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Psicogênese da Língua Escrita

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PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA
          Inicialmente, vamos pensar sobre o significado da palavra psicogênese? Esse termo significa origem de todo e qualquer conhecimento. Em se tratando do campo da aquisição da escrita, psicogênese significa a origem do conhecimento da leitura e escrita, isto é, de que forma a criança desenvolve sua competência leitora e escritora, antes mesmo de compreender o sistema de escrita. Daí o porquê de uma teoria intitulada “Psicogênese da língua escrita”, de Emília Ferreiro e Ana Teberosky.
        Apoiada no Construtivismo de Jean Piaget, essa teoria explica como a criança constrói seu conhecimento da leitura e da escrita, isto é, quais são as diferentes hipóteses que ela levanta sobre o sistema de escrita mesmo que ainda não compreenda o sistema alfabético. Inicialmente difundida, nos anos 70, em países de língua espanhola e trazida para o Brasil nos anos 80, a teoria psicogenética de aquisição da escrita influenciou, fortemente, a prática pedagógica na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, equivocadamente confundida com método de alfabetização.
        Não se trata de método, e sim de uma teoria segundo a qual o aprendiz, à medida que se apropria da escrita, levanta hipóteses sobre essa modalidade de linguagem com que se depara nos mais diferentes contextos sociais e com ela estreita contato na escola por meio da ação do professor. Tais hipóteses, que se apoiam em conhecimentos prévios, assimilações e generalizações, fornecem ao professor alfabetizador dados importantes acerca dos níveis linguísticos dos alunos durante o processo de alfabetização. De posse desses dados, o professor decidirá que atitude tomar para que o aprendiz reflita sobre seus erros e avance na aprendizagem da escrita. Neste momento, você deve estar se perguntando: e quais essas hipóteses? Emília Ferreiro e Ana Teberosky as chamam de: a) hipótese pré-silábica, b) hipótese silábica, c) hipótese silábico-alfabética, d) hipótese alfabética. Vamos conhecer cada uma delas?
         
A) HIPÓTESE PRÉ-SILÁBICA
          É a hipótese segundo a qual a produção escrita da criança revela que ela ainda não tem noção de sílaba, por isso “PRÉ-SILÁBICA. Neste caso, a criança ainda não concebe a escrita como um código de representação da fala, isto, não entende que a escrita representa os sons que ela pronuncia ao falar a palavra. É por essa razão que utiliza, em sua produção escrita, rabiscos, desenhos, garatujas, letras e outros sinais gráficos, de modo que só ela mesma entende aquilo que escreveu.
          Além disso, a escrita de uma criança na hipótese pré-silábica também pode revelar característica do objeto representado. Assim, se ela for convidada a escrever a palavra FORMIGA, ela pode representar esse animal assim: XM2, com poucos sinais gráficos, uma vez que que se trata de um animal pequeno; se for convidada e escrever a palavra BOI, pode ser que ela represente esse animal assim: PX3LTUXTOOOOAVEMOXOAT, com vários sinais gráficos, pois trata-se de um animal de grande porte. Em outras palavras, a extensão da escrita depende do tamanho do objeto representado pela escrita. Veja a seguir um exemplo de escrita de uma criança que se encontra na hipótese pré-silábica:
TAG: alfabetização, escrita, pré-silábica
B) HIPÓTESE SILÁBICA
          Nesta hipótese, a criança já tem noção de sílaba, pois já segmenta a palavra em duas, três ou quatro “pedaços”, mas imagina que apenas uma letra é suficiente para representar cada sílaba. Assim, se a criança percebe que a palavra tem suas sílabas, ela representa tal palavra utilizando em sua escrita somente duas letras, uma para cada sílaba; se a palavra tem três sílabas, ela utiliza três letras, e assim por diante. Essa escrita pode ou não ter valor sonoro convencional, razão pela qual muitos professores subdividem a hipótese silábica em silábica sem valor sonoro e silábica com valor sonoro.
         Na hipótese silábica sem valor sonoro, a criança utiliza uma letra para cada sílaba, mas a letra que utiliza não mantém nenhuma relação com nenhum dos sons da sílaba. Imagine que uma criança, ao ser convidada a escrever a palavra FORMIGA, tenha escrito essa palavra assim: PTX. Observe que ela utilizou três letras porque percebeu que a palavra em questão tem três sílabas, mas note que a letra P não representa nenhum dos sons da sílaba FOR-, assim como a letra T não representa nenhum dos sons da sílaba MI-, e a letra X não representa nenhum dos sons da sílaba GA. Veja a seguir um exemplo de escrita de uma criança na hipótese silábica sem valor sonoro:
TAG: alfabetização, escrita, silábico sem valor sonoro
           Já na hipótese silábica com valor sonoro, a criança continua utilizando uma letra para cada sílaba, mas agora a letra que ela usa representa um dos sons da sílaba, seja ela o som da vogal ou da consoante. Imagine que ela, ao ser convidada a escrever a palavra FORMIGA, tenha escrito essa palavra assim: FMG. Observe que ela utilizou três letras porque percebeu que a palavra em questão tem três sílabas e note também que a letra F representa um dos sons da sílaba FOR-, no caso o som [f], assim como a letra M representa um dos sons da sílaba MI-, no caso, o som [m] e a letra G representa um dos sons da sílaba GA, no caso, o som [g]. Veja a seguir um exemplo de escrita de uma criança que se encontra na hipótese silábica com valor sonoro:
TAG: alfabetização, escrita, silábica com valor sonoro
C) HIPÓTESE SILÁBICO-ALFABÉTICA
          Neste estágio de aquisição da escrita, a criança se encontra na transição entre o nível silábico, que acabamos de estudar, e o próximo nível: o alfabético. Isso significa que ela representa sílabas completas, com todas as letras, porque já percebeu todos os sons de tais sílabas, mas representa outras sílabas com apenas uma letra. Assim, se a criança for convidada a escrever a palavra TOMATE, ela pode representá-la assim: TOAT. Essa escrita revela que o ouvido da criança já detectou todos os sons da primeira sílaba da palavra em questão, por isso representou cada um desses sons com uma letra. Contudo, note que ela representa a sílaba MA apenas com a letra A e sílaba TE somente com a letra T.
         Na hipótese silábico-alfabética, o aprendiz está muito próximo da escrita alfabética. Compete ao professor alfabetizador o trabalho de refletir com a criança sobre o sistema linguístico a partir da observação da escrita alfabética e da reconstrução do código escrito. Veja a seguir um exemplo de escrita de uma criança que se encontra na hipótese silábico-alfabética:
TAG: alfabetização, escrita, silábica alfabética
D) HIPÓTESE ALFABÉTICA
          Nesta fase, a criança atingiu um nível de consciência fonológica bastante apurado, pois percebe todos os sons de todas as sílabas, representando-as por completo. Assim, se a sílaba tem dois sons, a criança a representa utilizando duas letras; se tem três sons, ela a representa com três leras e assim por diante. É importante salientar que se trata de uma escrita fonética, não ortográfica. Assim, se a criança for convidada a escrever a palavra EXAME, ela pode representá-la assim: “EZAMI”. O desafio que cabe ao professor agora é tornar essa criança alfabetizada, ou seja, caminhar em direção à escrita convencional, com correção ortográfica e gramatical. Veja a seguir um exemplo de escrita de uma criança que se encontra na hipótese alfabética:
TAG: alfabetização, escrita, alfabética

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