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LESÃO RENAL AGUDA DEFINIÇÃO • Súbita redução da função renal, potencialmente reversível. • Vai desde pequenas alterações nas escórias nitrogenadas e no equilíbrio hidroeletrolítico e ácido-básico do organismo, com pronta resolutividade, até acometimento grave, com complicações sistêmicas e necessidade de TSR (terapia de substituição renal), com elevada morbimortalidade em UTI pediátrica e neonatal. EPIDEMIOLOGIA • Mudança significativas na atualidade. • Inicialmente há um predomínio de causas renais primárias (GNDA, Síndrome hemolítica urêmica). Atualmente, após o desenvolvimento das UTI pediátricas e neonatais, as principais causas são sepse, pós-operatório de cirurgias cardíacas de grande porte, problema oncológicos. Em países em desenvolvimento, a desidratação ainda é uma causa relevante de LRA. ETIOLOGIA • A etiologia da LRA é multifatorial • Neonatal: prematuridade, asfixia. • Pós-operatório de cirurgias cardíacas: baixo peso do paciente, cardiopatias cianóticas complexas, tempo de CEC > 180 minutos, necessidade de drogas vasoativas, sobrecarga de volume. • Sepse: é a causa mais frequente, até 50% na infância, envolve mecanismos hemodinâmicos, inflamatórios e do sistema imune. • Síndrome inflamatória multissistêmica: lesão renal devido liberação de citocinas, interleucina 6, aumento da permeabilidade vascular, perda para o terceiro espaço, hipovolemia e consequente choque. O vírus SarsCov2 causa uma LRA devido ação direta nos túbulos proximais. • Doenças renais de base → glomerulonefrites. • Hipovolemia de diversas causas, sendo a desidratação a principal em países em desenvolvimento. SINAIS E SINTOMAS • Resultam diretamente das alterações agudas da função renal. • Edema, congestão cardiopulmonar, oligoanúria, hematúria macro ou microscópica e/ou hipertensão. • Causa conhecida predisponente: choque, insuficiência cardíaca ou glomerulonefrite. • Crianças em terapia intensiva: em uso de medicações nefrotóxicas, doença renal subjacente, sepse, falência de múltiplos órgãos, doença cardíaca congênita, neoplasia, doença renal primária, choque, hipoxemia, ventilação mecânica, uso de drogas vasopressoras. DIAGNÓSTICO • Diminuição da taxa de filtração glomerular (TFG) com aumento dos níveis de creatinina (Cr) basal e redução da diurese. • Problemas sobre os critérios: a creatinina aumenta tardiamente pois esse aumento é fruto da lesão renal. A creatinina não é marcador da lesão em si, esses marcadores ainda estão sendo avaliados. A medição do volume urinário em crianças é complexa. • Já foram criados várias classificações para diagnóstico. Atualmente a usado é o KDIGO 2012 (Kydney Disease: Improving Global Outcome). Essa classificação unifica as classificações anteriores, usando a creatinina sérica (ou clearance de creatinina < 18 anos) + débito urinário. • Definição única de LRA que leva em consideração os critérios de RIFLE, pRIFLE e AKIN com base em uma revisão sistemática da literatura. O uso é recomendado para orientar a conduta clínica e padronização de dados e de desfechos em estudos pediátricos de LRA. • LRA neonatal tem sido definida de forma prática como SCr maior que 1,5mg/dl ou um aumento da SCr de pelo menos 0,2 – 0,3mg/dl por dia em relação ao valor anterior. Ressalta-se que o valor de SCr materna e normalmente diminui com o tempo. • O diagnóstico só em feito com história clínica + exame físico + exames complementares. DIAGNÓSTICO - HISTÓRIA CLÍNICA • Os dados relevantes da história clínica na avaliação da criança com LRA são: o Redução na ingestão de líquidos. o Aumento nas perdas (vômitos, diarreia sanguinolenta). o Redução do débito urinário, alterações na coloração, hematúria. o Edema/febre. o Infecção recente de garganta, pele, dor articular, rash cutâneo. o Picadas de animais peçonhentos. o Medicações nefrotóxicas, AINES, aminoglicosídeos por mais de 3 dias. o História gestacional/neonatal, asfixia, prematuridade extrema, drogas nefrotóxicas. o Malformações congênitas. o História familiar de doença renal. o Doenças cardíacas/hepáticas/neoplásicas. • As drogas nefrotóxicas de uso frequente no intra-hospitalar e que podem causar LRA são: o Aminoglicosídeos. o Piperacilinas-tazobactan. o Vancomicina. o Agentes antivirais, antifúngicos. o Inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA). o Inibidores da calcineurina (pimecrolimo e o tacrolimo). o Furosemida. o AINH: 3 a 7% dos casos de LRA em crianças hospitalizadas, a causa é AINH. O risco aumenta se hipoperfusão renal. DIAGNÓSTICO – EXAMES COMPLEMENTARES • Determinar a diminuição da taxa de filtração glomerular estimada (eTFG): o Só configura DRC se persistir por mais de 3 meses. o A mensuração da taxa de depuração de creatinina estimada, segundo o valor da creatinina sérica, o gênero, a idade, o peso corporal e até a raça do paciente, sem necessidade da coleta de urina durante 12 horas. • Clearance de creatinina (ml/min/1,73m2): usa-se a equação de Schwartz para estimar a taxa de filtração glomerular. Joga em um app que é sucesso. • NGAL é um marcador que está sendo desenvolvido, detecta LRA horas após a injúria renal em PO cirurgia cardíaca, sepses e uso de contraste. Tem outros biomarcadores também. • A taxa de filtração glomerular para crianças até 12 anos de idade, os intervalos de referência são os mesmos independentemente do sexo da criança. ÍNDICE ANGINA RENAL (RAI) = SCORE PREDITIVO DE LRA • Necessidade de prever maior probabilidade de evolução para formas graves de LRA (KDIGO estágios 2 e 3). • Envolve uso de droga vasopressora, ventilação mecânica invasiva, porcentagem de sobrecarga hídrica e ClCr estimada. • Parâmetros avaliados na admissão em UTI (dia 0) e em 72 horas. • Características de risco somadas geram uma pontuação que é multiplicada pela pontuação obtida nas características de lesão. • Escore maior ou igual a 8 altamente sugestivo de ocorrência de LRA no terceiro dia de hospitalização, para solicitação de biomarcadores e prevenção de novos agravos – alterações hemodinâmicas e nefrotoxicidade. TRATAMENTO • O tratamento clínico → NÃO EXISTE!! • Existe estratégias para prevenção e minimização de disfunção renal: PREVENÇÃO DA LRA • Identificar pacientes de risco. • Eliminar fatores predisponentes. • Restaurar e otimizar suporte hemodinâmico para reestabelecer a volemia, oxigenação, PAM e transporte de O2. • Evitar nefrotoxinas exógenas. • Adequar doses das drogas ao ClCr e ou à dialisância das drogas. CONTROLE E REDUÇÃO DA LIBERAÇÃO DE ENDOTOXINAS • Hiperhidratação e uso de furosemida: nos pacientes que respondem com diurese. Melhora o fluxo tubular e evita obstrução. • SLT – síndrome de lise tumoral: uso de inibidores adequados (Alopurinol, inibidor xantina-oxidase). • TSR – terapia de substituição renal: o uso deve ser precoce, pois diminui o acúmulo de líquidos e de rotina em pacientes críticos de PO-CC. • Alcalinização de urina (exceto na SLT). • Uso de antagonistas de receptores de adenosina (teofilina): asfixia perinatal. • Manejo adequado da oferta hídrica nas manobras de reanimação. • Suporte nutricional adequado: risco de desnutrição, perda de massa corpórea, risco de disfunção orgânica e déficit imunológico. • Uso de furosemida: devemos ter cuidado! TERAPIAS RENAIS SUBSTITUTIVAS - TRS • Melhora significativa nas técnicas e disponibilidade de procedimentos dialíticos na infância. • Grande mudança de características epidemiológicas para indicação de TRS: do predomínio de causas renais primárias e crônicas para LRA em casos de sepses, PO cirurgias de grande porte e tratamentos de neoplasias. • Em países em desenvolvimento ainda predomina a desidratação. • A TRS pode ser feita de 2 formas: o Diálise peritoneal. o Terapias que envolvem circulação extracorpórea: hemodiálise convencional, diálise estendida de baixa eficiência e hemodiafiltração. • A indicação depende do tipo de transportenecessário: o Difusão = troca entre dois meios através do gradiente de concentração, com foco na troca de íons e moléculas pequenas. o Transporte conectivo = efeito de arraste de moléculas através de membrana com maior perda de íons e de mediadores inflamatórios. o Também depende da disponibilidade do método no centro, bem como a experiência da equipe local. • Os fatores balizadores da indicação de TSR: o Sobrecarga hídrica progressiva (> 10 a 20% do peso corporal). o Acidose metabólica grave com redução perfusão de órgãos vitais. o Hipercalemia mantida (K+ >6,5mEq/l). o Sinais de uremia. o Disnatremia grave (Na > 160 ou < 115mEq/l). o Hipertemia maligna. o Intoxicação aguda por drogas dialisáveis. o Hiperamonemia e outros EIM. o Coagulopatias de difícil controle. o Otimização de suporte nutricional-relativo. • TRS peritoneal: o Acesso através do implante do cateter de Tenckoff deve preferencialmente ser acompanhado de omentectomia o Cuidados para evitar síndrome compartimental. o A maioria dos centros de terapias intensivas neonatais e pediátricas, em nosso país, dispõe de diálise peritoneal (difusão). PERSPECTIVAS FUTURAS • As indicações, equipamento e conhecimento referentes às TRS no paciente pediátrico apresentaram enorme incremento e sofisticação ao longo das últimas 2 décadas. • A tecnologia melhora constantemente máquinas e equipamentos para a TRS, inclusive para neonatos. • A interação entre as equipes de terapia intensiva neonatal e pediátrica e a nefropediatria é fundamental para reduzir a morbimortalidade da LRA no Brasil e fornecer o cuidado humanizado de que esses pacientes tanto precisam. • A reversibilidade da LRA não ocorre para todos, e o dano renal crônico deve ser acompanhado em longo prazo, especialmente para prematuros e para aqueles com longo tempo de internação e ventilação mecânica.
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