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Geovana Sanches, TXXIV DOENÇA DE KAWASAKI INTRODUÇÃO A doença de Kawasaki é uma vasculite primária sistêmica que compromete principalmente os casos de médio e pequeno calibres, mas também os de grande calibre. O agente etiológico, assim como a patogênese, é desconhecido, mas os surtos epidêmicos sugerem uma etiologia infecciosa. Ainda se discute se há uma suscetibilidade genética. EPIDEMIOLOGIA • Alta prevalência na população pediátrica o Segunda vasculite primária mais prevalente na população pediátrica • Idade o < 5 anos (85%) o Pode acometer crianças maiores • Maior incidência no sexo masculino o Relação varia de 1,5 a 1,7:1 DIAGNÓSTICO O diagnóstico da doença de Kawasaki é essencialmente clínico, baseado nos critérios diagnósticos. Critério obrigatório • Febre por no mínimo 5 dias Demais critérios Ao menos 4 dos 5 sintomas devem estar presentes • Exantema polimorfo • Alterações de lábios e cavidade oral • Alterações de extremidades • Hiperemia conjuntival bilateral • Adenomegalia cervical não supurativa com linfonodos > 1,5 cm Febre • Características típicas o Febre alta o Em picos o Remitente • Duração de pelo menos 5 dias para critério diagnóstico • Em média, persiste por 11 dias, mas pode durar por 3 a 4 semanas Exantema polimorfo • Presente em 80% a 90% dos pacientes • Surge nos primeiros 5 dias de febre, predominando em tronco e períneo • Predomínio do rash maculopapular ou micropapular difuso Alterações de lábios e cavidade oral • Presentes em 90% dos casos na fase aguda • Principais alterações: o Hiperemia de orofaringe e mucosa oral o Hipertrofia de papilas linguais (língua em framboesa) o Edema com hiperemia dos lábios que acabam por fissurar e sangrar o Ulcerações orais e exsudato em orofaringe Hiperemia conjuntival • Apresenta-se bilateralmente, sem associação com exsudato • Início concomitante à febre • Pode vir acompanhada de edema ou hiperemia bipalpebral Geovana Sanches, TXXIV Alterações de extremidades • Principais alterações o Hiperemia palmar e plantar o Edema de mãos e pés o Descamação da ponta dos dedos (em dedo de luva) • Edema de mãos e pés doloroso, associado ao eritema palmo-plantar com vasculite nas pontas dos dados, que descamam em dedo de luva na fase subaguda Adenomegalia • Tamanho igual ou superior a 1,5 cm • Em geral unilateral, não supurativo • Principalmente na cadeia cervical anterior • Pode ou não ser dolorosa Outros sintomas Cardiovasculares • Aneurisma de coronárias o É frequente o Risco de trombose e ruptura de aneurisma • Insuficiência cardíaca • Insuficiência mitral • Pericardite • Miocardite • Alterações do ritmo cardíaco • Aneurismas de artérias periféricas • Angina do peito • Infarto do miocárdio Neurológicos • Irritabilidade • Meningite asséptica • Ataxia • Paralisia facial • Perda auditiva neurossensorial Osteomusculares • Artralgia e artrite o 1ª semana: Interfalângicas e grandes articulações o 2ª e 3ª semana: grandes articulações Gastrointestinais • Vômitos • Diarreia • Dor abdominal • Íleo paralítico • Hepatite Geniturinárias • Uretrite • Hidrocele • Fimose Respiratórias • Tosse • Pneumonite • Alterações radiológicas Pele • Reativação da cicatriz da BCG, com eritema e endurecimento da área • Em geral, ocorre em crianças menores (menor tempo desde a vacinação) FASES CLÍNICAS Aguda • Sem tratamento pode durar entre 1 e 4 semanas • Febre e sinais de inflamação • Arterite e aneurisma das coronárias Subaguda • Duração entre 1 e 2 semanas • Desaparecimento da febre e dos sinais de inflamação Geovana Sanches, TXXIV • Descamação em dedo de luva nas mãos e nos pés • Maior risco de aneurisma de coronária e morte súbita Convalescença • Duração entre 6 e 8 semanas, até a normalização do VHS Kawasaki atípico ou incompleto Há crianças com Doença de Kawasaki que não cumprem os critérios diagnósticos por completo, mas apresentam febre persistentes e manifestações clínicas características (menos de 4). Caso se evidencie a presença de aneurismas coronarianos, o diagnóstico é confirmado. Esses casos são denominados Kawasaki atípico ou incompleto, ocorrendo especialmente em crianças menores de 6 meses de vida. Apresenta-se por febre e sintomas inespecíficos como únicas manifestações, associado aos mesmos achados laboratoriais da doença clássica. EXAMES COMPLEMENTARES Os exames complementares são relevantes sobretudo em crianças com suspeita de doença de Kawasaki, mas que ainda não apresentam todos os critérios. • Provas inflamatórias o VHS e PCR elevados • LCR o Pleocitose com predomínio de mononucleares • Hemograma o Anemia normo-normo o Leucocitose com neutrofilia, aumento de bastões ou eosinofilia o Plaquetas normais ou reduzidas na fase aguda e elevadas na fase subaguda e de convalescença • Urina o Leucocitúria estéril o Hematúria • Perfil hepático o Aumento de bilirrubina e transaminases • DHL o Elevado na fase aguda • RX de tórax o Pneumonite o Cisurires o Cardiomegalia • Triglicérides, colesterol total e frações o Aumentados na fase subaguda • Audiometria e BERA o Pode indicar perda neurossensorial • Albumina o Hipoalbuminemia < 3 g/dL • Eletrocardiograma o Arritmias o Disfunção miocárdica o Isquemia • Ecocardiograma com Doppler o Exame de escolha, devendo ser realizado o quanto antes (desde que não atrase o tratamento) → base para avaliação da evolução do paciente o Costuma ser normal na 1ª semana o Paciente sem complicações: repetir em 2 a 3 semanas do quadro e novamente após 6 a 8 semanas o Anormalidades coronarianas: realizar novo exame mais frequentemente (2x/semana) até estabilização da dilatação o Aneurismas das artérias coronárias § Tipo (fusiforme ou sacular) § Presença de trombos e estenoses DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS • Sarampo • Escarlatina • Síndrome do choque tóxico • Síndrome da pele escaldada por estafilococos • Eritema multiforme • Síndrome de Stevens-Johnson • Vírus coxsackie • Mononucleose • Reações alérgicas às drogas Geovana Sanches, TXXIV • Envenenamento por mercúrio • Síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica associada à COVID-19 (SIM-P) Síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica associada à COVID-19 (SIM-P) A síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica associada à COVID-19 consiste numa condição semelhante à doença de Kawasaki, podendo ser concomitância a ela. Acomete crianças mais velhas e adolescentes, sendo comuns as manifestações gastrointestinais. Além disso, há maior frequência de disfunção miocárdica e choque. Diagnóstico • Presença de febre elevada (> 38ºC) e persistente (> 3 dias) em crianças e adolescentes (até 19 anos) • Pelo menos dois dos seguintes sinais e sintomas o Conjuntivite não purulenta ou lesão cutânea bilateral ou sinais de inflamação muco-cutânea (oral, mãos ou pés) o Hipotensão arterial ou choque o Manifestações de disfunção miocárdica, pericardite, valvulite ou anormalidades coronarianas (incluindo achados do ecocardiograma ou elevação de Troponina ou NT-proBNP) o Evidência de coagulopatia (por TP, TTPa ou D-dímero elevados) o Manifestações gastrointestinais agudas (diarreia, vômito ou dor abdominal) • Marcadores de inflamação elevados (VHS, PCR ou procalcitonina) • Afastadas quaisquer outras causas de origem infecciosa e inflamatória, incluindo sepse bacteriana, síndrome de choque esfacilocócico ou estreptocócico • Evidência da COVID-19 (biologia molecular, teste antigênico ou sorológico positivos) ou história de contato com caso de COVID o Não há tempo de contato definido, de forma que esse critério é preenchidobasicamente por toda a população TRATAMENTO O diagnóstico e o tratamento precoce (até o 10º dia) são essenciais para evitar complicações. Tratamento inicial • Imunoglobulina EV 2g/kg, dose única dentro de 10 dias de febre + • AAS 80-100 mg/kg (considerar uso de 30 a 50 mg/kg no início) o Quando afebril por 2 dias, AAS 3 a 5 mg/kg/dia por 6-8 semanas o Se alterações coronarianas, deve ser mantido indefinitivamente Nos casos de alto risco para aneurisma coronariano, pode ser usada metilprednisolona 2mg/Kg/dia intravenosa até a resolução da febre, seguido pela prednisolona por via oral com desmame em 2-3 semanas. Os critérios para alto risco incluem: • Menores de 6 meses e maiores de 8 anos • Hipoalbuminemia • Trombocitopenia • Elevação de transminases • Hiponatremia • Síndrome do choque do Kawasaki • Sexo masculino Tratamento da refratariedade A refratariedade é definida por febre persistente ou recorrente 36 horas após o término da infusão da imunoglobulina. Nesses casos, deve- se realizar uma 2ª de IVIG 2g/kg. Se houver refratariedade à 2ª dose, deve- se realizar pulsoterapia de metilprednisolona na dose de 30 mg/kg/dia (máximo 1g/dia), infundida em 1 hora, 1 vez/dia, durante 3 dias. Outras opções incluem agentes anti-TNF alfa (infliximabe 5mg/Kg/dose), imunossupressores (ciclosporina ou ciclofosfamida) e plasmaférese. Seguimento Após conclusão do caso, o paciente deve realizar seguimento com cardiologista e reumatologista pediátricos. PROGNÓSTICO A doença de Kawasaki normalmente tem bom prognóstico, sendo rara a recidiva. Fatores de risco para pior prognóstico • Sexo masculino • Idade inferior a 6 meses • Idade superior a 8 anos • Febre persistente • Hipoalbuminemia • Anemia • Leucocitose > 15.000 mm3 • Neutrófilos > 80% Geovana Sanches, TXXIV • Trombocitopenia, • Provas de atividade inflamatória elevadas por período superior a um mês • PCR ≥ 10mg/dL • TGO > 80 a 100U/L • Hiponatremia Complicações • Morte o Principalmente na 2ª e 3ª semanas • Perda auditiva • Alterações comportamentais, dificuldade de relacionamento e no aprendizado • Vasculite necrosante o Pode levar a gangrena periférica • Vasculite coronariana e aneurismas • Alterações oftalmológicas o Uveíte e hemorragia conjuntival • Doença cardiovascular em adolescentes e adultos SÍNDROME DE REYE • Comprometimento hepático e encefalopatia hipertensiva • Orientar quanto ao seu risco caso ocorra infecção por Influenza, varicela ou dengue na vigência do uso de AAS • É recomendado vacinação para Influenza caso DK ocorra em sua sazonalidade para paciente ≥ 6 meses (inativa) e sua família, caso não sejam vacinados • Se uso crônico de AAS, paciente deve ser imunizado anualmente com vacina inativada de Influenza • Uso de AAS deve ser evitado até 6 semanas após administração de vacina da varicela → considerar risco-benefício
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