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1 Géssica HAM3 Valvopatias Insuficiência aórtica: Sempre lembrar que insuficiência é o “não fechamento da válvula”, tomando possível o refluxo de certa quantidade de sangue para o ventrículo esquerdo durante a diástole. As principais causas são: moléstia reumática, lues, aterosclerose, endocardite infecciosa e doença primária das valvas semilunares. A origem congênita é rara. Além da dispneia e dos outros sintomas indicativos de insuficiência ventricular esquerda, pode ocorrer o quadro de angina de peito, devido ao "roubo" do fluxo coronariano - efeito Venturi - provocado pela rápida passagem do sangue da aorta para o ventrículo esquerdo durante a diástole. No coração, destacam-se as características do ictus cordis- deslocado para baixo e para a esquerda, tipo musculoso e amplo - indicativo da dilatação e da hipertrofia do ventrículo esquerdo. O sopro é diastólico, aspirativo, em decréscimo, audível no foco aórtico ou foco aórtico acessório com irradiação para a ponta do coração. Os sinais periféricos são decorrentes da grande pressão diferencial, tanto por aumento da pressão sistólica, devido ao maior volume de sangue ejetado, como por diminuição da pressão diastólica, decorrente da própria lesão da valva. Surgem o pulso radial amplo e célere, as pulsações visíveis das carótidas (dança arterial), a ocorrência de pulso digital e pulso capilar e as oscilações da cabeça acompanhando os batimentos cardíacos (sinal de Musset), pulsação na base da língua (sinal de Minervini) e duplo sopro auscultado à compressão da artéria femoral (sinal de Duroziez). ECG: sobrecarga diastólica do ventrículo esquerdo, com ondas R altas e T pontiagudas nas precordiais esquerdas. Raio-x de tórax: observa-se aumento da área cardíaca, a expensas de crescimento do ventrículo esquerdo e do átrio esquerdo. A aorta pode estar alongada, com botão aórtico proeminente. Ecodopplercardiografia: associados ao tamanho da cavidade ventricular esquerda e à função 2 Géssica HAM3 ventricular, ajudam a quantificar o grau da repercussão hemodinâmica da insuficiência aórtica de maneira não invasiva. Com relação aos aspectos etiopatogênicos, o eco-Doppler pode identificar o caráter transvalvar propriamente dito (reumático, endocardite) ou extravalvar (dissecção aórtica, ruptura do seio de Valsalva) e da insuficiência, de difícil definição clínica. Estenose aórtica: Consiste na redução do orifício da valva aórtica e em alterações da via de saída do ventrículo esquerdo (a válvula não abre direito). Principais causas: aórtica consiste na redução do orifício da valva aórtica e em alterações da via de saída do ventrículo esquerdo. A malformação congênita é representada por uma valva bicúspide que vai se tornando espessa, fibrótica e calcificada, com redução da mobilidade dos seus folhetos e diminuição da área orificial. Na moléstia reumática, o processo inflamatório determina espessamento dos folhetos da valva e fusão das comissuras, impedindo sua abertura normal. A degeneração senil com deposição de cálcio, mais frequente em pacientes acima de 60 anos, acompanha-se de alterações. Estenose aórtica isolada em pacientes jovens quase sempre não é de origem reumática, mas congênita. Manifestações clínicas: dependem basicamente da hipertrofia ventricular esquerda, que é o mecanismo de que dispõe o coração para vencer a obstrução e manter um débito cardíaco adequado. Essa hipertrofia só é benéfica até certo limite, acima do qual ocorre hipoxemia da musculatura ventricular por não haver desenvolvimento proporcional da circulação coronária. Há a hipoxemia crônica, provocando degeneração progressiva das miofibrilas, responsável pela falência funcional do ventrículo esquerdo. Há também sintomas de insuficiência coronariana, tipo angina de peito, e fenômenos sincopais após esforço (a vasodilatação periférica “rouba” sangue da circulação cerebral, pelo fato de o débito cardíaco estra impossibilitado de aumentar durante esforço físico. É importante lembrar que a ocorrência de angina de peito e síncope indica que a estenose é grave. Exame físico: pulso radial de pequena amplitude ou anacrótico, quando a estenose é de grau moderado a intenso; ictus cordis intenso, pouco deslocado para baixo e para a esquerda; frêmito sistólico; sopro sistólico de ejeção, rude, localizado no foco aórtico, com irradiação para cima, em direção à face lateral direita do pescoço. Na estenose aórtica leve, pode ser ouvido um clique sistólico que antecede o sopro. Na estenose aórtica grave ocorre desdobramento invertido da 2ºbulha cardíaca. ECG: sobrecarga ventricular esquerda com onda T negativa em precordiais esquerdas nos casos de estenose grave. Raio- x de tórax: não se observa, como na insuficiência aórtica, aumento do ventrículo esquerdo, a não ser nos pacientes que já apresentam falência ventricular esquerda. 3 Géssica HAM3 Ecodopplercardiografia: define a localização da estenose aórtica (valvar, subvalvar ou supravalvar. Na estenose aórtica valvar, o número de cúspides pode ser facilmente definido. Esse exame também possibilita ainda o calculo do gradiente, da área valvar, do grau de hipertrofia ventricular e da função ventricular esquerda, o que aliado a clínica do paciente, torna possível uma avaliação segura do estadiamento da estenose aórtica. Insuficiência mitral: A insuficiência mitral consiste no fechamento incompleto da valva mitral com refluxo de sangue para o átrio esquerdo durante a sístole ventricular. As principais causas são: moléstia reumática, prolapso valvar mitral e infarto agudo do miocárdio. As cardiomiopatias e a miocardiosclerose, com grande dilatação da cavidade ventricular esquerda, também são capazes de determinar insuficiência mitral. Exame físico: constatam-se ventrículo esquerdo hipercinético, sem sinais de dilatação - ictus cordis não deslocado, mas de intensidade maior -, sopro sistólico de regurgitação no foco mitral com irradiação para a axila e uma 4° bulha originada pela contração vigorosa do átrio esquerdo. Na inspeção e na palpação do precórdio, encontram-se um ictus cordis com características de dilatação do ventrículo esquerdo e um frêmito sistólico no foco mitral. À ausculta, percebe-se uma 3º bulha cardíaca, sopro sistólico de regurgitação, localizado no foco mitral, com irradiação para a axila e que mascara a P bulha cardíaca. É possível ouvir um sopro diastólico, curto, de enchimento ventricular; em boa parte dos pacientes, o ritmo é irregular pela ocorrência de fibrilação atrial. A insuficiência mitral de etiologia reumática é uma lesão de instalação gradativa e evolução crônica, pois o processo inflamatório evolui vagarosamente, ao longo de meses, o que possibilita ao átrio esquerdo ir se dilatando progressivamente. Nessa condição há pequena elevação da pressão intra-atrial, e em consequência, a pressão venocapilar pulmonar pouco se altera. Os sinais de congestão pulmonar, principalmente a dispneia só aparecem anos depois. Quando a estenose mitral é importante, além da dilatação do átrio esquerdo, há aumento de pressão nesta cavidade, a qual se transmite para a circulação pulmonar, causando hipertensão pulmonar de intensidade variável. Nestes casos, podem predominar as manifestações clínicas da estenose mitral. Na insuficiência mitral que ocorre nas cardiomiopatias com grande aumento do coração, não há lesões do aparelho valvar, mas sim dilatação do anel da valva mitral acompanhando a dilatação da cavidade ventricular esquerda. A quantidade de sangue regurgitado é relativamente pequena, não havendo, portanto, grande dilatação do átrio esquerdo nem significativo aumento da pressão em seu interior, embora o sopro tenha as mesmas características descritas na insuficiência mitral reumática e no infarto agudo do miocárdio. Os sintomas e os sinais dependemda cardiomiopatia ou da miocardiosclerose. 4 Géssica HAM3 ECG: evidencia sobrecarga ventricular e atrial esquerda, se houver também estenose mitral. Raio-x de tórax: encontram-se crescimento destas cavidades e sinais de congestão pulmonar nos casos que apresentam hipertensão venocapilar. Ecodopplercardiografia: possibilita identificar a causa da insuficiência mitral (reumática, prolapso de valva mitral, ruptura de corda tendínea, isquemia de músculo papilar). Ecocardiografia transesofágica: representa grande avanço na investigação da causa e da repercussão hemodinâmica da insuficiência mitral por tornar possível melhor visualização da valva mitral e de seu aparelho de sustentação. Estenose mitral: A estenose mitral consiste no estreitamento do orifício atrioventricular esquerdo devido a espessamento e fibrose das cúspides valvares com fusão das suas comissuras (a válvula não abre direito) - apresenta sopro diastólico. Principal causa: A causa principal é a moléstia reumática. Outras causas, porém, muito raras, incluem síndrome carcinoide, artrite reumatoide, lúpus eritematosos. Uma das características da estenose mitral é sua lenta progressão, transcorrendo cerca de 10 anos após a agressão reumática para que haja redução de 50% da área do orifício atrioventricular, cujo valor normal é em torno de 5 cm². Estenose mitral leve: com área maior que 2,5 cm², o paciente permanece assintomático, mesmo executando esforços físicos. A única alteração hemodinâmica é um moderado aumento da pressão no átrio esquerdo, que, por si só, é capaz de manter o volume-minuto dentro dos limites normais. Nestes casos, os achados semióticos são hiperfonese da 1ºbulha cardíaca no foco mitral e sopro diastólico, restrito à parte pré-sistólica da diástole, que corresponde ao aumento do fluxo sanguíneo pela contração atrial. A rigidez dos folhetos da valva propicia o aparecimento do estalido de abertura mitral. Estenose mitral moderada: a área orificial está reduzida a aproximadamente 1,5 cm², aparecendo, então, dispneia e palpitações após esforços, que traduzem a congestão na circulação pulmonar. Nesta fase, o gradiente de pressão entre o átrio e o ventrículo esquerdo determina o aparecimento de um conjunto de fenômenos estetoacústicos que são típicos da estenose mitral: 1º bulha cardíaca hiperfonética no foco mitral, estalido de abertura mitral, sopro diastólico com características de ruflar, com reforço pré-sistólico, e 2ª bulha cardíaca hiperfonética no foco pulmonar. Estenose mitral grave: área valvar menor que 1 cm². Com intensificação da dispneia, que pode ocorrer aos mínimos esforços e na posição deitada, dispneia paroxística noturna, tosse seca e hemoptise. À ausculta, constata-se que o estalido de abertura se torna mais precoce e o sopro diastólico, mais duradouro. A pressão elevada no átrio esquerdo transmite-se pelas veias pulmonares aos capilares dos pulmões com 2 consequências: a primeira, responsável pela sintomatologia de congestão pulmonar, é o edema intersticial e a transudação de líquido para o interior dos alvéolos; a 5 Géssica HAM3 segunda é a hipertensão pulmonar, responsável pela hipertrofia do ventrículo direito, que pode ser avaliada clinicamente pela intensidade do componente pulmonar da 2ª bulha cardíaca. Os principais dados semióticos são: na ectoscopia, pode-se encontrar cianose nas mãos e no rosto. A inspeção do tórax, quando há hipertensão pulmonar grave, pode ocorrer abaulamento paraesternal esquerdo. Na palpação, o ictus cordis é impalpável ou de pequena intensidade, a indicar que o ventrículo esquerdo está normal, podendo-se observar, em alguns pacientes, uma retração sistólica apical, levantamento em massa do precórdio e pulsação epigástrica, sinais indicativos de hipertrofia ventricular direita. A 1º bulha, no foco mitral, e a 2a bulha, no foco pulmonar, são palpáveis. Percebe-se, também, um frêmito diastólico no foco mitral. A ausculta, encontram-se hiperfonese da 1ª bulha no foco mitral e da 2º bulha no foco pulmonar, estalido de abertura mitral e sopro (ruflar) diastólico com reforço pré-sistólico na área mitral. Este sopro é mais audível com o paciente em decúbito lateral esquerdo e após um pequeno exercício que aumente a frequência cardíaca. ECG: observa-se sobrecarga atrial esquerda e, quando há hipertensão pulmonar, também sobrecarga ventricular direita. Raio-x de tórax: demonstra aumento do átrio esquerdo, dilatação da artéria pulmonar e crescimento do ventrículo direito se houver hipertensão pulmonar. A congestão pulmonar é denunciada pelos sinais de edema intersticial. Ecodopplercardiografia: pode visualizar tromba intra-atrial, grau de flexibilidade valvar e calcificação das cúspides, anel e estruturas subvalvares. A utilização do recurso Doppler possibilita medir a área valvar, o gradiente diastólico transvalvar mitral e a pressão sistólica do ventrículo direito e da artéria pulmonar. Ecodopplercardiografia transesofágica: ampliou o espectro da ecocardiografia por tornar possível a obtenção de imagens de alta resolução da valva mitral, aparelho subvalvar e átrio esquerdo, auxiliando na avaliação hemodinâmica precisa quando o ecocardiograma transtorácico mostra dados inconclusivos. Estes fatos tornam o estudo hemodinâmico invasivo indicado apenas nos casos nos quais é imprescindível conhecer a anatomia coronariana. Insuficiência tricúspide: A insuficiência tricúspide, analogamente à insuficiência mitral, decorre do incompleto fechamento da valva tricúspide, com regurgitação de sangue para o átrio direito, durante a sístole ventricular. Pode ser orgânica, quando, então, está invariavelmente associada à estenose tricúspide, ou funcional, o que é mais frequente, em consequência de insuficiência ventricular direita em virtude da hipertensão pulmonar. A dilatação do anel tricúspide pode ser secundária a infarto do ventrículo direito, por coaptação incompleta dos folhetos. 6 Géssica HAM3 Os sinais físicos são ventrículo direito hipertrofiado e sopro holossistólico de alta frequência, audível na área tricúspide, que aumenta com a inspiração profunda (manobra de Rivero- Carvallo). Se a insuficiência for grave, pode ocorrer pulsação hepática sistólica. Os dados semióticos que caracterizam a insuficiência tricúspide funcional são: o sopro holossistólico diminui ou desaparece após a compensação do paciente; há evidência clara de hipertensão pulmonar; os sintomas de insuficiência cardíaca aparecem tardiamente na evolução de um paciente com estenose mitral. Raio-x do tórax: apresenta evidências de aumento do átrio direito associado à dilatação do ventrículo direito. ECG: encontram-se sinais de sobrecarga atrial e ventricular direitas. Fibrilação atrial ocorre frequentemente. OBS: Sempre lembrar que na estenose a válvula não abre direito. Enquanto que na insuficiência a válvula não fecha direito. Estenose mitral: sopro diastólico. Estenose aórtica: sopro sistólico.
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