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GEOGRAFIA 
DA 
POPULAÇÃO 
Aline Carneiro Silverol
Migrações internas no Brasil
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Identificar os movimentos populacionais no Brasil.
  Analisar as motivações para as migrações. 
  Explicar as consequências das migrações internas no Brasil.
Introdução
Os fluxos migratórios no Brasil iniciaram-se ainda no período colonial, 
motivados pelos ciclos econômicos da cana-de-açúcar, do algodão, da 
mineração, da borracha e do café, que se constituíram em fatores de 
atração. À medida que os ciclos alteravam o seu eixo geográfico, uma 
pequena parte da população livre migrava em busca de novas oportu-
nidades, enquanto outros grupos permaneciam nos locais estagnados 
desenvolvendo uma agricultura de subsistência. A partir do ciclo do café 
no século XIX, os ciclos migratórios internos tornaram-se mais intensos, e 
essas áreas de subsistência, especialmente no Nordeste, se transformaram 
em polos de repulsão populacional. 
Esses deslocamentos populacionais ocasionaram várias consequências 
tanto nos locais de origem de migrantes quanto nos locais de destino. 
Dentre os impactos, podemos destacar a redução da parcela economi-
camente ativa das áreas de origem, empobrecendo e estagnando cada 
vez mais a economia dessas regiões, em oposição ao enriquecimento 
do local de destino, com aumento da sua força de trabalho e geração de 
renda, mas com maior oferta de trabalhadores em relação à demanda, o 
que reduzia os salários e aumentava as desigualdades sociais e regionais.
Neste capítulo, você vai examinar os movimentos populacionais no 
Brasil a partir de uma escala temporal, de forma que possa compreender 
tanto as motivações para tais movimentos quanto as consequências das 
migrações internas no Brasil.
1 Movimentos populacionais no Brasil
A movimentação da população no Brasil está relacionada à distribuição 
das atividades econômicas ao longo da história do país, que infl uenciou, ao 
mesmo tempo, os processos de desruralização, urbanização e regionalização 
da sociedade brasileira. Essas transformações, portanto, estão associadas 
a fatos históricos relacionados à situação do Brasil como colônia de explo-
ração, que fomentou alguns dos seus ciclos econômicos, como do açúcar, 
do algodão, da mineração e do café, bem como algumas políticas gover-
namentais a partir da década de 1940 de incentivo à ocupação do Centro-
-Oeste e do Norte, que são de grande importância no entendimento dos 
movimentos migratórios. 
As migrações internas são fenômenos sociais amparados e condicionados 
por processos globais, regionais e locais. Sendo assim, diferentes lugares 
tendem a se adequar às exigências do capital e, como consequência, os 
fluxos populacionais seguem nessa esteira. Nesse sentido, a acumulação de 
capital molda os deslocamentos populacionais tanto no sentido migratório 
(espacial) quanto também social. Assim, para a melhor compreendermos 
os movimentos migratórios no Brasil, podemos avaliá-los de acordo com 
seu período histórico. 
Movimentos migratórios do período colonial 
até o século XIX
O período compreendido entre a chegada dos colonizadores, em 1500, até 
meados do século XIX foi marcado por deslocamentos populacionais que 
contribuíram de forma decisiva na confi guração do território brasileiro (OLI-
VEIRA, 2006). 
Os primeiros movimentos populacionais ocorreram em função dos ciclos 
econômicos impulsionados pelas atividades econômicas desenvolvidas em 
períodos específicos, como, inicialmente, a exploração do pau-brasil e o 
escambo com os indígenas (Figura 1). 
Migrações internas no Brasil2
Figura 1. As primeiras atividades comerciais foram estabelecidas entre 
os índios e os portugueses, por meio do escambo.
Fonte: Marzolino/Shutterstock.com.
Em seguida, outros ciclos se estabeleceram, como do açúcar, nos séculos 
XVI e XVII; da borracha, entre 1870 e 1910; da mineração, no século XVIII; 
do algodão, entre os séculos XVIII e XIX; da pecuária (século XVI no Nordeste 
e século XVIII no Sul do Brasil); e do café, no final do século XIX e início 
do século XX. Eles influenciaram os fluxos migratórios, que ocorreram de 
forma irregular, e moldaram o estabelecimento dos núcleos populacionais no 
território (FURTADO, 2010). 
À medida que novos ciclos se iniciavam, a população livre migrava para a 
região onde essas atividades econômicas estavam efervescentes em busca de 
oportunidades de trabalho e de negócios. Posteriormente, com a decadência 
dos ciclos econômicos em decorrência da exaustão da exploração do produto 
ou ainda em virtude da concorrência por parte de outras colônias de explora-
ção, alguns grupos permaneciam nas áreas decadentes, realizando atividades 
de subsistência, enquanto outros buscavam novos lugares para garantir sua 
sobrevivência e sua subsistência.
É importante observar que, além do movimento de pessoas livres, 
também havia outro f luxo muito importante e expressivo associado à mi-
gração interna, que era composto por escravos e indígenas. Muitos grupos 
indígenas foram dominados e escravizados no início da colonização para a 
3Migrações internas no Brasil
extração do pau-brasil. Entretanto, havia diversos conflitos entre índios e 
colonizadores, e por isso a mão-de-obra era escassa para empreendimentos 
do porte das grandes lavouras de produtos voltados para a exportação, 
como a cana-de-açúcar.
Com a implantação do modelo da grande lavoura de exportação no ciclo 
da cana-de-açúcar, escravos africanos passaram a ser adotados para compor 
a massa trabalhadora do empreendimento açucareiro, por constituírem uma 
mão-de-obra mais barata, nascendo assim o tráfico de escravos. Quando o 
ciclo do açúcar entrou em decadência, muitos desses escravos se deslocaram 
com seus donos para o interior do Nordeste, onde já existiam áreas utilizadas 
na pecuária (FURTADO, 2010). No século XVI, a atividade pecuarista no 
Nordeste era destinada tanto ao abastecimento dos engenhos com força animal 
quanto para alimentação (Figura 2).
Figura 2. Os escravos acompanhavam seus donos durante a migração 
em busca de outras oportunidades econômicas.
Fonte: Everett Historical/Shutterstock.com.
Até a abolição da escravatura, em 1888, os fluxos migratórios para os 
escravos eram, na verdade, movimentos forçados, já que não constituíam 
uma mão-de-obra assalariada e livre, e seguiam de forma compulsória os 
seus proprietários (OLIVEIRA, 2006).
Migrações internas no Brasil4
Por três séculos, até o ano de 1850, cerca de 4 milhões de escravos africanos foram 
trazidos para o Brasil (OLIVEIRA, 2006).
Tanto no período em que os ciclos econômicos eram extrativistas quanto 
na passagem do extrativismo para a economia agroexportadora, os fluxos 
migratórios internos funcionavam no sistema de atração–repulsão, ou seja, 
quando o ciclo econômico estava em ascendência, atraía indivíduos, e quando 
entrava em decadência, os repelia para outras regiões mais prósperas. 
Entretanto, uma das características dos ciclos econômicos no Brasil era que 
as novas atividades econômicas não absorviam toda a população resultante da 
atividade anterior, sugerindo que cada ciclo tinha uma dinâmica populacio-
nal própria (OLIVEIRA, 2006). Os ciclos, ao deslocarem o eixo geográfico 
da atividade exportadora, promoviam a ocupação de novos territórios e o 
surgimento de novos núcleos de assentamento, que poderiam motivar ou não 
fluxos migratórios de uma região para outra, de acordo com a necessidade de 
mão-de-obra. Como essa demanda de trabalhadores era suprida pelos colo-
nos e pelos escravos africanos, não sobravam oportunidades para os demais 
indivíduos, como os trabalhadores livres.
Nesse sentido, a maioria dos indivíduos permanecia nos núcleos popula-
cionais que foram formados em função da atividade econômica, exercendo 
ali alguma atividade de subsistência. Essa peculiaridade é importante para 
entender a falta de articulação entre os núcleos populacionais durante séculos, 
que somente foi estabelecidacom o surgimento de um ciclo econômico mais 
forte: o ciclo do café e o processo de industrialização.
A vinda da família real portuguesa em 1808 mudou a questão do tráfico 
e compra de escravos. D. João VI não sabia quanto tempo permaneceria em 
território brasileiro, mas sabia que a quantidade de escravos existentes no Brasil 
poderia causar má impressão em outras monarquias. Mais tarde, como resposta 
à promulgação da Lei Bill Aberdeen, em 1845, pela Inglaterra, que proibia o 
tráfico de escravos e previa a perseguição, interceptação e apreensão de navios 
negreiros no Oceano Atlântico, o poder legislativo brasileiro, já no Segundo 
Reinado, promulgou em 1850 a lei Eusébio de Queiroz, que proibia a entrada de 
novos escravos no Brasil. Além disso, em novembro de 1850 foi aprovado um 
decreto incentivando a vinda de imigrantes do exterior para trabalhar no país. 
Entre 1808 e 1850, houve alguns fluxos migratórios da Europa para o Brasil, 
5Migrações internas no Brasil
mas eram muito pequenos, já que o tráfico de escravos ainda acontecia. Como 
se não bastasse, potenciais migrantes percebiam a instabilidade da monarquia 
e temiam ser escravizados (DANTAS; MORAIS; FERNANDES, 2011).
O primeiro influxo populacional estrangeiro recebido pelo Brasil na primeira metade do 
século XIX tratava-se de mão-de-obra livre. Portugueses, alemães, suíços, entre outros, 
chegaram para trabalhar na cafeicultura do oeste paulista, sob regime de parceria, e 
não de assalariamento. A experiência na forma de parceria não foi bem sucedida, e 
muitos migrantes retornaram para seus países ou ainda migraram internamente em 
busca de outras oportunidades (OLIVEIRA, 2006).
O fim do tráfico negreiro e, posteriormente, o fim da escravidão, em 13 de 
maio de 1888, associados ao acelerado desenvolvimento da economia cafeeira, 
impuseram uma grande demanda por mão-de-obra, o que novamente estimulou 
a busca por imigrantes estrangeiros. A vinda de imigrantes para Brasil no 
final do século XIX e início do século XX foi financiada por fazendeiros, 
que lhes ofereciam subsídios para virem trabalhar no Brasil. Outro elemento 
motivador para os imigrantes estrangeiros foi a crise econômica na Europa 
em decorrência da automação das indústrias, sem contar com a transição 
demográfica experimentada por seus países de origem (OLIVEIRA, 2006). 
Os imigrantes europeus que chegaram ao Brasil acabaram gerando ainda 
fluxos migratórios internos. Os deslocamentos domésticos se basearam, pri-
meiramente, em fluxos rurais–rurais entre fronteiras agrícolas, em que os 
migrantes se movimentavam de uma fazenda para outra em busca de trabalho 
ou de melhores salários. Em um segundo momento, esses fluxos passaram a 
ser rurais–urbanos, o chamado êxodo rural, pois com o dinheiro acumulado 
pelos migrantes, muitos deles foram para as cidades, compondo novos espaços.
As migrações internas de meados do século XIX 
ao século XXI
Com a Independência do Brasil e a expansão do ciclo do café a partir de 
1850, o Brasil passou a integrar a nova divisão internacional do trabalho, 
relacionada ao capitalismo industrial, em que os países subdesenvolvidos 
Migrações internas no Brasil6
eram fornecedores de matérias-primas e produtos primários, que em muitos 
casos eram manufaturados nas metrópoles ou em países desenvolvidos, sendo 
depois revendidos para os países subdesenvolvidos com maior valor agregado. 
A população continuava a determinar seus fl uxos em função da economia, 
buscando, portanto, as áreas produtoras que demandavam mais mão-de-obra, 
localizadas na região centro-sul do país, entre Rio de Janeiro, Zona da Mata 
mineira e São Paulo. Até 1888, a necessidade de trabalhadores era suprimida 
pelos escravos africanos e pelos poucos imigrantes que aqui chegavam. Com 
a proibição do tráfi co de escravos, a demanda por outros trabalhadores aumen-
tou, estimulando a migração interna e especialmente a imigração estrangeira 
(OLIVEIRA, 2006). 
O estímulo à imigração estrangeira ocorreu em função da pouca oferta de 
mão-de-obra disponível na região sudeste. Apesar da economia açucareira 
ter estagnado, os f luxos populacionais com origem na região Nordeste se 
destinaram para outros ciclos mais próximos, como o ciclo do algodão 
no Maranhão, que atraía os indivíduos para trabalharem no cultivo e na 
indústria de fiação e tecelagem. Ademais, alguns f luxos migratórios foram 
para o sul da Bahia, onde o cultivo do cacau estava em pleno desenvolvi-
mento (Figura 3).
Figura 3. A produção de cacau no Sul da Bahia originou um ciclo eco-
nômico regional a partir século XVII, e que se estende até os dias atuais. 
Fonte: Neja Hrovat/Shutterstock.com.
7Migrações internas no Brasil
Também existiu um fluxo espontâneo de não escravos, composto por 
trabalhadores de outras regiões do Brasil e vindos de Portugal que haviam 
se aventurado na exploração de ouro e pedras preciosas em Minas Gerais. 
No período de decadência do ciclo da mineração, no final do século XVIII, 
dirigiram-se para São Paulo, mas não foram para as áreas cafeeiras, e sim em 
busca de terras livres. Dessa forma, não existia um excedente populacional que 
pudesse ser transferido para as regiões produtoras de café, sendo necessário 
o estímulo à imigração estrangeira.
Mais tarde, mesmo com a crise da superprodução de café e a Primeira 
Guerra Mundial (1914– 1918), que afetaram as exportações, a economia ca-
feeira continuou expandindo suas plantações e influenciando as dinâmicas 
migratórias do país. Essa fase durou até 1930, quando o período agroexportador 
brasileiro foi sendo substituído por um processo descontínuo de industriali-
zação, que ainda era ditado pela dinâmica do capital cafeeiro.
O processo de industrialização iniciado a partir de 1930 promoveu a ocu-
pação e o desenvolvimento de uma rede urbana pré-existente desde o período 
colonial, formada pelos centros que haviam se constituído em mercados para 
a importação de fabris (PATARRA, 2003). Nesse sentido, a industrialização 
intensificou a urbanização das regiões que eram impulsionadas pela economia 
do café, como São Paulo, Rio de Janeiro, algumas cidades do Vale do Paraíba 
e da Zona da Mata mineira. Ao mesmo tempo, os núcleos urbanos do sul 
do país, que eram responsáveis pelo fornecimento de mantimentos para as 
populações do centro-sul, também começaram a se desenvolver, bem como os 
núcleos do Nordeste (Salvador e Recife) e do Norte (Manaus e Belém), como 
exportadores de produtos primários.
A atividade agroexportadora do café, que redundou em grande acumulação 
de capital e industrialização, gerou um crescimento da população de São 
Paulo. Ela representava 9,7% da população do país em 1890 e alcançou, em 
1950, 17,6%. Ao mesmo tempo, a população do Nordeste e do estado de Minas 
Gerais sofreu um decréscimo, sinalizando a mudança do eixo geográfico do 
fluxo migratório para o estado de São Paulo (PATARRA, 2003).
Na década de 1940, foram observados diversos fluxos migratórios rumo à 
região Centro-Oeste e ao norte do Paraná. Para o Centro-Oeste, as principais 
regiões fornecedoras de migrantes foram o Sudeste, com aproximadamente 
Migrações internas no Brasil8
96 mil pessoas oriundas dos estados de Minas Gerais, São Paulo e Espírito 
Santo, e o Nordeste, com cerca de 103 mil migrantes vindos do Nordeste 
oriental, Maranhão, Piauí e interior da Bahia (DANTAS; MORAIS; FER-
NANDES, 2011). 
Os migrantes que se destinaram ao Centro-Oeste foram atraídos pela oferta 
de terras para o desenvolvimento agrícola da região, mediante incentivos 
estatais, para a produção de grãos e carne. Nessa região, o Governo Federal 
criou dois núcleos de colonização: a Colônia Agrícola Nacional de Goiás 
(atual município de Ceres) e a Colônia Agrícola Nacional de Dourados (no 
atual estado do Mato Grosso do Sul). Além disso, havia outros atrativos na 
região Centro-Oeste, como a exploração de diamantes e cristal de rocha na 
bacia hidrográfica do rio Araguaia e a exploração do babaçu no vale do rio 
Tocantins, quando este ainda pertenciaao estado de Goiás.
Na década de 1940, a região norte do Paraná, com solos bastante férteis, 
também passou a atrair migrantes em função da venda de lotes de terra por 
uma incorporadora de origem inglesa, que criou núcleos de colonização pri-
vados. Na região Nordeste também houve um fluxo similar de indivíduos que, 
fugindo das secas, foram em busca de terras para a agricultura de subsistência 
no Maranhão.
Na década de 1950, a industrialização chegou ao Nordeste pela implantação 
de polos industriais próximos a Salvador, Recife e Fortaleza, por meio de 
incentivos fiscais às indústrias que se instalaram na região Sudeste na etapa de 
internacionalização industrial brasileira. Ainda assim, os fluxos migratórios 
internos partindo do Nordeste continuaram para diversas regiões do país e 
ainda para o interior da própria região, onde houve movimentos migratórios 
principalmente para o Maranhão devido à exploração de babaçu e cultivo de 
arroz (OLIVEIRA, 2006).
Nesse contexto, existiram movimentos direcionados do Nordeste para 
o Sudeste (assinalados como fluxo 1 na Figura 4), especificamente para o 
munícipio de São Paulo e arredores, além da cidade do Rio de Janeiro, cujos 
deslocamentos foram incentivados pelo intenso processo de industrialização 
que essas regiões estavam vivenciando. 
9Migrações internas no Brasil
Figura 4. Os fluxos migratórios no Brasil, onde os números 
representam o grau de importância do destino.
Fonte: Estuda.com (2016, documento on-line).
Além disso, também houve movimentos do Nordeste para o Centro-Oeste 
e extremo Norte, principalmente para o Mato Grosso e Rondônia, em função 
do garimpo, e para Goiás, em decorrência da construção da capital do Brasil, 
Brasília, assinalados como fluxo 3 na Figura 4. Para a região Sul, houve 
deslocamentos populacionais tanto de nordestinos quanto de gaúchos para o 
estado do Paraná, para trabalhar na cafeicultura.
Entre as décadas de 1960 e 1970, os movimentos migratórios internos 
principais, partindo da região Nordeste, continuaram para a região Centro-
-Oeste e Amazônia, respectivamente assinalados como os fluxos 2 e 4 na 
Figura 4. Entretanto, a implantação do Regime Militar, em 1964, ampliou 
o incentivo à migração para a região Norte, com o objetivo de ocupação 
territorial (PATARRA, 2003). 
Devido à preocupação com a segurança nacional, o governo militar criou 
uma política de integração da Amazônia, que foi viabilizada por meio de 
projetos agropecuários e de incentivos fiscais. Essas ações foram essenciais 
para a ocupação da região e para o estabelecimento de fluxos migratórios 
rumo ao norte do país. 
Migrações internas no Brasil10
Os projetos governamentais das décadas de 1960 e 1970 para a região amazônica 
beneficiaram a iniciativa privada e os detentores de vasto capital para investimentos, 
que instalaram grandes propriedades rurais em detrimento dos interesses de indígenas, 
posseiros e pequenos proprietários. 
Nas décadas de 1960 e 1970, o Nordeste ainda configurava-se como a 
principal área de repulsão populacional, e os fluxos migratórios dessa região 
seguiam para todas as regiões do país, principalmente para o Sudeste, devido 
à sua industrialização, para os estados do Paraná, Mato Grosso e Goiás, em 
função da expansão agrícola e do cultivo do babaçu, e para a Amazônia, devido 
à necessidade de mão-de-obra. Ainda houve outros fluxos internos importantes 
na época devido à expansão da fronteira agrícola, levando indivíduos do Rio 
Grande do Sul, Paraná, São Paulo e Minas Gerais rumo a terras no Mato Grosso.
Além das migrações internas de caráter regional, é importante destacar a 
grande emigração do Sudeste rural para o Sudeste urbano na década de 1960 e 
1970, fenômeno que também foi observado do Nordeste rural para o Nordeste 
Urbano e para o Sudeste urbano a partir de 1970, bem como do Sul rural para o Sul 
urbano e do Centro-Oeste rural para o Centro-Oeste urbano (PATARRA, 2003). 
Nas décadas de 1970 e 1980, os deslocamentos internos em direção à 
região amazônica prosseguiram, incentivados pelos programas e projetos 
governamentais para a ocupação da região. Um deles foi o Projeto de Integração 
Nacional, que promoveu obras de caráter estrutural, como as grandes rodovias 
Transamazônica e Cuiabá–Santarém, além de um projeto de colonização da 
região por meio de assentamentos de migrantes ao longo dessas rodovias.
A Transamazônica também foi projetada com o objetivo de facilitar a migração dos 
nordestinos para a região Norte, uma vez que o Sudeste já enfrentava problemas 
relacionados à população urbana e tensões sociais, além desses migrantes também 
constituírem mão-de-obra para os grandes projetos. De modo similar, a rodovia 
Cuiabá-Santarém também facilitaria o fluxo de migrantes do Sul e do Sudeste para o 
Centro-Oeste e Norte do país. 
11Migrações internas no Brasil
A partir da década de 1980, observou-se uma mudança na tendência migratória 
interna do país em termos de volumes, fluxos e características dos movimentos. 
Houve uma redução de fluxos populacionais em direção ao Sudeste, especialmente 
para as grandes cidades e metrópoles, passando a predominar migrações de 
curta distância e intra-regionais. Já os movimentos populacionais para a região 
amazônica e para os municípios de pequeno e médio porte se mantiveram estáveis.
A redução do deslocamento populacional para a região Sudeste ocorreu 
em função da crise econômica que se instalou nas décadas de 1980 e 1990, 
além do fenômeno da descentralização industrial. A crise econômica afetou 
o mercado de trabalho, aumentando as taxas de desemprego e tornando in-
certo para o migrante o sucesso do seu deslocamento. O próprio processo de 
descentralização industrial, em que as indústrias se transferiram da região 
metropolitana para outros locais, como o interior do estado de São Paulo e 
estados fora da região Sudeste, também contribuiu para a redução dos fluxos 
migratórios para o Sudeste (PATARRA, 2003). 
No caso da região amazônica, ela ainda permaneceu atrativa devido ao 
desenvolvimento de diversas atividades econômicas que estavam sendo fo-
mentadas pelo Estado, como os incentivos ao aumento da relevância da Zona 
Franca de Manaus, além da expansão das fronteiras agrícolas e dos garimpos. 
Além da redução do fluxo migratório, também foi possível observar, a 
partir da década de 1990, o movimento de retorno dos migrantes para a região 
Nordeste. O movimento em sentido contrário deveu-se à crise econômica 
vivenciada pelo Sudeste, além do desenvolvimento das capitais e das cidades 
médias e pequenas da região Nordeste, que passaram a oferecer oportunidades 
de trabalho na agroindústria e no turismo, que absorveram parte da população. 
A crise vivenciada pelo Brasil na década de 1980 também ocasionou a emigração de bra-
sileiros para o exterior, com fluxos importantes entre Brasil–Estados Unidos, Brasil–Japão 
e Brasil–Europa, além de emigrações rurais do Brasil para o Paraguai (PATARRA, 2003).
As migrações inter-regionais para a região Centro-Oeste também perderam 
intensidade a partir dos anos 1980, devido a mudanças na forma de ocupação 
das terras e das áreas de fronteira. Com a modernização da agricultura, houve a 
incorporação de grandes áreas de terra, além da utilização de técnicas de cultivo 
Migrações internas no Brasil12
mais modernas e voltadas à produção em larga escala para exportação. A moder-
nização da agricultura ocasionou a expulsão dos pequenos agricultores e colonos, 
que acabaram migrando do campo para a cidade, no chamado êxodo rural. 
O início da reação da economia brasileira, a partir de meados da década de 
1990, também promoveu importantes reflexos nos movimentos migratórios, 
especialmente na região Nordeste e, em menor escala, no Norte do país. Os 
incentivos estatais para que instituições privadas com alto capital acumulado 
investissem no Nordeste resultaram no desenvolvimento de regiões com estru-
turas econômicas modernas, ativas e dinâmicas, promovendo um desempenho 
positivo nessasáreas, com geração de empregos e renda. 
Dentre as atividades econômicas instaladas no Nordeste, destacam-se o 
complexo petroquímico de Camaçari; o polo têxtil e de confecções de Fortaleza; 
o complexo minero-metalúrgico de Carajás; o polo agroindustrial de Petrolina/
Juazeiro, que se desenvolveu a partir da agricultura irrigada com as águas do 
rio São Francisco; regiões onde há a agricultura moderna de grãos (cerrados 
baianos e o sul do Maranhão e do Piauí); o polo de fruticultura de Rio Grande 
do Norte, irrigado pelo Vale do Açu); o polo de pecuária intensiva do agreste 
de Pernambuco; e os diversos polos turísticos implantados nas principais 
cidades litorâneas do Nordeste (PATARRA, 2003). 
Já a região Centro-Oeste foi marcada por dois processos bastante expressivos 
e quase simultâneos: a ocupação e expansão das fronteiras agrícolas por grandes 
empresas, que realizaram vultuosos investimentos em tecnologia, mecanização 
e produção em larga escala; e o crescimento das cidades em decorrência do 
próprio desenvolvimento do campo e também com as migrações campo–cidade. 
A região Sudeste passou a vivenciar, em meados da década de 1990, uma 
redução do crescimento populacional, que foi ocasionada pela diminuição 
tanto da taxa de fecundidade quanto dos fluxos migratórios, com os chamados 
migrantes de retorno, que rumaram das regiões metropolitanas para suas 
cidades de origem. Outra região que também apresentou uma redução no 
crescimento populacional foi o sul do Brasil, devido aos reflexos do grande 
êxodo rural nas décadas de 1970 e 1980, que levou milhares de indivíduos a 
buscarem terras no Centro-Oeste.
2 Motivações para as migrações
As migrações, de maneira geral, podem ser motivadas por fatores econômicos, 
naturais, políticos, étnicos, religiosos, culturais e laborais, sendo as causas 
econômicas consideradas as motivações primárias e principais. Nesse caso, 
13Migrações internas no Brasil
as migrações acontecem devido ao desejo do indivíduo ou de seu grupo de 
usufruir de melhores condições de vida, proporcionadas por salários mais 
elevados, condições dignas de trabalho e atendimento das necessidades básicas, 
como saúde e educação.
As causas naturais estão relacionadas aos fenômenos ambientais, que podem 
ser de ordem natural ou antrópica, cuja manifestação promove a migração 
forçada dos indivíduos devido aos riscos de permanência na região. 
As causas naturais ou ambientais que motivam os processos migratórios podem 
ser relacionadas ao clima e às condições dos ecossistemas, como baixa fertilidade 
do solo, ausência ou baixa oferta de água, secas, arenização, entre outros. As causas 
antrópicas podem ser provocadas exclusivamente pelo homem, como a degradação e 
contaminação do solo e das águas, ou potencializadas, como as mudanças climáticas 
em função do aumento da emissão de gases do efeito estufa. 
Já as causas políticas estão associadas, por exemplo, a mudanças de governo ou 
no sistema político, que podem diminuir a liberdade e a participação das pessoas 
nos processos decisórios, além da geração de conflitos, que podem forçar a migra-
ção. Por sua vez, as razões étnicas e religiosas estão relacionadas aos conflitos e 
perseguições ocasionados por discordâncias entre etnias e manifestações religiosas. 
As motivações culturais são aquelas em que os indivíduos se deslocam 
para conhecer outras culturas ou estudar, como os intercâmbios acadêmicos, 
linguísticos e culturais. Já as causas laborais estão associadas aos desloca-
mentos realizados por motivos profissionais.
Considerando as motivações gerais para a migração, podemos perceber 
que os movimentos migratórios internos no Brasil foram estimulados princi-
palmente pelos elementos econômicos e pelas desigualdades socioeconômicas 
existentes entre as regiões. As diferenças econômicas e até mesmo a impossibi-
lidade de geração de renda facilitava o surgimento dos fluxos migratórios, que 
se manifestaram em ciclos de acordo com o aparecimento das oportunidades, 
relacionadas às atividades econômicas das regiões (Patarra, 2003).
Durante o período colonial e imperial, os deslocamentos populacionais 
pautaram-se nos ciclos econômicos, que foram responsáveis pela formação 
de uma estrutura territorial com uma rede primitiva de cidades. Esses ciclos 
necessitavam de mão-de-obra, e a busca pela subsistência levou uma parte 
Migrações internas no Brasil14
pequena da população a constituir os movimentos migratórios, de um ciclo para 
outro, enquanto outros grupos permaneciam nos núcleos urbanos mesmo após 
findado do ciclo, desenvolvendo atividades de subsistência e migrações curtas 
entre áreas rurais. Os fluxos migratórios tornaram-se mais robustos a partir 
do ciclo da mineração, no século XVIII, e do café, entre os séculos XIX e XX, 
que demandavam não apenas mão-de-obra, mas também mantimentos, o que 
promoveu fluxos comerciais e, como consequência, mais fluxos migratórios.
A partir da década de 1930, as motivações seguiram relacionadas aos 
aspectos econômicos e à busca por melhores condições de vida e de geração 
de renda. Contudo, a direção dos movimentos migratórios se diversificou: além 
do fluxo rural–rural, também passou a existir, de forma mais contundente, 
o fluxo rural–urbano, especialmente para a região Sudeste, que vivenciava o 
início do processo de industrialização e urbanização. Nesse sentido, passaram 
a existir duas correntes de distribuição populacional: enquanto as migrações 
rurais abriam fronteiras agrícolas e povoavam o interior do Brasil, outros 
fluxos concentravam os indivíduos nas cidades (PATARRA, 2003).
A atração de fluxos migratórios para as regiões mais desenvolvidas, como 
o Sudeste e o Sul, também ocorreu devido à oferta de políticas sociais nas 
cidades, que podem ser consideradas motivações sociais, como os serviços 
nas áreas de saúde pública, previdência social e assistência médica, educação 
básica e ordenamento do mercado de trabalho que passaram a ser oferecidos 
a partir da década de 1940.
O sentido das setas migratórias, portanto, dependia das dinâmicas eco-
nômicas vigentes no território. No campo, isso redundou em situações de 
expulsão em função da concentração fundiária e do sistema de produção 
para o atendimento do mercado capitalista, que não comportava os pequenos 
agricultores e proprietários de terra. As próprias políticas estatais acabaram 
expulsando a população rural a partir do momento em que passaram a fomentar 
a grande empresa agroexportadora, aumentando os fluxos migratórios para 
as cidades, especialmente na década de 1970.
Além da concentração fundiária, a modernização da agricultura, com a inserção de 
tecnologias e insumos agrícolas que aumentavam a produtividade, também contribuiu 
para a migração rural–urbana, já que os pequenos proprietários não conseguiam 
acompanhar e produzir de forma competitiva. 
15Migrações internas no Brasil
A concentração da atividade econômica no Sudeste, associada ao excedente 
populacional desocupado gerado pelo campo em função da concentração fun-
diária, além dos fluxos das pequenas e médias cidades com economias mais 
estagnadas, contribuíram para os movimentos migratórios para o Sudeste até 
a década de 1970. Tais fluxos apresentavam uma motivação econômica, que 
se tornou ainda mais intensa devido às mudanças na estrutura agrária e no 
desempenho econômico das regiões, que obrigaram os indivíduos a migrarem 
em busca de melhores condições de vida (PATARRA, 2003).
Além da concentração fundiária, responsável por gerar excedente populacional de-
socupado ou com baixa capacidade de geração de renda, ainda havia a transição 
democrática que o Brasil estava vivenciado, com o crescimento mais acelerado da 
população. As altas taxas de natalidade e a redução da taxa de mortalidade geram 
famílias numerosas no campo, o que também reduziu a renda per capita familiar, 
contribuindo para o processo migratório. 
A partir da década de 1980, os movimentos migratórios e a distribuição da 
população se pautaram porcrises econômicas de ordem estrutural, relacionadas 
às políticas desastradas e também à transição do Regime Militar e conjuntural. 
A concentração urbana e industrial no Sudeste começou a perder força com os 
incentivos à instalação de indústrias fora das regiões metropolitanas e também 
em outras regiões do país. 
Nessa época houve também uma especialização do espaço urbano: áreas 
industriais nas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro, ou seja, de atividades 
secundárias, tornaram-se áreas com atividades terciárias, voltadas para os 
serviços, que exigiam novas habilidades, qualificação e competências dos 
trabalhadores. Essa transição permitiu o fortalecimento das redes urbanas em 
torno dos grandes centros, de forma que as cidades passaram a desenvolver 
relações de interdependência e complementaridade. Assim, novas rotas de 
deslocamentos foram estabelecidas em função das mudanças do mercado 
de trabalho e dos custos de vida, aumentando as migrações de retorno, de 
curta distância, das metrópoles para as cidades médias, e também migra-
ções pendulares ou diárias, em que as pessoas trabalham em uma cidade e 
residem em outra.
Migrações internas no Brasil16
3 Consequências das migrações internas
Os movimentos populacionais internos que ocorreram e que ainda ocorrem 
no Brasil são motivados principalmente por elementos econômicos, seja em 
busca de melhores oportunidades de trabalho e geração de renda e/ou por 
melhor qualidade de vida. 
Todos esses fluxos populacionais ocasionaram uma série de impactos nos 
locais de origem e de destino dos migrantes, cujas consequências também 
foram influenciadas pelo momento histórico vivido pelo país em cada ciclo 
de migração interna. Assim, podemos categorizar essas consequências em 
seus aspectos econômicos, demográficos, políticos, sociais e culturais, que 
se inter-relacionam a todo o tempo. 
Com relação aos impactos econômicos, podemos citar que a saída de in-
divíduos de uma determinada região provoca a diminuição da sua população 
economicamente ativa e também da força de trabalho, o que pode promover a 
estagnação econômica dos lugares de origem. Ao mesmo tempo, a transferência 
de mão-de-obra indica que o lugar de destino encontra-se mais dinâmico, de 
forma que o seu progresso e o seu desenvolvimento também geram impactos 
positivos em torno dessas regiões, como pode ser observado no município de 
São Paulo e no desenvolvimento da sua região metropolitana. 
O mesmo se aplica ao êxodo rural, cujos indivíduos foram forçados a mi-
grar em decorrência da expansão das fronteiras agrícolas, e ainda a migração 
rural–rural. A expansão das fronteiras provocou a mudança da estrutura 
fundiária, que priorizou a grande propriedade com produção voltada para a 
exportação em detrimento dos pequenos proprietários, o que forçou as famílias 
agricultoras a migrarem para as cidades. Além disso, a própria mecanização 
da agricultura reduziu os postos de trabalho nas grandes lavouras, o que 
também foi um fator motivador da migração para outras áreas rurais em busca 
de sobrevivência (PATARRA, 2003). 
Com o processo de industrialização do país, os f luxos de indivíduos 
do campo para cidade promoveram impactos importantes. Essas pessoas 
participaram ativamente como mão-de-obra na construção de toda a infra-
estrutura básica, tanto para o funcionamento dos centros urbanos quanto 
das indústrias. Entretanto, o espaço construído pelos migrantes não era 
voltado para seu próprio consumo, e sim para outras classes sociais, gerando 
um dos principais problemas urbanos, que foi a ocupação desordenada 
das áreas periféricas, com a consequente favelização. Com o avanço da 
industrialização, a oferta de empregos em áreas que exigiam baixa quali-
17Migrações internas no Brasil
ficação foi sendo reduzida, pressionando ainda mais a população migrante 
para as periferias e para os subempregos, aumentando as desigualdades 
econômicas e sociais (Figura 5). 
Figura 5. As periferias das cidades são formadas por trabalhadores que 
não têm condições de consumir o espaço geográfico que ajudam a 
produzir.
Fonte: cifotart/Shutterstock.com.
Os deslocamentos populacionais também provocam impactos demográficos 
nos locais de origem, que tendem a testemunhar a partida de jovens do sexo 
masculino, o que promove desequilíbrio de gênero e uma redução das taxas de 
natalidade e de crescimento vegetativo (DANTAS; MORAIS; FERNANDES, 
2011). Nos lugares de destino, a chegada de migrantes ocasiona o aumento da 
natalidade e o rejuvenescimento da população, além da concentração da força 
de trabalho. Ao mesmo tempo em que a população ativa aumenta, gerando mais 
riquezas para a região de destino, a concentração de trabalhadores também 
eleva a oferta em relação à demanda, o que provoca a redução dos salários e 
o aumento da pobreza. 
A concentração das atividades relacionadas a indústria e agropecuária no 
centro-sul do país, verificada a partir da década de 1930, promoveu um atraso 
no desenvolvimento econômico das regiões Nordeste, Norte e extremo sul 
em função da concentração das políticas prioritárias estatais naquela região. 
Migrações internas no Brasil18
Somente a partir de 1960, novamente por meio de incentivos estatais, as 
regiões Norte e Nordeste foram inseridas nos fluxos econômicos já estabele-
cidos no país, mas sempre em benefício da região hegemônica (PATARRA, 
2003). Com isso, as desigualdades regionais ainda permaneceram, e os efeitos 
nos deslocamentos populacionais só foram observados a partir de 1980, com 
a crise econômica e a descentralização industrial.
Entre 1945 e 1980, o intenso desenvolvimento em função do aquecimento 
da economia, associado a um processo acelerado e pouco planejado de urba-
nização, também contribuiu para o deslocamento populacional, o que alterou 
de forma importante a estrutura demográfica das cidades. Entretanto, apesar 
da expansão do mercado de trabalho e da inserção dessa parcela da população 
na dinâmica da cidade, o modelo econômico apresentava características con-
centradoras, tanto de renda quanto de população. Além disso, caracterizava-se 
por ser também excludente, já que o espaço urbano não apresentava os mesmos 
elementos e oportunidades para todos. 
As diferenças de renda entre a população trabalhadora e os responsáveis 
pelos meios de produção eram enormes, originando uma sociedade urbana 
com uma estrutura social complexa e fragmentada. Essa fragmentação, 
como consequência, ref letiu no espaço urbano, com a segregação dos 
espaços de acordo com a renda e a atividade econômica. Nesse contexto, 
surgiram as periferias urbanas, que representavam o espaço urbano desti-
nado e possível de ser consumido pela classe trabalhadora urbana, graças 
à especulação imobiliária e aos interesses empresariais e políticos na 
gestão do território.
Seja como for, os movimentos populacionais no Brasil foram inicia-
dos na época colonial, devido aos ciclos econômicos e à necessidade de 
sobrevivência e busca de oportunidades. Tais movimentos se estenderam 
durante séculos, sendo a região Nordeste a principal fonte de emigrantes, 
enquanto a região centro-sul do país foi a maior receptora de migrantes. Os 
deslocamentos populacionais no país foram motivados majoritariamente 
por questões econômicas, na busca por melhores condições de vida e de 
trabalho. Essas movimentações promoveram uma série de consequências, 
que intensificaram as desigualdades regionais e fomentaram problemas 
sociais associados ao êxodo rural, em que pessoas com pouca qualificação 
não conseguiam boas colocações no mercado de trabalho urbano. O mesmo 
se aplica às migrações entre cidades, que geralmente envolve pessoas menos 
qualificadas que buscam novas oportunidades.
19Migrações internas no Brasil
DANTAS, E. M.; MORAIS, I. R.; FERNANDES, M. J. C. Geografia da população. 2. ed. Natal: 
EDUFRN, 2011.
ESTUDA.COM. Questão 159819. 2016. Disponível em: http://www.estudavest.com.br/
questoes/?id=159819. Acesso em: 28 abr. 2020.
FURTADO, C. Formação econômicado Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
OLIVEIRA, A. T. R. Dos movimentos populacionais à pendularidade: uma revisão do 
fenômeno migratório no Brasil. In: ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS POPULACIO-
NAIS, 15., ABEP, Caxambú, MG, Brasil, 2006. 
PATARRA, N. L. Movimentos migratórios no Brasil: tempo e espaços. Rio de Janeiro: Escola 
Nacional de Ciências Estatísticas, 2003.
Leituras recomendadas
DAMIANI, A. População e geografia. São Paulo: Contexto, 1991. 
MARTINI, G. (Org.). População, meio ambiente e desenvolvimento: verdade e contradições. 
São Paulo: UNICAMP, 1996.
RIOS NETO, E. L. G. A população nas políticas públicas: gênero, geração e raça. Brasília: 
CNPD/UNFPA, 2006.
SANTOS, J.; LEVY, M. S.; SZMRECSANYI, T. (Org.). Dinâmica da população: teoria, métodos 
e técnicas de análise. São Paulo: T.A. Queiroz, 1980.
THUMERELLE, P. J. As populações do mundo. Lisboa: Instituto Piaget, 2001. 
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