Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: DA BUROCRACIA AOS PROCESSOS DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM. Uillians Eduardo Santos. UNESP/Presidente Prudente. Jessica Larissa Gomes. UNESP/Marília/ Lígia Perez Vilar. UNESP/Marília. ues0709@hotmail.com; lpvilar@hotmail.com. Eixo Temático: Gestão Escolar e Currículo. Resumo: O trabalho pedagógico é de extrema importância para o desenvolvimento dos processos de ensino e de aprendizagem no cotidiano escolar. Diante disso, conhecer a especificidade e o fazer do coordenador pedagógico se faz necessário para compreendermos quais tem sido suas demandas cotidianas e as tarefas que eles desenvolvem nas unidades escolares que atuam. Assim, desenvolvemos uma pesquisa qualitativa com o objetivo de identificar e analisar as atribuições, funções e os desafios enfrentados diariamente pelos coordenadores pedagógicos. A coleta de dados deu-se mediante a aplicação de questionários com questões fechadas e abertas. O questionário foi aplicado a três coordenadores de diferentes dependências administrativas. Constatou- se com a pesquisa que o papel do coordenador pedagógico tem sua importância para o processo educacional e que suas atividades tem se voltado para os processos de ensino e de aprendizagem. Entretanto ainda observamos que suas funções ainda têm se centrado em aspectos burocráticos e administrativos, o que para nós, se torna uma lacuna que deve ser preenchida com atividades de cunho pedagógico. Por fim, esperamos que eles possam superar as barreiras da burocracia administrativa, repensando sua prática pedagógica e propor ações que possam ser traduzidas em efetivos processos de ensino e de aprendizagens. Palavras-chaves: Coordenação Pedagógica. Formação de Professores. Ensino e Aprendizagem. Introdução O texto apresentado originou de pesquisa que pretendeu discutir as demandas acerca do trabalho do coordenador pedagógico em escolas de diferentes níveis e etapa de ensino. E para essa discussão é preciso considerar, que a escola é um universo bastante complexo: há uma finalidade aparentemente conhecida e consagrada em torno da qual se aglutinam pessoas frequentemente muito diferentes, que desempenham funções variadas, com atribuições, expectativas e demandas diversas. Diante disso, apresentamos inicialmente as atribuições e funções realizadas pelos coordenadores pedagógicos nas respectivas unidades escolares que atuam. Na sequência, discutimos os modelos de formação profissional existentes para os professores que compõem o corpo docente das escolas e a própria formação dos coordenadores. Por fim, analisamos as novas demandas educacionais que requerem certo cuidado por parte dos coordenadores. Para o desenvolvimento dessa discussão, realizamos inicialmente uma pesquisa bibliográfica, levantando alguns artigos e livros que tratam da temática em estudo. Subsidiado de referencial e fundamentação teórica, elaboramos um questionário e um formulário com seis questões abertas para aplicação com os coordenadores pedagógicos. O questionário foi elaborado com questões que tratavam da formação acadêmica do profissional, tempo de efetivo exercício na função desempenhada, o nível e etapa de ensino que atuam, com o objetivo de traçarmos o perfil de cada coordenador participante da pesquisa. Já o formulário, apresentava questões que possuíam por objetivo verificar quais são as funções e atribuições realizadas pelos coordenadores pedagógicos, quais as formas de formação docente e da equipe pedagógica, além de verificar como tem se portado os coordenadores pedagógicos frente à política de avaliação externa e das tecnologias existentes no ambiente escolar. Os questionários e os formulários foram respondidos por três coordenadoras pedagógicas. Para facilitar as análises e a discussão durante o texto, e por uma questão de preservação de identidade das profissionais, apresentamos abaixo as caracterizações dos perfis de cada uma delas, chamando-as de C1, C2 e C3. A C1 é licenciada em História, atua há mais de dez anos no cargo de Coordenador Pedagógico. Atualmente desenvolve suas atividades numa escola da rede estadual de ensino do estado de São Paulo, atuando com o Ensino Médio. Possui outro cargo na Secretaria Municipal de sua cidade, atuando como Assistente Social. Já C2 é licenciada em Pedagogia com habilitação em Administração Escolar, atua há mais de seis anos no cargo, na rede municipal de ensino com os Anos Iniciais do Ensino Fundamental. E por fim C3 é formada em Pedagogia, atua há menos de cinco anos numa escola particular no cargo de coordenadora pedagógica. Sua atuação se dá com os Anos Iniciais do Ensino Fundamental. • O papel da coordenação pedagógica: da burocracia aos processos de ensino e de aprendizagem A escola assumiu gradativamente várias funções por ser uma instituição social complexa, mas sua função substancial ainda é a de lidar com os conhecimentos. Para que isso seja realizado com exatidão é de extrema importância que o ambiente no qual o aluno experimenta as suas vivências, seja adequado para tal finalidade. Por isso, consideramos que pertence ao coordenador pedagógico a função de articulador dentro da escola, buscando um equilíbrio satisfatório em meio à realidade escolar. Consideramos ainda que o trabalho do coordenador pedagógico é de intermediar e subsidiar as relações, seja elas pedagógicas, pessoais ou de outras naturezas. O papel e as funções do coordenador pedagógico na escola são variados. Cabe a ele, para obter o seu objetivo, proporcionar uma diária formação continua do educador. Ele, no desempenho do papel de gestor, tem a responsabilidade de compreender a realidade social da escola, conhecer as qualidades e dificuldades da sua equipe docente, conhecer os alunos e suas realidades, assim como elaborar e desenvolver atividades relevantes que mostrem a importância da formação continuada para o docente, pois, o trabalho do professor não se esgota na sala de aula, ele continua nos debates durante as reuniões de ATPCs, na reflexão dos problemas que ocorrem na escola, no planejamento e na avaliação constante do seu trabalho. Para tanto, é preciso que ele, figura isolada em unidade escolar tenha também um espaço coletivo e formador, análogo ao HTPC, no qual possa apresentar as dificuldades inerentes à sua nova função, partilhar angústias, refletir sobre sua prática como coordenadores, trocar experiências [...] crescer profissionalmente, para exercer de forma plena sua função formadora e promotora do projeto pedagógico. (GARRIDO, 2008, p.11) O Coordenador Pedagógico, locuciona por intermédio de projetos, propostas e formações visando possibilidades de uma maior eficácia na transmissão do conhecimento para o aluno, esses projetos devem ser pensados para solucionar os problemas vivenciados pelos professores, a preparação do professor contextualizando-o com sua nova turma, semana de adaptação no início do ano, reuniões com pais e familiares, alunos com dificuldades de aprendizagem, utilização de tecnologias como ferramenta de aprendizagem e a motivação do professor. Segundo Guimarães e Vilella (2008), o coordenador tem, pelo menos, três níveis de atuação, que não se excluem. São eles: o de resolução dos problemas instaurados; o de prevenção de situações problemáticas previsíveis e o de promoção de situações saudáveis do ponto de vista educativo e sócio afetivo. Para que a estrutura pedagógica seja produtiva, é necessário que o coordenador pedagógico tenha esse conjunto de características para as atividades que possam ser desenvolvidas no contexto escolar. Consideramos que o papel do coordenador pedagógico na escola e em seus espaços é de suma importância para os processos de ensino e de aprendizagens, como podemos observar pela resposta da Coordenadora 2, quando indagamos: Quais são as suas atribuições na escola hoje? Você as considera essenciais ou elas poderiamser atribuídas a outro profissional da escola? Por quê? O professor coordenador pedagógico (PCP) visa orientar o processo pedagógico, garantindo integração e interação da Equipe Escolar com a Secretaria Municipal da Educação (SME), em sintonia com as necessidades inerentes do processo ensino aprendizagem. (C2, 2014). Pela resposta da coordenadora, observamos que ela considera que suas funções está relacionado com os processos de ensino e de aprendizagens, levando em consideração uma análise das necessidades, que com um bom trabalho intenso e diário, será fácil identifica-las. Entretanto, observamos pela resposta, que ela considera também que seja necessário e importante ela fazer a mediação, o que ela chamou de integração e interação dos seus professores e funcionários com a SME, que para nós nos remete a questão da coordenadora pedagógica se considerar um preposto do Governo. A Coordenadora 1, assume uma postura diferente ao responder nossa indagação, e enumera todas as suas funções na escola, revelando uma postura que vai da burocracia às análises dos processos de ensino e de aprendizagens. Faço o acompanhamento diário da frequência dos alunos; realizo contatos com as famílias ou responsáveis quando necessário; elaboro e executo as pautas de A.T.P.C. – Atividade Pedagógica Coletiva; acompanho as aulas semanalmente; bimestralmente organizo e executo em conjunto com a direção da U.E as atividades do conselho de classe/série; bimestralmente comunico ao conselho Tutelar, Promotor e Juiz da Vara da Infância e da Juventude os alunos que excederam o número de faltas; bimestralmente organizo em conjunto com direção da unidade escolar e professores as reuniões de pais e mestre; organizo as solicitações de trabalhos domiciliares: licença saúde, licença maternidade; organizo em conjunto com a direção e outros membros da equipe escolar o planejamento, replanejamento, dia do estudo dos resultados do SARESP e dia da auto avaliação; organizo as solicitações de trabalhos de reposição de faltas; organizo as solicitações de trabalhos de P.P.P. – Promovido com Progressão Parcial; sempre que necessário atendemos pais ou responsáveis que buscam informações sobre os filhos; forneço apoio pedagógico aos professores sempre que necessário ou quando solicitado pelo professor; forneço e auxilio na instalação de equipamentos eletrônicos que serão utilizados nas aulas; realizo intervenções nos casos de indisciplina em sala de aula em conjunto com a Professora mediadora; organizo em conjunto com a direção e outros membros da equipe escolar eventos culturais e esportivos. (C1, 2014). Como podemos observar a coordenadora ao enumerar suas funções, utiliza-se de verbos ligados muito as demandas mercadológicas e empresariais da atualidade: executo, elabora, forneço, organizo, faço. Levando em consideração seu contexto e as cobranças das instâncias superiores, em especial, no que tange ao cumprimento das metas referentes aos indicadores escolares. E diante de uma complexidade estrutural e hierárquica que se implantou na educação brasileira, é até compreensível sua postura. A C3, responde a questão, seguindo a mesma linha de raciocínio das demais coordenadoras, apontando suas funções burocráticas e algumas de cunho pedagógico. A minha função como membro da coordenação pedagógica inclui: atendimento telefônico e pessoal das famílias e dos alunos e também atendimento a total comunidade escolar, acolhimento de informações que sejam da família do aluno, cuidado com a segurança dos alunos durante o momento em que eles estão fora da sala de aula (intervalo, saída e durante a aula), atendimento dos professores e suas necessidades. (C3, 2014). Pelas respostas das coordenadoras observamos que elas, vivem realidades distintas, e por isso, suas posturas, seu trabalho e suas funções são direcionados, e conduzidos por ações e caminhos distintos, mas nenhuma delas deixa de lado o trabalho pedagógico com os alunos, professores e comunidade escolar. • Formação de professores continuada e o coordenador pedagógico Não é de hoje, que nossos professores carecem de formação profissional, seja ela, inicial, continuada ou em serviço. Mas, na atualidade, frente às novas demandas, exigindo do professor novos conhecimentos (práticos e/ou teóricos), urge a necessidade de levar em consideração nos espaços escolares a formação desse profissional, pois a educação continuada se faz necessária pela própria natureza do saber e do fazer humanos como práticas que se transformam constantemente. A realidade muda e o saber que construímos sobre ela precisam ser revisto e ampliado sempre. Dessa forma, um programa de educação continuada se faz necessário para atualizarmos nossos conhecimentos, principalmente para analisarmos as mudanças que ocorrem em nossa prática, bem como para atribuirmos direções esperadas a essas mudanças. (CHRISTOV, 2008, p. 9-10). Por considerarmos os coordenadores pedagógicos, profissionais de extrema importância dentro da escola, por mediar esses momentos de formação, indagamos a eles: Há na escola que você trabalha uma proposta pedagógica bem definida quanto à formação continuada dos professores? Se sim, em que momentos isso ocorre, de que forma, e qual a contribuição dessa formação para o processo de ensino e de aprendizagem dos alunos? As coordenadoras pedagógicas são assertivas em suas respostas, de que suas escolas apresentam uma proposta bem definida quanto à formação continuada dos seus professores. A C1 e C2 vão além dizendo que a referente formação se dá nos encontros semanais realizado na escola com a coordenação e condução delas e a participação dos professores. Já a C3, em sua resposta, apresenta condições mais amplas de formação, seja entre os pares, com outros profissionais e especialistas convidados pela unidade escolar. Sim na minha escola existe uma proposta pedagógica que é o fio condutor de nossas ações e dentre elas está a formação continuada dos professores. Nos encontros semanais de A.T.P.C. trabalho temas levantados a partir da necessidade e solicitação dos professores; também incentivo a participação de todo o corpo docente em cursos presenciais, como em EAD. A formação continuada é de extrema importância e tem uma contribuição muito importante e efetiva no processo ensino aprendizagem, uma vez que sentimos os efeitos no desenvolvimento das atividades em sala de aula. (C1, 2014) Sim, por meio da organização dos HECs (Horário de Estudo em Conjunto) semanais que são responsáveis pela formação continuadas em nível de Unidade Escolar. Esses encontros são planejados anualmente (constam no Projeto Político Pedagógico). Podem e devem sofrer alterações mediante as necessidades da equipe com intenção de auxiliar as práticas pedagógicas e, consecutivamente, aprimorar o desempenho discente. (C2, 2014). Sim, a formação continuada no colégio se refere a “formação permanente” que ocorre mensalmente com uma proposta de integrar toda a comunidade escolar. Desde educação infantil até o cursinho. Onde também são desenvolvidas atividades referentes a cada seguimento. Para, além disso, o colégio tem o plano de convivência que gera outros momentos de encontro além destes mensais. E semestralmente temos muitas palestras e encontros de formação como, por exemplo: Dr. João Carlos. A contribuição é total porque mobiliza os professores para novos aprendizados e traz novos horizontes e perspectivas. (C3, 2014) Consideramos relevantes os encontros semanais realizados pelos coordenadores pedagógicos na escola, como meio, instrumento de formação, “uma vez que experiências comprovam a importância de contarmos com o mínimo de duas horas e meia-relógio por semana para reflexões coletivas.” (CHRISTOV, 2008, p. 12). Entretanto precisamos pensar em outros fatores importantes para a formação dos professores e demais profissionais da educação, uma vez que para serbem sucedido, qualquer projeto de formação contínua realizado na escola ou em outro local precisa ter assegurado algumas condições. É preciso que os educadores sejam valorizados, respeitados e ouvidos. É preciso também que o saber advindo de sua experiência seja valorizado. (FUSARI, 2008, p. 22). É preciso considerar também o que Paro (2010) traz de que a formação docente em serviço pode apresentar uma multiplicidade de opções em termos de práticas e ações adrede concebidas para a elevação intelectual e moral dos educadores escolares, mas dificilmente terá concretizadas todas as suas potencialidades se não fizer parte de um programa estruturado coerentemente como elemento de uma política educacional com o fim de melhoria da qualidade de ensino. Chama atenção nas falas das coordenadoras a importância de levar em consideração na formação dos professores as necessidades, demandas do cotidiano escolar deles. Para elas a discussão e a análise desses pontos podem auxiliar os processos de ensino e de aprendizagens dos alunos e na sala de aula. Diante disso, porque não propor momentos fora da escola para que os professores pesquisem, analisem suas próprias ações cotidianas, reflitam sobre sua prática, tendo em vista que o ideal é que a formação contínua ocorra num processo articulado fora e dentro da escola. Por um lado, a prática da formação contínua no cotidiano da escola apresenta muitos pontos positivos, mas, por outro lado, a saída dos educadores para outros locais formadores também pode ser bastante enriquecedora. (CHRISTOV, 2008, p. 19). Quando a C1 diz que incentiva a participação de todo o corpo docente em cursos presenciais, como em EAD, ela está reforçando a necessidade de se buscar outros espaços de formação. O que para o processo de ensino e de aprendizagem é muito importante. Outro momento interessante de formação são as parcerias realizadas pelas universidades e as redes de ensino. Quando essas possuem uma proposta bem definida de trabalho, possivelmente alcançarão excelentes objetivos, colhendo bons frutos. Sabemos que é importante a formação dos professores, mas a formação da coordenação pedagógica também é importante e necessária, pois “o trabalho do professor- coordenador é fundamentalmente um trabalho de formação continuada em serviço” (GARRIDO, 2008, p. 9). Observando as respostas dada a questão: Quanto a sua formação continuada, como ocorre, em que momentos, você concorda com todos os momentos ou sugeriria outros? Por quê?, podemos tecer algumas análises. Para organizar os encontros de A.T.P.C. realizo leituras e isso já contribui com minha formação, ela também acontece através de cursos que faço aos finais de semana, por minha própria conta. Gostaria de ter uma formação durante o horário de trabalho, assim como já ocorreu em anos anteriores, em que os coordenadores pedagógicos se reuniam semanalmente para estudar. (C1, 2014) A minha ocorre por meio de cursos de capacitação a nível de SME, ora com curso específico ao PCP ora em aspectos (levantados a partir dos dados da Rede) pontuais relacionados às áreas, específicas, do conhecimento com intenção de promover embasamentos teóricos funcionais e satisfatórios para complementar a prática do PCP, no momento de organização do HEC, em relação ao atendimento das necessidades reais da escola. Além desses há uma busca pessoal em relação a ampliação de conhecimento sobre as diferentes deficiências (D.A/D.F/D.I) abrangidas em nossa escola por meio de parcerias (como CEEs) com o propósito de auxiliar professores, pais, alunos e, também, a formação em Coordenação Pedagógica por meio do curso de pós graduação pela UFSCAR. (C2, 2014). Como ainda estou terminando o curso me vejo bastante atualizada, mesmo assim penso que como profissional da educação devo me aprofundar ainda mais em outras áreas como: resolução e mediação de conflitos, avaliação e etc. Mesmo apesar de ter feito o aprofundamento em gestão. Concordo sim, mas vejo que o sistema brasileiro deveria dar mais ênfase a educação e a formação de professores. Sinto-me privilegiada pois na escola em que trabalho existe os conselhos, momentos de estudo e troca “Formação Permanente”. Mas, se houver incentivo do sistema a situação seria muito melhor. (C3, 2014). Observamos que a formação das coordenadoras se dá de formas distintas, de acordo com a rede de ensino que atuam. Tanto C1, quanto C2 consideram que o trabalho que realizam na escola (condução dos encontros semanais com os professores) contribui para sua formação. Mas elas possuem outras formas de formação profissional. C1, por exemplo, realiza cursos por conta própria, C 2, além de realizar curso de pós graduação na área, recebe de sua rede capacitações específicas para sua atuação e C3, considera que o sistema deveria dar mais ênfase e incentivo para sua formação. Entretanto não podemos relegar a formação contínua exclusivamente à responsabilidade do Estado. Cada educador é responsável por seu processo de desenvolvimento pessoal e profissional; cabe a ele o direcionamento, o discernimento e a decisão de que caminhos percorrer. (FUSARI, 2008, p.23) • O coordenador pedagógico e as demandas da atualidade A escola de ontem, não é mais a mesma. Essa frase já virou um clichê nos dias de hoje. E que bom que ele faz parte do nosso cotidiano. Que bom que a escola não é mais a mesma de ontem, que bom que o aluno não é mais o mesmo. Que bom que as coisas mudaram. Hoje o aluno encontra muita informação, tem muito mais acesso a conhecimentos fora dos muros da escola. E para isso, professores e equipe gestora precisam estar preparados para atender a nova clientela e estarem subsidiados de instrumentos necessários para lidarem com as novas demandas educacionais. A respeito das tecnologias, perguntamos as coordenadoras: Como você se porta diante das novas tecnologias? Há uma proposta pedagógica na escola quanto a isso? E elas responderam: Me porto bem, sempre busco me aperfeiçoar e buscar novas ferramentas de trabalho, na escola tem a sala de informática que esta sendo organizada para ser utilizada e portanto existe uma proposta pedagógica que prevê uma consonância com as situações de aprendizagem do caderno de atividades do aluno. (C1, 2014). Procuro me capacitar e aperfeiçoar, na medida do possível, haja vista a evolução dessas tecnologias. Nos encontros de HECs é utilizado os recursos que a escola dispõe (kits multimídia doado por um supermercado, multimídia entregue pela rede de ensino e máquinas fotográficas), na intenção de capacitar a equipe docente para que possam se apropriar na dinâmica, além de capacita- los para o uso e, utiliza-los nas propostas de sala de aula. (C2, 2014). Vejo que a tecnologia esta cada vez mais no meio escolar, nas nossas lousas digitais, notebooks em sala de aula, sala de informática. E vejo que a educação em si tem estado mais próxima e não contra. Porém é claro que não se pode perder a medida e a nossa proposta pedagógica vai de encontro no sentido do que é importante pedagogicamente para os nossos alunos, que é a formação integral, política, ética. (C3, 2014). Observamos que elas buscam se adaptar às tecnologias, buscando conhecer seu funcionamento, suas funções. Se pegarmos a resposta dada pela C1, quanto as suas funções na escola, ela cita, reforçando a resposta dada a essa questão. “[...] forneço e auxilio na instalação de equipamentos eletrônicos que serão utilizados nas aulas [...]” (C1, 2014). Diante disso, ficamos contentes de ver que as coordenadoras pedagógicas estão levando em consideração as tecnologias em seu trabalho pedagógico. E cada dia essa temática demanda mais atenção e associação no trabalho pedagógico na escola e em salas de aulas, mas devemos ter a noção alertada por Postman (Barato, 1997, p. 115) de que “a mudança tecnológica não é nem aditiva nem subtrativa”. Sarmento (2008, p. 64),vai além e diz que a mudança deve ser total, de ruptura, pois em si, ela não acresce nem diminui competências ou incompetências da escola, não vai desatar os nós do enfadamento do ensino, muito menos “salvar” o sistema educacional da crise didático-pedagógica instaurada. (SARMENTO, 2008, p. 65). Mesmo percebendo que as coordenadoras apresentam familiaridade com as novas tecnologias, devemos observar que “tecnologia não pode ser confundida com aparato tecnológico, com máquina” (SARMENTO, 2008, p. 65), elas possuem outras funções ricas para o processo de ensino e de aprendizagem dos alunos. Tecnologia é conhecimento aplicado, é saber humano embutido em um processo, seja esse processo automático ou não, implique artefato ou não. Nova tecnologia é, antes, uma mudança no fazer que frequentemente embute uma correspondente mudança de concepção. (SARMENTO, 2008, p. 65) Frente ao exposto, o coordenador pedagógico possui um papel muito importante na introdução das novas tecnologias nos espaços escolares, seja buscando capacitações para si, como capacitar professores e funcionários, analisando e (re) pensando suas utilizações para o processo de ensino e de aprendizagem dos alunos. Outra demanda da atualidade na educação são os processos avaliativos externos. Hoje é impossível pensar em educação, sem levar em consideração a política de avaliação externa. Os sistemas de ensino, sejam eles públicos ou privados, valorizam os processos avaliativos, os indicadores, os índices, as metas projetadas pelos organismos internacionais, pela legislação educacional. Diante disso, indagamos as coordenadoras: Como você encara os processos avaliativos externos? A proposta pedagógica da escola os contempla? De que forma e em que momentos? Os processos avaliativos externos são muito bons para mensurar e propor reflexões sobre a prática desenvolvida, considerando que a proposta pedagógica segue em cima do currículo do estado de São Paulo que traça a linha a ser seguida, sendo permitida a complementação caso necessária. Temos a avaliação externa – avaliação da aprendizagem em processo – que acontece semestralmente, SARESP – anual, Prova Brasil anual. (C1, 2014). Pensar em avaliação é pensar em várias situações e instrumentos no processo de ensino/aprendizagem significativos. As avaliações externas, normalmente estão em harmonia com o referencial nacional, PCN, e nós planejamos as ações tendo ele como referência, além da Proposta Curricular do Município. Diante disso, elas podem auxiliar e (re) direcionar o nosso trabalho ou abordagem, à medida que “diagnosticamos” aspectos defasados e que, essencialmente, precisam ser aprimorados. Sem perder a proficiência e fluxo que são aspectos, normalmente, condutores dessas avaliações. (C2, 2014, grifos da coordenadora). Pela resposta da C1, observamos que sua escola já aderiu a política de avaliação em larga escala realizada pela sua rede de ensino e provavelmente as incorporou em sue trabalho pedagógico. Ela cita as avaliações que sua unidade escolar participa e enfatiza as suas utilidades: reflexão da prática, mensuração e (re) orientação de currículo. C2 enfatiza que as avaliações externas podem (re) direcionar o trabalho pedagógico realizado pela escola e que essas são associadas ao referencial nacional e PCNs, com apoio da proposta curricular da rede que ela atua. C3, por se tratar de coordenadora da rede privada de ensino, não respondeu a questão, alegando que sua unidade não trabalha com as avaliações externas. Entretanto, consideramos que sua concepção de avaliação externa esteja pautada somente nos processos avaliativos externos implementados pelo Estado que visem cobranças e que tragam implicações e consequências diretas para a unidade escolar, ou seja, em nossa análise a coordenadora vê a avaliação externa somente a partir da ótica da terceira geração exposta por Bonamino e Sousa (2012). Para as autoras, esses tipos de avaliações “referenciam políticas de responsabilização forte ou higs stakes, contemplando sanções ou recompensas em decorrência dos resultados de alunos e escolas”. (BONAMINO; SOUSA, 2012, p. 375). Diante disso, a coordenadora, acaba esquecendo que sua rede de ensino também dá ênfase em processo avaliativo externos. Um exemplo é o caso do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio). Frequentemente observamos que as unidades escolares da rede particular costumam divulgar seus rankings na mídia, evidenciando os rendimentos de seus alunos em tal avaliação. Assim, observamos certa contradição quando C3 não responde a questão alegando que a unidade escolar em que atua não trabalha com avaliações externas. A escola conta sim com avaliações externas em seu bojo educacional. O que não podemos afirmar, é que o trabalho pedagógico seja direcionado para elas, ou que as avaliações externas têm trazido implicações e consequências para a escola e a sala de aula. Tal dúvida, abre margem para futuras pesquisas. Frente ao exposto, consideramos que os coordenadores pedagógicos devem estar muito bem preparados e subsidiados de conhecimentos diversos para saberem analisar, discutir, propor ações e intervenções para e com as demandas educacionais. Apesar de concentramos nossa discussão em alguns aspectos, outros exemplos de demandas poderiam ser discutidas: sexualidade, diversidade, educação ambiental e tantas outras, proporcionando assim momentos ricos de formação para os docentes e de trocas de experiências entre eles, os alunos e a equipe escolar como um todo. Considerações Após a análise dos questionários e formulários respondidos pelas coordenadoras pedagógicas e pela discussão realizada ao decorrer desse texto, podemos tecer algumas considerações. Em primeiro lugar, quando as coordenadoras mencionam suas funções e atribuições na escola, elas se esquecem de funções e atribuições que deveriam realizar e que possivelmente contribuiriam para os processos de ensino e de aprendizagem e para a dinâmica da escola, tais como: desenvolvimento de atividades no início do ano letivo, auxílio na adaptação de novos alunos e professores na escola, montagem de sala de aulas, preparação dos professores para receber os alunos, orientação profissional, entre outras. Em segundo lugar, quando elas dizem que em suas escolas possuem propostas pedagógicas bem definidas, é preciso realizar uma análise maior, com o objetivo de verificar as formas que essas formações estão sendo realizada. Consideramos que urge ainda uma necessidade de formações mais coerentes e condizentes com os processos de ensino e de aprendizagens desenvolvidos dentro das escolas, focando nas problemáticas e particularidades de cada segmento, o que para nós, não são contempladas pelas políticas públicas de formação de professores, em especial da rede pública de ensino. Por fim, esperamos que os coordenadores pedagógicos a cada dia se aperfeiçoem, busquem novos conhecimentos e ferramentas para lidar com as demandas educacionais exigidas pela sociedade e pela sua clientela. Que nossos coordenadores possam ir além de suas salas, de seus status quo. Que eles possam superar as barreiras da burocracia administrativa e propor ações que possam ser traduzidas em efetivos processos de ensino e de aprendizagens. Referências BARATO, J. N. Informação e Comunicação do Ensino Superior: novos apoios ao ensino e à pesquisa. In: RODRIGUES, M. L; FRANCO, M. L. B (Orgs.). Novos Rumos do Ensino Superior. São Paulo, PUC –NEMESS, 1997. BONAMINO, A; SOUSA, S. Z. Três gerações de avaliação da educação básica no Brasil: interfaces com o currículo da/na escola. Educação e Pesquisa. São Paulo: v. 38, n.2, p. 373-388, abr./jun. 2012. CHRISTOV, L. H. da S. Educação continuada: função essencial do coordenador pedagógico. In: MATE, C. H. et al – O coordenador pedagógico e a educação continuada. São Paulo, Loyola, 11ª ed., 2008, p. 9-13. FUSARI,J. C. Formação contínua de educadores na escola e em outras situações. In: BRUNO, E. B. G. (Org) – O coordenador pedagógico e a formação docente. São Paulo, Loyola, 9ª ed. 2008, p. 17-24. GARRIDO, E. Espaço de formação continuada para o professor-coordenador. In: BRUNO, E. B. G. (Org) – O coordenador pedagógico e a formação docente. São Paulo, Loyola, 9ª ed. 2008, p. 9-15. GUIMARÃES, A. A.; VILLELA, F. C. B. O professor-coordenador e as atividades de início de ano. In: BRUNO, E. B. G. (Org) – O coordenador pedagógico e a formação docente. São Paulo, Loyola, 9ª ed. 2008, p. 37-53. PARO. V. H. Crítica da estrutura da escola. São Paulo, Cortez, 2011. SARMENTO, M . L. de M. O coordenador pedagógico e o desafio das novas tecnologias. In: BRUNO, E. B. G. (Org) – O coordenador pedagógico e a formação docente. São Paulo, Loyola, 9ª ed. 2008, p. 63-69.
Compartilhar