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DIDÁTICA DO EDUCADOR DA EJA UNIASSELVI-PÓS Autoria: Gilvan Charles Cerqueira de Araújo Indaial - 2021 2ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Copyright © UNIASSELVI 2021 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. A663d Araújo, Gilvan Charles Cerqueira de Didática do educador da EJA. / Gilvan Charles Cerqueira de Araújo. – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 123 p.; il. ISBN 978-65-5646-353-7 ISBN Digital 978-65-5646-352-0 1. Educação. – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 370 Impresso por: Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jóice Gadotti Consatti Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Jairo Martins Marcio Kisner Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS E A EDUCAÇÃO BÁSICA .................................................................7 CAPÍTULO 2 FORMAS DE OFERTA, PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÕES PEDAGÓGICAS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS .......45 CAPÍTULO 3 EJA: CURRÍCULO, AVALIAÇÃO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES ............................................................................85 APRESENTAÇÃO A Educação de Jovens e Adultos é uma das modalidades mais importantes da Educação Básica. É por meio da EJA que os estudantes podem iniciar ou dar continuidade a seus percursos de escolarização, permitindo a construção ou retomada de seus projetos e histórias de vida pela escola e os estudos. Há um debate de valorização das modalidades educacionais e a EJA está inserida nesse processo. A correlação com etapas e também outras formas de atendimento educacional faz parte da essência da Educação de Jovens e Adultos. Para que sua essência e objetivo sejam alcançados é preciso que a EJA esteja ao alcance de todos aqueles que dela precisam como porta de acesso ou continuidade do percurso de escolarização. O Brasil possui condições específicas e históricas de desafios e dificuldades envolvendo a oferta educacional para sua população. A Educação Básica, em suas etapas, muitas vezes não alcança grande parcela da sociedade brasileira. Esses jovens, adultos e idosos que não tiveram acesso à escola, ou então a frequentaram de forma descontinuada, formam o principal público-alvo da Educação de Jovens e Adultos. Tendo essa característica especial, a EJA possui em seu ínterim aspectos que precisam ser levados em consideração a respeito do seu currículo, formas de avaliação, escolha de conteúdos, diversidade e complexidade de seus sujeitos, a importância de se pensar nas avaliações formativas e acompanhamento pedagógico, a formação específica para professores da modalidade, dentre outros aspectos que fazem parte do debate teórico e prático sobre a EJA. Compreender a relação da Educação de Jovens e Adultos e seu papel como modalidade da Educação Básica é tanto essencial como imprescindível, envolvendo elementos como didática, diversidade dos sujeitos da EJA, formas de oferta, avaliação, construção curricular e formação dos professores que atuam na modalidade. No Capítulo 1, “A Educação de Jovens e Adultos e a Educação Básica”, há a apresentação dos tópicos principais e basais da EJA em relação a sua própria estrutura e características, seus sujeitos e a relação com as etapas da Educação Básica. Buscar o protagonismo da EJA no âmbito da oferta educacional brasileira é o primeiro passo a ser dado em direção a um aprofundamento teórico e aperfeiçoamento da prática pedagógica direcionadas à EJA. Em continuidade aos debates iniciados no primeiro capítulo, no Capítulo 2, “Formas de oferta, planejamento e organizações pedagógicas da Educação de Jovens e Adultos” serão tratadas, principalmente, a diversidade, complexidade e variabilidade de se pensar a oferta da EJA na realidade social e educacional brasileira. No terceiro e último capítulo, intitulado “EJA: Currículo, Avaliação e Formação de Professores” serão tratados aspectos complementares do debate envolvendo a EJA. Formas de avaliação, construção curricular e as diferentes formas de avaliar os sujeitos da EJA são as diretrizes que fazem parte desse capítulo. Busca-se, portanto, contemplar a Educação de Jovens e Adultos com algumas das questões atuais e necessárias de toda a Educação Básica. A partir desses três capítulos espera-se, portanto, que ao final dos estudos seja possível elencarmos um panorama dos estudos educacionais relacionados à Educação de Jovens e Adultos. Ao longo deste capítulo, a EJA será tratada em sua especificidade como modalidade educacional, o protagonismo na Educação Básica e a complexidade e diversidade dos seus sujeitos, junto à valorização dos professores que atuam na EJA. Bons estudos! Professor Gilvan Charles Cerqueira de Araújo. CAPÍTULO 1 A Educação De Jovens E Adultos E A Educação Básica A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: • compreender a EJA em suas etapas, segmentos e especificidades didático- pedagógicas; • ser capaz de integrar os desafios da EJA com as possibilidades de melhorias, e análise crítica, reflexiva e propositiva sobre a modalidade em suas diferenciações com o ensino regular; • ter contato com os desafios e aspectos gerais da EJA como uma das modalidades da Educação Básica; • fazer um percurso entre o histórico, aspectos e possibilidades de aperfeiçoamento, diálogo metodológico, aprofundamento teórico e implantação de melhores políticas públicas educacionais que atendam às especificidades da EJA. 8 Didática do Educador da EJA 9 A Educação De Jovens E Adultos E A Educação BásicaA Educação De Jovens E Adultos E A Educação Básica Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Para que o debate sobre a Educação de Jovens e Adultos seja iniciado é preciso a delimitação de alguns temas principais para esse ponto de partida. Essencialmente, a EJA necessita ser alocada em seu lugar protagonista na totalidade da Educação Básica, como previsto tanto na Lei de Diretrizes Bases como na Constituição Federal (BRASIL, 1988; 1996). Assim como as demais modalidades educacionais, somente a partir do reconhecimento de sua importância no processo de ensino e aprendizagem é possível pensar em avanços para reflexões e práticas didático-pedagógicas a respeito da Educação de Jovens e Adultos. Nesse sentido, este capítulo está dividido em duas partes que se complementam nessa introdução ao debate sobre a EJA. Inicia-se com questões pertinentes à modalidade, sua diversidade, importância e características específicas em relação às demais etapas da escolarização. A EJA é a porta de entrada ou trilha de continuidade para jovens, adultos e idosos que iniciam ou retomam seus estudos, buscando ressignificações para sua formação pessoal, cultural, escolar e profissional. Busca-se também compreender as nuances características dos sujeitos da EJA, a história e diversidade da modalidade em relação ao seu público- alvo. Pensar a Educação de Jovens e Adultos é compreender as mudanças contemporâneas que vivemos. Jovens, adultos e idosos estão presentes na sociedade e, em muitos casos, não tiveram oportunidades de iniciar ou dar continuidade ao seu percurso de escolarização, papel central da EJA nas redes de ensino espalhadas pelo país. Inserir novos diálogos, reflexões e práticas para a modalidade, valorizar seu histórico de início de seus estudantes com a leitura eescrita, a importância da formação profissional para as histórias de vida dos sujeitos da modalidade, dentre várias questões que complexificam e definem a EJA como uma das mais importantes modalidades da Educação Básica. 2 AS MODALIDADES DA EDUCAÇÃO BÁSICA E A EJA 10 Didática do Educador da EJA FIGURA 1 – A DIVERSIDADE E IMPORTÂNCIA DA EJA FONTE: <https://novaescola.org.br/conteudo/8/eja-alfabetizacao-o- que-muda-planejamento-aulas>. Acesso em: 9 mar. 2021. A Educação de Jovens e Adultos é uma das principais modalidades da Educação Básica. Dentro da estrutura de organização educacional brasileira, jovens, adultos e idosos da EJA representam a oportunidade de retomar ou iniciar o percurso de escolarização que não realizaram nas etapas regulares, principalmente Ensino Fundamental e Ensino Médio, havendo a demanda considerável para o atendimento educacional desses sujeitos. Mesmo que em seu início como modalidade, a EJA tenha passado por um momento de foco no processo de alfabetização e letramento (FREIRE, 1991; 2003; GADOTTI, 2014; PAIVA, 2005), ao longo das últimas décadas, a modalidade passou por transformações em sua estrutura e demandas. A incorporação de novos segmentos e modalidades ocorreu de forma natural, acompanhando, de forma espelhada, a estruturação das etapas educacionais, para que fosse possível ofertar aos estudantes da EJA a oportunidade de iniciar ou continuar seus estudos. As etapas da Educação Básica são estruturas com a finalidade de proporcionar um caminho a ser trilhado pelos estudantes em sua escolarização. Séries, anos e semestres estão presentes em gradações de complexidades quanto às aprendizagens a serem alcançadas pelos estudantes. Do mesmo modo, questões como construção curricular, diferentes propostas de avaliação, formação inicial e continuada de professores, diálogo e aproximação com as modalidades também fazem parte da estruturação das etapas educacionais. 11 A Educação De Jovens E Adultos E A Educação BásicaA Educação De Jovens E Adultos E A Educação Básica Capítulo 1 FIGURA 2 – ETAPAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA FONTE: O autor Na Figura 2 temos as etapas educacionais da organização escolar brasileira. Observa-se que há uma linearidade ao longo de tais etapas que as configuram como o percurso no qual os estudantes terão seus estudos e experiências escolares. Do início da alfabetização e letramento dos primeiros anos do Ensino Fundamental até as aprendizagens mais complexas do Ensino Médio ocorrem, por meio da estruturação das etapas educacionais, gradações de complexidade nas aprendizagens nessas etapas. Tais gradações, estruturadas nas propostas de construção curricular e objetivos de aprendizagem, principalmente, nos permitem ter um panorama completo de como a Educação Básica está organizada no país. A garantia do direito à educação básica para todos exige que se realize também uma avaliação rigorosa da escolarização oferecida a crianças e adolescentes. Para atingir o direito à educação para todos, é fundamental que haja políticas de EJA significativas, as quais assegurem acesso e permanência, pois a maioria dos jovens e adultos não alfabetizados, bem como dos que não terminaram o ensino fundamental, já passou pela escola e segue não alfabetizada. Cabe aos gestores públicos identificar essas pessoas em suas características peculiares, para a definição de uma política de expansão da escolaridade. Isso significa conhecer onde residem e quais são os limites de acesso às classes de educação de jovens e adultos; quais possuem necessidades especiais de aprendizagem e demandariam atendimentos diferenciados; quais estão em situação de vulnerabilidade social e demandariam outras políticas sociais integradas à oferta de escolaridade (BRASIL, 2016). 12 Didática do Educador da EJA FIGURA 3 – MODALIDADES DA EDUCAÇÃO BÁSICA FONTE: O autor Já na Figura 3 temos as modalidades educacionais, que são representadas pelas ofertas educacionais que possuem como objetivo e papel principal complementar, adicionar ou suprir demandas específicas das etapas da Educação Básica. A EJA possui relação direta com as demais modalidades educacionais. No caso da Educação Especial há muitos jovens, adultos e idosos que necessitam de atendimento educacional inclusivo. Nesse sentido, EJA e Educação Especial caminham juntas para a garantia do acesso à educação desses sujeitos, seja em atendimentos especializados ou em iniciativas e estruturação das redes de ensino para a inclusão desses estudantes. 13 A Educação De Jovens E Adultos E A Educação BásicaA Educação De Jovens E Adultos E A Educação Básica Capítulo 1 As modalidades educacionais, muitas vezes, ficam em segundo plano nas organizações e destinação de recursos governamentais para Educação. Com a EJA, o cenário não é diferente. Por representar uma grande diversidade de público, material didático e diferentes componentes curriculares e especialidades de professores, a EJA possui um custo de implantação elevado nas redes educacionais, fazendo com que haja a necessidade de compromisso e esforço dos agentes públicos no fornecimento de recursos para a modalidade. Secretarias de educação municipais, estaduais e os órgãos federais de regulação, acompanhamento e estruturação da Educação Básica no Brasil orientam-se a partir dessa complementariedade entre etapas e modalidades educacionais. Para que a EJA alcance seus objetivos como oferta educacional para o público específico de jovens, adultos e idosos é preciso que haja o conhecimento, experiência, vivência e aprofundamento da realidade, contexto, especificidades e diversidade desses sujeitos da modalidade. A busca por reconhecimento, valorização e expansão da oferta da EJA é uma realidade nas redes de ensino brasileiras. A preconização de atenção, recursos, esforços governamentais e acompanhamento de gestão e didático-pedagógico para as etapas educacionais faz com que as modalidades precisem rumar a caminhos de fortalecimento próprio. Desse modo, é importante acompanhar os movimentos de valorização da EJA como modalidade educacional, dos sujeitos que compõem seu público-alvo, da formação voltada aos profissionais que nela atuam e, principalmente, ao papel fundamental que a Educação de Jovens e Adultos possui na oferta de um início e continuidade do direito à educação a jovens, adultos e idosos. 14 Didática do Educador da EJA 2.1 DESAFIOS DIDÁTICO- PEDAGÓGICOS DA EJA PARA O SÉCULO XXI FIGURA 4 – DESAFIOS DA EJA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO FONTE: <https://www.pexels.com/pt-br/foto/aluno-aprendendo- aprender-aprendiz-159844/>. Acesso em: 9 mar. 2021. Pensar a educação para o século XXI é colocarmo-nos em desafio único, complexo e multifacetado. Partindo da premissa de que temos atualmente uma necessidade dialógica, geracional e de produção e acesso a informação e conhecimento diferenciados, temos diante dos processos de ensino e aprendizagem tanto aberturas como óbices para seus sucessos como propostas didático-pedagógicas (MORAN; BACICH, 2018; PERRENOUD, 2000; LUCKESI, 2011). Diferentes autores buscaram problematizar, refletir e propor práticas educacionais para o século XXI, especialmente na passagem do século passado para o atual (LUCKESI, 2011; SOARES; GIOVANETTI; GOMES, 2005; DI PIERRO, 2001). Em termos gerais, o que se produziu e defendeu nos últimos anos para a educação como um todo é a busca por um conhecimento que seja interdisciplinar, complexo, dialógico, multimodal, inovador, acessível e que permita às diferentes gerações e singularidades de estudantes ter acesso ou iniciar seus percursos de escolarização. No caso da Educação de Jovens e Adultos para o século XXI, uma das prerrogativas mais frequentemente encontradas para jovens, adultos e idosos dessa modalidade educacional é a necessidade de inserção formativa para o mundo do trabalho de forma integrada à formação básica. 15 A EducaçãoDe Jovens E Adultos E A Educação BásicaA Educação De Jovens E Adultos E A Educação Básica Capítulo 1 Também há demandas mais específicas como aperfeiçoamento da estruturação da acessibilidade da EJA Interventiva, que é a associação dessa modalidade com a inclusão e educação especial, a complexidade da educação nas prisões, novas formas de se pensar e colocar em prática os processos de alfabetização e letramento, dentre outras questões que fazem parte da organização, estrutura e desafios da EJA. Ir à escola, forma institucionalizada de educação da sociedade moderna, não tem por objetivo a permanência no estágio cultural em que se está, mas, sim, a aquisição de um patamar novo, a partir da ruptura que se processa pela assimilação ativa da cultura elaborada. A cultura espontânea é insuficiente para a sociedade moderna que exige dos indivíduos novos níveis de entendimentos através da educação formalizada. Isso não significa uma condenação ao autodidatismo. Ocorre que o autodidatismo, no que se refere ao acesso à cultura elaborada, exige iniciação escolar ou, ao menos, iniciação preliminar de leitura, escrita, raciocínio numérico etc. A cultura elaborada, hoje, exige a escolarização, como instância pedagógica (LUCKESI, 2011, p. 118). É preciso, nesses termos, que façamos o percurso da ressignificação da escola à reflexão dialógica, ampla, crítica e propositiva sobre os rumos da Educação de Jovens e Adultos para o século XXI. Contexto, diversidade, acessibilidade, realidades, início ou continuidade do ensino e aprendizagem na escolarização, essas grandes bandeiras e desafios devem fazer parte desse processo, como podemos observar nos seguintes apontamentos sobre esses desafios da modalidade: • A alfabetização e letramento precisam ser incorporados às demandas contemporâneas de uma sociedade tecnológica em constante transformação, desigual e que precisa fornecer as habilidades, competências e aprendizagens necessárias para as diferentes gerações de estudantes, de como ler e compreender o mundo contemporâneo. A era digital e de instantaneidade na troca de informações oferece campos profícuos de exploração das aprendizagens, ao mesmo tempo em que reforça o papel crucial de uma alfabetização e letramento que fomente o olhar crítico e reflexivo da informação e conhecimento acessados, produzidos e, principalmente, compartilhados. • A inserção da formação profissional não basta em sua forma tradicional de aprendizagem de profissões ou ocupações trabalhistas tradicionais. É preciso que as novas oportunidades e formas de geração de renda e empregabilidade façam parte de uma perspectiva de trabalho para o mundo contemporâneo, renovando estruturas formativas de profissões e ocupações já presentes no mercado e a inserção das novas formas de se obter renda e inserção nas múltiplas possibilidades surgidas 16 Didática do Educador da EJA nas últimas décadas, especialmente após o advento do crescimento e avanços tecnológicos. • O processo de juvenilização é uma realidade para a EJA. Em muitas redes de ensino já é possível encontrar formações inteiras de turmas voltadas a jovens em situação de distorção idade-série/ano. Isso significa que o papel da EJA, em muitos casos, mesclou-se com as de turmas de aceleração de aprendizagem ou correção de fluxo. Nesse caso, em não havendo como redefinir a EJA ao seu papel anteriormente destinado mais para adultos e idosos, torna-se necessária sua reconfiguração como modalidade que também recebe, e muito, a demanda de jovens em sua organização, demandando uma atenção didático-pedagógica específica, desafiadora e cada vez mais comum nas escolas brasileiras. • A EJA é formada, em essência, pelo atendimento a um público-alvo formado por sujeitos diversificados, complexos e singulares. Isso significa que, em sua estrutura e organização, encontraremos diferentes focos que definem a modalidade. O atendimento a jovens, adultos e idosos em situação de rua, custodiados nos sistemas prisionais, em atendimento específico ou complementar pela Educação Especial e Inclusiva, ou ainda, que estejam na composição de turmas de outras modalidades como EaD, Educação Escolar Indígena ou Quilombola. Portanto, a EJA irá ao encontro dos pontos de atendimento educacional não alcançados pela Educação Básica em suas etapas. As ações listadas anteriormente fazem parte das principais bandeiras e características da EJA no Brasil. Há, também, especificidades que fazem parte da modalidade, especialmente sua proximidade e complementação nas ações de continuidade de estudos de jovens, adultos e idosos que tiveram que interromper seu percurso de escolarização. No site dos fóruns EJA é possível encontrar vídeos, livros, artigos, documentos, representantes da sociedade civil, poder público e parceiros da Educação de Jovens e Adultos. Destaca-se, também, a presença de todo o arquivo dos fóruns estaduais e regionais da modalidade que ocorrem no país, bem como os documentos das Conferências Internacionais de Jovens e Adultos (CONFINTEA), nas quais encontram-se alguns dos debates mais atuais e discussões envolvendo os sujeitos da EJA. Acesse http://www.forumeja.org.br/. 17 A Educação De Jovens E Adultos E A Educação BásicaA Educação De Jovens E Adultos E A Educação Básica Capítulo 1 A EJA caracteriza-se, dessa maneira, como a abertura maior no âmbito da Educação Básica do ponto de vista de atendimento educacional. A universalização do acesso e direito à formação escolar perpassa pelo atendimento da EJA. Esse fato específico de presença da modalidade como ponto de apoio às etapas educacionais é um dos seus pontos mais marcantes de força e desafios, pelo fato de agregar em si muitas das questões e problematizações da oferta e qualidade educacional das redes de ensino. • A política educativa deve ser suficientemente diversificada e concebida de modo a não se tornar um fator suplementar de exclusão social. • A socialização de cada indivíduo e o seu desenvolvimento pessoal não devem ser coisas antagônicas. Deve se tender para um sistema que procure combinar as vantagens da integração e o respeito pelos direitos individuais. • A educação não pode, por si só, resolver os problemas postos pela ruptura (onde for o caso) dos laços sociais. Espera-se, no entanto, que contribua para o desenvolvimento do querer viver juntos, elemento básico da coesão social e da identidade nacional. • A escola só pode ter êxito nesta tarefa se contribuir para a promoção e integração dos grupos minoritários, mobilizando os próprios interessados no respeito a sua personalidade. • A democracia parece progredir, segundo formas e fases adaptadas a situação de cada país. Mas a sua vitalidade é constantemente ameaçada. É na escola que deve começar a educação para uma cidadania consciente e ativa. • A participação democrática depende, de algum modo, das virtudes cívicas. Mas ela pode ser encorajada ou estimulada pela instrução e por práticas adaptadas à sociedade dos meios de comunicação social e da informação. Trata-se de fornecer referências e grades de leitura a fim de reforçar as capacidades de compreensão e discernimento. • Cabe à educação fornecer às crianças e aos adultos as bases culturais que lhes permitam decifrar, na medida do possível, as mudanças em curso. O que supõe a capacidade de operar uma triagem na massa de informações, a fim de melhor interpretá- las, e de reconstituir os acontecimentos inseridos numa história de conjunto. • Os sistemas educativos devem dar resposta aos múltiplos desafios das sociedades da informação, na perspectiva de um enriquecimento contínuo dos saberes e do exercício de uma cidadania adaptada às exigências do nosso tempo (DELORS, 2001, p. 67-68). Na mesma linha de argumentação de Delors (2001) é que Gadotti (2014) reforça a necessidade e urgência de um direcionamento específico de elaboração e implantação de políticas públicas educacionaispara a EJA. Se o pensamento, prática e realidade colocados em debate dizem respeito aos avanços necessários para o direito à educação de toda sociedade, então é imprescindível que a EJA possua papel central nesse processo. 18 Didática do Educador da EJA Em suas etapas e segmentos, a EJA contribuirá para que várias temáticas contemporâneas de renovação, proposição e atualização da oferta educacional sejam alcançadas de forma dialógica, democrática, diversificada e ampla e em todos os contextos e realidades dos ambientes escolares existentes no Brasil. No artigo de Friedrich et al. (2010), Trajetória da escolarização de jovens e adultos no Brasil: de plataformas de governo a propostas pedagógicas esvaziadas, é possível encontrarmos importantes informações e reflexões sobre o histórico, importância e particularidades da Educação de Jovens e Adultos no Brasil. Os autores tratam desde a realidade, contextos e sujeitos da modalidade até o seu histórico de implantação e necessidade constante de se pensar políticas públicas educacionais específicas para a EJA. FRIEDRICH, M. et al. Trajetória da escolarização de jovens e adultos no Brasil: de plataformas de governo a propostas pedagógicas esvaziadas. Ensaio: aval. pol. públ. educ., Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, jun. 2010. A EJA para o século XXI precisa estar alinhada, portanto, a uma perspectiva de desenvolvimento de políticas públicas educacionais pensadas especificamente para a modalidade. Somente a partir dessa compreensão ampla entre a tradição, história, inovação e contemporaneidade é que a modalidade irá dialogar e se encontrar com os desafios da educação no mundo atual. 19 A Educação De Jovens E Adultos E A Educação BásicaA Educação De Jovens E Adultos E A Educação Básica Capítulo 1 A Educação de Jovens recebe esse nome mas possui também, como característica, o atendimento educacional de estudantes idosos. Portanto, como modalidade educacional, a EJA abrange jovens, adultos e idosos em seus segmentos níveis ou etapas. Por essa diversidade do seu público-alvo é que a EJA possui uma grande infiltração de importância e protagonismo nas demais etapas e modalidades educacionais. É comum, desse modo, vermos setores específicos nos órgãos de gestão educacional que destinam parte de suas atenções em atuação para a EJA como Ensino Médio 3º segmento da EJA, Educação Especial e Inclusiva, ações conjuntas com iniciativas educacionais de Educação Escolar Indígena ou Educação Ambiental, entre outros. A origem da EJA, dessa maneira, está ligada à oferta da alfabetização e letramento, e também às iniciativas de educação popular. A partir desse ponto inicial é que a EJA foi inserida no âmbito das redes de ensino como modalidade educacional. Suas características originárias foram mantidas e ampliadas, de forma a dialogar, se aproximar e aperfeiçoar a diversidade e demandas dos sujeitos da EJA. FIGURA 5 – DESAFIOS DA EJA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO FONTE: <https://br.freepik.com/vetores-premium/educacao-online- cursos-de-formacao-educacao-a-distancia-e-educacao-global-estudo- da-internet-livro-online-tutoriais-e-learning-fundo-do-conceito_10124770. htm#page=2&query=escola&position=19>. Acesso em: 11 mar. 2021. 20 Didática do Educador da EJA Há, portanto, muitos desafios que acompanham a Educação de Jovens e Adultos, seja em sua aproximação e diálogo com as demais etapas e modalidades educacionais ou em sua oferta aos sujeitos que compõem seu público-alvo. No mundo contemporâneo, especialmente com o advento das tecnologias de informação e comunicação e diversificação do público da EJA houve um acréscimo das temáticas e discussões que envolvem a modalidade. 1) Qual a importância da EJA como modalidade para o percurso de escolarização da Educação Básica? 2) Cite dois desafios para a Educação de Jovens e Adultos no século XXI. 3 AS APRENDIZAGENS E DIVERSIDADE DOS SUJEITOS DA EJA Pensar sobre a Educação de Jovens e Adultos é considerar a diversidade de seu público-alvo. Os sujeitos da EJA passaram por consideráveis transformações nas últimas décadas, de um cenário mais focado em estudantes com idade com faixa etária mais avançada e priorização da alfabetização e letramento para uma abertura maior para jovens e adultos na modalidade. Essa alteração na composição dos sujeitos da EJA traz consigo desafios e também possibilidades de formação, estudo, prática, metodologias e toda uma complexidade de oferta educacional condizente com esse novo cenário. Contextos, realidades, histórias e projetos de vida, expectativas e experiências escolares diversas são alguns dos elementos que fazem parte desse processo de uma nova perspectiva acadêmica, de gestão, profissional e de formação para a Educação de Jovens e Adultos. Diferentes autores trabalham atualmente com a perspectiva da EJA para o século XXI, aos jovens, adultos e idosos que por ela são atendidos e que estão presentes em diferentes realidades educacionais (SOARES; GIOVANETTI; GOMES, 2005; DI PIERRO, 2005; FRIEDRICH et al., 2010). A EJA define-se pela 21 A Educação De Jovens E Adultos E A Educação BásicaA Educação De Jovens E Adultos E A Educação Básica Capítulo 1 diversidade e multiplicidade de cenários de ensino e aprendizagem que existem na modalidade para além de seu cenário histórico e, principalmente, abarcando as características do mundo contemporâneo. Somente a partir desse passo em direção a novas perspectivas de ensino, aprendizagem, metodologias de ensino e as especificidades educacionais da EJA é que conseguiremos compreender o atual momento da composição dos sujeitos atendidos pela modalidade. Esses são os pontos que serão tratados neste tópico de nossos estudos, com o objetivo de apresentar e propiciar as aberturas de reflexões a respeito da temática envolvendo as aprendizagens e diversidade dos sujeitos da Educação de Jovens e Adultos. 3.1 OS SUJEITOS DA EJA E SUA DIVERSIDADE FIGURA 6 – A DIVERSIDADE DOS SUJEITOS DA EJA Os sujeitos da EJA são compostos por jovens, adultos e idosos, muitos deles trabalhadores ou em busca de uma formação ou ocupação profissional ou fonte de renda. Também há na EJA estudantes com necessidades especiais, de origem étnica, cultural e histórica tradicionais ou nativas, à abertura e diálogo com as demais etapas educacionais. Na essência da EJA está a oferta de alfabetização e letramento que a acompanha especialmente no 1º segmento. Em outros termos, houve um avanço da diversidade dos sujeitos da EJA, e as redes de ensino, professores, FONTE: <https://atividadesprofessores.com.br/atividades- para-eja/>. Acesso em: 11 mar. 2021. 22 Didática do Educador da EJA gestores e comunidade escolar estão lidando com essas mudanças e desafios que abrangem toda Educação Básica. E é nesse sentido das histórias de vida que devemos compreender os sujeitos da EJA como sujeitos inseridos em sua sociedade cada vez mais complexa. Para além do ato e alfabetizar e letrar esses sujeitos é preciso que consideremos os seus percursos e escolhas, experiências e contextos, estruturas familiares diversificadas etc. O educando é um sujeito que necessita da mediação do educador para reformular sua cultura, para tomar em suas próprias mãos a cultura espontânea que possui, para reorganizá-la com a apropriação da cultura elaborada. Assim, o educando é um sujeito possuidor de capacidade de avanço e crescimento, só necessitando para tanto da mediação da cultura elaborada, que possibilita a ruptura com o seu estado espontâneo (LUCKESI, 2011, p. 118). Pensar os sujeitos da EJA significa trabalhar para, com e na diversidade. A diversidade é constituída das diferenças entre os sujeitos, que os distinguem uns dos outros – mulheres, homens, crianças, adolescentes, jovens, adultos, idosos, pessoas com necessidades especiais, privados de liberdade, indígenas, afrodescendentes, descendentes de europeus, de asiáticos,de latino-americanos e migrantes, entre outros. A diversidade que constitui a sociedade brasileira abrange formas de ser, de viver, de pensar e de agir que se enfrentam, entre tensões, com modos distintos de construir identidades sociais e étnico-raciais e cidadania – ou seja, em situações- limite. O não reconhecimento das diferenças como diversidade cultural, que afirma as identidades, tem fortalecido um perfil homogêneo do direito à educação que descaracteriza os sujeitos. O reconhecimento da diversidade dos sujeitos da EJA, das diferenças culturais em contextos de sala de aula e das relações sociais afirmam identidades em políticas de EJA, buscando mecanismos políticos de luta pela igualdade sempre que as diferenças se tornarem desigualdades. No Brasil, as desigualdades econômicas e educacionais são significativas nas questões de gênero e etnia, conforme demonstrado no diagnóstico anterior. Potencializar a diversidade na educação escolar é um desafio pertinente às políticas de EJA, pois, embora tenham sido executados projetos, programas e ações, os impactos do atendimento não foram suficientes para contribuir para a superação das desigualdades sociais e educacionais (BRASIL, 2016, p. 73). É importante que a EJA encontre um equilíbrio entre a diversidade etária e as particularidades de cada segmento da modalidade. A EJA possui em sua essência a multiplicidade de histórias, vivências, experiências e aprendizados. Conteúdos, metodologias, materiais didáticos, práticas e estudos voltados à modalidade devem estar inseridos nessa especificidade fundamental da EJA. 23 A Educação De Jovens E Adultos E A Educação BásicaA Educação De Jovens E Adultos E A Educação Básica Capítulo 1 FONTE: <https://exercicios.mundoeducacao.uol.com.br/exercicios-redacao/ exercicios-sobre-interpretacao-charges-tirinhas.htm>. Acesso em: 11 mar. 2021. FIGURA 7 – O MUNDO CONTEMPORÂNEO A AS APRENDIZAGENS ESCOLARES Apenas ofertar a educação para os sujeitos da EJA não é suficiente no sentido da garantia da formação cidadã, acadêmica, cultural, crítica e propositiva desses estudantes. É preciso que a modalidade seja pensada, praticada e implantada de acordo coma s múltiplas realidades socioculturais e contextos de seus sujeitos. Haverá jovens inseridos no mundo informacional, mesmo que de forma precária em muitos casos, questões de alfabetização presentes em todas as faixas etárias da EJA, a importância da formação integrada com ofertas de cursos de qualificação profissional. E, o mais importante a ser destacado é o fato de ser necessária a elaboração de uma visão própria de políticas educacionais para os sujeitos da EJA, em sua diversidade e particularidades. FONTE: <https://mundoeducacao.uol.com.br/upload/conteudo/ charge-de-ivan-cabral.jpg>. Acesso em: 11 mar. 2021. FIGURA 8 – REALIDADES E CONTEXTOS DOS SUJEITOS DA EJA 24 Didática do Educador da EJA Nesse sentido de repensar as bases da oferta educacional para jovens, adultos e idosos é importante, também, ser colocado em evidência, a necessidade de integrar a EJA à Educação Profissional em todos seus segmentos. Essa ressignificação na modalidade deve contemplar os diferentes elementos da educação como um todo. Construção das propostas curriculares, diferentes maneiras de avaliar as aprendizagens, renovação e aprimoramento das metodologias de ensino que contemplem o ensino e aprendizagem integrados etc. Na medida em que compreendemos a educação, de um lado, reproduzindo a ideologia dominante, mas, de outro, proporcionando, independentemente da intenção de quem tem o poder, a negação daquela ideologia (ou o seu desvelamento) pela confrontação entre ela e a realidade (como de fato está sendo e não como o discurso oficial diz que ela é), realidade vivida pelos educandos e pelos educadores, percebemos a inviabilidade de uma educação neutra. A partir deste momento, falar da impossível neutralidade da educação já não nos assusta ou intimida. É que o fato de não ser o educador um agente neutro não significa, necessariamente, que deve ser um manipulador. A opção realmente libertadora nem se realiza através de uma prática manipuladora nem tampouco por meio de uma prática espontaneísta. O espontaneísmo é licencioso, por isso irresponsável. O que temos de fazer, então, enquanto educadoras ou educadores, é aclarar, assumindo a nossa opção, que é política, e sermos coerentes com ela, na prática (FREIRE, 2001, p. 16). Quando os estudantes da EJA encontram na escola as mesmas metodologias, práticas e aspectos didático-pedagógicos que os afastaram da escola anteriormente há o risco considerável de evasão e abandono escolar, uma realidade em muitas redes de ensino que ofertam a modalidade. A EJA integrada à Educação Profissional e Tecnológica é um dos caminhos possíveis para reverter essa realidade. O filme Entre os muros da escola (Entre les murs / The Class, de 2009), do diretor Laurent Cantet, é um exemplo profundo de como a escola contemporânea precisa ser pensada para as novas gerações com experiências de escolarização descontinuadas. O cenário apresentado no filme também é observado e encontrado na realidade da EJA no Brasil, quando passamos por um momento de atualização, renovação e ressignificação de jovens e adultos para a modalidade, especialmente em cenários de novas propostas educacionais no mundo contemporâneo. 25 A Educação De Jovens E Adultos E A Educação BásicaA Educação De Jovens E Adultos E A Educação Básica Capítulo 1 A aproximação da EJA com a diversidade, contextos, histórias e projetos de vida dos estudantes da modalidade também favorece para que a experiência de início ou continuidade dos estudos seja diferente, profícua e significativa para esses sujeitos. Por essa razão é preciso olhar para os sujeitos da EJA de forma diferente, específica, contextualizada, dialógica e com disposição crítico- propositiva do que é ofertado, por exemplo, regularmente nas etapas educacionais, que possuem aspectos contextuais diferentes da Educação de Jovens e Adultos. A tese de doutorado de Jane Paiva, intitulada Educação de jovens e adultos: direito, concepções e sentidos, é um dos melhores registros acadêmicos de estudo sobre os sujeitos da EJA. Questões didático-pedagógicas, teórico-conceituais, históricas, prático- metodológicas e de implantação de políticas públicas educacionais para a modalidade são discutidas pela autora em sua pesquisa. Em um país em que o acesso à educação é seletivo, guardando simetria com as profundas desigualdades geográficas e socioeconômicas, como é o caso do Brasil, a identidade político-pedagógica da educação de jovens e adultos não foi construída com referência às características psicológicas ou cognitivas das etapas do ciclo de vida (juventude, maturidade, velhice), mas sim em torno de uma representação social enraizada, de um lado, no estigma que recai sobre os analfabetos nas sociedades letradas e, de outro, em uma relativa homogeneidade sociocultural dos educandos conferida pela condição de camponeses ou migrantes rurais (ou sua descendência) e trabalhadores de baixa qualificação pertencentes a estratos de escassos rendimentos. Outra questão debatida pelos fóruns e que interroga as políticas públicas é a permanente tensão entre o propósito de inserção orgânica da educação de jovens e adultos nos sistemas de ensino, o que implica o estabelecimento de normas e certo grau de institucionalização, e a necessidade de preservar elevada flexibilidade organizacional, curricular e metodológica para que os programas respondam às necessidades de formação de sujeitos sociais muito diversos (DI PIERRO, 2005, p. 1131). Como refletido por Arroyo (2005), em concordância com Di Pierro (2005), a EJA encontra-se no limiar da ressignificação não apenas da aprendizagem de jovens, adultos e idosos para toda a Educação Básica. O olhar para EJA vai ao encontro dessas reflexões, ou seja, de sepensar no que é particular e também específico na complexidade e diversidade que faz parte da essência da modalidade. 26 Didática do Educador da EJA Quanto mais se avança na configuração da juventude e da vida adulta teremos mais elementos para configurar a especificidade da EJA, a começar por superar visões restritivas que tão negativamente a marcaram. Por décadas, o olhar escolar os enxergou apenas em suas trajetórias escolares truncadas: alunos enviados, reprovados, defasados, alunos com problemas de frequência, de aprendizagem, não concluintes da 1° a 4° ou da 5° a 8°. Com esse olhar escolar sobre esses jovens-adultos, não avançaremos na configuração (ARROYO 2005, p. 22-23). História de vida – A ideia de história de vida aplicada à EJA diz respeito a uma expansão do conceito de projeto de vida. Compreende-se que os sujeitos da modalidade, em muitos casos, já tiveram passagens e oportunidades de iniciarem ou prosseguirem seus estudos. Desse modo, pensar a história de vida dos sujeitos da EJA é valorizar suas biografias, de modo a (re)inseri-las no percurso de escolarização da Educação Básica. Ter acesso à leitura e escrita é, dessa maneira, se (re)encontrar na sociedade, lendo-a e interpretando-a para além da linguagem alfabética. O direito à educação é ofertado em sua condição mais essencial por meio da alfabetização e letramento. Por essa razão, a EJA recebe especial atenção, protagonismo e centralidade no âmbito da Educação Básica, por configurar esse acesso e continuidade do ato de ler e escrever, crítica e propositivamente pelos estudantes da EJA. No site indicado é possível encontrar diferentes atividades didático-pedagógicas que podem ser utilizadas com estudantes da EJA. É sempre bom lembrarmos que há uma grande diversidade dos sujeitos na modalidade, sejam eles jovens, adultos e idosos. Essa diversidade do público-alvo da EJA faz com que professores e gestores sejam criativos e inventivos em sua ação, de modo a contemplar os pontos necessários de contextualização didático-pedagógica para os estudantes da EJA. Acesse: https://www.espacoeducar. net/2009/06/200-atividades-diversificadas-para-eja.html. 27 A Educação De Jovens E Adultos E A Educação BásicaA Educação De Jovens E Adultos E A Educação Básica Capítulo 1 3.2 EJA ENTRE SUAS ETAPAS E SEGMENTOS FIGURA 9 – A EJA NAS ETAPAS E MODALIDADES DA EDUCAÇÃO BÁSICA FONTE: <https://www.pexels.com/pt-br/foto/aluno-aprendiz- atividade-balcao-159774/>. Acesso em: 11 mar. 2021. A Educação de Jovens e Adultos possui como uma de suas principais características ofertar a formação escolar das etapas da Educação Básica em formatos específicos para jovens, adultos e idosos. Outro ponto importante dessa organização específica da EJA se dá na temporalidade da formação escolar. Se nas etapas a periodicidade formativa do estudante ocorre no intervalo de um ano letivo, seguindo o ano-calendário (mesmo no caso de estruturas de Ensino Médio semestrais, encontradas em diferentes locais do país), no caso a EJA, a temporalidade para todas as etapas, séries e anos é a semestral. Esse aspecto temporal da semestralidade precisa ser reforçado pelo fato de definir a EJA em um dos pontos que lhe é mais característico, que é a formação diferenciada dos sujeitos que serão os estudantes da modalidade, e que buscam tanto retomar como iniciar seus estudos em uma realidade e contexto diferenciados do que ocorre nas etapas da Educação Básica. Ampliação dos segmentos da EJA nas redes de ensino, segundo Haddad e Di Pierro (2005), se deve a um longo histórico de precarização do atendimento educacional regular, seja no início ou continuidade dos estudos, fazendo com que haja um número maior de jovens e adultos que buscam novos caminhos para sua formação escolar na EJA. 28 Didática do Educador da EJA A ampliação da oferta escolar não foi acompanhada de uma melhoria das condições do ensino, de modo que, hoje, temos mais escolas, mas sua qualidade é muito ruim. A má qualidade do ensino combina-se à situação de pobreza extrema em que vive uma parcela importante da população para produzir um contingente numeroso de crianças e adolescentes que passam pela escola sem lograr aprendizagens significativas e que, submetidas a experiências penosas de fracasso e repetência escolar, acabam por abandonar os estudos. Temos agora um novo tipo de exclusão educacional: antes as crianças não podiam frequentar a escola por ausência de vagas, hoje ingressam na escola mas não aprendem e dela são excluídas antes de concluir os estudos com êxito (HADDAD; DI PIERRO, 2000, p. 125-126). Outro ponto característico e importante a respeito dos segmentos da EJA é o fato de ser necessária uma elaboração didático-pedagógica própria para a modalidade. Muitas das questões de construção de propostas educacionais para jovens, adultos e idosos partem do cenário regular das etapas da Educação Básica, o que pode gerar diferentes equívocos de diagnósticos e visualização do cenário e contexto específico da EJA. Vejamos a seguir, por exemplo, como é possível identificar alguns desses traços didático-pedagógicos nos diferentes segmentos da EJA. QUADRO 1 – 1º SEGMENTO Ensino Fundamental Anos Iniciais EJA 1º segmento 1º Ano 1ª Etapa/Série2º Ano 3º Ano 2ª Etapa/Série 4 º Ano 3ª Etapa/Série 5 º Ano 4ª Etapa/Série FONTE: O autor O 1º segmento da EJA é marcado pela característica de retomada ou início da alfabetização e letramento em seus níveis ou etapas. Um ponto importante a ser destacado é a diferenciação entre as divisões do Ensino Fundamental em seus anos iniciais, sendo que no primeiro caso mantém-se a estrutura anterior de 8 séries (ou etapas/níveis) e no atual Ensino Fundamental Anos Iniciais há cinco anos de escolarização que o compõem. Outro ponto importante do primeiro segmento é que todas as etapas, níveis ou séries devem ter em sua estrutura e proposta o objetivo de alfabetizar e letrar os estudantes da modalidade. Mesmo que haja a concentração de tais atividades iniciais de alfabetização e letramento nos dois primeiros níveis, etapas ou 29 A Educação De Jovens E Adultos E A Educação BásicaA Educação De Jovens E Adultos E A Educação Básica Capítulo 1 séries, essa continuidade é fundamental para os jovens, adultos e idosos desse segmento. Destaca-se, também, o fato de ser possível, desde o 1º segmento da EJA, haver a inserção de cursos de formação profissional para a EJA, fomentando também diferentes demandas de qualificação para o mundo do trabalho, desde os primeiros passos de início ou retomada do processo de escolarização. QUADRO 2 – 2º SEGMENTO Ensino Fundamental Anos Finais EJA 2º segmento 5º Ano 5ª Etapa/Série 6º Ano 6ª Etapa/Série 7º Ano 7ª Etapa/Série 8º Ano 8ª Etapa/Série FONTE: O autor O 2º segmento da EJA é talvez o período de transição mais complexo da modalidade. Nesse segmento encontramos a correspondência com os anos finais do Ensino Fundamental, ou seja, 6º, 7º, 8º e 9º anos. A equivalência entre anos e níveis e etapas da EJA se torna mais natural do que, por exemplo, os primeiros passos do 1º segmento da EJA. Um ponto marcante do 2º segmento da EJA diz respeito ao cenário cada vez mais comum de juvenilização da modalidade. Em outras palavras, é nesse segmento da modalidade que encontramos muitos jovens que tiveram seus estudos interrompidos na etapa Ensino Fundamental e estão na EJA para retomar o processo de escolarização. Há, portanto, um desafio geracional latente que se aprofunda e complexifica no 2º segmento da EJA, junto às diferentes visões de mundo, interesses e sociabilidade uns com os outros entre o atual público que compõe essa fase intermediária da modalidade. No artigo de Ferreira et al. (2013), intitulado Práticas dos professores alfabetizadores da EJA: o que fazem os professores, o que pensam os seus alunos?, os autores tratam de alguns dos óbices e possibilidades presentes no processode alfabetização da EJA, especialmente na correlação de proximidade e importância de especificação dos métodos didático-pedagógicos para o 1º segmento. Essa mesma lógica tratada pelos autores do estudo pode ser ampliada para os demais segmentos e etapas da EJA em suas particularidades. 30 Didática do Educador da EJA FERREIRA, A. T. B. et al. Práticas dos professores alfabetizadores da EJA: o que fazem os professores,, o que pensam os seus alunos? Educ. rev., Belo Horizonte, v. 29, n. 3, set. 2013. Os desafios da juvenilização devem ser discutidos, portanto, com a etapa do Ensino Fundamental, especialmente em seus anos finais, por meio de oportunização de turmas de aceleração de aprendizagem, por exemplo, para depois haver o encaminhamento dos estudantes para a EJA, dentre outras possibilidades de diálogo e resolução desse cenário didático-pedagógico cada vez mais comum. É também no 2º segmento que as formações profissionais integradas podem ser potencializadas de acordo com os interesses dos estudantes jovens, adultos e idosos da EJA. Como inserção qualificada ao mundo do trabalho, nesse segmento será possível ofertar opções mais específicas de formações voltadas a diferentes oportunidades de ocupação profissional para os estudantes da modalidade. QUADRO 3 – 3º SEGMENTO Ensino Médio EJA 3º segmento 1º Ano 1ª Ano/Série 2º Ano 2ª Ano/Série 3º Ano 3ª Ano/Série FONTE: O autor O 3º segmento da EJA também possui correspondência direta com a etapa que o estrutura, ou seja, o Ensino Médio. Dessa maneira, os três anos da etapa serão os semestres que comporão os anos, séries ou níveis do terceiro segmento da modalidade. Muitas instituições de ensino, inclusive, ofertam tanto a etapa como a modalidade, a depender da formação das turmas, especificidades e necessidades particulares dos estudantes que compõem o público-alvo da EJA. Em relação ao 3º segmento, também se destaca o fato de haver, muitas vezes, uma proximidade etária elevada entre a etapa de origem, o Ensino Médio, e a modalidade em seu terceiro segmento. Essa situação é verificada principalmente nos dois anos finais do Ensino Médio ofertados nos semestres equivalentes da EJA. Não há, por exemplo, uma definição exata para que as redes de ensino direcionem seus estudantes do Ensino Médio para a EJA, independentemente de 31 A Educação De Jovens E Adultos E A Educação BásicaA Educação De Jovens E Adultos E A Educação Básica Capítulo 1 seu rendimento escolar, faixa etária ou demais elementos que façam com que tal direcionamento se torne possível. Esse é um quadro cada vez mais comum nas instituições de ensino e que demanda uma reflexão e proposições de solução para que possamos repensá-lo e estruturar da melhor forma possível a oferta do Ensino Médio regular ou o 3º segmento da EJA. É também no 3º segmento da EJA que teremos a inserção das formações profissionais mais complexas. Essa qualificação profissional se dará por meio de cursos técnicos integrados ou não à formação básica dos estudantes. Para que alcancemos a ressignificação da EJA, especialmente na questão de uma oferta educacional contextualizada às realidades dos estudantes que a compõem é necessária a reflexão e ação voltada a uma EJA integrada à qualificação profissional e, no caso, específico do 3º segmento. A oferta de cursos técnicos se configuram como a melhor maneira de alcançar tal objetivo de reestruturar a modalidade e, também, proporcionar aos estudantes da EJA a formação profissional mais qualificada para o mundo do trabalho ou, no melhor dos cenários, a continuidade de sua formação escolar e profissional iniciada também no 1º ou 2º segmentos da modalidade. A formação técnica e profissional da EJA é uma das principais características de busca por uma redefinição e ressignificação da modalidade. Ofertar possibilidades de qualificação profissional para os estudantes da EJA possui o duplo papel de oferecer a esses jovens, adultos e idosos aspectos de diferenciação de seu contato e vivência escolar e, também, possui uma formação que o permita encontrar novas oportunidades no mundo do trabalho. 32 Didática do Educador da EJA FIGURA 10 – A EJA EM SEUS DIFERENTES SEGMENTOS FONTE: <http://portal.mec.gov.br/images/stories/noticias/2010/livros_didaticos. jpg>. Acesso em: 11 mar. 2021. É importante destacar que as nomenclaturas das correlações entre a EJA como modalidade educacional com as etapas correspondentes podem variar entre cidades e unidades da federação. Dessa forma, a EJA possui tanto proximidade como também características específicas em seus segmentos, destinados a faixas etárias diversificadas e aspectos didático-pedagógicos singulares. Os segmentos da EJA também perpassam um longo ciclo de escolarização da Educação Básica. Essa condição de contemplar todas as etapas educacionais regulares faz com que vários elementos sejam alocados em ponto central de pensamento, elaboração e implantação para a EJA como construção curricular, formação inicial e continuada, material didático, dentre outros aspectos que necessitam de direcionamento específicos para os sujeitos da EJA. 33 A Educação De Jovens E Adultos E A Educação BásicaA Educação De Jovens E Adultos E A Educação Básica Capítulo 1 3.3 ALFABETIZAÇÃO, LETRAMENTO E AS APRENDIZAGENS DE JOVENS, ADULTOS E IDOSOS FIGURA 11 – ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NA EJA FONTE: <https://pixabay.com/pt/photos/guy-homem-leitura-livro- neg%C3%B3cios-2557251/>. Acesso em: 11 mar. 2021. A alfabetização e letramento compõem uma das principais bandeiras da EJA, desde sua origem como modalidade educacional (FREIRE, 2001; SOARES, 2004; HADDAD; DI PIERRO, 2005). Universalizar a alfabetização e letramento sempre fez parte das prerrogativas estruturantes da EJA. Apesar de haver a centralidade de tais processos no 1º segmento da modalidade, é importante destacarmos que somente por meio da alfabetização e letramento é que poderemos vislumbrar a continuidade do início ou retomada da escolarização por jovens, adultos e idosos que fazem parte do público-alvo da EJA. Alfabetizar e letrar são processos didático-pedagógicos que estão presentes no âmbito da Educação Básica mas que a ultrapassam em protagonismo e centralidade sociocultural. É por meio da leitura e escrita que os indivíduos possuem acesso ao arcabouço teórico de suas sociedades à cultura elaborada presente, por exemplo, nas propostas curriculares que estruturam etapas e modalidades educacionais. Os códigos e normas presentes no idioma e transpostos como percursos e níveis de escolarização constituem a formalização do caminho necessário para se ter alcance a toda construção histórica, cultural, geográfica, econômica e sociopolítica de uma sociedade. A leitura deve ser um dos principais fatores e vetores do fomento às aprendizagens do processo de alfabetização. É pela leitura que a palavra e a 34 Didática do Educador da EJA escrita ganharão significado para os estudantes, e por meio desta será possível dialogar com os contextos, histórias de vida, realidades e diferentes situações de aprendizagem nas quais os saberes-fazer da leitura e escrita encontrarão novos significados para os estudantes da EJA: Inicialmente me parece interessante reafirmar que sempre vi a alfabetização de adultos como um ato político e um ato de conhecimento, por isso mesmo, como um ato criador. Para mim seria impossível engajar-me num trabalho de memorização mecânica dos ba-be-bi-bo-bu, dos la-le-li-lo-lu. Daí que também não pudesse reduzir a alfabetização ao ensino puro da palavra, das sílabas ou das letras. Ensino em cujo processo o alfabetizador fosse “enchendo” com suas palavras as cabeças supostamente “vazias” dos alfabetizandos. Pelo contrário, enquanto ato de conhecimento e ato criador, o processo da alfabetização tem, no alfabetizando, o seu sujeito. O fato de ele necessitar da ajuda do educador, como ocorreem qualquer relação pedagógica, não significa dever a ajuda do educador anular a sua criatividade e a sua responsabilidade na construção de sua linguagem escrita e na leitura desta linguagem. Na verdade, tanto o alfabetizador quanto o alfabetizando, ao pegarem, por exemplo, um objeto, como laço agora com o que tenho entre os dedos, sentem o objeto, percebem o objeto sentido e são capazes de expressar verbalmente o objeto sentido e percebido. Como eu, o analfabeto é capaz de sentir a caneta, de perceber a caneta e de dizer caneta. Eu, porém, sou capaz de não apenas sentir a caneta, de perceber a caneta, de dizer caneta, mas também de escrever caneta e, consequentemente, de ler caneta. A alfabetização é a criação ou a montagem da expressão escrita da expressão oral. Esta montagem não pode ser feita pelo educador para ou sobre o alfabetizando. Aí tem ele um momento de sua tarefa criadora (FREIRE, 2001, p. 9). Essa metodologia da conexão entre o teórico-metodológico e prático- contextual é dos diferenciadores do ensino e aprendizagem na EJA como um todo, para além até da alfabetização e letramento. No entanto, é preciso que reflitamos de qual alfabetização e quais sujeitos da EJA estamos nos referindo, especificamente se tratando da realidade que vivemos na contemporaneidade. 35 A Educação De Jovens E Adultos E A Educação BásicaA Educação De Jovens E Adultos E A Educação Básica Capítulo 1 Alfabetização: diz respeito ao ensino e aprendizado voltado para as diretrizes em representações de sons, fala, fonemas, formação de grafemas e construções gráficas, e as questões ortográficas e seus sistemas alfabéticos. Letramento: vai ao encontro da alfabetização, com maior foco na contextualização e correlação das aprendizagens de alfabetização aos contextos e realidades de estudantes e professores. As experiências e inserção de tais aspectos nas estratégias didático- pedagógicas é uma das marcas características do letramento. Muitas vezes, o fator de descontinuidade das aprendizagens é desconsiderado na alfabetização e letramento dos jovens, adultos e idosos, sujeitos da EJA. Seja como início do percurso de escolarização ou retorno a uma continuidade interrompida nas etapas da Educação Básica, é preciso que tais fatores sejam relevados. A cultura escrita, como abertura ao letramento desses sujeitos, se complexifica ainda mais, merecendo especial atenção por aqueles que trabalham com a modalidade, especialmente em sua prática pedagógica cotidiana: […] na aprendizagem inicial da língua escrita, com sérios reflexos ao longo de todo o ensino fundamental, parece ser necessário rever os quadros referenciais e os processos de ensino que têm predominado em nossas salas de aula, e talvez reconhecer a possibilidade e mesmo a necessidade de estabelecer a distinção entre o que mais propriamente se denomina letramento, de que são muitas as facetas – imersão das crianças na cultura escrita, participação em experiências variadas com a leitura e a escrita, conhecimento e interação com diferentes tipos e gêneros de material escrito – e o que é propriamente a alfabetização, de que também são muitas as facetas – consciência fonológica e fonêmica, identificação das relações fonema-grafema, habilidades de codificação e decodificação da língua escrita, conhecimento e reconhecimento dos processos de tradução da forma sonora da fala para a forma gráfica da escrita (SOARES, 2004, p. 15). A aprendizagem dos códigos e normas na alfabetização, portanto, deve respeitar a questão da contextualização gráfica fonética e escrita no âmbito sociocultural. Também é possível levar tais especificidades, no caso da EJA, para a questão contextual da aprendizagem pela alfabetização e letramento, ou seja, quando entra em cena o fator das histórias de vida dos sujeitos da modalidade em seu início ou retorno para o processo de escolarização, demandando desafios particulares e diferenciados em suas aprendizagens da leitura e escrita: 36 Didática do Educador da EJA Em síntese, o que se propõe é, em primeiro lugar, a necessidade de reconhecimento da especificidade da alfabetização, entendida como processo de aquisição e apropriação do sistema da escrita, alfabético e ortográfico; em segundo lugar, e como decorrência, a importância de que a alfabetização se desenvolva num contexto de letramento […] particularmente a alfabetização, em suas diferentes facetas – outras caracterizadas por ensino incidental, indireto e subordinado a possibilidades e motivações das crianças; em quarto lugar, a necessidade de rever e reformular a formação dos professores das séries iniciais do ensino fundamental, de modo a torná-los capazes de enfrentar o grave e reiterado fracasso escolar na aprendizagem inicial da língua escrita nas escolas brasileiras (SOARES, 2004, p. 16). A partir dessas premissas teórico-conceituais levantadas pela autora é possível elencarmos alguns aspectos definidores e estruturantes tanto da alfabetização como do letramento, para que assim possamos visualizá-los no cerne das singularidades da Educação de Jovens e Adultos. Vejamos a seguir alguns desses pontos de definição. A escolarização é um direito universal. Essa premissa de acesso à educação deve ser compreendida no sentido mais amplo possível, ou seja, em como podemos e devemos ofertar os meios pelos quais estudantes das etapas e modalidades da Educação Básica iniciarão ou retomarão seus estudos e aprendizados. É nesse sentido que a alfabetização e letramento são direcionados como os primeiros e mais importantes passos de um longo, complexo e profícuo caminho de formação tanto do estudante como do cidadão. A universalização do ensino elementar, a garantia de domínio dos códigos básicos de leitura e escrita e a superação do fracasso escolar terão que ser por nós enfrentados de forma tal que o propósito conteúdo do ensino, receba tratamento adequado ao mais pleno desenvolvimento cognitivo. Não se trata mais de alfabetizar para o mundo no qual a leitura era privilégio de poucos ilustrados, mas sim para contextos culturais nos quais a decodificação da informação escrita é importante para o lazer, o consumo e o trabalho. Este é um mundo letrado, no qual o domínio da língua é também pré- requisito para a aquisição da capacidade de lidar com códigos e portanto, ter acesso a outras linguagens simbólicas e não verbais, com as da informática e as das artes (MELLO, 1993, p. 28). A leitura do mundo demanda do estudante a apropriação teórico-conceitual e prática-metodológica de visualização dos elementos sociais e naturais que o circundam. Esse ato de ler o mundo significa, ao mesmo tempo, mobilizar o conhecimento científico-acadêmico adquirido em sua formação escolar como também correlacioná-los de forma crítica, analítica e propositiva ao mundo que 37 A Educação De Jovens E Adultos E A Educação BásicaA Educação De Jovens E Adultos E A Educação Básica Capítulo 1 habitam, modificam e fazem parte. Ao realizarmos ou proporcionarmos tal ponte no processo de escolarização, então teremos alcançado muitos dos objetivos de aprendizagem que estão presentes na estruturação de uma leitura do mundo, que permeia toda a Educação Básica, em suas etapas e modalidades. Ler o mundo é inseri-lo em seu contexto, experiência, prática, memória, cultura e vivência. É nesse sentido que Freire (1991, p. 22) realiza a reflexão sobre tal processo quando coloca que: “Não basta saber ler que Eva viu a uva. É preciso compreender a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho”. FIGURA 12 – O MUNDO DA LEITURA E ESCRITA NA EJA FONTE: <https://www.pexels.com/pt-br/foto/aprendendo-aprender- biblioteca-capa-dura-220326/>. Acesso em: 11 mar. 2021. E mais que o comentário de Freire (1991), muito assentado na experiência da EJA e educação popular na realidade adulta, é preciso haver uma ressignificaçãoda EJA contemporânea, muito marcada por elementos como a juvenilização, a necessidade de oferta da modalidade integrada à formação profissional e inserção de novos elementos para o século XXI como ensino híbrido, TDICs, metodologias ativas etc. Essa busca por uma nova identidade e identificação para a EJA é trabalhado amplamente por autores contemporâneos. A realidade da alfabetização e letramento foi um dos pontos de partida da modalidade em seu processo de maturação e afirmação no Brasil, mas o cenário atual nos trouxe novos desafios e realidades, que precisam ser colocadas em questão quando pensamos em novas perspectivas para a modalidade. 38 Didática do Educador da EJA Um aspecto que também faz parte dessas conceituações sobre as novas identidades e sujeitos da EJA diz respeito ao analfabetismo funcional. Essa condição está presente também nas etapas da Educação Básica, mas possui especial condição de agravante no caso da EJA por um dos aspectos definidores dos sujeitos dessa modalidade, que é a descontinuidade de estudos ou percurso de escolarização. O projeto MOVA de São Paulo é uma das experiências de alfabetização e letramento de maior referência no Brasil. Tendo como característica a adoção do método Paulo Freire e o olhar diferenciado para o público que compõe, a Educação de Jovens e Adultos é um dos traços da iniciativa, presente em seu site: “A ação pedagógica se desenvolve com base na Leitura do Mundo do(a) educando(a), que busca mapear as situações significativas do contexto em que estão inseridos. Desse processo surgem os Temas Geradores que orientam a escolha dos conteúdos”. Acesse https://www.paulofreire. org/programas-e-projetos/projeto-mova-brasil. Para Haddad e Di Pierro (2000) é justamente esse caráter de descontinuidade e falta de uma atenção quanto às políticas públicas educacionais para a EJA que fez com que a situação do analfabetismo funcional se tornasse um dos mais graves desafios da modalidade. Esse conjunto da população que possui conhecimentos parcos e descontinuados da leitura e escrita estão, muitas vezes, inseridos nas turmas da EJA em seus vários segmentos e etapas e precisam de uma especial atenção a respeito de sua condição de analfabeto funcional: Essa nova modalidade de exclusão educacional que acompanhou a ampliação do ensino público acabou produzindo um elevado contingente de jovens e adultos que, apesar de terem passado pelo sistema de ensino, nele realizaram aprendizagens insuficientes para utilizar com autonomia os conhecimentos adquiridos em seu dia a dia. O resultado desse processo é que, no conjunto da população, assiste-se à gradativa substituição dos analfabetos absolutos por um numeroso grupo de jovens e adultos cujo domínio precário da leitura, da escrita e do cálculo vem sendo tipificado como analfabetismo funcional (HADDAD; DI PIERRO, 2000, p. 126). 39 A Educação De Jovens E Adultos E A Educação BásicaA Educação De Jovens E Adultos E A Educação Básica Capítulo 1 Nessa nova realidade ressaltada pelos autores é que novos elementos são acrescentados às estratégias didático-pedagógicas de alfabetização e letramento para a EJA. Essas alterações e atualizações também se conectam ao momento atual de diversificação dos sujeitos da Educação de Jovens e Adultos em todos os seus segmentos, como pode ser encontrado atualmente nas primeiras etapas da EJA, quando há o processo de ensino e aprendizagem da escrita e leitura. A alfabetização deve ser um dos focos da Educação de Jovens e Adultos, que faz parte da sua origem como modalidade. Alfabetizar e letrar jovens, adultos e idosos é o primeiro e mais importante passo para a garantia de início ou continuidade do percurso de escolarização. Por meio da alfabetização e letramento também conseguimos ofertar aos diferentes indivíduos que compõem a modalidade caminhos pelos quais estes alçarão novos objetivos para suas histórias de vida, cada qual com complexidades, experiências e relações diferentes com a educação (FREIRE, 1991; 2001; 2003). A estruturação tardia do sistema público de ensino brasileiro, suas mazelas e os equívocos das políticas educacionais não parecem suficientes, porém, para esclarecer as causas da persistência de elevados índices de analfabetismo absoluto e funcional e de uma média de anos de estudos inferior àquela de países latino-americanos com níveis equivalentes de desenvolvimento econômico. Essa descontinuidade entre as dimensões econômica e cultural da modernização torna-se compreensível quando percebemos a estreita associação entre a incidência da pobreza e as restrições ao acesso à educação (HADDAD; DI PIERRO, 2000, p. 127). A alfabetização e letramento estão presentes na EJA como essência de sua origem e uma de suas principais bandeiras. Pensar a teoria e prática educacional do ato de alfabetizar e letrar no âmbito da EJA é, em grande medida, ir em direção ao que a modalidade possui de mais originário e histórico. Proporcionar a jovens, adultos e idosos a oportunidade e direito à escrita e leitura é inseri-los no mundo, fornecendo os instrumentos, habilidades, competências e saberes necessários para compreenderem o mundo que habitam, o outro e si mesmos, de forma ressignificada, a partir do ambiente escolar. Alfabetização e letramento continua sendo uma das bandeiras principais da EJA, por seu papel histórico, correlação com os primeiros anos do Ensino Fundamental e a importância de levar o aprendizado de escrita e leitura para jovens, adultos e idosos. 40 Didática do Educador da EJA 1) A partir da citação a seguir, responda às questões: “As políticas de EJA, dentre essas as de alfabetização, vêm disputando concepções sobre o que é alfabetizar e garantir o direito à educação para jovens e adultos. A perspectiva é de formar leitores e escritores autônomos, que dominem o código linguístico, mas que também sejam capazes de atribuir sentidos e recriar histórias; de compreender criticamente sua realidade intervindo para transformar (a práxis), pela escrita, sem prejuízo de outras formas de expressão como imagens, o que vai além do que tem sido observado em muitas práticas de alfabetização na EJA. O mundo contemporâneo exige o leitor de diversos códigos, do múltiplo, do diverso, perspicaz na interpretação e com capacidade de atribuir sentidos com toda a liberdade, para além da oralidade, campo em que sujeitos jovens e adultos têm domínio” (BRASIL, 2009, p, 34). a) Qual é a importância de haver iniciativas governamentais para alfabetização e letramento de jovens, adultos e idosos? b) Como repensar a alfabetização e letramento da EJA no século XXI? 4 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES A Educação de Jovens e Adultos é uma das principais modalidades educacionais por possuir como principal característica proporcionar a jovens, adultos e idosos iniciar ou retomar o seu percurso no processo de escolarização. A diversidade da EJA é encontrada, portanto, em dois pontos principais de sua estruturação. O primeiro deles diz respeito ao público-alvo que a compõe, ou seja, os múltiplos sujeitos da EJA, que tiveram ou não o direito, oportunidade ou contexto propício para início ou retomada de sua escolarização, em uma ampla diversidade e diferentes aspectos para cada faixa etária ou grupos sociais que formam os sujeitos da EJA. Por outro lado, é característico da EJA contemplar em sua estrutura todas as etapas da Educação Básica, ou seja, elementos da Educação Infantil e, 41 A Educação De Jovens E Adultos E A Educação BásicaA Educação De Jovens E Adultos E A Educação Básica Capítulo 1 principalmente, Ensino Fundamental e Ensino Médio. Os segmentos e etapas ou níveis da EJA são estruturados para que comportem os nove anos do Ensino Fundamental (Anos Iniciais e Finais) e os três anos do Ensino Médio. Também é característico da EJA uma aproximação e diálogo profundo com as demais modalidades, como Educação Ambiental,Educação Profissional e Tecnológica, Educação Escolar Indígena e Educação Especial e Inclusiva. Pensar a EJA é considerar, dessa maneira, levar em consideração a necessidade de pensá-la em uma perspectiva que vá da alfabetização e letramento desses sujeitos até sua formação para o mundo do trabalho. Colocar em primeiro relevo tais aspectos é significar a EJA para as demandas sociais, pessoais, socioemocionais, profissionais e familiares dos sujeitos da modalidade. É importante que haja a retomada ou início da escolarização, mas também, mais necessário ainda é direcionar essa formação escolar para a realidade, situação e contexto que acompanha e faz parte da realidade vivida dos estudantes que fazem parte da EJA. Há uma diversidade da EJA que a acompanha como modalidade da Educação Básica e organização como um todo do ambiente escolar. É comum encontrarmos nas diferentes redes de ensino do país a oferta de etapas e modalidades educacionais. O ambiente escolar é formado por uma diversidade e múltiplas realidades de ensino e aprendizagem, e a EJA é inserida nesse contexto como o complemento principal para que jovens, adultos e idosos comecem ou retomem o seu percurso de escolarização. Muitos dos desafios da EJA para o século XXI dizem respeito a sua conexão com um mundo móvel, efêmero e conectado. Em outras palavras, é preciso que questões educacionais como currículo, avaliação, formação de professores, formas de oferta, materiais didáticos e conteúdos estejam em diálogo, proximidade e correlação com a atualidade. O momento é de ressignificar e atualização da modalidade, teórica, prática, metodológica e em suas formas de oferta nas redes de ensino, respeitando a diversidade e particularidades dos sujeitos da EJA. REFERÊNCIAS ARROYO, M. G. Educação de Jovens-Adultos: um campo de direitos e de responsabilidades públicas. In: SOARES, L. et al. Diálogos da educação de jovens e adultos. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. 42 Didática do Educador da EJA BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. Documento Nacional Preparatório à VI Conferência Internacional de Educação de Adultos. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. Brasília: MEC, 2016. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Documento Nacional Preparatório à VI Conferência Internacional de Educação de Adultos (VI CONFINTEA). Ministério da Educação (MEC). Brasília: MEC; Goiânia: FUNAPE/UFG, 2009. BRASIL. Lei n. 9394 de 20 dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União. Brasília, p. 027833, col. 1, 23 dez. 1996. BRASIL. Constituição Federal do Brasil. 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Trajetória da escolarização de jovens e adultos no Brasil: de plataformas de governo a propostas pedagógicas esvaziadas. Ensaio: aval. pol. públ. educ., Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, jun. 2010. 43 A Educação De Jovens E Adultos E A Educação BásicaA Educação De Jovens E Adultos E A Educação Básica Capítulo 1 GADOTTI, M. Por uma política nacional de educação popular de jovens e adultos. 1. ed. São Paulo: Moderna : Fundação Santillana, 2014. HADDAD, S.; DI PIERRO, M. C. Escolarização de jovens e adultos. In: Revista Brasileira de Educação, n. 14, p, 110-115, 2000. Disponível em: http://www. scielo.br/pdf/rbedu/n14/n14a07. Acesso em: 20 fev. 2020. LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 2013. LUCKESI, C. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez, 2011. MELLO, G. N. Magistério de Primeiro Grau: da competência técnica ao compromisso político. 10. ed. v. 01. São Paulo: Cortez, 1993. MORAN, J.; BACICH, L. (Org.). 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Belo Horizonte: Autêntica, 2005. 44 Didática do Educador da EJA CAPÍTULO 2 Formas De Oferta, Planejamento E Organizações Pedagógicas Da Educação De Jovens E Adultos A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: • compreender a EJA em suas diferentes formas de oferta, planejamento educacional, organizações pedagógicas e a diversidade de seus sujeitos; • apresentar as organizações e formas de a EJA ser ofertada como modalidade da Educação Básica; • aplicar os conhecimentos sobre a modalidade EJA em diferentes situações, contextos e realidades de oferta da modalidade e seus sujeitos. 46 Didática do Educador da EJA 47 Formas De Oferta, Planejamento E Organizações PedagógicasFormas De Oferta, Planejamento E Organizações Pedagógicas Da Educação De Jovens E AdultosDa Educação De Jovens E Adultos Capítulo 2 1 CONTEXTUALIZAÇÃO A Educação de Jovens e Adultos diversifica-se em suas formas de oferta, que se adaptam às múltiplas realidades socais nas quais a modalidade possui seu protagonismo e importância. A EJA reflete-se em posição central e crucial da Educação Básica, por ocupar espaços, histórias de vida e inícios ou descontinuidades dos estudos em percursos de escolarização de jovens, adultos e idosos. Se formos no sentido do título do presente capítulo: “Formas de oferta, planejamento e organizações pedagógicas da Educação de Jovens e Adultos” teremos uma correspondência entre o cotidiano e a complexidade da prática pedagógica com a diversidade do trabalho e importância da organização desse trabalho no dia a dia escolar. Por essa razão, as seções estão inicialmente voltadas à prática pedagógica e organizações pedagógicas para a EJA, nomeadas com questões sobre a organização pedagógica e planejamento educacional para a EJA e a didática e prática pedagógica para a diversidade e singularidades da EJA. Posteriormente, há o segundo momento do capítulo, no qual serão tratadas as diferentes formas de oferta da EJA, como EJA Presencial, EJA EaD, EJA e Educação Inclusiva, EJA e Educação Profissional e a Educação nas Prisões. Compreender a diversidade das formas de oferta conecta-se à importância da prática pedagógica junto à organização e planejamento da modalidade, bem como a valorização de seu avanço, diversificação e complexidade frente a um cenário cada vez mais imbricado de singularidades em meio às formulações destinadas ao ensino e aprendizagem de jovens, adultos e idosos. 48
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