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1 OFICINAS PSICOPEDAGÓGICAS 1 Sumário INTRODUÇÃO ................................................................................................... 3 CAPÍTULO I - OFICINAS PSICOPEDAGÓGICAS: CONSTRUINDO UM CONCEITO ........................................................................................................ 4 CAPÍTULO II - AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA COM OFICINA ............................................................................................................. 7 CAPÍTULO III - O BRINCAR, OS BRINQUEDOS E AS BRINCADEIRAS ....... 10 CAPÍTULO IV – OFICINAS PSICOPEDAGÓGICAS ........................................ 13 CAPÍTULO V - DINÂMICAS DE GRUPO E OFICINAS PSICOPEDAGÓGICAS: FACILITADORAS DA RELAÇÃO DE VÍNCULO ENTRE PROFESSOR E ALUNO NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM ......................................... 22 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 31 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 INTRODUÇÃO Durante o processo de escolarização não é raro o surgimento de um significativo número de queixas escolares que apontam dificuldades de aprendizagem ou de adaptação a conteúdos por parte dos universitários. Diante dessa demanda e entendendo o papel do Psicólogo Escolar como corresponsável pelo processo de escolarização de todos os alunos as Oficinas Psicoeducacionais tem o objetivo de contribuir para a efetiva inserção do aluno no meio universitário em todos os aspectos, principalmente na questão de aproveitamento acadêmico. Oficina é uma técnica utilizada por várias áreas de conhecimento, mas no âmbito da psicologia escolar é utilizada como um recurso interativo para se trabalhar os aspectos afetivo-emocionais e de ordem cognitiva, no que tange ao processamento de informações para a construção do conhecimento, que interferem de forma geral no processo de escolarização do aluno. 4 CAPÍTULO I - OFICINAS PSICOPEDAGÓGICAS: CONSTRUINDO UM CONCEITO Pelos transtornos e dificuldades de ensino e aprendizagem, o encaminhamento para avaliação e intervenção psicopedagógicas tem sido frequente. Na busca por uma intervenção psicopedagógica, que auxilie na resolução dessas dificuldades e na compreensão dos processos de ensino e aprendizagem em diferentes espaços e com diferentes sujeitos, as oficinas psicopedagógicas foram se desenvolvendo como uma forma de atuação em que a ludicidade tem uma função central. É um recurso privilegiado, que pode ser utilizado tanto na avaliação, quanto na intervenção psicopedagógica, que usando diferentes linguagens, possibilita um movimento de criação e experimentação, vivências e relações em que sentimentos e pensamentos se expressam, funções psicomotoras e funções psicológicas superiores são exercitadas, aprendizagem e desenvolvimento se efetivam. As oficinas psicopedagógicas são importantes recursos para avaliação e intervenção psicopedagógicas, possibilitando aprendizagem e desenvolvimento. As oficinas psicopedagógicas podem ser definidas como espaços privilegiados de construção de conhecimentos, expressão de pensamentos e sentimentos, estabelecimento de relações entre ensinantes e aprendentes, em que há vínculo e mediação, aprendizagem e desenvolvimento. 5 Oficinas psicopedagógicas: laboratórios de aprendizagem O termo oficina é utilizado em diferentes contextos, diferentes áreas de conhecimento e trabalho. Tem origem no latim officina, cujo significado é "local onde se exerce um ofício". É um local ou espaço de trabalho em que profissionais exercem suas funções, há apropriação de conhecimentos, há produção, há criação, há interação, ação, movimento e aprendizagem. É um recurso de ensino e aprendizagem em que diferentes conhecimentos podem ser trabalhados, sendo possível ensinar e, também, aprender. É uma forma de apresentar os conhecimentos aos sujeitos, propor atividades, acompanhar suas produções, mediar, verificar se houve ou não aprendizagem, retomar e refazer. Nas oficinas psicopedagógicas conhecimentos são construídos: é possível ensinar e aprende. O termo oficina psicopedagógica é apresentado por Grassi (2018) como uma construção que se originou de práticas psicopedagógicas desenvolvidas, de modo experimental, cujos resultados positivos possibilitaram sua consolidação como recurso ou instrumento de intervenção psicopedagógica. Laboratórios de aprendizagem em que seus participantes constroem junto o conhecimento, vivenciando diferentes papéis, experimentando, criando, expressando pensamentos e sentimentos, em que é possível errar, refazer, desconstruir, testar limites e possibilidades, superando dificuldades, aprendendo e ensinando, por meio de uma relação mediada, em que há vínculo afetivo, interação, diálogo, um olhar atento e uma escuta diferenciada. As oficinas se desenvolvem em uma proposta semiestruturada, em que há planejamento prévio, mas flexível, cujas modificações são feiras a partir das necessidades do grupo, das relações estabelecidas e da percepção do mediador. 6 O trabalho psicopedagógico nas oficinas: caracterização O trabalho psicopedagógico desenvolvido nas oficinas psicopedagógicas têm algumas características: São espaços de trabalho em que as atividades lúdicas estão presentes em diferentes linguagens; os sujeitos são convidados a participar ativamente das atividades propostas, com autonomia, respeito ao outro e responsabilidade, mas sempre com mediação. A mediação caracteriza a relação entre o profissional e os participantes; seu caráter lúdico se configura em recurso que possibilita a aprendizagem e o desenvolvimento; trabalham-se as funções psicológicas superiores que possibilitam a aprendizagem dos conteúdos escolares; tem caráter preventivo e terapêutico; recurso para avaliação e intervenção psicopedagógica clínica e/ou institucional; o erro é vivenciado de modo lúdico, como expressão do pensamento e natural no processo de aprendizagem; espaços de experimentação, construção de conhecimentos e expressão de sentimentos. O trabalho nas oficinas psicopedagógicas é mediado. A mediação é uma condição essencial para que o trabalho psicopedagógico se efetive. A mediação: condição essencial para o trabalho psicopedagógico com oficinas. O trabalho desenvolvido nas oficinas psicopedagógicas é caracterizado pela relação mediada entre o profissional e os participantes: ensinante e aprendente. O conhecimento é apresentado com uma situação problema a ser resolvida, da linguagem lúdica, da produção de algo e da possibilidade de refazer, sempre quenecessário. Este processo é acompanhado pelo profissional que faz a mediação. Mediar significa colocar-se entre o sujeito e o conhecimento, aproximando-os, intervindo 7 de modo a resolver os conflitos existentes, melhorar o diálogo e a comunicação, possibilitar a apropriação do conhecimento, por parte do sujeito. Nas oficinas psicopedagógicas a mediação é uma condição sem a qual o trabalho não se desenvolve. O psicopedagogo é quem promove a mediação, e utilizando instrumentos e signos próprios de sua cultura, possibilita o desenvolvimento das funções psicológicas superiores necessárias a aprendizagem e ao desenvolvimento. As oficinas psicopedagógicas são recursos para avaliação e para intervenção Psicopedagógicas. Chegou o momento de conhecer essas duas possibilidades de utilização das oficinas psicopedagógica. CAPÍTULO II - AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA COM OFICINA A avaliação psicopedagógica é um processo cujos instrumentos de investigação possibilitam o diagnóstico e a análise do perfil de desenvolvimento e aprendizagem do sujeito. As oficinas psicopedagógicas enriquecem esta análise, investigam aspectos, complementares, confirmando ou não hipóteses, levantando novas hipóteses, verificando interações e compreendendo as relações. Organizando as oficinas psicopedagógicas A organização das oficinas psicopedagógicas acontece a partir da elaboração de um planejamento, construção que apresenta as constantes do trabalho, considerando os objetivos que se pretende alcançar, suas especificidades, os sujeitos que vão participar do processo e suas necessidades. 8 Pode ser uma oficina para avaliação psicopedagógica clínica ou institucional, para intervenção clínica ou institucional, pode ter um caráter preventivo e/ou terapêutico, pode ser desenvolvida numa clínica ou consultório, em uma escola, em instituições diversas, pode ser individual ou grupal. Uma vez definido o tipo de oficina e seu objetivo, outras constantes serão definidas: duração do processo; número de encontros e duração; datas; horários; público; local e espaço. Definem-se os objetivos específicos e as dinâmicas que serão desenvolvidas, selecionando os materiais, descrevendo as atividades, adaptações, avaliação, continuidade e função do profissional. A proposta de Torres: uma construção com jogos de regras A proposta de Márcia Torres (2001) é fruto de sua pesquisa de doutorado em educação, no laboratório de aprendizagem da USP com adolescentes, alunos de escolas públicas, com dificuldades de aprendizagem. As Oficinas Psicopedagógicas são organizadas em três momentos denominados de Hora da roda (estabelecimento de vínculos, diálogo e interação), Jogo do dia (jogos de regras e desafios escritos) e Cantinhos (organizados nos quatro cantos da sala em que a escolha pode ser exercitada), fundamentando sua proposta na epistemologia genética de Jean Piaget e no trabalho com jogos de Lino de Macedo, Ana Lúcia SícoliPetty e NorimarChriste Passos. A utilização dos jogos de regras possibilita a prevenção de dificuldades de aprendizagem, além de sua correção, quando já instaladas; e o desenvolvimento de estruturas de pensamento mais complexa, caracterizando-se como uma prática construtivista com jogos, entendido como objetos do conhecimento. A proposta de Allessandrini: oficinas criativas A proposta de Allessandrini foi apresentada no livro Oficina criativa e psicopedagogia, adaptação de sua dissertação de mestrado, sob orientação de Lino de Macedo, publicado em 1996. 9 Utiliza a linguagem artística, a ludicidade e a criatividade nas oficinas psicopedagógicas, favorecendo a aprendizagem e o desenvolvimento, através do autoconhecimento. O trabalho pode ser desenvolvido em grupos ou individualmente, tendo a duração de dois anos, com encontros semanais de uma hora e trinta minutos e cinquenta minutos, respectivamente. Nas oficinas criativas, a arte e a expressão funcionam como facilitadores para que o indivíduo volte a criar, estabelecendo uma relação positiva com o aprender. Embora dividida em etapas, a oficina se configura em uma continuidade dinâmica, cada etapa se vincula as outras, sem quebras: sensibilização, expressão livre, elaboração da expressão, comunicação ou transposição para linguagem oral e avaliação. A proposta de Grassi: caminhando e construindo saberes A proposta de Grassi é fruto de sua experiência na intervenção psicopedagógica clínica e institucional. Organiza-se em etapas interligadas: Sensibilização - Estabelecendo vínculos e estreitando laços; Desenvolvimento - Construções psicopedagógicas: desenvolvendo funções e construindo conhecimentos; e Fechamento/Avaliação - Elaborando experiências e avaliando vivências. Objetiva a expressão de pensamentos e sentimentos, o exercício de funções psicomotoras e funções psicológicas superiores, de sujeitos que estão enfrentando dificuldades, através da linguagem lúdica. 10 CAPÍTULO III - O BRINCAR, OS BRINQUEDOS E AS BRINCADEIRAS O brincar é uma necessidade interior do ser humano e, portanto, intrínseco ao processo de desenvolvimento. A criança, desde cedo, demonstra um impulso para explorar, experimentar e descobrir. Esse impulso direciona suas ações para com os outros e para os objetos que estão disponíveis em seu ambiente. Frente a um brinquedo, entendido como um objeto que dá suporte a brincadeira, as ações da criança são exploratórias. Ela vai, através de seu corpo e dos sentidos, de acordo com suas possibilidades psicomotoras e faixa etária, segurar, amassar, morder, cheirar, apertar, jogar, chutar, etc., enfim, interagir com o brinquedo até conhecê-lo. Nessa ação exploratória vai descobrindo o que é aquele objeto, para que serve, quais são suas características, experimentando suas possibilidades de utilização, e ao dominá-lo outras possibilidades vão sendo criadas, brincadeiras são inventadas, utiliza seu corpo experimentando e testando seus limites. A seleção dos brinquedos e brincadeiras: critérios para escolha A seleção de brinquedos ou objetos que servirão de suporte para a ação de brincar é uma tarefa que exige responsabilidade e sensibilidade. Os critérios que serão utilizados para sua escolha, aquisição e utilização são: a segurança: a resistência do material deve ser verificada, pois a possibilidade de quebras traz insegurança, medo de brincar, culpa e frustração reprimindo o impulso natural de exploração; a presença de pontas e arestas que podem machucar quem brinca com eles, a presença de peças destacáveis e pequenas que podem ser ingeridas e causar engasgos, o material que deve ser atóxico, antialérgico e lavável, embalagens plásticas, como sacos e sacolas, bem como cartuchos de papel, barbantes e cordas que possam sufocar ou enforcar; a faixa- etária; o nível de desenvolvimento; os interesses dos sujeitos; as capacidades 11 psicomotoras e perceptuais; os objetivos a atingir e possíveis dificuldades que exijam adaptações. O jogo nas oficinas psicopedagógicas: uma visão construtivista Embora possibilite diversão, o jogo, não deve ser visto como mero passatempo ou atividade puramente distrativa, visto que colocam em exercício as funções psicomotoras, as funções cognitivas e a afetividade, configurando-se em atividade psicopedagógica de grande valor educacional, estimulador do desenvolvimento e possibilitador de aprendizagem. O jogo é uma atividade voluntária que se desenvolve num tempo e num espaço determinado, seguindo regras que são obrigatórias, mas não impostas e sim previamente acordadas, com objetivos definidos, acompanhadas por sentimentos de tensão, prazer e desafio, sendo percebido como distinto da rotina e das obrigações cotidianas. Piaget classifica os jogos em: de exercício,simbólicos e de regras. Durante um jogo de regras, os participantes/jogadores solucionam uma situação-problema, orientados por regras que direcionam as ações implementadas para atingir seu objetivo. Brinquedos e jogos enquanto recursos psicopedagógicos Os brinquedos e os jogos são considerados importantes recursos psicopedagógicos, nas práticas educacionais desenvolvidas na escola e, nas práticas psicopedagógicas desenvolvidas no trabalho de intervenção. A ação de jogar ou brincar desafia o sujeito, colocam em movimento suas funções cognitivas, psicomotoras, afetivas, promovendo aprendizagem e desenvolvimento. As funções necessárias para a ação de brincar ou jogar são estimuladas por ele. Enquanto brinca ou joga a criança aprende e se desenvolve e processos internos são despertados, relações novas e mais complexas entre os significantes e os significados, entre os objetos e as ações se estabelecem. Os brinquedos e os 12 jogos, no trabalho psicopedagógico, têm uma função primordial, pois permitem investigação, diagnóstico e intervenção. A intervenção consiste em provocar análise, reflexão, tomada de consciência dos erros, problematização, compreensão e superação das dificuldades. A proposta de Lino de Macedo com jogos de regras Macedo, Petty e passos apresentam uma proposta de intervenção com jogos de regras utilizados em oficinas psicopedagógicas que se caracteriza como uma prática construtivista, desenvolvida em quatro etapas. A primeira etapa é a exploração dos materiais e aprendizagem das regras, caracterizada pela exploração integral do jogo. O mediador apresenta o jogo, verificando se eles o conhecem, conversam sobre o material que o compõe e suas regras. Na segunda etapa, prática do jogo e construção de estratégias, os participantes vão praticar o jogo. A terceira etapa é a construção de situações-problema, a partir das situações de jogo, permitindo ao mediador analisar a estrutura de pensamento do jogador, o que orienta suas intervenções, promove mudanças, a construção de conhecimentos e a superação das dificuldades; e a quarta etapa é a análise das implicações do jogar, que consiste na análise da experiência vivenciada na prática do jogo. Os jogos e as brincadeiras são recursos para práticas pedagógicas e psicopedagógicas desenvolvidas em diferentes contextos, de valor significativo. Durante os processos de desenvolvimentos das crianças formas diferentes de brincar e jogar vão se organizando e tem seu predomínio de acordo com os estágios desse desenvolvimento, segundo a concepção construtivista: jogos de exercício, jogos simbólicos e jogos de regras. Estes estão presentes por toda a vida, logo tanto adultos quanto crianças brincam e jogam, embora de maneiras diferentes. 13 Na escolha de jogos e brincadeiras alguns critérios precisam ser considerados, entre eles destacam-se: segurança, faixa etária, nível de desenvolvimento, possibilidades psicomotoras, objetivos e interesses. Para brincar é preciso ter suportes para a brincadeira, espaço físico e psicológico, além de tempo e mediação. CAPÍTULO IV – OFICINAS PSICOPEDAGÓGICAS Oficinas psicopedagógicas com história e literatura A linguagem literária pode e deve ser utilizada nas oficinas psicopedagógicas, representando um recurso atrativo e que abre várias possibilidades de trabalho. As crianças e os adultos gostam se interessam e sentem prazer em ouvir histórias. Diferentes gêneros textuais atraem a atenção e se apresentam como possibilidades lúdicas, em que há um jogo com palavras, sons, ritmo, imaginação, registro e audição: histórias, contos, contos de fadas, mitos, fábulas, lendas, jogos de linguagem e poesias. As histórias são lúdicas por natureza, pois quando de sua escrita ou de sua narração há uma brincadeira com as palavras, há um jogo de faz de conta, em que o leitor ou o ouvinte também participa. Há um espaço para a imaginação, criação e construção. Ler, escrever, contar ou ouvir histórias coloca em movimento as funções psicológicas superiores, a imaginação e a criatividade, a expressão de pensamentos e sentimentos, possibilitando a aprendizagem. Oficinas psicopedagógicas com jogos dramáticos e teatro A linguagem teatral possibilita a vivência de experiências simbólicas que contribuem para o desenvolvimento do sujeito, no contexto das Oficinas Psicopedagógicas. Enquanto linguagem lúdica não tem preocupação com as exigências de uma representação convencional. O processo de construção e as experiências vivenciadas são mais importantes do que o produto final. Jogo 14 simbólico, de faz de conta, linguagem lúdica, em que é possível através da dramatização, dos jogos dramáticos, da imitação, da mímica, do teatro de fantoches, estimular a expressão de pensamentos e sentimentos, principalmente de sujeitos que apresentam dificuldades de aprendizagem. A dramatização se configura em um exercício de criação, uma brincadeira em que personagens são desenvolvidos, papéis são vivenciados, comportamentos são imitados, ações são experimentadas, sentimentos são expressados. Envolvem interações, comunicação, planejamento, organização e aprendizagem. Oficinas psicopedagógicas com música, canto e dança A música, em sua essência, é jogo, afirma Delalande. O jogo sensório-motor foi relacionado pelo autor ao exercício e exploração de sons e gestos; o jogo simbólico, a expressão e ao significado da linguagem musical; e o jogo de regras, a organização e estruturação da linguagem musical. A dança é uma atividade corporal que possibilita a expressão através do movimento, em qualquer espaço e tempo, de modo lúdico. É uma linguagem e uma forma de comunicação em que os movimentos são espontâneos, exploratórios e expressivos. Dançando o senso estético se desenvolve, o sujeito percebe e controla o próprio corpo e suas possibilidades motrizes. Nas Oficinas Psicopedagógicas a música, o canto e a dança podem ser utilizadas como recursos de apoio ou como atividades principais, o que é orientado pelos objetivos definidos quando da elaboração do planejamento e pela consideração das características dos sujeitos que vão participar. Oficinas psicopedagógicas com artes visuais As artes visuais são essenciais no trabalho psicopedagógico, representando um recurso fundamental para a expressão do sujeito. A criação é um processo em que há aprendizagem e desenvolvimento, um momento especial em que o sujeito representa simbolicamente seus desejos, necessidades e interesses, mas também, angústias, dificuldades e conflitos internos. Diante dos materiais que são disponibilizados ao sujeito, ele é convidado a produzir algo, criar e 15 construir. Nesse processo percebe-se capaz de planejar, criar e se expressar, com liberdade, autonomia e resiliência. Nas Oficinas Psicopedagógicas com artes visuais diversos materiais e instrumentos (riscantes e suportes) podem ser utilizados de modo a estimular à imaginação, criatividade, as condutas psicomotoras e as funções psicológicas superiores, através de desenho, pintura, colagem, modelagem, escultura e construções diversas, formas de expressão bidimensionais e tridimensionais. Oficinas psicopedagógicas e avaliação diagnóstica Em um processo de avaliação psicopedagógica clínica ou institucional há uma série de instrumentos que possibilitam a coleta de dados sobre o sujeito ou sobre a instituição. Recebe-se uma queixa e em função dela organiza-se uma investigação, escolhendo os instrumentos que serão utilizados. Essa escolha é norteada por uma linha teórica que fundamenta a prática psicopedagógica. Muitos profissionais têm desenvolvido instrumentos próprios para a avaliação psicopedagógica, cuja utilização tem contribuído para investigar aspectos e funções específicas no processo de aprendizagem e desenvolvimento.Entre estes instrumentos estão as oficinas psicopedagógicas: utilizadas quando o profissional entender que podem contribuir para a investigação, sendo planejadas e organizadas para se obter informações sobre as relações e interações estabelecidas entre os sujeitos num processo grupal, além das funções psicológicas superiores e funções psicomotoras. O atendimento individual e o atendimento em grupo nas oficinas psicopedagógicas de intervenção Reunir pessoas em um mesmo espaço não significa compor um grupo. Um grupo se constitui nas relações, na compreensão de que cada elemento é parte de um todo.O processo grupal vai se constituindo progressivamente por meio de interações em que os sujeitos vão se conhecendo, descobrindo características 16 comuns e distintas, observando semelhanças e diferenças em relação a gostos, preferências, ideias, valores, concepções, articulando-se de modo a conquistar harmonia e equilíbrio, realizando as tarefas que competem ao grupo, cada um fazendo sua parte, contribuindo para o alcance dos objetivos e respeitando-se mutuamente. Trabalhar em grupo, constituindo-se como tal, não é uma tarefa fácil, exige esforço e transformação, que pode causar dor e resistências, num longo processo, em que se são convidados a pensar e construir o conhecimento em conjunto, buscando executar uma tarefa, mas com mediação. Acompanhamento do trabalho de intervenção com Oficinas psicopedagógicas O mediador é quem acompanha o processo de intervenção, planejando e organizando as oficinas, definindo os objetivos, selecionando atividades e materiais, dialogando com os familiares e/ou responsáveis pelos sujeitos, dialogando com a escola e com outros profissionais em espaços diversos, desenvolvendo e coordenando as atividades, pesquisando, estudando e desenvolvendo novas estratégias e instrumentos. Ao término de cada encontro é feita uma avaliação das vivências pelo sujeito ou pelo grupo de participantes, em que estes analisam o processo e expressam sentimentos e pensamentos. Neste momento, o mediador pode também avaliar o processo e fazer suas colocações, registrando suas observações. A avaliação do processo acontece a cada sessão e a análise do processo grupal ou do desenvolvimento individual do sujeito, em relação a progressos e mudanças, serve de referencial para novos encaminhamentos e orientações para a escola e familiares. 17 O trabalho em grupos durante a avaliação diagnóstica clínica e Institucional. Embora possam ser realizadas oficinas psicopedagógicas individuais, elas se caracterizam como uma modalidade de trabalho em grupo, mesmo quando as atividades são individualizadas em um processo de avaliação psicopedagógica clínica, embora o sujeito em avaliação seja apenas um, a realização de uma oficina com seu grupo de colegas pode trazer informações importantes sobre ele, suas interações e relações, dificuldades e conflitos presentes nessas relações, como e quando participa se há ou não envolvimento, cooperação, competição, organização, papéis e funções definidas na realização das tarefas. Na avaliação psicopedagógica institucional, as oficinas com diferentes grupos permitem conhecer a organização sistêmica da instituição, os conflitos presentes, questões e relações que interferem no trabalho até para organizar intervenções posteriores. Observa-se a temática, a dinâmica e o produto. Oficinas psicopedagógicas e intervenção clínica e institucional. A intervenção psicopedagógica clínica ou institucional é um processo em que o profissional atua fazendo a mediação entre o sujeito e o conhecimento, entre o sujeito e a aprendizagem, sendo seu principal objetivo possibilitar o alcance de autonomia e do protagonismo, superando as dificuldades que obstaculizam a aprendizagem. Uma série de recursos pode ser utilizada na intervenção psicopedagógica clínica e/ou institucional, e as oficinas psicopedagógicas são um desses recursos. As oficinas psicopedagógicas de intervenção são realizadas em um processo, composto por várias sessões, durante um tempo previamente determinado, ao término do qual se analisam os resultados e se opta por sua continuidade e mudanças. 18 Os encontros podem ser semanais ou quinzenais, por um ou dois anos. Cada encontro tem a duração de uma hora e trinta minutos a duas horas e engloba uma dinâmica com começo, meio e fim, e que indica sua continuidade. Acompanhamento do trabalho de intervenção com Oficinas psicopedagógicas O mediador é quem acompanha o processo de intervenção, planejando e organizando as oficinas, definindo os objetivos, selecionando atividades e materiais, dialogando com os familiares e/ou responsáveis pelos sujeitos, dialogando com a escola e com outros profissionais em espaços diversos, desenvolvendo e coordenando as atividades, pesquisando, estudando e desenvolvendo novas estratégias e instrumentos. Ao término de cada encontro é feita uma avaliação das vivências pelo sujeito ou pelo grupo de participantes, em que estes analisam o processo e expressam sentimentos e pensamentos. Neste momento, o mediador pode também avaliar o processo e fazer suas colocações, registrando suas observações. A avaliação do processo acontece a cada sessão e a análise do processo grupal ou do desenvolvimento individual do sujeito, em relação a progressos e mudanças, serve de referencial para novos encaminhamentos e orientações para a escola e familiares. Planejamento e organização das Oficinas Psicopedagógicas O trabalho psicopedagógico, seja na avaliação ou na intervenção, requer uma organização para atender seus objetivos. Ao se optar pela utilização das oficinas psicopedagógicas no trabalho psicopedagógico é preciso elaborar um planejamento, que vai orientar o encaminhamento das atividades e, escolher uma proposta de trabalho que vai lhe dar estrutura. Planejar nada mais é do que definir um caminho a seguir, o que torna o trabalho organizado e aperfeiçoa o tempo. 19 Planejar as oficinas significa organizá-las de modo que se configurem em espaços privilegiados de construção de conhecimentos, expressão de pensamentos e sentimentos, superação de dificuldades e aprendizagem. Sugestão de roteiro: Público; Tema; Objetivo Geral; Objetivos Específicos. Tempo: data, horário e duração. Espaço; Dinâmica: atividades organizadas em três momentos; Materiais; Adaptações; Função do profissional; Conteúdo e funções; Avaliação e continuidade. Oficinas psicopedagógicas de avaliação diagnóstica: exemplos de uma prática Por meio da oficina para avaliação diagnóstica psicopedagógica é possível conhecer melhor o sujeito, como interage com os colegas e consigo mesmo, como lida com desafios, competição, cooperação, observar comportamentos, a expressão de sentimentos e de pensamentos, como participa de atividades de construção ou produção coletiva, atividades lúdicas, de criação, de imaginação, atividades artísticas, compreender suas dificuldades, conhecer suas habilidades, confirmar e levantar novas hipóteses, fechar um diagnóstico, proceder os encaminhamentos e fazer as orientações para os profissionais da escola e para a família, propondo a intervenção psicopedagógica.Pode ser realizada na escola onde o sujeito que está sendo avaliado estuda, com os colegas de sua turma e/ou com a professora, planejada para se levantar uma Informação específica, analisar as relações, observar comportamentos e interações. A intervenção psicopedagógica com Oficinas psicopedagógicas: atuaçãoTerapêutica. A intervenção psicopedagógica é o trabalho realizado pelo psicopedagogo no processo de aprendizagem e de desenvolvimento de um sujeito com dificuldades, em que pela interferência planejada e organizada se procura modificar os processos, equacionando as dificuldades e resgatando aspossibilidades de aprendizagem. Procura-se compreender o processo de aprendizagem do sujeito, analisando o processo de ensino e aprendizagem a 20 que está submetido no contexto escolar e familiar, bem como os fatores intervenientes, que dificultam esses processos e determinam a não aprendizagem, resgatando as possibilidades de aprendizagem através da intervenção mediada, sendo o vínculo condição essencial para a intervenção. O trabalho em grupo, as interações estabelecidas e a mediação presentes na intervenção possibilitam experiências novas, experimentações que estimulam a criação, a cooperação, desafiam o sujeito a resolver problemas e expressar sentimentos. Práticas com Oficinas Psicopedagógicas na escola: atuação preventiva. As oficinas psicopedagógicas podem ser utilizadas também no contexto escolar, numa perspectiva preventiva ou formativa. Em sala de aula, com sujeitos de diferentes idades visando estimular o desenvolvimento e a aprendizagem. Com a equipe de profissionais da escola, com o objetivo de melhorar as relações, sensibilizar e propiciar vivências e reflexões sobre aprendizagem, interações e formação continuada, também como atividade de formação inicial para grupos de estudantes, futuros profissionais. É preciso planejar e organizar as oficinas, considerando os participantes, seus interesses e necessidades, os objetivos do trabalho de modo a atuar preventivamente. Os encontros devem ser realizados com o mesmo grupo, semanalmente ou quinzenalmente, por um ano, tempo mínimo para se efetivar um trabalho grupal e preventivo, em que os participantes se relacionem estabelecendo vínculos, em que a mediação ocorra e possibilite aprendizagem. Construções psicopedagógicas com adultos: relatos de uma práxis. A oficina psicopedagógica foi desenvolvida com um grupo de alunos de um curso superior com dificuldades de aprendizagem e interação. 21 O planejamento foi organizado na proposta de Grassi em que diferentes linguagens são utilizadas e as dinâmicas acontecem em três momentos. Grupo composto por 1 homem e 13 mulheres, de 19 a 35 anos do terceiro ano do curso. Foram recepcionados na entrada e com papel colorido organizaram uma cartela de bingo, jogaram, e ao final, restaram dois ganhadores. Para ganhar o prêmio estes deveriam realizar uma atividade com auxílio de um colega que escolheu o castigo. Houve muita risada. Receberam uma folha e material para construir um desenho que retratasse sua fisionomia durante a atividade anterior. Apresentaram os desenhos, pendurados num varal, falando sobre a experiência e escolhendo uma palavra que a sintetizasse. Foi possível constatar lideranças negativas, dificuldades de interação e agressividade na escolha dos castigos. 22 CAPÍTULO V - DINÂMICAS DE GRUPO E OFICINAS PSICOPEDAGÓGICAS: FACILITADORAS DA RELAÇÃO DE VÍNCULO ENTRE PROFESSOR E ALUNO NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM. A relação de vínculo entre professor e aluno Um dos grandes desafios no contexto escolar brasileiro tem sido o déficit na aprendizagem desde a educação infantil até a superior. Numa primeira análise, é possível observar, entre outros fatores (evasão escolar, indisciplina, violência, carências didático-pedagógicas, etc.), uma necessidade de se aprimorar a relação professor-aluno, não apenas como um dos componentes nesse processo de aprendizagem, mas como um fator primordial. O desenvolvimento do vínculo afetivo entre professor e aluno deve ser o fator diferencial no processo de ensino-aprendizagem, contribuindo inclusive para o minoramento dos problemas relacionados ao contexto escolar observado nas escolas brasileiras. O fracasso da aprendizagem determina a impossibilidade do sujeito de reconhecer-se como temporal, de localizar-se em um aqui e agora. Portanto, um fracasso da aprendizagem da realidade pode caracterizar-se em termos de fracasso de integração. Cabe, nesse sentido, afirma PichonRiviére (1995), que o professor estabeleça vínculos em sua relação com os alunos. Roncaglio (2003) reconhece a necessidade de tal vínculo e uma articulação no sentido de que mediadores para efetivá-la sejam implementados, já que, no contexto didático-técnico–pedagógico, a qualidade da relação professor-aluno está relacionada a diversos fatores que não dependem apenas do aluno e do professor. Nessa relação, é possível perceber o "contrato didático" que, segundo Brousseau (2001), é o conjunto de regras, sobretudo, implícitas que determina o que cada um - professor e aluno – deve gerir e esperar do outro acerca do comportamento esperado de ambos, por cada um deles, visão trabalhada por PichonRivière (1980, 1995) quando articula a noção de grupo operativo. 23 A relação professor-aluno está sujeita a normas, escolhas pedagógicas, objetivos dos alunos, dos professores e dos cursos. Libâneo (1990) e Mizukami (1986) discutem a relação professor-aluno no Ensino Fundamental e Médio, onde traz a identificação das raízes de alguns modelos educacionais como modelo tradicional, progressista, crítico social dos conteúdos, escola nova, tecnicista, libertária e libertadora. PichonRivière (1980, 1995) e Mizukami (1986) questionam ao oferecer uma teoria sobre a relação professor/aluno/aprendizagem, "o que fundamenta a ação do docente"? Segundo Roncaglio (2003), “a abordagem tradicional destaca a autoridade do professor como centro da ação pedagógica, onde há diretividade e decisões tomadas para o aluno pelo professor”. Na abordagem comportamental, cabe ao professor a responsabilidade de planejar e desenvolver o sistema de ensino aprendizagem no sentido de maximizar o desempenho do aluno. E a este cabe o controle do processo de aprendizagem. Na abordagem cognitivista, o professor que deve evitar a rotina, a fixações de respostas e hábitos. Deve criar situações em que haja condições de se estabelecer reciprocidade intelectual e cooperação ao mesmo tempo moral e racional, provar desequilíbrios e fazer desafios. Ao aluno cabe um papel ativo, devendo ser tratado de acordo com suas características estruturais, próprias de sua fase evolutiva. E que nas tendências pedagógicas e das abordagens da psicologia, encontra-se a polarização professor-aluno em ponto comum, pois ora acentua-se o papel do professor, ora do aluno. Parzianello (2003) e PichonRivière (1980, 1995) defendem a ideia de que o professor deve ser visto dentro de um referencial humanista e cognitivista, desempenhando o papel de facilitador, de mediador entre o aluno e o mundo que o rodeia, auxiliando na construção do desenvolvimento cognitivo, onde, o aprender é uma ação contínua, que precisa ser internalizada para transformar- se em ato do próprio sujeito. 24 Sua tarefa não termina aqui, espera-se também dele que auxilie na formação da personalidade do aluno. Na prática diária, nem sempre o docente está preparado para desenvolver um trabalho pautado em uma concepção que valorize o educando em sua totalidade e a afetividade como elemento importante no processo ensino-aprendizagem. O professor não pode desvincular sua própria dimensão pessoal da profissional e precisa, ele próprio, assumir sua necessidade de estar em constante movimento de aprender. Necessita estar imbuído de valores humanos e ser capaz de sustentar o afeto que possibilita a criação de vínculos tão necessária para a constituição de uma aprendizagem significativa. Quanto ao aluno, em diversos teóricos (PIAGET, VYGOTSKY, WALLON, ROGERS e GOLEMAN), que embora partam de referenciais teóricos diferentes, partilham da concepção de que todos os indivíduos são capazes de aprender e aprender dentro de um contexto significativo no qual as interações desempenham papel importante e a afetividade exerce um fator relevante na construção dosaber bem como na formação da personalidade do sujeito. Para Parzianello (2003), a função do professor não é transmitir conteúdos, nem intervir nas atividades das crianças, mas estimular, desafiar e pontuar, não em uma posição passiva, pois cabe a ele captar os interesses que emergem do aluno. Para tanto, deverá estar disponível, criar um ambiente acolhedor no qual a criança possa agir de forma livre e criativa com os objetos e situações de aprendizagem, mas também estar atento a fim de garantir o interesse pelas atividades oferecidas em sala de aula. É indispensável respeitar o interesse e a fase de desenvolvimento das crianças, trabalhando a partir de sua atividade espontânea, privilegiando sempre o que elas, por si só, puderem descobrir. Tanto em relação ao aluno quanto ao professor, é importante que o ato de aprender transcenda a formalidade da sala de aula, ou de um currículo hermético, determinado, enrijecido. O ato de aprender dá-se durante toda a vida do ser humano, do nascimento até a morte, porque disso depende sua sobrevivência. A formação do professor não se constrói, portanto, por acumulação, por certificados e cursos, mas por uma reflexão crítica sobre as práticas. Deve-se oportunizar, na formação dos 25 professores, o desenvolvimento de uma perspectiva crítico-reflexiva, oferecendo-lhes caminhos para serem mais autônomos e participativos. É necessário ressaltar que por maiores que sejam os conhecimentos técnicos dos professores, o valor dos mesmos depende essencialmente do seu valor humano. Em uma sociedade em constantes mudanças, o professor é chamado, cada vez mais, a realizar uma tarefa que vai além da construção do saber. É um comprometimento no sentido de estar constantemente buscando atualizar-se e aperfeiçoar-se no que diz respeito ao conhecimento do conteúdo que vai ensinar, mas também, no sentido de avaliar-se e conhecer-se melhor. As principais competências que um professor precisa desenvolver para exercer sua atuação em sala de aula são, segundo Perrenoud, (2001, citado em Parzianello, 2003), Organizar e dirigir situações de aprendizagem, administrar a progressão das aprendizagens, conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação, envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho, trabalhar em equipe, participar da administração da escola, informar e envolver os pais, utilizar novas tecnologias e enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão e administrar sua própria formação contínua. Não podemos esquecer que a relação professor-aluno é uma relação de poder e nela, não pode estar presente implícita ou explicitamente, o desejo de subjugar o outro. A noção de grupo operativo na perspectiva de PichonRivière (1980) vem como uma resposta a essa carência de relações justas, de troca, de intercâmbio, crescimento individual e coletivo. Num grupo operativo, argumenta PichonRivière, a realização da tarefa não pode ser encarada como a finalidade em si, pelo contrário, o intuito é perceber como o conhecimento vai sendo integrado e elaborado. É por isso que o grupo deve existir concretamente em suas relações, forjando um ambiente onde cada um dos participantes vivencia a experiência grupal tanto em nível emocional, na trama relacional, quanto conceitual, na tarefa. Cada membro se envolve emocional e conceitualmente, 26 conciliando ação e reflexão na vivência grupal, na busca da realização da tarefa e da consciência da dinâmica do grupo. ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DA TEORIA DE PINCHON-RIVIÈRE Pichon Rivière3 é um suíço radicado na Argentina desde os quatro anos de idade. Estudou psicanálise por influência de Freud. Em 1936, formou-se em medicina, dedicando-se à psiquiatria. Nesse mesmo ano, decidiu fixar residência em Buenos Aires, onde trabalhou muitos anos no Hospital de "Las Mercedes", acumulando, também, a função docente. Provavelmente sua prática psiquiátrica no Hospital de "Las Mercedes" o tenha influenciado a trabalhar com pessoas, sobretudo, em grupos. PichonRivière (1980) via o homem da perspectiva de grupo, não como um ser isolado. Deu muita importância, principalmente, ao grupo familiar. Fruto de sua prática, elaborou uma metodologia a qual denominou de grupo operativo. O objetivo principal dessa técnica era o de envolver todos os pacientes na realização de uma tarefa e, através da mesma, oferecer um ambiente, oportunidade, de diagnóstico, cura ou aprendizagem. Isso se daria, acreditava PichonRivière (1980), quando houvesse envolvimento de todos os participantes na resolução conjunta das tarefas propostas. Segundo ele, para um grupo tornar-se operativo precisa levar em conta a motivação para a tarefa, mobilidade nos papéis a serem desempenhados e disponibilidade para mudanças que são necessárias (PICHON RIVIÈRE 1980), (OSÓRIO, 2000). PichonRivière (1980) dividiu o grupo operativo em três importantes etapas: a) pré-tarefa, caracterizada por uma desorganização (confusão) das ideias nos membros do grupo. Nessa etapa, afirma PichonRivière, os medos e ansiedades básicas não são elaborados e tratados de forma adequada, o que gera um obstáculo para a realização da tarefa.; b) na segunda etapa, denominada de tarefa, o grupo já é capaz de elaborar as ansiedades e medos, quebrando, portanto, as barreiras geradas pelos comportamentos estereotipados e, por conseguinte, permitindo um contato ativo com a realidade (esse é o momento propício para a elaboração de estratégias e táticas para a realização da tarefa); c) a etapa que produz mudanças, em que o novo surge, denominada de projeto. Além da compreensão das etapas ou momentos que caracterizam o grupo operativo, 27 PichonRivière considera fundamental o desempenho e reconhecimento dos papéis que são assumidos. Esses papéis se revelam no interior do grupo como condutas organizadas para satisfazer necessidades e expectativas individuais de todos os seus componentes. Cada papel corresponde a outro papel, que é o seu complementar. Por exemplo, professor/aluno, pai/filho, paciente/médico. A organização dos papéis que devem ser desempenhados no interior dos grupos operativos não é aleatória. PichonRivière (1980) divide os papéis em duas categorias: a) Papéis Instituídos e Papéis Espontâneos (não instituídos). Os papéis instituídos estão divididos em 3 categorias. São elas: a) Coordenador, cuja função é facilitar a articulação do grupo com a tarefa, trazendo à tona os fatos implícitos; b) Observador, cuja função é realizar a observação e registro da história do grupo (processo grupal); c) Integrantes, sem função fixa, ou seja, ela dependerá dos objetivos do grupo. Os papéis espontâneos, ou, não instituídos, são: a) o porta-voz, cuja função é esclarecer o que está implícito no grupo com o objetivo de permitir a tomada de consciência; b) o bode expiatório, esse papel surge apenas quando o grupo não aceita o que foi dito pelo porta-voz, que, por conseguinte, torna-se o bode-expiatório; c) O líder de mudança, definido a partir do momento em que o grupo aceita o que o porta-voz disse, como expressão do sentimento do grupo, contribuindo então para a realização da tarefa. PichonRivière (1980) não compreende o grupo como algo estático, mas como um fenômeno em constante mutação, num movimento que inclui sempre estruturação e reestruturação, movida pela luta de contrários, a luta da complementaridade, que nunca cessa. É o processo de aprofundamento das contradições de conhecimentos, dos desacordos, que fundamenta o processo de resolução. No grupo operatório, existem múltiplos pares de opostos contraditórios (sujeito/grupo; velho/novo; projeto/resistência à mudança), atingindo diferentes níveis de resolução, sem, no entanto, resolverem-se completamente. Essas contradições vão chegando a diferentes níveis de resolução, mas nunca se resolvem de todo. Nesse processode encontro e confronto, estão presentes as ansiedades básicas de perda e de ataque. Surge a desestruturação e a tendência a repetir velhas receitas, tentando reduzir e controlar essas ansiedades. É aí que as contradições se manifestam num grau muito alto, entrando, por conseguinte em crise. Isso gera um clima emocional 28 intenso, o grupo dá um salto do velho para o novo e, mais adiante, esse novo se transforma em velho, garantindo a continuidade do movimento no grupo. PichonRivière (1980) considerou que a interação do grupo não deveria ser algo isento de intervenção, pelo contrário, deveria ser avaliada sistematicamente. Nesse sentido, ele desenvolveu alguns parâmetros para avaliar a interação grupal: a) Afiliação e Pertença, cujo objetivo é apontar o maior ou menor grau de identificação com a tarefa, de responsabilidade ao assumir a tarefa; b) Cooperação, com o objetivo de verificar o desenvolvimento de papéis diferenciados e complementares (nível em que a tarefa é realizada); c) Pertinência, com o objetivo de verificar a capacidade de centrar-se na tarefa (produtividade do grupo); d) Comunicação, com o objetivo de observar as conexões, codificações e decodificações das mensagens; e) Aprendizagem, caracterizada pelo acréscimo da informação, por meio da participação de cada integrante de um grupo, constatada pela adequação à realidade. Isso pode se mostrar como um fator positivo ou negativo, implicando num reencontro realista e verdadeiro entre os participantes do grupo, sem as projeções e distorções transferenciais. O vínculo e o grupo na perspectiva de pinchonrivière PichonRivière (1995), fixando o olhar na complexidade de ações e reações que permeiam o ambiente escolar, elabora uma teoria cujo objetivo principal é analisar a relação professor/aluno, sobretudo quanto ao tipo de vínculo que essa relação tem produzido e suas consequências para o processo educativo. Para PichonRivière, o ser humano precisa ser visto de forma integral, sobretudo, em sua dimensão humana. Tal conhecimento se dá na integração dialética das dimensões de mente, corpo e mundo exterior. Consciente da complexidade do ambiente escolar, sobretudo nas relações que ali se desencadeiam, cabe ao professor não apenas essa consciência, como também, o domínio de ferramentas que lhe permitam lidar positivamente com a mesmas, gerando, por conseguinte, um ambiente rico de aprendizagem, caracterizado pela mudança positiva. É aí, pensa PichonRivière (1995), que o grupo tem uma importância fundamental, já que para ele, o aprender a pensar surge como fruto da organização de tarefas em um grupo com objetivos em comum. Também, 29 continua PichonRivière, é no ambiente do grupo que as pessoas articulam-se para concretizar os objetivos, aprendendo a conviver com as possíveis ansiedades e obstáculos e com a superação dos mesmos. A sistematização do conhecimento se dá em conjunto. É lugar comum a compreensão de que a tarefa educativa como produto da ação do grupo só é possível quando ele aprende a transformar uma ação individual numa ação coletiva. Quando a escola consegue articular-se na perspectiva de grupo, professor e aluno começam a compreender que está do mesmo lado de um processo de crescimento, assunção da realidade, busca de uma aprendizagem mais efetiva. Nesse sentido, um não pode representar uma ameaça para o outro, portanto, em tal circunstância, torna- se lícito a busca por ajuda, por trocas de experiências (sair para passear com alunos, ouvir a família, ouvir o aluno, rever a maneira de organizar a sala de aula, etc). É possível sentir-se acolhido diante da adversidade; é possível perceber que errando é possível acertar, (PichonRivière, 1995) O grupo deve ser entendido como um conjunto restrito de pessoas ligadas entre si por constantes de tempo e espaço, articuladas por sua mútua representação interna, que se propõe de forma explícita ou implícita à realização de uma tarefa, a qual constitui sua finalidade, interatuando através de complexos mecanismos de atribuição e assunção de papéis. O grupo é o espaço onde se é possível crescer, quer individualmente, como pessoa, quer coletivamente, como grupo. É através das interações que ocorrem no grupo que este se elabora, solidifica-se. E se este se desenvolve, os seus membros se desenvolvem também (PichonRivière, 1980). O grupo surge devido a carências e interesses comuns aos seus membros. No grupo deve-se levar em conta o que cada indivíduo traz, já que cada indivíduo, em sua unidade, é um ser histórico, além de social. Por outro lado, é através da interação no grupo que as necessidades e interesses individuais são compartilhados e o conhecimento é elaborado. Isso ocorre devido à mobilização e motivação propiciadas pela convivência no grupo e, individualmente, em cada membro a partir de suas necessidades e interesses. O grupo também, afirma PichonRivière (1995, 1980), é um lugar propício à elaboração do conhecimento devido a seu significado histórico. É no grupo, na relação com os outros, que muitos conhecimentos, não 30 apenas científicos, foram elaborados e através deles os indivíduos se tornaram sujeitos. Se o conhecimento da dinâmica do próprio grupo fosse atingido, os seus membros participariam de forma mais criativa e crítica, pois seriam conscientes da ação transformadora delas mesmas e do contexto onde estão inseridas. Todo esse processo ocorreria em torno de uma tarefa comum, na qual todos estão empenhados. 31 REFERÊNCIAS BROUSSEAU, G. Os diferentes papéis do professor. In: PARRA, Cecília; SAIZ, Irma (Orgs). Didática da Matemática. Porto Alegre: Artmed, 2001; GRASSI, T. M. Oficinas psicopedagógicas. 2 ed. Curitiba; Editora IBPEX, 2008; LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 1990; MIZUKAMI, M. G. N. Ensino, as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 1986. PARZIANELLO, Marisa Terezinha (2003). A Importância da relação vincular professor-aluno na educação infantil da modalidade de educação especial na área da deficiência mental. Curitiba. PICHON RIVIERE, E. El processo grupal – delpsicoanalisis a la psicologia social. 5ªed. Buenos Aires. Ed. Nueva Vision. 1980. ________________. Teoria do vínculo. 4ª. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991. ________________. “História de la técnica de los grupos operativos”. In: Tema de Psicologia Social, ano 4, vol.3, Buenos Aires: 1980. RAMALHO, C.M.R. Piscodrama e dinâmica de grupo. Disponível em: < http://profint.com.br/artigos/psicodrama_e_dinamica_de_grupo.pdf> Acesso em 15 de agosto de 2011. RONCAGLIO, SONIA MARIA (2003) A relação professor-aluno na educação superior. A influência da gestão educacional. Dissertação de Mestrado. Universidade Tuiuti do Paraná: Curitiba. 32 SOARES,D.C. Indicadores para uma construção psicopedagógica. Disponível em:Acess o em 16 de agosto de 2011. 33 34 .
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