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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS CÂMPUS DE ARARAQUARA Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas DESENVOLVIMENTO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE LÁTEX NATURAL DE Hevea brasiliensis (WILD. EX A. JUSS.) MÜLL. ARG. COM EXTRATO DE Casearia sylvestris SWARTZ E SEUS COMPONENTES FLÁVIO ALEXANDRE CARVALHO ORIENTADOR: Prof. Dr. ANDRÉ GONZAGA DOS SANTOS CO-ORIENTADOR: Prof. Dr. RONDINELLI DONIZETTI HERCULANO ARARAQUARA – SP 2015 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS CÂMPUS DE ARARAQUARA Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas DESENVOLVIMENTO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE LÁTEX NATURAL DE Hevea brasiliensis (WILD. EX A. JUSS.) MÜLL. ARG. COM EXTRATO DE Casearia sylvestris SWARTZ E SEUS COMPONENTES FLÁVIO ALEXANDRE CARVALHO Defesa de Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas, Área de Pesquisa e Desenvolvimento de Fármacos e Medicamentos, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas, UNESP, como parte dos requisitos para obtenção do Título de Mestre em Ciências Farmacêuticas. ORIENTADOR: Prof. Dr. ANDRÉ GONZAGA DOS SANTOS CO-ORIENTADOR: Prof. Dr. RONDINELLI DONIZETTI HERCULANO ARARAQUARA – SP 2015 Flávio Alexandre Carvalho Flávio Alexandre Carvalho Flávio Alexandre Carvalho Pela liberdade, assim como pela honra, pode-se e deve-se arriscar a vida. Miguel de Cervantes Dedicatória Flávio Alexandre Carvalho Dedicatória Dedico este trabalho aqueles que sempre se dedicaram para que eu conseguisse realizar meus objetivos, meus queridos pais, que sempre me apoiaram e também a minha sobrinha Faviani, por todo apoio e confiança. Agradecimentos Flávio Alexandre Carvalho Agradecimentos Agradeço a Deus por todas as graças alcançadas e aos meus pais, por tudo que fizeram por mim, sempre me apoiaram e acreditaram nos meus objetivos. Agradeço ao Prof. Dr. Luís Vitor Sacramento Silva pelos conhecimentos transmitidos em aulas e por permitir utilizar o Laboratório de Botânica e Laboratório Didático de Botânica, e também à Maria Angélica pela colaboração e atenção durante os experimentos. Meus agradecimentos à Profª. Dra. Rosemeire Cristina Linhari Rodrigues Pietro, pela permissão em utilizar o Laboratório de Biotecnologia, ao Rodrigo pelo auxílio e ao aluno de pós-graduação Jolindo, pela colaboração e apoio nos experimentos e demais etapas. À Profª. Dra. Cleópatra da Silva Planeta agradeço por utilizar o Laboratório de Farmacologia em algumas etapas do projeto. Agradeço pela colaboração e cooperação das funcionárias do Laboratório de Pesquisa Multiusuários, Claudia e Mariluci, por auxiliar nos experimentos cromatográficos e liofilização, os quais foram de grande importância durante o projeto e também à Jussara por toda ajuda nos experimentos e na organização dos dados. Ao Prof. Dr. Alberto José Cavalheiro, agradeço todo o conhecimento transmitido durante sua disciplina, pelas grandes considerações e sugestões no exame geral de qualificação e por ceder o NuBBE para realizar experimentos, assim como os funcionários João Luiz Bronzel Júnior e a Dra. Juliana Rodrigues, por auxiliar durante a realização dos experimentos cromatográficos. Agradeço ao Laboratório de Microscopia Avançada – LMA-IQ pela disponibilidade de utilização do microscópio eletrônico de varredura. Agradeço ao Matheus Carlos Romeiro Miranda, pela cooperação e parceria em diversos experimentos. Agradeço ao Laboratório de Ressonância Magnética Nuclear do IQ-UNESP e a Dra. Lucinéia Vizzotto Marconcini, pelas análises feitas, que foram de fundamental importância. Meus agradecimentos a Profª. Dra. Hérida Regina Nunes Salgado pela colaboração na discussão de alguns experimentos. Agradecimentos Flávio Alexandre Carvalho Agradeço ao Laboratório de Biomateriais e Liberação Controlada – Biomat e ao Felipe Azevedo Borges pelo apoio e colaboração nos ensaios realizados. Meus agradecimentos à Profª. Dra. Maria Palmira Daflon Gremião e ao Laboratório de Farmacotécnica e Tecnologia Farmacêutica, pelas análises feitas e às alunas Márcia Oyafuso, Maíra e Roberta, pela disponibilidade de colaboração. Agradeço às importantes contribuições feitas pela Profª. Dra. Leila Aparecida Chiavacci no exame geral de qualificação. Grato ao Laboratório de Farmacognosia, onde realizei a maioria dos experimentos, ao Caio, pela colaboração direta nas mais diversas etapas deste projeto e aos alunos que estiveram envolvidos neste trabalho, Érick e Helena, e demais colegas, Polyanna, Profª. Raquel, Ana Carolina, Daniela, Josyane, Natan, Karine, Rafael, Gabriela, Luíza, Paulo Yamasaki, Chiba, Rafael, Luiz Dutra, Mateus Scontri e a todos que de certa forma colaboraram. Aos que sempre estiveram presentes e foram importantes antes mesmo do início deste trabalho, agradeço pelas contribuições e apoio, meus agradecimentos aos amigos Elaíse, Fernando e Juhan. À Bruna Bonifácio agradeço por toda disponibilidade em colaborar, ajuda e apoio durante a elaboração e conclusão deste trabalho. Meus agradecimentos aos professores Dr. Antônio Eduardo Miller Crotti e Dr. Marlus Chorilli, pelas importantes considerações e contribuições dadas ao trabalho. Agradeço ao Rogério Cardoso de Castro e o Prof. Dr. Demian Rocha Ifa pelo empenho e apoio nas análises de espectrometria de massas e ao Laboratório de Química Analítica da Universidade de York, onde foram realizados experimentos. Ao Prof. Dr. Rondinelli Donizetti Herculano, agradeço pela co-orientação, ensinamentos e contribuição neste trabalho. Ao meu orientador, Prof. Dr. André Gonzaga dos Santos, agradeço pela confiança, dedicação, ensinamentos e empenho neste trabalho, suas contribuições foram importantíssimas e de grande valor em todos os aspectos. Índice de Figuras Flávio Alexandre Carvalho ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1: Casearia sylvestris (AGS 102) – Horto de Plantas Medicinais e Tóxicas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas, UNESP, Araraquara. .................................. 32 Figura 2: a) estrutura química geral dos diterpenos clerodânicos de C. sylvestris. R1 a R5 são substituintes oxigenados, principalmente ésteres (ex. acetato, butanoato), éteres (metoxilas) e hidroxilas (Tabela 1); b) estrutura da rutina (flavonoide). .......... 34 Figura 3: Hevea brasiliensis (Willd. Ex A. Juss.) Müll. Arg. ...................................... 45 Figura 4: Coleta do látex natural. ............................................................................. 46 Figura 5: Estrutura química da unidade isoprênica (C5H8), cuja composição é de C (88,16%) e H (11,84%), massa exata de 68,0626 Da. .............................................. 48 Figura 6: Representação da estrutura química do poli-1,4-cis-isopreno. ................. 49 Figura 7: Fracionamento do extrato etanólico de folhas de C. sylvestris. ................ 60 Figura 8: Distribuição granulométrica da droga vegetal, média de 3 determinações. .................................................................................................................................. 73 Figura 9: Curva analítica para a solução padrão de ácido gálico, na determinação do teor de fenólicos totais no extrato, no λ em 269 nm. ................................................. 75 Figura 10: Curva analítica para a solução padrão de rutina, na determinação do teor de fenólicos totais no extrato, no λ em 269 nm. ........................................................ 76 Figura 11: Curva analítica para a solução padrão de ácido gálico, na determinação do teor de fenólicos totais no extrato, utilizandoo reagente Folin-Ciocalteu. ............ 77 Figura 12: CCD (sílica gel) do Extrato (Ext), frações EFS F 1-3 (5,0 mg/mL em MeOH) e os padrões casearina J (cas J), B (cas B) e caseargrewiina F (casg F) (1,0 mg/mL, MeOH), utilizando a FM composta por hex: AcOEt: i-PrOH 70:28:02 (v/v). O revelador utilizado foi o anisaldeído sulfúrico, permanecendo em estufa à 110º C por 10 min........................................................................................................................ 79 Figura 13: Cromatogramas do extrato e EFS F2. Substâncias identificadas: cas B, cas J e casg F. Análises em CLAE-DAD em coluna de FR Hypersil Gold® (C-18, 250 x 4,6 mm, 5 µm), em gradiente linear com MeOH: MeCN: água 22:44:34 para 47:53:00 (v/v/v) em 42 min, mantendo isocraticamente em 47:53:00 por 5 min; fluxo de 0,8 mL/min; detecção em λ 190-400 nm, com monitoramento em 235 e 254 nm; volume de injeção de 20 μL....................................................................................... 81 Figura 14: Cromatogramas dos padrões cas B, cas J e casg F e os respectivos espectros no UV. Análises em CLAE-DAD em coluna de FR Hypersil Gold® (C-18, Índice de Figuras Flávio Alexandre Carvalho 250 x 4,6 mm, 5 µm), em gradiente linear com MeOH: MeCN: água 22:44:34 para 47:53:00 (v/v/v) em 42 min, mantendo isocraticamente em 47:53:00 por 5 min; fluxo de 0,8 mL/min; detecção em λ 190-400 nm, com monitoramento em 235 e 254 nm; volume de injeção de 20 μL....................................................................................... 82 Figura 15: CCD (sílica gel) utilizando como FM: 1) hex: AcOEt: i-PrOH 70:28:02 (v/v), para as frações 1-14 e FM 2) hex: AcOEt: i-PrOH 60:37,3:2,7 (v/v) para as frações 15-55, solubilizadas em 5,0 mg/mL em AcOEt. O revelador foi o anisaldeído sulfúrico, permanecendo em estufa à 110º C por 10 min. ......................................... 84 Figura 16: Cromatogramas analítico, preparativo e pós-preparativo da Fração F. 12 da EFS F2, referente a CC. ....................................................................................... 86 Figura 17: Cromatogramas analítico, preparativo e pós-preparativo da Fração F. 13- 14 da EFSF 2, referente a CC. .................................................................................. 87 Figura 18: Curva analítica da casearina J em CLAE-DAD. ...................................... 88 Figura 19: Espectro de RMN de 1H da casearina J em piridina-d5 obtido a 300 MHz. .................................................................................................................................. 91 Figura 20: a) Estrutura química da casearina J. b) Principais correlações verificadas nos mapas de contorno COSY (↔) e HMBC (→). .................................................... 93 Figura 21: Espectro de RMN de 13C da casearina J em piridina-d5 obtido a 75 MHz. .................................................................................................................................. 95 Figura 22: Membranas produzidas: a) MLN; b) MLN Extrato C. sylvestris; c) MLN F2; d) MLN J. ................................................................................................................... 97 Figura 23: Gráfico da extração de compostos fenólicos totais (% da massa de compostos fenólicos extraídos, em relação a massa de compostos fenólicos na MLN Extrato). ..................................................................................................................... 99 Figura 24: Curva analítica para a solução padrão de casearina J, com leitura da absorbância no λ em 235 nm. ................................................................................. 100 Figura 25: Gráfico da extração de casearinas totais expressas como casearina J (% da massa de diterpenos extraídos, em relação a massa de diterpenos na MLN Extrato). ................................................................................................................... 101 Figura 26: Espectro de absorção no IV-FT comparativo do Extrato de C. sylvestris seco sob luz UV e em dessecador. ......................................................................... 102 Figura 27: Espectro de absorção no IV-FT comparativo das MLN seca sob luz UV e em dessecador. ....................................................................................................... 103 Figura 28: Espectros de absorção no IV-FT da MLN, Extrato e MLN Extrato. ....... 104 Índice de Figuras Flávio Alexandre Carvalho Figura 29: Espectros de absorção no IV-FT da MLN, F2 e MLN F2. ..................... 106 Figura 30: Bandas de absorção no IV relativas as deformações vibracionais da MLN, casearina J e MLN J. ..................................................................................... 108 Figura 31: Imagens da MEV da MLN, com aumento de x 2.000. ........................... 111 Figura 32: Imagens da MEV das membranas pré e pós liberação em água, com aumento de x 2.000: a) MLN Extrato pré; b) MLN Extrato pós; c) MLN F2 pré; d) MLN F2 pós; e) MLN J pré; f) MLN J pós. ....................................................................... 112 Figura 33: Imagens da MEV da parte interna da MLN Extrato, com aumento de x 2.000. ...................................................................................................................... 113 Figura 34: Gráfico da perda de massa em função do tempo, para as diferentes membranas no ensaio de permeabilidade............................................................... 114 Figura 35: Gráfico do perfil das curvas de tensão-deformação das membranas. .. 115 Figura 36: Gráfico da liberação de compostos fenólicos da MLN Extrato (% de compostos fenólicos liberados, em relação a massa de compostos fenólicos na MLN Extrato). ................................................................................................................... 118 Figura 37: Gráfico da liberação de diterpenos da MLN Extrato (% de diterpenos liberados, em relação a massa de diterpenos na MLN Extrato). ............................. 120 Figura 38: Gráfico da liberação de diterpenos da MLN F2 (% de diterpenos liberados, em relação a massa de diterpenos na MLN F2). .................................... 122 Figura 39: Gráfico da liberação de diterpenos da MLN J (% de diterpenos liberados, em relação a massa de diterpenos na MLN J). ....................................................... 123 Figura 40: Gráfico da permeação de fenólicos totais da MLN Extrato (% da massa de compostos fenólicos permeados, em relação a massa de compostos fenólicos na MLN Extrato). .......................................................................................................... 126 Figura 41: Gráfico da permeação de diterpenos da MLN Extrato (% da massa de diterpenos permeados, em relação a massa de diterpenos na MLN Extrato). ........ 127 Figura 42: Gráfico da permeação de diterpenos da MLN F2 (% da massa de diterpenos permeados, em relação a massa de diterpenos na MLN F2). ............... 128 Figura 43: Gráfico da permeação de diterpenos da MLN J (% da massa de diterpenos permeados, em relação a massa de diterpenos na MLN J). ................. 129 Figura 44: Gráfico da quantidade (µg/cm2) e porcentagem de compostos fenólicos e diterpenos retidos nas camadas de pele de porco, após 24 h de experimentos. .... 131 Índice de Tabelas Flávio Alexandre Carvalho ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1: Diterpenos clerodânicos típicos em espécies de Casearia, onde os substituintes R1 a R5 referem-se aos substituintes da estrutura representada na Figura 4. .................................................................................................................... 35 Tabela 2: Composição química do óleo essencial das folhas de C. sylvestris. ......... 38 Tabela 3: Constituintes químicos do látex natural. ...................................................48 Tabela 4: Análise granulométrica da droga vegetal. ................................................. 73 Tabela 5: Rendimento do extrato calculado de diferentes formas a partir dos ensaios de perda por dessecação realizados com a droga vegetal e extrato concentrado. ... 75 Tabela 6: Valores de massas das frações da EFS F2 obtidas por CC em FN. ........ 83 Tabela 7: Dados das análises da casearina J em CLAE-DAD para construção da curva analítica. .......................................................................................................... 88 Tabela 8: Valores em % obtidos na quantificação de cas J e casearinas totais. ...... 89 Tabela 9: Dados espectrométricos de RMN obtidos para a casearina J a 300 MHz para 1H e a 75 MHz para 13C, em piridina-d5. ........................................................... 92 Tabela 10: Valores referentes ao peso e a espessura média das membranas. ....... 97 Tabela 11: Bandas de absorção no IV relativas as deformações da MLN, extrato de C. sylvestris e MLN Extrato. .................................................................................... 105 Tabela 12: Bandas de absorção no IV relativas as deformações da Fração 2 e MLN F2. ........................................................................................................................... 107 Tabela 13: Bandas de absorção relativas as deformações da casearina J e MLN J. ................................................................................................................................ 109 Tabela 14: Tabela referente a TVA - Transmissão de vapor de água. ................... 114 Tabela 15: Propriedades mecânicas das membranas. ........................................... 116 Abreviaturas e Símbolos Flávio Alexandre Carvalho ABREVIATURAS E SÍMBOLOS AcOEt: acetato de etila AIEs: anti-inflamatórios esteroidais AINEs: anti-inflamatórios não-esteroidais ATR: Attenuated Total Reflectance (modo de reflexão atenuada) MLN: membranas de látex natural C-18: sílica octadecilsilano CC: cromatografia em coluna CCD: cromatografia em camada delgada CLAE-DAD: Cromatografia líquida de alta eficiência com detector de arranjo de diodos CLAE-UV: Cromatografia líquida de alta eficiência com detector por ultravioleta COSY: Correlation Spectroscopy (Espectroscopia de Correlação H‒H) D: distância de eluição DEPT: Distortionless Enhancement Polarization Transfer (Intensificação sem Distorção por Transferência de Polarização) D: derme DE50: dose mínima efetiva 50 % DESI: Desorption Electrospray Ionization (ionização por dessorção por eletrospray) d.i.: diâmetro interno dl: dupleto largo DL50: dose mínima letal 50 % DV: droga vegetal DVdessec: droga vegetal dessecada d.i.: diâmetro interno ε: força de eluição EC: estrato córneo EFS: Extração em fase sólida EGF: Epidermal Growth Factor (Fator de Crescimento Epidérmico) Ep: epiderme Ext Cs: extrato de Casearia sylvestris EtOH: etanol F1: Fração 1 da EFS Abreviaturas e Símbolos Flávio Alexandre Carvalho F2: Fração 2 da EFS F3: Fração 3 da EFS FE: fase estacionária FGF: Fibroblast Growth Factor (Fator de Crescimento de Fibroblastos) FM: fase móvel FN: fase normal FR: fase reversa HARP: Heparin Affinity Regulatory Peptide (peptídeo regulador de afinidade da heparina) HMBC: Heteronuclear Multiple-Bond Correlation (Correlação Heteronuclear de 1H e 13C a múltiplas ligações) HPLC: High performance liquid chromatography (Cromatografia Líquida de Alta Eficiência) HSQC: Heteronuclear single quantum coherence spectroscopy (Correlação Heteronuclear de 1H e 13C a uma ligação) IC50: concentração inibitória 50 % IGDE: isobutyl gallate-3,5-dimethyl ether (3,5-dimetilgaloxi-isobutano) IV-FT: espectroscopia no infravermelho de transformada de Fourier IL: interleucina i-PrOH: isopropanol J: constante de acoplamento λmáx: comprimento de onda máximo m: multipleto Me: metila MeCN: acetonitrila MGDE: methyl gallate-3,5-dimethyl ether (3,5-dimetilgalato de metila) MeOH: metanol MEV: microscopia eletrônica de varredura NuBBE – Núcleo de Bioensaios Biossíntese e Ecofisiologia de Produtos Naturais OAc: acetato OBu: butanoato OMe: metoxila PDEGF: Platelet Derived Endothelial Cell Growth Factor (Fator de Crescimento de Células Endoteliais Derivados de Plaquetas) Abreviaturas e Símbolos Flávio Alexandre Carvalho PDGF: Platelet Derived Growth Factor (Fator de Crescimento Derivado de Plaqueta) Pyr-d5: piridina deuterada PLA2: fosfolipase A2 PVDF: Fluoreto de polivinildieno q: quadrupleto Rf: fator de retenção RMN: ressonância magnética nuclear rpm: rotações por minuto ROG: regeneração óssea guiada s: singleto sl: singleto largo Sw: Swartz TGF: Transforming Growth Factor (Fator Transformador de Crescimento) t: tripleto tR: tempo de retenção TTVA: taxa de transmissão de vapor d’água TVA: transmissão de vapor d’água VEGF: Vascular Endothelial Growth Factor (Fator de Crescimento de Endotélio Vascular) Vm: volume morto UR: umidade relativa UV/VIS: ultravioleta visível Resumo Flávio Alexandre Carvalho RESUMO O látex natural extraído da seringueira - Hevea brasiliensis (Willd. ex A. Juss.) Müll. Arg. - apresentou, em estudos recentes, propriedades terapêuticas como adjuvante na cicatrização em diferentes tipos de tecidos, propriedade essa que foi atribuída a sua ação angiogênica. É nesse sentido que o presente estudo visou a incorporação de extrato etanólico de Casearia sylvestris Swartz (guaçatonga) ou seus componentes, em uma membrana de látex natural (MLN) com aplicação como agente cicatrizante tópico e anti-inflamatório. A escolha do extrato etanólico de C. sylvestris foi feita devido a suas propriedades anti-inflamatória e cicatrizante, dentre outras, que juntamente com a atividade angiogênica do látex natural, possui grande potencial para aplicações terapêuticas na cicatrização de feridas em um sistema de liberação, como as membranas. O objetivo deste trabalho foi desenvolver membranas com extrato, fração e substância isolada de C. sylvestris, caracterizá-las química e fisicamente e verificar a liberação, a permeação e a retenção de substâncias. O extrato foi obtido por maceração e através de técnicas cromatográficas foi obtida uma fração concentrada em diterpenos e purificada a casearina J, identificada por técnicas espectrométricas (UV, IV-FT, RMN e DESI- MS). As MLN produzidas somente com o látex ou incorporadas com extrato, fração ou casearina J foram caracterizadas por espectroscopia no IV, microscopia eletrônica de varredura e resistência mecânica. Foram também realizados ensaios de extração das MLN com solventes, com finalidade analítica, para determinar a recuperação de diterpenos e compostos fenólicos. Os ensaios de liberação em água, permeação e retenção em pele de porco foram realizados para quantificar compostos fenólicos totais e diterpenos do tipo das casearinas, liberados, permeados e retidos na pele de porco. O máximo liberado de compostos fenólicos pela MLN Extrato foi 1,4 %; já para os diterpenos os valores foram: 1,7 % MLN Extrato, 0,6 % MLN F2 e 1,5 % MLN casearina J. A permeação de compostos fenólicos foi de 3,6 % e a retenção foi de 11,3 % de compostos fenólicos. A permeação de diterpenos foi de 1,6 % na MLN Extrato, 2,8 % MLN F2 e 3,6 % na MLN J e a retenção foi de 13,9 % na MLN Extrato, 13,4 % na MLN F2 e 11,5 % na MLN J. Os resultados demonstraram que houve baixa liberação em água e os testes indicaram que houve permeação e retenção em pele de porco. Conclui-se que as membranas podem ser utilizadas como um sistema de liberação para o extrato de C. sylvestris e seus componentes. Palavras-chave: Casearia sylvestris, Hevea brasiliensis, cicatrizante tópico, permeação cutânea in vitro e retenção cutânea in vitro. http://www.theplantlist.org/tpl/record/kew-98927http://www.theplantlist.org/tpl/record/kew-98927 Abstract Flávio Alexandre Carvalho ABSTRACT The natural latex extracted from the rubber tree – Hevea brasiliensis (Willd ex A. Juss.) Müll. Arg. – has been used in recent studies as a wound healing in different tissue types, property that has been evidenced by its angiogenic action. In this sense, this project aims incorporating ethanol extract from leaves of Casearia sylvestris Swartz (guaçatonga) or its components in a natural latex membrane (NLM) with application as topical wound healing and anti-inflammatory agent. The choice of the ethanol extract of C. sylvestris was based on its anti-inflammatory and wound healing properties, together with the angiogenic activity of the natural rubber latex that has great potential for therapeutic applications in wound healing in a liberation system, such as membranes. The objective of the project was to develop membranes with extract, fraction and isolated compound of C. sylvestris, to characterize them chemically and physically and to verify the liberation, permeation and retention of compounds. The extract was obtained by maceration. Using chromatographic techniques, an enriched diterpenes fraction was obtained and casearin J was identified by spectrometric techniques (UV/VIS, FT-IR, NMR and DESI-MS). The NLM produced with latex and incorporated with extract, fraction or casearin J were characterized by IV spectroscopy, scanning electron microscope and mechanical resistance. Extraction tests of NLM with analytical purposes were developed using solvents to determine diterpenes and phenolic compounds recovery. The water liberation, permeation and retention in pig skin assays were performed to quantify total phenolic compounds and total casearin-like diterpenes, released in water, permeated and retained in pig skin. The maximum phenolics compounds released by NLM Extract was 1.4 %; release for diterpenes was 1.7 % for NLM Extract; 0.6 % NLM F2 and 1.5 % for NLM J. Total permeation of phenolic compounds was 3.6 % and the retention was 11.3 %. The diterpenes permeation was: 1.6 % for NLM Extract, 2.8 % for NLM F2 and 3.6 % for NLM J. The retention was: 11.5 % for NLM Extract, 13.4 % for NLM F2 and 11.5 % for NLM J. Results demonstrated that there was low liberation in water and tests indicated that there was permeation and retention in pig skin. It was concluded that membranes may be used as a delivery system for C. sylvestris extract, as well as its components. Key-words: Casearia sylvestris, Hevea brasiliensis, topical wound healing, permeation in pig skin, retention in pig skin. Sumário Flávio Alexandre Carvalho SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 23 2 OBJETIVOS ........................................................................................................ 28 2.1 Objetivo Geral .............................................................................................. 28 2.2 Objetivos Específicos ................................................................................... 28 3 REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................... 30 3.1 Casearia sylvestris Sw. ................................................................................ 30 3.1.1 Características botânicas....................................................................... 30 3.1.2 Conhecimentos etnobotânicos e etnofarmacológicos ............................ 33 3.1.3 Metabolitos secundários ........................................................................ 33 3.1.3.1 Óleo essencial ........................................................................................ 36 3.1.4 Farmacologia ......................................................................................... 38 3.1.4.1 Atividade anti-inflamatória ...................................................................... 40 3.1.4.2 Atividade cicatrizante.............................................................................. 41 3.1.5 Estudos de toxicidade ............................................................................ 42 3.2 Hevea brasiliensis (Wild. ex A. Juss.) Müll. Arg. .......................................... 43 3.2.1 Características botânicas... .................................................................... 43 3.2.2 Propriedades e utilização do látex natural... ........................................... 46 3.2.3 Componentes do látex natural... ............................................................. 47 3.2.4 Atividades Farmacológicas... .................................................................. 49 3.2.4.1 Propriedades Angiogênicas .................................................................... 51 3.2.5 Aspectos toxicológicos do látex e derivados.. ........................................ 52 4 MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................. 55 4.1 Materiais, equipamentos e acessórios ......................................................... 55 4.2 Material vegetal ............................................................................................ 57 4.2.1 Coleta e preparo da matéria-prima vegetal............................................ 57 4.2.2 Preparo do extrato ................................................................................. 57 4.2.3 Doseamento de compostos fenólicos totais no extrato .......................... 58 4.2.3.1 Doseamento por fotometria em 269 nm ................................................. 58 4.2.3.2 Doseamento pelo método de Folin-Ciocalteu ......................................... 58 4.3 Ensaios de controle de qualidade de matérias primas vegetais ................... 58 4.3.1 Análise granulométrica do pó (droga vegetal)... ..................................... 58 4.3.2 Perda por dessecação em balança por infravermelho (INFRATEST). ... 59 Sumário Flávio Alexandre Carvalho 4.3.3 Perda por dessecação em estufa... ........................................................ 59 4.3.3.1 Droga vegetal ......................................................................................... 59 4.3.3.2 Extrato concentrado ............................................................................... 60 4.4 Fracionamento do extrato etanólico de folhas de C. sylvestris por extração em fase sólida (EFS) .............................................................................................. 60 4.4.1 Análises cromatográficas do extrato de C. sylvestris e frações EFS ..... 60 4.4.1.1 Cromatografia em camada delgada (CCD) ............................................ 60 4.4.1.2 Cromatografia líquida de alta eficiência com detector de arranjo de diodos (CLAE-DAD) ............................................................................................ 61 4.4.2 Fracionamento da EFS F2 por CC em fase normal (FN) ....................... 62 4.4.2.1 Análises por CCD das frações por CC em (FN) ..................................... 62 4.4.2.2 CLAE-UV analítica pré e pós-preparativa............................................... 62 4.4.2.3 CLAE-DAD semipreparativa ................................................................... 63 4.4.3 Determinação estrutural da substância isolada das frações 12 e 13-14 da CC.... .............................................................................................................. 64 4.5 Origem do Látex ........................................................................................... 64 4.6 Produção de membranas ............................................................................. 65 4.7 Avaliação da homogeneidade química das MLN e MLN Extrato por métodos espectrofotométricos ..............................................................................................65 4.7.1 Extração de componentes das MLN e MLN Extrato... ........................... 65 4.7.2 Quantificação por fotometria de compostos fenólicos nos extratos EtOH 70 % da MLN Extrato... ....................................................................................... 66 4.7.3 Quantificação por fotometria de diterpenos clerodânicos nos extratos Hex: AcOEt: i-PrOH da MLN Extrato.... .............................................................. 66 4.8 Avaliação e caracterização física e química das membranas ...................... 66 4.8.1 Espectroscopia no infravermelho de transformada de Fourier (IV-FT) .. 67 4.8.2 Caracterização das membranas por Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) ................................................................................................. 67 4.8.3 Testes de permeabilidade ao vapor d’ água .......................................... 67 4.8.4 Testes de resistência mecânica das membranas .................................. 68 4.9 Ensaios da liberação, permeação e retenção cutânea ................................. 68 4.9.1 Ensaio de liberação em água ................................................................ 68 4.9.2 Ensaio de permeação cutânea in vitro ................................................... 69 4.9.3 Ensaio de retenção cutânea in vitro ....................................................... 70 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................................................... 72 Sumário Flávio Alexandre Carvalho 5.1 Material vegetal ............................................................................................ 72 5.1.1 Coleta e preparo da matéria-prima vegetal............................................ 72 5.1.2 Preparo do extrato ................................................................................. 72 5.2 Ensaios de controle de qualidade de matérias primas vegetais ................... 72 5.2.1 Análise granulométrica do pó (droga vegetal) ....................................... 72 5.2.2 Perda por dessecação da droga vegetal em balança com radiação infravermelha (INFRATEST) ............................................................................... 73 5.2.3 Perda por dessecação em estufa .......................................................... 74 5.2.3.1 Droga vegetal ......................................................................................... 74 5.2.3.2 Extrato concentrado ............................................................................... 74 5.2.4 Doseamento de compostos fenólicos totais........................................... 75 5.2.4.1 Doseamento por fotometria em 269 nm ................................................. 75 5.2.4.2 Doseamento pelo método de Folin-Ciocalteu ......................................... 76 5.3 Fracionamento do extrato etanólico de folhas de C. sylvestris por extração em fase sólida (EFS) .............................................................................................. 77 5.3.1 Análises cromatográficas do extrato de C. sylvestris e frações EFS ..... 78 5.3.1.1 Cromatografia em camada delgada (CCD) ............................................ 78 5.3.1.2 Cromatografia líquida de alta eficiência com detector de arranjo de diodos (CLAE-DAD) ............................................................................................ 79 5.3.2 Fracionamento da EFS F2 por CC em FN e análises por CCD ............. 82 5.3.3 CLAE-UV pré e pós preparativa e CLAE-DAD preparativa.................... 84 5.3.4 Quantificação de casearina J e casearinas totais no extrato de C. sylvestris e EFS F2 ............................................................................................. 87 5.3.5 Determinação estrutural da substância isolada nas frações 12 e 13-14 da CC............. ..................................................................................................... 89 5.4 Produção de membranas ............................................................................. 96 5.5 Avaliação de homogeneidade química das MLN e MLN Extrato por métodos espectrofotométricos .............................................................................................. 97 5.5.1 Extração de componentes da MLN e MLN Extrato ................................ 97 5.5.2 Quantificação de compostos fenólicos por fotometria ........................... 98 5.5.3 Quantificação de diterpenos clerodânicos por fotometria ...................... 99 5.6 Avaliação e caracterização física e química das membranas .................... 101 5.6.1 Espectroscopia no infravermelho de transformada de Fourier (IV-FT) 102 5.6.2 Caracterização das membranas por Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) ............................................................................................... 110 Sumário Flávio Alexandre Carvalho 5.6.3 Testes de permeabilidade ao vapor d’ água ........................................ 113 5.6.4 Testes de resistência mecânica das membranas ................................ 115 5.7 Ensaios de liberação, permeação e retenção cutânea ............................... 117 5.7.1 Ensaio de liberação em água .............................................................. 117 5.7.1.1 Liberação de compostos fenólicos da MLN Extrato ............................. 117 5.7.1.2 Liberação de diterpenos ....................................................................... 119 5.7.2 Ensaio de permeação e retenção cutânea in vitro ............................... 125 5.7.2.1 Permeação de compostos fenólicos ..................................................... 125 5.7.2.2 Permeação de diterpenos .................................................................... 126 5.7.2.3 Retenção .............................................................................................. 130 6 CONCLUSÕES ................................................................................................. 133 7 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 134 8 ANEXOS ........................................................................................................... 152 Flávio Alexandre Carvalho Introdução │23 Flávio Alexandre Carvalho 1 INTRODUÇÃO As plantas são utilizadas há milênios, sendo consideradas as bases do sistema da medicina tradicional antiga (BORCHARDT, 2002). A variabilidade estrutural dos produtos naturais é importante no desenvolvimento de medicamentos, visto possuírem características peculiares que garantem seletividade e especificidade biológicas baseadas no mecanismo de ação (MEIJER, 2003). Tal bioatividade está ligada à hipótese de que todos os produtos naturais apresentam determinada atividade quando ligada a um determinado receptor (CRAGG; NEWMAN, 2006). Atualmente, as plantas são ampla fonte de substâncias com ação farmacológica, fazendo parte da composição de vários medicamentos. Os fitoterápicos (medicamentos fitoterápicos e produtos tradicionais fitoterápicos) contém como matéria-prima ativa os derivados vegetais, como por exemplo, extratos ou óleos essenciais (BRASIL, 2014). De outro lado, grande parcela dos medicamentos não fitoterápicos contém fármacos obtidos diretamente de plantas ou com algumas modificações moleculares e até mesmo cópias de substâncias naturais com efeito farmacológico (VANISREE et. al., 2004; LI; VEDERAS, 2009). O Reino Plantae fornece extensa variedade de moléculas com estruturas químicas únicas (metabólitos secundários), sendo que o Brasil é uma enorme fonte da biodiversidade vegetal (NODARI; GUERRA, 2004), possibilitando o desenvolvimento de fármacos e medicamentos através das plantas, aliando o conhecimentoda medicina indígena ao amplo número de pesquisadores atuantes em diversas áreas. Em 2011 a ANVISA publicou o primeiro Formulário de Fitoterápicos (BRASIL, 2011) como parte integrante da Farmacopeia Brasileira 5ª edição (BRASIL, 2010) contendo monografias para preparações de fitoterápicos (produtos tradicionais fitoterápicos), dentre as quais está incluída a guaçatonga. Casearia sylvestris Swartz é uma planta encontrada em quase todo território brasileiro e América do Sul, sendo conhecida popularmente no Brasil como guaçatonga. As folhas secas de C. sylvestris são frequentemente utilizadas na forma de decocto, infusão e extrato hidroetanólico, na terapia de várias patologias, agindo como cicatrizante e anti-inflamatório (FERREIRA et al., 2011; SANTOS, 2008; LORENZI; MATOS, 2002). Introdução │24 Flávio Alexandre Carvalho O amplo uso tradicional de C. sylvestris Sw. como cicatrizante é amparado pelos resultados de ensaios farmacológicos em ratos Wistar com feridas cutâneas. No caso do gel creme de extrato etanólico de folhas de C. sylvestris 2 % os resultados não foram promissores, mas para o grupo tratado com gel creme de caseargrewiina F 0,06 % (substância isolada), os resultados apresentaram relevância estatística, sugerindo que os diterpenos clerodânicos isolados das folhas de C. sylvestris podem estar envolvidos na ação cicatrizante (PIERRI, 2013). Outros estudos com extratos hidroetanólicos de folhas também sugerem a ação cicatrizante em animais (GOMES et al., 2005; SCAVONE et al., 1979), além de um estudo clínico ter confirmado a eficácia de um medicamento fitoterápico à base de extrato hidroetanólico de folhas de C. sylvestris no tratamento de lesões herpéticas (CURY, 2005). Estudos para a atividade anti-inflamatória aguda exibiram resultados significativos para diterpenos clerodânicos isolados de C. sylvestris comparados a indometacina (PIERRI, 2013). Outros estudos com extratos de folhas também indicam a ação anti-inflamatória de C. sylvestris (ALBANO et al., 2013; PEREIRA et al., 1992; RUPPLET et al., 1990; SILVA et al., 2004). A Hevea brasiliensis (Wild. ex A. Juss.) Müll. Arg. pertence a família Euphorbiaceae, é nativa da América do Sul, sendo conhecida como seringueira no Brasil (SMITH; PAYNE, 1977). A utilização das membranas de látex natural na reconstrução de tímpano (HERCULANO et al., 2009), no tratamento de escaras e queimaduras (ANDRADE et al., 2011), regeneração óssea (SCHENK et al., 1994) e na substituição do pericárdio de cães, são algumas das aplicações. Clinicamente as membranas de látex natural (MLN) foram utilizadas em úlceras de pressão na região sacral. A MLN promoveu a formação intensa de tecido de granulação desde o início, mantendo a ferida hidratada e sem grudar na ferida, o que acarretou a terapia menos dolorosa ao trocar os curativos. Na pesquisa de Frade et al., (2006) pode ser observada a evolução do tratamento com a MLN, desde a aplicação inicial, com 2 e 4 meses de tratamento, onde as MLN promoveram a angiogênese, acelerando o processo de cicatrização, além de ser fácil de manusear, isento de riscos de transmissão de doenças infecto- parasitárias e de baixo custo. A aplicação da MLN por 3 meses de tratamento em paciente com úlcera de perna necrosada a mais de 6 meses, foi capaz de promover Introdução │25 Flávio Alexandre Carvalho a diminuição da dor e acelerou o processo de cicatrização, através do estimulo da angiogênese (FRADE et al., 2004). Materiais poliméricos biocompatíveis como as membranas de látex natural, são muito utilizados na reparação de tecidos lesionados (JAGUR-GRODZINSK, 2006). Como apresenta tais propriedades de biocompatibilidade, o látex extraído da seringueira, Hevea brasiliensis é amplamente utilizado como matriz na liberação (HERCULANO et al., 2007), sendo importante na recuperação de pacientes com úlceras de pressão, úlceras diabéticas (FRADE et al., 2004; FRADE et al., 2006), no tratamento de escaras e queimaduras (ANDRADE et al., 2011), pois apresenta ação angiogênica (MRUÉ et al, 2004). O látex natural de H. brasiliensis vem sendo testado associado a diversos fármacos, como o metronidazol (HERCULANO et al., 2010), ciprofloxacino (MURBACH et al., 2014), fosfato de cálcio (BORGES et al., 2015), diclofenaco sódico (AIELO et al., 2014) e óxido nítrico (HERCULANO et al., 2011), assim com o extrato de plantas medicinais com propriedades farmacológicas comprovadas, como o Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville, que apresenta ação cicatrizante (ROMEIRA et al., 2012). A incorporação do extrato de C. sylvestris (ou da fração concentrada em diterpenos clerodânicos ou de casearinas isoladas) na MLN visa desenvolver uma membrana com extrato, fração ou casearina pura, formando-se um sistema de liberação, com a finalidade de associar a ação cicatrizante e anti-inflamatória tópica da guaçatonga (FERREIRA et al., 2011; PIERRI, 2013) com a atividade angiogênica do látex da seringueira (HERCULANO, 2009), o que poderia acelerar o processo cicatricial e diminuir os riscos de contrair infecções oportunistas (DYSON et al., 1988; ARNOLD; WEST, 1991). Vários fármacos (metronidazol, ciprofloxacino, fosfato de cálcio, diclofenaco sódico e diclofenaco de potássio) e o extrato de S. adstringens incorporados em membranas de látex natural foram avaliados quanto à liberação e a nicotina incorporada em membranas de látex natural foi avaliada em relação a permeação. Porém, nenhum estudo foi realizado quanto a permeação e retenção cutânea in vitro com extrato ou suas frações, incorporados em membranas de látex natural. Dessa maneira, a membrana proposta surge como uma opção de uso em sistemas de liberação, sendo interessante avaliar a liberação, a permeação e Introdução │26 Flávio Alexandre Carvalho retenção cutânea in vitro de extratos vegetais e seus componentes, com propriedades terapêuticas já estudadas. Flávio Alexandre Carvalho Objetivos │28 Flávio Alexandre Carvalho 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral Desenvolver membranas de Látex Natural (MLN) de H. brasiliensis com extrato etanólico das folhas de C. sylvestris e seus componentes (fração e substância isolada), visando uma associação com atividade cicatrizante tópica, caracterizá-las quimicamente e fisicamente e avaliar a liberação de componentes do extrato, fração e substância isolada, in vitro. 2.2 Objetivos Específicos a) Desenvolver membranas com e sem extrato, com fração do extrato (concentrada em diterpenos clerodânicos) e com substância isolada do extrato; b) Avaliar e caracterizar fisicamente e quimicamente das membranas obtidas; c) Realizar ensaio de liberação em água com as membranas, para avaliação preliminar de liberação de compostos fenólicos e diterpenos clerodânicos; d) Realizar ensaio de permeação e retenção cutânea in vitro em pele de porco com as membranas para avaliação da permeação e retenção de compostos fenólicos e diterpenos clerodânicos. Flávio Alexandre Carvalho Revisão da Literatura │30 Flávio Alexandre Carvalho 3 REVISÃO DA LITERATURA 3.1 Casearia sylvestris Sw. 3.1.1 Características botânicas Inicialmente Casearia sylvestris foi descrita por Swartz em 1797 na Flora Indiae Occidentalis, sendo acrescentada por Eichler (1871)na obra Flora Brasiliensis de Carl Friedrich Philipp von Martius, onde era classificada na família Bixaceae, até ser incluída na família Flacourtiaceae (ABSY; SCAVONE, 1973; SLEUMER, 1980). Estudos moleculares baseados no sequenciamento genético alteram o gênero Casearia da família Flacourtiaceae, para Salicaceae. Atualmente C. sylvestris está classificada na tribo Samydeae, família Salicaceae e ordem Malpighiales (CHASE et al., 2002; SOLTIS et al., 2000; THE ANGIOSPERM PHYLOGENY GROUP, 2003). O nome Casearia é uma homenagem ao missionário holandês Casearius (KLEIN; SLEUMER, 1984) e sylvestris tem origem do latim, significa floresta ou silvestre (GÜNTZEL, 2008). O nome popular principal é guaçatonga e na língua “tupi” o termo guaçatonga indica uso por comunidades indígenas nativas, segundo Esteves et al. (2005). A C. sylvestris é nativa da América do Sul, sendo encontrada em todo território brasileiro (FERREIRA et al., 2011), Argentina, Bolívia, Colômbia, Peru, Cuba e nas Antilhas (Porto Rico ao México) (INSTITUTO DE BOTÂNICA DARWINION, 2002). Conforme Rossi et al. (2009), a ampla distribuição nas Américas Central e do Sul indica a facilidade de adaptação da espécie em diferentes climas. A C. sylvestris é uma espécie arbórea (Figura 1) ou arbustiva conhecida pela população por uma enorme variedade de nomes comuns: guaçatonga, guaçatunga, vaçatonga, chá-de-bugre, erva-de-bugre, bugre-branco, erva-de-lagarto, pau-de- lagarto, língua-de-lagarto, cafezinho-do-mato, café-bravo, café-do-diabo, camboré, caferana, marinheiro, marinheiro-bravo, são-gonçalo, cabatão, baga-de-pomba, arco-de-pipa, ramo-de-carne, breu-de-tucano, erva-de-macuco, lagarteira (o), camarão, paratudo, erva-de-pontada, língua-de-tiú, caroba, gaibim, chá-de-frade, apia-açu, fruta-de-saíra, petumba, catinguá-verde, pióia, marmelada vermelha, marmelinho-do-campo, saritã (MARQUETE; VAZ, 2007; ABSY; SCAVONE, 1973; CAMINHOÁ, 1877; CORREA, 1975; HOEHNE, 1939; LORENZI; MATOS, 2002; SCAVONE et al., 1979; SILVA, 1926). Revisão da Literatura │31 Flávio Alexandre Carvalho É conhecida como cusé na Bolívia; cafecillo cimarrón e hierta de burro ou burro ka no Paraguai; guazatunga no Uruguai; aguedita macha e sarnilla em Cuba (CARVALHO et al., 2007; BARRETO et al., 2008). Silva (2003) observou que as árvores do Cerrado são arbustivas ou arboreta, com folhas mais coriáceas, verde clara e com menor largura e comprimento; na Mata Atlântica são encontradas árvores com altura variada, sempre acima de 2 m de altura, as folhas são verde escuras, mais largas e compridas. Sleumer (1980) sugeriu 2 variedades; C. sylvestris var. sylvestris, que pode ser encontrada em florestas úmidas e densas, como a Mata Atlântica e C. sylvestris var. lingua, que é encontrada tanto em habitat aberto como no cerrado brasileiro. Um estudo comparativo entre amostras de C. sylvestris da Mata Atlântica (floresta densa e úmida) e Cerrado (savana, com alta exposição à luz solar), demonstrou que nas plantas do Cerrado o teor de rutina é maior, sugerindo como mecanismo de resposta fenotípica que as plantas estão submetidas as tensões ambientais (SILVA et al., 2006a). Bueno et al. (2015) verificaram que os compostos fenólicos estão correlacionados a indivíduos da var. lingua, que foram coletados em área típica de Cerrado, e os diterpenos clerodânicos correlacionam-se a var. sylvestris, coletados em área predominantemente de floresta estacional semidecidual do Atlântico. Estes dados também estão de acordo com o trabalho desenvolvido por CLAUDINO et al. (2013). É uma árvore (C. sylvestris var. sylvestris) perenifólia, heliófita, seletiva higrófita; de 3 a 18 m de altura, copa densa e arredondada, tronco de 20-30 cm de diâmetro; morfologicamente é composta de folhas oblongas ou ovado-oblongas, assimétricas na base, lisas ou ásperas, pecioladas, lanceoladas, brilhantes, medindo cerca de 6-12 cm de comprimento por 3-5 cm de largura, consistência membranácea a papirácea; totalmente glabras. As flores são verdes, pequenas, actinomorfas, hipóginas e hermafroditas, fasciculadas sésseis e os botões são obovados a globosos, as sépalas são unidas na base, largamente ovadas, esverdeadas a alvacentas, glabras a tomentosas ou ciliadas na margem, odor imperceptível, néctar de fácil acesso florescendo entre junho/agosto e produzindo frutos entre setembro/novembro (ABSY; SCAVONE, 1973; LORENZI, 1992; MARQUETE; VAZ, 2007), embora outros autores mencionem a floração entre março/dezembro e os frutos de agosto a novembro (TORRES; YAMAMOTO, 1986) e Klein & Sleumer (1984) observaram floração entre julho a novembro. O fruto é globoso, anguloso, Revisão da Literatura │32 Flávio Alexandre Carvalho negro, glabro, possui 5 sementes oblongas, testa alaranjada, arilo franjado e carnoso, envolvendo a semente, que varia de alaranjada a vermelha, com endosperma crasso (MARQUETE; VAZ, 2007). Figura 1: Casearia sylvestris (AGS 102) – Horto de Plantas Medicinais e Tóxicas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas, UNESP, Araraquara. Segundo Little & Wadsworth (1984) se estiver em boas condições, floresce e dá frutos com 2 anos, quando atingirá 1 m de altura. Devido abranger ambientes variados, apresenta variação morfológica em relação a tamanho (arbóreo ou arbusto), forma, textura e consistência das folhas, pilosidade dos ramos e das inflorescências, número de flores por inflorescência e ao comprimento do pedicelo (MARQUETE, 2001; TORRES; YAMAMOTO, 1986). Revisão da Literatura │33 Flávio Alexandre Carvalho 3.1.2 Conhecimentos etnobotânicos e etnofarmacológicos A guaçatonga é uma planta amplamente utilizada por diferentes comunidades indígenas, no Brasil e na América Latina (FERREIRA et al., 2011). Folhas, cascas e raízes são utilizadas por comunidades indígenas amazônicas como antitérmico, na forma de banho ou decocção (JUNGES et al., 1985); profissionais de saúde no sul do Brasil utilizavam como elixires depurativos e antirreumáticos no tratamento de patologias na pele com origem sifilítica (CORREA, 1975). A guaçatonga chegou a ser incluída na Pharmacopeia dos Estados Unidos do Brasil (Herva-de-Bugre), utilizado na forma de extrato hidroalcoólico das folhas (EtOH: água, 1:2, v/v) preparado por percolação (1:1, m/v) (SILVA, 1926). A parte mais utilizada são as folhas e as principais utilizações na medicina tradicional brasileira, são como antiofídico, antitérmico, cicatrizante, antiulcerogênico, tratamento de queimaduras, picadas de insetos, herpes, gengivites, aftas, halitose, diarreia, reumatismo, tônico e depurativo do sangue (SANTOS, 2008; LORENZI; MATOS, 2002; FERREIRA et al., 2011). 3.1.3 Metabolitos secundários O metabolismo é um conjunto de reações químicas que acontece nas células, sendo guiado por enzimas específicas que agem direcionando essas reações (rotas metabólicas). Os metabólitos primários são moléculas responsáveis pelos processos essenciais de sobrevivência, como: produção de energia, poder redutor e biossíntese de substâncias (macromoléculas: carboidratos, lipídeos, proteínas e ácidos nucléicos). Os metabólitos secundários são elementos de diferenciação, com funções especializadas como: defesa contra herbívoros e microrganismos, proteção contra raios UV, atração de polinizadores e dispersores de sementes, apresentando atividades biológicas interessantes para área farmacêutica, alimentícia, cosmética, dentre outras. Os metabólitos secundários têm origem a partir do metabolismo da glicose, principalmente através dos intermediários ácido chiquímico, acetato emevalonato, originando diversos metabólitos (SIMÕES et al., 2010). As espécies do gênero Casearia produzem inúmeros metabólitos secundários, tais como flavonoides, taninos, lignanas, cumarinas, outros compostos fenólicos, amidas, esteroides, monoterpenos, sesquiterpenos, diterpenos e triterpenos (VIEIRA-JÚNIOR, 2010), com predomínio dos diterpenos clerodânicos, Revisão da Literatura │34 Flávio Alexandre Carvalho cuja estrutura básica é representada na Figura 2a e os grupos substituintes na Tabela 1 (SANTOS, 2008). Alguns metabólitos isolados e/ou identificados em C. sylvestris incluem monoterpenos e sesquiterpenos, presentes no óleo essencial das folhas (BOU et al., 2013; SANTOS, 2008; SCHNEIDER et al., 2006), nor- isoprenoides (SANTOS, 2008; WANG et al., 2009), lupeol, - e -amirina (triterpenos), ácido cafeico, ácido clorogênico e ácido vanílico (compostos fenólicos), lapachol (naftoquinona) (RASLAN et al., 2002), alguns flavonoides - isoquercetina, rutina (Figura 2b), hesperidina (flavona), quercetina, isoramnetina e, 4´-O-metoxi- canferol (flavonois) (RASLAN et al., 2002; JUNGES et al., 1985), 6 neolignanas (casearialignanas A-F) (WANG, et al., 2010), derivados do ácido elágico (SILVA et al., 2006b) e ésteres derivados do ácido gálico (IGDE e MGDE) (DA SILVA et al., 2009). Figura 2: a) estrutura química geral dos diterpenos clerodânicos de C. sylvestris. R1 a R5 são substituintes oxigenados, principalmente ésteres (ex. acetato, butanoato), éteres (metoxilas) e hidroxilas (Tabela 1); b) estrutura da rutina (flavonoide). a) Revisão da Literatura │35 Flávio Alexandre Carvalho b) Tabela 1: Diterpenos clerodânicos típicos em espécies de Casearia, onde os substituintes R1 a R5 referem-se aos substituintes da estrutura representada na Figura 4. Diterpenos R1 R2 R3 R4 R5 Casearina A OCH3 (α) CH3CO2 CH3CO2 OH (α) n-C3H7CO2 Casearina B OCH3 (α) CH3CO2 CH3CO2 CH3CO2 (α) n-C3H7CO2 Casearina C OH (α) CH3CO2 CH3CO2 CH3CO2 (α) n-C9H19CO2 Casearina D OH (α) n-C3H7CO2 CH3CO2 OH (α) n-C3H7CO2 Casearina E OH (α) OCH2CH3 CH3CO2 OH (α) n-C9H19CO2 Casearina F OH (α) OCH2CH3 CH3CO2 OH (α) n-C3H7CO2 Casearina G OCH3 (α) CH3CO2 CH3CO2 H n-C3H7CO2 Casearina H OH (α) CH3CO2 CH3CO2 H n-C3H7CO2 Casearina I OH (α) CH3CO2 n-C3H7CO2 H n-C3H7CO2 Casearina J OCH3 (α) n-C3H7CO2 CH3CO2 OH (α) n-C3H7CO2 Casearina K CH3CO2 (α) CH3CO2 CH3CO2 OH (α) n-C3H7CO2 Casearina L OCH3 (α) n-C3H7CO2 CH3CO2 CH3CO2 (α) OH Casearina M OH (α) n-C3H7CO2 n-C3H7CO2 CH3CO2 (α) OH Casearina N OCH3 (α) CH3CO2 n-C3H7CO2 CH3CO2 (α) n-C3H7CO2 Casearina O OCH3 (α) n-C3H7CO2 CH3CO2 CH3CO2 (α) n-C3H7CO2 Casearina P OCH3 (α) CH3CO2 CH3CO2 CH3CO2 (α) CH3CO2 Casearina Q OH (α) CH3CO2 CH3CO2 CH3CO2 (α) n-C3H7CO2 Casearina R = O CH3CO2 CH3CO2 OH (α) n-C3H7CO2 Casearina S OCH3 (α) = O CH3CO2 H n-C3H7CO2 Casearina T OCH3 (α) CH3CO2 CH3CO2 CH3CO2 (β) n-C3H7CO2 Casearina U OCH3 (α) OCH3 CH3CO2 OH (α) n-C3H7CO2 Casearina V OH (α) OCH3 CH3CO2 OH (α) n-C3H7CO2 Casearina X n-C3H7CO2 (α) n-C3H7CO2 CH3CO2 OH (α) H Casearvestrina A (CH3)2CHCO2 (β) CH3CO2 CH3CO2 OH (α) H Casearvestrina B CH3CH2CH(CH3)CO2 (β) CH3CO2 CH3CO2 OH (α) H Casearvestrina C n-C5H11CO2 (β) CH3CO2 CH3CO2 OH (α) H Caseargrewiina F n-C3H7CO2 (α) CH3CO2 CH3CO2 OH (α) H Revisão da Literatura │36 Flávio Alexandre Carvalho Distintos diterpenos clerodânicos e ent-kauranos foram isolados de folhas de C. sylvestris, dentre eles 41 diterpenos clerodânicos típicos do gênero Casearia (XIA et al., 2015): as casearinas A-X - a maioria apresenta ação citotóxica em células tumorais e ações tripanossomicida e antifúngica (CARVALHO et al., 1998; ITOKAWA et al., 1990; MORITA et al., 1991; SANTOS et al., 2010; WANG et al., 2009); caseargrewiina F (SANTOS et al., 2010); e as casearvestrinas A-C provenientes de folhas e ramos, apresentando atividades citotóxicas em células tumorais e antifúngica em Aspergillus niger (OBERLIES et al., 2002); e rel-19S- acetoxi-18R-butanoiloxi-18,19-epoxi-6S-hidroxi-2R-(2-metilbutanoiloxi)- 5S,8R,9R,10S-cleroda-3,13(16),14-trieno, isolado das raízes (ESPÍNDOLA et al., 2004) e do caule (CARVALHO et al., 2009). Santos (2008) detalha que a estrutura básica das casearinas é composta por 2 anéis, A e B do sistema decalínico com 2 metilas em C-8 (Me-17) e C-9 (Me-20), uma cadeia lateral com 6 carbonos (C-11 a C-16) em C-9 com um dieno conjugado, o anel C (diidrofurânico/diacetálico) e os substituintes oxigenados (hidroxilas ou carbonilas) presentes nos carbonos 2, 6, 7, 18 e 19, que conferem a diversidade a estes terpenos. A presença de substituintes oxigenados sempre ocorre nas posições 2, 6, 7, 18 e 19. Na posição C-2, os substituintes mais comuns são os ésteres, ocorrendo hidroxilas, metoxilas e cetonas. Os grupos acetato prevalecem nas posições 18 e 19, seguido de butanoato, metoxila, etoxila e carbonila. Nas casearinas, há um predomínio dos grupos acetato nas posições C-6 e butanoato em C-7. O anel C diacetálico é oxigenado e constitui-se em um arranjo funcional pouco presente em substâncias naturais, podendo ser observado como um dialdeído protegido. O dieno (grupo cromóforo no UV) esta localizado na cadeia lateral em C-9, formando uma ligação dupla terminal em C-14, enquanto a outra ligação dupla conjugada pode se diferenciar quanto à posição estereoquímica: C-12 E ou C-12 Z, ou até mesmo em C-13(16), formando uma ligação dupla terminal. Foram verificados valores de λmáx de 232-235 nm para o dieno em C-12/C-14 (modelo diênico predominante em folhas) e de 223-229 nm para o dieno em C-13(16)/C-14 (modelo diênico predominante em flores, raízes, cascas e madeira do caule) (CARVALHO et al., 2009; ITOKAWA et al., 1990; PRAKASH et al., 2002; SHEN et al., 2005). 3.1.3.1 Óleo essencial Revisão da Literatura │37 Flávio Alexandre Carvalho A porcentagem de óleo essencial encontrado nas folhas de C. sylvestris foi variável: na faixa de 0,2 a 2,5 % m/v (BOU et al., 2013; SANTOS, 2008; ESTEVES et al., 2005; SCHNEIDER et al., 2006; SILVA; BAUER, 1970; SOUSA et al., 2007b). A Tabela 2 é uma compilação de dados sobre as substâncias identificadas e a quantidade encontrada em pesquisas de diferentes autores. A variabilidade genética e ambiental interfere na biossíntese dos metabólitos secundários, conferindo diferenças quali/quantitativas na composição do óleo essencial. Analisando os dados da Tabela 2, é possível verificar que os componentes majoritários variaram em algumas analises. Segundo Tininis et al. (2006) a composição do óleo essencial sofre variações intraespecífica conforme o período de coleta das folhas, apresentando diferenças na composição do óleo essencial das folhas coletadas de manhã e à tarde. O óleo essencial das folhas de C. sylvestris ao ser avaliado por Esteves et al. (2005), apresentou atividades anti-inflamatória e antiulcerogênica. O óleo essencial foi avaliado em linha de células de melanoma B16F10-Nex2, apresentando ação citotóxica com valor de IC50 de 61,5 μg/mL (BOU et al., 2013). Revisão da Literatura │38 Flávio Alexandre Carvalho Tabela 2: Composição química do óleo essencial das folhas de C. sylvestris. Teor de metabólitos (%) Metabólitos BOU et al., 2013 SOUSA et al., 2007b ESTEVES et al., 2005 1TININIS et al., 2006SCHNEIDER et al., 2006 SANTOS, 2008 α-acoradieno 4,1 ----- ----- ----- ----- ----- β-acoradieno 2,3 ----- 20,8 ----- ----- ----- álcool benzílico ----- 0,1 ----- ----- 0,1 ----- alloaromadendreno ----- 0,3 ----- ----- 0,3 ----- aromadendreno ----- 0,3 ----- ----- 0,3 1,0 biciclogermacreno ----- 24,2 40,9 3,6 24,2 8,6 α-bisaboleno ----- 0,7 ----- ----- 0,7 ----- β-bisaboleno ----- 0,2 ----- ----- ----- ----- β-bourboneno ----- 0,3 ----- ----- 0,3 ----- bulnesol ----- 4,2 ----- ----- ----- ----- α-cadinol 3,2 ----- ----- ----- ----- ----- t-cadinol ----- 0,5 ----- ----- ----- ----- γ-canideno ----- 0,3 ----- ----- 0,3 2,0 δ-canideno ----- 0,6 ----- (1,7) 0,6 1,1 cariofileno ----- ----- 13,8 ----- ----- ----- trans-cariofileno 14,2 ----- ----- ----- ----- 5,9 α-cariofileno ----- ----- ----- ----- 27,5 ----- β-cariofileno ----- 27,5 ----- ----- ----- ----- α-copaeno 0,2 0,6 ----- ----- 0,6 ----- cubebol ----- 0,4 ----- ----- 0,4 ----- α-zingibereno 48,3 ----- ----- ----- ----- ----- β-elemeno 2,2 1,3 ----- ----- 1,3 1,3 γ-elemeno ----- 1,1 ----- ----- 0,2 ----- δ-elemeno 0,3 ----- ----- ----- ----- ----- elemol ----- 0,8 ----- ----- ----- ----- espatulenol ----- 0,9 12,6 ----- ----- 17,5 γ-eudesmol ----- 0,6 ----- ----- ----- ----- eugenol ----- 0,2 ----- ----- 0,2 ----- Z,E-farnesol ----- 0,3 ----- ----- ----- ----- germacreno B 0,4 0,9 3,9 14,8 (13,7) ----- 2,0 germacreno D ----- 7,8 1,9 79,2 (66,2) 7,8 3,5 globulol ----- 1,2 2,2 ----- ----- ----- guaiol ----- 4,7 ----- ----- ----- ----- α-gurjuneno 0,1 0,1 ----- ----- 0,1 0,7 β-gurjuneno ----- 0,4 ----- (1,1) 0,4 ----- γ-gurjuneno ----- ----- ----- (2,2) ----- ----- α-humuleno 1,7 3,9 3,7 ----- 3,9 0,9 ledol ----- 0,8 ----- ----- ----- ----- linalol ----- 0,8 ----- ----- 0,8 ----- longifileno ----- ----- ----- 1,8 (3,2) ----- ----- γ-muuroleno 5,1 0,2 ----- (3,0) 0,2 ----- t-muurolol ----- 0,1 ----- ----- ----- ----- α-muurolol 3,7 ----- ----- ----- ----- ----- óxido de cariofileno ----- 0,6 ----- ----- ----- 2,8 α-pineno ----- 2,0 ----- ----- 2,0 ----- pulegona ----- 0,5 ----- ----- 0,5 ----- β-selineno ----- ----- ----- 4,2 (5,2) ----- 2,3 7-epi-α-selineno 1,0 ----- ----- ----- ----- ----- tujopseno ----- ----- 5,2 ----- ----- ----- viridiflorol 5,1 1,9 ----- ----- ----- ----- khusimona 0,2 ----- ----- ----- ----- ----- α-guaieno 1,5 ----- ----- ----- ----- ----- α-patchouleno 1,0 ----- ----- ----- ----- ----- α-cis-bergamoteno 0,2 ----- ----- ----- ----- ----- β-trans-guaieno 1,3 ----- ----- ----- ----- ----- 1-epi-cubenol 0,5 ----- ----- ----- ----- ----- 10-epi-γ-eudesmol 0,3 ----- ----- ----- ----- ----- δ-cadieno 1,3 ----- ----- ----- ----- ----- α-curcumeno ----- ----- ----- ----- ----- 8,5 viridifloreno ----- ----- ----- ----- ----- 1,1 1valores entre parênteses são referentes às análises de folhas coletadas no período da tarde e valores em itálico ao período da manhã. 3.1.4 Farmacologia Revisão da Literatura │39 Flávio Alexandre Carvalho A maioria dos artigos na literatura científica fazem referência à atividade antiofídica, antiulcerogênica, anti-inflamatória, analgésica e cicatrizante da C. sylvestris. Em alguns estudos sobre os extratos hexânico e etanólicos de folhas, caules, raízes e frutos, estes apresentaram atividades contra Plasmodium falciparum, leishimanicida (Leishimania donovani) e tripanocida (Trypanossoma cruzi) (MESQUITA et al., 2005). Rodrigues et al. (2006) mencionam que o extrato hexânico exerce ação larvicida em Aedes aegypti e Oliveira et al. (2007) menciona que o extrato etanólico de partes aéreas teve ação antifúngica contra Candida albicans, C. papsitosis e C. krusei. Itokawa et al. (1988) verificaram que o extrato etanólico das folhas apresentou atividade antitumoral contra sarcomas de camundongos. Casearinas apresentaram atividade citotóxica contra algumas linhagens de células humanas cancerosas (CARVALHO et al., 1998; ITOKAWA et al., 1990; MORITA et al., 1991; SANTOS et al., 2010). A ação antiofídica do extrato aquoso (chá) de folhas e cascas, bloqueando a atividade na permeabilidade dos vasos capilares e diminuindo a letalidade, se deve a inibição da atividade hemolítica, anticoagulante, miotóxica, a indução do edema de pata, produzidas por fosfolipase A2 (PLA2) isoladas ou pelo veneno de cobras (Bothrops, Crotalus e Lachesia) em testes farmacológicos (RUPPELT et al., 1990; BORGES et al., 2000; CAVALCANTE et al., 2007; OSHIMA-FRANCO et al., 2005; RASLAN et al., 2002). O extrato hidroalcoólico de folhas inibiu a ação miotóxica de PLA2 em estudo de Oshima-Franco et al. (2005). O extrato aquoso foi capaz de inibir a atividade hemorrágica, proteolítica (fibrigenolítica e caseinolítica) e coagulante dos venenos de Bothrops (BORGES et al., 2001). A ação antiofídica é atribuída a flavonoides e demais compostos fenólicos, identificados no extrato aquoso de folhas e suas frações, que inibiram a PLA2 (OSHIMA-FRANCO et al., 2005; RASLAN et al., 2002). O extrato metanólico testado por Francischinelli et al. (2008) mostrou-se ativo na neutralização dos efeitos tóxicos associados ao veneno de Bothrops jararacussu, sugerindo a rutina como substância ativa, agindo em sinergismo com outras substâncias ainda não identificadas. A ação antiulcerogênica dos extratos etanólico e hidroetanólico 75 % das folhas, evidenciou que o extrato foi capaz de proteger a mucosa do estômago sem alterar o pH gástrico (BASILE et al., 1990; FAPESP; UNESP; USP, 2003; SERTIÉ et al., 2000). O número de lesões diminuiu em 100 %, quando o extrato etanólico das Revisão da Literatura │40 Flávio Alexandre Carvalho folhas e de uma fração foi administrado via oral, nas concentrações de 57,5 e 3,5 mg/kg de peso corporal em ratos respectivamente, sem causar efeitos colaterais (FAPESP; UNESP; USP, 2003). Os diterpenos representados pelas casearinas B, D, O, X e caseargrewiina F apresentaram inibição na formação de úlceras induzidas por etanol em ratos (SANTOS, 2008). A atividade citotóxica de C. sylvestris está associada aos diterpenos clerodânicos. As casearinas B, D, O, X e caseargrewiina F, apresentaram ação citotóxica em células humanas normais e cancerígenas das linhagens MOLT-4 (leucemia), MDA-MB-435 (melanoma), HCT-8 (cólon) e SF-295 (glioblastoma) (SANTOS et al., 2010). Uma análise da relação estrutura-atividade citotóxica, permite concluir que: OAc (acetato) na posição C-18 é importante para a atividade, já que uma troca por OCH3 (metoxila) causa redução da atividade; da mesma forma, a presença de um grupo OH (hidroxila) na posição C-6, seja responsável pela maior atividade em relação aos respectivos derivados acetilados na posição C-6; uma OH na posição C-7 reduz a atividade; diferentes ligantes na posição C-2 não causam alterações relevantes na atividade; a degradação a dialdeído causa redução de atividade (MORITA et al., 1991; SHEN et al., 2005; SHEN et al., 2004a; TININIS, 2006). 3.1.4.1 Atividade anti-inflamatória Existem muitas evidências farmacológicas sobre o efeito anti-inflamatório dos extratos das folhas de C. sylvestris. Os extratos aquosos (chá) de folhas e cascas produziram efeito analgésico em camundongos, avaliado pelo número de contorções e anti-inflamatório, avaliado em modelos de difusão do azul de Evans, para cavidade peritoneal e de edema de pata (PEREIRA et al., 1992; RUPPLET et al., 1990). Silva et al. (2004) verificaram a atividade anti-inflamatória utilizando o método de difusão de Evans em ratos, utilizando extrato hidroalcoólico das folhas, que de acordo com Albano et al. (2013), inibe a migração celular de leucócitos em modelo de pleurisia e atividade enzimática das metaloproteases e fosfolipaseA2 envolvidas no processo inflamatório provocado pela indução da carragenina em modelo de edema de pata em ratos, o que corrobora com os relatos de Borges et al. (2000), onde faz referência aos mecanismos de ação anti-inflamatória estarem relacionados à inibição da fosfolipase A2. Revisão da Literatura │41 Flávio Alexandre Carvalho Os diterpenos clerodânicos podem ser responsáveis, ao menos parcialmente, pela ação anti-inflamatória, inibindo citocinas envolvidas no processo inflamatório, como verificado para as esculentinas A e B, isoladas da C. esculenta (MATTOS et al., 2007). Em estudos de atividade anti-inflamatória aguda avaliado pelo modelo de edema de pata em ratos, a casearina B e a caseargrewiina F nas diferentes doses analisadas (0,5; 2,5 e 5,0 mg/kg) apresentaram atividade anti-inflamatória equivalente quando comparadas a indometacina 10 mg/kg, demonstrando que a C. sylvestris apresenta potencial anti-inflamatório. As 3 diferentes doses analisadas de casearina B e caseargrewiina F não apresentaram diferenças estatísticas entre si, em relação à redução do inchaço das patas em animais avaliados. Ressalta-se ainda que, ao contrário da indometacina (fármaco controle), os diterpenos não produziram gastroulceração (PIERRI, 2013). O resultado da ação antinoceptiva do extrato hidroalcoólico 75 % sugeriu que este efeito é mediado pela inibição da síntese de mediadores da inflamação e pela ativação do mecanismo receptor opioide (MATTOS et al., 2007). Os flavonoides representam uma importante classe de compostos fenólicos, estando presentes no extrato etanólico de C. sylvestris (VIEIRA-JÚNIOR, 2010; RASLAN et al., 2002; JUNGES et al., 1985; DA SILVA et al., 2009) sendo responsáveis pelas atividades anti-inflamatória, antioxidante, antiviral e antitumoral (SIMÕES et al., 2010; MIDDLETON et al., 2000; HAVSTEEN, 2002; CAZAROLLI et al., 2008). A quercetina e kaempferol são flavonois (classe de flavonoides) com ação anti-inflamatória, cuja ação pode estar relacionada à inibição da PLA2 (BAZAN; FLOWER, 2002). A rutina é um flavonol (flavonoides) e apresenta ação anti- inflamatória através da inibição da enzima ciclo-oxigenase (CAZAROLLI et al., 2008; YOON; BAEKI, 2005; O’LEARY et al., 2004). 3.1.4.2 Atividade cicatrizante Em ensaios farmacológicos para a avaliação de propriedades cicatrizantes das folhas de C. sylvestris, observou-se que o processo cicatricial evoluiu mais rapidamente nos animais tratados com o extrato hidroetanólico 95 % ou com a pomada do extrato hidroalcoólico (GOMES et al., 2005; SCAVONE et al., 1979). Camargo et al. (1996) avaliaram a ação do extrato hidroalcoólico 2:1, v/v, de folhas em lesão subcutânea em camundongos, observando que os animais tratados com o Revisão da Literatura │42 Flávio Alexandre Carvalho extrato apresentaram redução significativa da fase aguda do processo inflamatório, seguida de intensificação e prolongamento de eventos típicos da fase regenerativa (proliferação de fibroblastos, fibrócitos e vasos capilares neoformados). Extratos de C. sylvestris podem ser os responsáveis pela ação cicatrizante no tratamento de herpes, visto a capacidade de cicatrização em menor tempo que o creme penciclovir 1 % (CURY, 2005). Pierri (2013) avaliou a atividade cicatrizante do gelcreme do extrato etanólico das folhas de C. sylvestris 2 % em ratos Wistar com feridas cutâneas, embora os resultados não fossem relevantes, entretanto o caso do grupo tratado com gelcreme de caseagrewiina F 0,06%, os resultados apresentaram significância estatística, indicando que os diterpenos clerodânicos podem ser responsáveis pela ação cicatrizante referida (PIERRI, 2013). 3.1.5 Estudos de toxicidade Os produtos naturais são constituídos de uma grande variedade de substâncias químicas, refletindo em diferentes resultados toxicológicos e farmacológicos, o que está atrelado à segurança e eficácia (FEHER; SCHIMIDT, 2003; TOLEDO et al., 2003). Referente aos ensaios toxicológicos, os extratos das folhas de C. sylvestris apresentaram baixa toxicidade. Segundo Basile et al. (1990), nos ensaios de DL50 (dose letal para 50 % dos animais), o extrato hidroalcoólico 75 % aplicado por via oral apresentou DL50 > 1,84 g/kg de peso corporal em ratos Wistar. O extrato aquoso e o óleo essencial de folhas apresentaram DL50 = 1,79 g/kg (SILVA et al., 1988) e DL50 = 1,10 g/kg (ESTEVES et al., 2005) de peso corporal em camundongos, via oral e intraperitoneal. Nos ensaios de atividade antiulcerogênica, verificou-se no extrato hidroalcoólico 75 %, que a DL50 foi 32 vezes maior que a DE50 (dose eficaz em 50 % dos animais) por via oral (SANTOS, 2008). Considerando a escala de toxicidade de Hodge e Sterner (1944) utilizada atualmente, tais valores são considerados ligeiramente tóxicos. O extrato hidroalcoólico 75 % nas concentrações de 0,5; 1,0 e 2,0 mg/mL não demonstrou ação genotóxica ou potencialização do dano produzido no DNA por agentes alquilantes (ciclofosfamida e metilmetanossulfonato) em culturas de células de hepatomas de ratos (HTC) e de fibroblastos de pulmão de hamster (VT9), conforme experimentos que avaliaram a lesão e o reparo do DNA (MAINSTRO et al., Revisão da Literatura │43 Flávio Alexandre Carvalho 2004). Em experimentos realizados por Oliveira et al. (2009), foi demonstrado que o extrato etanólico preveniu lesões no DNA induzidas pela ciclofosfamida em baixas concentrações, porém em altas concentrações (50 e 75 mg/kg) houve danos no DNA. Animais submetidos ao teste de toxicidade subcrônica (30 dias, via oral) não demonstraram alterações no consumo de água ou alimentos, sem aumento de peso e sem a presença de efeitos adversos (atividade estereotípica, diarreia, piloereção, convulsões ou sonolência), não apresentaram alterações macroscópicas hepáticas, renal e do baço, conforme Basile et al. (1990). Silva et al. (1988), em estudos sobre a ação dos extratos de folhas C. sylvestris em útero de rata, sugerem que os extratos modifiquem a atividade uterina, sendo que o extrato aquoso potencializa a ação da ocitocina e o etanólico inibe sua ação parcialmente. De acordo com os resultados dos testes do extrato aquoso de folhas administrado em ratas virgens (por longo período) Oliveira et al. (1985), sugerem que houve ação hormonal do extrato aquoso. A avaliação toxicológica do extrato etanólico não determinou ação abortiva, nem a indução de má formação óssea na prole de fêmeas tratadas no período de gestação (FAPESP; UNESP; USP, 2003). Em estudos sobre o potencial anticancerígeno, foi verificado que o óleo essencial de C. sylvestris apresentou atividade hemolítica contra eritrócitos humanos nas concentrações de 156,02 ± 0,5 µg/mL (SILVA et al., 2008). A casearina X, substância isolada de C. sylvestris, avaliada em animais submetidos ao teste de toxicidade aguda via oral, nas doses de 30,0, 65,0 e 172,0 mg/kg de peso corporal (dose única), não proporcionaram alterações de comportamento ou peso, conforme relatos de Santos (2008); cabe ressaltar que na referencia citada a casearina X era chamada de casearina U. De acordo com Pierri (2013), as frações EFSCs 1 e 2, casearina B e caseargrewiina F (originários de C. sylvestris) não apresentaram lesão gástrica em nível macroscópico nos estômagos de ratos, ao contrário da indometacina que apresentou grau máximo de lesão medidos pelo índice de ulceração. 3.2 Hevea brasiliensis (Wild. ex A. Juss.) Müll. Arg. 3.2.1 Características botânicas Revisão da Literatura
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