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CARCINOGÊNESE E DERMATOSES PRÉ-CANCEROSAS

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Maria Clara Cavalcante 
CAPÍTULO 51 – CARCINOGÊNESE E DERMATOSES PRÉ-
CANCEROSAS 
CARCINOGÊNESE 
Fatores que estão envolvidos, isolados ou não 
• Físicos: Raios UV, raios ionizantes, calor e traumas 
• Químicos: Alcatrão e derivados, arsênico 
• Biológicos: Hormônios e vírus 
Esses fatores vão agir sobre a epiderme e/ou derme, 
causando alterações que podem sofrer regressão, passar 
para a fase proliferativa (ou neoplásica), além disso, pode 
ocorrer a regressão em um câncer já propriamente 
constituído (carcinomas e melanomas) 
• Exemplo: Sarcoma de Kaposi, que pode surgir em 
imunossupressão, mas regride após ela. 
Podemos dividir o câncer de pele em: 
• Câncer de pele não melanoma: Carcinoma 
basocelular (CBC) e carcinoma espinocelular (CEC) 
• Câncer de pele melanoma 
O CEC (carcinoma espinocelular) é muito comum em 
imunodeprimidos (os pacientes com AIDS possuem de 3-5x 
mais chances de câncer de pele não melanoma (como o 
CEC e o CBC) 
Um dos critérios histopatológicos para o melanoma são 
infiltrados inflamatórios com predomínio linfocitário 
peritumoral. 
O que são áreas imunologicamente vulneráveis? Se 
relacionam com a dificuldade das células NK (estas células 
tem a “tarefa” de destruírem as células tumorais) em 
circularem ou com a estimulação angiogênica - 
favorecendo o aparecimento de neoplasias 
➔ Conceitos importantes: 
Iniciação: 1º estágio da indução do câncer – Acontece 
quando algum agente pode gerar alterações permanentes 
no genoma da célula e sua progênie (Ex: UV, aminas 
aromáticas, hidrocarbonetos aromáticos) 
Promoção: Tem que acontecer após a iniciação e o agente 
tem que ser aplicado diversas vezes repetidas, promovendo 
alterações reversíveis, como inflamação, hiperplasia, 
irritação (Ex: UV, óleo de cróton..) 
Carcinógeno completo: Agente capaz de iniciar e promover 
o desenvolvimento tumoral (RUV) 
Cocarcinogênese: Efeito aditivo entre dois agentes, sendo 
algum deles necessariamente carcinógeno (Ex: Uv + 
mostarda nitrogenada) 
Protoncogenes: Genes normais que são relacionados com o 
crescimento e diferenciação das células. Presentes em 
todas as espécies. Quando sofrem mutação ou saem de um 
ambiente que tinham controle, se tornam tumorigênicos – 
Oncogenes: Genes transformadores 
• Oncogene Myc: Age no núcleo 
• Oncogene Ras: Age no citoplasma 
Genes supressores: Modulam o crescimento celular – gene 
supressor mais conhecido é o P53, que é localizado no 
braço curto do cromossomo 17 e codifica uma 
fosfoproteína (a mutação dela causa a perda de função e 
possibilita o crescimento celular desordenado) 
➔ Mecanismos desencadeadores da carcinogênese: 
O principal carcinógeno para a pele é o RUV (radiação 
ultravioleta) e ele age de duas formas: 
• 1ª) Gera dímeros de timina (iniciação) 
• 2ª) Relacionada a imunossupressão que depleta as 
células de Langerhans e estimula o surgimento de 
clones de linfócitos supressores (promoção) – o 
que facilita o crescimento tumoral 
As lesões pré-cancerosas mais comuns são as ceratoses 
(actínica – esta, assim como carcinomas e melanomas, tem 
preferência por áreas mais expostas (rosto, mãos, braços, 
pescoço) , alcatrão e arsênico) 
Apenas os raios UV A e B atingem a pele humana (existem o 
A, B e C), o que provoca alterações benéficas ou não, 
dependendo da intensidade da radiação e cor da pele (a 
mais vulnerável é a que não se pigmenta, se tornando 
apenas eritematosa após a exposição) – O UVB é mais 
carcinogênico que o UVA 
Independente da latitude, no negro, o aparecimento de 
carcinomas, melanomas e ceratose actínica é mais raro 
O efeito cancerígeno da radiação do sol sobre a pele é 
acumulativo (aumenta progressivamente de acordo com o 
tempo de exposição) 
O que são campos de cancerização? Esse termo vem de 
situações em que os pacientes que têm neoplasias têm uma 
maior chance de desenvolverem outra neoplasia primária. 
Tumor de colisão: Coexistência de duas neoplasias distintas 
no mesmo material que foi excisado – A coexistência mais 
comum é CBC e nevo melanócito. A associação entre 
tumores malignos é bem rara 
Síndrome de Brooke-Spiegler: Associação na mesma lesão 
de cilindroma + tricoepitelioma ou cilindroma + 
espiroadenoma écrino 
➔ Mecanismos genéticos envolvidos na 
carcinogênese: 
Todo câncer tem cariótipo anormal 
Após alterações dos cromossomos, ocorre processos 
multisequenciais que ativam oncogenes e/ou desativam 
 
Maria Clara Cavalcante 
genes supressores, causando a um crescimento de células 
de forma desordenada 
DERMATOSES PRÉ-CANCEROSAS 
São aquelas que podem evoluir para um câncer cutâneo 
(que são adquiridas ou genéticas) – Porém, os limites entre 
dermatoses pré-cancerosas e o câncer cutâneo ainda são 
imprecisos (Exemplo, muitos consideram ceratose actínica 
como pré-cancerosa e outros como já câncer) 
➔ Ceratose actínica: Ceratose senil 
Surge em idade avançada (mas não é considerado sinal de 
velhice e sim uma manifestação de irradiação solar que foi 
acumulada) 
• Preferência por áreas expostas 
• Geralmente múltipla 
• Pequenas lesões de cor castanho, com superfície 
rugosa (as vezes tem aspecto de lesão atrófica e 
eritematosa descamativa) 
A sua remoção pode causar sangue, o que indica possível 
transformação 
Os CEC advindos de ceratoses actínicas tem baixa 
capacidade de metástase 
Tratamento: Uso de 5-fluorouracila tópico? Esse tratamento 
pode evidenciar algumas que ainda não surgiram, pois ele 
tem predileção por células em mitose – o que é um 
problema preocupante, pois inviabiliza seu uso 
Destruição mecânica? É o preferencial. 
A terapia fotodinâmica é um tratamento muito eficaz (usa o 
ácido metilaminolevulínico g em creme e luz vermelha) 
 
➔ Ceratoses tóxicas: 
Tem as mesmas características, a diferença é a localização - 
As que são produzidas por hidrocarbonetos aromáticos se 
localizam nas áreas de contato da substância – São menos 
comuns graças ao uso de EPIs 
➔ Arsenicismo crônico: 
Pode advir de ingestão de água contaminada, ingestão de 
solução de Fowle (remédio que era usado antigamente para 
psoríase), inseticidas ou outras substâncias com arsênico 
Podem ser achadas lesões de CBC, doença de Bowen e 
evolução para CEC que metastizam 
• Preferência por localização palmoplantar 
• Múltiplas e pontuadas 
• Hipercromias com despigmentação em gota 
Podem ocorrer: Anemia, leucopenia, polineuropatia 
simétrica, , trombocitopenia, alopecia e alterações tipo 
acrodermatite e tromboangiite em MMII 
➔ Radiodermite: 
Vem da aplicação de radioterapia – A lesão surge em meses 
ou anos depois da exposição 
A pele é xerótica e a área que foi acometida fica 
poiquilodérmica, hipo-hiperpigmentada, pode ter pontos 
de ceratose e ulceração 
Comum o aparecimento de CEC que podem metastizar – 
Porém, quando a pele não está muito alterada, pode surgir 
o CBC e a transformação sarcomatosa é rara 
➔ Úlceras crônicas e cicatrizes: 
Independente da natureza, podem transformar-se em CEC 
(constituindo a úlcera de Marjolin) – No geral, são tumores 
com poucas atipias e bem diferenciados que podem 
precisar de muitas biópsias para o diagnóstico. 
Luz de Wood – Ferramenta importante, que pode ser útil no 
local onde será colhida a biópsia, pois ela gera fluorescência 
que lembra brasa e em locais advindos de queimaduras, o 
comportamento é mais agressivo. 
 
➔ Leucoplasia: 
Placas brancas em mucosas, principalmente oral (elas 
podem se localizar em qualquer área, e o assoalho da boca 
é local perigoso) – Não são removíveis mecanicamente e 
discretamente elevadas 
Em certos casos podem ser vegetantes e em outros erosivas 
e/ou ulceradas (sinal de malignização) 
Idiopáticas X Decorrentes de irritações ou traumas 
(dentaduras) 
Se o agente causal for removido, há a regressão da lesão – A 
exérese cirúrgica é um bom aliado 
Diagnósticos diferenciais: Líquen plano, Lúpus eritematoso,Candidíase e Disceratose congênita 
 
 
 
Maria Clara Cavalcante 
➔ Corno cutâneo: 
Proliferação compacta e corniforme de queratina sobre 
uma base (que pode ser ceratose seborreica ou actínica, 
angioma, verrugas) 
Conduta: Exérese cirúrgica + exame histopatológico da base 
da lesão 
 Corno cutâneo cuja base era 
ceratose actínica 
➔ Queilites: 
Atenção à: Queilite actínica: Eritema, descamação, fissuras 
e erosão de lábio inferior que se acentua após a exposição 
ao sol -> 10-20% transformam-se em CEC 
Queilite glandular simples: Não existe essa transformação! 
Queilite glandular de Puente: Divisão de opiniões 
➔ Epitelioma intraepidérmico de Borst-Jadassohn: 
Aglomerado de células tumorais na epiderme cercado por 
queratinócitos normais 
➔ Doença de Bowen: 
Lesão eritematosa, com bordas bem delimitadas (mas 
irregulares) – Superfície velvéticas ou exsudativas e com 
cresimento lento 
É considerada paraneoplásica 
Pode estar associada ao arsenicismo e pode ter localização 
mucosa 
É um verdadeiro CEC in situ, em que pode-se observar na 
patologia: 
• Hiperplasia epidérmica com paraceratose 
• Células completamente desordenadas com núcleos 
grandes e hipercromáticos 
Pode ocorrer vacuolização das células 
 
 
 
➔ Eritroplasia de Queyrat: 
Lesão aveludada, em placa e que tem localização peniana 
(geralmente em homens não circuncidados) 
Tem patologia semelhante à doença de Bowen 
Sinais de transformação para CEC: Ocorrem em 10% das 
lesões e são: ulceração, sangramento e vegetação 
Diagnósticos diferenciais: carcinoma basocelular superficial 
(ausência de perolação nas bordas), doença de Paget, 
papulose bowenoide e melanoma (quando tiver lesão 
pigmentada) 
Tratamento: Cirúrgico, terapia fotodinâmica ou 5-
fluorouracila a 5%, ou o imiquimode a 5% 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS: AZULAY R. D.; AZULAY D. R., Dermatologia. 6 
ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan; 2013

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