Prévia do material em texto
0 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO PROGRAMA DE PÓS- GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA (PPGL/UFSC) O CONTO E RECONTO DE HISTÓRIAS PARA O DESENVOLVIMENTO LEXICAL E DA LINGUAGEM: UM ESTUDO À LUZ DA PSICOLINGUÍSTICA EXPERIMENTAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL Candidata: Fabiula Cristina da Costa Almeida Orientadora pretendida: Mailce Borges Mota Área de Concentração: Psicolinguística Linha de Pesquisa: Aquisição e Processamento da Linguagem FLORIANÓPOLIS - SC 2022 1 RESUMO No que tange ao desenvolvimento lexical e da linguagem, a utilização da psicolinguística experimental se mostra adequada para analisar metodologias e técnicas de alfabetização e desenvolvimento da competência em leitura e escrita na primeira infância. Desta forma, partimos da seguinte questão norteadora: em que medida o conto e reconto de histórias clássicas-infantis contribui para o desenvolvimento do repertório lexical entre crianças na faixa etária de 3,4 e 5 anos, no que tange ao processamento da linguagem a luz da psicolinguística experimental? Nosso objetivo geral possui o mesmo núcleo e se propõe a analisar o processo de aquisição e desenvolvimento do repertório lexical e a capacidade de narrativa através do conto e reconto de histórias clássicas-infantis com base na psicolinguística a partir de crianças da educação infantil, na faixa etária de 3,4 e 5 anos, em dois Centros de Educação Infantil públicos e municipais da cidade de Palhoça, Santa Catarina. No que tange a metodologia, trata- se de uma proposta de pesquisa cuja abordagem será qualitativa, centrada nos resultados possíveis dentro da psicolinguística experimental, utilizaremos o método hipotético-dedutivo, cuja coleta de dados se dará através da técnica de observação participante, sendo o nível da pesquisa identificado como exploratória em primeira etapa e explicativa em segunda etapa. Como não poderia deixar de ser no processo de desenvolvimento de uma pesquisa acadêmico- científica, nos ocuparemos da revisão bibliográfica acerca da temática. No que tange aos pretendemos conhecer em que medida o conto e reconto de histórias clássicas-infantis contribui para o desenvolvimento do repertório lexical entre crianças na faixa etária de 3 a 5 anos, no que tange ao processamento da linguagem a luz da psicolinguística experimental. Ao passo que, em decorrência disso, conseguiremos observar e fazer um levantamento do repertório lexical e da compreensão de linguagem nas crianças de 3 a 5 anos de idade, estudantes da educação infantil; descobriremos como ocorre a aquisição e ampliação do léxico através do conto e reconto de histórias clássicas-infantis e analisaremos o desenvolvimento da narrativa espontânea. Palavras-chave: Psicolinguística experimental; Educação infantil; Conto e reconto de histórias. 2 1 INTRODUÇÃO A presente proposta de pesquisa se situa dentro da psicolinguística experimental e, especificamente, dentro do debate acerca da aquisição e processamento da Linguagem. Consideramos que o conto e reconto de histórias na primeira infância tem se mostrado uma ferramenta eficaz para o desenvolvimento lexical. O contato com livros e o incentivo à leitura nesta faixa etária, lhes proporciona experiências singulares de aprendizagem e potencial apego a leitura no futuro. Nesse viés, propomos a seguinte questão norteadora: em que medida o conto e reconto de histórias clássicas-infantis contribui para o desenvolvimento do repertório lexical entre as crianças na faixa etária de 3 a 5 anos, no que tange ao processamento da linguagem a luz da psicolinguística experimental? Ponderamos que a psicolinguística experimental se mostra fundamental para esta proposta de pesquisa, porque traz em seu interesse central três questões basilares: a) Como as pessoas adquirem a linguagem verbal? b) Como as pessoas produzem a linguagem verbal? c) Como as pessoas compreendem a linguagem verbal? A primeira questão se enquadra no campo da aquisição da linguagem (psicolinguística desenvolvimentista) e as duas outras questões formam o campo da psicolinguística experimental, ao que, seu objetivo principal é descrever e analisar a forma como os seres humanos compreendem e produzem a linguagem, partindo da observação dos fenômenos linguísticos que estão diretamente relacionados ao processamento da linguagem. (LEITÃO, 2008). O léxico é uma área de investigação das ciências da linguagem, mesmo diante da dificuldade em ser definido, podemos considerá-lo como um depósito de unidades lexicais de uma determinada língua, onde o léxico mental, é responsável pelo armazenamento dessas unidades, que podem se desenvolver e aumentar, resultando no desenvolvimento sintático, quando as frases se organizam e começam a fazer sentido. O desenvolvimento lexical é uma circunstância fundamental, ao que tange a aquisição de novos saberes que se dão a partir da aptidão de produção e compreensão dos significados, como a capacidade de nomear objetos, descrever características, narrar fatos entre outras informações. O processamento linguístico e a aquisição da linguagem, núcleos temáticos da psicolinguística, são tidos como forma intimamente ligada, que transcorre em duas direções: onde temos de um lado a ideia da fala; de o outro lado o enunciado percebido a uma 3 representação semântica deste enunciado. Já o estudo da aquisição da linguagem diz respeito à aquisição de uma língua materna (ou de mais de uma língua, no caso de bi/multilinguismo) pela criança, em condições naturais. (CORRÊA, 2014). Para tanto, o momento em que as crianças tem de contar e recontar as histórias, permite que elas ressignifiquem (ou elaborem) a leitura que têm de mundo, trazendo os conhecimentos que já foram adquiridos no contexto familiar ou pretérito e tendo a oportunidade de novos conhecimentos, tomando a leitura como um instrumento que ultrapassa a função de codificar e decodificar signos. Na medida em que passam a serem agentes ativos na ação elas aprimoram e aumentam seu repertório lexical. O período de vida contemplado pela educação infantil é determinante no desenvolvimento lexical e processamento da linguagem, além de outros enfoques, tanto que a educação infantil é a primeira etapa da Educação Básica, conforme previsto na lei nº. 9.394/1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e nas Diretrizes Nacionais Para a Educação Infantil (DCNEI-2010), e tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 anos de idade, nos seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, conforme exposto no art. 29 da LDB, cujo papel é de complementar a ação da família e da comunidade. Dessa forma, esta proposta de pesquisa buscará investigar o processo de aquisição e desenvolvimento do repertório lexical através do conto e reconto de histórias clássicas-infantis com base na psicolinguística experimental a partir de crianças da educação infantil, na faixa etária de 3 a 5 anos, em dois Centros de Educação Infantil públicos municipais da cidade de Palhoça, Santa Catarina, considerando como principal instrumento de coleta de dados a técnica da observação participante. 1.1 Justificativas Os temas que cercam a psicolinguística experimental, especificamente, acerca da aquisição e processamento da linguagem, despertam grande interesse no meio acadêmico, existindo muitos trabalhos que levam pesquisadores de diversas áreas a estudar sobre o tema, como por exemplo, a linguística, a psicologia e a educação, mais atualmente a neurociência cognitiva, o que também evidência a importância da interdisciplinaridade para esta vertente de conhecimento. 4 Ademais, embora já hajam contribuições acadêmicas acerca do tema da psicolinguística experimental, esse ainda é um tema com muitas possibilidadesde exploração, desse modo, esse projeto se propõe a fazer análises e abordagens sobre a psicolinguística experimental, aquisição e processamento da linguagem, além do repertório lexical por meio de conto e reconto de histórias através da experiência escolar de dois centros de educação infantil públicos na cidade de Palhoça, Santa Catarina, com crianças entre 3 e 5 anos de idade. Consideramos que é no espaço da educação infantil que as crianças têm grande oportunidade de aprimorar seus conhecimentos, de desenvolver e ampliar seu repertório lexical, por isso, a presente proposta se debruçará sobre o conto e reconto como ferramenta eficaz e a disposição dos professores, entendendo quais técnicas são mais apropriadas para aplicá-la, proporcionando para as crianças uma viagem ao mundo sem precisar sair do espaço do Centro de Educação Infantil, apenas usando o lúdico, a imaginação e a fascinação que os contos nos trazem. Isso significa, levantar contradições, pensar novas alternativas e trazer novas contribuições para outros pesquisadores, evidenciando a necessidade e importância que há no diálogo entre as ciências e as variadas fontes para questões concretas como a que propomos analisar. Por outro lado, também é importante destacar que a presente proposta nasce da atuação da pesquisadora proponente com a educação infantil há mais de 13 anos, cursou 4 fases do curso de Letras Português na UFSC e após a disciplina de psicolinguística surge o interesse em pesquisar sobre como ocorre a aquisição e desenvolvimento da linguagem nas crianças no período que frequentam a educação infantil. Como também gosta muito de contos e histórias infantis, deseja utilizar esse instrumento para pesquisar como as crianças desenvolvem a narrativa, adquirem e ampliam seu repertório lexical. Sendo assim, ressaltamos que esta vertente de pesquisa, guarda singular importância social, visto que as pesquisas dessa natureza vêm contribuir e ultrapassar a conjuntura acadêmica, alcançando uma estrutura literária sobre a desenvoltura da psicolinguística experimental, aquisição e desenvolvimento da linguagem na educação infantil, no mesmo tempo em que, proporciona e viabiliza práticas e discussões que modelam as vivências e relações entre os indivíduos no âmbito social, como resultado, mudar a visão dos professores sobre a aquisição e processamento da linguagem e como ela se desenvolve no período da educação infantil, contando com o recurso pedagógico do conto e reconto de histórias. Destarte, a importância da proposta apresentada é buscar a compreensão do processo de aquisição e processamento da linguagem com base na psicolinguística experimental, utilizando- se da ferramenta do conto e reconto de histórias para analisar o conhecimento lexical e a 5 capacidade de narrativa das crianças na educação infantil e a possibilidade de ampliar esse repertório, razão pela qual reiteramos a pertinência acadêmica do tema e sua contribuição para o debate científico, de modo que o processo investigativo proposto coaduna-se com o programa de pós-graduação stricto sensu em Linguística, especificamente na área de concentração de psicolinguística experimental e linha de pesquisa “aquisição e processamento da linguagem”, e sendo o locus ideal de desenvolvimento teórico e empírico. 1.2 Objetivos 1.2.1 Geral Analisar o processo de aquisição e desenvolvimento do repertório lexical e a capacidade de narrativa através do conto e reconto de histórias clássicas-infantis com base na psicolinguística experimental a partir de crianças da educação infantil, na faixa etária de 3 a 5 anos, em dois Centros de Educação Infantil públicos municipais da cidade de Palhoça, Santa Catarina. 1.2.2 Específicos • Realizar um levantamento do repertório lexical que as crianças já detêm; • Analisar a maneira como as crianças compreendem e produzem linguagem; • Realizar um estudo avaliativo e transversal de como o conto e o reconto auxiliam no processo de aquisição lexical; • Sistematizar como as crianças recontam/narram a história ouvida; • Registrar o repertório lexical das crianças e o estágio de processamento da linguagem antes e depois de aplicar a metodologia de conto e reconto de histórias; • Identificar caminhos para aprimoramento da metodologia em questão visando o desenvolvimento da competência em leitura e escrita na primeira infância. 6 2 MÉTODO Trata-se de uma proposta de pesquisa cuja abordagem será qualitativa, centrada nos resultados possíveis dentro da psicolinguística experimental, cujo método utilizado será o hipotético-dedutivo, de modo que a coleta de dados se dará através da técnica da observação participante, sendo o nível da pesquisa identificado como exploratória em primeira etapa e explicativa em segunda etapa, considerando a classificação de Gil (2008) quanto ao nível da pesquisa. Mas, antes, como não poderia deixar de ser no processo de desenvolvimento de uma pesquisa acadêmico-científica, nos ocuparemos da revisão bibliográfica acerca da temática. Para tanto, faz-se necessário justificar nossas escolhas metodológicas explicando qual a finalidade destas categorias a partir dos manuais de metodologia da pesquisa científica. Desta forma, quanto a abordagem qualitativa entendemos que é a mais adequada para investigar aspectos subjetivos em determinado grupo de sujeitos, pois considera o contexto no qual estão inseridos, a forma como são sociabilizados, dentre outros. Esse estudo será realizado com três grupos de crianças entre 3 e 5 anos de idade, denominados GTs (grupo de trabalho), em dois Centro de Educação Infantil públicos do município de Palhoça, Santa Catarina, visando compreender o processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem além do repertório lexical através do conto e reconto de histórias clássicas-infantis com base na psicolinguística experimental e, sendo tal metodologia de ensino de fato eficaz, identificar caminhos para seu aprimoramento. A técnica usada será a da observação participante, pois se apresenta de maneira adequada, onde o pesquisador pode adentrar no universo pesquisado até certo ponto, podendo ser usada de duas formas conforme Gil (2008, p. 103): “(a) natural, quando o observador pertence à mesma comunidade ou grupo que investiga; e (b) artificial, quando o observador se integra ao grupo com o objetivo de realizar uma investigação”. Ao se integrar no grupo a pesquisadora pretende em primeiro momento observar as metodologias já utilizadas pelas professoras com as crianças, no caso dos grupos que ainda não utilizam a ferramenta do conto e reconto, e em um segundo momento propor e executar a ferramenta pelo período de aproximadamente 30 dias e comparar o desenvolvimento da proposta. No caso dos grupos que já utilizam a ferramenta a pesquisadora irá coletar a experiência das professoras com seu uso, identificar formas de aprimora-la e propor a execução em conjunto. Em um panorama prévio, seria propor as crianças que façam uma roda que é o momento da história. Iniciar a roda com uma cantiga para atrair a atenção das crianças e então mostrar 7 para as elas o livro de contos escolhido, usando uma entonação que chame a atenção e desperte a curiosidade. Iniciar falando o nome do autor e do ilustrador, sempre mostrando as páginas para as crianças. Após a história levar as imagens que fazem parte da história reproduzida e colada em palitos. A pesquisadora vai apresentar as imagens para as crianças e fazer um levantamento de quem já reconhece os objetos do cenário, os personagens e outros objetos. Por ser uma metodologia em continuidade, em um outro momento recontar história, propondo que as crianças narrarem à sua maneira, com os detalhes que elas observaram nas imagens, se preferirem podem pegar o livro para auxiliar nesse momento. Importante destacar a necessidade de observar questõeséticas para a execução da pesquisa, sendo necessário prévia aprovação do comitê de ética responsável e necessário zelo com o tratamento de dados coletados, bem como devidas autorizações das instituições participantes e sobretudo dos responsáveis pelas crianças. Já em relação ao levantamento bibliográfico e revisão da literatura, estas subdividem-se em dois momentos, o levantamento e a revisão elaborados para a construção da proposta de pesquisa e, sendo aprovada a proposta, aprofundado procedimento para o desenvolvimento da pesquisa em si. No que tange ao método hipotético-dedutivo, este pode ser apresentado através de conhecimentos sobre um assunto específico suficiente para explicar um fenômeno, surgindo o problema. A fim de elucidar essa dificuldade demonstrada no problema, são estabelecidas conjecturas ou hipóteses. (GIL, 2008). Das hipóteses formuladas, deduzem-se consequências que deverão ser testadas ou falseadas. Falsear significa tentar tornar falsas as consequências deduzidas das hipóteses. Esse método busca corroborar a hipótese levantada a partir de evidências empíricas. Em relação ao nível da pesquisa, a identificamos como exploratória em primeira etapa e explicativa em segunda etapa, considerando a classificação de Gil (2008, p. 27), que afirma que as pesquisas exploratórias: Têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores. De todos os tipos de pesquisa, estas são as que apresentam menor rigidez no planejamento. Habitualmente envolvem levantamento bibliográfico e documental, entrevistas não padronizadas e estudos de caso. Procedimentos de amostragem e técnicas quantitativas de coleta de dados não são costumeiramente aplicados nestas pesquisas. 8 Com objetivo de proporcionar uma visão geral quanto a um fato especifico, sendo realizado, sobretudo, em temas pouco explorados e de difícil formulação de hipóteses precisas. Geralmente compõe a primeira etapa de uma investigação mais ampla, com tema muito genérico, tornando indispensável seu esclarecimento e delimitação. Resultando em um problema mais esclarecido, passível de investigação por meio de procedimentos mais organizados. A pesquisa explicativa se dedica a conhecer a realidade, explicando a razão e o porquê das coisas, por esse motivo é considerado o tipo mais complexo e delicado, cujos riscos de acontecer erros são grandes. A maioria das pesquisas explicativas nas ciências naturais, usam do método experimental. Já nas ciências sociais, usa-se outros métodos, principalmente o observacional, sendo que, na psicologia as pesquisas chegam a serem denominadas “quase- experimental”. Portanto, a princípio, tal recorte metodológico mostra-se como apropriado para o desenvolvimento da presente proposta de pesquisa, mas, em um movimento aberto para receber novos contornos a partir da expertise do docente orientador e de toda a carga de conhecimento que se adquire ao cursar as disciplinas deste programa de mestrado. 3 REFERENCIAL TEÓRICO Existem várias teorias sobre a aquisição da primeira língua ou língua materna e a segunda língua que envolvem o processo de aprendizagem da escrita, utilizando-se em primeiro momento de observações e posteriormente a descrição desses dados e suas explicações. Em relação ao processamento da linguagem, utiliza-se a psicolinguística experimental e as neurociências como base para apurar e compreender como o sinal acústico, sinal visual-espacial ou outros sinais são transformados em significados e, em contra partida, como os significados passam para sons e sinais visuais-espaciais. Ainda em relação ao aprendizado do sistema escrito, temos muitas pesquisas em novas metodologias de como ocorre a alfabetização e o desenvolvimento da aptidão na leitura e escrita. A psicolinguística experimental se mostra fundamental para esta proposta de pesquisa, porque traz em seu interesse central três questões basilares: a) Como as pessoas adquirem a linguagem verbal? b) Como as pessoas produzem a linguagem verbal? c) Como as pessoas compreendem a linguagem verbal? A primeira condiz com a área da aquisição da linguagem 9 (psicolinguística desenvolvimentista) e as duas outras formam o campo da psicolinguística experimental. (LEITÃO, 2008). Tendo como objetivo principal apresentar e analisar a forma como compreendemos e produzimos linguagem, a psicolinguística experimental parte da observação dos fenômenos linguísticos que estão diretamente relacionados ao processamento e aquisição da linguagem. Atentando para a sua execução pelos falantes/ouvintes com base no seu aparato perceptual/articulatório e de seus sistemas de memória. O léxico é uma área de investigação das ciências da linguagem, mesmo diante da dificuldade em ser definido, podemos considerá-lo como um depósito de unidades lexicais de uma determinada língua na qual, o léxico mental, é responsável pelo armazenamento dessas unidades, que podem se desenvolver e aumentar, resultando no desenvolvimento sintático, quando as frases se organizam e começam a fazer sentido. O desenvolvimento lexical se dá a partir da aptidão de produção e compreensão dos significados, como a capacidade de nomear objetos, descrever características, narrar fatos entre outras informações. O processamento linguístico e a aquisição da linguagem, núcleos temáticos da psicolinguística, são tidos como forma intimamente ligada, mas que transcorre em duas direções: Assim sendo, por um lado, o processamento linguístico diz respeito ao processo que transforma uma ideia ou mensagem, vinculada a uma intenção de fala (em um dado contexto), em uma representação mental passível de ser articulada em sons vocais e/ou registrada na escrita, ou percebida (embora não emitida) como pensamento consciente. Por outro lado, diz respeito ao processo que parte da percepção do sinal acústico da fala, ou gráfico da escrita, e dá origem a uma representação de natureza semântica passível de ser integrada no discurso, e com toda a base de conhecimento do ouvinte/leitor. O processamento linguístico é conduzido de forma natural, em grande parte automática, pelos seres humanos, mas pode ser implementado, ainda que de forma limitada, por computadores, a partir de programas destinados ao processamento automático de línguas naturais. A Psicolinguística lida apenas com o processamento linguístico humano, propondo modelos dos processos mentais implementados pelo cérebro na produção, na percepção e na compreensão da linguagem. Em determinados casos, a simulação desses processos em computador pode ser utilizada. Este é, contudo, nesse caso, apenas uma ferramenta para o teste hipóteses sobre processos mentais. O estudo da aquisição da linguagem diz respeito à aquisição de uma língua materna (ou de mais de uma língua, no caso de bi/multilinguismo) pela criança, em condições naturais. (CORRÊA, 2014, p. 107-108). Para que o processo de aquisição e desenvolvimento lexical ocorra, é determinante a presença de estímulos pertinentes já na primeira infância, com o objetivo de ampliar esse 10 repertório lexical utilizando-se da leitura de narrativas infantis, cânticos e a rima, proporcionado para as crianças contado direto com o letramento. O léxico mental, procede a partir da assimilação dos estímulos lexicais a partir do momento em que a pessoa é inserida em determinados ambientes e isso muda muito, dependendo diretamente da experiência linguística individualizada, a partir da escuta, da leitura e da escrita que faz. Para adquirirmos a capacidade de compreender e produzir variados significados, cabe ao léxico mental a incumbência de reter as unidades linguísticas que promovem uma aprendizagem fragmentada, das suas propriedades especificas e do início do contato firmado entreessas unidades, como por exemplo, nomear objetos, um atributo, ou outro tipo de informação, acessamos o nosso léxico mental, ou seja, nossa memória, cujas informações estão armazenadas. Uma das mais importantes linhas de pesquisas dentro das ciências cognitivas é a memória humana, com origem na psicologia, que abordam diretamente sobre linguagem e cognição. Segundo Mota (2015, p. 213): Também uma linha importante no estudo da relação entre memória e linguagem é a organização do léxico mental e do acesso lexical, particularmente no que diz respeito às premissas de modelos de organização e acesso lexical bem estabelecidos face ao que já sabemos sobre sistemas de memória. Por fim, tendo em vista o número de modelos de memória de trabalho que podemos encontrar na literatura, é necessário implementar estudos que possam nos auxiliar a identificar as propostas que são de fato úteis para a psicolinguística e o avanço do conhecimento sobre aquisição e processamento da linguagem. Essa aquisição é um processo complexo e necessita que tenhamos um olhar atento em diferentes aspectos, que de um lado, é importante descobrir as habilidades e conhecimento que a criança já detém para que o processo seja facilitado. Mesmo tendo muitas investigações sobre o processo de aquisição lexical, ainda não se chegou a um consenso, sobre como as crianças tem habilidade de associar corretamente uma palavra nova a um conceito, sendo que, existem diversas possibilidades de significado para uma mesma palavra. No que diz respeito a nossa pretensão com foco na educação infantil, é importante demarcar alguns documentos legais que orientam como a escola, a família e a sociedade devem conduzir a formação e a sociabilização das crianças. Temos o primeiro grande marco na história da educação infantil através da Constituição Federal de 1988 (CF/88), que reconheceu a creche e a pré-escola como sendo parte do sistema educacional no Brasil. Seguido do Estatuto da 11 Criança e do Adolescente (ECA) - Lei nº. 8.069/90, de 13 de julho de 1990, que traz no art. 53. que “A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho”. Já em 1996 a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), constituiu a educação infantil como dever dos munícipios. Essa lei elevou a educação infantil como primeira etapa da educação básica. Além da LDB temos também as Diretrizes Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI-2010) que vem concordar e esclarecer alguns aspectos referentes à educação infantil enquanto: Primeira etapa da educação básica, oferecida em creches e pré-escolas, às quais se caracterizam como espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de ensino e submetidos a controle social. É dever do Estado garantir a oferta de Educação Infantil pública, gratuita e de qualidade, sem requisito de seleção. (BRASIL, 1996). A partir do momento em que a criança entra na educação infantil, sabe-se que ela tem muitas necessidades e demandas a serem atendidas, e as instituições de educação infantil são pensadas e preparadas para promover o cuidar e educar que são processos indissociáveis, onde o cuidar está envolvido com o afeto e o educar nas ações planejadas, com objetivo de aumentar o conhecimento das crianças. A educação infantil é um período em que as crianças tem a oportunidade de aprender e vivenciar novas experiência, utilizando-se de metodologias lúdicas e prazerosas, para que essa fase seja significativa e de qualidade, ao ler para as crianças, o(a) professor(a) permite aguçar a criação, a imaginação e transformar o impossível, proporcionando vivências e encantamentos. A linguagem adquirida pelas crianças durante esse período, é apresentada de forma natural para aquisição da linguagem oral, no entanto, isso tudo depende do ambiente que a criança está inserida. Sendo que a qualidade e quantidade de estímulos e interações através de palavras, frases e textos de diversas estruturas e variação de faladas para as crianças, auxiliando e ajudando a prepara-las para o sucesso na alfabetização, considera-se que é de extrema importância que o fenômeno neurocognitivo seja acionado, para se conectar com outras divisões cognitivas como a atenção, controle, e a memória, entre outros. Partindo das necessidades e interesses das crianças pequenas, vimos que a leitura, conto e reconto fazem parte do processo de desenvolvimento e aprendizagem, e para entendermos melhor sobre a leitura, vamos iniciar por defini-la: 12 O processo da leitura pode ser definido de várias maneiras, dependendo não só do enfoque dado (linguístico, psicológico, social, fenomenológico, etc.), mas também do grau de generalidade com que se pretenda definir o termo. Quatro definições serão apresentadas e discutidas aqui: uma geral, duas específicas e uma conciliatória. A definição geral tem a finalidade de oferecer a essência do ato de ler, servindo de base comum para qualquer definição mais específica. As duas definições específicas atêm-se, cada uma, a um determinado pólo da leitura, desconsiderando o outro. Finalmente, a definição conciliatória tenta captar justamente os elementos que unem os dois pólos, oferecendo uma definição que seja, ao mesmo tempo, suficientemente ampla para que se incluam os elementos essenciais da leitura e suficientemente restrita para que não se incluam aspectos que pertencem a outras áreas de conhecimento. (LEFFA, 1996, p. 9). O conto é um gênero narrativo literário que se apresenta de forma curta, com começo, meio e fim, conhecido também como história de faz de conta. Com poder de agradar todas as idades, intelectualidades e culturas, sendo que, demonstram valores evidentes ao comportamento social humano. O trabalho com o gênero reconto, é a reconstrução oral de um texto já existente. O principal procedimento é a imitação a partir de um texto modelo: um conto clássico, anúncio, uma notícia, entre outros. Na educação infantil é importante incentivar as crianças a praticarem a escuta atenta. Para ir além do que está sendo contado, e conseguir trabalhar a oralidade e a imaginação, sendo assim, a criança aprende a recontar o que foi ouvido de maneira harmoniosa com a narrativa original. Dessa forma, quando a criança reconta a história de forma oral, ela passa a mostrar mais sua criatividade e emoção, pois traz para o momento do reconto sua personalidade, ideias e conhecimentos adquiridos previamente, acrescentando na narrativa novas informações, lugares, objetos, cenário e personagens, ampliando seu repertório lexical. Vimos que a partir da leitura, do conto e reconto de histórias e sua posterior narração feita pelas crianças, temos um importante recurso que pode ser utilizado pelos professores da educação infantil, posto que auxilia na obtenção dos objetivos planejados de aquisição e aumento do repertório lexical, desenvoltura, uso da imaginação, memória, criatividade. 4 RESULTADOS ESPERADOS Considerando nossa questão norteadora, através da execução da presente proposta de pesquisa, pretendemos conhecer em que medida o conto e reconto de histórias clássicas-infantis 13 contribui para o desenvolvimento do repertório lexical entre crianças na faixa etária de 3 a 5 anos, no que tange ao processamento da linguagem luz da psicolinguística experimental. Ao passo que, em decorrência disso, conseguiremos observar e fazer um levantamento do repertório lexical e da compreensão de linguagem nas crianças de 3 a 5 anos de idade, estudantes da educação infantil, a partir da experiência da cidade de Palhoça, Santa Catarina;descobrir como ocorre a aquisição e ampliação do léxico nas crianças através do conto e reconto de histórias clássicas-infantis e, como isso, pode ser aprimorado; e analisar a desenvolvimento da narrativa espontânea e criativa que as crianças fazem após ouvirem as histórias durante essa idade. Sabendo que é nessa idade que a aquisição lexical ocorre de forma rápida e que esse período deve ser explorado e aproveitado para incentivar e ampliar os conhecimentos e descobertas nas crianças para aprimorar a metodologia em questão visando a competência necessária para posterior leitura e escrita. 5 CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO DA PESQUISA 2023 ATIVIDADES MAR. ABR. MAI. JUN. JUL. AGO. SET. OUT. NOV. DEZ. Cursar disciplinas Levantamento bibliográfico Fichamentos e revisão da literatura Revisão do projeto Submissão ao comitê de ética Contato com instituições e responsáveis 2024 ATIVIDADES FEV. MAR. ABR. MAI. JUN. AGO. SET. OUT. NOV. DEZ. Observação participante Catalogação dos dados Escrita dos capítulos Qualificação Revisão de escrita Defesa Mar / 2025 14 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1998. Disponível em: http://portal.mec.gov.br›seb›pdf›. Acesso em 02 jun. 2022. ______. Lei nº. 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: Casa Civil, 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br›ccivil_03›leis. Acesso em 02 jun. 2022. ______. Lei nº. 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre os direitos da criança e do adolescente. Brasília: Casa Civil, 1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm Acesso em 11 jul. 2022. ______. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. CORRÊA, Letícia Maria Sicuro. Processamento linguístico e aquisição da linguagem: uma abordagem integrada. In: BUCHWEITZ, Augusto; MOTA, Mailce Borges (Orgs.). Linguagem e cognição: processamento, aquisição e cérebro. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2014. GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6 ed., São Paulo: Atlas, 2008. LEITÃO, Márcio Martins. Psicolinguística experimental: focalizando o processamento da linguagem. Manual de Linguística. São Paulo: Contexto, p. 217-234, 2008. MOTA, Mailce Borges. Sistemas de memória e processamento da linguagem: um breve panorama. Revista Linguística, v. 11, n. 1, p. 205-2015), v. 11, p. 205-215, 2015. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/rl/article/download/4630/3397. Acesso em 05 jul. 2022. VILLALVA, Alina. Introdução ao estudo do léxico: descrição e análise do português. Petrópolis: Vozes, 2014. http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/portugues.pdf http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%208.069-1990?OpenDocument http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm https://revistas.ufrj.br/index.php/rl/article/download/4630/3397