Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE FARMÁCIA, ODONTOLOGIA E ENFERMAGEM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS SHEILLA ALESSANDRA FERREIRA FERNANDES ACOMPANHAMENTO FARMACOTERAPÊUTICO DE PACIENTES COM DEPRESSÃO E/OU TRANSTORNOS DE ANSIEDADE EM CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL: DO ENSAIO CLÍNICO À IMPLANTAÇÃO DO SERVIÇO FORTALEZA 2020 SHEILLA ALESSANDRA FERREIRA FERNANDES Acompanhamento Farmacoterapêutico de pacientes com depressão e/ou transtornos de ansiedade em centro de atenção psicossocial: do ensaio clínico à implantação do serviço Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas, da Faculdade de farmácia da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do Título de Doutor em Ciências Farmacêuticas. Área de concentração em Farmácia Clínica e Vigilância Sanitária. Orientador: Profª. Drª. Marta Maria de França Fonteles FORTALEZA 2020 ACOMPANHAMENTO FARMACOTERAPÊUTICO DE PACIENTES COM DEPRESSÃO E/OU TRANSTORNOS DE ANSIEDADE EM CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL: DO ENSAIO CLÍNICO À IMPLANTAÇÃO DO SERVIÇO Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Ciências Farmacêuticas, da Faculdade de farmácia da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do Título de Doutor em Ciências Farmacêuticas. Área de concentração em Farmácia Clínica e Vigilância Sanitária Aprovada em 22/12/2020 BANCA EXAMINADORA _____________________________________________ Profª. Drª. Marta Maria de França Fonteles Universidade Federal do Ceará (Presidente) _____________________________________________ Profª. Drª. Chiara Ermínia da Rocha Universidade Federal do Sergipe (Avaliadora Externa) ___________________________________________ Profº. Dra. Walleri Christini Torelli Reis Universidade Federal da Paraíba (Avaliador Externo) _____________________________________________ Profª. Drª. Ana Paula Soares Gondim Universidade Federal do Ceará (Avaliadora Interna) ___________________________________________ Profª. Dr. Paulo Sérgio Dourado Arrais Universidade Federal do Ceará (Avaliador Interno) ___________________________________________ Profª. Drª. Nirla Rodrigues Universidade Federal do Ceará (Suplente Avaliadora Interna) _____________________________________________ Profª. Drª. Giselle de Carvalho Brito Universidade Federal do Ceará (Suplente Avaliadora Externa) AGRADECIMENTOS Primeiramente, a Deus, este doutorado é DELE, promessa DELE, pois foi ELE que me sustentou em todos os momentos. À Nossa Senhora das Graças, que me permitiu seguir sob o seu manto sagrado. Gratidão ao meu anjo da guarda que me iluminou sempre e aos livramentos proporcionados por São Miguel Arcanjo nas inúmeras viagens dirigindo para Fortaleza. Ao meu esposo Frederico A. F. Fernandes, meu esteio emocional e financeiro durante estes 5 anos e 9 meses. Obrigada por sempre respeitar as minhas escolhas e estar ao meu lado. Aos meus filhos Isadora e Raul, que sempre foram e serão a minha última razão de viver; perdão pelos momentos de ausência da mamãe. À Acilene da Silva, que cuidou tão bem dos meus filhos como se fossem seus nas minhas infinitas ausências, gratidão eterna. Também à Silvaneide Rodrigues que manteve sempre a minha casa com tanto zelo e carinho. Ao meu falecido pai José Oduvaldo, que sempre me incentivou nos estudos e me amou incondicionalmente até o fim. À minha mãe Vera Lúcia, que me ensinou a honrar os meus compromissos com fé, dignidade, e deu-me amor para que eu pudesse chegar até aqui. À Neide Costa, minha mãe do coração, que sempre me incentivou a prosseguir, mesmo quando eu nem mesma acreditava mais em mim e esteve ao meu lado todos estes anos. À Cláudia de Andrade, que me apresentou à professora Marta e me incentivou a iniciar o doutorado. À minha orientadora Dra Marta Maria de França Fonteles, que me confiou a tarefa de desenvolver esta pesquisa, acreditando em mim e respeitando-me em minhas escolhas. À Universidade Federal do Ceará e em especial ao Programa de Pós- Graduação em Ciências Farmacêuticas pela qualificação profissional na área da pesquisa e docência. À Willian, secretário da pós-graduação que sempre foi muito solícito comigo auxiliando-me em todos os detalhes. À Catarina S. Porto, minha orientadora de mestrado, que me iniciou na vida científica e acadêmica, sendo uma verdadeira “mãe” para mim enquanto morei em São Paulo. Nunca me esquecerei dos seus ensinamentos, das oportunidades que me deu e do incentivo para que um dia eu fizesse o meu doutorado. À Giselle de Carvalho Brito, um anjo que Deus colocou aqui na Terra segurando a minha mão e me guiando desde 2017 em todas as escritas dos artigos, além de ter-me dado a paixão pela pesquisa qualitativa. Gratidão também à Chiara E. da Rocha, pelo apoio incondicional nas análises estatísticas e escrita dos artigos. Ao professor Divaldo Lyra Júnior, por todo o ensinamento e motivação. À Manoel R. de Sales Neto, por apresentar-me à “Análise de Bardin” e orientar-me sempre com muito carinho. À Marília S.S. de Menezes e Renato Melo, pelo companheirismo no dia a dia do CAPS, nas rotinas das consultas e por todo o apoio emocional. Temos muitas histórias para contar! Aos funcionários do CAPS, que me receberam tão bem, acolhendo-me em minha pesquisa por tantos anos. Especialmente ao psiquiatra Dr João Batista, cujo acolhimento foi essencial para o andamento do projeto de pesquisa. Aos queridos pacientes do CAPS, que, mesmo em meio às suas dores, sempre me recebiam com amor e dedicavam o seu tempo em prol da minha pesquisa. À Prefeitura Municipal de Mossoró-RN, a qual permitiu que eu exercesse o projeto com os pacientes do CAPS do município. À Elisângela, assistente social da prefeitura de Mossoró, um outro anjo que apareceu para auxiliar-me nas documentações a fim de exercer a prática no CAPS. À Fátima Motta, que me apresentou a todos do CAPS e me proporcionou começar a parte prática dessa tese. À Dr Dirceu Lopes, que, abaixo de Deus, foi meu médico de “alma” por muito tempo. Além disso, permitiu-me acompanhá-lo em inúmeras consultas psiquiátricas, fomentando assim a minha paixão pela saúde mental e proporcionando-me o tema desta presente tese. Aos amigos companheiros de trabalho do HOVET-UFERSA, especialmente Klívio Loreno e Heider Irinaldo, que nunca pouparam esforços para que eu chegasse até aqui. Gratidão pelo extremo companheirismo. Às amigas Bárbara Larissa, Elaine Cristina, Ane Trento, Silvane Rigo, Bruna Esmeraldo, ao amigo Vitor Aires e Manflínio Santos, pelo companheirismo, amor e orações. À Vanessa F. Vieira, por ajudar-me quando eu sequer sabia a direção, bem mesmo antes da seleção para o doutorado, corrigindo o meu pré-projeto e torcendo sempre por mim de forma sincera. À Sandra Guimarães, que foi fundamental nesta finalização, dando-me força quando já não a tinha mais e luz, guiando os meus últimos passos. À minha psicóloga Delnile Andrea, que sempre sob inspiração do Espírito Santo soube colocar a palavra certa na hora correta. “Eu mesmo irei na tua frente e aplainarei lugares montanhosos, arrebentarei as portas de bronze, despedaçarei as barras de ferro, e dar-te-ei tesouros ocultos e riquezas escondidas, a fim de que saibas que eu sou Iahweh, aquele que te chama pelo teu nome, o Deus de Israel” (Isaías 45, 2-3).Acompanhamento Farmacoterapêutico de pacientes com depressão e/ou transtornos de ansiedade em centro de atenção psicossocial: do ensaio clínico à implantação do serviço. SHEILLA ALESSANDRA FERREIRA FERNANDES. Profª. Drª. Marta Maria de França Fonteles. Tese de Doutorado. Programa de Pós Graduação em Ciências Farmacêuticas, Universidade Federal do Ceará, 2020. RESUMO O farmacêutico tem funções importantes na área da saúde mental, contudo suas ações são desconhecidas. Após a Reforma Psiquiátrica Brasileira, a prioridade foi a implantação de serviços substitutivos e ações de saúde mental de base comunitária, como os centros de atenção psicossociais (CAPS). Os CAPS são unidades estratégicas únicas para o tratamento de pacientes com transtornos mentais graves em nível local, em um contexto multidisciplinar. Essas equipes incluem médicos, enfermeiras, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais e, às vezes, outros profissionais, como farmacêuticos. Contudo, o número de farmacêuticos nos CAPS é insuficiente para a provisão dos serviços, os quais estão comumente ligados à ações relacionadas aos aspectos técnico-logísticos da profissão, sendo o aspecto técnico-assistencial totalmente negligenciado. Assim, o objetivo deste estudo foi implantar um serviço de cuidado farmacêutico, a partir do Acompanhamento Farmacoterapêutico (AFT) prestado aos pacientes com depressão e/ou transtornos de ansiedade em Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). Ensaio clínico randomizado e controlado com 70 adultos foi desenvolvido no CAPS II de Mossoró-RN. Os pacientes do grupo intervenção (GI) receberam serviço do AFT por 4 meses, paralelamente ao grupo controle (GC). Após o período de 4 meses, alguns pacientes do GC foram convidados a participar por mais quatro meses recebendo AFT (grupo intervenção pós-controle; GIPC). Os desfechos primários (adesão ao tratamento, taxas de ansiedade e depressão, qualidade de vida) e suas variações entre os grupos foram comparados. Utilizou-se a análise qualitativa de conteúdo (Bardin) aplicada às entrevistas dos pacientes e da equipe de saúde do CAPS em relação às suas percepções sobre o papel do farmacêutico na saúde mental e à provisão do AFT. Os resultados apontaram que, em relação à adesão à farmacoterapia, houve diferença estatisticamente significativa no GI, contudo os parâmetros clínicos (depressão e ansiedade) e humanísticos (qualidade de vida), não alteraram. Para os pacientes do GIPC (consultas 1 a 4), quando comparados ao momento 4 do GC, os níveis de depressão diminuíram. Segundo os participantes, o AFT foi essencial e importante, pois permitiu o reconhecimento do farmacêutico, além da identificação das atribuições e do processo de trabalho deste profissional no CAPS. Houve uma dualidade do papel do farmacêutico entre os atributos logísticos e clínicos na área da saúde mental. Assim, pela primeira vez, este estudo mostrou as percepções dos pacientes e de uma equipe de saúde sobre o papel do farmacêutico e a disponibilização do AFT nos CAPS, ajudando a elucidar a atuação do farmacêutico na saúde mental, além de estruturar um processo de trabalho do farmacêutico clínico a pacientes do CAPS. Além disso, este estudo apontou que os pacientes com depressão e/ou transtornos de ansiedade no CAPS deveriam ter um AFT mais longo, a fim de melhorar os resultados clínicos e humanísticos. Por fim, há uma visível necessidade de documentações e registros padronizados para este serviço farmacêutico destinado ao grupo de pacientes com depressão e/ou transtornos de ansiedade. Palavras-chave: saúde mental, cuidado farmacêutico, centro de atenção psicossocial, depressão, transtornos da ansiedade, implantação de serviços, ensaio clínico ABSTRACT The pharmacist has important functions in the area of mental health, however his actions are unknown. After the Brazilian Psychiatric Reform, the priority was the implementation of substitute services and community-based mental health actions, such as psychosocial care centers (CAPS). CAPS are unique strategic units for the treatment of patients with severe mental disorders at the local level, in a multidisciplinary context. These teams include doctors, nurses, psychologists, social workers, occupational therapists, and sometimes other professionals, such as pharmacists. However, the number of pharmacists in the CAPS is insufficient for the provision of services, which are commonly linked to actions related to the technical-logistical aspects of the profession, with the technical-assistance aspect being totally neglected. Thus, the objective of this study was to implement a pharmaceutical care service, based on the Pharmacotherapeutic Monitoring (AFT) provided to patients with depression and / or anxiety disorders in a Psychosocial Care Center (CAPS). Randomized controlled clinical trial with 70 adults was developed in CAPS II of Mossoró-RN. The patients in the intervention group (IG) received the AFT service for 4 months, in parallel to the control group (CG). After the 4-month period, some patients in the CG were invited to participate for another four months receiving AFT (post-control intervention group; GIPC). Primary outcomes (treatment adherence, anxiety and depression rates, quality of life) and their variations between groups were compared. Qualitative content analysis (Bardin) applied to the interviews of patients and the CAPS health team in relation to their perceptions about the role of the pharmacist in mental health and the provision of AFT was used. The results showed that, regarding adherence to pharmacotherapy, there was a statistically significant difference in the IG, however the clinical parameters (depression and anxiety) and humanistic parameters (quality of life), did not change. For patients in the GIPC (consultations 1 to 4), when compared to moment 4 in the CG, the levels of depression decreased. According to the participants, the AFT was essential and important, as it allowed the pharmacist to be recognized, in addition to identifying the duties and work process of this professional at CAPS. There was a dual role of the pharmacist between the logistical and clinical attributes in the area of mental health. Thus, for the first time, this study showed the perceptions of patients and a health team about the role of the pharmacist and the availability of AFT in CAPS, helping to clarify the role of the pharmacist in mental health, in addition to structuring a work process clinical pharmacist to CAPS patients. In addition, this study pointed out that patients with depression and / or anxiety disorders at the CAPS should have a longer AFT in order to improve clinical and humanistic results. Finally, there is a visible need for standardized documentation and records for this pharmaceutical service for the group of patients with depression and / or anxiety disorders. Keywords: mental health, pharmaceutical care, psychosocial care center, depression, anxiety disorders, implantation services, clinical trial LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURAS Figura 01 – Ciclos do estudo, 3 ciclos totalizando 70 pacientes (36 GC; 34 GI) ............. 54 Figura 02 – Fluxograma sumarizado das fases do Método Dáder de Acompanhamento Farmacoterapêutico, oriundo da Universidade de Granada ............................................. 59 Figura 03 – Fluxograma geral dos serviços oferecidos no CAPS- Agosto 2016/2018 …. 66 Figura 04 – Fluxograma do n participantes totais do estudo (fluxograma geral, contemplando-se os 3 ciclos realizados) .......................................................................... 69 Figura 05 –Categorias advindasdas percepções da equipe de saúde e dos pacientes em relação ao serviço de acompanhamento farmacoterapêutico (n=56); (CAPS II; agosto 2016- agosto 2018) ........................................................................................................................ 105 Figura 06 – Categorias advindas das percepções da equipe de saúde e dos pacientes em relação à atuação do farmacêutico na saúde mental; (n=56); (CAPS II; agosto 2016-agosto 2018) .................................................................................................................................... 108 QUADROS Quadro 01 – Principais antidepressivos utilizados, doses terapêuticas, indicações e efeitos adversos ....................................................................................................................... 30 Quadro 02 – Principais benzodiazepínicos, faixa terapêutica utilizada e meia- vida.............................................................................................................................. 33 Quadro 03 – Classificação de problemas relacionados com medicamentos, segundo II Consenso de Granada (2002) .................................................................................. 47 Quadro 04 – Indicadores com seus respectivos instrumentos de aferição utilizados ..................................................................................................................... 60 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1: Distribuição dos Diagnósticos contidos nos prontuários dos participantes, de acordo com o CID-10 (Classificação Internacional das Doenças, n=70) ............................ 73 Gráfico 2: Medicamentos não prescritos mais utilizados pelos participantes, n=70........76 Gráfico 3: Chás/ fitoterápicos mais utilizados pelos participantes, n=70................................ 76 Gráfico 4: Frequência das principais comorbidades apresentadas.......................................... 77 Gráfico 5: Taxa de utilização de antidepressivos e benzodiazepínicos.................................. 77 Gráfico 6: Tipos de antidepressivos utilizados (n=65) ......................................................... 79 Gráfico 7: Tipos de benzodiazepínicos utilizados (n=64) ..................................................... 79 Gráfico 8: Complicações do Transtorno Mental (n=70) ........................................................ 80 Gráfico 9: Tipos de problemas do Transtorno Mental (n=52) .............................................. 80 Gráfico 10: Percentual durante o acompanhamento farmacoterapêutico quanto à frequência de tipo de problema relacionado ao medicamento (CAPS, Ag/2016-Ag/2018) ......................... 82 Gráfico 11: Resolutividade dos problemas relacionados aos medicamentos- distribuição de acordo com o tipo (n=75) ........................................................................................................ 83 Gráfico 12: Distribuição dos sintomas relacionados à dependência física de benzodiazepínicos relatadas pelos pacientes (n=24) .......................................................................................... 85 Gráfico 13: Distribuição das causas dos PRM identificados no estudo (n total=287), de acordo com a categorização contida no instrumento utilizado (CAPS, Ag/2016-Ag/2018) .............. 85 Gráfico 14: Distribuição da prevalência das intervenções farmacêuticas (n total=382), de acordo com a categorização dos PRM (CAPS, Ag/2016-Ag/2018) ...................................... 88 Gráfico 15: Número de pacientes em cada nível de adesão ao tratamento (questionário Morisky Green Levine), das consultas no GC, n=36 (CAPS, Ag/2016-Ag/2018) .............. 91 Gráfico 16: Medidas de adesão ao tratamento das consultas GC, média dos índices de adesãoMorisky Green Levine, n=36 (CAPS, Ag/2016-Ag/2018) ......................................... 92 Gráfico 17: Número de pacientes em cada nível de depressão (Inventário de depressão de Beck-BDI) das consultas GC, n=23 (CAPS, Ag/2016-Ag/2018)............................................92 Gráfico 18: Média dos índices de depressão (Inventário de depressão de Beck-BDI) das consultas GC, n=23(CAPS, Ag/2016-Ag/2018)................................................................ 93 Gráfico 19: Número de pacientes em cada nível de ansiedade (Formulário de Ansiedade de Beck, BAI) das consultas no GC, n=7 (CAPS, Ag/2016-Ag/2018) .................................. 93 Gráfico 20: Média dos índices de ansiedade (Formulário de Ansiedade de Beck-BAI) das consultas GC, n=7(CAPS, Ag/2016-Ag/2018) .................................................................... 94 Gráfico 21: Número de pacientes em cada nível de adesão ao tratamento (Questionário Morisky Green Levine), das consultas no GI, n=34 (CAPS, Ag/2016-Ag/2018) ................ 96 Gráfico 22: Medidas de adesão ao tratamento das consultas GI, média dos índices de Adesão Morisky Green Levine, n=34 (CAPS, Ag/2016-Ag/2018) .................................................. 96 Gráfico 23: Número de pacientes em cada nível de depressão (Inventário de depressão de Beck), das consultas GI, n=21(CAPS, Ag/2016-Ag/2018) .................................................. 97 Gráfico 24: Média dos índices de depressão (Inventário de depressão de Beck), das consultas GI, n=21(CAPS, Ag/2016-Ag/2018) .................................................................................... 97 Gráfico 25: Número de pacientes em cada nível de ansiedade (Formulário de Ansiedade de Beck-BAI), das consultas do GI, n=7(CAPS, Ag/2016-Ag/2018) ....................................... 98 Gráfico 26: Média dos índices de ansiedade (Formulário de Ansiedade de Beck-BAI) das consultas GI, n=7(CAPS, Ag/2016-Ag/2018) ..................................................................... 98 Gráfico 27: Índice de qualidade de vida no grupo controle (GC), grupo intervenção (GI) e grupo intervenção pós-controle (GIPC), nas consultas 1 e 4 (CAPS, Ag/2016-Ag/2018) …100 Gráfico 28: Média dos índices de depressão (Inventário de depressão de Beck), entre a consulta 4 do GC e as consultas 1,2, 3 e 4 do GIPC, n=15 (CAPS, Ag/2016-Ag/2018) .......101 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Perfil Sócio Demográfico dos participantes do estudo (n=70) .................... 70 Tabela 2: Perfil socioeconômico dos participantes do estudo (n=70) ........................... 71 Tabela 3: Características dos aspectos clínicos dos pacientes (n=70) .......................... 72 Tabela 4: Hábitos de vida dos participantes do estudo (n=70) ..................................... 74 Tabela 5: Características do uso e acesso aos medicamentos e remédios caseiros ....... 75 Tabela 6: Tempo de uso dos benzodiazepínicos na população estudada (n=64) ................................................................................................................................. 78 Tabela 7: Indicador de processo relacionado ao tempo médio de cada atendimento de AFT..................................................................................................................... 81 Tabela 8: Indicadores de processo relacionados aos problemas relacionados aos medicamentos.......................................................................................................... 81 Tabela 9: Distribuição dos problemas relacionados aos medicamentos identificados no estudo (PRM, n total=182) segundo estratificaçãodo II Consenso de Granada, 2002 (CAPS, Ag/2016-Ag/2018) ..................................................................................................... 83 Tabela 10: Distribuição dos princípios ativos identificados aos problemas relacionados aos medicamentos (n=247), (CAPS, Ag/2016-Ag/2018) ............ ...................................... 84 Tabela 11: Indicadores de processo relacionados às intervenções farmacêuticas............................................................................................................... 86 Tabela 12: Distribuição das Intervenções Farmacêuticas segundo categorização utilizada no estudo (n total=464) ..................................................................................................... 87 Tabela 13: Indicadores de processo relacionados às Intervenções Farmacêuticas.................................................................................................................... 88 Tabela 14: Distribuição durante o acompanhamento farmacoterapêutico quanto ao tipo de intervenção farmacêutica aceita por classificação de categoria de problema relacionado ao medicamento.................................................................... ............................................... 89 Tabela 15: Diferenças do nível de adesão ao tratamento, ansiedade e depressão entre as consultas no GC; (CAPS, Ag/2016-Ag/2018) ...................................................................91 Tabela 16: Diferenças nos níveis de adesão, ansiedade, depressão e qualidade de vida entre as consultas farmacêuticas; (CAPS, Ag/2016-Ag/2018) ................................................. 94 Tabela 17: Comparação do nível de adesão nas consultas farmacêuticas no GI (CAPS, Ag/2016-Ag/2018) .............................................................................................................95 Tabela 18: Análise das diferenças da qualidade de vida no GC versus GI e GIPC nas consultas 1 e 4, (CAPS, Ag/2016-Ag/2018) ..................................................................................... 99 Tabela 19: Análise das diferenças da qualidade de vida nas consultas 1 e 4 no GI e GIPC, (CAPS, Ag/2016-Ag/2018.............................................................................................. 99 Tabela 20: Diferença da adesão à farmacoterapia, depressão e ansiedade do GC (consulta 4) versus o GIPC (consultas 1,2,3 e 4), (CAPS, Ag/2016-Ag/2018) ....................................................................................................................... .................. 101 Tabela 21: Componentes do AFT identificados através da análise de conteúdo da percepção da equipe de saúde e dos pacientes em relação ao mesmo, n=56 (CAPS, Ag/2016-Ag/2018) ....................................................................................................................... ................ 106 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AF – Assistência Farmacêutica ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária AFT – Acompanhamento Farmacoterapêutico BAI- Inventário de Ansiedade de Beck BDI- Inventário de Depressão de Beck BZD- Benzodiazepínico CAPS – Centro de Apoio Psicossocial CBO- Classificação Brasileira de Ocupações CEATENF – Centro de Estudos em Atenção Farmacêutica CEP – Comitê de Ética em Pesquisa CFF- Conselho Federal de Farmácia CID- Classificação Internacional das Doenças DSM- Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DP – Desvio Padrão ESF – Equipe e Saúde da Família IF- Intervenção Farmacêutica ISRS- Inibidor seletivo de recaptação de serotonina MGLS- Escala Morisky Green Levine PRM- Problema Relacionado ao Medicamento RNM- Reações negativas aos Medicamentos OMS – Organização Mundial de Saúde OPAS – Organização Pan-Americana da Saúde PAM- Pronto Atendimento Municipal PNM – Política Nacional de Medicamentos PNAB – Política Nacional de Atenção Básica PNAF – Política Nacional de Assistência Farmacêutica POP- Procedimento Operacional Padrão PSF – Programa de Saúde da Família QV- Qualidade de Vida REMUME – Relação Municipal de Medicamentos Essenciais RENAME – Relação Nacional de Medicamentos Essenciais RNM- Reações Negativas aos Medicamentos SMS – Secretaria Municipal de Saúde SUS – Sistema Único de Saúde TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TDR- Transtorno Depressivo Recorrente TEPT- Transtorno de Estresse Pós-Traumático TMAD- Transtorno Misto Ansioso Depressivo TOC- Transtorno Obsessivo-Compulsivo TP- Transtorno do Pânico UBS – Unidade Básica de Saúde UISAM- Unidade de Saúde Mental do Município SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO............................................................................................ 22 2 JUSTIFICATIVA ........................................................................................ 23 3 OBJETIVOS ................................................................................................ 25 3.1 Geral ............................................................................................................. 25 3.2 Específicos .................................................................................................... 26 4 REFERENCIAL TEÓRICO ...................................................................... 26 4.1 Tipos de Transtornos Mentais ................................................................... 26 4.2 Epidemiologia da Depressão e Transtornos da Ansiedade ....................................................................................................................... 28 4.3 Tratamento da Depressão e Transtornos da Ansiedade ....................................................................................................................... 29 4.4 A desprescrição dos Benzodiazepínicos .................................................... 34 4.5 A implantação/implementação de serviços farmacêuticos ....................................................................................................................... 36 4.6 A Saúde Mental no Brasil .......................................................................... 38 4.7 A Atenção Farmacêutica ........................................................................... 42 4.7.1 4.7.2 4.7.3 4.7.4 4.8 4.9 5.0 5.1 5.2 5.3 5.4 5.5 5.6 5.6.1 5.6.2 Aspectos Histórico-Conceituais e Filosóficos.............................................. Serviços clínicos providos pelo Farmacêutico ............................................ Problema Relacionado ao Medicamento (PRM) ......................................... Intervenção Farmacêutica (IF) ....................................................................... O Farmacêutico e a Saúde Mental .............................................................. Estudos Qualitativos e a Atuação do Farmacêutico .................................. MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................ Desenho do Estudo ........................................................................................ Local da pesquisa .......................................................................................... População/amostra ......................................................................................... Critérios de inclusão/exclusão ....................................................................... Coleta de dados .............................................................................................. Instrumentos utilizados ................................................................................. Instrumento EuroQuol 5, avaliação qualidade de vida ....................................Inventário de Depressão de Beck-BDI ............................................................ 42 45 46 48 48 50 52 52 54 55 56 56 59 61 62 5.6.3 5.6.4 5.6.5 5.7 5.7.1 5.8 5.9 6 6.1 6.2 6.3 6.3.1 6.3.2 6.3.3 6.3.4 6.3.5 6.4 6.4.1 6.4.2 7 7.1 7.2 7.3 7.3.1 7.3.2 7.3.3 Escala de Ansiedade de Beck-BAI ........................................................... Escala de Adesão Terapêutica Morisky Green ......................................... Identificação e Classificação dos PRM ..................................................... Metodologia Qualitativa aplicada ao GI e GIPC .............................................................................................................................. Entrevista e Análise ............................................................................................ Plano de análise dos resultados ........................................................................ Aspectos Éticos .................................................................................................. RESULTADOS ................................................................................................. Capítulo 1: Seleção e Alocação dos pacientes ................................................ Capítulo 2: Sistematização dos dados dos participantes do estudo ............ Capítulo 3: Indicadores Farmacoterapêuticos, Clínicos e Humanísticos ............................................................................................................................... Problemas Relacionados aos Medicamentos, Intervenções Farmacêuticas e afins ...................................................................................................................... Parâmetros Clínicos (adesão ao tratamento, depressão e ansiedade) GC ............ Parâmetros Clínicos (adesão ao tratamento, depressão e ansiedade) e humanísticos GI ................................................................................................... Parâmetro humanístico, sistema EUROquol-5D-3L, escala visual analógica (EVA EQ) dos grupos GC, GI e GIPC ................................................................ Parâmetros clínicos do GC x GIPC ..................................................................... Análise de Conteúdo .......................................................................................... Percepção do serviço de Acompanhamento Farmacoterapêutico......................... Percepção da atuação do Farmacêutico na saúde mental ..................................... DISCUSSÃO ....................................................................................................... Capítulo 1- taxa dos pacientes que participaram do estudo .......................... Capítulo 2- sistematização dos dados farmacoepidemiológicos .................... Capítulo 3- indicadores farmacoterapêuticos, clínicos e humanísticos ......... Problemas relacionados aos medicamentos, Intervenções Farmacêuticas e afins ............................................................................................................................... Parâmetros clínicos (adesão ao tratamento, depressão e ansiedade) do GC e GI .............................................................................................................................. Parâmetro humanístico, sistema EuroQuol 5-D-3L- escala visual analógica, 63 64 64 65 65 66 67 68 68 69 81 81 90 94 98 100 102 102 106 108 108 109 123 124 131 7.3.4 7.4 7.4.1 7.4.2 8 9 GC, GI e GIPC ..................................................................................................... Parâmetros clínicos (adesão ao tratamento, depressão e ansiedade) do GC x GIPC .................................................................................................................... Análise qualitativa ............................................................................................ Percepção do serviço de Acompanhamento Farmacoterapêutico ....................... Percepção da ação do farmacêutico na saúde mental .......................................... CONCLUSÃO..................................................................................................... REFERÊNCIAS ................................................................................................. ANEXOS ............................................................................................................. APÊNDICES ...................................................................................................... 134 136 137 137 140 143 148 186 201 22 1- INTRODUÇÃO Atualmente os problemas em saúde mental são altamente prevalentes em todo o mundo. O plano de ação realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 2013-2020), identifica o papel fundamental da saúde mental na população. Neste documento, são propostas novas direções na área, a exemplo da necessidade de lideranças governamentais mais efetivas e da implementação de estratégias para prevenção de doenças e promoção da saúde mental (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2012). Saúde mental é definida pela OMS como: “um estado de bem-estar no qual o indivíduo realiza as suas funções, consegue lidar com estresse da vida normalmente, pode trabalhar de forma produtiva e é capaz de dar contribuições para si e para sua comunidade” (SONY, 2009). A Organização Pan- americana de Saúde (OPAS) relata que os transtornos mentais envolvem a combinação de pensamentos, percepções, comportamentos e emoções anormais sobre a vida, manifestando-se de maneiras distintas na caracterização dos diferentes tipos de transtornos mentais conhecidos atualmente (OPAS, 2018). De acordo com dados da OMS (BRASIL, 2002), os transtornos mentais resultam de uma complexa interação de fatores biológicos, psicológicos e sociais, podendo abranger distúrbios neurológicos ou por uso de substâncias, e serem de natureza episódica ou crônica (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2013; LASALVIA & ZOPPEI, 2013). Podem ser classificados através da Classificação Internacional das Doenças (CID 10, CID 11) (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1997; 2019), ou pela Associação Americana de Psiquiatria, através do DSM-5 (MANUAL DIAGNÓSTICO E ESTATÍSTICO DE TRANSTORNOS MENTAIS, 2014). A ascensão da prevalência dos transtornos mentais ocorre especialmente em países de baixa a média renda (MARAGNO et al., 2006). Estima-se que aproximadamente “450 milhões de pessoas sofram de desordens mentais e neurobiológicas, ou problemas psicossociais como os relacionados ao abuso de álcool e drogas” (QUADROS et al., 2018). Além disso, a depressão é uma das principais causas de incapacitação no mundo, ocupando o 4° lugar entre as dez principais enfermidades (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2013). Estudos epidemiológicos brasileiros indicam que cerca de 20% da população adulta possui algum tipo de transtorno mental, 12% necessita de algum tipo de cuidado na saúde mental e 2,3% das reservas anuais do SUS são gastas na área (QUADROS et al., 2018). Por sua vez, o suicídio, que está frequentemente relacionado à presença de transtornos mentais, 23 acomete aproximadamente 800000 pessoas anualmente no mundo (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2019), tornando-se um sério problema de saúde pública que gerou o comprometimento de inúmeros países na redução da taxa global do mesmo (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2013). Durante as últimas décadas, a profissão farmacêutica vem se dirigindo para a filosofia de prática do cuidado farmacêutico, no qual o profissional assume as responsabilidades acerca dos desfechosda terapia medicamentosa de cada paciente, visando à melhor qualidade de vida do mesmo (HOLLAND & NIMMO, 1999; BLONDAL, ALMARSDÓTTIR & GRANAS, 2019). Na saúde mental, que é um campo interdisciplinar, o farmacêutico pode intervir através de diversos serviços e ações como o manejo das reações adversas, realização da educação em saúde, estímulo da adesão ao tratamento e promoção da terapia racional do mesmo (SILVA et al., 2018). No sistema público de saúde brasileiro, a saúde mental está organizada dentro de uma Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), sendo os Centros de Atenção Psicossociais (CAPS), as unidades que tratam os pacientes em níveis locais dentro de um contexto multidisciplinar (BRASIL, 2002). A equipe mínima do CAPS é formada por médico, enfermeiro, terapeuta ocupacional, psicólogo, assistente social, pedagogo, técnico de enfermagem (BRASIL, 2002). Contudo, o profissional farmacêutico não está incluso na equipe mínima do CAPS, salvo se houver obrigatoriedade devido à presença de farmácia dispensadora do psicotrópico (LOPES et al., 2019). Além disso, o número de farmacêuticos trabalhando no CAPS é insuficiente para a realização de serviços efetivos no mesmo (SILVA et al., 2018), sendo as intervenções na área do cuidado farmacêutico quase escassas e desconhecidas dos pacientes e equipes nestes locais. 2- JUSTIFICATIVA No Brasil, mesmo após anos de discussões sobre Atenção Farmacêutica (OPAS, 2002), e todo o material disponibilizado pelo Conselho Federal de Farmácia acerca dos Serviços Farmacêuticos e Cuidado Farmacêutico (CFF, 2016), ainda há raras divulgações sobre as mesmas na área da saúde mental. O governo criou leis, portarias para amparar os pacientes com transtornos mentais, além da rede de atenção à saúde mental que inclui os CAPS e Estratégia de Saúde da Família (ESF), (BRASIL, 2002). Contudo, apesar das exigências legais de levarem o farmacêutico a atuar dentro dos CAPS (BRASIL, 1973; BRASIL, 2014), existem falhas no sistema, no qual este profissional muitas vezes não é 24 sequer mencionado pelos pacientes do CAPS e da ESF, sendo que os próprios profissionais relatam sentir dificuldades em lidar com o sofrimento psíquico, além da ausência de estratégias para a saúde mental na rede (GOMES, 2013; SILVA et al., 2018; LOPES et al., 2019). Assim, na luz desse cenário, percebe-se que a maior parte das atribuições dos profissionais farmacêuticos na rede de saúde mental ainda está vinculada à práticas técnico- logísticas em detrimento das técnico-assistenciais, dificultando a sua atuação junto ao paciente durante a dispensação e afetando a promoção do uso racional de medicamentos psicotrópicos. Diante desse contexto, apresento aqui minha motivação para exercer o presente estudo. No período de 20/05/2014 a 15/07/2014, foi feito um “relatório situacional” na Unidade Integrada de Saúde Mental (UISAM), do município de Mossoró (RN), na qual as consultas de 157 pacientes de um dos médicos dessa instituição, conforme acordado, foram realizadas juntamente com a minha presença. Neste período, constatou-se que, dos pacientes atendidos, a prevalência maior dos diagnósticos consistia de depressão associada ou não a transtornos da ansiedade e em relação ao tratamento, mais da metade das prescrições do período apresentavam pelo menos um benzodiazepínico. Os benzodiazepínicos não costumam ser prescritos isoladamente e comumente estão presentes em associação a outros psicotrópicos. De fato, em nosso relatório situacional, das prescrições que continham benzodiazepínicos, estes estavam em sua maioria presentes em associação aos antidepressivos. Contudo, a maioria dos pacientes atendidos utilizavam os benzodiazepínicos há muitos anos e apresentavam já um quadro de dependência/tolerância à medicação. Além da problemática anterior, havia muitas queixas por parte de todos os pacientes em relação aos medicamentos utilizados devido a seus inúmeros efeitos adversos, sendo que, muitas vezes devido à sobrecarga de trabalho, o médico não tinha tempo para a análise minuciosa e orientação adequada das prescrições. Concomitantemente, o farmacêutico da unidade não se dedicava integralmente a ficar na mesma, visto que a prefeitura exigia que o profissional trabalhasse em diversas outras unidades do município. Assim, o farmacêutico tinha um tempo mínimo para exercer as atividades técnico-gerenciais obrigatórias, sendo os serviços voltados para a assistência do paciente totalmente negligenciados. Apesar da UISAM ter sido extinta no município, seus pacientes foram transferidos para os CAPS da cidade e também para os consultórios psiquiátricos do Pronto Atendimento Municipal (PAM), 25 mantendo-se a necessidade de um acompanhamento e comprometimento por parte do profissional farmacêutico na terapia desses pacientes. Sendo assim, baseado na necessidade de um serviço clínico farmacêutico voltado para estes pacientes com transtornos mentais, pretendeu-se, no presente estudo, implantar um serviço de Acompanhamento Farmacoterapêutico em um grupo de pacientes de um Centro de Atenção Psicossocial no qual existia somente o aspecto técnico-logístico do acesso ao psicotrópico, avaliando-se a sua efetividade em indicadores de processo, clínicos e humanísticos. A ideia foi que, a partir de indicadores usados nos grupos que receberam o Acompanhamento Farmacoterapêutico (AFT, em relação ao grupo controle (que não recebeu o AFT), com suas comparações e interfaces, os seguintes questionamentos fossem respondidos: - O serviço de Acompanhamento Farmacoterapêutico interfere nos índices de adesão à terapia medicamentosa? -O serviço de Acompanhamento Farmacoterapêutico proporciona uma melhora na qualidade de vida desses pacientes? - Os indicadores clínicos para depressão e ansiedade são considerados melhores em relação ao grupo em que o farmacêutico não esteve presente? - O profissional farmacêutico consegue detectar os problemas relacionados aos medicamentos (PRM) dos pacientes acompanhados? - Ao detectar os problemas, o farmacêutico consegue prevení-los ou resolvê-los através das suas intervenções perante à equipe multiprofissional do CAPS? - Quais são as características básicas e pressupostos que devam estar presentes no processo de trabalho do farmacêutico no CAPS? A principal hipótese desse estudo é a de que ao analisarmos os parâmetros de processo, clínicos e humanísticos, comparando-os entre o grupo controle e os grupo do AFT (GI e GIPC), conseguiria-se avaliar a influência positiva do serviço clínico farmacêutico. Além disso, conseguiríamos o essencial, que seria estruturar o processo de trabalho e componentes mínimos que devam estar presentes no acompanhamento farmacoterapêutico de pacientes ambulatoriais com transtornos psiquiátricos, direcionando-se assim futuros estudos na área. 3- OBJETIVOS 3.1 Geral 26 - Implantar, a partir de um ensaio clínico, um serviço de acompanhamento farmacoterapêutico (AFT) prestado a pacientes com depressão e/ou transtornos de ansiedade em Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), contemplando-se os aspectos de processo e aplicação e utilizando-se de indicadores de qualidade para essa estruturação. 3.2 Específicos - Identificar as características gerais dos participantes, segundo aspectos demográficos, socioeconômicos, hábitos saudáveis e religiosos, condições de saúde, história clínica, características do uso e acesso a medicamentos e remédios caseiros, além do acesso aos serviços de saúde; -Identificar os problemas relacionados aos medicamentos (PRM) no grupo intervenção e classificar as intervenções farmacêuticas; -Avaliar a percepção dos profissionais de saúde do CAPS e dos pacientes sobre o AFT e o papel do farmacêutico na saúde mental; -Desenvolver um modelo de processo de trabalho do farmacêutico clínico para o atendimento de pacientes ambulatoriais comtranstornos mentais. - Analisar o impacto do AFT, em comparação ao grupo controle, entre pacientes ambulatoriais com depressão e/ou transtornos de ansiedade, considerando os parâmetros de adesão ao tratamento, melhora nos índices da depressão e ansiedade e na qualidade de vida. 4- REFERENCIAL TEÓRICO 4.1- Tipos de Transtornos Mentais O capítulo 5 da Classificação Internacional de doenças (CID10) foi elaborado pela OMS em 1992 e compreende 11 grupos principais que vão do F0 ao F99 (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1993; 2014). Os transtornos mais comuns na população são: esquizofrenia, depressão, transtorno bipolar, ansiedade generalizada, transtorno do pânico e devido ao uso de substâncias psicoativas (álcool e drogas). Em relação às causas das doenças mentais, muito pouco é conhecido. Contudo, múltiplos fatores como sociais, psicológicos, biológicos e genéticos podem tornar as pessoas mais vulneráveis aos distúrbios mentais. Sua ocorrência pode estar associada também a condições de trabalho estressantes, urbanização, discriminação racial ou exclusão social (FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE FARMACÊUTICOS, 2015). Adicionalmente, a doença mental pode ser influenciada por um estilo de vida ruim, risco de violência e violações psíquico-físicas. A exposição a desastres naturais também pode 27 ser um fator de risco e fatores biológicos como genéticos e os relacionados a desordens químicas cerebrais também estão relacionados (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2014). Transtornos do humor (afetivos)- (F30-F39) – síndromes depressivas, episódios depressivos, transtorno bipolar Entre os transtornos do humor, o mais proeminente é a depressão (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2015), podendo variar de uma afecção muito leve (beirando à normalidade), à depressão psicótica (dentre os sintomas, estão as alucinações e os delírios). Aproximadamente 350 milhões de pessoas são afetadas pela depressão em todo o mundo (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2015), sendo uma das maiores causas de incapacitação mundial (QUADROS et al., 2020). Nos episódios depressivos típicos (sejam leves, moderados ou graves), o paciente sofre de humor deprimido, autoestima reduzida, alterações do sono, apetite diminuído entre outros sintomas (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1993; 2015). Por exemplo, nos episódios depressivos leves, o paciente sente-se angustiado pelos sintomas depressivos e tem alguma dificuldade em continuar sua vida cotidiana, mas dificilmente irá abandoná-la. Já nos episódios moderados, essa dificuldade em manter as atividades habituais está mais presente. Nos episódios depressivos graves sem sintomas psicóticos, o paciente apresenta angústia ou agitação, e o suicídio é um grande perigo. Por fim, na depressão com sintomas psicóticos ocorrem delírios, alucinações e até mesmo retardo motor (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1993; 2015). Transtornos de Ansiedade ou Neuróticos, relacionados ao “stress” e somatoformes (F40- F49) – Ansiedade generalizada, Transtorno do Pânico, Fobia Social, Transtorno de Stress pós-traumático, Fobias Específicas, Transtorno Obsessivo Compulsivo O quadro de ansiedade generalizada, engloba sintomas como nervosismo, medo excessivo, tensão muscular, sudorese, tonturas, preocupações ou sentimentos de pânico exagerados e irracionais a respeito de várias situações, que permanecem em grande parte do dia, e que perduram por, no mínimo, 6 meses (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1993; DALGALARRONDO, 2008; BANDELOW, MICHAELIS & WEDEKIND, 2017). A incidência está entre 3 e 8% e a proporção homens/mulheres é de 2:1, além de ser o subtipo de transtorno de ansiedade mais prevalente no Brasil e no mundo (CASTILLO et al., 2000; BANDELOW, MICHAELIS & WEDEKIND, 2017). 28 Já no transtorno do pânico (TP), o indivíduo apresenta ataques de pânico recorrentes que consistem em uma sensação de medo ou mal-estar intenso acompanhada de sintomas físicos e cognitivos e que se iniciam de forma brusca, alcançando intensidade máxima em até 10 minutos (SALUM et al., 2009; BANDELOW, MICHAELIS & WEDEKIND, 2017). Estes ataques acarretam preocupações persistentes ou modificações importantes de comportamento em relação à possibilidade de ocorrência de novos ataques de ansiedade (SALUM et al., 2009; BANDELOW, MICHAELIS & WEDEKIND, 2017). As fobias específicas são definidas pela presença de medo excessivo e persistente relacionado a um determinado objeto ou situação, que não seja situação de exposição pública ou medo de ter um ataque de pânico (CASTILLO et al., 2000; BANDELOW, MICHAELIS & WEDEKIND, 2017). Já a fobia social consiste no medo persistente e intenso de situações onde a pessoa julga estar exposta à avaliação de outros, ou se comportar de maneira humilhante ou vergonhosa, caracterizando-se o diagnóstico (CASTILLO et al., 2000; BANDELOW, MICHAELIS & WEDEKIND, 2017). O transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) consiste nas consequências advindas de violência, abuso sexual, desastres ambientais, tendo havido um reconhecimento de que essas experiências traumáticas têm impacto grave e duradouro sobre os indivíduos, havendo muito comprometimento de suas atividades (CASTILLO et al., 2000; BANDELOW, MICHAELIS & WEDEKIND, 2017). Por fim, o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é caracterizado pela presença de obsessões e/ou de compulsões (ROSARIO-CAMPOS & MERCADANTE, 2000; BANDELOW, MICHAELIS & WEDEKIND, 2017). Obsessões podem ser definidas como eventos mentais, tais como pensamentos, ideias, impulsos e imagens, vivenciados como intrusivos e incômodos. Já as compulsões são definidas como comportamentos ou atos mentais repetitivos, realizados para diminuir o incômodo ou a ansiedade causados pelas obsessões, ou para evitar que uma situação temida venha a ocorrer (ROSARIO-CAMPOS & MERCADANTE, 2000; BANDELOW, MICHAELIS & WEDEKIND, 2017). 4.2 Epidemiologia da Depressão e Transtornos da Ansiedade Ao analisarem-se os anos de vida perdidos por incapacitação, os transtornos mentais estão entre os 5 mais prevalentes (INSTITUTO NACIONAL DE SAÚDE MENTAL, 2011; TUNG et al., 2018; QUADROS et al., 2018). Os sistemas de saúde não estão respondendo adequadamente aos prejuízos da doença mental e, como consequência, há uma lacuna entre as necessidades de tratamento e seus recursos em grande parte do mundo (SONY, 2009). Em 29 países de renda média e baixa, entre 76% a 85% das pessoas com transtornos mentais graves não recebem tratamento, e nos de renda alta, os dados de 35 a 50% também são alarmantes (INSTITUTO NACIONAL DE SAÚDE MENTAL, 2014). A doença mental possui custos econômicos e sociais. Aproximadamente 12% dos prejuízos globais foram atribuídos às desordens mentais e comportamentais em 1999, sendo que a previsão para 2020 é de 15% (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2001; QUADROS et al., 2018). A Agência de Qualidade em pesquisa e saúde nos EUA estimou um custo de 57,5 bilhões de dólares em 2006 para os cuidados em saúde mental, equivalente aos custos com cuidados do câncer (SONY, 2009). Porém, diferentemente do câncer, muitos dos prejuízos da doença mental não são com custo do cuidado, mas com a perda de renda devido ao desemprego, gastos com suporte social, e uma variedade de custos indiretos devidos à incapacidade crônica que inicia-se precocemente (QUADROS et al., 2018). As despesas globais com saúde mental são grandes, estimadas em cerca de 2,5 trilhões de dólares em 2010 (2/3 de custos indiretos), com projeções de aumento para 6 trilhões em 2030 (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2012). Somente por comparação, o gasto global total com saúde foi de 6,5 trilhões em 2010, com prejuízos de saúde por pessoa/ano de 948 dólares, de acordo com a OMS (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2012). No Brasil, a partir de 2015, há uma notória ausência de dados referentes à saúde mental no país (DANTAS & ODA, 2014), bem como a escassez de estudos avaliativosda qualidade dos serviços na área (TRAPÉ & CAMPOS, 2017). Ademais, existe uma grande dificuldade em localizar estudos atuais que relatem a epidemiologia dos transtornos mentais sem especificar algum estado ou alguma região (DANTAS & ODA, 2014; TRAPÉ & CAMPOS, 2017). Contudo, em 2017, a Organização Mundial da Saúde publicou uma pesquisa na qual o Brasil lidera mundialmente a prevalência dos transtornos da ansiedade, sendo o quinto nos diagnósticos da depressão (DE SOUZA & DE SOUZA, 2017). Comparada à pesquisa anterior, (WHO, 2005), houve um aumento na frequência de transtornos depressivos e de ansiedade em todo o mundo, tendo o crescimento da população e maior longevidade como fatores contribuintes para a imagem atual. Assim, torna-se uma problemática coletiva o ônus pessoal e financeiro da ansiedade e da depressão no mundo e no Brasil (DE SOUZA & DE SOUZA, 2017), exigindo-se uma ação imediata e coordenada da comunidade científica e agências governamentais. 4.3 Tratamento da Depressão e Transtornos da Ansiedade 30 Diferentes tipos de medicamentos são utilizados no tratamento dos transtornos mentais. Porém, as principais classes utilizadas na depressão e ansiedade são os antidepressivos associados a benzodiazepínicos, raramente utilizando-se de antipsicóticos e estabilizadores de humor (FURLANETTO et al., 2009; BANDELOW, MICHAELIS & WEDEKIND, 2017). Estudos randomizados controlados em todo o mundo (WILLIAMS et al., 2017) mostraram benefício dos antidepressivos como primeira linha no tratamento para depressão e também: nos transtornos de ansiedade (pânico, transtorno obsessivo compulsivo, fobia social, transtorno de estresse pós-traumático). Além disso, os antidepressivos tricíclicos são eficazes no tratamento da dor neuropática, independentemente da existência de sintomas de depressão ou ansiedade (FURLANETTO et al., 2009; BANDELOW, MICHAELIS & WEDEKIND, 2017). Os antidepressivos podem ser classificados de acordo com a estrutura química ou as propriedades farmacológicas. Atualmente os antidepressivos são classificados preferencialmente em função da ação farmacológica, mais útil na prática clínica porque os de nova geração não compartilham estruturas comuns. Podemos dividi-los de acordo com o mecanismo de ação proposto, aumentando a eficiência sináptica da transmissão monoaminérgica (particularmente de neurônios noradrenégicos e/ou serotonérgicos). Medicamentos antidepressivos produzem aumento na concentração de neurotransmissores na fenda sináptica através da inibição do metabolismo, bloqueio de recaptura neuronal ou atuação em autoreceptores pré-sinápticos. O quadro 1 abaixo traz os principais antidepressivos utilizados na prática clínica (TENG, HUMES & DEMÉTRIO; 2005; BANDELOW, MICHAELIS & WEDEKIND, 2017). Quadro 1 - Principais antidepressivos utilizados, doses terapêuticas, indicações e efeitos adversos Classe Nome Dosagem Usual (mg/dia) Indicações de uso Perfil de efeitos adversos Inibidores seletivos da receptação de serotonina (ISRS) -Fluoxetina -Sertralina -Paroxetina -Citalopram -Escitalopram -Fluvoxamina 20-80 50-200 20-60 20-60 10-30 50-150 Baixo potencial arritmogênico, mesmo em doses elevadas. - Grande potencial de interações medicamentosas (exceto citalopram, escitalopram e sertralina). - Agitação, alteração do sono, disfunção sexual (diminuição da libido, anorgasmia, retardo na ejaculação) e distúrbios gastrintestinais. 31 Continuação Quadro 1 - Principais antidepressivos utilizados, doses terapêuticas, indicações e efeitos adversos Classe Nome Dosagem Usual (mg/dia) Indicações de uso Perfil de efeitos adversos Antidepressivos tricíclicos -Nortriptilina -Amitriptilina -Imipramina 50-150 75-300 75-300 Útil em pacientes com depressão associada à dor, inapetência ou insônia. - Risco cardíaco (aparecimento/agravamento de distúrbios de condução e arritmias). - Podem ocorrer efeitos anticolinérgicos (boca seca, visão turva, retenção urinária, taquicardia, aumento da pressão intra- ocular, constipação, tontura e hipotensão). Novos antidepressivos Bupropiona Mirtazapina Venlafaxina Duloxetina 150-300 15-45 75-300 60-120 - Útil em pacientes com hiperinsônia, lentificação psicomotora, ou disfunção sexual induzida por ISRS - Eficaz em depressões graves, melhora da ansiedade, apetite e distúrbios do sono. Poucas interações medicamentosas. - Eficaz em depressões graves, menor interação medicamentosa que ISRS. - Ação dual benéfica contra a dor. Poucas interações medicamentosas limitadas ao CYP2D6e dos ISRS. - Agitação, insônia, náuseas. - Pode levar a um aumento da pressão arterial e crises convulsivas em indivíduos predispostos. - Ganho de peso, sedação, lentificação cognitiva, distúrbios motores. Aumento da dose. - Em doses mais altas, hipertensão sistólica. - Agitação, insônia, perda de peso e disfunção sexual. - Início do tratamento: náuseas. - Elevação da pressão arterial dose-dependente Fonte: adaptado de TENG; HUMES; DEMETRIO (2005) 32 Os benzodiazepínicos estão entre os medicamentos mais usados mundialmente (MOORE & MATTISON, 2017; MADRUGA et al., 2019). Porém, para depressão e/ou transtornos da ansiedade são somente tratamento adjuvante à terapia inicial antidepressiva (VOTAW et al., 2019; MADRUGA et al., 2019). Podem ser úteis no tratamento de pacientes com ataques de pânico ou depressão com ansiedade e/ou insônia acentuadas, enquanto os antidepressivos, sobretudo os ISRSs, ainda não fizeram efeito (MOORE & MATTISON, 2017; MARTIN et al., 2018; MADRUGA et al., 2019). De fato, prescrições combinadas de antidepressivos e benzodiazepínicos são muito comuns em muitas partes do mundo. Segundo KANBA (2004), o uso concomitante de um ansiolítico na terapia inicial antidepressiva é frequentemente necessário, pois a fase aguda da depressão é acompanhada de ansiedade, insônia e irritabilidade, e o uso dos benzodiazepínicos aliviaria tais sintomas. Assim, benzodiazepínicos podem ser empregados concomitantemente nas primeiras semanas durante a latência dos antidepressivos (GUIMARÃES, 2010; MARTIN et al., 2018; VOTAW et al., 2019). Porém, o benefício da terapia combinada é apontado somente no início do tratamento, pelo alívio de sintomas como a insônia e ansiedade, perdendo-se aproximadamente a partir da quarta semana de tratamento (MARTIN et al., 2018; MADRUGA et al., 2019). O uso crônico de benzodiazepínicos leva à inúmeros efeitos deletérios, dentre eles a dependência psicológica e física (maior entre os de meia-vida curta e intermediária), e a tolerância (característica predominante da dependência física). A dependência é entendida como sendo a incapacidade de controlar a ingestão de uma substância para a qual um indivíduo é viciado (MADRUGA et al., 2019), que engloba uma gama de recursos inicialmente descritos em conexão com o abuso de álcool, hoje reconhecido como uma síndrome associada a uma série de substâncias (VOTAW et al., 2019). Já a tolerância, é um fenômeno que se desenvolve com muitos medicamentos utilizados cronicamente, na qual o organismo responde à presença continuada do fármaco com uma série de ajustamentos que tendem a superar os efeitos do mesmo. No caso dos benzodiazepínicos, mudanças compensatórias ocorrem nos receptores de benzodiazepínicos e de GABA (Ácido Gama- Aminobutírico) que se tornam menos responsivos, de modo que suas ações inibitórias se tornam reduzidas (JONES, MOGALI & COMER, 2012; VOTAW et al., 2019). Como resultado, a dose inicial do fármaco tem, progressivamente, menos efeitoe uma dose mais elevada é necessária para obter o efeito original. Ademais, a dose diária e a meia-vida do 33 fármaco também representam fatores determinantes na instalação de dependência (MEHDI, 2012). Assim, o uso irracional de benzodiazepínicos sob prescrição ou não tem aumentado e se tornado um problema de saúde pública mundial (VOTAW et al., 2019). Contudo, há ainda poucos estudos que analisam os efeitos a longo prazo do uso destes medicamentos (AIRAGNES et al., 2019). Estudo brasileiro mostrou a alta prevalência do uso de benzodiazepínicos no país (MADRUGA et al., 2019), bem como fatores de risco para o uso abusivo destes medicamentos, tais como uso de álcool, depressão, sedentarismo e distúrbios do sono. De fato, nos EUA, as mortes relacionadas à sobredose por uso de benzodiazepínicos aumentou mais de 400% de 1996-2013 (BACHHUBER et al., 2016), sendo que as consultas emergenciais relacionadas ao uso irracional destes medicamentos aumentaram mais que 300% no período de 2004 a 2011 (JONES & MCANINCH, 2015). Interessante observar que fatores como baixa qualidade de vida auto-relatada, criminalidade e uso contínuo de substâncias durante o tratamento são fatores relacionados ao uso irracional dos benzodiazepínicos (VOTAW et al., 2019). O Quadro 2 mostra a faixa terapêutica usual e a meia-vida dos principais benzodiazepínicos utilizados na prática clínica Quadro 2- Principais benzodiazepínicos, faixa terapêutica utilizada e meia-vida Medicamento Meia- vida (horas) Dose Média (mg) Alprazolam 10-14 1,5-10 Bromazepam 8-19 1,5-15 Clordiazepóxido 7-28 25-100 Clonazepam 18-56 1-8 Cloxazolam 20-90 1-16 Diazepam 20-90 5-40 Lorazepam 8-16 2-10 Midazolam 1,5-3 7,5-15 Fonte: adaptado de CORDIOLLI (2006) 34 O tratamento da depressão e dos transtornos da ansiedade requer também estratégias não farmacológicas e a importância das mesmas vêm sendo comprovadas nos últimos anos (ALESSIO et al., 2020; DAVIS et al., 2020; ZAPRUTKO et al 2020). A eficácia da terapia psicológica, especialmente a cognitivo comportamental, já está bem estabelecida tanto para a depressão quanto para os transtornos da ansiedade (BANDELOW, MICHAELIS & WEDEKIND, 2017; THABREW et al., 2018). Por sua vez, diversas evidências na literatura também indicam a atividade física e prática da meditação agregando benefícios sinérgicos aos tratamentos clássicos (antidepressivos e benzodiazepínicos) para depressão e transtornos da ansiedade (D' ALESSIO et al., 2020). Ao reduzirem o desenvolvimento da depressão durante o tratamento (GOMES et al., 2019; FERNANDEZ-MONTERO et al., 2020), o risco de ansiedade e melhorarem o desempenho cognitivo (HARVEY et al., 2018), a atividade física e meditação contribuem com o tratamento medicamentoso e/ ou cognitivo comportamental (D' ALESSIO et al., 2020). Assim, as intervenções não farmacológicas e os tratamentos clássicos farmacológicos combinados, podem ter efeitos sinérgicos na função cerebral e nos sintomas clínicos, auxiliando no controle dos transtornos de depressão e ansiedade (KANDOLA et al., 2016; PASCOE, THOMPSON & SKI, 2017), além de reduzirem o risco de efeitos adversos (D' ALESSIO et al., 2020). 4.4 A desprescrição dos benzodiazepínicos O conceito de desprescrição para medicamentos que causam dependência física e/ou psicológica vem sendo evidenciado nos últimos anos como uma prática essencial, apesar de inúmeras dificuldades na implementação (HWANG et al., 2016; POTTIE et al., 2018; CLOUGH et al., 2019; VOTAW et al., 2019). A desprescrição trata-se de um processo colaborativo envolvendo médico, paciente e outros profissionais na área da saúde em relação à retirada de medicamentos que, a longo prazo, geram reações adversas aos usuários (MARTIN & TANNENBAUM, 2017; REEVE et al., 2017; POTTIE et al., 2018). Ela ocorre através da redução gradual da dose (“desmame”), aliada à intervenções farmacológicas adjuvantes e estratégias não farmacológicas (POLLMANN et al., 2015; MARTIN & TANNENBAUM, 2017; POTTIE et al., 2018; MADRUGA et al., 2019). De fato, o tratamento da dependência dos BZD (retirada gradual) envolve uma série de medidas farmacológicas, não-farmacológicas e a retirada gradual da dose variando de acordo com o tipo de intervenção (REEVE et al., 2017; POLLMANN et al., 2015; MADRUGA et al., 2019). 35 Evidências atuais de revisão sistemática contendo 351 artigos identificaram o mal uso dos benzodiazepínicos, bem como as consequências deletérias acerca do uso abusivo dessas substâncias (VOTAW et al., 2019). Apesar do risco de sobredose, o uso concomitante de benzodiazepínicos e opioides é comum (HWANG et al., 2016), fator que tem contribuído para um aumento mundial na taxa de letalidade associada ao uso de ambos (HOISETH et al., 2016; SUN et al., 2017; HUPPERTZ et al., 2018). Adicionalmente, o risco de letalidade associada ao uso de benzodiazepínicos aumenta muito quando também são utilizados junto ao álcool e outras drogas ilícitas (VOGEL et al., 2013; KELLY et al., 2015; MATEU- GELABERT et al., 2017). O melhor local para a desprescrição é o ambulatorial, pois leva ao maior engajamento do paciente e possibilita tanto mudanças farmacológicas quanto psicológicas. Suporte psicológico deve ser oferecido e mantido tanto durante quanto após a redução da dose, incluindo informações sobre os BZD, reasseguramento e promoção de medidas não- farmacológicas para lidar com a ansiedade (POLLMANN et al., 2015; MATEU-GELABERT et al., 2017). De fato, não somente a farmacoterapia, bem como o apoio psicossocial, treinamento de habilidades para sobrepujar a ansiedade, psicoterapia formal e psicofarmacoterapia de estados depressivos subjacentes ou de outras comorbidades, auxiliam na distinção entre os sintomas de ansiedade e abstinência, oferecendo o suporte a longo prazo (FURLANETTO et al., 2009; BANDELOW, MICHAELIS & WEDEKIND, 2017; MATEU- GELABERT et al., 2017; HUPPERTZ et al., 2018). Em relação à diminuição gradual da dose utilizada, há uma variabilidade de conduta entre os prescritores (REEVE et al., 2017; HUPPERTZ et al., 2018; VOTAW et al., 2019). Alguns preferem reduzir um quarto da dose por semana. Já outros negociam com o paciente um prazo, que poderá ser em torno de 6 a 8 semanas, podendo até mesmo durar mais de 10 semanas. Os 50% iniciais da retirada são mais fáceis e plausíveis de serem concluídos nas primeiras duas semanas, ao passo que o restante do medicamento pode requerer um tempo maior para a retirada satisfatória (POLLMANN et al., 2015; REEVE et al., 2017). Torna-se essencial oferecer esquemas de redução das doses por escrito, com desenhos dos comprimidos e datas subsequentes de redução. Pacientes que não conseguem concluir o plano de redução gradual podem se beneficiar da troca para um agente de meia-vida mais longa, como o diazepam (POLLMANN et al., 2015; REEVE et al., 2017). 36 O suporte farmacológico adjuvante pode ser necessário (POLLMANN et al., 2015; REEVE et al., 2017), sendo utilizados medicamentos como carbamazepina, particularmente em pacientes recebendo benzodiazepínicos de meia vida curta. A pregabalina, antidepressivos com ação hipnótica como a trazodona e a paroxetina, e até mesmo a melatonina podem ser utilizados (POLLMANN et al., 2015; REEVE et al., 2017; HUPPERTZ et al., 2018; VOTAW et al., 2019). Modelos colaborativos baseados em equipes que incluam farmacêuticos clínicos auxiliam no processo de desprescrição (FURBISH et al., 2017; MARTIN et al., 2018; MURPHY et al., 2018). Como especialistas em medicamentos, os farmacêuticos clínicos estão bem posicionados para colaborar com a equipe interdisciplinar no sentido de otimizar o uso apropriado de benzodiazepínicos, melhorar a segurança do paciente e otimizar o controle dos sintomas das crisesde abstinência (TANNENBAUM & TSUYUKI, 2013; FURBISH et al., 2017). De fato, no Canadá, intervenções farmacêuticas interromperam prescrições inadequadas de idosos utilizando-se de benzodiazepínicos após 6 meses (MARTIN et al., 2018). Adicionalmente, no mesmo país, programa implementado por farmacêuticos comunitários com base em mudanças de comportamentos e capacitação em saúde mental, geraram desfechos positivos na redução dos benzodiazepínicos dos pacientes (MURPHY et al., 2018). 4.5 A implantação/implementação de serviços farmacêuticos Os serviços farmacêuticos clínicos surgiram para melhorar o processo de uso dos medicamentos, potencializando os desfechos positivos clínicos para seus usuários e melhorando a sua qualidade de vida (CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA 2016; PEREIRA, 2018). Contudo, para que o serviço farmacêutico se realize em um local, torna-se importante realizar avaliações de qualidade ligadas a indicadores de estrutura, de processo e aos desfechos obtidos (DONABEDIAN, 2005; MURPHY et al., 2014; BLONDAL, ALMARSDOTTIR & SPORRONG, 2017). A implantação e a avaliação da qualidade dos serviços de saúde, incluindo os providos por farmacêuticos, pode ser realizada sobre três pilares (DONABEDIAN, 2005): estrutura (recursos físicos, humanos, materiais, instrumentais normativos, administrativos, fontes de financiamento), processos (interações e procedimentos envolvendo profissionais de saúde e pacientes) e resultados (alteração no estado de saúde atribuível à intervenção em saúde). Para 37 a presente pesquisa, os indicadores de resultados foram os primeiros a serem utilizados na avaliação da qualidade em saúde, seguido do de processos. A palavra implantar tem a sua origem no Latim IN, “em”, mais PLANTA, “broto, planta”, de PLANTARE, o mesmo que “empurrar para dentro do solo com o pé (HOUAISS, 2009). De outro modo, significa iniciar e promover o desenvolvimento de algo; estabelecer; fixar. Em relação aos serviços de saúde, implantar uma prática consiste no estabelecimento de protocolos, processos, sistemas de documentação e avaliação dos resultados (GASTELURRUTIA, 2005). Já a implementação vem de IMPLERE do Latim, com o sentido de “encher, satisfazer, completar”, o que significa pôr em execução; colocar em prática um plano, um programa ou um projeto, sendo o segundo passo após a implantação, por exemplo, de um serviço de saúde (HOUAISS, 2009; GASTELURRUTIA, 2005). A busca por implantação e implementação de processos de acreditação ambulatorial tem como elemento norteador a padronização de condutas e rotinas e educação permanente dos profissionais (BARRETO, 2018). A implantação de serviços de saúde se concentra na condição de saúde ou doença, no serviço propriamente dito, intervenções e programas com a promessa de reduzir a lacuna na qualidade do atendimento, bem como introduzir práticas de saúde baseada em evidências (POWELL et al., 2012). Este tipo de pesquisa pode considerar qualquer aspecto da implantação, incluindo os fatores que afetam a implantação, os processos de aplicação e os resultados da implantação (ALCÂNTARA, 2016). Apesar dos benefícios dos serviços clínicos farmacêuticos à população (MURPHY et al., 2014; DOSEA et al., 2015; CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA 2016; RAMOS et al., 2018; SILVA et al., 2019), há ainda poucos estudos sobre a implantação dos mesmos no Brasil, sendo que nenhum deles direcionado a pacientes ambulatoriais do CAPS (AGUIAR, 2010; BALISA-ROCHA, 2010; RIOS et al., 2013; BRITO, 2015; DOSEA et al., 2015; SANTOS-JUNIOR et al., 2015; ALCÂNTARA, 2016; PEREIRA 2018). Por outro lado, existe também grande variabilidade na literatura no que tange ao impacto oferecido pelos serviços clínicos farmacêuticos na saúde do paciente, o que pode ser consequência da ausência de padronização na sua execução (BLONDAL, ALMARSDOTTIR & SPORRONG, 2017; SILVA et al., 2019). Já está bem estabelecido que os farmacêuticos, através dos seus serviços clínicos, melhoram os desfechos dos tratamentos de pacientes com transtornos mentais (SCAHILL et al., 2015; SILVA, LIMA & RUAS, 2018; LOPES, 2019), estando em posição ideal e altamente acessível para a promoção da saúde mental dos usuários (SCAHILL et al., 2015; 38 HATTINGH et al., 2017). Contudo, faltam modelos de implantação/implementação de serviços, e essa falta de padronização compromete, interferindo diretamente na qualidade e resultados mensurados que esses serviços venham a oferecer (MURPHY et al., 2014; HATTINGH et al., 2017; PEREIRA 2018). De fato, a implementação de um serviço de intervenção de manejo de medicamentos psicotrópicos demandou a transformação do cenário de prática e um planejamento cuidadoso, bem como o treinamento, motivação e suporte da equipe envolvida (HATTINGH et al., 2017). Assim, para que ocorra cada vez mais a expansão da prática do cuidado farmacêutico a pacientes com transtornos mentais, necessitam-se de estudos que contemplem o desenho dos serviços oferecidos, o desenvolvimento, a implementação e avaliação dos mesmos demtro de cada contexto (MURPHY et al., 2014; SCAHILL et al., 2015; HATTINGH et al., 2017). 4.6 A saúde mental no Brasil No início da década de 1970 teve-se o movimento da Reforma Sanitária Brasileira, que em conjunto com a introdução do Sistema Único de Saúde, contribuiu para a implementação da Lei n°10.216/2001, que tratou da Política Nacional de Saúde Mental e Reforma Psiquiátrica Brasileira (BRASIL, 2001; BRASIL 2005; LOPES et al., 2019). As principais propostas do Movimento da Reforma Sanitária, explicitadas na 8ª Conferência Nacional de Saúde – universalidade, integralidade, equidade, regionalização e controle social- foram incorporadas ao texto Constitucional nos artigos 194 a 196 e regulamentadas pelas Leis 8.080/90 e 8.142/90, criando o Sistema Único de Saúde (SUS), (BRASIL, 1990). O SUS pode ser definido como “uma nova formulação política e organizacional para o reordenamento dos serviços e ações de saúde estabelecida pela Constituição de 1988” (BRASIL, 1990; SILVA, 1999). Esse sistema, portanto, definiu normas, princípios e diretrizes para a atenção à saúde em todo o país, inclusive na área da saúde mental. A Lei Federal 10.216/2001, Lei da Política Nacional de Saúde Mental, redirecionou a assistência em saúde mental, privilegiando o oferecimento de tratamento em serviços de base comunitária, dispondo sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais, contudo, não instituiu mecanismos claros para a progressiva extinção dos manicômios (BRASIL, 2001; 2005). Apesar disso, a promulgação dessa lei impôs novo impulso e ritmo para a consolidação do processo da Reforma Psiquiátrica no Brasil. Foi no contexto da promulgação da lei 10.216/2001 e da realização da III Conferência Nacional de Saúde Mental, que a política de saúde mental do governo federal, alinhada com as diretrizes da Reforma 39 Psiquiátrica, passou a consolidar-se, ganhando maior sustentação e visibilidade (BRASIL, 2005). Torna-se importante então frisar que a Reforma Psiquiátrica Brasileira surgiu no “bojo” da Reforma Sanitária, a qual lhe conferiu sustentação política (SAÚDE MENTAL, 2009). Porém, com o passar do tempo, a Reforma Psiquiátrica organizou-se como um movimento político e social complexo, que foi além da aprovação ou existência de normativas e mudanças nas políticas governamentais e nos serviços de saúde (TRAPÉ & CAMPOS, 2017). Seus princípios incluem “o desenho de um novo modelo de serviços que tem como premissa fundamental a cidadania do usuário do serviço” (BARROS, 1996; ALVES & SOUZA, 2015), envolvendo vários atores sociais e exigindo, pela característica de seu público alvo, transformações nas práticas profissionais, no saber cuidar e na valorização do meio cultural e social do indivíduo (BRASIL, 2005). Ao final do ano de 2001, a realização em Brasília, da III Conferência
Compartilhar