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APOSTILA-DE-INTERPRETE-DE-LINGUA-BRASILEIRA-DE-SINAIS-EM-SALA-DE-AULA

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1 
 
 
INTERPRETE DE LINGUA BRASILEIRA DE SINAIS EM SALA 
DE AULA 
1 
 
 
Sumário 
 
NOSSA HISTÓRIA ...................................................................................................... 2 
1.INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 3 
LIBRAS NO BRASIL: CONCEITOS INTRODUTÓRIOS ............................................. 3 
MARCOS LEGAIS ....................................................................................................... 4 
INTÉRPRETES CÓDIGO DE ÉTICA .......................................................................... 7 
3.A INTERAÇÃO INTÉRPRETE E ALUNO SURDO ................................................... 9 
REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................................ 15 
1.TIPO DE ESTUDO ................................................................................................. 21 
2.CAMPO DE ESTUDO ............................................................................................ 21 
3.DADOS E ANÁLISES ............................................................................................. 22 
4.FATOR RELACIONAL............................................................................................ 22 
6.CONCLUSÕES ...................................................................................................... 29 
7.REFERÊNCIAS ......................................................................................................31 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 
 
 
 
 
 
 NOSSA HISTÓRIA 
 
 
A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, 
em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-
Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo 
serviços educacionais em nível superior. 
A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de 
conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação 
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. 
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que 
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de 
publicação ou outras normas de comunicação. 
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma 
confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base 
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições 
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, 
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 
 
 
 
 
3 
 
 
 
 
 
 
1. Introdução 
LIBRAS NO BRASIL: Conceitos Introdutórios 
 A história reporta que o Brasil ainda era uma colônia portuguesa governada 
pelo imperador Dom Pedro II quando a língua de sinais para surdos aportou no país, 
mais precisamente no Rio de Janeiro. Em 1856, o conde francês Ernest Huet 
desembarcou na capital fluminense com o alfabeto manual francês e alguns sinais. 
Segundo estudiosos do assunto, o material trazido pelo conde, que era surdo, deu 
origem à Língua Brasileira de Sinais (Libras). 
O primeiro órgão no Brasil a desenvolver trabalhos com surdos e mudos surgiu 
em 1857. Foi do então Instituto dos Surdos-Mudos do Rio de Janeiro, hoje Instituto 
Nacional de Educação de Surdos (INES), que saíram os principais divulgadores da 
Libras. A iconografia dos sinais, ou seja, a criação dos símbolos só foi apresentada 
em 1873, pelo aluno surdo Flausino José da Gama. 
Ela é o resultado da mistura da Língua de Sinais Francesa com a Língua de 
Sinais Brasileira antiga, já usada pelos surdos das várias regiões do Brasil. 
Mesmo com língua própria, os surdos ainda sofrem com a diversidade e o preconceito. 
Infelizmente a concepção dos ouvintes é a do surdo como incapaz de opinar e de 
tomar decisões sobre seus próprios assuntos. O papel da língua de sinais na 
educação regular é um fator relevante na vivência social dos surdos, pois promoverá 
um maior entendimento entre a cultura ouvinte e não-ouvinte. Entretanto, o desafio de 
inclusão na sociedade estudantil tem se tornado algo efetivo, com oficialização da lei 
da Língua Brasileira de Sinais (Libras). 
 
 
 
4 
 
 
 
 
 
Marcos legais 
A LIBRAS é uma língua formalmente estruturada e nasceu da necessidade dos 
surdos se comunicarem. A Lei n.10.436, de 24 abril de 2002 legalizou a Língua 
Brasileira de Sinais no Brasil, pois assim diz no artigo 1° : É reconhecida como meio 
legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS e outros 
recursos de expressão a ela associados e ainda define no parágrafo único: 
Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais-Libras a forma 
de comunicação e expressão, em que o sistema lingüístico de natureza visual motora, 
com estrutura gramatical própria, constitui um sistema lingüístico de transmissão de 
idéias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. (Lei n.10.436, 
de 24 abril de 2002) 
O Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005 regulamenta esta Lei e 
estabelece a Libras como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de 
Professores. A importância deste decreto está no número de professores que 
desconhecem ou não se consideram com habilidades adequadas para o uso desta 
língua. As justificativas são diversas, entre elas, a inexistência de um curso de Libras 
em algumas localidades dos estados brasileiros, ou a falta de coordenação motora na 
configuração (posição) dos sinais. 
Todavia, os deficientes auditivos, também são penalizados com essa falta de 
adequação dos educadores. A expressão real disso é o fracasso de muitos alunos na 
tentativa de leitura labial, a incompreensão e falta de interpretação de textos de modo 
geral, a dificuldade na escrita do português e, por conseqüência, a evasão escolar. 
A escolarização de surdos não esteve e não está voltada para a legitimação de 
um sujeito letrado. Desconsiderou a língua dos surdos brasileiros, a Libras (Língua 
Brasileira de Sinais), vendo-a como simplórios gestos agramaticais para tentar se 
expressar para o falante da língua portuguesa, e em muitos espaços educacionais e 
para muitas pessoas no Brasil tal descaracterização vale-se até o presente momento. 
5 
 
 
Todavia, a Libras possui gramaticalidade própria e reformula a concepção de 
língua, e engendra na comunidade que a utiliza uma identidade linguística autêntica. 
(RIBEIRO, apud MELLO e RIBEIRO, 2004, p.65). Tendo a escola, principalmente a 
pública, o papel de formar para a cidadania, cabe ater-se ao verdadeiro papel do 
intérprete, uma vez que o educador de escola regular não se encontra preparado para 
atender os educandos surdos. Se o aluno surdo não mantém uma comunicação 
eficiente em sala de aula e na sociedade e o homem como ser histórico-cultural é 
também formado pela linguagem, a essência do processo educativo ficaria assim, 
comprometida. 
 
 
2. A função do intérprete como mediador da aprendizagem 
e da ensinagem 
O trabalho do intérprete ultrapassa a mera decodificação dos conteúdos 
ministrados e/ou situações de interação, ele é o elo de sedimentação na construção 
da cultura. O professor não capacitado encontra significativas barreiras na 
comunicação com o aluno surdo, assim a atuação do intérprete é de extrema 
importância para junto com o professor propiciar a construção do conhecimento que 
leve o aluno ao pleno exercício de sua cidadania. 
Embora alguns professores sejam capacitados, são frutos de uma sociedade 
que supervaloriza a escrita como a chave do conhecimento, pois tem poder aquele 
que sabe cifrar e decifrar códigos. Assim a presença do intérprete não será 
dispensada, pois a estratégia do professor que ministraaulas em português e Libras, 
já foi utilizada e não funcionou de forma efetiva. Atualmente com salas superlotadas, 
uma inclusão feita com pouco apoio especializado e quase nenhuma capacitação para 
o professor que está em sala de aula seria no mínimo irreal. Chega a ser desumano 
exigir de um professor que sozinho atenda a todas as diversidades: educacionais 
eculturais encontradas na sala de aula. Sendo a educação de qualidade aquela que 
realmente parte da situação real em que o educando se encontra, deve-se, portanto 
refletir criticamente sobre a postura do intérprete que melhor se adapte à realidade 
brasileira. O intérprete de língua de sinais é a pessoa que traduz e interpreta a língua 
de sinais para a língua falada e vice-versa em qualquer modalidade que se apresentar 
6 
 
 
(oral ou escrita) (MEC. 2002). O mesmo documento afirma que a tradução da língua 
oral para a língua de sinais tem como foco de estudo e treinamento dos profissionais 
intérpretes, o vocabulário e as palavras. Todavia os significados das palavras podem 
variar de acordo com os contextos, com as pessoas que participam do processo 
comunicativo e impreterivelmente com o intérprete, sua formação, seu entendimento 
quanto a sua função e a visão que a instituição onde está trabalhando tem de sua 
função. 
Principalmente quando esta instituição é uma instituição educacional ou seu 
evento tenha, mesmo que momentaneamente, um objetivo educacional. Caso a 
postura do intérprete fosse neutra, o que é impossível em qualquer ato comunicativo, 
implicaria em comprometimento com o objetivo de todo ato educativo. Se a figura do 
intérprete deve apenas decodificar, poderá ocorrer no processo de ensino o que 
FREIRE denominou “ensino bancário”, o qual deforma educando e educador. Como 
o próprio reafirma em: É por isso que transformar a experiência educativa em puro 
treinamento técnico é amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no 
exercício educativo, o seu caráter formador.(FREIRE,1996). 
A postura do intérprete em sala de aula não deve promover a redução das 
oportunidades comunicativas, pois está embutido em seu papel o atendimento de 
necessidades imediatas, situar o aluno no tempo e no espaço. 
No Brasil o ensino de Libras, logo a “formação” do intérprete, ocorria até a 
regulamentação da língua de sinais em instituições que lutam em prol do surdo e os 
organizam bem como suas famílias. Temos a Feneis e as Apadas com cursos de 
carga horária variada mas todos de curta duração com o objetivo de disseminar a 
língua de sinais e capacitar pessoas para o auxílio à comunidade surda, bem como 
sua comunicação. 
A Feneis reconhecendo a importância do papel do intérprete e valorizando o 
tempo de dedicação que levam para se aprimorarem, vem esclarecendo em palestras, 
encontros e em cursos que não basta a pessoa ter noções de Língua de Sinais e ser 
avaliada apta para exercer a profissão de intérprete, uma vez que a interpretação é 
muito mais do que sinalizar é um processo complexo para transmissão de informações, 
onde deverão garantir ao Surdo o pleno entendimento do que está sendo traduzido. 
E como se preparar para ser um intérprete? Inicialmente as pessoas interessadas 
7 
 
 
deverão freqüentar cursos de Língua de Sinais ter convivência com os Surdos nas 
associações, a fim de praticarem o que têm aprendido. 
Não basta apenas ter conhecimento da língua de sinais, é muito importante que 
se tenha uma boa fluência para ser tornar um profissional versátil para interpretar da 
Língua de Sinais para a Língua Portuguesa e vice-versa. Assim como o respeito e a 
postura ética em sua atuação com a Pessoa Surda são fundamentais para o 
reconhecimento positivo de seu trabalho (FENEIS 1). 
O que tem orientado os intérpretes no modelo de relações a serem 
estabelecidas no ambiente de trabalho, inclusive o intérprete educacional, é o código 
de ética organizado pela Feneis. 
Este faz parte do Regimento Interno do Departamento Nacional de Intérpretes 
e entende que o intérprete deve intermediar a interação comunicativa. O referido 
código foi aprovado em 1992 no II Encontro Nacional de Intérpretes na cidade do Rio 
de Janeiro, adaptado do Interpreting for Deaf People, Stephen (Ed) USA reproduzido 
a seguir (Brasil. Secretaria Nacional de Justiça, 2009, p.13). 
Intérpretes Código de Ética 
 
1) O intérprete deve ser uma pessoa de alto caráter moral, honesto, consciente, 
confidente e de equilíbrio emocional. Ele guardará informações confidenciais e não 
poderá trair confidências, as quais foram confiadas a ele; 
2) O intérprete deve manter uma atitude imparcial durante o transcurso da 
interpretação, evitando interferências e opiniões próprias, a menos que seja 
perguntado pelo grupo a fazê-lo. 
3) O intérprete deve interpretar fielmente e com o melhor da sua habilidade, sempre 
transmitindo o pensamento, a intenção e o espírito do palestrante. Ele deve lembrar 
os limites da sua função particular - de forma neutra - e não ir além da sua 
responsabilidade. 
4) O intérprete deve reconhecer seu próprio nível de competência e usar prudência 
em aceitar tarefas, procurando assistência de outros intérpretes e/ou profissionais, 
quando necessário, especialmente em palestrastécnicas. 
8 
 
 
5) O intérprete deve adotar uma conduta adequada de se vestir, sem adereços, 
mantendo a dignidade da profissão e não chamando atenção indevida sobre si mesmo, 
durante o exercício da função; 
6) O intérprete deve ser remunerado por serviços prestados e se dispor a providenciar 
serviços de interpretação, em situações onde fundos não são disponíveis. 
7) Acordos a níveis profissionais devem ter remuneração de acordo com a tabela de 
cada estado, aprovada pela FENEIS; 
8) O intérprete jamais deve encorajar pessoas surdas a buscarem decisões legais ou 
outras em seu favor; 
9) O intérprete deve considerar os diversos níveis da Língua Brasileira de Sinais. Em 
casos legais, o intérprete deve informar à autoridade quando o nível de comunicação 
da pessoa surda envolvida é tal, que a interpretação literal não é possível e o intérprete, 
então, terá de parafrasear de modo crasso o que se está dizendo para a pessoa surda 
e o que ela está dizendo à autoridade. 
10) O intérprete deve se esforçar para reconhecer os vários tipos de assistência 
necessitados pelo surdo e fazer o melhor para atender as suas necessidades 
particulares. 
11) Reconhecendo a necessidade para o seu desenvolvimento profissional, o 
intérprete deve se agrupar com colegas profissionais com o propósito de dividir novos 
conhecimentos e desenvolvimentos, procurar compreender as implicações da surdez 
e as necessidades particulares da pessoa surda alargando sua educação e 
conhecimento da vida, e desenvolver suas capacidades expressivas e receptivas em 
interpretação e tradução. 
12) O intérprete deve procurarmanter a dignidade, o respeito e a pureza da Língua de 
Sinais. E também deve estar pronto para aprender e aceitar sinais novos, se isto for 
necessário para o entendimento. 
13) O intérprete deve esclarecer o público no que diz respeito ao surdo sempre que 
possível, reconhecendo que muitos equívocos (má informação) tem surgido por causa 
da falta de conhecimento do público na área da surdez e comunicação com o 
surdo(FENEIS 2). 
9 
 
 
Para assegurar o acesso à comunicação, à informação e à educação a atuação 
do intérprete deve ocorrer de forma a estabelecer padrões de linguagem, a 
tradução/interpretação deve ser feita de maneira que o significado seja estabelecido 
diante das diferenças lexicais e culturais, visando proporcionar uma completa 
compreensão. 
Ainda não estamos preparados devidamente para colocarmos intérpretes nas 
instituições, pois há controvérsias nas interpretações de alguns. Porém, com as 
universidades criando cursos de graduação e pós-graduação para esta área, talvez 
futuramente tenhamos intérpretes fiéis ao que os surdosdizem. 
Não há nada contra os atuais, mas são poucos os intérpretes em que os surdos 
realmente confiam e que compreendem o que dizem fielmente. A maior parte dos que 
interpretam, atualmente, são oriundos de igrejas e têm pouco conhecimento dos 
aspectos educacionais que englobam a tradução e interpretação dentro de uma 
instituição de ensino. 
3. A interação intérprete e aluno surdo 
Para que a escola assuma uma postura inclusiva, visando atender a qualquer 
tipo de necessidade especial principalmente ao surdo cuja comunicação se dá em 
outralíngua, é de grande importância que todos participem ativamente dessa nova 
proposta educativa, uma vez que a comunicação é condição indispensável para a 
inclusão. “Sem a interação, o monologismo nega ao extremo, pois no enfoque 
monológico o outro permanece inteiramente apenas objeto da consciência e não outra 
consciência” (BAKHTIN, 2003.p 348). 
Segundo a SEESP (1997) compete ao professor regente liderar a classe, o 
processo de ensino-aprendizagem, resumir as aulas no quadro e avaliar os alunos e 
ao intérprete interpretar somente e não explicar o conteúdo, porém, existem 
instituições que têm organizado seu trabalho pedagógico sobre outro prisma no qual 
o intérprete na sala de aula não é um estranho na educação e sim parte integrante do 
sistema. 
Além do domínio das línguas envolvidas no processo de tradução e 
interpretação, o profissional precisa ter qualificação específica para atuar como tal. 
Isso significa ter domínio dos processos, dos modelos, das estratégias e técnicas de 
10 
 
 
tradução e interpretação. O profissional também deve ter formação específica na área 
de sua atuação - por exemplo, a área de educação (FAETEC - Gerência do Programa 
de Inclusão: Eliminando barreiras à aprendizagem e à participação). 
Na educação é indispensável que o intérprete seja um educador e tenha para tal a 
devida formação. Hoje na filosofia do bilingüismo, lidamos com uma clientela que 
ainda se encontra em processo de formação e transição. No que tange a atuação e a 
aceitação desta nova filosofia de educação de surdos e têm os envolvidos no processo 
sua postura muito influenciada por antigos ideais elinhas de atuação, além de grande 
influência da visão cultural preconceituosa da sociedade. 
Os surdos que estão nas escolas nos dias de hoje, passaram por muito tempo 
em classes especiais, em sua maioria não lêem, não têm uma boa comunicação oral 
e em alguns casos não dominam a Libras. Esse grande período sem uma 
comunicação adequada que em Libras ou Português gera dificuldades na 
aprendizagem até mesmo em resolver problemas simples do cotidiano. 
Segundo as orientações dadas aos intérpretes, a função destes é apenas 
codificar e decodificar as interações comunicativas. Porém, diante da realidade 
escolar em que a maioria dos professores desconhecem o embasamento teórico da 
educação especial, incluindo a educação de surdos, é necessário que tais 
determinações sejam vistas por outro prisma. 
Diante deste quadro: salas superlotadas, alunos incluídos, formação 
acadêmica insuficiente, carência de apoio especializado; é essencial um total 
entrosamento do profissional intérprete neste contexto. Este, portanto, deve ser visto 
como parte do apoio especializado, pois está inteirado da realidade do trabalho com 
surdos. Desde que tenha formação atualizada para isso, pode também, favorecer o 
atendimento a outros educandos com necessidades especiais. 
Hoje entendemos que o surdo participa de uma cultura na qual poucos ouvintes 
estão inseridos, a cultura surda; assim este tem formas de compreender o mundo e 
se relacionar com ele bem diferentes dos ouvintes. No universo escolar, isso se 
acentua, em relação às diferenças lexicais entre a língua portuguesa e a língua de 
sinais, os professoresdesconhecem-nas e isso impossibilita e ou dificulta a avaliação 
do aluno surdo em atividades escritas. Nessas situações onde o retorno, resposta em 
português gramaticalmente correto, não é o alcançado, somado ao desconhecimento 
11 
 
 
das especificidades do educando surdo, o professor entende que o aluno também tem 
problemas de ordem cognitiva, confirmando o senso comum que é atribuído ao surdo. 
Na atuação do intérprete quanto à língua portuguesa é preciso que este faça 
intervenções que favoreçam o aluno, uma vez que tratamos do intérprete escolar e o 
objetivo é proporcionar a construção do conhecimento do educando. Como por 
exemplo, em uma aula de Português, o sentido conotativo para o surdo é muito 
complicado, pois quando se faz a tradução literal ele não atribui sentido (com o foco 
da tradução nas palavras), como acontece com as classes populares no ambiente 
escolar que privilegia a visão elitista de língua. 
Por outro lado, quando o intérprete faz a tradução com o objetivo de informar o 
conteúdo (com o foco da interpretação na mensagem) que foi dito e não pode intervir 
neste processo fazendo paralelos entre o Português e a Libras o aluno perde, afinal 
teve a informação contextualizada, todavia não teve a oportunidade de perceber a 
diferença da língua portuguesa para a Libras. Entendo como indispensável tal 
intervenção, proporcionando a informação e consequentemente um maior contato 
com a língua portuguesa que auxiliará na leitura de texto e em sua produção. 
O aluno deve ser preparado para atuar com a maior autonomia possível na 
sociedade uma vez que o intérprete está presenteapenas na sala de aula. 
Na comunicação que não se baseia na língua portuguesa nem na língua de sinais, ao 
tentar compreender as expressões faciais, por exemplo, os olhares dos educandos 
surdos os quais não são os mesmo dos ouvintes, o professor pode fazer 
interpretações errôneas, podendo explicar novamente, usando outros meios para se 
fazer entender e com o surdo isso não é possível, porque algumas expressões de 
sentido figurado pode ser algo extremamente complexo, o que poderá fazer com que 
sua compreensão seja limitada. 
Em momentos como este é indispensável que o intérprete comunique ao 
professor, obviamente de forma discreta e sem atrapalhar o andamento e sem 
demonstrar questionamento frente a sua autoridade, evitando assim que uma dúvida 
seja levada adiante e atrapalhe futuramente o processo de aprendizagem. 
Conhecendo um pouco a postura e reações das minorias sejam étnicas, sociais, 
lingüísticas e tomando também como base situações vivenciadas por todos nós nas 
quais somos, mesmo que por um momento, minorias, sabemos que por via de regra, 
12 
 
 
minorias e pessoas em situações desfavoráveis tendem a omitir-se. 
Principalmente nas relações de aprendizagem ninguém quer deixar em evidência que 
não sabe, embora esta seja uma postura que a educação tenta mudar atribuindo o 
erro como parte do processo de aprendizagem a cultura dominante e magnetizada 
pelos apelos da mídia. 
Diante de tais considerações verifica-se ser de suma importância uma 
estruturação das perspectivas que vêm orientando o trabalho do intérprete 
educacional, buscando uma proposta que se adéque a nossa realidade, na qual o 
intérprete também é um educador e age ativamente em harmonia com o professor 
para galgar um maior desenvolvimento de seus alunos. 
Consequentemente, para tal postura o profissional intérprete deve ter formação 
acadêmica na área educacional. Assim como os cursos de formação para estes 
profissionais devem oferecer uma estrutura curricular e metodológica organizada a fim 
de suprir a carência, no que tange às teorias da educação, bem como proporcionar 
uma atualização de profissionais que possam já possuir formação profissional na área 
da educação. Qualquer pessoa, surda ou não, necessita ser aceito, sentir-se: amado, 
importante e útil na sociedade em que vive, precisa ser capaz de lutar por seus 
objetivos e de ter oportunidade para realizá-los. No Brasil as escolas utilizam a forma 
de comunicação bimodal, no entanto, valoriza-se maisa oralidade do que o conteúdo. 
Os professores colocam-se como fonoaudiólogos e tratam os surdos como um doente 
a ser curado (pela fala) para ser integrado no mundo ouvinte (mundo são/normal), por 
isso é fundamental aceitar a opinião dos surdos sobre a melhor forma para educá-los. 
O ideal seria que existissem várias formas de trabalho com as crianças de 
acordo com as suas características individuais e sua forma de comunicação até ela 
adquirir certa maturidade para reconhecer e valorizar sua cultura e sua língua. É 
fundamental que se faça um diagnóstico da criança o mais cedo possível para detectar 
o tipo de surdez, que pode ser do tipo leve, moderada ou profunda, sendo que, os dois 
primeiros necessitam de encaminhamento a protetização. 
Acriança deve ser estimulada na escola pelo professor, em casa pela família e em 
clínicas especializadas por profissionais habilitados. 
Essa estimulação deve começar com a criança ainda bebê, pois é nessa fase 
que a criança aprende mais rápido. Vale salientar que devemos respeitar a opinião 
13 
 
 
dos pais ao se eleger uma metodologia para educar seus filhos, no entanto, eles 
precisam estar conscientes sobre as limitações de cada uma delas. A inteligência não 
verbal é igual entre surdos e ouvintes. 
O uso da linguagem gestual desde a primeira infância, pelo surdo, proporciona 
um desenvolvimento normal de inteligência e de pensamento não verbais que é 
comprovado através da aplicação de testes. A forma como a escola vai desenvolver 
o currículo com as crianças surdas vai depender de sua proposta pedagógica e do 
número de crianças surdas matriculadas. 
É importante ter a clareza de que o que faz a diferença na educação do surdo 
não é se a escola é especial ou se é escola comum, mas sim a excelência de seu 
trabalho. Portanto, o mais importante é que a escola tenha um programa pedagógico 
que atenda às necessidades do aluno com surdez, que ofereça capacitação para a 
comunidade escolar, que busque parcerias e que tenha em seu quadro de 
profissionais todos os elementos necessários para o desenvolvimento do trabalho, de 
forma a educar um indivíduo socialmente ajustado, pessoalmente completo, 
autônomo e competente, ou seja, um cidadão. A construção de uma educação 
inclusiva requer uma mudança de paradigma na percepção do que é educação. O 
papel fundamental da educação das pessoas e das sociedades amplia-se ainda no 
despertar do novo milênio e aponta para a necessidade de se construir uma escola 
voltada para a formação de cidadãos. (Brasil, 1999) 
Há necessidade de se ver a pessoa como um todo, respeitar as suas diferenças 
e utilizá-las para a construção de uma sociedade, na qual o somatório das diferenças 
resulte na construção de um todo mais harmonioso e feliz. Assim sendo, todos têm a 
contribuir uns com os outros para construção de um novo homem. 
Percebendo a necessidade de uma educação de qualidade ao aluno surdo, é 
imprescindível a capacitação, qualificação e a pesquisa por parte do profissional de 
Libras, pois são muitas as peculiaridades envolvidas no processo de ensino-
aprendizagem, e ele é o canal direto entre o aluno e o professor. 
Visando um ensino de qualidade, a escola deve proporcionar ao aluno surdo meios 
que propiciem a ele o máximo desenvolvimento de suas capacidades e habilidades, 
utilizando-se de estratégias e recursos diversificados e adequados a cada aluno; 
14 
 
 
respeitando suas peculiaridades e necessidades, levando-o a ter condições de vida 
dignas dentro de seu grupo social. 
É preciso fazer uma ligação direta entre o ensino regular e o ensino da Libras, 
por meio do intérprete, tornando-se um só, gerando ganhos reais a todos os 
envolvidos neste processo educacional. Porém ainda requer ajustes e interação entre 
professores regentes e intérpretes da Língua Brasileira de Sinais, pois o intérprete é 
sem dúvida, o elo entre professor e aluno, acabando assim, com as barreiras 
comunicativas e interagindo o aluno surdo integralmente com o grupo no qual convive. 
O presente capítulo apresenta uma pesquisa que tem como foco o tradutor 
intérprete de LIBRAS e sua atuação na sala de aula e, como objeto de estudo a 
mediação entre este profissional e o/a aluno/a surdo/a. A política de inclusão cada vez 
mais estimula a matrícula de estudantes com deficiência nas escolas regulares, 
conforme demonstrado pelos inúmeros CENSOS Escolares do Instituto Nacional de 
Estudos e Pesquisas em Educação. 
Quando se trata da educação de estudantes surdos, o debate sobre sua 
inclusão envolve desacordos, polêmicas e inúmeras dúvidas acerca da efetividade 
deste processo porque o surdo usa uma língua diferente da portuguesa para se 
comunicar: a LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) e necessita de um suporte 
muito especifico e especializado na sala de aula: o tradutor interprete. 
Como esta língua não é a língua da maioria das pessoas que constituem a 
comunidade escolar, o estudante surdo precisa que o tradutor intérprete esteja 
sempre ao seu lado na sala de aula e nos outros espaços escolares para poder se 
comunicar e se integrar às atividades e grupos. 
Atualmente, como apresento neste capítulo, uma série de documentos oficiais 
oferecem aporte legal à consolidação desta atividade como uma atividade 
profissional, tendo sido publicadas leis e decretos que tratam da formação e 
contratação do T-I. Em 1º de setembro de 2010 foi reconhecida a profissão do 
intérprete de Língua de Sinais através da Lei n° 12.312. Anseio que essa pesquisa 
influencie o interesse de outros pesquisadores para que construam estudos que 
reflitam sobre a importância do intérprete de LIBRAS, profissional esse responsável 
diretamente pela inclusão do surdo na escola e no futuro na sociedade. Ressalto que 
a importância desse estudo se dá pelo aumento do número de alunos surdos e 
15 
 
 
consequentemente pelo aumento da contratação de T-I nas instituições de ensino. 
Ao sugerir estudar a atuação do intérprete de LIBRAS, acredito na importância 
desse profissional na formação acadêmica e social do surdo. 
Por este motivo faz se necessário conhecer as relações por ele vividas para 
assim compreendermos melhor a importância dessas relações nesta formação. 
Em geral se referem às pessoas com surdez de formas diferentes, como deficientes 
auditivos, pessoas com deficiência auditiva, portadores de necessidades especiais e 
etc. Neste capítulo usarei a designação da Convenção dos Direitos da PcD (ONU, 
2006), respeitando a escolha da comunidade surda, qual seja, “pessoa surda/aluno 
surdo”. Este capítulo foi organizado em quatro partes. Na primeira abordo o 
profissional T-I, a história de sua profissionalização, sua formação e sua atuação na 
escola. 
Na segunda trago o percurso metodológico adotado para a realização do 
presente estudo exploratório descritivo. Na terceira apresento os dados 
organizados em forma de categorias, as quais são analisadas e relacionadas ao 
referencial teórico e, finalmente, a quarta parte apresenta a conclusão do 
estudo. 
Referencial Teórico 
 O Tradutor-Intérprete: um apoio educacional especializado necessário 
“Considerando a realidade brasileira, onde as escolas públicas e 
privadas têm surdos matriculados nos diferentes níveis de ensino, 
seria impossível atender ás exigências da legislação que determina 
o acesso e permanência do aluno na escola observando suas 
diferenças sem a presença de intérpretes de língua de sinais”. 
(QUADROS, 2004, p. 59) 
As Diretrizes da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da 
Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), com relação à inclusão do aluno surdo 
estabelece que “o atendimento educacional especializado é realizado mediante a 
atuação de profissionais com conhecimentos específicos no ensino 
da LIBRAS e da Língua Portuguesa na modalidade escrita como 
segunda língua...” (p. 23.) 
De acordo com a política, portanto, o AEE destinado ao surdo implica aoferta 
de serviços específicos no ensino e aprendizagem de Língua Brasileira de 
Sinais - LIBRAS nas escolas públicas e privadas, ou seja, a presença e 
atuação do tradutor-intérprete (T-I).O T-I em língua de sinais domina a 
16 
 
 
língua de sinais e a língua falada do país e é “qualificado” para desempenhar 
a função de intérprete.(Na sessão 1.2 discuto especificamente a formação 
deste profissional.) 
Claudia Parada, servidora da Procuradoria Geral Da República, em entrevista, 
conceitua o T-I como ´o profissional que tem competência e proficiência para 
interpretar da LIBRAS para a Língua Portuguesa, ou vice-versa (de forma 
simultânea ou consecutiva)´. Rodrigues (2012), por sua vez, afirma que o T-I 
é aquela pessoa “responsável por transpor discursos falados e escritos da 
Língua Portuguesa para a LIBRAS e da LIBRAS para Língua Portuguesa” 
(P.14), mas a transposição dos textos escritos se dá principalmente da 
LIBRAS para a língua escrita. Ou seja, a pessoa que interpreta de uma dada 
língua de sinais para outra língua, ou desta língua para uma língua de sinais, 
é considerado um T-I da LIBRAS”. (QUADROS 2005, p. 7), que 
responsabiliza-se „por dar uma forma ao sentido percebido, garantindo o 
melhor modo de fazer a mensagem chegar ao outro, sem ficar preso a formas 
linguísticas da língua partida´.(LACERDA, 2010, p. 16) 
Com o reconhecimento da LIBRAS, pela Lei N° 10.436 de 24 de Abril de 
2002, enquanto língua de fato, os surdos passaram a ter garantias de acesso 
à mesma como um direito linguístico. Como consequênciadesta garantia 
legal, as instituições escolares são obrigadas a garantir acessibilidade ao 
aluno surdo através do profissional T-I. 
Em vários países há profissionais da área de Tradução e Interpretação de 
Língua dos Sinais. A história da emergência deste profissional se deu 
paralelamente às conquistas sociais do movimento da comunidade surda. 
Inicialmente o T-I atuava como voluntário, mas gradualmente seu papel 
ganhou valor e reconhecimento profissional. Breve História da profissionalização do 
T-I no Brasil A presença do trabalho de intérpretes de LIBRAS no Brasil iniciou por 
volta dos anos 80 em trabalhos religiosos (QUADROS, 2004). Em 1988, ocorre o I 
Encontro Nacional de Intérpretes de LIBRAS organizado pela Federação 
Nacional de Educação de Surdos - FENEIS que, pela primeira vez, 
proporcionou o intercambio entre os intérpretes brasileiros e a avaliação 
sobre a ética do profissional intérprete. 
Em 1992, realizou-se o II Encontro Nacional de Intérpretes de LIBRAS, também 
organizado pelo FENEIS que promoveu o intercambio entre as diferentes experiências 
17 
 
 
dos intérpretes no país, discussões e votação do regimento interno do Departamento 
Nacional de Intérpretes. A partir dos anos 90 foram estabelecidas unidades de 
intérpretes ligadas ao escritório da FENEIS. Em 2000 foi disponibilizada a página4 
dos intérpretes de LIBRAS, na qual há uma lista de discussão via email para 
participação dos intérpretes. A lista é aberta também aos interessados. 
O inicio do século testemunha a expansão dos direitos dos surdos com a 
abertura de seis escritórios da FENEIS em todas as regiões brasileiras: São Paulo 
(SP), Porto Alegre (RS), Belo Horizonte e Teófilo Otoni (MG), Recife 
(PE) e Brasília. Entre 2000 e 2012 inúmeras leis foram aprovadas no Brasil e 
dão a sustentação legal à valorização profissional do T-I. Como a Lei de 
Acessibilidade No. 10.098/2000; o Plano Nacional de Educação - Lei No. 
10.172/01; as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação 
Básica - Resolução MEC/CNE No. 02/2001; Portaria 3284/2003 que substituiu 
a Portaria 1670/1999 e a Lei nº 12.319. 
Juntas essas leis e portarias reconhecem o T-I como profissional, estabelecem 
a obrigatoriedade da sua atuação em diferentes tipos de instituições e, 
regulamentam sua formação, conforme detalhada a seguir. A formação do tradutor-
intérprete de LIBRAS. 
A profissão de T-I da LIBRAS foi reconhecida no dia 1º de setembro de 2010 
com a aprovação da Lei nº 12.319 que regulamenta a formação do T-I em 
nível médio. Mas foi cinco anos antes, em 2005, com a aprovação do Decreto 
5.626/05, que foram estabelecidos os critérios com relação às exigências para 
a formação deste profissional. O artigo 17 do Capítulo V do Decreto acima 
citado, determina que a formação deste profissional deva ocorrer ´por meio 
de curso superior de tradução-interpretação, com habilitação em 
LetrasLibras´(BRASIL 2005, p.02). 
O artigo recomenda ainda o reconhecimento da profissão igualmente com os 
tradutores - interpretes de outras línguas. Todavia, há um debate sobre a 
necessidade dessa formação ser vinculada a cursos de Letras ou não. Muitos 
defendem que a formação do T-I deva ocorrer dentro do currículo do curso de 
Letras, mas muitos cursos de formação em Tradução e Interpretação de 
Língua de Sinais se estabelecem de forma autônoma em diferentes 
instituições de ensino superior, em diferentes países (LACERDA 2010). 
18 
 
 
O artigo 19 do mesmo Decreto (BRASIL 2005, p.04) define os critérios para a 
atuação em instituições de ensino do T-I que não conseguiram adquirir a 
titulação exigida de graduado em Letras e Libras durante os 10 anos após a 
aprovação do Decreto Nº 5.626/05: ser ouvinte, ter nível superior, possuir 
competência e fluência em LIBRAS, ser aprovado no Exame de Proficiência 
(exame que mede o conhecimento sobre uma outra língua, no caso a LIBRAS) 
promovido pelo MEC. 
Apesar da legislação que regulamenta a profissão de T-I ser recente no Brasil, 
a atuação do T-I teve início nos anos 80, como atividade voluntária. Não podemos 
negar que os anos de experiência proporcionaram aos interpretes a construção sem 
caráter científico de padrões importantes para o processo de sua 
profissionalização (QUADROS, 2004) 
A Lei nº 12.319/2010 que trata da formação do T-I da LIBRAS, estabelece que 
a formação em nível médio, deve ser realizada por meio de “cursos de educação 
profissional reconhecidos pelo sistema que os credenciou; cursos de extensão 
universitária; e cursos de formação continuada promovidos por instituições de 
ensino superior e instituições credenciadas por Secretarias de Educação ou por 
intermédio de organizações da sociedade representativas da comunidade surda, que 
tenham o seu certificado convalidado por uma das Secretarias de Educação.” 
Vale ressaltar que um curso de formação de T-I difere de um curso de LIBRAS 
comum. Em geral, os participantes curso de formação de T-I já possuem um 
bom nível de fluência na língua brasileira de sinais, pois durante o curso é 
esperado que o T-I aprofunde seu conhecimento teórico de diversas temáticas 
relacionadas a LIBRAS, além de atingir uma maior fluência nas duas modalidades 
linguísticas em questão e desenvolver técnicas de tradução/interpretação. 
Em 2005, também por influência do Decreto nº 5.626, foi criado o exame 
PROLIBRAS reconhecido pelo Ministério da Educação, que tem como objetivo 
avaliar a Proficiência em LIBRAS da pessoa que pretende se profissionalizar em 
T-I. 
Este exame possui autoridade para certificar em território nacional a atuação 
de novos profissionais, independente de sua formação inicial, tanto aqueles com 
formação superior quanto os com formação em nível médio, sendo aprovados no 
PROLIBRAS estarão aptos a atuar como T-I, a fim de emergencialmente garantir 
o cumprimento legal da disponibilização de T-I nas escolas, e demais espaços 
19 
 
 
onde os surdos estejam inseridos, como parte da inclusão das pessoas surdas 
nas várias esfera sociais. Este exame anual é previsto como medida temporária e 
seu vigor será até o dia 22 de dezembro de 2015. 
 
4. O tradutor-intérprete de LIBRAS na escola 
O T-I é o profissional que atua como interprete de língua de sinais nos espaços 
educacionais. Esta constitui uma área bastante requisitada atualmente porque a cada 
ano cresce o númerode pessoas surdas que tem acesso a LIBRAS e à escolarização 
regular. Apesar de ainda não ser possível “distinguir formalmente 
as áreas de atuação do intérprete de LIBRAS, a categoria vem distinguindo sua 
atuação de acordo com a sua formação, afinidade e conhecimento na área em 
que atua”.(QUADROS, 2004, p. 35) o que favorece a especialização em áreas. 
Apesar da legislação que torna obrigatória desde 2006 a disponibilização de T-
I nas escolas onde há matriculas de alunos surdos e também apenas da crescente 
presença do surdo nas escolas brasileiras, alguns profissionais da educação ainda 
resistem a este profissional em suas turmas. Sua ação pedagógica é pautada no 
processo de tradução e não no de ensino. 
Dessa forma, na sala de aula os T-I são orientados a redirecionar os 
questionamentos dos alunos ao professor, caracterizando seu papel na intermediação. 
Nesse contexto, o professor precisa passar pelo processo de aprendizagem de ter no 
grupo um contexto diferenciado com a presença de alunos surdos e de interpretes. A 
adequação da estrutura física da sala de aula, a 
disposição das pessoas em sala de aula, a adequação da forma de 
exposição por parte do professor são exemplos de aspectos a serem reconsiderados 
em sala de aula. (QUADROS, 2004, p. 63) De acordo com o Decreto nº 5.626/05, a 
função do intérprete é disponibilizar ao aluno surdo o acesso aos conteúdos 
curriculares, em todas as atividades didático-pedagógicas, e agir como apoio a 
acessibilidade aos serviços e às atividades da instituição de ensino. 
Além disso, a Lei nº 12.319/10 (BRASIL 2010) ainda ressalva que: 
Art. 7º O intérprete deve exercer sua profissão com rigor técnico, zelando pelos 
valores éticos a ela inerentes, pelo respeito à pessoa humana e à cultura do surdo e, 
em especial: 
20 
 
 
I – pela honestidade e discrição, protegendo o direito de sigilo da 
informação recebida; 
II – pela atuação livre de preconceito de origem, raça, credo 
religioso, idade, sexo ou orientação sexual ou gênero; 
III – pela imparcialidade e fidelidade aos conteúdos que lhe couber 
traduzir; 
IV – pela postura e conduta adequadas aos ambientes que 
frequentar por causa do exercício profissional; 
V – pela solidariedade e consciência de que o direito de expressão 
é um direito social, independentemente da condição social e 
econômica daqueles que dele necessitem; 
VI – pelo conhecimento das especificidades da comunidade surda. 
 Para favorecer a aprendizagem do aluno surdo, professor de sala de aula 
regular e o T-I devem desenvolver parceria pedagógica. Por exemplo, se os temas 
discutidos em sala forem anteriormente debatidos entre eles, o intérprete poderá 
se preparar melhor e, nessa interação, o intérprete também poderá contribuir 
com o professor ao, como afirma (QUADROS, 2004, p. 62): fazer comentários 
específicos relacionados à linguagem da criança, à 
interpretação em si e ao processo de interpretação quando estes forem 
pertinentes para o processo de ensino-aprendizagem. 
Na área de educação, o T-I é um importante aliado do professor para apoiar o 
aluno surdo. Mas, não se pode esquecer ou negligenciar o fato de que a inserção 
escolar do T-I somente não garantirá a inclusão efetiva e o desenvolvimento dos 
surdos. 
O trabalho do intérprete educacional vai além de fazer escolhas ativas sobre o 
que deve traduzir, envolvendo também modos de tornar conteúdos acessíveis para o 
aluno (...) É fundamental que o T-I esteja inserido na equipe educacional, ficando claro 
qual é o papel de cada profissional frente à integração e aprendizagem da 
criança surda (LACERDA, 2010, p. 35). 
A ausência do T-I em sala de aula prejudica a interação entre o aluno-surdo e 
ouvintes, mas a presença do T-I não garante que questões metodológicas sejam 
consideradas e também não existe garantia de que o espaço 
socioeducacional em um sentido mais geral seja adequado, pois a criança poderá 
21 
 
 
permanecer às margens da experiência a vida escolar, usando uma língua restrita a 
sua relação com o T-I”. (IDEM. p. 34) 
Ao estar em sala de aula o T-I posiciona-se de forma positiva tanto para o surdo 
como para sua atuação, seguindo normas que permeiam, baseiam e asseguram seu 
trabalho e postura no local em que está inserido. Essas normas são 
encontradas no código de ética do T-I que o orienta como se comportar diante 
do aluno surdo, da professora da sala regular e demais profissionais da escola. 
 
 
5. Metodologia 
 
1. Tipo de estudo 
Trata-se de uma pesquisa de campo, através do estudo qualitativo exploratório 
descritivo. 
Participantes 
Participaram o tradutor-interprete, aluno surdo, professora da sala regular, 
diretor adjunto da escola campo (surdo). 
2. Campo de estudo 
Os dados foram coletados em uma escola municipal, situada no bairro Alto da 
Boa Vista, na cidade de Bayeux. O bairro localiza-se a menos de 3 quilômetros 
do centro da cidade, às margens da BR 230. 
 
Instrumentos 
 Diferentes instrumentos foram utilizados na coleta de dados, incluindo, 
observação do espaço escolar, observação de atividade em sala de aula, entrevista 
com roteiro, entrevista informal e fotos. 
Descrição dos Instrumentos 
(I) Observação do espaço escolar - A observação do espaço escolar foi feita no 
segundo contato com a escola, onde caracterizei todos os espaços físicos da 
escola através de fotos e registros. 
22 
 
 
(II) Entrevistas - As entrevistas com roteiros foram realizadas com a profissional 
tradutor-intérprete, o aluno surdo, a professora da sala regular, o diretor adjunto 
da escola e o CRIS. 
(III) Caracterização do roteiro de entrevistas – Os roteiros de entrevista foram 
divididos em três tópicos ( identificação, formação e entrevista), tendo questões 
discursivas e objetivas, sendo 30 direcionada para o tradutor-interprete, 11 para 
o aluno surdo e 14 para a professora da sala regular. 
3. Dados e Análises 
Apresento aqui os dados colhidos na escola campo deste estudo, a partir dos 
quais descrevo os elementos constitutivos desta mediação. Os dados estão 
organizados na forma de categorias identificadas a partir das falas dos participantes 
da pesquisa. Os dados revelam que há inúmeros elementos que caracterizam a 
mediação entre o TI e o surdo. Identificamos quatro fatores que considero relevantes 
para o estabelecimento (ou não) do que aqui denominarei de uma mediação de 
qualidade, isto é, fatores que oferecem as melhores condições de acesso, 
participação e aquisições (aprendizagens) pelo estudante surdo, conforme 
determinado pelo marco legal (BRASIL 2008). 
Estes fatores são (a)relacionais, (b) emocionais, (c) comunicacionais, e 
(d)pedagógicos 
4. Fator Relacional 
A política de inclusão assegura que qualquer aluno surdo, quando matriculado 
em escolas públicas, deve ter acesso a serviços específicos às suas necessidades 
educacionais: a LIBRAS e a presença do T-I. Além de qualificado para 
desempenhar seu papel apropriadamente o T-I no exercício de sua função estar 
em contínuo contato com o estudante nos vários contextos escolares, e sobre 
tudo, na sala de aula. Neste sentido, é fundamental que o T-I estabeleça uma 
relação positiva com o estudante surdo, a qual segundo os dados colhidos no 
campo implica: 
Fator relacional: Conhecer o aluno surdo 
A voz dos entrevistados revela que o T-I deve estar interessado e aberto para 
conhecer o aluno surdo no inicio da interação profissional. A aproximação inicial, 
portanto deve ser caracterizada pela busca de informações por meio do diálogo, 
23 
 
 
conversas informais, identificação de atividades e interesses que o surdo tenha, 
assim como o que ele não gosta. 
Este contato inicial na escola deve ser criterioso e formal, porém amistoso o 
suficiente para que o aluno se sinta acolhido. Em entrevista o T-I participante deste 
estudo quando indagado sobre como deve se caracterizar a mediação entre 
profissionalT-I e o seu aluno, respondeu „o contato inicial na escola, ajuda o 
desenvolvimento de um vínculo de confiança, senão a vida de intérprete/surdo não 
dá certo´ (Entrevista, T-I ,18/03/13) 
Este vínculo de confiança mencionado é fundamental para o surdo se sentir 
seguro uma vez que suas opiniões, necessidades, dúvidas, emoções e etc. vão 
ser transmitidas por uma terceira pessoa. Enquanto profissional por tanto o T-I é 
o responsável por fazer a mensagem chegar de forma íntegra á pessoa com 
quem o surdo conversa, (LACERDA 2010, QUADROS 2005). 
A interpretação, para além do âmbito línguistico constitui um ato cognitivo, que 
deve expressar as intenções comunicativas da pessoa surda, ou seja, não é 
suficiente ao T-I ter apenas proficiência na LIBRAS, é necessário a este 
profissional desenvolver a compreensão acerca da importância do tipo de relação que 
ele estabelece com o aluno surdo. 
Cabe aqui enfatizar que deve haver um cuidado particular por parte do T-I, 
especialmente quando houver uma diferença de idade significativa entre os dois, para 
que a sua relação profissional com a criança, jovem ou adulto surdo não seja 
comprometida com fatores emocionais. Considero que, antes e acima de tudo, a 
relação entre T-I e o aluno surdo na escola deva ter como objetivo o acesso, a 
participação e o aprendizado do surdo. Nesse sentido deve haver um equilíbrio entre 
a relação pessoal e a profissional para evitar situações como a descrita pela T-I. 
Um deles se apaixonou por mim e quando eu disse que não queria, 
pediu para trocar de intérprete, e outro (uma menina) não se dava 
bem comigo de jeito nenhum, também não fiquei como intérprete 
dela, não deu certo”. (T-I, Entrevista dia 18/03/2013) 
Fator Emocional: Ter paciência 
Outro elemento encontrado que contribui na mediação entre o TI e o surdo é a 
paciência por parte do primeiro com relação ao segundo. As atividades escolares 
com frequência colocam aos estudantes exigências acadêmicas tais como, 
leitura, resolução de problemas na sala de aula, organização e elaboração de 
24 
 
 
trabalhos em grupo, apresentação de seminários, provas e etc. Como para 
qualquer outro aluno essas atividades geram sentimentos que desorganizam, 
principalmente quando o aluno sabe que não possui determinadas capacidades 
para realizar as atividades escolares, no caso do surdo, é provável que surjam dúvidas 
e inquietações sobre a tarefa a ser realizada. Assim que nos conhecemos nos demos 
bem, conversamos um pouco, ele me contou como era sua vida na escola e como 
queria que fosse comigo 
Quero dizer que se o surdo não gostar do intérprete, ele vai fazer birra, não vai 
prestar atenção, vai questionar quase tudo que você falar e isso prejudica o nosso 
trabalho. T 
Também, prejudica muito ele, mas não querem saber, se não gostam da gente, 
fica impossível trabalhar. (Entrevista, T-I, 21/03) Considerando-se que a maior parte 
das atividades nas escolas comuns são permeadas pela comunicação oral (língua 
portuguesa), é natural que o dia a dia da sala de aula provoque no surdo 
comportamentos que não sejam entendidos pelos seus colegas e T-I. Por isso o T-I 
deve estar preparado para mediar conflitos usando na sua tradução uma linguagem 
que expresse o que o surdo está comunicando, mas que seja ponderada, afim de 
evitar que as interações entre o aluno surdo e seus colegas se desgastem como 
consequência das diferentes culturas. 
No capítulo II (Sessão 2.4) discuto como a cultura surda se 
diferencia das demais porque faz com que a comunidade surda tenha um jeito 
próprio de compreender o mundo e interagir com o outro a fim de tornar ambos 
acessíveis e compatíveis com as suas percepções. (STROBELL 2008) A surdez 
constitui a cultura surda que tem como diferença a linguagem e a identidade 
compartilhada entre indivíduos para os quais a língua de sinais é o seu idioma 
natural. (PERLIM 2004). Neste contexto o T-I, para além da sua função de 
mediador de uma língua deve ser qualificado sobre as diferenças culturais entre 
os alunos surdos e os outros. Portanto, a paciência é uma competência que deve 
fazer parte da atitude deste profissional. O T-I e o surdo estarão juntos durante todo o 
ano letivo, então a atitude do T-I em relação ao comportamento do aluno surdo e vice-
versa, é um dos pontos que podem influenciar de forma direta uma mediação de 
qualidade. 
25 
 
 
Durante entrevista, com relação a esse fator o aluno surdo expressou “Ela é 
muito legal, tem paciência comigo (...). A minha intérprete faz tudo certo”. Entrevista, 
Aluno surdo, ). 
Fator comunicacional - Domínio da LIBRAS 
Como vimos nos capítulos I e II desta monografia, a comunicação por meio da 
LIBRAS constitui condição sine qua non para a inclusão do surdo na vida escolar e 
nas atividades em sala de aula. Dessa forma é fundamental que o T-I tenha um bom 
domínio desta língua, isto é ir além do conteúdo mais óbvio da mensagem, 
compreender as sutilezas dos significados, valores culturais, emocionais e outros 
envolvidos no texto de origem e dos modos mais adequados de 
fazer esses mesmos sentidos serem passados para a língua alvo. (LACERDA 2010, 
p. 20) 
O domínio da LIBRAS é imprescindível para o trabalho do T-I. 
Durante a entrevista com a T-I na escola visitada ficou evidenciado que a 
mesma fez curso de LIBRAS e considera seu conhecimento sobre esta língua muito 
bom, assim como considera que a experiência prática é um dos elementos que 
influencia sua atuação profissional de forma positiva, como sua fala demonstra: Com 
o Antonio eu me dou muito bem, mas já interpretei para surdos que não deu certo. 
Ao fazer essa declaração, a T-I informa que houve outras oportunidades de 
atuação como T-I que lhe ajudaram a compreender a importância do estabelecimento 
de uma relação de qualidade com o aluno surdo. 
A professora da sala de aula regular onde o aluno surdo que participou desta 
pesquisa está matriculado, em entrevista declara que a T-I ´explica tudo direitinho, 
quando ele tem dúvida, ela(T-I) pede para ele(o aluno surdo) me perguntar e quando 
respondo ela passa a resposta para ele em LIBRAS”. (Professora da sala de aula 
regular, Entrevista dia 18/03/2013 ) 
As falas dos entrevistados estão interligadas, confirmando-se mutuamente: A 
relação entre o aluno surdo e sua intérprete é mostrada de forma positiva e harmônica 
por todos os entrevistados. 
Fatores Pedagógicos 
As pessoas com deficiência auditiva constituem um grupo heterogêneo, assim 
como a população em geral (GESSER 2012). Embora a surdez ainda seja vista 
como uma condição humana desfavorável, a pessoa surda que tem acesso as 
26 
 
 
condições favoráveis à sua participação: meios e recursos de acordo com a 
política nacional de inclusão (BRASIL, 2008). 
O surdo não teria que enfrentar barreiras à sua inclusão educacional, social, 
laboral. (SALLES 2005). Pedagogicamente, portanto, o ambiente escolar e o espaço 
da sala de aula – espaço de aprendizagens por definição, devem incorporar os 
recursos e meios necessários à participação do aluno surdo, entre os quais destaco: 
o acesso a LIBRAS e T-I, a atitude da professora com relação a aprender LIBRAS e 
se comunicar com o aluno, compreensão da comunidade sobre a cultura surda, 
reconhecimento da língua de sinais como primeira língua e etc). 
As falas abaixo nos ajudam a compreender a crucial importância do professor 
de estudantes surdos, na sala de aula regular, conhecer estes apoios pedagógicos. 
Eu já disse, ela [professora] não sabe muito LIBRAS. Converso com ela pouco, porque 
tem coisas que eu falo e ela não entende. Quando tenho dúvida a intérprete pede para 
eu [aluno surdo] perguntar a ela, eu pergunto. Hoje a gente conversa mais do que no 
começo do ano, ela tá aprendendo LIBRAS. É legal ela. Não tem problema entre a 
gente, quando precisa conversar comigo ela conversa, quando eu preciso conversar 
com ela eu converso”. (Aluno surdo, entrevistano dia 
09/08/2012) 
Eles [professora e aluno surdo] conversam. Ela sabe um pouco a LIBRAS, 
então o pouco que sabe usa para se aproximar dele, conversam sozinhos as vezes, 
sem minha presença, mas ainda tem muita coisa que ela não sabe, fico feliz por saber 
que ela tem muita vontade de aprender. Eu acho que eles têm uma boa relação, só 
algumas vezes reclamam um do outro. Ele reclama que ela é chata demais, e ela 
reclama que ele é preguiçoso, mas acho isso normal na escola”. (Tradutor-intérprete, 
entrevista no dia 07/08/2012) 
Como quase todos aqui na escola, conheço um pouco da LIBRAS. O 
conhecimento que tenho e a convivência diária com meu aluno facilita a 
conversa e a interação entre nós”. (Professora da sala de aula regular, entrevista no 
dia 13/08/2012). 
A tentativa de aproximação por meio do uso da LIBRAS por parte da professora, 
mesmo que precariamente, indica ao mesmo tempo, uma atitude pedagógica 
apropriada do docente e, uma limitação da maior parte dos docentes porque não 
conhecem a língua dos surdos e não tentam se relacionar com o aluno surdo. 
27 
 
 
Cabe aqui lembrar que a Convenção dos Direitos da Pessoa com Deficiência 
(ONU 2008) assegura o direito de ajustamento razoável para qualquer pessoa 
com deficiência em qualquer espaço social. Portanto, o ideal seria que todos os 
professores procurassem aprender o mínimo razoável necessário para interagir 
pedagogicamente com o aluno surdo. 
O professor de alunos surdos, que tenham em sua sala de aula um T-I, deve 
pedagogicamente estar atentos para o posicionamento deste profissional e do 
aluno de forma a favorecer tanto a visão da comunicação por meio da LIBRAS 
como todas as atividades que estão ocorrendo em sala de aula. 
O depoimento abaixo do T-I indica a preocupação de professora com estes 
aspectos: 
“Ele [aluno surdo] sempre senta na primeira cadeira do lado da parede, então eu[T-I] 
sento em uma cadeira na frente dele sem tirar a visão dele na professora, da 
professora nele e dos demais colegas. Então interpreto todo o conteúdo e contextos. 
Dificilmente preciso intervir em uma conversa dele com algum colega, eles se 
comunicam muito bem, mas quando é preciso ele me chama, isso acontece 
raramente”. (Tradutor-intérprete entrevista dia 07/08/2012) 
Dessa forma a ação pedagógica de um professor de alunos surdos na sala de 
aula regular não se restringe apenas à didática, currículo e atividades. Neste 
caso, diz também respeito à interação entre a professora e o T-I. As falas dos 
entrevistados, abaixo apresentadas, revelam a importância desta interação de forma 
saudável. 
Nós [T-I e professora] nos damos bem. Sempre que preciso conversamos sobre 
o Antonio, sobre o aprendizado dele, as rebeldias, a preguiça (kkk)”. (Tradutor-
intérprete, entrevista dia 07/08/2012) “Elas[T-I e Professora] são amigas, eu acho. 
Conversam muito antes e depois da aula. A professora sempre diz a Virginia o que 
vai fazer na aula”. (Aluno surdo, entrevista dia 09/08/2012) Acho que já falei demais... 
Mas quero só dizer que acredito que a amizade entre o professor e o T-I ajuda no 
trabalho, pois se eles não se derem bem, a convivência fica difícil, quase impossível”. 
(Professora da sala de aula regular, entrevista dia 13/08/2012) 
Nas escolas tradicionais, excludentes, o professor é detentor do poder. 
(Ferreira 2007, p. 47). A autora afirma que A vida nas escolas tende a estimular o 
trabalho individual e a encorajar um caminho solitário (...). A cultura das escolas 
desenvolve a crença de que cada professor deve „fazer tudo 
28 
 
 
sozinho´ (...). Essa afirmativa deve ajudar os docentes e T-I a aceitarem a atuação 
mútua e em parceria. Os entrevistados demonstram em suas falas que, na escola 
campo deste estudo exploratório, a interação e aceitação da presença e ação do 
tradutor-intérprete pela professora é positiva, expressam que existe um 
interesse em comum entre as duas: o aprendizado do aluno surdo. A articulação 
do objetivo comum das duas profissionais, aproxima-as e constitui um vinculo 
produtivo. 
Posso dizer que no geral é tranqüilo trabalhar aqui, pois a escola já está 
acostumada com a inclusão e os profissionais que trabalham aqui também, então o 
respeito é evidente da parte dos alunos, professores e dos outros funcionários, tanto 
em relação ao aluno deficiente quanto ao cuidador, intérprete e outros”. (Tradutor 
intérprete, entrevista dia 07/08/2012) 
Em uma sociedade preconceituosa e excludente como é a nossa, é difícil ter 
clareza de como as pessoas com deficiência são vistas e aceitas nos meios 
sociais. Nas instituições educacionais, é mais fácil enxergar essa realidade, 
graças a Educação Inclusiva que desde que começou a ser debatida e implantada 
no Brasil, vem trazendo mudanças nesse campo. 
A educação inclusiva pressupõe que TODAS as crianças tenham a mesma 
´oportunidade de acesso, de permanência e de aproveitamento na escola, 
independentemente de qualquer característica peculiar que apresentem ou não. (GIL 
2005, P.24) 
Mas isso só é possível se essas pessoas com deficiência tiverem o apoio que 
precisam para sua permanência na escola. ´No caso do aluno surdo, necessita da 
presença do Tradutor-intérprete no ambiente escolar. Todo mundo aqui fala comigo, 
tenho amigos e todas pessoas da escola me conhece. No começo do ano tinha uns 
meninos novatos de outra sala que tiravam brincadeira chata comigo, mas depois que 
eu bati em um e a diretora chamou nós dois para brigar [com a gente] 
09/08/2012) eles pararam”. (Aluno surdo, entrevista dia) 
 
 
 
 
 
 
29 
 
 
 
 
 
 
 
 
6. Conclusões 
Como um estudo exploratório em nível de graduação, este estudo é superficial 
com relação à coleta de dados no campo, na escola pública. Todavia, os dados 
colhidos por meio de entrevistas realizadas com o T-I, um aluno surdo (o único da 
escola), e o docente desse estudante, foi possível identificar alguns fatores 
chave para favorecer o processo de mediação entre o T-I e o aluno surdo. 
Os dados revelam que há inúmeros elementos que caracterizam a mediação 
entre o TI e o surdo. Identificamos quatro fatores que considero relevantes para 
o estabelecimento (ou não) do que aqui denominarei de uma mediação de 
qualidade, isto é, fatores que oferecem as melhores condições de acesso, 
participação e aquisições (aprendizagens) pelo estudante surdo, conforme 
determinado pelo marco legal estudado no capítulo I (BRASIL 2008). 
Estes fatores são (a)relacionais, (b)emocionais, (c) comunicacionais e 
(d)pedagógicos. 
No âmbito do fator relacional foi abordado e discutido a importância 
aproximação entre o T-I e o surdo desde o inicio de forma que este profissional possa 
conhecer este estudante e apoiá-lo de maneira imparcial e competente no futuro. 
A atitude do profissional destacada no estudo foi a necessidade de paciência – 
um fator emocional - e da função de medição ponderada nas situações que 
envolvem conflitos. No âmbito do fator emocional o estudo identificou a 
necessidade de clareza de papel profissional por parte do T-I no sentido de 
assegurar um certo limite no envolvimento pessoal a fim de impedir que 
barreiras possam surgir no futuro: é importante ser próximo e amistosos, mas é 
mais importante ainda ser profissional com competências apropriadas para 
apoiar a inclusão do aluno surdo na sala de aula e na comunidade escolar como 
um todo. 
30 
 
 
Na esfera comunicacional, o fator acesso a LIBRAS e seu reconhecimento 
como língua natural dos surdos é fundamental para assegurar o respeito a forma 
diferenciada do surdo se comunicar. 
No âmbito pedagógico o estudo identifica importância do professor de 
estudantes surdos na sala de aula regular, conhecer todos os recursos e apoios 
pedagógicos disponíveis ao surdo, assim como reconhecer o calor de sua identidade 
cultural como uma pessoa surda. Nesse sentido, a aproximação sistemática e o 
interesse com a línguade sinais é um elemento chave para melhorar as chances de 
aprendizagem do estudante surdo. 
Considerando-se o papel fundamental na inclusão do aluno surdo nas 
atividades escolares, a ação pedagógica do professor deste estudante, na sala de 
aula regular, não deve se restringir à didática, currículo e atividades apenas, mas 
também ao modo como interage com o T-I de forma educativa e com vistas a 
favorecer a aprendizagem de seu aluno surdo. 
Além destes elementos, há inúmeros outros que perpassam o universo do 
debate e desenvolvimento da educação de surdos em ambientes educacionais 
inclusivos e ambiente sociais onde a interação surdo-ouvinte se dá pela ação do T-I. 
Estes elementos constituem muitas vezes temas delicados, sensíveis porque 
envolvem os entraves que afetam as relações humanas em geral. Entre estes destaco 
alguns riscos e problemas que podem emergir desta relação comunicativa 
intermediadora de comunicação e mediadora entre surdo e seu T-I na escola. 
Na esfera da comunicação, cabe questionar sempre se a tradução–interpretação, 
de fato, traduz o que foi fito. Ou seja, qual é o nível de credibilidade com relação à 
correção da mensagem pesada pelo surdo ao ouvinte e vice-versa? 
As entrevistas realizadas mostraram sempre uma faceta positiva desta 
mediação, mas considero que a mesma precisa ser discutida nesta questão em 
particular. As competências profissionais em qualquer campo de conhecimento são 
diferenciadas entre profissionais de mesma área. No caso do T-I o mesmo 
acontece. Assim, cabe sempre estar atento sobre o nível de competência em 
termos de conhecimento do assunto a ser traduzido, em particular dos conteúdos 
curriculares e termos técnicos ou conceitos. 
O ideal para aumentar a qualidade do apoio na classe seria o T-I ter acesso 
aos materiais com antecedência. Da mesma forma, deve se ter um cuidado especial, 
particular para que o T-I não ´tome o lugar do surdo na educação´ e passe a falar por 
31 
 
 
ele... A expressar suas ́ visões´ sem consultá-lo ou sem permitir que o estudante surdo 
fale por si próprio, responda à pergunta dirigida a ele. Todos esses fatores juntos, 
certamente somado a outros não abordados, constituem a base da inclusão nos 
espaços escolares, do êxito educacional e do empoderamento necessário para 
viver plenamente na sociedade. 
 
 
 
7. Referências 
 
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2008. Disponível em: 
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09/04/2013. 
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24 de abril de 2002. Brasília:Congresso Nacional, 2002. 
 
______. Decreto nº 5.626, que regulamenta a Lei 10.436, de 24 de Abril de 
2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, e o art. 18 daLei 
nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Brasília: Congresso Nacional, 2005. 
 
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http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/educacenso_2008.pdf. Acesso em 
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GESSER, Audrei. LIBRAS? Que língua é essa? Crenças e preconceitos em 
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2009. 
 
LACERDA, Cristina B. F. Intérprete de libras: em atuação na educação infantil 
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QUADROS, R. M. O tradutor e intérprete de língua brasileira de sinais e 
língua portuguesa. Secretaria de Educação Especial; Programa Nacional de 
Apoio à Educação de Surdos. Brasília: MEC/ SEESP, 2004. 
 
 
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Apoio à Educação de Surdos. Brasília: MEC/ SEESP, 2004. 
 
____________. O “Bi” em bilinguismo na educação de surdos. In: 
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2005. 
 
RODRIGUES, Cristiane Seimetz; VALENTE, Flávia. Intérprete de LIBRAS. 
Curitiba: IESDE Brasil S.A.. 2012. 
 
STROBEL, Karin. As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianópolis. 
Editora UFSC. 2008. (p.24)

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