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Veja Saude 489 - Mar23

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Prévia do material em texto

A BATALHA PELA 
VACINACAO
A TERAPIA ANIMAL 
O valor de cães, cavalos e outros 
bichos na reabilitação de pacientes
COM QUE TÊNIS EU VOU?
O que levar em conta na hora 
de escolher o calçado esportivo
RONCOS DE TIRAR O FÔLEGO
Um terço da população tem apneia, 
doença que abala o sono e o bem-estar
FRUTA: SÓ SE FOR DE ÉPOCA
Por que respeitar a sazonalidade 
virou mandamento alimentar
Nunca o Brasil ficou tão mal nas coberturas das vacinas. Saiba o que começa a ser feito para reverter a 
ameaça e a volta de doenças evitáveis e como será o esquema de imunização contra Covid, gripe, pólio...
R$ 25,00 
nº 489
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SEÇÕES
50
TÊNIS ESPORTIVO: 
COMO ESCOLHER 
O SEU?
Não é só moda! Tem 
critérios para definir 
o calçado ideal em 
cada modalidade
44
RONCO DE 
TIRAR O FÔLEGO
A apneia do sono é 
mais prevalente do que 
a gente sonha e pode 
abalar o descanso, a 
cabeça e o coração
56
TERAPIA 
ANIMAL
Cães, cavalos e 
demais bichos 
provam seu valor 
na recuperação de 
pacientes brasileiros
38
COMIDA 
DE ÉPOCA
O respeito à sazonalidade 
foi alçado a novo 
mandamento alimentar 
devido às vantagens à 
saúde e ao ambiente 
6 CONEXÃO 
8 RADAR DA SAÚDE
10 ALIMENTAÇÃO
14 MEDICINA
18 MENTE SAUDÁVEL
20 ATIVIDADE FÍSICA
22 ALIMENTE-SE
62 SEMPRE QUIS SABER
64 AUTOESTIMA
66 ENVELHECER
68 FILHOS
70 BICHOS
72 ZOOM
74 COM A PALAVRA
A BATALHA PELA 
VACINAÇÃO
As taxas de imunização 
despencaram no país 
nos últimos anos. 
O que está por trás 
disso e como reverter 
a ameaça de tantas 
doenças evitáveis
24
março 2023
NESTA EDIÇÃO
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AO LEITOR
Agente pode tentar ser o mais racional possível, mas tem 
muita coisa nessa vida que só é 
movida a paixão. Beira o clichê. E 
talvez seja, porque tem um fundão 
de verdade nisso. o cientista cético 
que se dedica incansavelmente 
a decifrar enigmas ou descobrir 
curas é mobilizado por uma paixão, 
assim como o cozinheiro que quer 
encantar os convidados, o atleta 
que se esforça para quebrar um 
recorde e o profissional de saúde 
que se empenha em salvar o 
paciente. Paixão também move 
jornalistas. E, longe de tentar fazer 
apologia ou autopropaganda, 
constato isso no dia a dia com 
nossas e nossos repórteres. 
Especialmente Chloé Pinheiro, 
a autora da matéria de capa 
desta edição. Tem gente que 
tem tesão pelo que faz... Tanta 
vontade de fazer a diferença — na 
apuração, no texto, no mundo... 
— que parece entrar numa fissura. 
Fissura que só abranda quando a 
reportagem é publicada. Chloé é 
dessas apaixonadas pela causa. 
Tornou-se uma das principais 
jornalistas a cobrir a Covid-19 no 
Brasil e se juntou à missão de 
defender a ciência e as medidas 
em prol da saúde coletiva desde 
então. Chegou a ser xingada e 
criticada por isso — assim como 
criticou e xingou quem espalhou 
absurdos ou fake news em meio à 
pandemia. Se indispôs com gente 
próxima porque imaginou que 
Diogo Sponchiato 
redator-Chefe
TIME ENTROSADO
Jornalismo depende 
de trabalho em 
equipe. Para fazer 
um texto chegar às 
páginas ou às telas, e 
gráficos e ilustrações 
virarem realidade, há 
muita conversa nos 
bastidores. Troca de 
ideias, vai e vem de 
sugestões, pitacos e 
retoques. Exemplo 
disso se concretiza na 
reportagem de capa, 
um jogo entrosadíssimo 
entre a designer Letícia 
Raposo (Estúdio Coral), 
o ilustrador Rodrigo 
Damatti e a repórter 
Chloé Pinheiro. Para ler, 
ver e mergulhar.
DEVER, CIÊNCIA & 
UMA DOSE DE PAIXÃO
seu dever profissional e cívico era 
algo maior. Escolhas. a escolha 
de se aprofundar num fenômeno 
que se disseminou pelo Brasil feito 
o vírus — o tratamento precoce, 
descartado por estudos — a fez 
escrever, junto ao farmacêutico 
Flavio Emery, o livro Cloroquination 
(Paraquedas). a dedicação traz 
recompensas. Chloé foi convidada 
a participar de um projeto 
internacional do prestigiado Pulitzer 
Center, nos Estados Unidos, que 
somou subsídios ao trabalho que 
ela agora apresenta aos nossos 
leitores: uma investigação sobre 
por que as taxas de vacinação 
despencaram no Brasil nos últimos 
anos. Essa história tem a ver 
com ciência, política, economia, 
cultura, comportamento, crença e 
informação. a jornalista percorreu 
de São Paulo a João Pessoa, 
passando por Brasília e ouvindo 
mais de 25 pessoas, para entender 
por que um país antes referência 
em imunização amarga derrotas e 
desafios nesse mesmíssimo campo. 
E aproveita o novo movimento do 
ministério da Saúde para reatingir 
as metas de cobertura vacinal e 
o cinquentenário do Programa 
Nacional de Imunizações (PNI) 
para mostrar o que precisa mudar 
se quisermos continuar salvando 
vidas e o bem-estar social. Como 
deixa evidente o empenho de 
Chloé Pinheiro, essa é uma batalha 
movida por ciência e paixão. 
Também podemos fazer parte dela. 
Ilustração: 
Rodrigo Damati
Direção de arte: 
Estúdio Coral
Tratamento de imagem: 
Marisa Tomas
AO LEITOR
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Publisher: 
Fabio Carvalho
www.grupoabril.com.br
Fundada em 1950
VICTOR CIVITA 
(1907-1990)
ROBERTO CIVITA 
(1936-2013)
SEDE ADMINISTRATIVA Rua Cerro Corá, nº 2175, lojas 101 a 105, 
1º e 2º andares, Vila Romana, São Paulo, SP, CEP 05061-450 
SERVIÇO DE ATENDIMENTO AO CLIENTE (SAC) minhaabril.com.br
VEJA SAÚDE, edição 489, março de 2023 (ISSN 0104-1568), 
é uma publicação mensal da Editora Abril. 
VEJA SAÚDE não admite publicidade redacional.
IMPRESSA NA PLURAL INDÚSTRIA GRÁFICA LTDA
Av. Marcos Penteado de Ulhôa Rodrigues, 700 - CEP: 06543-001 
Tamboré – Santana de Parnaíba – SP
Redator-Chefe: 
Diogo Sponchiato 
Texto: 
Thaís Manarini, 
Chloé Pinheiro, 
Ingrid Luisa e 
Fabiana Schiavon 
Arte: 
Laura Luduvig 
Colaboração: 
Estúdio Coral 
(direção de arte) e 
Ronaldo Barbosa 
(revisão )
DIRETORIA EXECUTIVA DE DESENVOLVIMENTO EDITORIAL E AUDIÊNCIA Andrea Abelleira 
DIRETORIA EXECUTIVA DE OPERAÇÕES Guilherme Valente 
DIRETORIA DE MONETIZAÇÃO E RELACIONAMENTO COM CLIENTES Erik Carvalho
“Inspirada pelo 
livro de Nilton Bonder, 
a atriz Clarice Niskier dá 
nova versão a parábolas 
e usa o próprio corpo para 
questionar se há realmente 
mal em toda transgressão 
na peça alma Imoral, 
em cartaz.”
 
“Estou adorando 
a série The Last of 
Us, da HBO. Nela, um 
fungo (que existe mesmo!) 
se alastra pelo mundo e a 
humanidade. Impossível 
não se lembrar do que 
aconteceu com a 
Covid-19.”
PRESCRIÇÕES 
DO EDITOR
Ciência, imaginação, 
reflexão e autocuidado 
em suas próximas leituras
Como o ópio da 
papoula, a cafeína 
do chá e do café e a 
mescalina de certos 
cactos mexeram com 
o mundo e a cabeça 
das pessoas. 
Um romance 
brasileiro sobre a 
panela de pressão 
mental e as válvulas 
de escape em 
tempos (sur)reais de 
pandemia.
Um caderno de 
atividades guiadas 
para quem quer 
botar a mão no 
lápis e na massa 
e domar melhor 
sua ansiedade. 
SOB EFEITO DE PLANTAS 
autor: Michael Pollan
Tradução: Rogério W. Galindo 
Editora: Intrínseca
Páginas: 320
PANDORA
autora: Ana Paula Pacheco
Editora: Fósforo
Páginas: 136
CALMA. WORKBOOK
autor: Christopher Hutcheson
Tradução: Luciane Gomide 
Editora: Latitude
Páginas: 192
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PALAVRA DO LEITOR
a reportagem de capa sobre 
obesidade [da última edição] 
ficou muito completa! a 
gordofobia e a cultura da 
dieta afastam as pessoas das 
práticas corporais. É preciso 
repensar o conceito de saúde. 
Parabéns, Ingrid Luisa!
Paula Costa Morais, 
via Instagram
matéria absurda, Ingrid! acho 
que você abordou do melhor 
jeito possível. Incrível como 
conjugou a parte científica e 
social da coisa! Parabéns!
Juan Simões, 
via Instagram
Trabalho com comunicação 
em obesidade há sete anos, e 
nunca vi uma reportagem tão 
completa, bem estruturada 
e que reúne, realmente e de 
forma imparcial, diferentes 
áreas e visões.
Ceres Battistelli, 
via WhatsApp 
Parabéns pelo excelente 
trabalho. Uma pesquisa 
abrangente que possibilita 
uma visão completa da 
complexidade queestá em 
volta da obesidade e da 
pessoa que vive com a doença. 
Paulo Miranda, presidente 
da Sociedade Brasileira 
de Endocrinologia e 
Metabologia (Sbem), 
via Instagram
SEGUE A GENTE >>
veja_saude
vejasaude
Veja Saúde 
Veja Saude
Ocrescimento dos índices de obesidade e da busca 
por soluções para emagrecer 
espelha o resultado da última 
pesquisa que fizemos com a 
nossa audiência. Sete em cada 
dez participantes relataram 
já ter tomado um remédio 
para perder peso. o dado nos 
remete à matéria de capa da 
edição de fevereiro de VEJa 
SaÚDE, que discutiu a chegada 
de novos medicamentos, ainda 
mais potentes, para tratar a 
obesidade, e a permanência de 
velhos dilemas que dificultam 
e sabotam o controle efetivo 
do problema. Um dos recados 
dados pelos especialistas 
entrevistados é: jamais faça 
uso de uma medicação 
para reduzir medidas sem 
orientação médica. outro 
ponto de atenção: comprimidos 
e injeções não operam 
milagres; é fundamental 
mudar hábitos e persistir no 
novo estilo de vida para que a 
gordura e os quilos perdidos 
não retornem. 
VOCÊ JÁ TOMOU REMÉDIOS 
PARA EMAGRECER?
Mais de 70% dos respondentes da enquete do mês 
utilizaram medicamentos com o objetivo de perder peso
Sim
Não
71%
29%
Agora a 
gente quer saber: 
a sua caderneta 
de vacinação 
está realmente 
atualizada?
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CONEXÃO
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Em primeira pessoa
Como sugere o nome do 
blog, ele abrigará relatos 
e reflexões de pessoas 
que vivenciam, na própria 
pele, desafios e vitórias 
no diagnóstico e no 
tratamento de doenças 
crônicas — das mais 
prevalentes às mais raras. 
o espaço será coordenado 
pelo CDD (Crônicos 
do Dia a Dia), uma 
entidade que nasceu para 
disseminar informação e 
debater melhores saídas 
e políticas públicas 
para o diagnóstico e o 
tratamento dos diversos 
problemas crônicos 
de saúde no Brasil. 
Boca livre
a jornalista Patrícia 
Julianelli, que se especializou 
na cobertura de temas 
ligados a um estilo de vida 
saudável e tem passagens 
por emissoras de TV e 
revistas como a Runner's 
World, passa a assinar 
uma coluna mensal no 
portal para falar sobre 
alimentação balanceada, 
atividade física, bem-estar e 
outros itens prescritos para 
vivermos mais e melhor. 
autora do livro Boca Livre 
(arquipélago), Patrícia se 
une ao time para mostrar 
que uma rotina ativa e 
equilibrada é possível — e 
nem tão complicada. 
Todo santo dia tem posts e stories novos no 
perfil de VEJa SaÚDE no Instagram. além de 
divulgarmos as matérias da revista e do site, 
publicamos dicas e informações exclusivas 
ali, além de vídeos de especialistas trazendo 
explicações didáticas sobre prevenção, 
detecção e tratamento de doenças, conselhos 
de alimentação e atividade física e sacadas 
para cuidar da saúde mental.
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DUAS NOVAS COLUNAS NO SITE
Ampliando e enriquecendo a área de blogs e colunas, passamos a contar 
com a jornalista Patrícia Julianelli e com um espaço que dá voz a pacientes
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PRESENTE
As cenas de crianças e idosos em pele e osso na Terra 
Indígena Yanomami, no Norte do 
país, chocaram o planeta, expondo 
a necessidade de proteger e 
assistir esses cidadãos brasileiros. 
o episódio recente tem relação 
estreita com a exploração da região 
pelo garimpo ilegal e a ausência 
de fiscalização e resguardo pelas 
forças do Estado, o que tornou os 
ianomâmis reféns de desnutrição, 
intoxicação por mercúrio (usado 
pelos garimpeiros) e complicações 
causadas por malária e outras 
moléstias infecciosas. Infelizmente, a 
legião de males a que essa e outras 
etnias estão expostas não se encerra 
aí. Estudos indicam que elas estão 
mais vulneráveis a dores crônicas e 
doenças provocadas pela ingestão 
de alimentos industrializados 
calóricos e pobres em nutrientes, por 
exemplo. Há muito trabalho pela 
frente, ainda mais se considerarmos 
que a verba prevista para a 
assistência à saúde dessas pessoas 
atualmente é a menor desde 2014.
UM OLHAR URGENTE PARA A 
SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS
Tragédia humanitária dos ianomâmis escancara situação crítica vivida por 
essas populações, expostas a problemas crônicos e falta de assistência
RADAR DA SAÚDE
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PASSADO FUTURO UMA FRASE
UM LUGAR UM DADO
40 anos da identificação do 
HIV como causa da aids
Em 1983, cientistas do Instituto Pasteur 
capitaneados por Luc montagnier 
descobriram o vírus da imunodeficiência 
humana e estabeleceram sua conexão 
com a síndrome que matava um 
número crescente de pessoas. outros 
pesquisadores chegaram à mesma 
conclusão de forma independente 
pouco tempo depois, mas o crédito e o 
Nobel ficaram com os franceses. 
Robô-cobra entra no corpo 
para ajudar em cirurgias
Inspirado no formato e na 
flexibilidade das serpentes, um 
dispositivo médico criado pela 
Universidade de Nottingham, na 
Inglaterra, consegue penetrar 
e vasculhar, com sua câmera, 
cantos difíceis de acessar dentro do 
organismo. A expectativa é que a 
invenção possa melhorar a precisão 
de cirurgias daqui a dez anos. 
Estado de São Paulo vê alta em 
envenenamentos por escorpião
Os casos quintuplicaram entre 2008 
e 2018, com maior concentração no 
oeste e no norte do estado, segundo 
análise da USP. Temperaturas mais 
elevadas e devastação da vegetação 
natural estariam entre os fatores por 
trás do crescimento. No Brasil, só em 
2021 foram notificados 159 mil ataques 
por escorpião. Eles exigem atendimento 
imediato para evitar danos críticos. 
1 933 casos de câncer de pênis 
e 459 amputações do órgão
Os números, contabilizados até 
novembro de 2022 pelo Ministério da 
Saúde, dão uma ideia do impacto dessa 
doença mutilante, que afeta sobretudo 
a Região Nordeste e está associada à 
falta de higiene do pênis. Por essa razão, 
a Sociedade Brasileira de Urologia 
(SBU) estreia nova campanha para 
conscientizar os homens e mitigar a 
incidência e as consequências do tumor.
“A roupa que você 
está vestindo, o ar 
que está respirando, 
a página para a 
qual está olhando 
neste momento são 
todos substâncias 
químicas. Se você 
não quer substâncias 
químicas na sua 
comida, receio que 
seja tarde demais. 
Os alimentos são 
substâncias químicas 
(...) Portanto, se você 
ouvir alguém dizendo 
que desconfia 
de substâncias 
químicas, sinta-se 
livre para tranquilizá-
-lo. Ele é uma 
substância química. 
A química não é um 
assunto abstrato 
que acontece 
em laboratórios 
lúgubres: ela está 
acontecendo em toda 
parte à nossa volta e 
em toda parte 
dentro de nós.” 
Tim James, 
professor de química 
britânico, no livro 
Elementar (Zahar)
por DIOGO SPONCHIATOi lustração RAPHAELA SIQUEIRA
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RAIO X DO PEIXE
Conheça algumas 
características do 
pirarucu
Tamanho
Trata-se de um dos 
maiores peixes de 
água doce do mundo, 
podendo chegar a 
3 metros e cerca 
de 200 quilos.
Espinhas
O pescado não 
possui espinhas 
intramusculares, 
um ponto bastante 
festejado pelos 
consumidores.
Gordura
Embora seja gigante, 
o pirarucu é um peixe 
magro: concentra 
em torno de 1,5% de 
gorduras. Por isso, é 
pouco calórico.
Proteína
Como outros 
pescados, a espécie 
é uma boa fonte 
proteica. O nutriente 
dá saciedade e 
alimenta os músculos.
E O SABOR? 
De acordo com Alessandra, a carne do 
pirarucu apresenta coloração clara, 
textura firme e sabor suave. “A cor e o 
sabor se mantiveram na conserva. No 
entanto, houve uma pequena perda de 
textura, como já era esperado, em função 
da cocção da carne durante o processo de 
esterilização”, descreve a pesquisadora. 
Mas nada que tenha abalado a aceitação 
da conserva nos testes sensoriais — tanto 
é que foi relatada uma intenção positiva 
de compra do produto. Vale lembrar que a 
categoria dos enlatados também agrada 
pela praticidade na hora do consumo.
PIRARUCU EM CONSERVA
O peixe amazônico é alvo de pesquisas 
por ter atributos que o tornam ótima 
opção ao mercado de enlatados
Espécie nativa da Amazônia, 
o pirarucu se 
distingue por algumas 
características: rápida 
taxa de crescimento, 
boa adaptação às 
condições de cultivo, 
excelente rendimento 
muscular e uma carne 
de qualidade. Devido 
a esse conjunto da 
obra, pesquisadores 
da Embrapa 
Amazônia Oriental, no 
Pará, e da Embrapa 
Agroindústria 
de Alimentos, no 
Rio de Janeiro, 
decidiram criar uma 
conserva com o filé 
do pescado. Dessa 
maneira, é possível 
estender a vida útil 
do alimento fresco, 
além de oferecer ao 
consumidor uma 
maior variedade de 
peixes enlatados. 
“Agora é necessário 
que haja um parceiro 
interessado em 
adotar a tecnologia 
desenvolvida, 
buscando validá-la e 
ajustá-la em ambiente 
de escala industrial”, 
relata a engenheira de 
alimentos Alessandra 
Ferraiolo de Freitas, da 
Embrapa Amazônia 
Oriental. 
ALIMENTAÇÃO
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Abuse das 
especiarias
Orégano, páprica, 
noz-moscada, 
tomilho, entre 
outras, dão sabor e 
favorecem a saúde.
Fuja da fritura
Ela faz a gente 
consumir um tipo de 
gordura péssimo e 
dispara as calorias 
em uma pequena 
porção do alimento.
Tenha moderação 
— sempre! 
Pode misturar fontes 
de carboidratos, 
como arroz e batata. 
Só não é indicado 
extrapolar as doses.
Cozinhe em água
Isso evita a quebra do 
amido, deixando-o 
mais resistente. 
Aí, altera menos a 
glicemia — boa escolha 
se houver diabetes.
Preste atenção 
ao purê
Pouca manteiga, 
sal, leite e temperos 
naturais bastam. Evite 
queijos, margarina e 
temperos prontos.
Pode assar
Embora o amido 
seja quebrado no 
processo, é outro 
modo de preparo 
recomendado por 
Gisele Haiek.
UM VIVA 
ÀS BATATAS!
Alimento é reduto 
de carboidratos — e 
isso não é nenhum 
problema
Fontes de carboidratos 
como as batatas 
andam com a 
reputação meio 
abalada. Mas, 
segundo nova 
pesquisa da 
Universidade Edith 
Cowan, na Austrália, 
não merecem a má 
fama. Ao avaliarem 
questionários 
respondidos por 
mais de 50 mil 
pessoas, os cientistas 
perceberam que, 
embora o alimento 
não apresente os 
mesmos benefícios de 
outros vegetais, não 
pode ser culpado por 
problemas de saúde, 
como o diabetes tipo 2. 
A nutricionista Gisele 
Haiek, de São Paulo, 
não se surpreende 
com a constatação. 
Segundo ela, a doença 
não tem a ver com o 
consumo isolado de 
um item. Além disso, 
avisa que batata, arroz 
e banana não podem 
ser comparados 
a alimentos 
industrializados como 
biscoitos recheados 
e refrigerantes. 
“Devemos ter 
mais cuidado 
com os produtos 
ultraprocessados”, 
defende.
PARA COMER NUMA BOA
Dicas da nutricionista ao colocar as batatas na rotina
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Além 
de carboidratos, 
a batata reúne 
vitaminas A e do 
complexo B, cálcio, ferro, 
fósforo e magnésio. 
Só não é bacana 
abusar!
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IOGURTE PROTEICO VIRA 
HIT ENTRE QUEM TREINA 
A categoria ganha fãs especialmente 
na turma que se exercita. Vale apostar?
De olho nos Jogos Olímpicos 
de Paris, em 2024, a 
Danone anunciou o 
lançamento de um 
iogurte formulado 
em parceria com 
atletas. Trata-se de 
uma edição especial 
da linha HiPRO, que 
no Brasil é encontrada 
como YoPRO. Um 
dos diferenciais é a 
alta concentração 
de proteínas: são 15 
gramas em um pote. 
Há outros iogurtes 
com essa pegada 
nas prateleiras. 
Para o professor 
Antonio Lancha Jr., 
expert em atividade 
física e nutrição da 
Universidade de São 
Paulo (USP), esses 
itens são bacanas 
porque facilitam a 
ingestão proteica a 
qualquer momento — 
o que não é positivo 
só para atletas. “Um 
idoso, por exemplo, 
deve consumir esse 
nutriente de forma 
fracionada ao longo 
do dia”, diz Lancha Jr. 
O iogurte facilita que 
isso ocorra fora das 
refeições principais. 
Algo indispensável 
para quem treina e 
deseja ampliar o leque 
de opções com 
o ingrediente. 
NUTRIENTE 
VALIOSO
As proteínas são 
cruciais na formação 
de músculos — daí 
por que é associada 
ao pessoal das 
academias. Mas a 
verdade é que todo 
mundo precisa 
investir no nutriente 
e na prática de 
exercícios. Afinal, 
com o tempo, 
perdemos massa e 
força muscular — o 
que abre caminho 
à sarcopenia e 
aumenta o risco 
de quedas e 
fraturas. O segredo 
é não exagerar, 
adequando a 
ingestão de acordo 
com as demandas 
individuais. 
A NECESSIDADE 
DIÁRIA VARIA
Os números abaixo são 
uma média por perfil
População normal
0,8g
por quilo de peso
Esportistas
1,2g
por quilo de peso
Atletas de alto nível
1,6g
por quilo de peso
ALIMENTAÇÃO
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TRANSTORNO 
ALIMENTAR 
GRAVE É 
ALTAMENTE 
GENÉTICO
Estudo avaliou quase 
17 mil pares de gêmeos 
para entender a origem 
da rejeição à comida
Reconhecido oficialmente 
em 2013, o transtorno 
alimentar restritivo 
evitativo, conhecido 
como Tare, é marcado 
por uma redução 
drástica na ingestão de 
comida. Isso pode ter a 
ver com uma aversão 
a certas características 
dos alimentos — como 
textura, cor e aparência 
— ou medo de reações 
como engasgo. Pois 
uma equipe do Instituto 
Karolinska, na Suécia, 
notou, em estudo com 
gêmeos, que 79% do 
risco de desenvolver 
o distúrbio tem a ver 
com a genética. “A 
herdabilidade do Tare 
é maior do que a de 
outros transtornos 
muito conhecidos, como 
anorexia e bulimia”, 
conta a psiquiatra 
Christina Almeida 
Santos, membro da 
Academy for Eating 
Disorders. “Essa 
descoberta permite 
a implantação de 
protocolos de rastreio 
de parentes próximos 
de quem tem Tare”, 
vislumbra a médica.
SINAIS DE 
ATENÇÃO
Segundo Christina 
Santos, que também 
é coordenadora 
da ATA — Atenção 
aos Transtornos 
Alimentares, em 
São José dos Pinhais 
(PR), o diagnóstico 
do Tare ocorre diante 
da incapacidade de 
a criança ou o adulto 
terem um padrão 
alimentar mínimo 
para garantir ganho 
de peso e altura 
compatíveis com 
sexo e idade. Além 
disso, há fraqueza, 
dificuldade de 
concentração 
e ausência de 
menstruação. 
“Também se percebe 
um prejuízo na 
socialização”, alerta 
a psiquiatra.
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O diagnóstico 
do Tare costumaacontecer na infância, 
e o quadro é mais 
prevalente no sexo 
masculino
 
É normal que, 
entre 2 e 5 anos, 
crianças evitem provar 
alimentos novos. Isso 
não significa que elas 
terão Tare
 
Se o 
transtorno não 
for diagnosticado 
e tratado, tende a 
persistir na vida 
adulta
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Trypanosoma 
cruzi
Último caso de Chagas 
no estado de SP ocorreu em
2006 
Existem mais de
100
espécies de 
triatomíneos, 
os insetos que 
transmitem o 
Trypanosoma cruzi
INSETO TRANSMISSOR DA DOENÇA DE 
CHAGAS É ENCONTRADO EM SÃO PAULO
Presença do barbeiro na metrópole indica processo de urbanização 
decorrente de desequilíbrios no meio ambiente, alerta especialista 
No início do ano, um barbeiro foi identificado 
em São Paulo, em uma área 
próxima ao Parque do Estado, 
na zona sul da capital paulista. 
A descoberta gerou um alerta 
porque os triatomíneos que 
se alimentam de sangue, 
popularmente conhecidos como 
barbeiros, costumam viver em 
zonas rurais. E o espécime estava 
infectado com o Trypanosoma 
cruzi, parasita que causa a 
doença de Chagas. “A infecção é 
uma zoonose negligenciada, que 
merece mais atenção pois acomete 
uma parcela significativa da 
população, e, com o desequilíbrio 
ecológico, os triatomíneos estão se 
urbanizando”, explica a veterinária 
Simone Baldini Lucheis, professora 
da Universidade Estadual Paulista 
(Unesp), em Botucatu. “É preciso 
conduzir buscas ativas nesses 
locais e orientar a população 
sobre a doença e a necessidade 
de comunicar as autoridades para 
capturar esses insetos”, completa. 
Falando em maior 
risco de zoonoses 
nas cidades, um 
estudo aponta que 
a leishmaniose 
tegumentar, doença 
que provoca úlceras 
na pele, também 
está em processo 
de urbanização. O 
trabalho, conduzido 
pelo infectologista 
Rodrigo Sala Ferro, 
da Universidade 
do Oeste Paulista 
(Unoeste), revela 
que, em Teodoro 
Sampaio, município 
do interior de São 
Paulo que reúne 
mais casos no 
estado, já circulam 
os mosquitos 
que transmitem 
a infecção. Os 
flebotomíneos, 
vetores dos 
protozoários 
Leishmania, que 
causam tanto a 
versão tegumentar 
quanto a visceral da 
doença, aproveitam 
o crescimento 
desordenado 
das cidades e a 
aproximação dos 
animais silvestres 
e domésticos para 
desbravar novos 
territórios.
Um tipo de 
leishmaniose 
virou doença 
urbana
O PAPEL DO PLANEJAMENTO URBANO 
NA TRANSMISSÃO DE DOENÇAS 
As zoonoses tendem a se tornar mais comuns, 
com a introdução de doenças que antes ficavam 
restritas às zonas de mata. A combinação 
de desmatamento e expansão desenfreada 
das fronteiras urbanas faz com que seus 
transmissores acabem se aproximando em busca 
de comida e abrigo. As mudanças climáticas e a 
falta de infraestrutura e de saneamento básico 
nas regiões periféricas só pioram a situação. 
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ÓCULOS ESPECIAIS 
PARA BLOQUEAR 
A ENXAQUECA
Produto à venda no exterior filtra 
raios de luz envolvidos com o 
surgimento da dor de cabeça
Há anos pesquisadores investigam o uso de certas 
lentes coloridas na redução de 
crises de enxaqueca. Isso porque os 
raios luminosos podem disparar ou 
intensificar os episódios dolorosos. 
Pois uma empresa americana, 
a Avulux, criou óculos especiais 
para essa finalidade e traz novos 
achados a respeito. Numa análise 
comparando 78 voluntários que 
utilizaram seu produto ou uma 
versão similar, só que sem o filtro de 
luz, observou-se que aqueles que 
utilizaram o dispositivo de verdade 
nos primeiros sinais de uma crise 
relataram menos incômodos 
com a dor e a luminosidade. Os 
resultados do experimento ainda 
precisam ser revisados e publicados 
em periódicos científicos. De 
qualquer forma, o trabalho soma 
pontos à estratégia de controlar o 
problema, intimamente conectado 
com fotofobia e alterações visuais, 
por meio de lentes ou óculos 
especiais. O produto da Avulux já 
foi aprovado e está à venda nos 
EUA — mas ainda não há previsão 
de chegar ao Brasil. 
Raios luminosos
Em muitos casos, a 
enxaqueca começa ou 
é agravada por uma 
sensibilidade excessiva 
a diversos estímulos 
sensoriais, como 
cheiros, sons e luzes.
Óculos com filtro
A lente protetora barra 
as ondas de luz que 
mais estimulam a retina, 
no fundo dos olhos, 
gerando o impulso que 
vai ao cérebro e liga a 
chave da dor.
 Efeito nas crises
Com menos raios de 
luz chegando ao olho, 
parte da hiperexcitação 
desencadeada pelos 
sentidos é controlada, 
diminuindo frequência e 
intensidade das dores. 
O ELO ENTRE A LUZ E A DOR
Por que a luminosidade precipita crises — e como atuam os óculos
Médicos testam cannabis contra dor de cabeça
Já se fala por aí que ativos da planta ajudam a frear quadros de enxaqueca, mas o Hospital 
Israelita Albert Einstein (SP) iniciou uma pesquisa pioneira para avaliar seu real impacto na 
doença crônica e resistente. Mais de 100 pacientes, divididos em dois grupos, participam 
da experiência, um tomando placebo (“remédio” sem princípio ativo), outro recebendo 
extrato com três compostos da cannabis — tetra-hidrocanabinol (THC), canabidiol (CBD) e 
canabigerol. “Existem evidências preliminares do envolvimento de receptores de canabinoides 
no cérebro com a dor, assim como relatos de melhora. Porém, só um estudo desse tipo permite 
respostas mais conclusivas”, diz o neurologista Alexandre Kraup, coordenador do projeto.
menos raios 
de luz
raios 
de luz
lente 
protetora
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APOIO CONTRA 
A INCONTINÊNCIA 
NO CELULAR
Brasileiras criam aplicativo 
que ajuda a domar os escapes 
involuntários de urina
Aincontinência urinária é um 
problema frequente e 
desgastante que acomete 
até 50% das mulheres 
com mais de 40 anos. O 
tratamento não é um bicho 
de sete cabeças, e envolve, 
na maioria das vezes, 
exercícios de fortalecimento 
pélvico. Só que exige 
adesão e continuidade 
— como um treino na 
academia. Pensando em 
facilitar a vida de quem tem 
o problema, pesquisadoras 
da Universidade Estadual 
de Campinas (Unicamp) 
desenvolveram um app que 
orienta a realização desses 
movimentos em casa. “Ele 
envia lembretes diários e 
oferece um biofeedback 
visual. Um gráfico animado 
e uma música que varia 
de intensidade guiam 
a usuária durante os 
momentos de contrair 
e relaxar a musculatura 
pélvica”, explica a 
ginecologista Cássia 
Raquel Teatin Juliato, 
responsável pelos testes 
com a tecnologia. Em 
um dos estudos com o 
aplicativo, mais de 60% das 
participantes relataram 
melhora nos sintomas ou 
mesmo o fim dos escapes. 
A ferramenta está pronta 
para ser adotada por 
clínicas e hospitais. 
Diferencial do app 
Ele toca uma música que 
indica a intensidade a ser 
colocada na contração, e 
um gráfico acompanha o 
tempo do exercício.
Quatro apoios 
Fique na posição e 
inspire enquanto puxa 
as costas para cima. 
Aperte por mais cinco 
segundos e relaxe.
Dobre os joelhos
Inspire, contraia os 
músculos e erga o 
bumbum sem tirar os 
pés do chão. Segure por 
cinco segundos.
Deitada no chão
Abra as pernas até a 
largura dos ombros. 
Contraia a musculatura 
do assoalho pélvico por 
cinco segundos e relaxe.
ELAS NÃO FALAM SOBRE O ASSUNTO
Uma pesquisa realizada pela marca de absorventes Intimus indica 
que 80% das mulheres brasileiras nunca falaram sobre perda 
involuntária de xixi com os médicos. E boa parte também não 
menciona o assunto com as amigas. Vergonha e medo atrapalham 
a busca por ajuda e dão uma ideia equivocada de que se trata de 
uma fragilidade normal do corpo feminino. Não é — e tem solução.
TREINO NA TELA
App orienta série de exercícios. Veja exemplos
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UM DETETIVE NO RASTRO 
DAS ORIGENS DA COVID-19
Livro faz a melhor síntese até agora da busca 
para entender de onde veio a pandemia
Não haveria melhor escritor 
para investigar e 
nos contar o que a 
ciência sabe sobre o 
surgimento do vírus 
que mudou nossa 
história recente. E ele 
é David Quammen, 
que, em 2012, já 
havia publicado um 
livro alertando para 
o risco iminente de 
micróbios saltarem 
de hospedeiros 
animais para o ser 
humano, gerando 
uma pandemia. Pois 
a crônica de uma 
catástrofe anunciada 
e as teorias e provas 
que documentam 
como o coronavírus 
chegou à nossa 
espécie e se espalhou 
são o mote de Sem 
Fôlego, a nova obra 
do autor. Nela, 
Quammen persegue, 
após entrevistar 
dezenas de cientistas 
e digerir uma pilha de 
artigos sobre genética, 
microbiologia e 
epidemiologia, os 
prováveis caminhos 
e a evolução desse 
patógeno de origem 
zoonótica até ele virar 
nossa vida de pernas 
para o ar. Um trabalho 
repleto de mistérios, 
pistas, descobertas 
e perguntas que 
ainda precisam ser 
respondidas.
PERGUNTAS QUE EXIGEM RESPOSTAS
Questões que o escritor David Quammen elucida e debate no livro
SEM FÔLEGO 
Autor: David Quammen
Tradução: Laura Teixeira 
Motta e Pedro Maia Soares
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 432
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Onde e como surgiu 
o vírus Sars-CoV-2?
A explicação mais aceita 
remete a morcegos no 
Sudeste Asiático. O vírus 
evoluiu e se adaptou ao 
homem após anos de 
contato interespécies.
Ele teria escapado 
de um laboratório? 
Embora a origem 
zoonótica seja bem mais 
provável, a OMS começou 
(e não concluiu) uma 
apuração na China para 
descartar essa hipótese.
Podemos imaginar 
que será erradicado?
Pelo padrão de 
disseminação e o fato de 
o vírus já ter infectado 
outros animais silvestres 
e domésticos, Quammen 
acredita que não. 
As vacinas serão 
sempre eficazes?
O patógeno da Covid-19 
sofre mutações que 
podem lhe dar a 
capacidade de escapar de 
imunizantes. Então eles 
terão de ser atualizados. 
Outros vírus podem ter 
trajetória parecida?
Sem dúvida, e o escritor 
alerta para possíveis 
novas pandemias 
detonadas por vírus 
respiratórios, como os da 
família influenza e Sars. 
por CHLOÉ PINHEIRO e DIOGO SPONCHIATO 
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O IMPACTO EM NÚMEROS
Levantamento ouviu pacientes, ex-pacientes e familiares
das pessoas que 
encaram ou encararam 
um câncer veem 
o momento do 
diagnóstico da doença 
como o que mais requer 
suporte social
dos pacientes tiveram 
apoio da família e 
acreditam que isso 
faz diferença ao 
enfrentar a doença 
e os efeitos colaterais 
do tratamento 
dos familiares e 
amigos se sentiram 
seguros e bem 
informados para 
dar assistência ao 
paciente durante o 
processo terapêutico
dos entrevistados
que se tratam ou 
trataram de um tumor 
colocam a aceitação 
do problema após a 
descoberta como seu 
principal desafio
dos pacientes e dos 
familiares ouvidos 
pensam que nada 
deve ser omitido nas 
consultas médicas e 
durante o tratamento 
do câncer
dos respondentes
que têm ou tiveram a 
doença deixaram de 
fazer uma pergunta ao 
especialista — a maioria 
sobre as chances de cura 
e a própria terapia
O PESO 
EMOCIONAL 
DO CÂNCER
Pesquisa apura 
repercussão da doença 
logo após descoberta 
Odiagnóstico do câncer costuma 
ser um baque para 
qualquer um, mas 
entender como se 
manifesta o impacto 
psicológico da doença 
e do tratamento é 
essencial para aprimorar 
o suporte e a qualidade 
de vida dos pacientes. 
Foi com isso em mente 
que o Instituto Vencer o 
Câncer realizou, junto 
à IQVIA, um estudo 
sobre as percepções de 
pacientes, ex-pacientes, 
familiares e população 
em geral sobre o 
tema. Ao todo, foram 
entrevistados pela 
internet 2 027 brasileiros, 
com predominância 
do Sudeste. “A 
sondagem mostra 
que há espaço para 
melhorar a qualidade 
da informação 
oferecida aos pacientes. 
Informação mais 
clara, transparente 
e acessível”, avalia o 
oncologista Fernando 
Maluf, do instituto. 
“Também indica uma 
necessidade de melhoria 
na relação médico- 
-paciente para que a 
pessoa que recebeu o 
diagnóstico se sinta mais 
à vontade de questionar 
o profissional durante o 
tratamento”, completa.
56%
69%
62%
40%
41%
33%
MENTE SAUDÁVEL
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SOCORRISTAS 
PARA A 
SAÚDE MENTAL
Hospital paulistano cria 
primeiro curso que treina 
profissionais de várias 
áreas para lidar com o 
sofrimento alheio
Oboom de transtornos 
psíquicos que vieram na 
esteira da pandemia deu 
o estalo para o Hospital 
Alemão Oswaldo Cruz, 
em São Paulo, estruturar 
um curso pioneiro de 
formação de socorristas 
em saúde mental. Ele 
capacita profissionais 
com diferentes atuações 
a identificar pessoas 
em situação de risco 
e dá um panorama 
sobre as doenças que 
afetam o bem-estar 
dos funcionários e 
das companhias. “As 
empresas precisam 
olhar para a saúde 
mental de forma cada 
vez mais estratégica. 
Hoje as pessoas buscam 
organizações alinhadas 
aos seus valores, onde 
possam se realizar no 
trabalho sendo felizes 
e saudáveis. Temos 
recebido feedbacks 
interessantes sobre o 
curso, como melhora 
do clima organizacional 
e implantação de uma 
cultura de segurança 
psicológica”, conta 
Leonardo Piovesan 
Mendonça, gerente 
de Saúde Populacional 
e Atenção Primária 
do hospital.
Para quem é?
Profissionais com diversas 
formações e atuações, 
e em qualquer nível 
organizacional. Empresas 
podem indicar quem 
serão essas pessoas. 
O que contempla?
Os alunos são 
instruídos sobre 
transtornos mentais e 
suas manifestações e 
treinados a identificar 
situações de sofrimento. 
Qual a carga horária?
O curso é totalmente 
online e dura 18 
semanas. São 60 horas 
de aulas divididas em 
atividades ao vivo, 
fóruns e projetos. 
Quem se formou?
Já completaram o curso 
200 socorristas em 
todo o Brasil. E, dentro 
do próprio hospital, 40 
profissionais possuem 
essa formação. 
POR DENTRO DO PROGRAMA
Como funciona o curso de socorrista em saúde mental
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CAPACITAÇÃO 
PARA OS LÍDERES 
Ciente de que 
a visão e o 
posicionamento dos 
gestores influenciam 
demais a harmonia 
e o equilíbrio 
psicológico dos 
colaboradores, o 
Hospital Alemão 
Oswaldo Cruz acaba 
de criar outro curso, 
o de Saúde Mental 
para Liderança. Ele é 
voltado a gerentes e 
diretores e se baseia 
na desmitificação 
do sofrimento 
emocional, na 
elaboração de ações 
voltadas ao cuidado 
e ao acolhimento 
e na análise dos 
fatores dentro 
da organização 
que favorecem 
ou previnem o 
adoecimento. O 
treinamento tem 
12 horas de duração, 
com aulas práticas e 
teóricas presenciais. 
Já foi administrado 
a 80 líderes de uma 
empresa do setor 
siderúrgico. 
por DIOGO SPONCHIATO 
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Envelhecimento
Estudos sugerem 
que o sedentarismo 
favorece mudanças 
nos cromossomos 
por trás de uma 
velhice precoce.
Trombose
Inchaço e dores 
nas pernas são as 
consequências mais 
comuns, mas isso 
pode agravar até 
para uma trombose.
Dor nas costas
Postura errada por 
muito tempo pode 
causar problemas 
irreversíveis à coluna. 
A atividade física 
ajuda a evitá-los.
Obesidade
Se a pessoa não 
se mexe, há pouco 
gasto calórico. 
Assim, quase tudo 
que ingere acaba se 
acumulando.
Doenças crônicas
Falta de movimento 
e ganho de peso 
contribuem para 
o surgimento de 
hipertensão e 
diabetes tipo 2.
CRIAR INTERVALOS 
PARA CAMINHAR 
EM MEIOÀ ROTINA 
FAZ BEM À SAÚDE
Novo estudo quantifica o 
tamanho das pausas que você 
deve fazer ao longo do dia para 
não ficar refém de perigos
Todo mundo sabe que ficar muito tempo sentado 
traz prejuízos ao organismo. Só 
que agora, em um experimento 
publicado na revista Medicine & 
Science in Sports & Exercise, os 
cientistas mediram o tamanho das 
pausas necessárias para a redução 
dos malefícios. “A gente sempre 
recomendou isso, mas não tinha uma 
indicação precisa de tempo”, afirma 
a médica Aline Lamaita, membro da 
Sociedade Brasileira de Angiologia 
e Cirurgia Vascular (SBACV). A 
pesquisa testou caminhadas de 
1 minuto, após 30 e 60 minutos 
sentado, e de 5 minutos, após meia 
ou 1 hora parado. E descobriu que o 
ideal, para a saúde do coração, é se 
mexer pelo menos 5 minutos a cada 
meia hora — só 1 minuto por hora não 
fez diferença. Segundo Aline, ainda 
que o estudo seja pequeno, traz bons 
indícios da importância de superar o 
comportamento sedentário. 
O PERIGO DE FICAR MUITO TEMPO SENTADO
Comportamento sedentário nos expõe a uma série de encrencas
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ATIVIDADE FÍSICA
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BENEFÍCIOS 
COMPROVADOS
Consenso internacional 
aponta uma lista de 
vantagens do exercício
Faça exercícios 
de fortalecimento
De duas a três vezes 
por semana! Ter 
músculos fortes 
ajuda a resguardar 
os ossos e a evitar as 
temidas quedas. 
Peça orientação se 
já houve fratura
Acompanhamento 
profissional é bom 
sempre. Nesse caso, 
carga leve e exercícios 
de menor impacto são 
fundamentais. 
Fortalece os ossos
Controla os sintomas 
de fraturas vertebrais
Reduz bastante o 
risco de quedas
Melhora a postura
Traz bem-estar 
físico e mental 
Ganhe fôlego 
e equilíbrio
Nos dias não dedicados 
à musculação, 
opte por atividades 
que trabalhem o 
condicionamento 
ou o equilíbrio.
Evite o que exige 
demais da coluna
Nada de tentar tocar 
os dedos dos pés, 
fazer flexões ou pegar 
objetos pesados sem 
dobrar os joelhos e 
os quadris. 
PESSOAS COM OSTEOPOROSE PODEM 
(E DEVEM) FAZER EXERCÍCIOS 
O medo de se machucar e provocar um problema ainda pior paralisa 
muita gente com a doença, mas a atividade física tem efeito protetor
A osteoporose, condição marcada pela perda 
progressiva de massa óssea, 
afeta ao redor de 10 milhões 
de brasileiros, principalmente 
mulheres. O avançar da idade e 
a predisposição genética estão 
por trás da doença, que deixa as 
pessoas mais sujeitas a fraturas. 
Devido a essa vulnerabilidade, 
não é incomum ver gente com 
medo de treinar ou se isentar dos 
exercícios para prevenir pioras. 
Mas, como atesta um novo 
consenso médico internacional, 
divulgado pelo British Journal of 
Sports Medicine, a atividade física 
deve ser encorajada pelo seu papel 
protetor aos ossos. “Todas as 
pessoas com osteoporose podem 
se beneficiar dela. Existem poucas 
evidências de que o exercício 
esteja associado a danos, e os 
benefícios, em geral, superam 
os riscos”, crava o documento. O 
guia detalha que a prática correta 
de modalidades aeróbicas e 
resistidas reduz o risco de queda 
e fratura, otimiza a resistência 
óssea e melhora a postura — um 
combo especialmente bem-vindo 
a quem foi diagnosticado com o 
problema. A diretriz ainda pontua 
que o exercício é importante não 
só no tratamento mas também na 
prevenção da osteoporose.
O QUE SABER ANTES DE TREINAR
Incluir exercícios na agenda é vital — mas há detalhes a respeitar
por INGRID LUISA 
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COGNIÇÃO À MESA: A ALIMENTAÇÃO 
TURBINA E DEFENDE NOSSO CÉREBRO?
acognição e a memória abrangem processos 
centrais no desempenho do nosso 
cérebro e nas atividades do dia a 
dia, envolvendo redes de neurônios 
e mecanismos complexos — nem 
todos ainda compreendidos pela 
ciência. Sabe-se que uma região 
vital nessa história é o hipocampo, 
área do cérebro que regula a 
aprendizagem, a formação das 
lembranças e o humor. Mais 
recentemente, descobriu-se que 
é um dos locais em que surgem 
novos neurônios. Está cada vez 
mais claro que as sinapses, a 
comunicação entre as células 
nervosas, e a plasticidade cerebral 
(a capacidade de elas se moldarem 
diante de novas demandas e 
desafios) estão intimamente 
ligadas ao desempenho cognitivo. 
E já existem evidências de que 
podemos interferir nesse processo 
por meio de estímulos intelectuais, 
aprendizados, exercícios físicos e 
mudanças na alimentação. 
No capítulo da dieta, podemos 
começar falando do glutamato, 
o principal neurotransmissor que 
excita os neurônios nos domínios 
da cognição. Sua atuação é 
modulada pelo magnésio, 
mineral presente em vegetais 
verde-escuros e cereais integrais. 
Pesquisas já mostraram que a 
suplementação desse nutriente 
melhora o aprendizado e a 
memória. O mesmo vale para 
o zinco, mineral encontrado em 
carnes, frutos do mar, leguminosas 
e castanhas. O cérebro também 
precisa de combustível. E aqui 
falamos do suprimento de glicose, 
sua principal fonte de energia — 
por isso não dá para abrir mão do 
carboidrato na rotina.
Nos últimos anos, outros 
nutrientes e substâncias caíram na 
mira dos neurocientistas. Entre os 
mais famosos estão o DHA e o EPA, 
dois tipos de ácido graxo ômega-3 
(dos pescados e sementes), a 
colina (da gema de ovo), o ácido 
fólico (das verduras), o selênio (da 
castanha-do-pará) e as vitaminas 
B12 (carnes), C (frutas cítricas) e E 
(oleaginosas). Outro componente 
destacado nas pesquisas é o ácido 
retinoico, derivado da vitamina 
A, que participa da neurogênese, 
da sobrevivência neuronal e 
da plasticidade cerebral. A 
suplementação de algumas 
vitaminas, após avaliação 
profissional, pode ajudar a suprir 
carências que repercutem na 
cabeça. Um estudo constatou que 
repor as vitaminas do complexo B 
reduziu a perda de volume cerebral 
ao longo de dois anos em idosos 
com maior risco de desenvolver 
demência. Nesse contexto, 
algumas análises já demonstraram 
associação entre baixos níveis de 
vitamina D e déficits de memória 
e demência, enquanto a alta 
ingestão de vitamina E estaria 
relacionada a menos chances de 
problemas cognitivos — contudo, 
suplementos dessas substâncias 
só devem ser receitados para essa 
finalidade com acompanhamento 
de um especialista. 
Aumentar o aporte de vegetais 
na dieta é um conselho repetido à 
exaustão para preservar a saúde, 
inclusive a da cabeça. É que vários 
compostos fenólicos de frutas e 
hortaliças protegem as células 
nervosas do envelhecimento e 
auxiliam a modular as funções 
cognitivas. O grupo inclui os 
polifenóis, como o resveratrol 
ALIMENTE-SE
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Lara Natacci é 
nutricionista, Ph.D. 
pela Universidade 
de São Paulo (USP) e 
diretora da Dietnet, 
na capital paulista
presente na casca da uva, e 
agentes encontrados no chá- 
-verde. Numa revisão de estudos, 
também foi observado que a 
ingestão moderada de café (ou 
bebidas ricas em cafeína) reduz o 
declínio cognitivo. No vasto reino 
da bioquímica vegetal, ainda dá 
para citar como protetores da 
cognição a luteína e a zeaxantina 
(fornecidas pelo milho) e o ácido 
ursólico (da maçã e do alecrim), 
que já mostraram efeitos positivos 
na capacidade de raciocionar 
e guardar as coisas e em testes 
de inteligência. Outra fonte 
exuberante de compostos fenólicos 
já associados à boa saúde cerebral 
são as berries, as frutas vermelhas 
ou arroxeadas. Cientistas 
perceberam que o consumo de 
mirtilo, rico em flavonoides e 
antocianinas, aprimora aspectos 
da cognição e da memória 
espacial, por exemplo.
Essas frutinhas estão entre 
os alimentos preconizados 
pela dieta Mind (do inglês 
Mediterranean-DashIntervention 
for Neurodegenerative Delay). 
Trata-se de uma junção da 
dieta mediterrânea clássica e 
de um cardápio para controlar 
a hipertensão que, em estudos, 
mostrou vocação para nos 
resguardar de males como o 
Alzheimer. Uma pesquisa aponta 
que o risco da doença foi reduzido 
em 53% nos voluntários que 
aderiram à dieta rigorosamente e 
em 35% naqueles que a seguiram 
moderadamente. Tanto a Dash 
como a dieta mediterrânea são 
consideradas aliadas na prevenção 
de problemas cardiovasculares. 
Mas, fora ajudar a evitar ataques 
cardíacos e AVCs, esses programas 
alimentares, que incluem a 
Mind, têm repercussões pra lá de 
vantajosas na saúde cerebral. Nesse 
sentido, análises já concluíram que 
a dieta Mind é superior às outras 
isoladas na diminuição do declínio 
cognitivo e do risco de Alzheimer.
O que a dieta Mind contempla, 
afinal? Aqui vai um resumo:
• 3 porções diárias de grãos 
integrais (vitaminas do complexo B)
• 1 unidade de ovo por dia ou a 
cada dois dias (colina)
• 1 porção de 100 g de peixes de 
águas frias (sardinha, salmão, 
cavalinha...) pelo menos duas 
vezes por semana (ômega-3)
• 1 porção de ave com pouca 
gordura (100 g) no dia a dia (fonte 
de proteína menos gordurosa)
• 1/2 xícara de castanhas, nozes, 
amêndoas e afins diariamente ou a 
cada dois dias (selênio e vitamina E)
• 3/4 de xícara de frutas vermelhas 
e roxas no mínimo duas vezes por 
semana (antioxidantes)
• 1 xícara de vegetais verde- 
-escuros ou leguminosas por dia 
(ácido fólico, magnésio...)
Além dessas prescrições, a dieta 
Mind orienta limites rígidos para a 
ingestão de manteiga (menos de 
1 colher de sopa por dia), queijos 
amarelos, frituras e fast-food 
(menos de uma porção por semana 
para qualquer um dos três). Se você 
parar pra pensar, dá para encaixar 
todas (ou quase todas) essas 
recomendações no seu cotidiano, 
inclusive com opções tipicamente 
nacionais. O mais peculiar e 
chamativo nesse cardápio são as 
tais berries, potentes protetoras 
cerebrais. Então não se esqueça de 
levar para casa mirtilos, morangos, 
cerejas ou, dependendo da época, 
a brasileiríssima jabuticaba. 
por LARA NATACCI i lustração RAPHAELA SIQUEIRA
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A BATALHA PEL
Medos plantados, percepções equivocadas, notícias falsas e o 
desgoverno no Plano Nacional de Imunizações (PNI) voltam a 
expor um número crescente de brasileiros a doenças perigosas e 
evitáveis. Como vencer esse cabo de guerra na saúde pública 
A
gente só sobrevive e vive bem nos dias 
de hoje graças a vacinas. Mas nunca 
antes na história deste país elas prota-
gonizaram tanto debate, tanta briga e 
tanta publicação em redes sociais. Du-
rante décadas, vacinas fizeram parte natural da paisa-
gem e do cotidiano: havia campanha, pegava-se a ca-
derneta, tomava-se a picada e pronto! Ninguém ficava 
discutindo eficácia, efeitos colaterais, teorias conspi-
ratórias ou planos de dominação mundial. Sem alarde 
ou polêmica, bilhões de doses aplicadas por aí — an-
tes e depois da pandemia — salvaram crianças, ado-
lescentes, adultos e idosos. Menos mortes, menos se-
quelas, menos dias perdidos de escola e trabalho. Só a 
taxa de mortalidade infantil no país despencou de 
mais de 100 óbitos a cada mil nascidos vivos para cer-
ca de dez. Em alguns anos, porém, o outrora robusto 
Plano Nacional de Imunizações (PNI), formulado em 
1973, ficou em frangalhos. E, no boca a boca e de post 
em post, fake news encobriram a defesa das vacinas. 
“Havia uma tendência de queda nas coberturas 
vacinais desde 2016, mas ela começou a ser reverti-
da em 2017. Porém, a partir de 2019, as ações deixa-
ram de ser intensificadas e houve um retorno brusco 
para uma média de coberturas similar à dos anos 
1980”, contextualiza a epidemiologista Carla 
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ELA VACINAÇÃO
texto CHLOÉ PINHEIRO* 
design ESTÚDIO CORAL 
foto JONATHAN GELBER, ANDRIY ONUFRIYENKO e EWERTON MANZOTTE - GETTY IMAGES
 ilustração RODRIGO DAMATI
* A reportagem foi produzida em parceria com o Pulitzer Center (EUA) 
Domingues, que foi coordenadora do programa 
quando ele era referência global. Era! Hoje, o Brasil 
está entre os dez países com mais crianças pequenas 
sem nenhuma dose das vacinas de rotina, segundo a 
Organização Mundial da Saúde (OMS), ao lado de 
nações com históricas dificuldades, como Congo, 
Índia e Paquistão. “Fomos de orgulho a pária”, la-
menta a infectologista Cristiana Toscano, da Uni-
versidade Federal de Goiás (UFG), que integra o 
grupo de experts em imunização da OMS. 
O que explica isso? Problemas estruturais? Sim, e 
muitos. Hesitação vacinal? Sem dúvida, ela cresceu 
e pegou carona nas falas antivacina que perseguem 
ainda hoje as doses contra a Covid e abalam a con-
fiança nos imunizantes como um todo. É irônico: a 
mesma pandemia que mostrou, na prática, como 
essa estratégia poupa vidas também atiçou o movi-
mento negacionista. Mas a mudança de governo 
marca um novo discurso — e, se espera, um novo 
rumo para o PNI. “Quero fazer um apelo a cada um 
para tomar as vacinas, porque elas são uma garantia 
de vida”, afirmou o presidente Lula no lançamento 
do Movimento Nacional de Vacinação, em feverei-
ro, ao receber a recém-chegada vacina bivalente 
contra o coronavírus. Palavras ajudam, mas precisa-
remos de muito mais para reverter a situação.
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Desde que comecei a trabalhar nesta reportagem, 
no fim de 2022, martelava na minha cabeça a dúvi-
da: será que estou exagerando em me preocupar tan-
to assim? Depois de ouvir mais de 25 pessoas, de au-
toridades internacionais no assunto a pessoas que 
caem em notícias falsas, posso afirmar que não. A 
queda nas coberturas é uma tendência mundial e re-
presenta um perigo real. “O Brasil é um dos países 
em maior risco para o retorno de doenças já contro-
ladas”, afirma a epidemiologista Ana Brito, da Asso-
ciação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco). Perde-
mos o certificado de país livre do sarampo em 2019 
e, entre 2018 e 2021, já notificamos 40 mil casos da 
infecção. Casos de difteria foram registrados aqui e 
nos arredores, e a poliomielite pode voltar a dar as 
caras no nosso território. A mortalidade infantil vol-
tou a subir, com cerca de 20 mil óbitos evitáveis ao 
ano por quadros como diarreia e pneumonia. A desi-
gualdade social tem culpa no cartório, com o agrava-
mento da fome e da desnutrição, mas a falta ou o 
atraso na vacinação dão sua contribuição. 
Acredite: a aplicação de todos os imunizantes para 
o público infantil está abaixo da meta no Brasil. No 
caso da Covid, então... De acordo com a Fiocruz, a 
cobertura entre os 4 e 5 anos de idade estava em tor-
no de 5% até novembro do ano passado, e a adesão à 
dose para bebês engatinha. Não faz sentido: com ex-
ceção dos idosos, eles são o grupo de maior risco para 
a infecção do ponto de vista etário. O coronavírus 
matou uma criança por dia em 2022. “Fora os efeitos 
neurológicos e cardiovasculares de longo prazo, que 
ainda estão sendo estudados”, aponta a imunologista 
Cristina Bonorino, professora da Universidade Fede-
ral de Ciências da Saúde de Porto Alegre. Os adultos 
não fogem ao que se tornou a regra. A dose que nos 
protege da gripe encalhou nos postos de saúde ano 
passado. E, depois de um engajamento invejável nas 
primeiras doses contra a Covid, os reforços patinam. 
A última edição do inquérito de cobertura vaci-
nal, que checou as carteirinhas de 38 mil crianças 
de todas as regiões brasileiras, escancara a comple-
xidade da coisa. Inclusive no quesito socioeconô-
mico. Apesar de desfrutar de um sistema de saúde 
privilegiado, o estrato A, o mais rico, teve a maior 
queda na imunização: de 76 para 30%. “Mas essa 
diferença é heterogênea. Em alguns locais, o estrato 
D tem níveis mais baixos, e vice-versa”, pondera o 
médico José Cassio de Moraes, da Faculdade de 
Medicina da Santa Casa de São Paulo, um dos auto-
resdo levantamento. Os motivos por trás da não 
vacinação variam entre as camadas da sociedade. 
Mas antes havia homogeneidade no ritual da vaci-
nação — e ela foi corroída nos últimos anos.
Adultos
Cerca de 
50%
da população 
está com o 
esquema de 3 
doses completo 
Crianças
Cerca de 
5% 
das crianças com 
idade entre 4 e 5 
anos tomaram 
a vacina 
Indígenas
A aplicação do 
imunizante 
em alguns 
territórios indígenas 
está abaixo dos 
40%
Hepatite B 
em crianças 
até 30 dias
Poliomielite 
1a ref
Tríplice 
viral d2
DTpa 
gestante
Pneumocócica 
1a ref
100%
80%
60%
40%
20%
0%
42,91%
61,22%
64,76%
59,19%
51,14%
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 
UM RETRATO DA COBERTURA VACINAL
Os números dão ideia do tamanho do problema no Brasil
COBERTURA CONTRA COVID
AS VACINAS COM MENORES COBERTURAS*
Hoje, 
o índice de 
vacinação em 
menores de 2 anos 
está em torno 
de 50%
Meta: 
95%
* Porcentagem de cobertura por ano
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sobreviventes desprotegidos
<60% 60-69% 70-79% 80-89% 90-94% ≥95%
Índia
2,7 
milhões
Nigéria
2,2 
milhões
Etiópia
1,1 
milhão
Congo
734 
mil
Paquistão
711 
mil
Mianmar
492 
mil
Indonésia
1,1 
milhão
Filipinas
1 
milhão
Brasil
710
mil
Angola
553
mil
Capitais 
com cobertura 
acima de 70% 
Capitais com 
cobertura menor 
do que 50% 
Macapá
Curitiba
Teresina Natal
João Pessoa
Brasília
Sarampo
Foram 
40mil 
casos 
entre 2018 
e 2021 
no Brasil
Pólio
29 
casos de 
infecção pelo 
vírus selvagem 
no mundo 
em 2022
Covid
Mais de 
3,5mil 
crianças e 
adolescentes 
morreram de 
Covid no país
Meningite
Tivemos 
mais de 
10mil 
casos em 
2022 
 por aqui* 
Norte
59%
Nordeste
55%
Sudeste
59%
Sul
63%
Centro-Oeste
62%
COBERTURAS SEGUNDO O INQUÉRITO VACINALPAÍSES COM MAIS CRIANÇAS DESPROTEGIDAS** 
 
O Brasil é um 
dos países com mais 
crianças sem as doses 
básicas da infância, ao 
lado de Congo, Índia, 
Paquistão e 
Etiópia 
FUTURO INCERTO
** Porcentagens referentes às coberturas vacinais 
* 
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Quando as coberturas vacinais começaram a 
cair, em 2016, a explicação era clara para os especia-
listas: fora a baixa percepção de risco pela popula-
ção, o subfinanciamento do Sistema Único de Saúde 
(SUS), intensificado a partir da emenda constitucio-
nal 95, aprovada nesse mesmo ano, que estabeleceu 
um teto de gastos públicos. “Essa fragilização afetou 
o funcionamento das salas de vacinação e o forneci-
mento de imunizantes”, conta o epidemiologista e 
sanitarista Eliseu Waldman, professor da Universi-
dade de São Paulo (USP). A escassez de investimen-
tos tem efeitos diretos e indiretos. Vamos tomar 
como exemplo as vacinas BCG, que protege contra 
a tuberculose, e contra a hepatite B, que deveriam 
ser administradas em recém-nascidos. Com a crise 
nas contas, as maternidades redirecionaram recur-
sos e profissionais para manter a assistência e, as-
sim, foram parando de ofertar o serviço. Não à toa, a 
cobertura dessas doses está baixa, na casa dos 60%. 
No inquérito vacinal, quase 30% dos pais res-
ponderam que não conseguiram vacinar os filhos 
quando foram aos postos. Nem sempre eles vol-
tam, e a oportunidade, quando existe, é perdida. 
“Aumentamos as vacinas no calendário, mas não 
oferecemos alternativas para as novas configura-
ções sociais da população, com pais e mães traba-
lhando fora e cada vez menos disponíveis para le-
var seus filhos às unidades de saúde”, avalia o 
infectologista Julio Croda, professor da Universi-
dade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). A 
sala de vacinação é responsabilidade dos municí-
pios, mas o Ministério da Saúde pode (e deve) fo-
mentar esses espaços, dando orientação, capacita-
ção e até incentivo financeiro a cidades que batem 
as metas. Por falar em governo federal...
No olho do furacão
A pandemia virou o sistema de saúde de pernas para 
o ar. Exigiu mais e mais verbas, direcionou a assistên-
cia médica às vítimas da Covid, drenou esforços do 
PNI e afastou o povo de consultas, exames e, num pri-
meiro momento, vacinas. Mas ela não carrega a res-
ponsabilidade pela bagunça sozinha. Países como 
Uruguai, Chile e Costa Rica conseguiram manter ní-
veis de imunização próximos ao ideal. No Brasil, po-
rém, o governo federal marcou gol contra — e antes 
só fosse com as frases do ex-presidente Jair Bolsonaro 
alertando que quem tomasse a vacina da Covid vira-
ria jacaré. “Apesar dos problemas orçamentários, no 
começo havia uma equipe preparada no Ministério 
da Saúde. Quando o governante passa a trocar minis-
tros e outros cargos-chave, em especial na pandemia, 
nomeia pessoas despreparadas para essa função pri-
mordial que é vacinar. Aí passamos a ver uma incom-
petência administrativa, com doses estragando, pro-
blemas na distribuição e ausência de campanhas de 
comunicação”, critica o jurista Fernando Aith, docen-
te da Faculdade de Saúde Pública da USP. 
A atual secretária de Vigilância e Saúde (departa-
mento ao qual ficava subordinado o PNI), a epidemio-
logista Ethel Maciel, diz ter deparado com um cenário 
caótico ao assumir a pasta, em janeiro de 2023. Con-
versamos no final de fevereiro, depois de seus primei-
ros 45 dias de gestão tentando arrumar a casa. “Fo-
ram bilhões de reais perdidos em vacinas vencidas, e 
não tínhamos doses contra a Covid-19 o suficiente 
nem para as crianças nem a vacina bivalente para os 
grupos prioritários”, descreve. “Além disso, havia falta 
de estoque das vacinas contra tuberculose, poliomieli-
te, hepatite B e tantas outras”, continua. A falta de co-
municação sobre a importância das vacinas, um dos 
pontos mais críticos para a manutenção das cobertu-
ras, também começa a ser decifrada ao abrir essa cai-
xa-preta. “Não havia mais contratos com agências de 
publicidade. Precisamos refazer tudo para lançar as 
ações deste ano”, relata Ethel. Durante a pandemia, 
campanhas nacionais para restabelecer os níveis de 
proteção contra poliomielite, sarampo e outras doen-
ças foram tímidas, para dizer o mínimo, e beiraram a 
inexistência em se tratando de Covid. 
Outubro de 2020
Com a perspectiva da 
chegada das vacinas 
da Covid, membros do 
governo federal iniciam 
o discurso antivacina, 
que decola na internet.
2019
Suspensão das 
câmaras técnicas 
de especialistas que 
aconselhavam o SUS, 
incluindo em questões 
relativas às vacinas.
2016
Recursos exclusivos 
para vacinas enviados 
aos municípios são 
incorporados aos 
gastos gerais com 
ações de vigilância.
2016
Aprovação da Emenda 
Constitucional 95, que 
estabelece o teto de 
gastos e, desde então, 
subfinancia o SUS, com 
impacto no PNI.
OS ATAQUES 
ÀS VACINAS E 
O DESMONTE 
DO PNI 
Nove atos e 
omissões que 
ilustram o descaso
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Julho de 2021
Depois de muito 
desgaste, a 
coordenadora do PNI 
pede para sair e o 
programa passa cinco 
meses sem gestor.
Agosto de 2021
Cria-se a câmara 
técnica para assessorar 
a imunização da 
Covid-19, subordinada 
a uma secretaria 
politizada.
Setembro de 2021
Governo suspende 
vacinação de 
adolescentes contra a 
Covid-19, alegando que 
não havia benefícios 
suficientes a eles.
Janeiro de 2022
O Ministério da Saúde 
convoca profissionais 
negadores da ciência 
e não especialistas em 
vacinas para discutir a 
imunização infantil. 
Dezembro de 2021
A pasta abre uma 
consulta pública sobre 
as doses pediátricas, 
movimento incomum 
que só levantou mais 
dúvidas na população. 
BARREIRAS DE ACESSO
Levantamento revela o que sabota a vacinação
Entre os pais que decidiram 
não aplicar alguma das 
vacinas ou todas (2,6%): 
97%
decidem por 
aplicar todas 
as vacinas nas 
crianças*
24%
não o fizeram 
por medo de 
reações 
44%
por 
falta de 
vacina
10%
porque a sala 
de vacina 
estava fechada
7%
porque o 
profissional não 
recomendou
9%
porque o médico 
dissepara não 
vacinar 
9%
porque não 
acreditam 
nas vacinas 
25%
acreditam que 
as vacinas 
produzem 
reações graves 
20%
pensam que vacinas 
para doenças que 
não circulam mais 
são desnecessárias
7,6%
tiveram 
dificuldades 
para levar a 
criança ao posto 
28%
não conseguiram 
vacinar mesmo 
levando a criança 
ao posto 
CONFIABILIDADE TEMORES E RESTRIÇÕES
94%
confiam 
nas vacinas 
distribuídas 
pelo governo 
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Para quase 
metade da 
população brasileira, 
a vacina contra a 
Covid-19 não deve 
ser obrigatória 
850 crianças e 
adolescentes morreram 
de Covid em 2022, 
quando a Anvisa já havia 
liberado os imunizantes 
para esse público
Levam a mal súbito
Vídeos que mostram 
desmaios por motivos 
diversos estão sendo 
tirados de contexto, 
mas não há evidências 
de ligação entre mortes 
súbitas e vacinas.
Causam miocardite
A inflamação cardíaca 
é considerada uma 
reação adversa muito 
rara, e o risco de 
desenvolvê-la chega a 
ser dez vezes maior ao 
contrair Covid.
Vacinados se infectam 
Sim, é verdade, mas 
a intenção da vacina 
não é barrar todo o 
contato com o vírus, e 
sim treinar o corpo para 
conter seu avanço e 
não ter doença grave. 
Provocam reações 
De novo, isso até 
acontece, mas as redes 
usam casos raríssimos 
como se fossem a 
regra. O benefício é 
maior que o risco, 
atestam dados. 
Plano de dominação
Bill Gates, OMS, Pfizer e 
companhia teriam um 
plano de extermínio e/
ou controle em massa. 
Mas os fatos mostram 
que as vacinas salvaram 
milhões de vidas.
A DESINFORMAÇÃO ESTÁ NO AR
Notícias falsas ou fora de contexto têm reflexos maiores do que se imagina
O IMPACTO DA 
HESITAÇÃO E DA 
DESCONFIANÇA
O que dizem as 
pesquisas sobre a 
percepção e os riscos 
que corre a população
RISCO DE MORRER*
Como espalham
Em um ecossistema 
complexo, formado 
por redes cada vez 
mais ocultas e mal 
fiscalizadas, como 
o Telegram e o Gettr. 
Por que espalham
Os profissionais de 
saúde o fazem para 
obter influência onde 
antes eram irrelevantes 
ou vender soluções 
alternativas. 
Quem espalha
Médicos, outros 
profissionais de saúde, 
políticos e pessoas 
“comuns”, com medo 
ou por questões 
ideológicas e religiosas.
Para 
os idosos, o 
risco é 24 vezes 
maior 
não vacinado - 1,79
vacinado sem o booster 
da bivalente - 0,35
vacinado com o booster 
da bivalente - 0,16
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QUESTÕES DE GÊNERO… ...E DE CLASSE
O ex-ministro da Saúde e general Eduardo Pa-
zuello ficou famoso pela tragédia de Manaus e pela 
celeuma da cloroquina — droga que não se mostrou 
eficaz contra a Covid —, mas foi a partir da entrada 
do médico Marcelo Queiroga, em março de 2021, 
que a vacinação desgovernou de vez, culminando na 
extinção de grupos técnicos e de pesquisa e na au-
sência por quase um semestre de um coordenador 
para o PNI após a saída da enfermeira Franciele 
Fantinato em julho de 2021, no auge da pandemia. 
Um funcionário do órgão que prefere não se identifi-
car relata sensação de mãos atadas à época: “Elabo-
rávamos recomendações que nem sempre eram se-
guidas, e o cúmulo de tudo foi a questão da 
vacinação infantil da Covid”. Em janeiro de 2022, o 
governo convocou especialistas para “ouvir os dois 
lados” sobre o tema. Favoráveis à vacinação muni-
dos de uma pilha de estudos comprovando seus be-
nefícios, estavam infectologistas, pediatras e socie-
dades médicas. Contrário à medida, um corpo de 
profissionais sem experiência na área, amparando-
-se em informações distorcidas ou mentiras para 
sugerir que as vacinas eram perigosas. 
Todo mundo é capaz de citar um boato, alguns 
até surreais, sobre a vacina da Covid, mas os ru-
mores não afetaram tanto a população adulta, 
que aderiu a ela em peso, apesar de agora andar 
meio devagar com os reforços. Só que as crianças 
estão amplamente desprotegidas por causa de 
medos plantados na cabeça dos pais, inclusive 
por alguns médicos. Fato: as vacinas foram testa-
das, são seguras, eficazes e diminuem o risco de 
morte e hospitalizações pela doença. Há evidên-
cias sólidas disso, como uma revisão de 17 pes-
quisas envolvendo mais de 10 milhões de crianças 
e adolescentes, recém-publicada no Journal of the 
American Medical Association (JAMA). 
Mas ainda se espalha por aí que as picadas cau-
sam miocardite — inflamação do coração conside-
rada uma reação muito rara e associada com mais 
frequência à própria Covid — ou mesmo que crian-
ças estão morrendo “do nada” por causa delas. “A 
desinformação e a desconfiança atingem a classe 
médica, deixando as famílias inseguras”, diz o infec-
tologista Renato Kfouri, da Sociedade Brasileira de 
Pediatria (SBP). E ai de quem falar a favor das vaci-
nas. Kfouri e outros médicos presentes na audiência 
tiveram seus dados pessoais vazados por políticos 
alinhados ao discurso antivacina e sofreram uma sé-
rie de ameaças. Os pais que imploraram pela chega-
da das vacinas pediátricas também foram persegui-
dos. Na esteira da polarização ideológica, as vacinas 
viraram munição nas trincheiras da internet. 
Em 2021, a hesitação 
vacinal em relação à 
Covid era baixa, cerca 
de 10%, mas entre os 
homens era maior, 14%
No último inquérito 
vacinal, a cobertura 
das vacinas infantis na 
classe A caiu de 76% em 
2007 para 30% em 2021 
Feitas rápido demais
Nenhuma etapa dos 
testes clínicos foi 
pulada e as tecnologias 
por trás das vacinas — 
incluindo a de mRNA 
— já eram estudadas 
há anos. 
O que espalham
São várias categorias de 
desinformação, mas em 
geral elas se apoiam em 
fatos distorcidos, tirados 
do contexto ou mentiras 
deslavadas mesmo.
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O PLANO DE RETOMADA
O que contempla o novo movimento de vacinação encabeçado pelo governo
Vacinação
Um programa 
capitaneado pela 
Fiocruz atua em 
três eixos, sendo 
o primeiro o apoio 
técnico a municípios 
na infraestrutura e no 
treino de profissionais.
A volta do Zé Gotinha
O icônico personagem 
foi resgatado pelo 
Ministério da Saúde 
para mobilizar a 
população. Políticos 
e celebridades se 
vacinando devem voltar 
a aparecer por aí.
Sistemas de 
informação
A ideia é integrar, 
otimizar e disponibilizar 
bases de dados dos 
municípios, pois o 
registro das doses 
aplicadas é hoje um 
dos desafios do PNI. 
Busca ativa 
A iniciativa de ir até 
a casa das famílias 
com atrasos no 
preenchimento da 
carteirinha está sendo 
apoiada pela Unicef em 
2 mil municípios. 
Comunicação 
e educação
O governo propõe ações 
para mobilizar diferentes 
setores da sociedade 
em prol da vacinação 
e produz conteúdos 
próprios esclarecendo 
dúvidas sobre o tema. 
Postos de vacinação 
em shoppings
Durante a pandemia, 
eles se tornaram 
comuns. Agora, essa 
iniciativa pode ser 
expandida para outras 
vacinas infantis em 
baixa, por que não? 
PNI agora é 
departamento
O Departamento 
Nacional de Imunizações 
promete uma estrutura 
que permitirá mais 
autonomia e recursos 
para atuar nas múltiplas 
necessidades atuais.
PELA RECONQUISTA DAS ALTAS COBERTURAS VACINAIS OUTRAS TÁTICAS
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O pediatra americano Peter Hotez, codiretor do 
centro de desenvolvimento de vacinas do Texas Chil-
dren Hospital, acompanha há décadas o movimento 
antivacina, desde que sua filhafoi diagnosticada com 
autismo nos anos 1990. A condição é frequentemen-
te associada aos imunizantes devido a um estudo 
fraudulento, conduzido por um médico cassado que 
lucrou com processos e queria vender suas próprias 
vacinas contra o sarampo — tudo bancado por famí-
lias em busca de indenizações da indústria farmacêu-
tica. Hotez, que participou do desenvolvimento e da 
distribuição de 100 milhões de frascos contra a Co-
vid-19 nos EUA sem receber nenhum centavo da 
“big pharma”, vê um aumento sem precedentes de 
mensagens levantando dúvidas e falácias a respeito.
“Há dez anos, a pauta passou a ser usada por mo-
vimentos de extrema direita, se apoiando no concei-
to de ‘liberdade individual’ ou ‘liberdade médica’”, 
comenta o especialista. Ele conta que, nos Estados 
Unidos, mais de 200 mil pessoas morreram mesmo 
depois que as vacinas da Covid chegaram, a maioria 
em estados com governos e populações reticentes à 
vacinação. “O movimento anticiência hoje mata 
mais do que as armas e os acidentes de carro por 
aqui, mas ainda não o olhamos como uma ferra-
menta letal. E isso tem se expandido para o resto do 
mundo, inclusive no Brasil”, alerta Hotez. 
Eu sei, estamos cansados de falar de política, e 
esse nem é o foco desta publicação. Mas ela é um 
ponto nevrálgico para melhorar a confiança dos 
brasileiros nas vacinas. “Como médico, é a coisa 
mais difícil me posicionar politicamente, pois fomos 
treinados para a neutralidade, mas isso é um resquí-
cio da mentalidade de que a ciência está em uma 
torre de marfim. Precisamos demolir essa torre para 
salvar vidas”, acredita Hotez. Ao que tudo indica, os 
porta-vozes nacionais do movimento antivacina são 
poucos e estão perdendo engajamento com o fim do 
apoio federal. Mas ainda fazem barulho e estão or-
ganizados, atestam os cientistas que pesquisam es-
sas redes. “É mais fácil combater o problema agora, 
na raiz, do que esperá-lo crescer como em outros 
países”, diz a epidemiologista Denise Garrett, vice-
-presidente do Sabin Vaccine Institute, nos EUA. 
A desinformação se alastrou em cima das doses 
de Covid, porém as narrativas assustadoras e desco-
ladas da realidade se espraiaram para outros imuni-
zantes — às vezes para a classe inteira. “Minha preo-
cupação é que o que começou com o coronavírus 
contamine a visão sobre outras vacinas”, desabafa 
Hotez. Nos grupos que atuam contra a vacinação, pi-
pocam desde a velha história da relação com o autis-
mo a mentiras sobre a picada contra a gripe. E, quan-
do não vemos mais as doenças combatidas pelos 
imunizantes, como no caso da pólio, o risco de um 
evento adverso da vacina pesa mais do que o benefí-
cio na hora de levar o filho ao postinho. Podemos di-
zer, nesse caso, que a desinformação é um mercado 
que segue a lei da oferta e da demanda. “A população 
tem demanda por esclarecimentos que nem sempre 
chegam a ela, e há uma oferta sistemática de infor-
mações falsas propositalmente espalhadas para ge-
rar desconfiança”, interpreta o cientista de dados 
João Guilherme, pesquisador no Instituto Nacional 
de Ciência & Tecnologia em Democracia Digital, 
que participou de análises sobre o assunto. 
As mensagens são transmitidas feito vírus e cria-
das sob medida. Para quem tem religião, a vacina en-
trega o “chip da besta”; para os mais céticos, a isca são 
textos cheios de termos técnicos; para os afeitos às te-
orias da conspiração, existe um plano de dominação 
mundial. Na tela do celular, pessoas comuns, que 
nem sequer são antivacina, se assustam com o perigo 
iminente. Por trás disso tudo, há um balaio que inclui 
atores políticos e profissionais de saúde vendendo 
“cursos” e “terapias de desintoxicação”. Nesse univer-
so paralelo, tem até uma falsa síndrome pós-vacinal, 
muito parecida com o pós-Covid — esse sim, um pro-
blema real e evitável com a vacina. E essas coisas 
acontecem debaixo dos olhos do próprio Conselho 
Federal de Medicina (CFM), que, em pleno 2023, ain-
da realiza audiências para questionar a obrigatorieda-
de da imunização contra Covid e nada faz para punir 
quem dissemina esse tipo de conteúdo. Procurado 
pela reportagem, o órgão não se manifestou. 
Mobilização “antiantivacina”
A OMS coloca a hesitação vacinal, a demora ou relu-
tância em se imunizar, como uma das maiores amea-
ças à saúde da humanidade e a explica por meio de 
três Cs. Primeiro, a complacência, quando não há a 
percepção do risco de deixar de se imunizar; depois, 
a conveniência do acesso; e, por fim, a confiança, 
abalada durante a pandemia. “Agora estamos falan-
do em mais 2 Cs, a comunicação, que deve ser mais 
empática, e o contexto cultural e socieconômico em 
que a hesitação ocorre”, revela Kfouri. Diante do ta-
manho do desafio, as ações do Ministério da Saúde 
não bastarão para resgatar o senso de importância e 
urgência das vacinas. Será preciso formar e capacitar 
melhor médicos e outros profissionais de saúde — 
que nem sempre estudam o tema a contento nas fa-
culdades ou se atualizam a respeito — e mobilizar as 
big techs (Google, Facebook, Twitter...) e a 
imprensa, que também virou alvo de uma crise de 
confiança nos últimos tempos. 
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Quando fatos não mudam opiniões, talvez seja 
preciso reconquistar a confiança por outras vias. Por 
exemplo: e se a jornalista não fosse eu, um ente mis-
terioso, mas seu neto, vizinho ou colega da igreja? 
Essa é uma das apostas da Fiocruz dentro do projeto 
Pela Reconquista das Altas Coberturas Vacinais 
(PRCV). Realizado em parceria com a Sociedade 
Brasileira de Imunizações (SBIm), ele envolve, em 
primeiro lugar, a atuação na própria vacinação, 
apoiando municípios para resolver problemas de in-
fraestrutura e capacitação profissional. As ações co-
meçaram a ser executadas no ano passado em dois 
estados piloto, Amapá e Paraíba, que estavam com 
as coberturas em níveis preocupantes. E consegui-
ram elevar em poucos meses o nível de proteção da 
população. “Os dois foram os únicos estados que ba-
teram a meta da poliomielite”, celebra a médica Lur-
dinha Maia, a coordenadora do projeto da Fiocruz. 
Agora, o PRCV parte para outro eixo importante, 
a comunicação, por meio de ações inovadoras que fu-
rem a “bolha”, termo usado para descrever as redes 
digitais e sociais em que as pessoas compartilham in-
formações. Fui à Paraíba em fevereiro para acompa-
nhar uma dessas frentes, a ação Jovens Repórteres. A 
ideia é treinar adolescentes de comunidades carentes 
de João Pessoa para produzir conteúdo sobre a im-
portância da imunização e disseminá-lo entre seus 
próprios círculos. Ou seja, furar a bolha com alguém 
que já está na bolha. “Queremos chegar aos grupos 
das famílias, dos bairros, das igrejas e do trabalho”, 
vislumbra Isabel Cristina Alencar de Azevedo, líder 
do eixo de comunicação e educação do projeto. 
Em parceria com a Central Única das Favelas 
(CUFA), a equipe montou um workshop de três dias 
com 30 jovens de nove comunidades da cidade. 
Uma turma diversa: evangélicos, mães adolescen-
tes, calouros de faculdade, meninos tímidos, meni-
nas com ares de influenciadoras digitais... Eles 
aprenderam conceitos como imunidade coletiva e 
responsabilidade social, as raízes da desinformação 
e como produzir conteúdo audiovisual com o celu-
lar. Também conversaram com autoridades de saú-
de na cidade e, findo o treinamento, vão elaborar 
conteúdos regulares com o auxílio de uma bolsa e 
um smartphone. Acompanhei de perto uma dessas 
turmas, da comunidade Muçumagro, composta de 
cinco jovens, criativos e inspiradores, cuja história é 
apresentada em um vídeo que acompanha esta re-
portagem no site de VEJA SAÚDE.
Assim que os conheci, eles já quiseram sair pelas 
ruas conosco para ouvir a opinião dos vizinhos de 
Muçumagro sobre os imunizantes. De câmera e gra-
vador na mão, escutamos de tudo: do homem que 
infartou e atribuiu aquilo à vacina ao sujeito que não 
precisa se proteger porque “tem Deus no coração”, 
passando pela mãe que não consegue vacinar

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