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W BA 02 83 _V 2. 0 SUPORTE BÁSICO E AVANÇADO DE VIDA 2 Thaísa Mariela Nascimento de Oliveira São Paulo Platos Soluções Educacionais S.A 2021 SUPORTE BÁSICO E AVANÇADO DE VIDA 1ª edição 3 2021 Platos Soluções Educacionais S.A Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César CEP: 01418-002— São Paulo — SP Homepage: https://www.platosedu.com.br/ Head de Platos Soluções Educacionais S.A Silvia Rodrigues Cima Bizatto Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Turchetti Bacan Gabiatti Camila Braga de Oliveira Higa Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Camila Braga de Oliveria Higa Revisor Gabriella Novelli Oliveira Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_________________________________________________________________________________________ Oliveira, Thaísa Mariela Nascimento de O48s Suporte básico e avançado de vida / Thaísa Mariela Nascimento de Oliveira. – São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 2021. 40 p. ISBN 978-65-5356-069-7 1. Suporte básico. 2. Suporte avançado. 3. Assistência de enfermagem no trauma. I. Título. CDD 610.73 ____________________________________________________________________________________________ Evelyn Moraes – CRB-8 010289 © 2021 por Platos Soluções Educacionais S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A. 4 SUMÁRIO Aspectos éticos na emergência e o Suporte Básico e Avançado de Vida para queimaduras e traumatismos menores ________ 05 Suporte Básico de Vida: afogamentos, acidentes com animais peçonhentos e obstrução de vias aéreas ____________________ 23 Suporte Básico de Vida na parada cardiorrespiratória _______ 40 Suporte Avançado de Vida na parada cardiorrespiratória ____ 55 SUPORTE BÁSICO E AVANÇADO DE VIDA 5 Aspectos éticos na emergência e o Suporte Básico e Avançado de Vida para queimaduras e traumatismos menores Autoria: Thaísa Mariela Nascimento de Oliveira Leitura crítica: Gabriella Novelli Oliveira Objetivos • Definir Suporte Básico e Avançado de Vida. • Discutir os aspectos éticos envolvidos na abordagem à vítima em situações de urgência e emergência. • Compreender o atendimento de Suporte Básico e Avançado de Vida em queimaduras. • Compreender o atendimento de Suporte Básico de Vida em traumatismos menores. 6 1. Suporte Básico e Avançado de Vida O Suporte Básico de Vida (SBV) pode ser definido como um conjunto de habilidades e atitudes iniciais aplicadas pela equipe multidisciplinar de saúde em ambiente intra-hospitalar, pela equipe de socorristas do SBV atuantes em ambiente pré-hospitalar ou, até mesmo, desempenhado por pessoa leiga que possua treinamento. O SBV desenvolvido por leigos tem o objetivo de exercer adequadamente o primeiro atendimento às vítimas que se encontram em situações de urgência e emergência até a chegada do Suporte Avançado de Vida (SAV) (SANTOS, 2018). Nesta disciplina, serão abordados os cenários mais comuns de emergências cardiológica, respiratória, traumatismos menores e de intoxicação exógena que exigem dos profissionais enfermeiros o conhecimento e as técnicas que envolvem o SBV e SAV. Segundo Santos (2018), o SAV é a continuação do SBV, que também será executado pela equipe multidisciplinar em saúde (médico, enfermeiro, técnico de enfermagem, fisioterapeuta etc.) nos ambientes intra-hospitalar e/ou extra-hospitalar, acrescido de manobras invasivas específicas e de maior complexidade tecnológica para o reestabelecimento de agravos à saúde. Diante disso, ambos os suportes devem prestar um atendimento ético e moral para a abordagem e tomada de decisão em situações de urgência e emergência (COMMITTEE ON TRAUMA, 2018), em especial as emergências cardiológicas como a parada cardiorrespiratória, além de desenvolver competências (conhecimento/habilidade/atitude) para o atendimento de qualidade e excelência às vítimas. 2. Aspectos éticos na abordagem da vítima Os profissionais que atuam nos serviços de urgência e emergência enfrentam cenários eticamente desafiadores e suscetíveis ao tempo. A 7 falta de formação ética no ambiente pré-hospitalar e no intra-hospitalar poderá deixá-los com sentimento de despreparo quando confrontados com situações eticamente contraditórias ou, até mesmo, confusas. O uso do raciocínio crítico no ambiente de emergência por esses profissionais poderá estabelecer uma base sólida para a tomada de decisões eticamente difíceis (COSTA et al., 2018). O objetivo deste tópico será conhecer o “principialismo”, que utiliza um conjunto de quatro princípios morais: a autonomia, a não maleficência, a beneficência e a justiça para estabelecer o comportamento apropriado e ético dos profissionais, bem como orientar a prática clínica para tomada de decisão assertiva. Agora, abordaremos cada princípio ético (COSTA et al., 2018; NAEMT, 2020): • Autonomia Em grego, autonomia tem o significado de auto nomos, ou seja, “próprias regras” (NAEMT, 2020, p. 32). Então, adultos conscientes podem tomar suas próprias decisões. A privacidade e confidencialidade, o consentimento informado e a veracidade são conceitos éticos, que estão intimamente interligados com a autonomia (NAEMT, 2020). A privacidade se refere ao direito de o cliente controlar quem tem acesso às próprias informações pessoais de saúde, já a confidencialidade é o dever de profissionais da saúde em não compartilhar informações do cliente a qualquer lugar ou pessoa autorizada pela instituição ou pelo próprio cliente. O consentimento informado é a documentação com informações inerentes ao tratamento médico a ser realizado, no qual o cliente com capacidade de tomar decisões e, pesar riscos e benefícios associados às opções, deverá recusar ou consentir a conduta médica. Caso o cliente se apresente incapaz de tomar as próprias decisões, um responsável deverá tomá-las em seu nome. Quanto a veracidade, além de ser uma expectativa do cliente, também é necessária para o elo de confiança (NAEMT, 2020). 8 • Não maleficência Assim como os profissionais de saúde devem respeitar o direito da escolha de tratamento por parte do cliente, há também uma obrigação desses profissionais em não causar danos ou expor o cliente ao risco (COSTA et al., 2018). • Beneficência Trata-se de agir para benefício do outro e exige do profissional maximizar o altruísmo e minimizar os riscos inerentes à saúde e à vida da vítima. Também pode ser acrescentado o “ir além” do que é recomendado e exigido por padrões de práticas profissionais em benefício ao cliente (COSTA et al., 2018). • Justiça Justiça e segurança são pressupostos de intervenções adequadas em saúde, com uma forte ligação à segurança do cliente. A justiça é considerada distributiva quando ocorre uma distribuição justa de serviços, diretrizes e regras socialmente acordadas (NAEMT, 2020). Assim, independentemente do sexo, raça, classe social ou idade, a justiça em saúde tem por objetivo colocar em prática o princípio da equidade no quesito cuidado/assistência. Todos os que precisarem de cuidados o receberão, no entanto, o indivíduo que for identificado com a necessidade de cuidado mais urgente será atendido de forma prioritária (COSTA et al., 2018). Sendo assim, nas emergências, o enfermeiro e sua equipe podem se deparar com os mais difíceis e complexos cenários,que demandam tomadas de decisões éticas. A Figura 1 apresenta exemplos de cenários e as possíveis condutas. 9 Figura 1 – Exemplos de cenários e condutas éticas Fonte: elaborada pela autora. Por fim, para aprimorar o conhecimento ético na saúde, o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem (CEPE) foi editado e atualizado pelo Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), por meio da Resolução nº 564 (COFEN, 2017). 3. Atendimento a vítimas de queimaduras e traumatismos menores As queimaduras e alguns traumatismos menores são responsáveis por grande parte da morbidade ou até mesmo mortalidade, principalmente entre adultos jovens e crianças. O conhecimento destes tipos de traumas e, as ações corretas por meio de princípios básicos para a 10 abordagem inicial de cada um deles, poderão minimizar futuros agravos (THOMAZ, 2018). 3.1 Queimaduras As queimaduras são lesões resultantes da ação do calor, podendo ocorrer com fonte de energia isolada ou, até mesmo, associada a outra forma energética sobre o tecido cutâneo. Quanto ao agente causador, elas podem ser classificadas em: térmica, solar, elétrica, radioativa e química (SANTOS, 2018). Neste tema, abordaremos apenas o atendimento da vítima de queimadura térmica. As lesões por queimadura térmica podem atingir não somente a primeira camada da pele, mas também o tecido subcutâneo, músculo e ossos. De acordo com Thomaz (2018), para a assistência completa e segura à vítima de queimaduras, é fundamental que o profissional reconheça as características da queimadura, como a profundidade e a extensão da área corpórea queimada, que compreenda a necessidade de reposição volêmica e que tenha segurança para prestar a assistência tanto no âmbito pré-hospitalar quanto no intra-hospitalar. Além disso, é de suma importância saber como ocorreu a queimadura, ou seja, um breve histórico será valioso para auxiliar a equipe no atendimento e tratamento das lesões. 3.1.1 Medidas iniciais do pré-hospitalar no atendimento de vítimas por queimaduras • Condutas iniciais para o atendimento pré-hospitalar (NAEMT, 2020; SANTOS, 2018): Checar a segurança da cena: 1. Afastar a vítima do agente causador. 11 2. Realizar avaliação primária conforme o XABCDE trauma. 3. Se hemorragia exsanguinante presente, ela deverá ser interrompida por compressão direta ou com uso de torniquete. 4. A vítima deverá ser imobilizada ao se considerar trauma mecânico e outras lesões menos aparentes. 5. Manter permeabilidade da via aérea com ou sem via aérea avançada a depender da gravidade (atenção para a face da vítima: dificuldade respiratória (sibilos), cílios, sobrancelhas e pelos do nariz queimados). 6. Administrar oxigênio conforme demanda e avaliar qual o dispositivo indicado para a emergência respiratória. 7. Monitorizar a oximetria de pulso. 8. Para queimaduras maiores do que 20% da superfície corpórea, deve-se instalar acesso venoso periférico preferencialmente de calibre 18G. A preferência é buscar local sem presença de queimadura, quando houver impossibilidade, puncionar em área queimada ou considerar a via intraóssea. Repor volemia com ringer lactato e comunicar ao destino o volume infundido. 9. A incapacidade neurológica pelo efeito de substâncias tóxicas deve ser observada. Além disso, a capacidade neurológica e motora deve ser avaliada. 10. Expor a área queimada, retirando as roupas e os adornos que não estejam aderidas a pele. 11. Irrigar com água na temperatura ambiente em abundância para resfriar a área afetada e, em seguida, cobrir com compressas estéreis e não aderentes. 12. Prevenir a hipotermia com manta metálica. 13. Não atrasar o transporte até o hospital de referência. • Condutas iniciais realizadas no ambiente intra-hospitalar (COMMITTEE ON TRAUMA, 2018): O ABCDE que teve início no pré-hospitalar deve ser realizado também no ambiente intra-hospitalar com o objetivo de manter a via área 12 pérvia, interromper o processo de queimadura, com a retirada da roupa e controle da hipotermia e a garantia do acesso venoso para a reposição volêmica (COMMITTEE ON TRAUMA, 2018). 1. Edema de via aérea, inflamação ou lesões de mucosas não identificadas no atendimento pré-hospitalar devem ser avaliadas e tratadas no atendimento inicial da equipe de emergência. As manifestações clínicas por inalação podem aparecer nas primeiras 24h, por esse motivo, a realização da reavaliação das vias aéreas é extremamente importante. 2. Analisar a necessidade de via aérea avançada na presença de rouquidão, estridor respiratório, utilização acessória de músculos intercostais, queimadura facial extensa, incapacidade neurológica e área corpórea queimada superior a 40%. 3. Observar a qualidade da ventilação, pois a hipóxia pode ser o resultado de inalação tóxica, queimadura circunferencial do tórax ou trauma torácico não relacionado à queimadura. O oxigênio suplementar deve ser ofertado. 4. Dois acessos venosos periféricos de calibre 18G em membros superiores devem ser mantidos para a reposição volêmica. A infusão intraóssea também pode ser considerada. 5. A perda da temperatura pode ser evitada com a administração de fluidos aquecidos. 6. Calcular a extensão total da área corporal queimada por meio da regra dos 9 e a sua profundidade. 7. Realizar o cálculo da fórmula de Parkland para reposição volêmica adequada, em que metade do fluído deve ser ofertado nas primeiras 8h e a outra metade nas 16h subsequentes. 8. Avaliar o risco para síndrome compartimental em queimaduras circunferências de tórax e abdome que podem levar ao aumento das pressões de pico inspiratórias. A síndrome compartimental é o resultado do aumento da pressão e deficiência da perfusão dentro 13 do compartimento afetado, causados pelo edema dos tecidos modelões e a diminuição da elasticidade da pele. 9. Monitorizar sinais vitais e débito urinário. 10. Coletar exames laboratoriais e amostra de sangue, conforme prescrição médica e encaminhar o paciente para exames complementares de imagem. 11. Auxiliar no tratamento definitivo. 3.1.2 Síndrome compartimental A síndrome compartimental se desenvolve na pressão aumentada no compartimento fascial fechado, privando o fluxo sanguíneo e resultando em isquemia dos tecidos, pois os vasos estão reprimidos ao ponto de não promoverem a oxigenação adequada. Esse aumento de pressão pode ser causado pelo aumento de sangramento no compartimento, edema após revascularização de um membro isquêmico, normalmente encontradas em membros superiores, inferiores e região glútea (COMMITTEE ON TRAUMA, 2018). Os sintomas da síndrome são: dor intensa, diminuição de sensibilidade ou perda funcional local e edema tenso da área (NAEMT, 2020). O reconhecimento e tratamento tardio dessa emergência pode levar a déficits neurológicos, necrose, infecção generalizada, cicatrização retardada de fraturas e, até mesmo, a amputação (COMMITTEE ON TRAUMA, 2018). O tratamento é a fasciotomia, apresentada na Figura 2, em que os cuidados com a fasciotomia são: curativo com soro fisiológico 0,9%, cobertura secundária de acordo com prescrição médica e atentar-se ao edema (COMMITTEE ON TRAUMA , 2018). 14 Figura 2 – Procedimento de Fasciotomia Fonte: Committee on Trauma (2018, p. 160). 3.1.3 Análise da profundidade da queimadura Determinar a profundidade de uma queimadura no ambiente pré- hospitalar pode ser extremamente difícil, por isso, a orientação é que a profundidade da queimadura seja analisada e tratada em ambiente hospitalar (NAEMT, 2020). O Prehospital Trauma Life Support (PTLS), em sua nona edição, classifica a profundidade da queimadura em quatro graus ou espessuras: espessura superficial (1º grau), espessura parcial (2º grau), espessura total (3º grau) e espessura subdérmica (4º grau). Na emergência, a espessura total e a subdérmica irão receber o tratamento similar. A Figura 3 descreve a profundidade do tecido cutâneo queimado e sua respectiva aparência (NAEMT, 2020). 15 Figura3 – Espessura e características de queimaduras térmicas Fonte: adaptada de NAEMT (2020) e Santos (2018). 3.1.4 Avaliação da área corpórea queimada (ACQ%) Com a avaliação da ACQ%, pode-se medir a extensão da área queimada, determinar a gravidade da vítima e selecionar o tratamento adequado. Existem diversos métodos que podem ser empregados para avaliar a ACQ, como a regra da palma da mão e a tabela de Lund Browder, entretanto, o método indicado tanto pelo PHTLS (NAEMT, 2020) quanto pelo ATLS (COMMITTEE ON TRAUMA, 2018) é o cálculo que utiliza a regra dos 9, publicado por Alexander Burns Wallace em 1951, apresentado na figura a seguir. 16 Figura 4 – Regra dos 9 para a avaliação da área corpórea queimada Fonte: NAEMT (2020, p. 1093). Os valores da cabeça e membros inferiores no lactente e pediátrico podem variar de acordo com a literatura. 3.1.5 Reposição volêmica Em queimaduras que atingiram profundidade de espessura parcial e/ou total e a extensão da ACQ igual ou maior que 20%, a reposição volêmica é necessária para substituir as perdas contínuas do vazamento capilar devido à inflamação, com o cuidado em não ressuscitar em excesso (COMMITTEE ON TRAUMA , 2018). As soluções cristaloides devem ser infundidas, 50% nas primeiras 8h e 50% nas 16h subsequentes. O Quadro 1 exemplifica a Fórmula de 17 Parkland com base na 10ª edição do Advanced Trauma Life Support (ATLS) (COMMITTEE ON TRAUMA, 2018). Quadro 1 – Idade e peso para a fórmula de Parkland Idade e peso Fórmula de Parkland Adultos e crianças maiores (> 14 anos) 2ml x (peso) kg x % ACQ Crianças menores (< 14 anos) 3ml x (peso) kg x % ACQ Lactentes ou pediatria (> 30kg) 3ml x (peso) kg x % ACQ Legenda: ACQ= área corpórea queimada; Kg= quilogramas. Fonte: adaptado de Committee on Trauma (2018). Por exemplo, um homem adulto de 100kg com 80% da superfície total de queimadura: 2 ml x 100 kg x 80% = 16.000 ml Logo, 16.000 ml deverão ser administrado nas primeiras 24 horas, sendo que 8.000 ml devem administrados nas primeiras 8h em aproximadamente 1.000mL/h e 8.000ml dentro das 16h subsequentes (COMMITTEE ON TRAUMA, 2018). 3.2 Traumatismos menores e o atendimento no pré- hospitalar O trauma menor observado durante a triagem pré-hospitalar são aquelas situações em que a vítima apresenta dor leve ou moderada em lesões osteomusculares, como é o caso da fratura fechada alinhada, luxação ou entorse e lesão de pele com sangramento moderado (NAEMT, 2020). 18 3.2.1 Lesões osteomusculares Figura 5 – Luxação Fonte: 33karen33/iStock.com. Figura 6 – Entorse Fonte: janulla/iStock.com. 19 Figura 7 – Fratura fechada Fonte: Sutthaburawonk/iStock.com. • Na torsão ou entorse ocorre um movimento brusco de rotação em sentido contrário, que ocorre com frequência entre os ligamentos de uma determinada região, geralmente o tornozelo, podendo ou não se romper parcial ou totalmente (THOMAZ, 2018). Sintomas: dor significativa local, edema, hematoma e aumento da temperatura local. Conduta: a vítima não deve apoiar o membro ao chão ou forçá- lo, avaliar a função neurovascular (movimentação do membro, sensibilidade, dor, perfusão periférica e coloração), imobilizar o membro com tala ou tração, realizar uma bandagem compressiva para a drenagem do edema e auxílio do retorno venoso, compressa fria para diminuição de dor e edema, orientar a 20 realização exame de imagem, além de repouso e elevação do membro (THOMAZ, 2018). • Na luxação, um ou mais ossos se deslocam de forma repentina e duradoura entre as articulações, por meio de uma força direta ou indireta entre elas. O dano aos tecidos moles pode ser grave, podendo afetar os vasos sanguíneos, nervos e cápsula articular. As articulações mais expostas à luxação são: ombro, cotovelo, joelho, articulação dos dedos e da mandíbula (THOMAZ, 2018). Sintomas: dor intensa, limitação do movimento da articulação afetada e deformidade grosseira no local (THOMAZ, 2018). Conduta: a redução da luxação deverá ser realizada somente em ambiente hospitalar por profissional médico ortopedista, profissional especialista capacitado para atuar nos traumas ortopédicos, devido ao risco de lesões em vasos sanguíneos, nervos e demais estruturas. A analgesia deve ser considerada para o momento da redução de luxações, a fim de diminuir a dor e ansiedade do paciente (THOMAZ, 2018). • A fratura fechada se trata da perda da continuidade óssea em dois ou mais fragmentos, que não comprometem a integridade da pele, diferente de fraturas expostas que comprometem além do osso, o revestimento cutâneo ou membrana mucosa, sendo facilmente detectadas visualmente. Elas podem ocorrer quando o tecido ósseo é submetido a um estresse maior do que consegue absorver, normalmente provocados por golpes diretos, esmagamento, movimentos de entorse repentinos e contrações musculares extremas (NAEMT, 2020). Sintomas: dor intensa, impotência funcional de se movimentar ou se locomover, deformidade do segmento fraturado, edema, hematoma, crepitação pelo atrito dos fragmentos ósseos fraturados (NAEMT, 2020). 21 Conduta: deve-se realizar o alinhamento discreto e imobilização com talas rígidas, sem compressão excessiva para não comprometer a circulação; estabilizar as articulações próximas a fratura; não remover a vítima até que todas as fraturas estejam imobilizadas. A tração do membro só deve ser realizada pelo médico ortopedista no hospital (NAEMT, 2020). Uma grande parte das ocorrências de lesões osteomusculares não apresentam gravidade, no entanto, causam pânico e são extremamente dolorosas ao paciente, por isso, demandam do profissional treinamento adequado para realizar o atendimento inicial. No pré-hospitalar, na maioria das vezes, a imobilização dos membros será suficiente para aliviar a dor, estabelecer condições favoráveis ao paciente e encaminhá-lo ao serviço hospitalar (NAEMT, 2020). Vale ressaltar que, a diferenciação definitiva entre uma entorse, luxação ou fratura é alcançada apenas após o raio x. Então, no contexto pré-hospitalar, considere como fratura até que o exame de imagem prove o contrário (NAEMT, 2020). 3.2.2 Hemorragias menores Hemorragia é o extravasamento de sangue por meio da ruptura de vasos sanguíneos. Nas hemorragias arteriais, o sangue é de coloração vermelho vivo e precisa de atendimento imediato para contê-lo e controlá-lo, visto que a hemorragia é em jato pulsátil. Em hemorragias venosas, o sangue tem coloração vermelho escuro, escorre lentamente, podendo ser ou não de fácil controle a depender do calibre venoso (THOMAZ, 2018). Conduta: tranquilizar o paciente para que não entre em pânico, encontrar o local de origem do sangramento (cortar as roupas, se necessário), cobrir a ferida com gazes ou compressa estéril, aplicar 22 pressão com uma ou duas mãos. Se a ferida for grande ou profunda, deve-se introduzir o pano dentro do ferimento, mantenha a pressão até a chegada do serviço médico de emergência, verificar rapidamente a presença do pulso e a perfusão distal (PONS; JACOBS, 2017). Referências COFEN. Conselho Federal de Enfermagem. Resolução COFEN nº 564, de 06 de dezembro de 2017. Aprova o Novo Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem. Brasília, DF: COFEN, 2017. COMMITTEE ON TRAUMA. Advanced Trauma Life Support (ATLS). 10. ed. [S.l.]: ACS, 2018. COSTA, R. R. O. et al. A simulação no ensino de enfermagem: reflexões e justificativas a luz da bioética e dos direitos humanos. Acta Bioethica, Chile, v. 24, n. 1, p. 31-38, 2018. Disponível em: https://scielo.conicyt.cl/scielo.php?script=sci_ abstract&pid=S1726-569X2018000100031&lng=pt&nrm=i. Acesso em: 8 fev. 2022. NAEMT. National Association of Emergency Medical Technicians. Prehospital Trauma Life Support (PHTLS). 9. ed. Burlington: Jones & Bartlett Learning, 2020. PONS, P. T.; JACOBS, L. Stop the Bleed: controle do sangramento para feridos. [S.l.]: The Committe on Trauma, 2017. SANTOS, N. C. M. Urgência e emergência para enfermagem: do atendimentopré- hospitalar (APH) à sala de emergência. 7. ed. São Paulo: Érica, 2018. THOMAZ, M. C. A. Urgência e emergência em enfermagem. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A, 2018. https://scielo.conicyt.cl/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1726-569X2018000100031&lng=pt&nrm=i https://scielo.conicyt.cl/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1726-569X2018000100031&lng=pt&nrm=i 23 Suporte Básico de Vida: afogamentos, acidentes com animais peçonhentos e obstrução de vias aéreas Autoria: Thaísa Mariela Nascimento de Oliveira Leitura crítica: Gabriella Novelli Oliveira Objetivos • Conhecer a fisiopatologia, a classificação e a conduta profissional frente à vítima de afogamento. • Identificar sinais e sintomas e a conduta inicial em acidentes com animais peçonhentos. • Reconhecer a gravidade para atuar em cenários de obstrução de vias aéreas por corpo estranho. 24 1. Suporte básico de vida para afogamentos Os óbitos por afogamento diminuíram nos últimos 40 anos, porém, ainda são relatados mais de 500.000 afogamentos por ano em todo o mundo. Afogamento é a definição de aspiração de líquidos, causados por imersão ou submersão. As manobras do Suporte Básico de Vida (SBV) às vítimas por afogamento devem ser iniciadas rapidamente, com a abertura das vias aéreas, ventilações de resgate e manobras de reanimação cardiopulmonar iniciado por leigos ou por profissionais da saúde. A ocorrência por afogamento é classificada como trimodal, com maior pico de acometimento entre crianças menores de 5 anos, seguido do segundo pico entre jovens de 15 a 24 anos e o último pico entre os idosos (VELASCO, 2020). • Mecanismo do afogamento Quando a vítima se encontra com dificuldades na água e não consegue manter as vias áreas livres de líquido, ocorrerá a aspiração de líquido contínuo e, como resultado, em poucos segundos, a hipoxemia levará à inconsciência e apneia. Consequentemente, o coração apresentará taquicardia, seguido de bradicardia, evoluindo para atividade elétrica sem pulso e assistolia (VELASCO, 2020). Geralmente, a evolução do processo de imersão para a submersão da vítima levará ao desenvolvimento de uma parada cardíaca em segundos. Quantidades pequenas, como 70 ml de líquido, podem levar a graves consequências, pois, a entrada de líquido nas vias aéreas prejudica a troca de oxigênio e gás carbônico por meio de duas formas: submersão súbita pela obstrução parcial ou total das vias superiores por uma coluna de líquido ou; pela aspiração gradativa da água até os alvéolos pulmonares (SZPILMAN, 2019). 25 1.1 Classificação do afogamento 1.1.1 Quanto a causa do afogamento Afogamento primário: é o tipo mais comum encontrado entre as vítimas que não sabem nadar e, por isso, elas apresentam a luta pela vida durante o afogamento (SANTOS, 2018). Afogamento secundário: existência de alguma causa que impeça a vítima de se manter na superfície e, como consequência, o afogamento foi precipitado. Por exemplo: drogas lícitas e ilícitas, convulsão, traumas e doenças cardíacas são alguns exemplos (SANTOS, 2018). 1.1.2 Quanto a gravidade e conduta inicial A seguir, apresenta-se os graus do afogamento, o resgate e o cadáver, sendo assim, definidos e classificados pela Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (SOBRASA), com a possibilidade de serem identificados e tratados em ambiente pré-hospitalar e, posteriormente, encaminhados ao hospital. Também serão apresentadas as taxas de sobrevivência, os sinais e sintomas para cada um deles, bem como a conduta profissional esperada (VELASCO, 2020; SZPILMAN, 2019; SANTOS, 2018). • Resgate Sinais e sintomas: a vítima se apresenta sem tosse, sem espuma no nariz/boca e sem dificuldade para respirar. Conduta: avaliar a vítima no local e liberar em seguida. • Grau 1 (taxa de sobrevivência: 100%) Sinais e sintomas: com tosse, porém sem espuma em nariz ou boca e ausculta pulmonar sem alteração, com presença de murmúrios 26 vesiculares presentes. Conduta: orientar repouso, aquecimento e medidas de conforto, não sendo necessário hospitalização ou oferta de oxigênio. • Grau 2 (taxa de sobrevivência: 99%) Sinais e sintomas: tosse com pouca espuma em nariz e/ou boca, ausculta pulmonar com estertores. Vítima consciente, com quadro de agitação. Conduta: ofertar oxigênio em cateter nasal, aquecimento, repouso, sendo necessário manter em observação hospitalar por 24h. • Grau 3 (taxa de sobrevivência: 95-96%) Sinais e sintomas: grande quantidade de espuma em nariz e/ou boca, com pulso periférico palpável. Vítima torporosa, podendo responder aos estímulos verbais. Observa-se edema agudo de pulmão (dispneia, presença de estertores na avaliação da ausculta pulmonar, espuma pela via oral, ansiedade, sensação de sufocação e cianose periférica). Conduta: ofertar oxigênio em máscara de alto fluxo e manter posição lateral de segurança para transporte (lado direito). A internação hospitalar é necessária para o tratamento em Centro de Tratamento Intensivo (CTI). • Grau 4 (taxa de sobrevivência: 78-82%) Sinais e sintomas: grande quantidade de espuma em nariz e/ou boca, sem pulso periférico, com provável edema agudo de pulmão (dispneia, ansiedade, sensação de sufocação, cianose periférica e espuma pela via oral), com quadro de hipotensão. Conduta: ofertar oxigênio em máscara de alto fluxo, observar respiração com atenção para parada respiratória e transportar na posição lateral de segurança (lado direito). Se presença de estertores, sibilos e roncos na ausculta pulmonar, haverá urgência em ventilação com via aérea 27 avançada e infusão de líquidos. Observa-se hipotensão arterial. É indicado internação em CTI. • Grau 5 (taxa de sobrevivência: 56-69%) Sinais e sintomas: parada respiratória, com pulso central. Conduta: deve-se aplicar 1 ventilação a cada 6 segundos e, em seguida, garantir via aérea avançada e manter em ventilação mecânica. Se retornar com respiração espontânea, tratar como grau 4. • Grau 6 (taxa de sobrevivência: 7-12%) Sinais e sintomas: parada cardiorrespiratória em tempo < 1 hora. Conduta: manobras de reanimação cardiopulmonar para o afogado. • Cadáver Sinais e sintomas: parada cardiorrespiratória em tempo > 1 hora. Decomposição corporal ou rigidez cadavérica. Conduta: acionar o Instituto Médico Legal (IML). 1.2 Conduta intra-hospitalar De acordo com Santos (2018), após a vítima ser encaminhada pelo serviço médico pré-hospitalar de emergência até a unidade hospitalar, o enfermeiro na sala de emergência deverá: • Aspirar vias aéreas, se necessário. • Instalar oxigenoterapia de acordo com o grau do afogamento e prescrição médica. • Garantir acesso venoso periférico. • Coletar exames laboratoriais e gasometria arterial. 28 • Monitorizar sinais vitais e atentar-se para alterações. • Avaliar o nível de consciência frequentemente. • Manter aquecimento da vítima atentando-se a hipotermia. • Encaminhar para exames de imagem. 2. Suporte básico de vida para acidentes com animais peçonhentos Os animais peçonhentos são aqueles que produzem veneno e possuem aparelho inoculador, como dentes ocos, cerdas, ferrões e aguilhões. No Brasil, nos últimos anos foram registrados aproximadamente 140 mil casos, que atualmente são incluídos na lista de notificação compulsória e devem ser notificados ao Governo Federal imediatamente após o acidente. As espécies mais conhecidas por causarem acidentes no Brasil são as serpentes, as aranhas e os escorpiões (BRASIL, 2021). 2.1 Identificar sinais e sintomas 2.1.1 Acidentes ofídicos A seguir apresentaremos os sinais e os sintomas para a identificação de picadas por acidentes ofídicos, mais conhecidos como serpentes. A jararaca, cascavel, surucucu e coral foram as serpentes de escolha para a discussão (SANTOS, 2018). • Grupo botrópico (jararaca) Sinais e sintomas: no local da picada haverá dor e aumento progressivo no local da picada, eritema, edema, equimose, calor e bolhas. Pode 29 haver complicações como hemorragia,necrose da região afetada e insuficiência renal. • Grupo crotálico (cascavel) Sinais e sintomas: sem sinais da picada local, dor não intensa, no entanto, persistente. Pode apresentar face depressiva, paralisia da musculatura ocular e visão turva, mal-estar, náuseas, cefaleia e hematúria em casos mais graves. • Grupo laquético (surucucu) Sinais e sintomas: semelhante à picada de jararaca, com presença de dor abdominal, êmese, diarreia, bradicardia e hipotensão. • Grupo elapídico (coral verdadeira) Sinais e sintomas: picada menos dolorosa, mas com adormecimento local ou de todo o membro. Pode apresentar dificuldade para articular palavras, deglutir, pálpebras caídas, salivação excessiva e paralisia da musculatura respiratória nos casos mais graves. O Quadro 1 apresenta os tipos de soros disponíveis para neutralizar o veneno das diferentes espécies de serpentes. Quadro 1 – Soroterapia para acidentes ofídicos Tipo de soro Serpente Antibotrópico Jararaca (gênero Bothrops) Anticrotálico Cascavel (gênero Crotalus) Antilaquésio Surucucu (gênero Lachesis) Antielapídico Coral verdadeira (gênero Micrurus) Fonte: adaptado de Santos (2018). 30 2.1.1 Acidentes escorpiônicos Existem diversas espécies de escorpiões, no entanto, na área médica somente a espécie tityus é importante. No Brasil, os acidentes causados pelo escorpião Tityus serrulatus são de maior gravidade, principalmente em crianças (SANTOS, 2018). O Tityus serrulatus mede aproximadamente de 6 a 7 cm, apresenta o tronco de cor marrom-escuro, patas e cauda amareladas (SANTOS, 2018). A cauda apresenta serrilha dorsal nos últimos segmentos e uma mancha escura na vesícula ventral, como pode ser observado na figura seguir. Figura 1 – Característica do escorpião Tityus serrulatus Fonte: Joa_Souz/iStock.com. A gravidade dependerá de fatores como: espécie, tamanho, quantidade de veneno inoculado, massa corporal da vítima e sua sensibilidade ao veneno. As manifestações clínicas podem ser consideradas leve, moderada ou grave e influenciarão diretamente na evolução do paciente (SANTOS, 2018). 31 Sintomas leves: dor no local da picada, podendo também ocorrer parestesia. Sintomas moderados: dor intensa no local e alterações sistêmicas como sudorese, náuseas, êmese, hipertensão leve e taquicardia. Sintomas graves: além dos sintomas leves e moderados, apresentará uma ou mais alterações sistêmicas como sudorese profusa, episódios repetidos de êmese, excesso de salivação, agitação e prostração alternadas, bradicardia, edema pulmonar, choque, crise convulsiva, insuficiência cardíaca e coma (SANTOS, 2018). Se o caso for agravado, deve-se administrar o soro antiescorpiônico ou soro antiaracnídeo (BRASIL, 2021). 2.1.2 Acidentes aracnídeos No Brasil, há três gêneros de aranhas de importância médica: Phoneutria (aranha armadeira), Loxosceles (aranha-marrom) e Latrodectus (viúva- negra) (BRASIL, 2021). • Phoneutria (aranha armadeira) Sinais e sintomas: manifestações locais como dor imediata no local, podendo ocorrer edema; eritema e parestesia. As manifestações graves podem levar ao choque, hipotensão, náuseas e êmese. • Loxosceles (aranha-marrom) Sinais e sintomas: no momento inicial da picada a dor é leve, no entanto, de seis a doze horas após a picada, ela ficará intensa no local, com edema e eritema. Em intervalo de 24 a 36 horas, o local ficará arroxeado e esbranquiçado até evoluir para a necrose. Comumente poderá surgir eritema por todo o corpo, hipertermia, náuseas, êmese e mal-estar. 32 • Latrodectus (viúva-negra) Sinais e sintomas: dor local que evolui para sensação de queimação, edema discreto e hiperestesia. Pode apresentar tremores, espasmos de membros, cefaleia, prurido, eritema de pescoço e face e, até mesmo, sintomas graves como taquicardia inicial e hipertensão. Se agravamento do caso, o soro administrado será o aracnídeo (BRASIL, 2021). 2.2 Conduta inicial no suporte básico de vida Independentemente da espécie do animal peçonhento, as condutas iniciais listadas a seguir devem ser aplicadas (BRASIL, 2021): • A vítima deverá informar aos profissionais de saúde quais as características do animal responsável pelo acidente. • O local da picada deverá ser lavado com água e sabão. • Deve-se retirar acessórios e calçados apertados com risco de piorar o quadro clínico. • Manter a vítima em repouso e com o membro comprometido elevado. • Oferecer compressas frias em caso de picadas por serpentes ou quentes para picadas de aranhas. • Não deve ser realizado torniquete nos membros, nem aplicar qualquer tipo de substância no local da ferida ou, até mesmo, “chupar o veneno”. 33 2.3 Diagnóstico e tratamento para picada de animais peçonhentos na emergência A vítima deverá procurar ou solicitar atendimento médico imediato para que receba a intervenção necessária. Em ambiente pré-hospitalar, as condutas necessárias serão simples, sendo o mais importante a identificação do animal peçonhento e o transporte imediato ao pronto- socorro mais próximo para iniciar o tratamento e a soroterapia, caso necessário em ambiente hospitalar (BRASIL, 2021). 2.3.1 Soroterapia para picadas de animais peçonhentos O Ministério da Saúde adquiriu a produção de antivenenos de quatro produtores brasileiros (Instituto Butantan, Fundação Ezequiel Dias, Instituto Vital Brasil e Centro de Produção e Pesquisa de Imunobiológicos) e realiza a distribuição entre os estados, de acordo com a listagem de Agravos e Notificações. A soroterapia é fornecida de maneira integral e gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Para cada tipo de veneno será administrado um soro específico, com concentração de anticorpos capazes de neutralizar a toxina do animal causador do acidente (BRASIL, 2021). O procedimento para a fabricação da soroterapia ocorre da seguinte maneira: após retirado o veneno do animal peçonhento, ele será diluído inúmeras vezes e injetado em pequenas doses em cavalos. O organismo desses animais de grande porte rapidamente irá produzir anticorpos para combatê-lo. Então, será retirado o sangue do animal, que passará pelo processo de separação do plasma, pois é no plasma que se concentram os anticorpos. Por fim, os anticorpos serão utilizados para a fabricação do soro (BRASIL, 2021). 34 3. Suporte básico de vida em casos de obstrução de vias aéreas por corpo estranho A obstrução das vias aéreas por corpos estranhos (OVACE) consiste no bloqueio das vias aéreas causada pela aspiração de corpo estranho (alimento, líquido ou objeto), geralmente na altura da laringe ou traqueia. A OVACE acontece com mais frequência entre menores de cinco anos, em que 65% dos casos são em crianças menores de um ano, tendo como principal causa a obstrução por líquidos ou pequenos objetos (SBC, 2019). 3.1 Avaliando a severidade O engasgo pode ser dividido quanto a sua severidade e grau de obstrução: obstrução leve ou parcial e em obstrução grave ou total (SBC, 2019). • Severidade no adulto Na obstrução leve, a vítima é capaz de responder se está engasgada de forma verbal ou não verbal, possui o reflexo da tosse preservado e ainda respira com certa dificuldade. Já na obstrução grave, ela pode estar consciente ou inconsciente. Quando o engasgo é total, mesmo com a vítima consciente, ela não será capaz de se comunicar, normalmente manifestará ao final do engasgo: respiração ruidosa e perderá o reflexo da tosse, até que a hipóxia se instale levando a inconsciência. • Severidade no bebê ou lactente Em casos de obstrução parcial em bebês ou lactentes, ele se apresentará ofegante, com respiração rápida, agitação e tosse. Já em casos de obstrução total e, ainda, consciente, irá perder a capacidade de tossir, não apresenta mais choro, os lábios ficam cianóticos e ocorre 35 a perda do tônus muscular. Se iniciada a conduta para o desengasgo, o bebê irá expelir o líquido ou alimento, caso contrário, irá evoluir para inconsciência. 3.2 Condutas: suporte básico de vida para vítimas deengasgo 3.2.1 Adultos e crianças maiores de um ano Alguns protocolos estão disponíveis na literatura e são atualizados com o passar dos anos. Quanto ao engasgo, existem diversos protocolos internacionais, sendo os mais conhecidos o americano, o europeu, o australiano e o africano. É importante ressaltar que cada protocolo aborda uma conduta diferente, respaldados normalmente por ensaios clínicos randomizados (AHA, 2020). No Brasil, o protocolo mais conhecido e utilizado é o protocolo americano, com a abordagem das recomendações da American Heart Asssociation (AHA), atualizadas em outubro de 2020. De acordo com o algoritmo (Figura 2), após suspeitar ou confirmar uma vítima de engasgo adulta, ou em criança maior de um ano de idade, primeiramente, o socorrista deve solicitar ajuda. Se a tosse for efetiva, ou seja, se a obstrução for parcial, o socorrista deverá acalmar a vítima e estimular a tosse vigorosa, atentando-se para os sinais de melhora ou piora. Se ausência de tosse, ou seja, obstrução total em vítima ainda consciente, o socorrista deverá se posicionar atrás da vítima e aplicar compressão abdominal firme e forte direcionada para dentro e para cima, até que o alimento ou objeto seja expelido conforme a Figura 3, ou até que se torne inconsciente. Ao tornar-se inconsciente, o socorrista deverá iniciar com o protocolo de reanimação cardiopulmonar (AHA, 2020). 36 Figura 2 – Algoritmo para desobstrução de vias aéreas em adultos, crianças e lactentes Fonte: adaptada de AHA (2020). 37 Figura 3 – Compressões abdominais no adulto vítima de engasgo total Fonte: lukaves/iStock.com. 3.2.2 Bebês e lactentes Vale ressaltar que a AHA considera como lactente a criança até um ano de idade, o que difere da Sociedade Brasileira de Pediatria, que considera lactente até o segundo ano de vida. De acordo com algoritmo anteriormente ilustrado (Figura 2) preconizado pelo protocolo americano, após presenciar um engasgo em bebê ou lactente, o socorrista deve solicitar ajuda. Se obstrução parcial, assim como no adulto, o socorrista irá tentar acalmar o bebê e, a depender da idade, estimular a tosse até que o bebê volte a respirar normalmente ou até que evolua para o engasgo total. Se engasgo total em bebê https://www.istockphoto.com/br/portfolio/lukaves?mediatype=illustration 38 consciente, a conduta será realizar a tosse mecânica, inicialmente com 5 golpes dorsais interescapulares (Figura 4) em sincronia com 5 compressões torácicas (Figura 4), até que o lactente consiga expelir o líquido/alimento/objeto ou até que se torne inconsciente. Se inconsciente, o protocolo de reanimação cardiopulmonar para lactentes deverá ser iniciado (AHA, 2020). Figura 4 – Golpes dorsais e compressões torácicas na vítima menor de 1 ano em engasgo total Fonte: adaptada de heidijpix/iStock.com. 4. Conclusão Independentemente da emergência encontrada, os profissionais devem se sentir preparados para oferecer o Suporte Básico de Vida de alta qualidade, observando rigorosamente sinais e sintomas que expõem a vida do paciente ao risco, como os episódios de afogamentos, acidentes com animais peçonhentos e obstruções de vias aéreas. O que diferencia um bom profissional no mercado de trabalho é estar sempre atualizado nas condutas emergenciais que são atualizadas com frequência. https://www.istockphoto.com/br/portfolio/heidijpix?mediatype=photography 39 Referências AHA. American Heart Association. Suporte Avançado de Vida Cardiovascular– ACLS. Manual para profissionais de saúde. 5. ed. Chicago: AHA, 2020. BRASIL. Ministério da Saúde. Acidentes com animais peçonhentos. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2021. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/ assuntos/saude-de-a-a-z/a/acidentes-ofidicos/acidentes-por-animais-peconhentos- o-que-fazer-e-como-evitar. Acesso em: 21 set. 2021. SANTOS, N. C. M. Urgência e emergência para enfermagem: do atendimento pré- hospitalar (APH) à sala de emergência. 7. ed. São Paulo: Érica, 2018. SBC. Sociedade Brasileira De Cardiologia. Atualização da Diretriz de Ressuscitação Cardiopulmonar e Cuidados Cardiovasculares de Emergência. Arquivo Brasileiro de cardiologia, [s.l.], v. 113, n. 3, p. 449-663, 2019. Disponível em: http:// publicacoes.cardiol.br/portal/abc/portugues/2019/v11303/pdf/edicao/234/#zoom=z. Acesso em: 22 set. 2021. SZPILMAN, D. Manual de Emergências Aquáticas. Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático – SOBRASA, [s.l.], 2019. Disponível em: https://www.sobrasa. org/new_sobrasa/arquivos/baixar/Manual_de_emergencias_aquaticas.pdf. Acesso em: 20 set. 2021. VELASCO, I. T. Medicina de emergência: abordagem prática. 14. ed. São Paulo: Manole, 2020. https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/a/acidentes-ofidicos/acidentes-por-animais-peconhentos-o-que-fazer-e-como-evitar https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/a/acidentes-ofidicos/acidentes-por-animais-peconhentos-o-que-fazer-e-como-evitar https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/a/acidentes-ofidicos/acidentes-por-animais-peconhentos-o-que-fazer-e-como-evitar http://publicacoes.cardiol.br/portal/abc/portugues/2019/v11303/pdf/edicao/234/#zoom=z http://publicacoes.cardiol.br/portal/abc/portugues/2019/v11303/pdf/edicao/234/#zoom=z https://www.sobrasa.org/new_sobrasa/arquivos/baixar/Manual_de_emergencias_aquaticas.pdf https://www.sobrasa.org/new_sobrasa/arquivos/baixar/Manual_de_emergencias_aquaticas.pdf 40 Suporte Básico de Vida na parada cardiorrespiratória Autoria: Thaísa Mariela Nascimento de Oliveira Leitura crítica: Gabriella Novelli Oliveira Objetivos • Conhecer a cadeia de sobrevivência para adultos. • Identificar os sinais clínicos da parada cardiorrespiratória. • Compreender a realização de manobras de qualidade para reanimação cardiopulmonar. • Compreender a emergência de vítimas que fazem uso de opioides. 41 1. Suporte Básico de Vida no Adulto As doenças cardiovasculares são as principais causas de morte no mundo. No Brasil, estima-se 200 mil casos de parada cardiorrespiratória (PCR) por ano, em que metade dos episódios ocorrem em ambiente pré-hospitalar e a outra metade no âmbito hospitalar. As manobras de reanimação cardiopulmonar (RCP) são atualizadas a cada cinco anos e é importante que os profissionais que atuam em serviços de emergência recebam as novas orientações (MOURA et al., 2019). O Suporte Básico de Vida (SBV) é o protocolo da American Heart Association (AHA) que enfatiza o reconhecimento dos sinais clínicos de PCR e a realização das manobras de RCP por socorristas e leigos. Ainda, evidencia-se que a sobrevida após as manobras RCP quando bem aplicadas, inicialmente pelo SBV e posteriormente pelo Suporte Avançado de Vida (SAV), varia de 2 a 49%. A PCR ainda é responsável pela alta morbimortalidade mesmo em situações de atendimento ideal, seguindo protocolos, como o preconizado pela AHA (2020). Desse modo, o treinamento de profissionais e leigos está atrelado à melhor taxa de sobrevida (MOURA et al., 2019). 1.1 Cadeia de sobrevivência do adulto Na Figura 1, observe a diferença entre as cadeias de sobrevivência. A primeira cadeia se aplica ao PCR intra-hospitalar (PCRIH), já a segunda cadeia refere-se ao PCR extra-hospitalar (PCREH). 42 Figura 1 – Cadeia de sobrevida para PCRIH e PCREH Fonte: AHA (2020, p. 7). O uso das cadeias de sobrevivência é uma orientação da AHA no reconhecimento dos cuidados de pacientes em PCR no ambiente intra e extra-hospitalar. O foco da cadeia da PCRIH é o monitoramento dos pacientes por meio de um sistema de alerta de deterioração clínica na identificação de sinais de piora clínica e, na vigência de algum sinal, agir imediatamente para evitar a PCR. Quando acontece a PCR no ambiente hospitalar, as equipes interdisciplinares devem trabalhar de forma equilibrada com o objetivo do Retorno da Circulação Espontânea (RCE) e os cuidados pós-PCR (AHA, 2020). A cadeia da PCREH reforça a importância da identificação de uma PCR por um socorristaleigo e o desenvolvimento de ações rápidas, como solicitar ajuda, dar início a RCP, ter acesso ao Desfibrilador Externo 43 Automático (DEA) em locais públicos até que o serviço médico avançado chegue ao local e assuma os cuidados (AHA, 2020). Nas diretrizes de 2020 da AHA foi adicionado o sexto elo nas duas cadeias. O elo da recuperação representa a reabilitação física, psíquica e social do paciente pós-PCR após a alta hospitalar, por meio da avaliação e ação interdisciplinar da equipe de saúde (AHA, 2020). 1.2 Reconhecimento dos sinais clínicos da parada cardíaca Antes de tudo, em ambiente extra-hospitalar, se atendimento realizado por equipe profissional ou pessoa leiga é necessário que a cena seja um local seguro para atuação, pois, se o local apresentar riscos (explosão, agressão, rodovia não sinalizada etc.), ele se tornará a próxima vítima. Já se o local é seguro, o profissional/leigo poderá prosseguir com o atendimento. A PCR é definida como uma condição súbita da interrupção total da atividade mecânica ventricular e da oxigenação tissular, sendo confirmada pelos sinais de inconsciência, ausência de respiração e de ausência de pulso central (MOURA et al., 2018). Para o reconhecimento dos sinais clínicos da PCR, o profissional deverá realizar: 1) estímulo tátil forte sobre os ombros da vítima, seguido de estímulo verbal “senhor, senhor”; 2) se inconsciência, simultaneamente o profissional deverá observar se a movimentação torácica está ausente ou em gasping (movimento respiratório assíncrono e não efetivo); 3) checar pulso central (carotídeo). O reconhecimento da respiração e do pulso pode ocorrer simultaneamente e em até 10 segundos. Vale ressaltar que, leigos não foram treinados para avaliar o pulso, portanto, a confirmação da PCR por leigo acontece se for observado que a vítima não responde e não respira normalmente (AHA, 2020). Após o reconhecimento dos sinais clínicos da PCR, os profissionais darão início as manobras de RCP no atendimento do SVB, que serão 44 representados pelo acrônimo “CABD” primário (SBC, 2019). Na língua inglesa utiliza-se o seguinte mnemônico para facilitar a execução das manobras: • C – Circulation (compressões torácicas). • A – Airway (vias aéreas). • B – Breathing (respiração). • D – Desfibrillation (desfibrilação). A prioridade para iniciar com as compressões se deve a necessidade em gerar fluxo sanguíneo, além de evitar os atrasos inerentes às tentativas para ventilações adequadas. 1.3 “C”–Recomendações para a qualidade das compressões torácicas Os principais pontos a serem observados nas compressões torácicas são: posicionamento das mãos no tórax, profundidade, frequência, retorno do tórax entre as compressões e a mínima interrupção das manobras. Todos esses pontos destacados permitem gerar fluxo sanguíneo adequado para a oxigenação dos tecidos (Figura 2). Se o atendimento for realizado por leigo, o protocolo AHA (2020) recomenda apenas compressões torácicas contínuas, aumentando a chance de sobrevida da PCREH. 45 Figura 2 – Qualidade das compressões torácicas Fonte: adaptada da AHA (2020). Figura 3 – Posicionamento de mãos, braços e do socorrista durante as compressões torácicas Fonte: lukaves/iStock.com. 46 1.3.1 Evidência científica das recomendações e seus níveis para realização de compressões torácicas A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), em sua atualização de 2019, apresenta os graus de recomendações e os níveis de evidência científicas quanto a realização de técnicas para compressões torácicas. As classes são subdivididas em: I, II, IIA, IIB e III; já os níveis de evidência em A, B e C. A classe de recomendação “I” indica evidência conclusiva e consenso de que o procedimento é eficaz e seguro; “II” indica divergência de opiniões sobre a eficácia do procedimento; na classe “IIA”, o procedimento é aprovado pela maioria dos profissionais; na classe “IIB”, ele se apresenta com eficácia menos estabelecida e escassa opinião a favor do procedimento; na classe “III” procedimento não eficaz. Quanto ao nível de evidência, o nível “A” apresenta dados de estudos de ensaios randomizados e metanálises; o nível “B” apresenta dados a partir de metanálise com menos robustez, por meio de único estudo randomizado ou de estudos não randomizados; no nível “C”, os dados são consensuais entre especialistas (SBC, 2019). A Quadro 1 apresenta a técnica realizada e sua respectiva classe de recomendação e nível de evidência. Quadro 1 – Técnica, classe e nível de evidência em compressões torácicas Técnica Classe de recomendação Nível de evidência Posicionar a região hipotenar de uma das mãos entrelaçadas sobre o terço distal do esterno IIA C Comprimir em frequência de 100 a 120 por minuto IIA C Comprimir em profundidade mínima de 5 e máxima de 6 cm I C 47 Permitir o retorno total do tórax entre as compressões (não se apoiar) IIA C Diminuir o intervalo entre o choque e o retorno das compressões I C Pausar o máximo de 10 segundos para aplicar as duas ventilações IIA C Aplicar 30 compressões a cada 2 ventilações de forma simultânea IIA C Utilizar equipamentos de feedback durante RCP em tempo real IIB B O atendente telefônico do serviço de emergência deverá orientar a compressão torácica contínua até a chegada do serviço médico I C Fonte: adaptado de SBC (2019). 1.4 “A” e “B”–Recomendações para a qualidade da abertura das vias aéreas e ventilação A técnica correta para se aplicar as ventilações é necessário que o profissional saiba realizar a abertura da via aérea. A abertura pode ser realiza de duas maneiras, sendo elas a inclinação da cabeça para elevar o queixo (chin lift) ou a tração do ângulo da mandíbula (jaw thrust), demonstradas pela Figura 4 (SBC, 2019). Figura 4 – Abertura das vias aéreas Fonte: adaptada de SBC (2019). https://www.google.com/search?rlz=1C1CHZN_pt-PTBR942BR942&q=manobra+jaw+thrust&spell=1&sa=X&ved=2ahUKEwj_0frGqKLzAhVMppUCHc82CZwQkeECKAB6BAgBEDY 48 Caso o socorrista não consiga realizar a manobra de tração da mandíbula (jaw thrust) e suspeite de trauma cervical, sem evidência de trauma na cabeça, ele poderá optar pela inclinação da cabeça e elevação do queixo (chin lift). Segundo estudos, apenas 0,12 a 3,7% dos pacientes apresentam lesão espinhal se aplicado a inclinação da cabeça e elevação do queixo. O risco é aumentado nos casos de lesão craniofacial ou Glasgow menor que 8 (SBC, 2019). Após a abertura da via aérea, também é indicado a inserção da cânula orofaríngea para manter a via área pérvia em pacientes com comprometimento do nível de consciência. Primeiro é preciso mensurar o tamanho ideal da cânula (comissura labial ao lóbulo da orelha) e, depois, inseri-la na boca com a ponta voltada para cima e, em seguida, realizar a rotação para posicioná-la na orofaringe, prevenindo a queda da língua que pode dificultar a via aérea pérvia (SBC, 2019) (Figura 5). Figura 5 – Inserção da cânula orofaríngea Fonte: ollo/iStock.com. https://www.google.com/search?rlz=1C1CHZN_pt-PTBR942BR942&q=manobra+jaw+thrust&spell=1&sa=X&ved=2ahUKEwj_0frGqKLzAhVMppUCHc82CZwQkeECKAB6BAgBEDY 49 Durante a RCP, as ventilações devem ser ofertadas de forma síncrona, sendo duas ventilações a cada 30 compressões, em que cada ventilação deve ter a duração de 1 segundo, para que proporcione a elevação torácica ofertando aproximadamente 500 ml de oxigênio (O2), quando conectado a fonte de O2 complementar de 10-15l/min. A técnica indicada para o manuseio e vedação da máscara conectada a bolsa- válvula-máscara é técnica CE, em que as mãos ficam posicionadas no rosto do paciente formando a letra C, como ilustrada a Figura 7 (AHA, 2020). Hiperventilar é contraindicado, pelo fato de aumentar a pressão intratorácica com a possibilidade de diminuir a pré-carga e o débito cardíaco. Além disso, há risco da hiperinsuflação gástrica ao desencadear vômito, broncoaspiração e limitação diafragmática. Profissionais e leigos podemhesitar em aplicar ventilações boca a boca na vítima de PCR, sendo assim, é indicado a utilização de mecanismos de barreira, um exemplo é a pocket mask (máscara de bolso) (Figura 6) que garante a não contaminação de quem está prestando o atendimento, ou a própria utilização da Bolsa Válvula Máscara (BVM), se disponível (Figura 7) (SBC, 2019). Figura 6 – Pocket mask Figura 7 – Bolsa Válvula Máscara Fonte: LCOSMO/iStock.com. Fonte: Mykhailo Pervak/iStock.com. 50 1.5 “D”– Desfibrilação A cada minuto sem desfibrilação, decorrido desde o início do episódio arrítmico súbito, a probabilidade de sobreviver diminui em 7 a 10%. Em cenários de RCP realizados por leigos que utilizam em sincronia o Desfibrilador Externo Automático (DEA), as taxas de sobrevida são mais otimistas, chegando até 85% (SBC, 2019). A desfibrilação precoce é o tratamento de choque para vítimas de PCR que se apresentam em ritmos chocáveis, sendo eles a Fibrilação Ventricular (FV) ou Taquicardia Ventricular Sem Pulso (TVSP). Nos 3 a 5 minutos iniciais da de PCR em FV, o coração se encontra propício a receber o choque, no entanto, após 5 minutos é diminuída a amplitude de FV devido à depleção do miocárdio e seu substrato energético. Os protocolos preconizam que o desfibrilador deve ser utilizado assim que disponível, pois, a importância de se administrar o primeiro choque entre 3 e 5 minutos, irá aumentar a chance de sobrevida (SBC, 2019). O choque pode ser realizado com um desfibrilador manual pelo SAV ou pelo DEA no atendimento do SBV. O DEA pode ser utilizado por leigos ou profissionais da saúde, sendo um equipamento portátil e de fácil manipulação. É importante ressaltar que, para fixar as pás no tórax do paciente, as compressões torácicas não devem ser cessadas. Após aplicadas as pás no tórax do paciente, o equipamento será capaz de interpretar o ritmo cardíaco, indicar ou não a desfibrilação, bem como selecionar o nível de energia e carregamento automático, cabendo ao profissional apenas pressionar o botão de choque quando indicado (AHA, 2020). A cada 2 minutos, o DEA avalia o ritmo cardíaco e, antes disso, irá solicitar aos profissionais que se afastem da vítima (“se afaste do paciente”, “analisando ritmo”, “choque recomendado” ou “choque não recomendado”) e será nesse exato momento a troca de função entre os profissionais. Após a leitura do ritmo, se indicado o choque, 51 o profissional deverá pressionar o botão do choque e retornar as compressões imediatamente. Caso o choque não seja indicado, as compressões também devem retornar imediatamente. Caso ocorra o RCE, o DEA não deve ser desligado e suas pás não devem ser removidas do tórax do paciente e, se não houver suspeita de trauma, a vítima poderá ser lateralizada até que o suporte avançado assuma o caso (SBC, 2019). Figura 8 – Utilização de Desfibrilador Externo Automático Fonte: IROHA/iStock.com. 1.5.1 Uso do DEA em situações especiais • Se excesso de pelos no tórax, será necessário remover somente no local da aplicação das pás. 52 • Se tórax molhado, o profissional deverá secá-lo por completo e, caso sob poça de água, remover o mais rápido possível a vítima para outro local. • Se presença de marca-passo ou (CDI) Cardioversor Desfibrilador Implantável, as pás não devem ser coladas em cima do local de implantação, e sim próxima a ele. • Crianças com até 25kg ou 8 anos devem utilizar pás pediátricas. Se disponível apenas as pás de adulto para o mesmo peso ou idade, elas poderão ser utilizadas posicionando uma pá em região anterior do tórax e a segunda pá em região posterior do tórax. No entanto, pás pediátricas não devem ser utilizadas em adultos, pois, a energia disponibilizada para o choque será insuficiente. • Para lactentes (0 dias a 1 ano), o desfibrilador manual será preferível e, caso não disponível, poderá ser utilizado um DEA (SBC, 2019). 2. Parada cardíaca associada a opioides Dois novos algoritmos de emergência associada a opioides foram adicionados na atualização da AHA, um para leigo e outro para profissionais da saúde. A seguir, apresentamos o algoritmo para profissionais de saúde (Figura 9). 53 Figura 9 – Algoritmo associado a opioide para profissionais de saúde Fonte: AHA (2020, p. 9). Opioide é definido como composto químico ou droga psicoativa que seja capaz de produzir efeitos farmacológicos com propriedades analgésicas. Os opioides estão associados com a alteração do sistema nervoso central e, consequentemente, a depressão respiratória que, por sua vez, poderá evoluir para uma PCR (AHA, 2020). A droga naloxona pode ser administrado por leigos? Nos EUA existe um dispositivo de naloxona aprovado para ser utilizado por leigos. Já no Brasil, não há esse dispositivo, pois, deve-se confirmar por profissionais de saúde com segurança e eficácia, sendo introduzida como droga de escolha no algoritmo de suspeita de intoxicação por opioide da AHA. Se vítima com pulso presente e sem respiração normal ou gasping, 54 ou até mesmo uma PCR além de aplicar os cuidados convencionais os socorristas deverão administrar a droga por via intramuscular ou inalatória (AHA, 2020). 3. Considerações finais Então, para garantir um desfecho satisfatório e alcançar os objetivos principais da RCP, que é o RCE e a qualidade de vida após a alta hospitalar, é necessário que a equipe seja capaz de prover rapidamente a sequência de atendimentos do SBV, a fim de que seja oportunizado o fluxo de oxigênio e sangue para o cérebro e coração, visto que após 4 minutos de hipóxia, a vítima apresentará lesão cerebral. Assim, cada minuto de atraso no reconhecimento da PCR e início das manobras de RCP de qualidade, a vítima perde de 7-10% da chance de sobrevida (SBC, 2019). Referências AHA. American Heart Association. Manual de Destaques da Atualização das Diretrizes da American Heart Association (AHA). Chicago: AHA, 2020. SBC. Sociedade Brasileira De Cardiologia. Atualização da diretriz da ressuscitação cardiopulmonar e cuidado cardiovasculares de emergência. Arquivo Brasileiro de Cardiologia, [s.l.], v. 113, n. 3, p. 449-663, 2019. MOURA, J. G. et al. Conhecimento e atuação da equipe de enfermagem de um setor de urgência no evento parada cardiorrespiratória. Cuidado é Fundamental, [s.l.], v. 11, n. 3, p. 634-640, 2019. 55 Suporte Avançado de Vida na parada cardiorrespiratória Autoria: Thaísa Mariela Nascimento de Oliveira Leitura crítica: Gabriella Novelli Oliveira Objetivos • Conhecer as últimas atualizações do algoritmo de parada cardiorrespiratória no adulto. • Compreender as manobras e as condutas no Suporte Avançado de Vida Cardiovascular. • Compreender o tratamento medicamentoso na parada cardiorrespiratória. • Identificar as causas reversíveis da parada cardiorrespiratória. 56 1. Atualização do último algoritmo de Parada cardiorrespiratória (PCR) da American Heart Association (AHA, 2020) O International Liaison Committee on Resuscitation (ILCOR) é um comitê multicêntrico internacional que reúne representantes de diferentes órgãos, entre eles, a American Heart Association (AHA). Esse comitê estimula a produção de estudos na área da emergência e, em especial, na área da Parada Cardiorrespiratória (PCR) e Reanimação Cardiopulmonar (RCP). As atualizações das diretrizes de PCR/RCP ocorrem a cada 5 anos e, atualmente, a última publicação foi em outubro de 2020 (AHA, 2020). O conjunto de manobras para cenários de PCR/RCP visam o fornecimento de oxigênio por meio da circulação sanguínea, tratamento farmacológico e descarga elétrica. A Figura 1 apresenta o último algoritmo de PCR para adultos publicado pela AHA (2020). Na sequência, abordaremos detalhadamente as habilidades, as atitudes e as competências a serem realizadas pelos profissionais enfermeiros, membros da equipe do Suporte Avançado de Vida (SAV) (AHA, 2020). 57 Figura 1 – Algoritmo de PCR para adultos da AHA (2020) Fonte: AHA (2020, p. 8). 58 1.1 Fisiopatologia daparada cardiorrespiratória A PCR pode ser dividida em três fases distintas: elétrica, hemodinâmica e metabólica, apresentadas na figura a seguir. Figura 2 – Fases fisiopatológicas da PCR Fonte: adaptada de Velasco (2020). 1.2 Relação compressão versus ventilação no Suporte Avançado de Vida Cardiovascular (SAVC) As compressões torácicas e a ventilação artificial têm como objetivo proporcionar a função contrátil cardíaca manualmente e garantir uma perfusão sanguínea coronariana e cerebral adequada e oxigenada até que ocorra o Retorno da Circulação Espontânea (RCE). Sobre a relação da compressão/ventilação, diferente do Suporte Básico de Vida (SBV) que sincroniza as duas técnicas na proporção de 30 compressões a cada 2 ventilações; no SAV, após a instalação da via aérea avançada, as compressões e ventilações serão contínuas e não sincronizadas, de modo que elas sejam aplicadas em uma velocidade de 100 a 120 compressões por minuto e as ventilações sejam realizadas a cada 6 segundos de intervalo uma da outra (AHA, 2020). 59 A via aérea avançada será garantida por meio de intubação orotraqueal (IOT), via área definitiva, ou por máscara laríngea, dispositivo extraglótico, com tempo de permanência de 4 horas, quando a via aérea for considerada difícil (SBC, 2019). De acordo com o protocolo atual, se ritmo não chocável, a via aérea avançada deve ser garantida o mais rápido possível (primeiro ciclo), entretanto, se ritmo chocável, ela deve ser instalada idealmente após o segundo choque (segundo ciclo). Após fixado o dispositivo de via aérea avançada, deverá ser administrada 1 ventilação a cada 6 segundos (10 ventilações por minuto), e as compressões torácicas deverão ser mantidas em profundidade de pelo menos 5 cm e não devem exceder 6 cm, em velocidade de 100 a 120 por minuto com o retorno total do tórax após cada compressão. Recomenda-se a capnografia para monitorar e confirmar a posição do tubo orotraqueal. A capnografia é um dispositivo que mede a quantidade do dióxido de carbono ao fim da expiração. Se valor inferior a 10mmHg indica que as compressões estão ineficazes; mas se igual ou maior que 15mmHg indica intubação orotraqueal adequada; por fim, se maior que 35mmHg indica que houve o RCE (ACLS, 2020). 1.3 Desfibrilador manual Assim que disponível o desfibrilador, o equipamento deve estar ligado no modo desfibrilador. As pás devem receber o gel condutor e serem posicionadas no tórax do paciente para avaliação do ritmo cardíaco. Uma das pás deve ser posicionada ao lado direito do tórax, abaixo da clavícula, próximo a metade superior do esterno (infraclavicular direita). A outra pá, por sua vez, deve ser posicionada ao lado esquerdo, abaixo do mamilo e próximo da axila (inframamilar esquerda), como mostra a Figura 3. É importante ressaltar que, se o paciente for portador de dispositivo implantado, a pá infraclavicular deve ser posicionada a pelo menos 3 centímetros de distância do dispositivo (SBC, 2019). 60 Os desfibriladores podem ser monofásicos ou bifásicos. Para desfibriladores monofásicos, os choques devem ser administrados a 360J, já para os bifásicos devem ser carregados inicialmente em 120J até 200J. Nos casos de carga desconhecida dos aparelhos bifásicos, a AHA (2020) recomenda usar a carga máxima do aparelho (SBC, 2019). Figura 3 – Posicionamento das pás para análise de ritmo cardíaco e choque Fonte: gorodenkoff/iStock.com. Há quatro ritmos cardíacos encontrados na PCR: a Fibrilação Ventricular (FV) e a Taquicardia Ventricular sem Pulso (TVSP) são os ritmos chocáveis (Figura 4), já a assistolia e a Atividade Elétrica sem Pulso (AESP) são os ritmos não chocáveis. A análise o ritmo deverá ocorrer a cada 2 minutos, bem como a troca do profissional responsável pelas compressões torácicas (ACLS, 2020). Em ambiente pré-hospitalar, 80% dos episódios de PCR têm início com FV e TVSP, e quando tratados preferivelmente de 3 a 5 minutos após a PCR, a taxa de sobrevida será de 50 a 70%. Em ambiente intra-hospitalar, 61 a assistolia e a AESP são predominantes, com taxa de sobrevida menor de 17% (SBC, 2019). • Manobras de RCP com ritmo chocável De acordo com os pareceres do Conselho Federal de Medicina nº 3.984/2001 e nº 26/2003, a intubação orotraqueal e o manejo do desfibrilador cardíaco são procedimentos de competência médica. Na presença do desfibrilador e identificado ritmo chocável (FV ou TVSP), o profissional médico deverá administrar o choque e retornar imediatamente as manobras de RCP. Em seguida, deve-se providenciar acesso venoso periférico para administração de epinefrina. Somente após o segundo choque a epinefrina deverá ser administrada e a via aérea avançada definida. Em todas as situações de ritmo chocável, o profissional responsável pelo manuseio das pás, o médico, deverá verbalizar que: ele se afasta, que todos se afastem, que o choque será administrado em 3,2,1 e finalizar com choque administrado. Vale ressaltar que, imediatamente após administração do choque, as compressões torácicas e as ventilações devem retornar sem demora (AHA, 2020; SBC, 2019). A desfibrilação sequencial dupla para casos de ritmo chocável refratário não é mais recomendada, trata-se da prática de administrar choques simultâneos utilizando dois desfibriladores (AHA, 2020). Figura 4 – Traçados eletrocardiográficos Fonte: adaptada de Thomaz (2018). 62 • Manobras de RCP com ritmo não chocável Se ritmo não chocável (assistolia ou AESP) no início do protocolo, todas as técnicas (acesso intravenoso, administração de medicamento, via aérea avançada e instalação de eletrodos) deverão ser realizas já no primeiro ciclo da RCP. Se assistolia, a equipe deverá realizar o protocolo de linha reta, por meio da checagem da conexão dos eletrodos, aumento do ganho do monitor e checagem de duas derivações. Em caso de traçado organizado no monitor, deverá ocorrer a checagem de pulso e, se ausente, considera-se AESP (AHA, 2020). 1.4 Tratamento medicamentoso na Parada Cardiorrespiratória (PCR) A literatura é clara quanto as prioridades durante uma PCR. As duas prioridades são RCP de alta qualidade e a desfibrilação precoce. Por outro lado, a definição de via aérea avançada e a administração de medicamentos serão secundários, pois, não há evidência científica de que o protocolo medicamentoso seja benefício para a alta hospitalar e melhoria da função neurológica (AHA, 2020). • Vias de administração Historicamente, durante as manobras de RCP do SAV, a equipe tinha como costume administrar as medicações pelas vias intravenosas (IV) ou endotraqueal (ET). No entanto, a absorção da droga pela via ET é deficiente e a sua dosagem ideal é desconhecida. Por esse motivo, a AHA (2020) recomenda as vias intravenosa e intraóssea. Os profissionais, ainda, devem preferir o acesso intravenoso (IV) para administração das medicações e, se inviável, o intraósseo (IO) será considerado (ACLS, 2020). 63 • Sequência e técnica para administração medicamentosa As medicações utilizadas para tratamento de PCR são: epinefrina, amiodarona ou lidocaína. Epinefrina A epinefrina se apresenta da seguinte forma: 1 mg = 1 ml = 1 ampola. Deve ser a primeira droga independente de ritmo chocável, ou não, e deve ser administrada com o intervalo de 3 a 5 minutos, da seguinte forma (ACLS, 2020): 1° passo: será administrado 1 mg de epinefrina (pura) em bolus. 2° passo: será realizado um bolus de fluído intravenoso de 20 ml. 3° passo: o membro deverá ser elevado pelo tempo de 10 a 20 segundos para auxiliar a entrada do medicamento no sistema circulatório central. Amiodarona A amiodarona se apresenta da seguinte forma: 150 mg = 3 ml = 1 ampola. Se ritmo chocável, a segunda medicação a ser administrada será a amiodarona, que deverá ser intercalada em dois momentos com a adrenalina. A primeira dose de amiodarona será de 300 mg = 6 ml = 2 ampolas; já a segunda dose será de 150 mg. A amiodarona deverá ser administrada da seguinte forma (ACLS,2020): 1° passo: será administrado 300 mg de amiodarona (pura) em bolus. 2° passo: será realizado um bolus de fluido intravenoso de 20 ml (soro fisiológico ou água destilada). 3° passo: o membro deverá ser elevado pelo tempo de 10 a 20 segundos para auxiliar a entrada do medicamento no sistema circulatório central. 64 Lidocaína A lidocaína pode ser utilizada como alternativa à amiodarona, pois estudos recentes realizados em ambientes extra-hospitalar apontaram que lidocaína apresentou taxa semelhante de sobrevida quando comparada à amiodarona. A lidocaína se apresenta da seguinte forma: 10 mg/ml ou 20 mg/ml. A dose inicial será de 1,5mg/kg e uma segunda dose de 0,5 a 0,75 mg/kg poderá ser administrada se o ritmo chocável persistir. O bolus de fluido intravenoso e a elevação do membro também deverão ocorrer (ACLS, 2020). • Atualização para uso da epinefrina O algoritmo da PCR para adultos foi atualizado, também com o objetivo de enfatizar a administração precoce da epinefrina em vítimas que inicialmente apresentem ritmo não chocável. Ou seja, já na primeira análise de ritmo, se a equipe identificar um ritmo não chocável, a epinefrina deverá ser administrada imediatamente após garantida a via de acesso venoso periférico. Para a vítima que apresenta ritmos chocáveis, o algoritmo orienta que a epinefrina deve ser administrada após o segundo choque (AHA, 2020). A orientação para administrar epinefrina precocemente em ritmos não chocáveis se deu por estudos randomizados com mais de oito mil e quinhentas vítimas de parada cardíaca extra-hospitalar (PCREH), que associaram a administração precoce de epinefrina com aumento do RCE em ritmos não chocáveis. Entretanto, para as vítimas que apresentem ritmos chocáveis, a ciência apoia que deve ser priorizado a desfibrilação precoce e as manobras de RCP e somente administrar a primeira epinefrina caso as tentativas iniciais de desfibrilação e manobras não forem efetivas após o segundo choque (AHA, 2020). 65 1.5 Causas reversíveis da PCR Um ponto muito importante é que a equipe busque identificar e tratar as possíveis causas reversíveis da PCR, para isso, utiliza-se o mnemônico 5Hs e 5Ts que está descrito no quadro a seguir. Quadro 1 – Causas reversíveis da PCR e seus respectivos tratamentos 5 Hs Conduta 5Ts Conduta Hipo/ Hipercalemia Gluconato de cálcio e bicarbonato Tóxicos Antagonista específico e prolongamento de reanimação cardíaca Hipóxia Suporte de oxigênio adequado e intubação orotraqueal Tamponamento cardíaco Pericardiocentese Hipovolemia Infusão de cristaloides ou sangue Trombose coronariana Angioplastia coronária Hipotermina Manta termina e cristaloide aquecido Tromboembolismo pulmonar Trombólise Hidrogênio (acidose metabólica) Bicarbonato Tensão pulmonar (pneumotórax) Punção de alívio e drenagem de tórax Fonte: adaptado de Velasco (2020). Entre as causas reversíveis de PCR com o ritmo de AESP, a hipovolemia corresponde a 25%, o tamponamento cardíaco de 4 a 15 % e o tromboembolismo pulmonar de 4 a 7,6% das causas. Segundo Velasco (2020), o pneumotórax hipertensivo é mais raro. 2. Distribuição de funções e posicionamento da equipe Para a realização do SAV, a equipe deverá ser formada idealmente por seis profissionais com funções prévias estabelecidas: líder, compressor, 66 desfibrilador, via aérea, medicações e cronometrista (ACLS, 2020) (Figura 5). 1. O líder deverá atribuir funções aos demais membros da equipe. Ele irá tomar as decisões e determinar condutas a serem realizadas. Em caso de equipe reduzida, recomenda-se que o líder assuma as vias aéreas pelo amplo campo da visão que a função proporciona. Um bom líder facilita o atendimento da equipe, monitora a atuação de cada membro e apresenta exemplo de comportamento. 2. O compressor executa 2 minutos de compressões torácicas, ou menos, a depender de sua exaustão e alterna com o membro da equipe responsável pelo desfibrilador, ou com o responsável pelas vias aéreas. 3. No desfibrilador, o responsável opera o equipamento e alterna com o compressor no exato momento em que a análise do ritmo é feita pelo líder. 4. Na via aérea, o responsável irá aspirar secreções se necessário, administrar ventilações com a Bolsa Válvula Máscara. 5. Nas medicações, o responsável irá garantir o acesso intravenoso ou intraósseo, aspirar e administrar medicamentos, seguindo o comando do líder. 6. O cronometrista deverá anotar em quadro, todas as ações, como as drogas administradas e o horário de administração, quantidades de choques administrados e o ritmo, verbalizar o fim de cada ciclo de 2 minutos para a troca de função entre os compressores. 67 Figura 5 – Distribuição de funções para equipe de alto desempenho Fonte: adaptada de ACLS (2020). 3. Retorno da Circulação Espontânea (RCE) e cuidados pós-parada cardiorrespiratória Os sinais do RCE são: presença de pulso e pressão arterial, aumento agudo prolongado de pressão expiratória final de dióxido de carbono (PETCO2) igual ou maior que 40 mmHg. O cuidado com o paciente após RCE requer atenção especial à oxigenação, manutenção e controle de pressão arterial, reperfusão das coronárias, controle de temperatura e testes neuroprognóstico multimoldal. O profissional deverá utilizar o método mneumônico ABCDEF nos cuidados pós-PCR (ACLS, 2020): 68 a. Avaliar a permeabilidade da via aérea; aspirar, se necessário; se Glasgow menor que 8 e paciente ainda não intubado, o procedimento deverá ser realizado. Uma segunda opção também será a inserção de máscara laríngea. b. Proporcionar boa ventilação (spo2 92-98%), realizar ausculta cardíaca e pulmonar. A AHA (2020) orienta a utilização da capnografia contínua com forma de onda para confirmar e monitorar o tubo orotraqueal. c. Deve ser mantida a monitorização contínua dos sinais vitais, para que a enfermagem possa avaliar seus respectivos parâmetros hemodinâmicos. Além disso, é essencial que a pressão arterial média se mantenha igual ou maior que 65 mmHg. d. Para a obtenção de diagnósticos diferenciais serão solicitados exames laboratoriais, exames de imagens (tórax e crânio), eletrocardiograma de 12 derivações e avaliação do estado glicêmico. e. O paciente será encaminhado para a Unidade de Terapia Intensiva ou Unidade Coronariana para garantir a assistência especializada. f. Frozen, o paciente deverá permanecer com temperatura entre 32 e 36°C nas primeiras 24 horas pós-PCR. 4. Considerações finais A sobrevida de vítimas de PCR em ambiente extra-hospitalar ou hospitalar está diretamente atrelada ao reconhecimento precoce dos sinais clínicos da PCR e o início de manobras de qualidade pela equipe profissional atuante. É essencial que os profissionais estejam atualizados e capacitados para ofertar o SAV . 69 Referências ACLS. Suporte Avançado de Vida em Cardiologia. Suporte Avançado de Vida Cardiovascular. 2020. AHA. American Heart Association. Manual de Destaques da Atualização das Diretrizes da American Heart Association (AHA). Chicago: AHA, 2020. CFM. Conselho Federal de Medicina. Processo-consulta CFM n° 3.984/2001 PC/ CFM/nº 26/2003. Intubação orotraqueal e desfibrilação cardíaca são atos médicos, sendo permitido a leigos, na ausência de médico, a utilização de desfibrilador cardíaco automático externo. Cursos que ensinam atos médicos só podem ter como alunos médicos e/ou estudantes de Medicina. Brasília, DF: CFM, 2003. SBC. Sociedade Brasileira de Cardiologia. Atualização da Diretriz da Ressuscitação Cardiopulmonar e Cuidado Cardiovasculares de Emergência. Arquivo Brasileiro de Cardiologia, [s.l.], v. 113, n. 3, p. 449-663, 2019. THOMAZ, M. C. A. Urgência e emergência em enfermagem. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A, 2018. VELASCO, I. T. Medicina de emergência: abordagem prática. 14. ed. São Paulo. Manole, 2020. 70 BONS ESTUDOS! Sumário Aspectos éticos na emergência e o Suporte Básico e Avançado de Vida para queimaduras e traumatismos
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