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Ana Clara Aguilar de Almeida – Atenção Integral à Saúde da Criança e do Adolescente I – Out. 2022 1 HIPOVITAMINOSES NA INFÂNCIA ❖ HIPOVITAMINOSES: - ETIOLOGIA VARIADA: ▪ Dietas restritivas – ex.: crianças veganas vão deixar de receber alguns nutrientes. Não necessariamente ela será desnutrida, mas vai deixar de receber alguns nutrientes ▪ Síndromes disabsortivas – no intestino tem alguma deficiência de absorção e não vai absorver alguma vitamina ▪ Uso de medicações – algumas medicações impedem/competem com algumas vitaminas pela absorção Ex.: Metotrexato – compete com ácido fólico, interfere no metabolismo do ácido fólico e pode faltar, assim precisa repor ▪ Doenças genéticas ▪ Doenças metabólicas - Vitaminas Hidrossolúveis – complexo B e vitamina C - Vitaminas Lipossolúveis – A, D, E, K – “KADE” Vitamina K tem mais de uma fonte, e inclusive tem produção de vitamina K intestinal pelas bactérias intestinais. A vitamina K é encontrada em três formas: K1, K2, K3. K1 tem nos vegetais, K2 produzida pelas bactérias que habitam no intestino e a K3 que a sintética. Vitamina A também pode ser encontrada em óleo de peixe, margarina, algumas hortaliças. Vitamina C encontra em frutas e hortaliças. Vitamina D não existe nenhum alimento que contenha uma quantidade significativa. A vitamina D é produzida na pele pelo contato com o sol. Não terá nenhum alimento suficiente para repor vitamina D. - VITAMINA C (ÁCIDO ASCÓRBICO): ▪ As principais formas de vitamina C são: ácido L- ascórbico e ácido desidroascórbico ▪ As necessidades do lactente são estimadas tomando-se como base a concentração de vitamina C no leite materno – determinado pelo que a mãe consome. Por ser hidrossolúvel essa vitamina vai passar pelo leite na parte líquida. ▪ As fórmulas infantis são enriquecidas com vitamina C, com um nível comparável a 5,5 mg/dL (8 mg/100kcal) Deficiência de Vitamina C: ▪ Manifestações clínicas *ESCORBUTO – “doença do marinheiro” Irritabilidade (manifestação de alteração do comportamento), dor, tumefação óssea e pseudoparalisia de membros inferiores (paciente não terá uma doença neurológica que justifique essa paralisia e ela retorna ao normal depois que corrige a deficiência), hemorragia subperiosteal, hiperceratose de folículos pilosos e alterações mentais. Paciente terá algumas manifestações neurológicas. No escorbuto crônico observa-se também anemia secundária ou metabolismo anormal de folato. Há uma interface do metabolismo da vitamina C e do folato (ácido fólico). A deficiência de ácido fólico causa anemia. Se faltar vitamina C por muito tempo também vai Ana Clara Aguilar de Almeida – Atenção Integral à Saúde da Criança e do Adolescente I – Out. 2022 2 atrapalhar o metabolismo de ácido fólico e o paciente pode ter a anemia secundária. ▪ Tratamento É a reposição da vitamina C, por via oral. *250 a 500 mg/dia, VIA ORAL na deficiência de vitamina C *500 mg/dia na deficiência, VIA ORAL de vitamina C na síndrome de má-absorção. Se o paciente tiver a deficiência de vitamina C + a síndrome de má absorção (problema gastrointestinal, paciente com anemia perniciosa com dificuldade de absorver nutrientes), a dose de reposição de vitamina deve ser mais alta para conseguir absorver algo. - VITAMINA B1 (TIAMINA): ▪ Vitamina B1 (tiamina): coenzima no metabolismo de carboidratos e na descarboxilação de aminoácidos de cadeia ramificada – ela acelera o metabolismo tanto de carboidrato quanto de aminoácido de cadeia ramificada ▪ É perdida durante a pasteurização ou esterilização do leite – essa vitamina está presente no leite ▪ Conteúdo de tiamina nas fórmulas infantis: 59 a 156 mcg/100 kcal para lactentes a termo e 100 a 250 mcg/100 kcal nos prematuros As fórmulas dos prematuros têm mais tiamina do que do bebê a termo. Deficiência de Vitamina B1: ▪ Manifestações Clínicas *BERIBERI – surge em lactentes de 1-4 meses alimentados com leite fervido (quando ferve o leite, perde a vitamina), cujas mães têm deficiência de tiamina ou em lactentes com desnutrição proteico-calórica. Importante orientar as mães que congelam o leite, que não deve ferver na hora de descongelar (ideal descongelar naturalmente ou em banho-maria). Sinais e Sintomas – choro afônico (choro “mudo”), sintomas cardíacos, anorexia, apatia, vômitos, agitação e palidez, cianose, dispneia e morte por insuficiência cardíaca congestiva. ▪ Tratamento *Vitamina B1, via oral, 5 a 25mg/dia - VITAMINA B3 (OU PP OU NIACINA): ▪ Envolvida em vários processos metabólicos – síntese de gordura, metabolismo respiratório intracelular e glicólise, etc. ▪ As necessidades de niacina se baseiam na quantidade de triptofano na dieta (aminoácido essencial), uma vez que esse se converte em niacina O triptofano quando ingerido ele será convertido em niacina. A quantidade de vitamina B3 será correspondente a quantidade de triptofano que está ingerindo. ▪ A concentração da niacina nos alimentos é estável e não se altera com a conservação e aquecimento Deficiência de Vitamina B3: ▪ Manifestações Clínicas *PELAGRA – fraqueza, dermatite, inflamação de mucosas, diarreia, vômitos, disfagia e demência. Doença dos 3 D’s – dermatite, diarreia e demência – tríade mais clássica. 4 D’s – +”death” ▪ Tratamento *5 a 25mg/dia de vitamina B3, via oral. No Pelagra a dermatite tem relação com exposição solar. E tem alguns lugares que são mais típicos. Uma dermatite bem hiperemiada, descamativa e surge e piora com a exposição solar Na face – em asa de borboleta No pescoço – em colar de casal Nas mãos – em luva Nos pés – em bota Ana Clara Aguilar de Almeida – Atenção Integral à Saúde da Criança e do Adolescente I – Out. 2022 3 - VITAMINA A (RETINOL): Deficiência de Vitamina A: ▪ Manifestação Clínica *Xeroftalmia – olho seco Alterações visuais. *Ulceração, necrose, ceratomalácia, cicatriz permanente na córnea, cegueira noturna *Imunodeficiência, risco de infecção de repetição, principalmente sarampo e maior risco de mortalidade ▪ Tratamento Reposição de vitamina A via oral. *5.000 a 10.000UI/dia nas deficiências e 10.000 a 25.000UI/dia na má-absorção - VITAMINA E (TOCOFEROL): ▪ A vitamina E atua como antioxidante biológico ▪ Retira radicais livres gerados pela redução do oxigênio molecular e pela ação de enzimas oxidativas ▪ O leite humano tem concentração de vitamina E inferior às fórmulas infantis – a quantidade de vitamina E no leite materno é suficiente, não precisa repor ▪ A deficiência de tocoferol (vitamina E) ocorre em crianças com má absorção prolongada e profunda de gordura, secundária atresia de via biliares, fibrose cística Fibrose cística acomete todas as glândulas exócrinas do corpo e essa criança tem chance de deficiência de vitamina E. Qualquer doença de vias biliares podem impactar na absorção. Deficiência de Vitamina E: ▪ Manifestações Clínicas *SÍNDROME DE NEUROPATIA SENSITIVA E MOTORA *ANEMIA HEMOLÍTICA em pretermos com elevação de reticulócitos, edema e trombocitose Anemia hemolítica terá a destruição da hemácia, cursando com anemia, aumento de reticulócitos (hemácias jovens – tentando compensar), aumento de bilirrubina indireta (devido a destruição das hemácias), trombocitose. ▪ Tratamento *100 a 1.000 UI/dia na má absorção - VITAMINA B9 (ÁCIDO FÓLICO): Ácido fólico faz parte do metabolismo de células, inclusive das hemácias. Deficiência de Vitamina B9: ▪ Manifestações Clínicas *Anemia macrocítica (por deficiência de “combustível” para a medula, vai produzir menos hemácias ou então produz defeituoso – hemácias grandes – aumento do VCM),Astenia, glossite, anorexia, taquicardia e esplenomegalia. Defeitos do tubo neural. Subtraindo a porcentagem de células de tamanho normal e as de tamanho alterado, terá um valor X. Esse valor X seria correspondente ao RDW (expresso em porcentagem). Quando tem um RDW aumentado significa que tem uma grande diferença entre o tamanho das células. RDW mede diferença de tamanhos entre as hemácias. ▪ Tratamento *Correção dietética se necessário – substituição ou interrupção de drogas anti-folato (ex.: Metotrexato). Ou então aumentar a suplementação se não puder interromper/substituir o medicamento. Ácido fólico 1 a 5 mg/dia, via oral. - VITAMINA B12 (COBALAMINA): Deficiência de vitamina B12 e vitamina B9 produzem anemia macrocítica. B12 também faz parte do metabolismo das hemácias. Deficiência da vitamina B12: ▪ Manifestações Clínicas *Hemograma – anemia macrocítica *Dosagem B12 < 200 mg /L - deficiência *Fadiga, dispneia, parestesia, desequilíbrio, ataxia e dificuldade de memória Paciente pode ter sintomas neurológicos com deficiência de vitamina B12 (vitamina B9 não provoca sintomas neurológicos). B12 não provoca defeitos no tubo neural, diferente da B9 que causa. Ana Clara Aguilar de Almeida – Atenção Integral à Saúde da Criança e do Adolescente I – Out. 2022 4 ▪ Tratamento *Correção alimentar *Reposição de B12 de acordo com a deficiência, idade e peso. Reposição é feita INTRAMUSCULAR. - VITAMINA D: Precisa ter exposição solar. O valor de referência normal de vitamina D é 20. Em alguns pacientes com doença crônica, dependendo da doença, o valor de referência passa a ser 30. Deficiência de Vitamina D: A deficiência de vitamina D traduz-se como Raquitismo em crianças e Osteomalácia em adolescentes. Manifestações clinicas parecidas, mas no raquitismo são mais evidentes e tem muito mais alteração visível. ▪ Manifestações Clínicas *Raquitismo - São mais comuns durante os primeiros dois anos de vida. Craniotabes (adelgaçamento da lâmina externa do crânio – deficiência de mineralização do osso), Aumento da junção costocondral (rosário raquítico), Alargamento de punhos e tornozelos, Fontanela anterior aumentada e fechamento atrasado, Escoliose e lordose exagerada. Genovalgo e Genovaro em lactentes maiores e fraturas em galho verde em ossos longos. No raquitismo o mais comum é o Genovaro. Genovalgo – joelho para dentro (mais comum em meninas) Genovaro – joelho para fora (mais comum em meninos) Raquitismo Hipocalcêmico – há uma correlação entre vitamina D e cálcio. Se tem deficiência de vitamina D, o cálcio não será bem absorvido. Cálcio sérico normal ou baixo, fosfato sérico baixo, fosfatase alcalina elevada (fosfatase alcalina é aumentada quando quer colocar material mineral no osso, quando está faltando material mineral e corpo tenta compensar aumentando). Os níveis séricos de calcidiol e calcitriol são baixos – a melhor medida da vitamina D é o nível de 25-(OH)-D. No raquitismo tem alterações típicas de rádio e ulna – alargamentos, “abertura em taça” (nome radiológico), extremidades franjadas e mal demarcadas Espaço aumentado nas extremidades distais de ulna e rádio. Na imagem acima: Rosário Raquítico No quadro acima: várias causas de osteomalácia e raquitismo. Importante focar na deficiência de vitamina D. O fósforo e o cálcio estarão baixos na deficiência de vitamina D, pois o corpo entende que o nível sérico está baixo e não deixa o rim excretar. A deficiência de fosforo e cálcio não é por aumento de excreção e sim por falta de absorção. Calcio estará normal ou baixo, fosforo estará baixo, vitamina D baixa, excreção baixa, fosfatase alcalina vai estar elevada, PTH elevado. ▪ Tratamento *Reposição de Vitamina D via oral 400 a 5.000 UI/dia na deficiência de vitamina D e 4.000 a 20.000 UI/dia na má absorção Quando o paciente está com deficiência, normalmente faz uma dose alta durante 6 semanas e depois deixa uma dose de manutenção. Ana Clara Aguilar de Almeida – Atenção Integral à Saúde da Criança e do Adolescente I – Out. 2022 5 - VITAMINA K: ▪ A forma vegetal da vitamina K é a filoquinona (K1) e menaquinona (K2) ▪ K3 ou menadinona ▪ A vitamina K é sintetizada por bactérias intestinais ▪ Os fatores de coagulação II, VII, IX, X dependem da vitamina K ▪ A deficiência de vitamina K em indivíduos com função intestinal normal é rara – pois é produzido de forma endógena pela microbiota intestinal ▪ A deficiência de vitamina K pode ocorrer em pessoas com má absorção, doença celíaca e icterícia obstrutiva e insuficiência pancreática Paciente pode ter maior chance de sangramento. ▪ A absorção da vitamina K é prejudicada por dietas ricas em vitamina A e E, e óleo mineral – muito difícil isso ocorrer, somente casos raros. Doença Hemorrágica do Recém-Nascido – ocorre nas primeiras semanas de nascimento, em crianças que não receberam dose profilática de vitamina K, intramuscular, ao nascimento. Caracteriza-se por equimoses generalizadas, sangramento do coto umbilical, hemorragia digestiva e hemorragia intracraniana (rara). É um sangramento de difícil controle. O mais comum são as equimoses no corpo todo e o sangramento umbilical. Para prevenir deve realizar a dose profilática de vitamina K ao nascimento.
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