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1 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! Nefrolitíase & ITU * ver também pielonefrite, lombalgia e DIP - superficialmente Vista Anterior do Rim Direito Fonte: TORTORA, Gerard J.; DERRICKSON, Bryan. Princípios de Anatomia e Fisiologia. 14. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. Nefrolitíase A litíase ou calculose urinária é conceituada como a existência de um ou mais cálculos no interior do aparelho urinário. Os cálculos são estruturas cristalinas que alcançaram tamanho suficiente para causar sintomas ou serem percebidos por exames de imagem. Apesar de a urina ser frequentemente supersaturada com sais de cálcio e oxalato, na maioria das pessoas não se formam cálculos. O mecanismo exato da sequência “supersaturação-cristalização-litíase urinária” ainda não é totalmente conhecido. A nefrolitíase deve ser diferenciada da nefrocalcinose, na qual há deposição difusa de cálcio nos rins, incluindo o parênquima, principalmente em sua porção medular - hiperparatireoidismo primário, acidose tubular renal distal e hipervitaminose D são causas comuns de nefrocalcinose. 2 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! Fonte: https://www.infoescola.com/sistema-urinario/rim/. A nefrolitíase representa uma das afecções mais comuns do trato urinário, cuja incidência, inclusive, tem aumentado nos últimos anos, em ambos os sexos e em todas as etnias. Patogênese – do Cristal ao Cálculo Provavelmente há desequilíbrio entre a solubilidade e a precipitação de sais na urina. O produto de solubilidade (PS, zona de subsaturação) é o produto de concentração no qual existe equilíbrio entre a porção cristalina e a solvente, não havendo formação de novas partículas. O produto de formação (PF, zona de cristalização espontânea) refere-se ao produto de concentração no qual haverá precipitação, em velocidade significativa, mesmo sem a inclusão de materiais pré-formados ou outras superfícies cristalinas. Soluções com concentrações abaixo do PS não possibilitam a formação de cristais. Contudo, quando o produto de concentração está maior que o PS, inicia-se a nucleação, a primeira fase de formação de qualquer substância cristalina. Estados de saturação. A maioria dos cálculos de oxalato de cálcio se iniciam no interstício medular. Essas placas se formariam na membrana basal dos ramos finos da alça de Henle, crescendo pelo interstício até se projetarem, erodindo para o espaço urinário subepitelial. Os cálculos formados por deposição de cálcio são os mais comuns, correspondendo a 70 a 80% dos casos. Cálculos de ácido úrico constituem aproximadamente 10 a 15% dos casos. Os cálculos de estruvita são formados por fosfato amoníaco magnésio e representam aproximadamente 5 a 10% dos cálculos. Fatores de Risco Baixo Volume Urinário A nefrolitíase representa um distúrbio de concentração urinária. O objetivo do tratamento é modificar a concentração dos fatores litogênicos. A concentração urinária de cálcio, por exemplo, pode ser diminuída reduzindo-se a excreção de cálcio ou aumentando-se o volume urinário. Hipercalciúria É tradicionalmente conceituada como excreção urinária de cálcio maior que 4 mg/kg/dia ou até 300 mg/dia, no homem, e 250 mg/dia, na mulher. Afeta cerca de 5% da população normal e até 50% dos pacientes litiásicos. Apesar de o mecanismo preciso da hipercalciúria não estar ainda definido, existe consenso quanto à ocorrência de algumas anormalidades fisiopatológicas: I. Aumento primário na absorção intestinal de cálcio: por aumento dos níveis séricos de vitamina D e/ou aumento na expressão dos receptores intestinais para vitamina D. Em indivíduos com excreção normal de cálcio, cerca 20% do cálcio dietético é absorvido. Em portadores de hipercalciúria, essa taxa corresponde a 30%; II. Aumento na perda renal de cálcio: por aumento da carga filtrada de cálcio ou por redução na reabsorção tubular de cálcio. https://www.infoescola.com/sistema-urinario/rim/ 3 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! Os estudos sugerem que a excreção renal de cálcio aumenta em hipercalciúricos pela diminuição da reabsorção tubular de cálcio (principalmente nos túbulos proximais) em vez de aumento da filtração de cálcio; III. Aumento primário na reabsorção óssea: estudos demonstraram diminuição da densidade óssea e aumento de fraturas em portadores de hipercalciúria idiopática. Aspectos Morfológicos de Cálculos Urinários A redução de densidade mineral óssea tem sido relatada em jovens, de ambos os sexos, portadores de hipercalciúria e nefrolitíase. Pacientes hipercalciúricos, mesmo quando submetidos à restrição dietética de cálcio, excretam maiores quantidades de cálcio que indivíduos normais. Sugere-se participação do osso na patogênese da hipercalciúria pelo aumento de atividade das interleucinas 1 e 6, potentes agentes reabsortivos ósseos, do sistema RANK-RANKL- osteoprotegerina, do receptor para a vitamina D (VDR) e da esclerostina, entre outros. Fatores de Risco para Cálculo de Oxalato de Cálcio A. Cálculo de vevelita (fosfato de cálcio mono-hidratado). B. Cálculo de vedelita (fosfato de cálcio dihidratado). C. Cálculo de estruvita. D. Cálculo de apatita. E. Cálculo de brushita. F. Cálculo de ácido úrico. G. Cálculo de cistina. Imagens cedidas pelo Laboratório de Análise de Minerais e Rochas (LAMIR) da Universidade Federal do Paraná. 4 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! Hiperoxalúria A excreção normal de oxalato em indivíduos sadios varia entre 10 e 40 mg/dia. Valores que excedam 40 a 45 mg/dia são considerados hiperoxalúria clínica. A maioria dos portadores de nefrolitíase tem níveis normais de oxalato na urina. Entretanto, a solubilidade do oxalato (quando ligado ao cálcio) em solução aquosa é de apenas 5 mg/l, o que torna a urina permanentemente supersaturada com esse íon. Medidas de transporte de oxalato obtidas em segmentos intestinais in vitro sugerem que, no intestino delgado, há secreção e, no cólon, predomina absorção de oxalato proveniente da luz intestinal. Didaticamente, pode-se dividir as causas de hiperoxalúria de acordo com o nível de excreção em: Dietética: geralmente apresenta 40 a 60 mg/dia de oxalato na urina. Excesso de consumo de oxalato ou de seus precursores (p. ex., vitamina C) e baixa ingestão de cálcio são fatores de risco; Entérica: oxalúria de 60 a 120 mg/dia. Pode ocorrer após ressecção intestinal, doença de Crohn ou síndromes disabsortivas. Nessas situações clínicas, há ligação do cálcio com a gordura presente na luz intestinal e hiperabsorção do oxalato livre, não conjugado, pela mucosa colônica; Primária: níveis de oxalato na urina acima de 120 mg/dia. Acontece em hiperoxalúrias hereditárias tipo 1 (80% dos casos). Hiperuricosúria Pode ser conceituada como excreção urinária maior que 800 mg/dia para homens e 750 mg/dia para mulheres. Isoladamente é uma anormalidade detectada em até 10% dos portadores de nefrolitíase quando associada a outros distúrbios metabólicos, pode chegar a 40%. O ácido úrico é o produto final da degradação de purinas em humanos. Em pH urinário ácido, predomina a forma não dissociada do ácido úrico, que é pouco solúvel (apenas 96 mg/l), podendo levar à cristalúria e à formação de cálculo renal. Patogênese da Litíase por Ácido Úrico HipocitratúriaO citrato é o ânion dissociado do ácido cítrico. A excreção urinária média de citrato é de 640 mg/dia em indivíduos saudáveis. A definição mais aceita de hipocitratúria corresponde à excreção de citrato menor que 320 mg/dia. O citrato é um potente inibidor da cristalização. Infecção Cálculos primariamente associados à infecção são formados por fosfato amônio magnésio (estruvita ou triplo fosfato) ou, mais raramente, por apatita (fosfato de cálcio). De crescimento rápido, podem ocupar todo o sistema coletor (coraliformes) e causar infecções urinárias de repetição, abscessos perinefréticos, urosepse e insuficiência renal progressiva. Sua gênese está relacionada com a infecção por bactérias produtoras de urease (em geral, dos 5 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! gêneros Proteus, Staphylococcus, Providencia, Ureaplasma, menos frequentemente Pseudomonas ou Klebsiella e, quase nunca, E. coli) que desdobram a ureia em amônia, tornando o pH urinário alcalino e favorecendo a cristalização com fosfato e magnésio para formar a estruvita. Cistinúria Doença hereditária e autossômica recessiva. Caracteriza-se por hiperabsorção de aminoácidos dibásicos (cistina, ornitina, lisina e arginina) nas microvilosidades do túbulo proximal e das células epiteliais intestinais. A excreção urinária normal de cistina é cerca de 20 mg/dia. Os portadores apresentam excreções maiores que 75 mg/l. Deficiência de Proteínas Inibidoras da Cristalização Portadoras de nefrolitíase recorrente e sem anormalidades metabólicas associadas à formação de cálculos, identificaram-se alterações quantitativas e qualitativas na excreção de nefrocalcina, proteína de Tamm-Horsfall (uromodulina), osteopontina e bicunina, entre outras. Medicações O uso de sulfato de indinavir para tratamento de infecção pelo HIV está associado à formação de cálculos em até 3% dos pacientes. Ingestão excessiva de vitaminas A e D, além do uso de triantereno, acetazolamida e sulfadiazina, pode causar cristalúria e, eventualmente, nefrolitíase. Apresentação Clínica A nefrolitíase pode ser assintomática e descoberta ao acaso por exames de rotina ou causar apenas dor vaga em flancos, mas a apresentação característica é de cólica nefrética. Em geral, inicia-se com dor localizada na região lombar, no flanco ou na fossa ilíaca, súbita, forte, geralmente unilateral, em cólica, não aliviada com repouso ou posição, irradiada para o trajeto ureteral, a região de bexiga e a genitália externa. Pode haver disúria e hematúria macroscópica concomitantes. Náuseas e vômitos são comuns. Ao exame físico é comum notar taquicardia, palidez, sudorese, dor à palpação em região de ângulo costovertebral e distensão abdominal leve. Embora o quadro seja bem sugestivo, deve- se fazer o diagnóstico diferencial com: patologias gastrintestinais (apendicite aguda, diverticulite, colecistite), ginecológicas (cisto ovariano, anexite, gravidez ectópica), urológicas (orquite, epididimite, prostatite), afecções vasculares (infarto intestinal, aneurisma de aorta abdominal) e algumas causas médicas (cetoacidose diabética, infarto agudo do miocárdio). A combinação de dor lombar, febre, calafrios e sepse se dá na pielonefrite obstrutiva calculosa, situação de elevadas morbidade e mortalidade. Realização da Investigação Diagnóstica Averiguar ocorrências prévias, idade na 1º e última crise, consequências e intervenções (hidronefrose, hospitalização, remoção de cálculos por litotripsia, endoscopia ou cirurgia). Avaliar se houve bexiga neurogênica, infecções urinárias de repetição, diarreia crônica ou gota no histórico do paciente. Pesquisar sobre restrição deleite ou derivados, uso de medicações sem prescrição médica (p. ex., vitaminas, antiácidos e suplementos de cálcio) e história familiar positiva de nefrolitíase. Além de todos os fatores supracitados, obviamente é necessário pesquisar sobre a INGESTA DE LÍQUIDOS do paciente – quantidade e composição. Hematúria: presente em cerca de 80 a 90% dos casos; Leucócitos: podem ser encontrados na urina tipo I; 6 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! Bactérias: sua presença pode levantar a suspeita de infecção associada; Creatina: normal, a não ser em situações de rim único, obstrução ureteral bilateral, cálculos gigantes de bexiga ou cálculos uretrais impactados; Cristais de cistina e Estruvita: são diagnósticos; Cristais de oxalato de cálcio e Ácido úrico: em grande quantidade sugerem doença litiásica. É necessário confirmar a existência e localização do cálculo. 90% dos cálculos renais são radiopacos (+ brancos) – precisa ter + que 2mm em seu maior diâmetro para ser visualizado. Logo, radiografias simples são muito úteis no seguimento da progressão de cálculos radiopacos ou na avaliação da posição de cateteres duplo J, mas pode ter sensibilidade menor que 50%. Fonte: https://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/588 3/litiase_renal.htm. Células radiotransparentes de oxalato de cálcio no ureter esquerdo. A urografia excretora é útil na avaliação anatômica dos rins e na detecção de hidronefrose (pode ser realizada durante a gestação ou cólica nefrética) – tem baixa sensibilidade para cálculos ureterais e é operador-dependente. A tomografia computadorizada helicoidal é o padrão ouro para diagnóstico de litíase urinária! Tem de 96 a 100% de sensibilidade. Deve ser realizada SEM CONTRASTE. Diagnostica patologias não relacionadas com o trato urinário e detecta praticamente todos os tipos de cálculo (radiopacos ou não). Delimita até a densidade do cálculo (em escala crescente de densidade - ácido úrico, estruvita, cistina, oxalato de cálcio mono-hidratado e hidroxiapatita). No entanto tem alto custo, carga de radiação e disponibilidade limitada. Tipos de cristais. A. Oxalato de cálcio. B. Ácido úrico. C. Cistina. D. Fosfato amoníaco magnésio (estruvita). https://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/5883/litiase_renal.htm https://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/5883/litiase_renal.htm 7 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! Se a cólica renal dissipar ou o cálculo renal realizar a passagem, deve-se esperar 4 semanas para reavaliação metabólica dos fatores de risco – se possível recuperar o cálculo expelido, é importante submetê-lo à análise. Ok, mas em pacientes que formaram o primeiro cálculo? Em adultos, a investigação deve consistir ao menos em dosagens séricas de cálcio, fósforo, ácido úrico, creatinina, sódio, cloro, potássio e bicarbonato. Deve-se pedir um parcial de urina e US, mas, se disponível, realizar TC sem contraste. Tratamento Deve ser dividido em: tratamento da cólica renal, do cálculo e da terapêutica da doença litiásica. Tratamento da Cólica Renal As 2 classes de medicações utilizadas para analgesia na cólica renal são os AINES e os opioides. Ao inibirem a síntese de prostaglandinas, os AINEs reduzem a inflamação e a hiperatividade muscular ureteral – o cetoprofeno é um comumente utilizado (outros: diclofenaco, ibuprofeno ou indometacina). Obs.: em situações de insuficiência renal, doença péptica grave ou gestação os AINEs tem contraindicação absoluta. Tratamento do Cálculo A eliminação espontânea ocorre em até 80% dos cálculos menores que 5 mm. Cálculos maiores que 7 mm a taxa de eliminação espontânea cai para 25% para os localizados em ureter proximal, 45% para aqueles em ureter médio e de 70% para cálculos de ureter distal. Seo paciente tiver dor refratária ao tratamento clínico, obstrução persistente + função renal alterada, infecção concomitante, risco de pionefrose ou urosepse, obstrução bilateral ou cálculo em rim único com hidronefrose, indica-se consulta urológica urgente. Já a hospitalização é recomendada quando houver necessidade de administração frequente de analgésicos parenterais, vômitos persistentes, suspeita de pielonefrite aguda associada, elevação da creatinina plasmática e desenvolvimento de anúria ou oligúria. A terapia expulsiva medicamentosa (TEM) na litíase ureteral baseia-se no bloqueio de receptores alfa-1-adrenérgicos (localizados principalmente no ureter inferior): o bloqueio desses receptores inibe o tônus do músculo liso e o peristaltismo descoordenado, mantendo as contrações de propulsão a medicação em questão é a Tansulosina. A alcalinização da urina pode dissolver cálculos puros de ácido úrico. A terapia-padrão é realizada com citrato de potássio, com a finalidade de manter o pH urinário entre 6,5 e 7. A litotripsia extracorpórea emprega ondas sonoras geradas fora do corpo humano, concentrando-as no trato urinário, diretamente sobre o cálculo. Os pacientes são tratados ambulatoriamente, sob analgesia ou anestesia local. A nefrolitotripsia percutânea (principais indicações: cálculos renais complexos e de ureter proximal maior que 10 mm) pode ser indicada isoladamente para cálculos de grande volume ou sequencialmente à litotripsia extracorpórea (técnica-sanduíche). Hoje, raramente se emprega a cirurgia aberta (uretero ou nefrolitotomia). Fonte: https://medsim.med.br/patologias- tratamentos/litotripsia-extracorporea/. Litotripsia extracorpórea significa quebrar a pedra a partir de https://medsim.med.br/patologias-tratamentos/litotripsia-extracorporea/ https://medsim.med.br/patologias-tratamentos/litotripsia-extracorporea/ 8 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! ondas geradas fora do corpo, que atravessam a pele, gordura, músculos, tecido renal e, ao atingirem a pedra, causam sua explosão (eclosão). Profilaxia Tratamento Dietético Aumento da ingestão líquida. O aumento do volume urinário reduz a concentração dos sais excretados. Recomenda-se, para diminuir a recorrência da nefrolitíase em até 50%, que a ingestão líquida seja suficiente para a produção de, pelo menos, 2.000 ml de urina diariamente. A obesidade é fator de risco para nefrolitíase. Chá e café também foram associados à redução no risco de formação de novos cálculos.75 O consumo de refrigerantes adoçados artificialmente com frutose deve ser desestimulado. Ingestão de cálcio, sal e proteína. A ingestão reduzida de cálcio está associada a maior incidência de nefrolitíase. Dietas com alto teor de sódio diminuem a reabsorção tubular de cálcio e aumentam a calciúria. Do mesmo modo, a ingestão excessiva de proteína animal resulta em leve acidose metabólica, estimulando a liberação de cálcio ósseo para tamponar o excesso de íons hidrogênio, o que acarreta aumento na excreção urinária de cálcio. Principais Modalidades Terapêuticas para Cálculos Renoureterais 9 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! Obesidade, hipertensão e DM. Acredita-se que o risco de nefrolitíase aumenta com a elevação do índice de massa corporal (IMC) e da circunferência abdominal. Além disso, o excesso de peso pode resultar em aumento da excreção urinária de ácido úrico e oxalato, fatores de risco para a formação de cálculos de oxalato de cálcio. Tratamento farmacológico: Tiazídicos: agem aumentando a reabsorção tubular proximal de cálcio (associada à contração do espaço extracelular) e diretamente no túbulo distal, diminuindo a calciúria. Fármacos associados a esse efeito hipocalciúrico incluem hidroclortiazida (50 mg/dia), clortalidona (25 mg/dia) ou indapamida (2,5 mg/dia). Devem-se estimular a restrição concomitante de sódio e evitar hipopotassemia durante o tratamento com tiazídicos – pode ser necessário suplementação dietética ou farmacológica de potássio ou ainda associação com amilorida. Podem causar hipotensão arterial, impotência, dislipidemia e intolerância à glicose; Citrato: Indicado nos casos de Hipocitratúria, primária ou secundária, o citrato também diminui a saturação urinária em casos de hipercalciúria, ligando-se ao cálcio e formando complexos solúveis. Além disso, apresenta efeito alcalinizante, aumentando o pH urinário e a fração dissociada de ácido úrico. Utiliza-se preferencialmente o citrato de potássio, em dose suficiente para elevar o pH urinário acima de 6,5, nível associado à redução no tamanho e até mesmo à dissolução de cálculos puros de ácido úrico; Alopurinol: utilizado na nefrolitíase por oxalato de cálcio associada à hiperuricosúria (> 800 mg/dia), bem como em pacientes com hiperuricosúria associada a cálculos puros de ácido úrico. Entretanto, deve-se, concomitantemente, manter o pH urinário alcalino, para obter maior solubilidade do ácido úrico. O alopurinol inibe a enzima xantina-oxidase, responsável pela conversão de xantina em ácido úrico, e, nas situações descritas, é recomendado mesmo na ausência de hiperuricemia. Os efeitos colaterais são rash cutâneo, artralgias e, muito raramente, síndrome de Stevens-Johnson. ITU A infecção do trato urinário (ITU) é definida como a presença de microrganismo patogênico detectado na urina, na uretra, na bexiga, no rim ou na próstata. As ITU podem ser divididas em duas categorias anatômicas: infecções do trato urinário baixo (cistites, uretrites e prostatites) e infecções do trato urinário alto (pielonefrites e abscessos perinefréticos). 10 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! As ITU são mais prevalentes em crianças de até 6 anos de idade, mulheres jovens com vida sexual ativa e idosos. Obs.: quase 50% das mulheres terão pelo menos um episódio de ITU ao longo da vida; e dessas 20 a 30% terão ITUs de repetição. Fisiopatologia As ITU são geralmente causadas por bactérias gram-negativas originárias da flora intestinal. A Escherichia coli é o agente em aproximadamente 80% das infecções agudas em pacientes sem cateteres e sem alterações urológicas. Outros agentes gram-negativos Klebsiella sp., Proteus sp., e Enterobacter sp. são responsáveis por uma proporção pequena de infecções não complicadas; estes e as pseudomonas e Serratia marcescences tem importância em quadros associadas a presença de cateteres, manipulação urológica, cálculos ou obstrução urinária. Cocos gram-positivos apresentam papel de menor importância nas infecções do trato urinário. Na maioria das infecções, as bactérias entram na bexiga através da uretra, e a partir daí podem ascender ao parênquima renal. Além da via ascendente, a via hematogênica também é responsável por parte das ITU, principalmente em pacientes que apresentam obstrução intra ou extrarenal ao fluxo urinário. Virulência Bacteriana A virulência bacteriana é determinada pela capacidade de adesão da bactéria à camada mucosa ou à célula urotelial. Isto depende da presença de flagelo, ou antígeno “H”, produção de hemolisina (que induz a formação de poros na membrana celular), produção de aerobactina (responsável pela aquisição de ferro), produção de urease (levando à formação de amonium e alcalinização da urina, promovendo a precipitação de fosfato, carbonato e magnésio e, assim, a formação do cálculo de estruvita), cápsula, ou antígeno “K” (conferindo resistência à fagocitose) e polissacarídeos,ou antígeno “O” (determinantes antigênicos). Condições no Hospedeiro que Predispõem ITU Gênero e atividade sexual. A uretra feminina é particularmente susceptível à colonização por bacilos gram-negativos devido a sua proximidade com o ânus, seu tamanho mais curto, de aproximadamente 4 cm, e sua terminação próxima ao introito vaginal (a atividade sexual pode introduzir a bactéria na bexiga). A geleia espermicida afeta o pH e flora do introito vaginal, aumentando a colonização por E. coli. Em homens, prostatite e obstrução uretral por hipertrofia prostática são fatores que predispõe a bacteriúria; intercurso anal também está associado a cistite em homens. Gravidez. Presente em 5 a 10% das gestantes. Há risco de desenvolvimento para pielonefrite. Isso tudo pela modificação da posição da bexiga, aumento da capacidade vesical devido à redução do tônus vesical, o relaxamento da musculatura lisa da bexiga e do ureter e a dilatação do ureter e da pelve renal, que facilitam o refluxo vesicoureteral. Obstrução do trato urinário. Qualquer fator que interfira com o fluxo urinário, como litíase, tumor, estenose ou hipertrofia prostática, pode resultar em estase urinária, aumento da proliferação bacteriana e distensão vesical. Bexiga neurogênica. A disfunção neuromotora da bexiga que ocorre em lesões da medula espinal, tabes dorsalis, esclerose múltipla, diabetes mellitus e outras doenças, está frequentemente associada à presença de ITU. A estase urinária e o uso de catéteres de drenagem intermitente favorecem a contaminação do trato urinário. Refluxo vesicoureteral. A presença de refluxo de urina da bexiga para o ureter e, algumas vezes, para a pelve renal, pode ocorrer 11 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! durante episódios de infecção urinária, principalmente em crianças. Cateterização urinária. A utilização de sondas vesicais de demora predispõe à bacteriúria, geralmente assintomática. A presença de leucocitúria não apresenta boa correlação com ITU nesses pacientes. Recomenda-se a troca de catéter a cada 21 dias pelo menos. Quadro Clínico Nas cistites (ITU baixo) há disúria, polaciúria, urgência miccional, dor em região suprapúbica e hematúria – idosos podem apresentar também febre ou hipotermia e alterações do comportamento e/ou do nível da consciência. Na pielonefrite aguda (ITU alto) há lombalgia, náuseas ou vômitos, febre e sinal de Giordano positivo. Em casos de urolitíase há presença de cólica nefrética e hematúria macroscópica + sintomas inespecíficos (febre, mal-estar, fadiga, dor abdominal). Obs.: pode haver evolução para quadro séptico Pacientes com cateteres urinários no geral não apresentam os mesmos sinais e sintomas de ITU. Entretanto, deve-se investigar ITU sempre que pacientes com catéteres vesicais de longa permanência apresentarem febre, urina leitosa ou outras manifestações sistêmicas compatíveis com infecção. Em crianças, o principal sintoma de ITU pode ser dor abdominal. Neonatos costumam apresentar icterícia fisiológica prolongada, hipertermia, diarréia, vômitos, cianose e, em 30% dos casos, perda de peso e/ou alterações neurológicas. Lactentes costumam manifestar uma ITU com alterações do hábito intestinal, déficit pôndero-estatural, anorexia, vômitos ou febre de etiologia não determinada. Finalmente, na faixa pré-escolar, os sintomas podem ser enurese, disúria, polaciúria ou febre. Diagnóstico & Exames Complementares O diagnóstico das ITU é feito com base nos sinais e nos sintomas clínicos apresentados pelo paciente e na análise da amostra de urina, confirmando a presença de leucocitúria significativa e bactérias TODOS os pacientes com quadro clínico de ITU devem ter seu diagnóstico validado por análise da urina e cultura. Amostra de Urina. O ideal seria coletar amostra de urina estéril por aspiração suprapúbica da bexiga. No entanto, esse método não é aplicado na prática clínica e a urina é coletada após micção natural. A sensibilidade da cultura urinária é maior com a coleta da primeira urina da manhã, que é mais concentrada e contém mais bactérias devido ao tempo para sua multiplicação. Sedimento urinário. ITU sem leucocitúria é extremamente incomum. Leucocitúria significativa, ou piúria, é definida como a contagem, na urina, igual ou superior a 10.000 leucócitos/mL ou 10 leucócitos/campo. A presença de cilindros leucocitários sugere pielonefrite, nessa situação o pH urinário é geralmente alcalino. Quando o pH encontrado é superior a 8,0 pode se suspeitar de infecção por Proteus. Hematúria, quando presente, geralmente é discreta, e a presença de proteinúria costuma ser discreta e variável. A presença de bactérias é frequente, mas precisa ser confirmada por cultura urinária. Urocultura. Classicamente, considera-se como bacteriúria significante a contagem superior a 105 colônias/mL (valores maiores que 102 são aceitos com indicativas), descartada a possibilidade de contaminação fecal durante a coleta. 12 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! Exames de Imagem Indicados em casos de suspeita ou diagnóstico de ITU complicada ou recorrente: US: utilizada para identificar cálculos e suas repercussões; TC: raramente indicada na investigação de ITU, usada para descartar a presença de abcesso perinefrético; Uretrocistografia miccional: indicada em ITU recorrente em paciente transplantado renal, para afastar refluxo vesicoureteral (RVU) ao rim transplantado. Em crianças abaixo de 2 anos é o padrão de referência para diagnóstico de RVU; Urografia excretora: não deve ser realizada na fase aguda da ITU, pelo risco da nefrotoxicidade pelo contraste associado à sua baixa sensibilidade. Pode fornecer dados na investigação de ITU complicada; Cintilografia com DMSA: indicada na fase aguda de ITU em crianças por auxiliar no diagnóstico diferencial com pielonefrite; Cistoscopia: indicada em pacientes idosos e transplantados renais com ITU recorrente e hematúria, para afastar a presença de neoplasia de bexiga. Mulheres com ITU recorrentes devem ser orientadas quanto a estratégias comportamentais que podem reduzir a incidência dessas infecções: evitar uso de espermicidas como método anticoncepcional (principalmente se associados ao uso de diafragma), ingerir mais líquidos, aumentar a frequência de micções (a cada 2 ou 3 horas) e urinar logo após o coito e/ou antes de se deitar. Recomenda-se a utilização de cremes vaginais com estrógenos em mulheres menopausadas sem contraindicações para esse medicamento, que apresentem três ou mais ITU anuais. A profilaxia de ITU em pacientes com catéteres vesicais de demora baseia-se, principalmente, na retirada desse cateter o mais precocemente possível e em evitar cateterizações desnecessárias. O tratamento mais usual de ITU é a administração oral de antibióticos, como por exemplo o Sulfametoxazol com trimetoprima dose de 800/160mg, duas vezes ao dia, durante três dias, a nitrofurantoína na dose de 100mg, duas vezes ao dia, durante cinco dias, e também a fosfomicina, na dose de 3g em dose única. Ademais, pode-se usar em conjunto alguns medicamentos para alívio dos sintomas, como o ibuprofeno na dose de 400mg, três vezes ao dia, durante três dias. Importante mencionar que na suspeita de pielonefrite, nitrofurantoína e fosfomicina devem ser evitados. Regimes de tratamento oral para infecção do trato urinário em mulheres* 13 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!!*Considerar as informações do texto para seleção do medicamento a ser utilizado no tratamento empírico; **Pode ser usado em gestantes; ***Pode ser usado na gestação apenas no segundo trimestre; SMX-TMP, sulfametoxazol- trimetoprima. Medicamentos para profilaxia de infecção do trato urinário em mulheres com infecção do trato urinário recorrente (dose 1x/dia ou pós-coital): 14 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! Doença Inflamatória Pélvica O diagnóstico clínico de DIP se baseia em critérios maiores, menores e elaborados: ela é confirmada clinicamente pela presença de 3 critérios maiores + 1 critério menor ou por apenas 1 critério elaborado. A presença das seguintes situações indica tratamento hospitalar: a) Abscesso tubo-ovariano. b) Gravidez. c) Ausência de resposta clínica após 72 horas do início do tratamento com antibioticoterapia oral. d) Intolerância a antibióticos orais ou dificuldade para seguimento ambulatorial. e) Estado geral grave, com náuseas, vômitos e febre. Fluxograma de Dor Pélvica 15 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! f) Dificuldade em exclusão de emergência cirúrgica (p. ex., apendicite, gravidez ectópica). Tratamento de Primeira Opção Ambulatorial: - Ceftriaxona, 500 mg, IM, dose única + - Doxiciclina, 100 mg, 1 comprimido, VO, 2x/dia, por 14 dias + - Metronidazol, 250 mg, 2 comprimidos, VO, 2x/dia, por 14 dias. Hospitalar: - Cefoxitina, 2g, IV, 4x/dia, por 14 dias + - Doxiciclina, 100 mg, 1 comprimido, VO, 2x/dia, por 14 dias --------------------------- Resumindo. . . Ações conforme o local do cálculo: Junção ureteropélvica: LECO (litotripsia com ondas de choque extracorpórea). Se o cálculo for coraliforme > 2cm, realiza-se a nefrolitotomia percutânea; Terço médio: ureteroscopia flexível; Junção vesicoureteral: ureteroscopia rígida A principal composição dos cálculos respectivamente é: oxalato de cálcio (80%), estruvita (10 a 20%). Cálcio, oxalato, fosfato. . . são SOLUTOS, precipitam e formam cálculos; Citrato, magnésio, pirofosfato são “SOLVENTES” inibem a formação dos cálculos. PRINCIPAL EXAME DE IMAGEM: TC de abdome sem contraste Cálculos < 5mm saem sozinhos; >10mm tenho que abordar!!! Cálculo coraliforme? SEMPRE ABORDO! Mesmo que assintomático. Alguma medicação me auxilia na dissolução do cálculo: Alfa-bloqueador (Tansulosina 0,4 mg 1 cp/dia) Sempre avaliar possível pielonefrite. . . a cistite pode ascender! O que é CLÁSSICO no exame de urina? Nitrito, esterase e leucócitos!!! Lembras que nas ITUS o pH é + básico!!! Se houverem hemácias deformadas origem do sangramento é glomerular!!! Se houverem hemácias “intactas” a origem do sangramento não é glomerular (<25% hemácias dismórficas)!!! Eosinófilos?!? Cuidado com NIA!!! Avaliar presença de DIP (diagnóstico diferencial)!!! _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ Referências GUSSO, Gustavo; LOPES, José Mauro Ceratti; DIAS, Lêda Chaves. Tratado de medicina de família e comunidade: princípios, formação e prática. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2019. TORTORA, Gerard J.; DERRICKSON, Bryan. Princípios de Anatomia e Fisiologia. 14. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. MARTINS, Mílton de Arruda. et. al. Clínica Médica, 1. ed. São Paulo: Manole, 2009. ROSENTHAL, Sophia Turci. et. al. Infecção do trato urinário - aspectos epidemiológicos, fisiopatológicos e manejo terapêutico. Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.7, p.52571-52580, jul., 2022. Riella, Miguel Carlos. Princípios de nefrologia e distúrbios hidreletrolíticos. 6.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.