais aná- lises sobre o tema. Não à toa, a expressão entrou na lista de 23 conceitos do “vocabulário vital” de 2023, segundo a pu- blicação The Economist. Para alguns é uma surpresa que, quase três anos depois do início da pandemia e da ado- ção em larga escala do traba- lho remoto, a nova relação não tenha chegado a bons termos. Para outros, é uma constata- ção de que talvez a paranoia esteja mascarando falhas e fal- ta de vontade de redesenhar as formas de medir produtivi- dade há muito sedimentadas no inconsciente coletivo das empresas. “A imensa maioria da alta liderança não deseja o FEV / MAR 2023 VOCÊ RH 45 trabalho à distância e aceita o híbrido a contragosto. Pode até gostar da ideia do remoto, mas acredita mesmo é no pre- sencial, no corpo a corpo, no olho no olho”, afirma Rogério Chér, sócio-fundador da con- sultoria Devello e ex-diretor corporativo de RH da Natura. Não é um bom começo... Uma chance à flexibilidade O novo padrão na realidade é velho para algumas empresas, que já tinham até seu próprio sistema de videoconferências antes de a crise sanitária es- tourar. A pandemia generali- zou o formato, mas precisa de aderência e confiança, com as companhias — dos C-levels à operação de base — lidando melhor com algo que requer constante adaptação: a flexibi- lidade. A questão é abandonar de vez a arcaica régua “tempo A VIDA NO TRABALHO REMOTO 83% 79%86%88%92% Altos índices de satisfação e engajamento relatados por funcionários que atuam no modelo híbrido ou remoto se contrapõem à percepção da liderança. Os dados são da consultoria Winx Universe a partir de levantamentos realizados em 2021 com 696 trabalhadores e em 2022 com 685 dizem possuir todas as ferramentas de que precisam para fazer um bom trabalho afirmam ter autonomia para escolher como desempenhar o melhor trabalho declaram que gostam de seu dia a dia de trabalho se dizem engajados ou acham que contribuem fortemente para os negócios estão totalmente comprometidos ou se consideram satisfeitos com o trabalho Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILTRASH à disposição da empresa”, e medir produção e resultados de maneira mais inteligen- te. “Não se trata do período dedicado, e em alguns casos nem do horário de trabalho, mas da entrega em termos de qualidade e prazo”, diz Sandra Souza, psicóloga e consultora para orientação e transição de carreira na Lee Hecht Harri- son. “Se o funcionário qui- ser trabalhar de madrugada, pois é mais produtivo nesse horário e porque durante o dia tem outras coisas para administrar, ele deveria poder fazer isso”, afirma Sandra, que acredita que os modelos de gestão tendem a regredir a um passado que desconsidera a assincronicidade da comuni- cação e a complexidade das necessidades humanas. O conceito de desempenho deve ser o mesmo para o pre- sencial, o remoto e o híbrido. “É ‘o que entrego’, que são as metas individuais ou coleti- vas, somado ao ‘como entrego’, que está intrinsecamente ligado à cultura organiza- cional”, diz Rogério. Mas se o líder atuar via microgeren-
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