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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ 
FACULDADE DE FARMÁCIA, ODONTOLOGIA E ENFERMAGEM 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS 
 
 
 
 
 
 
 
SHEILLA ALESSANDRA FERREIRA FERNANDES 
 
 
 
 
ACOMPANHAMENTO FARMACOTERAPÊUTICO DE PACIENTES COM 
DEPRESSÃO E/OU TRANSTORNOS DE ANSIEDADE EM CENTRO DE ATENÇÃO 
PSICOSSOCIAL: DO ENSAIO CLÍNICO À IMPLANTAÇÃO DO SERVIÇO 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA 
 2020 
 
 
 
 
SHEILLA ALESSANDRA FERREIRA FERNANDES 
 
 
 
 
 
Acompanhamento Farmacoterapêutico de pacientes com depressão e/ou transtornos de 
ansiedade em centro de atenção psicossocial: do ensaio clínico à implantação do serviço 
 
 
 
 
 
Tese de Doutorado apresentada ao Programa 
de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas, 
da Faculdade de farmácia da Universidade 
Federal do Ceará, como requisito parcial para 
a obtenção do Título de Doutor em Ciências 
Farmacêuticas. Área de concentração em 
Farmácia Clínica e Vigilância Sanitária. 
 
Orientador: Profª. Drª. Marta Maria de 
França Fonteles 
 
 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA 
2020 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ACOMPANHAMENTO FARMACOTERAPÊUTICO DE PACIENTES COM DEPRESSÃO 
E/OU TRANSTORNOS DE ANSIEDADE EM CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL: 
DO ENSAIO CLÍNICO À IMPLANTAÇÃO DO SERVIÇO 
 
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Ciências Farmacêuticas, da Faculdade de 
farmácia da Universidade Federal do Ceará, como 
requisito parcial para a obtenção do Título de Doutor em 
Ciências Farmacêuticas. Área de concentração em 
Farmácia Clínica e Vigilância Sanitária 
 
Aprovada em 22/12/2020 
BANCA EXAMINADORA 
_____________________________________________ 
Profª. Drª. Marta Maria de França Fonteles 
Universidade Federal do Ceará 
(Presidente) 
 
_____________________________________________ 
Profª. Drª. Chiara Ermínia da Rocha 
 Universidade Federal do Sergipe 
(Avaliadora Externa) 
 
___________________________________________ 
Profº. Dra. Walleri Christini Torelli Reis 
Universidade Federal da Paraíba 
(Avaliador Externo) 
 
_____________________________________________ 
Profª. Drª. Ana Paula Soares Gondim 
Universidade Federal do Ceará 
(Avaliadora Interna) 
 
___________________________________________ 
Profª. Dr. Paulo Sérgio Dourado Arrais 
Universidade Federal do Ceará 
(Avaliador Interno) 
 
___________________________________________ 
Profª. Drª. Nirla Rodrigues 
Universidade Federal do Ceará 
(Suplente Avaliadora Interna) 
 
_____________________________________________ 
Profª. Drª. Giselle de Carvalho Brito 
Universidade Federal do Ceará 
(Suplente Avaliadora Externa) 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 Primeiramente, a Deus, este doutorado é DELE, promessa DELE, pois foi ELE que 
me sustentou em todos os momentos. À Nossa Senhora das Graças, que me permitiu seguir 
sob o seu manto sagrado. Gratidão ao meu anjo da guarda que me iluminou sempre e aos 
livramentos proporcionados por São Miguel Arcanjo nas inúmeras viagens dirigindo para 
Fortaleza. 
 Ao meu esposo Frederico A. F. Fernandes, meu esteio emocional e financeiro durante 
estes 5 anos e 9 meses. Obrigada por sempre respeitar as minhas escolhas e estar ao meu lado. 
Aos meus filhos Isadora e Raul, que sempre foram e serão a minha última razão de viver; 
perdão pelos momentos de ausência da mamãe. 
 À Acilene da Silva, que cuidou tão bem dos meus filhos como se fossem seus nas 
minhas infinitas ausências, gratidão eterna. Também à Silvaneide Rodrigues que manteve 
sempre a minha casa com tanto zelo e carinho. 
Ao meu falecido pai José Oduvaldo, que sempre me incentivou nos estudos e me 
amou incondicionalmente até o fim. À minha mãe Vera Lúcia, que me ensinou a honrar os 
meus compromissos com fé, dignidade, e deu-me amor para que eu pudesse chegar até aqui. 
À Neide Costa, minha mãe do coração, que sempre me incentivou a prosseguir, 
mesmo quando eu nem mesma acreditava mais em mim e esteve ao meu lado todos estes 
anos. 
 À Cláudia de Andrade, que me apresentou à professora Marta e me incentivou a 
iniciar o doutorado. À minha orientadora Dra Marta Maria de França Fonteles, que me 
confiou a tarefa de desenvolver esta pesquisa, acreditando em mim e respeitando-me em 
minhas escolhas. À Universidade Federal do Ceará e em especial ao Programa de Pós-
Graduação em Ciências Farmacêuticas pela qualificação profissional na área da pesquisa e 
docência. À Willian, secretário da pós-graduação que sempre foi muito solícito comigo 
auxiliando-me em todos os detalhes. 
À Catarina S. Porto, minha orientadora de mestrado, que me iniciou na vida científica 
e acadêmica, sendo uma verdadeira “mãe” para mim enquanto morei em São Paulo. Nunca 
 
 
me esquecerei dos seus ensinamentos, das oportunidades que me deu e do incentivo para que 
um dia eu fizesse o meu doutorado. 
À Giselle de Carvalho Brito, um anjo que Deus colocou aqui na Terra segurando a 
minha mão e me guiando desde 2017 em todas as escritas dos artigos, além de ter-me dado a 
paixão pela pesquisa qualitativa. Gratidão também à Chiara E. da Rocha, pelo apoio 
incondicional nas análises estatísticas e escrita dos artigos. 
Ao professor Divaldo Lyra Júnior, por todo o ensinamento e motivação. 
À Manoel R. de Sales Neto, por apresentar-me à “Análise de Bardin” e orientar-me 
sempre com muito carinho. 
À Marília S.S. de Menezes e Renato Melo, pelo companheirismo no dia a dia do 
CAPS, nas rotinas das consultas e por todo o apoio emocional. Temos muitas histórias para 
contar! 
Aos funcionários do CAPS, que me receberam tão bem, acolhendo-me em minha 
pesquisa por tantos anos. Especialmente ao psiquiatra Dr João Batista, cujo acolhimento foi 
essencial para o andamento do projeto de pesquisa. 
Aos queridos pacientes do CAPS, que, mesmo em meio às suas dores, sempre me 
recebiam com amor e dedicavam o seu tempo em prol da minha pesquisa. 
À Prefeitura Municipal de Mossoró-RN, a qual permitiu que eu exercesse o projeto 
com os pacientes do CAPS do município. 
À Elisângela, assistente social da prefeitura de Mossoró, um outro anjo que apareceu 
para auxiliar-me nas documentações a fim de exercer a prática no CAPS. À Fátima Motta, 
que me apresentou a todos do CAPS e me proporcionou começar a parte prática dessa tese. 
À Dr Dirceu Lopes, que, abaixo de Deus, foi meu médico de “alma” por muito tempo. 
Além disso, permitiu-me acompanhá-lo em inúmeras consultas psiquiátricas, fomentando 
assim a minha paixão pela saúde mental e proporcionando-me o tema desta presente tese. 
Aos amigos companheiros de trabalho do HOVET-UFERSA, especialmente Klívio 
Loreno e Heider Irinaldo, que nunca pouparam esforços para que eu chegasse até aqui. 
Gratidão pelo extremo companheirismo. 
Às amigas Bárbara Larissa, Elaine Cristina, Ane Trento, Silvane Rigo, Bruna 
Esmeraldo, ao amigo Vitor Aires e Manflínio Santos, pelo companheirismo, amor e orações. 
 
 
À Vanessa F. Vieira, por ajudar-me quando eu sequer sabia a direção, bem mesmo 
antes da seleção para o doutorado, corrigindo o meu pré-projeto e torcendo sempre por mim 
de forma sincera. À Sandra Guimarães, que foi fundamental nesta finalização, dando-me força 
quando já não a tinha mais e luz, guiando os meus últimos passos. 
À minha psicóloga Delnile Andrea, que sempre sob inspiração do Espírito Santo soube 
colocar a palavra certa na hora correta. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Eu mesmo irei na tua frente e aplainarei lugares 
montanhosos, arrebentarei as portas de bronze, 
despedaçarei as barras de ferro, e dar-te-ei 
tesouros ocultos e riquezas escondidas, a fim de 
que saibas que eu sou Iahweh, aquele que te 
chama pelo teu nome, o Deus de Israel” (Isaías 
45, 2-3).Acompanhamento Farmacoterapêutico de pacientes com depressão e/ou transtornos de 
ansiedade em centro de atenção psicossocial: do ensaio clínico à implantação do serviço. 
SHEILLA ALESSANDRA FERREIRA FERNANDES. Profª. Drª. Marta Maria de França 
Fonteles. Tese de Doutorado. Programa de Pós Graduação em Ciências Farmacêuticas, 
Universidade Federal do Ceará, 2020. 
RESUMO 
O farmacêutico tem funções importantes na área da saúde mental, contudo suas ações são 
desconhecidas. Após a Reforma Psiquiátrica Brasileira, a prioridade foi a implantação de 
serviços substitutivos e ações de saúde mental de base comunitária, como os centros de 
atenção psicossociais (CAPS). Os CAPS são unidades estratégicas únicas para o tratamento 
de pacientes com transtornos mentais graves em nível local, em um contexto multidisciplinar. 
Essas equipes incluem médicos, enfermeiras, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas 
ocupacionais e, às vezes, outros profissionais, como farmacêuticos. Contudo, o número de 
farmacêuticos nos CAPS é insuficiente para a provisão dos serviços, os quais estão 
comumente ligados à ações relacionadas aos aspectos técnico-logísticos da profissão, sendo o 
aspecto técnico-assistencial totalmente negligenciado. Assim, o objetivo deste estudo foi 
implantar um serviço de cuidado farmacêutico, a partir do Acompanhamento 
Farmacoterapêutico (AFT) prestado aos pacientes com depressão e/ou transtornos de 
ansiedade em Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). Ensaio clínico randomizado e 
controlado com 70 adultos foi desenvolvido no CAPS II de Mossoró-RN. Os pacientes do 
grupo intervenção (GI) receberam serviço do AFT por 4 meses, paralelamente ao grupo 
controle (GC). Após o período de 4 meses, alguns pacientes do GC foram convidados a 
participar por mais quatro meses recebendo AFT (grupo intervenção pós-controle; GIPC). Os 
desfechos primários (adesão ao tratamento, taxas de ansiedade e depressão, qualidade de vida) 
e suas variações entre os grupos foram comparados. Utilizou-se a análise qualitativa de 
conteúdo (Bardin) aplicada às entrevistas dos pacientes e da equipe de saúde do CAPS em 
relação às suas percepções sobre o papel do farmacêutico na saúde mental e à provisão do 
AFT. Os resultados apontaram que, em relação à adesão à farmacoterapia, houve diferença 
estatisticamente significativa no GI, contudo os parâmetros clínicos (depressão e ansiedade) e 
humanísticos (qualidade de vida), não alteraram. Para os pacientes do GIPC (consultas 1 a 4), 
quando comparados ao momento 4 do GC, os níveis de depressão diminuíram. Segundo os 
participantes, o AFT foi essencial e importante, pois permitiu o reconhecimento do 
farmacêutico, além da identificação das atribuições e do processo de trabalho deste 
profissional no CAPS. Houve uma dualidade do papel do farmacêutico entre os atributos 
logísticos e clínicos na área da saúde mental. Assim, pela primeira vez, este estudo mostrou as 
percepções dos pacientes e de uma equipe de saúde sobre o papel do farmacêutico e a 
disponibilização do AFT nos CAPS, ajudando a elucidar a atuação do farmacêutico na saúde 
mental, além de estruturar um processo de trabalho do farmacêutico clínico a pacientes do 
CAPS. Além disso, este estudo apontou que os pacientes com depressão e/ou transtornos de 
ansiedade no CAPS deveriam ter um AFT mais longo, a fim de melhorar os resultados 
clínicos e humanísticos. Por fim, há uma visível necessidade de documentações e registros 
padronizados para este serviço farmacêutico destinado ao grupo de pacientes com depressão 
e/ou transtornos de ansiedade. 
Palavras-chave: saúde mental, cuidado farmacêutico, centro de atenção psicossocial, 
depressão, transtornos da ansiedade, implantação de serviços, ensaio clínico 
 
 
 
ABSTRACT 
The pharmacist has important functions in the area of mental health, however his actions are 
unknown. After the Brazilian Psychiatric Reform, the priority was the implementation of 
substitute services and community-based mental health actions, such as psychosocial care 
centers (CAPS). CAPS are unique strategic units for the treatment of patients with severe 
mental disorders at the local level, in a multidisciplinary context. These teams include 
doctors, nurses, psychologists, social workers, occupational therapists, and sometimes other 
professionals, such as pharmacists. However, the number of pharmacists in the CAPS is 
insufficient for the provision of services, which are commonly linked to actions related to the 
technical-logistical aspects of the profession, with the technical-assistance aspect being totally 
neglected. Thus, the objective of this study was to implement a pharmaceutical care service, 
based on the Pharmacotherapeutic Monitoring (AFT) provided to patients with depression and 
/ or anxiety disorders in a Psychosocial Care Center (CAPS). Randomized controlled clinical 
trial with 70 adults was developed in CAPS II of Mossoró-RN. The patients in the 
intervention group (IG) received the AFT service for 4 months, in parallel to the control group 
(CG). After the 4-month period, some patients in the CG were invited to participate for 
another four months receiving AFT (post-control intervention group; GIPC). Primary 
outcomes (treatment adherence, anxiety and depression rates, quality of life) and their 
variations between groups were compared. Qualitative content analysis (Bardin) applied to 
the interviews of patients and the CAPS health team in relation to their perceptions about the 
role of the pharmacist in mental health and the provision of AFT was used. The results 
showed that, regarding adherence to pharmacotherapy, there was a statistically significant 
difference in the IG, however the clinical parameters (depression and anxiety) and humanistic 
parameters (quality of life), did not change. For patients in the GIPC (consultations 1 to 4), 
when compared to moment 4 in the CG, the levels of depression decreased. According to the 
participants, the AFT was essential and important, as it allowed the pharmacist to be 
recognized, in addition to identifying the duties and work process of this professional at 
CAPS. There was a dual role of the pharmacist between the logistical and clinical attributes in 
the area of mental health. Thus, for the first time, this study showed the perceptions of 
patients and a health team about the role of the pharmacist and the availability of AFT in 
CAPS, helping to clarify the role of the pharmacist in mental health, in addition to structuring 
a work process clinical pharmacist to CAPS patients. In addition, this study pointed out that 
patients with depression and / or anxiety disorders at the CAPS should have a longer AFT in 
order to improve clinical and humanistic results. Finally, there is a visible need for 
standardized documentation and records for this pharmaceutical service for the group of 
patients with depression and / or anxiety disorders. 
 
Keywords: mental health, pharmaceutical care, psychosocial care center, depression, anxiety 
disorders, implantation services, clinical trial 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
FIGURAS 
 
Figura 01 – Ciclos do estudo, 3 ciclos totalizando 70 pacientes (36 GC; 34 GI) ............. 54 
 
Figura 02 – Fluxograma sumarizado das fases do Método Dáder de Acompanhamento 
Farmacoterapêutico, oriundo da Universidade de Granada ............................................. 59 
 
Figura 03 – Fluxograma geral dos serviços oferecidos no CAPS- Agosto 2016/2018 …. 66 
 
Figura 04 – Fluxograma do n participantes totais do estudo (fluxograma geral, 
contemplando-se os 3 ciclos realizados) .......................................................................... 69 
 
Figura 05 –Categorias advindasdas percepções da equipe de saúde e dos pacientes em 
relação ao serviço de acompanhamento farmacoterapêutico (n=56); (CAPS II; agosto 2016-
agosto 2018) ........................................................................................................................ 105 
 
Figura 06 – Categorias advindas das percepções da equipe de saúde e dos pacientes em 
relação à atuação do farmacêutico na saúde mental; (n=56); (CAPS II; agosto 2016-agosto 
2018) .................................................................................................................................... 108 
QUADROS 
 
Quadro 01 – Principais antidepressivos utilizados, doses terapêuticas, indicações e efeitos 
adversos ....................................................................................................................... 30 
 
Quadro 02 – Principais benzodiazepínicos, faixa terapêutica utilizada e meia-
vida.............................................................................................................................. 33 
 
Quadro 03 – Classificação de problemas relacionados com medicamentos, segundo II 
Consenso de Granada (2002) .................................................................................. 47 
 
Quadro 04 – Indicadores com seus respectivos instrumentos de aferição 
 utilizados ..................................................................................................................... 60 
 
 
LISTA DE GRÁFICOS 
 
 
Gráfico 1: Distribuição dos Diagnósticos contidos nos prontuários dos participantes, de 
acordo com o CID-10 (Classificação Internacional das Doenças, n=70) ............................ 73 
 
Gráfico 2: Medicamentos não prescritos mais utilizados pelos participantes, n=70........76
 
Gráfico 3: Chás/ fitoterápicos mais utilizados pelos participantes, n=70................................ 76 
 
Gráfico 4: Frequência das principais comorbidades apresentadas.......................................... 77 
 
Gráfico 5: Taxa de utilização de antidepressivos e benzodiazepínicos.................................. 77 
 
Gráfico 6: Tipos de antidepressivos utilizados (n=65) ......................................................... 79 
 
Gráfico 7: Tipos de benzodiazepínicos utilizados (n=64) ..................................................... 79 
 
Gráfico 8: Complicações do Transtorno Mental (n=70) ........................................................ 80 
 
Gráfico 9: Tipos de problemas do Transtorno Mental (n=52) .............................................. 80 
 
Gráfico 10: Percentual durante o acompanhamento farmacoterapêutico quanto à frequência de 
tipo de problema relacionado ao medicamento (CAPS, Ag/2016-Ag/2018) ......................... 82 
 
Gráfico 11: Resolutividade dos problemas relacionados aos medicamentos- distribuição de 
acordo com o tipo (n=75) ........................................................................................................ 83 
 
Gráfico 12: Distribuição dos sintomas relacionados à dependência física de benzodiazepínicos 
relatadas pelos pacientes (n=24) .......................................................................................... 85 
 
Gráfico 13: Distribuição das causas dos PRM identificados no estudo (n total=287), de acordo 
com a categorização contida no instrumento utilizado (CAPS, Ag/2016-Ag/2018) .............. 85 
 
 
 
Gráfico 14: Distribuição da prevalência das intervenções farmacêuticas (n total=382), de 
acordo com a categorização dos PRM (CAPS, Ag/2016-Ag/2018) ...................................... 88 
 
Gráfico 15: Número de pacientes em cada nível de adesão ao tratamento (questionário 
Morisky Green Levine), das consultas no GC, n=36 (CAPS, Ag/2016-Ag/2018) .............. 91 
 
Gráfico 16: Medidas de adesão ao tratamento das consultas GC, média dos índices de 
adesãoMorisky Green Levine, n=36 (CAPS, Ag/2016-Ag/2018) ......................................... 92 
 
Gráfico 17: Número de pacientes em cada nível de depressão (Inventário de depressão de 
Beck-BDI) das consultas GC, n=23 (CAPS, Ag/2016-Ag/2018)............................................92 
 
Gráfico 18: Média dos índices de depressão (Inventário de depressão de Beck-BDI) das 
consultas GC, n=23(CAPS, Ag/2016-Ag/2018)................................................................ 93 
 
Gráfico 19: Número de pacientes em cada nível de ansiedade (Formulário de Ansiedade de 
Beck, BAI) das consultas no GC, n=7 (CAPS, Ag/2016-Ag/2018) .................................. 93 
 
Gráfico 20: Média dos índices de ansiedade (Formulário de Ansiedade de Beck-BAI) das 
consultas GC, n=7(CAPS, Ag/2016-Ag/2018) .................................................................... 94 
 
Gráfico 21: Número de pacientes em cada nível de adesão ao tratamento (Questionário 
Morisky Green Levine), das consultas no GI, n=34 (CAPS, Ag/2016-Ag/2018) ................ 96 
 
Gráfico 22: Medidas de adesão ao tratamento das consultas GI, média dos índices de Adesão 
Morisky Green Levine, n=34 (CAPS, Ag/2016-Ag/2018) .................................................. 96 
 
Gráfico 23: Número de pacientes em cada nível de depressão (Inventário de depressão de 
Beck), das consultas GI, n=21(CAPS, Ag/2016-Ag/2018) .................................................. 97 
 
Gráfico 24: Média dos índices de depressão (Inventário de depressão de Beck), das consultas 
GI, n=21(CAPS, Ag/2016-Ag/2018) .................................................................................... 97 
 
 
 
Gráfico 25: Número de pacientes em cada nível de ansiedade (Formulário de Ansiedade de 
Beck-BAI), das consultas do GI, n=7(CAPS, Ag/2016-Ag/2018) ....................................... 98 
 
Gráfico 26: Média dos índices de ansiedade (Formulário de Ansiedade de Beck-BAI) das 
consultas GI, n=7(CAPS, Ag/2016-Ag/2018) ..................................................................... 98 
 
Gráfico 27: Índice de qualidade de vida no grupo controle (GC), grupo intervenção (GI) e 
grupo intervenção pós-controle (GIPC), nas consultas 1 e 4 (CAPS, Ag/2016-Ag/2018) …100 
 
Gráfico 28: Média dos índices de depressão (Inventário de depressão de Beck), entre a 
consulta 4 do GC e as consultas 1,2, 3 e 4 do GIPC, n=15 (CAPS, Ag/2016-Ag/2018) .......101 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
 
Tabela 1: Perfil Sócio Demográfico dos participantes do estudo (n=70) .................... 70 
 
 
Tabela 2: Perfil socioeconômico dos participantes do estudo (n=70) ........................... 71 
 
 
Tabela 3: Características dos aspectos clínicos dos pacientes (n=70) .......................... 72 
 
 
Tabela 4: Hábitos de vida dos participantes do estudo (n=70) ..................................... 74 
 
 
Tabela 5: Características do uso e acesso aos medicamentos e remédios caseiros ....... 75 
 
Tabela 6: Tempo de uso dos benzodiazepínicos na população estudada (n=64) 
................................................................................................................................. 78 
 
Tabela 7: Indicador de processo relacionado ao tempo médio de cada atendimento 
de AFT..................................................................................................................... 81 
 
Tabela 8: Indicadores de processo relacionados aos problemas relacionados aos 
medicamentos.......................................................................................................... 81 
 
Tabela 9: Distribuição dos problemas relacionados aos medicamentos identificados no estudo 
(PRM, n total=182) segundo estratificaçãodo II Consenso de Granada, 2002 (CAPS, 
Ag/2016-Ag/2018) ..................................................................................................... 83 
 
Tabela 10: Distribuição dos princípios ativos identificados aos problemas relacionados aos 
medicamentos (n=247), (CAPS, Ag/2016-Ag/2018) ............ ...................................... 84 
 
Tabela 11: Indicadores de processo relacionados às intervenções 
farmacêuticas............................................................................................................... 86 
 
Tabela 12: Distribuição das Intervenções Farmacêuticas segundo categorização utilizada no 
estudo (n total=464) ..................................................................................................... 87 
 
 
Tabela 13: Indicadores de processo relacionados às Intervenções 
Farmacêuticas.................................................................................................................... 88 
 
Tabela 14: Distribuição durante o acompanhamento farmacoterapêutico quanto ao tipo de 
intervenção farmacêutica aceita por classificação de categoria de problema relacionado ao 
medicamento.................................................................... ............................................... 89 
 
Tabela 15: Diferenças do nível de adesão ao tratamento, ansiedade e depressão entre as 
consultas no GC; (CAPS, Ag/2016-Ag/2018) ...................................................................91 
 
Tabela 16: Diferenças nos níveis de adesão, ansiedade, depressão e qualidade de vida entre as 
consultas farmacêuticas; (CAPS, Ag/2016-Ag/2018) ................................................. 94 
 
Tabela 17: Comparação do nível de adesão nas consultas farmacêuticas no GI (CAPS, 
Ag/2016-Ag/2018) .............................................................................................................95 
 
Tabela 18: Análise das diferenças da qualidade de vida no GC versus GI e GIPC nas consultas 
1 e 4, (CAPS, Ag/2016-Ag/2018) ..................................................................................... 99 
 
Tabela 19: Análise das diferenças da qualidade de vida nas consultas 1 e 4 no GI e GIPC, 
(CAPS, Ag/2016-Ag/2018.............................................................................................. 99 
 
Tabela 20: Diferença da adesão à farmacoterapia, depressão e ansiedade do GC (consulta 4) 
versus o GIPC (consultas 1,2,3 e 4), (CAPS, Ag/2016-Ag/2018) 
....................................................................................................................... .................. 101 
 
Tabela 21: Componentes do AFT identificados através da análise de conteúdo da percepção 
da equipe de saúde e dos pacientes em relação ao mesmo, n=56 (CAPS, Ag/2016-Ag/2018) 
....................................................................................................................... ................ 106 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
AF – Assistência Farmacêutica 
ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária 
AFT – Acompanhamento Farmacoterapêutico 
BAI- Inventário de Ansiedade de Beck 
BDI- Inventário de Depressão de Beck 
BZD- Benzodiazepínico 
CAPS – Centro de Apoio Psicossocial 
CBO- Classificação Brasileira de Ocupações 
CEATENF – Centro de Estudos em Atenção Farmacêutica 
CEP – Comitê de Ética em Pesquisa 
CFF- Conselho Federal de Farmácia 
CID- Classificação Internacional das Doenças 
DSM- Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 
DP – Desvio Padrão 
ESF – Equipe e Saúde da Família 
IF- Intervenção Farmacêutica 
ISRS- Inibidor seletivo de recaptação de serotonina 
MGLS- Escala Morisky Green Levine 
PRM- Problema Relacionado ao Medicamento 
RNM- Reações negativas aos Medicamentos 
OMS – Organização Mundial de Saúde 
OPAS – Organização Pan-Americana da Saúde 
PAM- Pronto Atendimento Municipal 
PNM – Política Nacional de Medicamentos 
PNAB – Política Nacional de Atenção Básica 
PNAF – Política Nacional de Assistência Farmacêutica 
POP- Procedimento Operacional Padrão 
PSF – Programa de Saúde da Família 
QV- Qualidade de Vida 
REMUME – Relação Municipal de Medicamentos Essenciais 
RENAME – Relação Nacional de Medicamentos Essenciais 
RNM- Reações Negativas aos Medicamentos 
 
 
SMS – Secretaria Municipal de Saúde 
SUS – Sistema Único de Saúde 
TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 
TDR- Transtorno Depressivo Recorrente 
TEPT- Transtorno de Estresse Pós-Traumático 
TMAD- Transtorno Misto Ansioso Depressivo 
TOC- Transtorno Obsessivo-Compulsivo 
TP- Transtorno do Pânico 
UBS – Unidade Básica de Saúde 
UISAM- Unidade de Saúde Mental do Município 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO............................................................................................ 22 
2 JUSTIFICATIVA ........................................................................................ 23 
3 OBJETIVOS ................................................................................................ 25 
3.1 Geral ............................................................................................................. 25 
3.2 Específicos .................................................................................................... 26 
4 REFERENCIAL TEÓRICO ...................................................................... 26 
4.1 Tipos de Transtornos Mentais ................................................................... 26 
4.2 Epidemiologia da Depressão e Transtornos da Ansiedade 
....................................................................................................................... 
 
28 
4.3 Tratamento da Depressão e Transtornos da Ansiedade 
....................................................................................................................... 
 
29 
4.4 A desprescrição dos Benzodiazepínicos .................................................... 34 
4.5 A implantação/implementação de serviços farmacêuticos 
....................................................................................................................... 
 
36 
4.6 A Saúde Mental no Brasil .......................................................................... 38 
4.7 A Atenção Farmacêutica ........................................................................... 42 
4.7.1 
4.7.2 
4.7.3 
4.7.4 
4.8 
4.9 
5.0 
5.1 
5.2 
5.3 
5.4 
5.5 
5.6 
5.6.1 
5.6.2 
Aspectos Histórico-Conceituais e Filosóficos.............................................. 
Serviços clínicos providos pelo Farmacêutico ............................................ 
Problema Relacionado ao Medicamento (PRM) ......................................... 
Intervenção Farmacêutica (IF) ....................................................................... 
O Farmacêutico e a Saúde Mental .............................................................. 
Estudos Qualitativos e a Atuação do Farmacêutico .................................. 
MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................ 
Desenho do Estudo ........................................................................................ 
Local da pesquisa .......................................................................................... 
População/amostra ......................................................................................... 
Critérios de inclusão/exclusão ....................................................................... 
Coleta de dados .............................................................................................. 
Instrumentos utilizados ................................................................................. 
Instrumento EuroQuol 5, avaliação qualidade de vida ....................................Inventário de Depressão de Beck-BDI ............................................................ 
42 
45 
46 
48 
48 
50 
52 
52 
54 
55 
56 
56 
59 
61 
62 
 
 
5.6.3 
5.6.4 
5.6.5 
5.7 
 
5.7.1 
5.8 
5.9 
6 
6.1 
6.2 
6.3 
 
6.3.1 
 
6.3.2 
6.3.3 
 
6.3.4 
 
6.3.5 
6.4 
6.4.1 
6.4.2 
7 
7.1 
7.2 
7.3 
7.3.1 
 
7.3.2 
 
7.3.3 
Escala de Ansiedade de Beck-BAI ........................................................... 
Escala de Adesão Terapêutica Morisky Green ......................................... 
Identificação e Classificação dos PRM ..................................................... 
Metodologia Qualitativa aplicada ao GI e GIPC 
.............................................................................................................................. 
Entrevista e Análise ............................................................................................ 
Plano de análise dos resultados ........................................................................ 
Aspectos Éticos .................................................................................................. 
RESULTADOS ................................................................................................. 
Capítulo 1: Seleção e Alocação dos pacientes ................................................ 
Capítulo 2: Sistematização dos dados dos participantes do estudo ............ 
Capítulo 3: Indicadores Farmacoterapêuticos, Clínicos e Humanísticos 
............................................................................................................................... 
Problemas Relacionados aos Medicamentos, Intervenções Farmacêuticas e 
afins ...................................................................................................................... 
Parâmetros Clínicos (adesão ao tratamento, depressão e ansiedade) GC ............ 
Parâmetros Clínicos (adesão ao tratamento, depressão e ansiedade) e 
humanísticos GI ................................................................................................... 
Parâmetro humanístico, sistema EUROquol-5D-3L, escala visual analógica 
(EVA EQ) dos grupos GC, GI e GIPC ................................................................ 
Parâmetros clínicos do GC x GIPC ..................................................................... 
Análise de Conteúdo .......................................................................................... 
Percepção do serviço de Acompanhamento Farmacoterapêutico......................... 
Percepção da atuação do Farmacêutico na saúde mental ..................................... 
DISCUSSÃO ....................................................................................................... 
Capítulo 1- taxa dos pacientes que participaram do estudo .......................... 
Capítulo 2- sistematização dos dados farmacoepidemiológicos .................... 
Capítulo 3- indicadores farmacoterapêuticos, clínicos e humanísticos ......... 
Problemas relacionados aos medicamentos, Intervenções Farmacêuticas e afins 
............................................................................................................................... 
Parâmetros clínicos (adesão ao tratamento, depressão e ansiedade) do GC e GI 
.............................................................................................................................. 
Parâmetro humanístico, sistema EuroQuol 5-D-3L- escala visual analógica, 
63 
64 
64 
 
65 
65 
66 
67 
68 
68 
69 
 
81 
 
81 
90 
 
94 
 
98 
100 
102 
102 
106 
108 
108 
109 
123 
 
124 
 
131 
 
 
 
 
7.3.4 
 
7.4 
7.4.1 
7.4.2 
8 
9 
 
GC, GI e GIPC ..................................................................................................... 
Parâmetros clínicos (adesão ao tratamento, depressão e ansiedade) do GC x 
GIPC .................................................................................................................... 
Análise qualitativa ............................................................................................ 
Percepção do serviço de Acompanhamento Farmacoterapêutico ....................... 
Percepção da ação do farmacêutico na saúde mental .......................................... 
CONCLUSÃO..................................................................................................... 
REFERÊNCIAS ................................................................................................. 
ANEXOS ............................................................................................................. 
APÊNDICES ...................................................................................................... 
134 
 
136 
137 
137 
140 
143 
148 
186 
201 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22 
 
 
 
1- INTRODUÇÃO 
Atualmente os problemas em saúde mental são altamente prevalentes em todo o 
mundo. O plano de ação realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 2013-2020), 
identifica o papel fundamental da saúde mental na população. Neste documento, são 
propostas novas direções na área, a exemplo da necessidade de lideranças governamentais 
mais efetivas e da implementação de estratégias para prevenção de doenças e promoção da 
saúde mental (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2012). 
Saúde mental é definida pela OMS como: “um estado de bem-estar no qual o 
indivíduo realiza as suas funções, consegue lidar com estresse da vida normalmente, pode 
trabalhar de forma produtiva e é capaz de dar contribuições para si e para sua comunidade” 
(SONY, 2009). 
 A Organização Pan- americana de Saúde (OPAS) relata que os transtornos mentais 
envolvem a combinação de pensamentos, percepções, comportamentos e emoções anormais 
sobre a vida, manifestando-se de maneiras distintas na caracterização dos diferentes tipos de 
transtornos mentais conhecidos atualmente (OPAS, 2018). De acordo com dados da OMS 
(BRASIL, 2002), os transtornos mentais resultam de uma complexa interação de fatores 
biológicos, psicológicos e sociais, podendo abranger distúrbios neurológicos ou por uso de 
substâncias, e serem de natureza episódica ou crônica (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA 
SAÚDE, 2013; LASALVIA & ZOPPEI, 2013). Podem ser classificados através da 
Classificação Internacional das Doenças (CID 10, CID 11) (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL 
DA SAÚDE, 1997; 2019), ou pela Associação Americana de Psiquiatria, através do DSM-5 
(MANUAL DIAGNÓSTICO E ESTATÍSTICO DE TRANSTORNOS MENTAIS, 2014). 
A ascensão da prevalência dos transtornos mentais ocorre especialmente em países de 
baixa a média renda (MARAGNO et al., 2006). Estima-se que aproximadamente “450 
milhões de pessoas sofram de desordens mentais e neurobiológicas, ou problemas 
psicossociais como os relacionados ao abuso de álcool e drogas” (QUADROS et al., 2018). 
Além disso, a depressão é uma das principais causas de incapacitação no mundo, ocupando o 
4° lugar entre as dez principais enfermidades (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 
2013). Estudos epidemiológicos brasileiros indicam que cerca de 20% da população adulta 
possui algum tipo de transtorno mental, 12% necessita de algum tipo de cuidado na saúde 
mental e 2,3% das reservas anuais do SUS são gastas na área (QUADROS et al., 2018). Por 
sua vez, o suicídio, que está frequentemente relacionado à presença de transtornos mentais, 
23 
 
 
acomete aproximadamente 800000 pessoas anualmente no mundo (ORGANIZAÇÃO 
MUNDIAL DA SAÚDE, 2019), tornando-se um sério problema de saúde pública que gerou o 
comprometimento de inúmeros países na redução da taxa global do mesmo 
(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2013). 
Durante as últimas décadas, a profissão farmacêutica vem se dirigindo para a filosofia 
de prática do cuidado farmacêutico, no qual o profissional assume as responsabilidades acerca 
dos desfechosda terapia medicamentosa de cada paciente, visando à melhor qualidade de vida 
do mesmo (HOLLAND & NIMMO, 1999; BLONDAL, ALMARSDÓTTIR & GRANAS, 
2019). Na saúde mental, que é um campo interdisciplinar, o farmacêutico pode intervir 
através de diversos serviços e ações como o manejo das reações adversas, realização da 
educação em saúde, estímulo da adesão ao tratamento e promoção da terapia racional do 
mesmo (SILVA et al., 2018). 
No sistema público de saúde brasileiro, a saúde mental está organizada dentro de uma 
Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), sendo os Centros de Atenção Psicossociais (CAPS), as 
unidades que tratam os pacientes em níveis locais dentro de um contexto multidisciplinar 
(BRASIL, 2002). A equipe mínima do CAPS é formada por médico, enfermeiro, terapeuta 
ocupacional, psicólogo, assistente social, pedagogo, técnico de enfermagem (BRASIL, 2002). 
Contudo, o profissional farmacêutico não está incluso na equipe mínima do CAPS, salvo se 
houver obrigatoriedade devido à presença de farmácia dispensadora do psicotrópico (LOPES 
et al., 2019). Além disso, o número de farmacêuticos trabalhando no CAPS é insuficiente para 
a realização de serviços efetivos no mesmo (SILVA et al., 2018), sendo as intervenções na 
área do cuidado farmacêutico quase escassas e desconhecidas dos pacientes e equipes nestes 
locais. 
2- JUSTIFICATIVA 
No Brasil, mesmo após anos de discussões sobre Atenção Farmacêutica (OPAS, 
2002), e todo o material disponibilizado pelo Conselho Federal de Farmácia acerca dos 
Serviços Farmacêuticos e Cuidado Farmacêutico (CFF, 2016), ainda há raras divulgações 
sobre as mesmas na área da saúde mental. O governo criou leis, portarias para amparar os 
pacientes com transtornos mentais, além da rede de atenção à saúde mental que inclui os 
CAPS e Estratégia de Saúde da Família (ESF), (BRASIL, 2002). Contudo, apesar das 
exigências legais de levarem o farmacêutico a atuar dentro dos CAPS (BRASIL, 1973; 
BRASIL, 2014), existem falhas no sistema, no qual este profissional muitas vezes não é 
24 
 
 
sequer mencionado pelos pacientes do CAPS e da ESF, sendo que os próprios profissionais 
relatam sentir dificuldades em lidar com o sofrimento psíquico, além da ausência de 
estratégias para a saúde mental na rede (GOMES, 2013; SILVA et al., 2018; LOPES et al., 
2019). 
Assim, na luz desse cenário, percebe-se que a maior parte das atribuições dos 
profissionais farmacêuticos na rede de saúde mental ainda está vinculada à práticas técnico-
logísticas em detrimento das técnico-assistenciais, dificultando a sua atuação junto ao 
paciente durante a dispensação e afetando a promoção do uso racional de medicamentos 
psicotrópicos. 
Diante desse contexto, apresento aqui minha motivação para exercer o presente 
estudo. No período de 20/05/2014 a 15/07/2014, foi feito um “relatório situacional” na 
Unidade Integrada de Saúde Mental (UISAM), do município de Mossoró (RN), na qual as 
consultas de 157 pacientes de um dos médicos dessa instituição, conforme acordado, foram 
realizadas juntamente com a minha presença. Neste período, constatou-se que, dos pacientes 
atendidos, a prevalência maior dos diagnósticos consistia de depressão associada ou não a 
transtornos da ansiedade e em relação ao tratamento, mais da metade das prescrições do 
período apresentavam pelo menos um benzodiazepínico. Os benzodiazepínicos não costumam 
ser prescritos isoladamente e comumente estão presentes em associação a outros 
psicotrópicos. De fato, em nosso relatório situacional, das prescrições que continham 
benzodiazepínicos, estes estavam em sua maioria presentes em associação aos 
antidepressivos. Contudo, a maioria dos pacientes atendidos utilizavam os benzodiazepínicos 
há muitos anos e apresentavam já um quadro de dependência/tolerância à medicação. 
Além da problemática anterior, havia muitas queixas por parte de todos os pacientes 
em relação aos medicamentos utilizados devido a seus inúmeros efeitos adversos, sendo que, 
muitas vezes devido à sobrecarga de trabalho, o médico não tinha tempo para a análise 
minuciosa e orientação adequada das prescrições. Concomitantemente, o farmacêutico da 
unidade não se dedicava integralmente a ficar na mesma, visto que a prefeitura exigia que o 
profissional trabalhasse em diversas outras unidades do município. Assim, o farmacêutico 
tinha um tempo mínimo para exercer as atividades técnico-gerenciais obrigatórias, sendo os 
serviços voltados para a assistência do paciente totalmente negligenciados. Apesar da UISAM 
ter sido extinta no município, seus pacientes foram transferidos para os CAPS da cidade e 
também para os consultórios psiquiátricos do Pronto Atendimento Municipal (PAM), 
25 
 
 
mantendo-se a necessidade de um acompanhamento e comprometimento por parte do 
profissional farmacêutico na terapia desses pacientes. 
Sendo assim, baseado na necessidade de um serviço clínico farmacêutico voltado para 
estes pacientes com transtornos mentais, pretendeu-se, no presente estudo, implantar um 
serviço de Acompanhamento Farmacoterapêutico em um grupo de pacientes de um Centro de 
Atenção Psicossocial no qual existia somente o aspecto técnico-logístico do acesso ao 
psicotrópico, avaliando-se a sua efetividade em indicadores de processo, clínicos e 
humanísticos. 
A ideia foi que, a partir de indicadores usados nos grupos que receberam o 
Acompanhamento Farmacoterapêutico (AFT, em relação ao grupo controle (que não recebeu 
o AFT), com suas comparações e interfaces, os seguintes questionamentos fossem 
respondidos: 
- O serviço de Acompanhamento Farmacoterapêutico interfere nos índices de adesão à 
terapia medicamentosa? 
-O serviço de Acompanhamento Farmacoterapêutico proporciona uma melhora na 
qualidade de vida desses pacientes? 
- Os indicadores clínicos para depressão e ansiedade são considerados melhores em 
relação ao grupo em que o farmacêutico não esteve presente? 
- O profissional farmacêutico consegue detectar os problemas relacionados aos 
medicamentos (PRM) dos pacientes acompanhados? 
- Ao detectar os problemas, o farmacêutico consegue prevení-los ou resolvê-los 
através das suas intervenções perante à equipe multiprofissional do CAPS? 
- Quais são as características básicas e pressupostos que devam estar presentes no 
processo de trabalho do farmacêutico no CAPS? 
A principal hipótese desse estudo é a de que ao analisarmos os parâmetros de 
processo, clínicos e humanísticos, comparando-os entre o grupo controle e os grupo do AFT 
(GI e GIPC), conseguiria-se avaliar a influência positiva do serviço clínico farmacêutico. 
Além disso, conseguiríamos o essencial, que seria estruturar o processo de trabalho e 
componentes mínimos que devam estar presentes no acompanhamento farmacoterapêutico de 
pacientes ambulatoriais com transtornos psiquiátricos, direcionando-se assim futuros estudos 
na área. 
3- OBJETIVOS 
3.1 Geral 
26 
 
 
- Implantar, a partir de um ensaio clínico, um serviço de acompanhamento 
farmacoterapêutico (AFT) prestado a pacientes com depressão e/ou transtornos de ansiedade 
em Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), contemplando-se os aspectos de processo e 
aplicação e utilizando-se de indicadores de qualidade para essa estruturação. 
3.2 Específicos 
- Identificar as características gerais dos participantes, segundo aspectos demográficos, 
socioeconômicos, hábitos saudáveis e religiosos, condições de saúde, história clínica, 
características do uso e acesso a medicamentos e remédios caseiros, além do acesso aos 
serviços de saúde; 
-Identificar os problemas relacionados aos medicamentos (PRM) no grupo intervenção 
e classificar as intervenções farmacêuticas; 
-Avaliar a percepção dos profissionais de saúde do CAPS e dos pacientes sobre o AFT 
e o papel do farmacêutico na saúde mental; 
-Desenvolver um modelo de processo de trabalho do farmacêutico clínico para o 
atendimento de pacientes ambulatoriais comtranstornos mentais. 
- Analisar o impacto do AFT, em comparação ao grupo controle, entre pacientes 
ambulatoriais com depressão e/ou transtornos de ansiedade, considerando os parâmetros de 
adesão ao tratamento, melhora nos índices da depressão e ansiedade e na qualidade de vida. 
4- REFERENCIAL TEÓRICO 
4.1- Tipos de Transtornos Mentais 
O capítulo 5 da Classificação Internacional de doenças (CID10) foi elaborado pela 
OMS em 1992 e compreende 11 grupos principais que vão do F0 ao F99 (ORGANIZAÇÃO 
MUNDIAL DA SAÚDE, 1993; 2014). Os transtornos mais comuns na população são: 
esquizofrenia, depressão, transtorno bipolar, ansiedade generalizada, transtorno do pânico e 
devido ao uso de substâncias psicoativas (álcool e drogas). Em relação às causas das doenças 
mentais, muito pouco é conhecido. Contudo, múltiplos fatores como sociais, psicológicos, 
biológicos e genéticos podem tornar as pessoas mais vulneráveis aos distúrbios mentais. Sua 
ocorrência pode estar associada também a condições de trabalho estressantes, urbanização, 
discriminação racial ou exclusão social (FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE 
FARMACÊUTICOS, 2015). 
Adicionalmente, a doença mental pode ser influenciada por um estilo de vida ruim, 
risco de violência e violações psíquico-físicas. A exposição a desastres naturais também pode 
27 
 
 
ser um fator de risco e fatores biológicos como genéticos e os relacionados a desordens 
químicas cerebrais também estão relacionados (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 
2014). 
Transtornos do humor (afetivos)- (F30-F39) – síndromes depressivas, episódios 
depressivos, transtorno bipolar 
Entre os transtornos do humor, o mais proeminente é a depressão (ORGANIZAÇÃO 
MUNDIAL DA SAÚDE, 2015), podendo variar de uma afecção muito leve (beirando à 
normalidade), à depressão psicótica (dentre os sintomas, estão as alucinações e os delírios). 
Aproximadamente 350 milhões de pessoas são afetadas pela depressão em todo o mundo 
(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2015), sendo uma das maiores causas de 
incapacitação mundial (QUADROS et al., 2020). Nos episódios depressivos típicos (sejam 
leves, moderados ou graves), o paciente sofre de humor deprimido, autoestima reduzida, 
alterações do sono, apetite diminuído entre outros sintomas (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL 
DA SAÚDE, 1993; 2015). Por exemplo, nos episódios depressivos leves, o paciente sente-se 
angustiado pelos sintomas depressivos e tem alguma dificuldade em continuar sua vida 
cotidiana, mas dificilmente irá abandoná-la. Já nos episódios moderados, essa dificuldade em 
manter as atividades habituais está mais presente. Nos episódios depressivos graves sem 
sintomas psicóticos, o paciente apresenta angústia ou agitação, e o suicídio é um grande 
perigo. Por fim, na depressão com sintomas psicóticos ocorrem delírios, alucinações e até 
mesmo retardo motor (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1993; 2015). 
Transtornos de Ansiedade ou Neuróticos, relacionados ao “stress” e somatoformes (F40-
F49) – Ansiedade generalizada, Transtorno do Pânico, Fobia Social, Transtorno de 
Stress pós-traumático, Fobias Específicas, Transtorno Obsessivo Compulsivo 
O quadro de ansiedade generalizada, engloba sintomas como nervosismo, medo 
excessivo, tensão muscular, sudorese, tonturas, preocupações ou sentimentos de pânico 
exagerados e irracionais a respeito de várias situações, que permanecem em grande parte do 
dia, e que perduram por, no mínimo, 6 meses (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 
1993; DALGALARRONDO, 2008; BANDELOW, MICHAELIS & WEDEKIND, 2017). A 
incidência está entre 3 e 8% e a proporção homens/mulheres é de 2:1, além de ser o subtipo de 
transtorno de ansiedade mais prevalente no Brasil e no mundo (CASTILLO et al., 2000; 
BANDELOW, MICHAELIS & WEDEKIND, 2017). 
28 
 
 
Já no transtorno do pânico (TP), o indivíduo apresenta ataques de pânico recorrentes 
que consistem em uma sensação de medo ou mal-estar intenso acompanhada de sintomas 
físicos e cognitivos e que se iniciam de forma brusca, alcançando intensidade máxima em até 
10 minutos (SALUM et al., 2009; BANDELOW, MICHAELIS & WEDEKIND, 2017). Estes 
ataques acarretam preocupações persistentes ou modificações importantes de comportamento 
em relação à possibilidade de ocorrência de novos ataques de ansiedade (SALUM et al., 
2009; BANDELOW, MICHAELIS & WEDEKIND, 2017). 
As fobias específicas são definidas pela presença de medo excessivo e persistente 
relacionado a um determinado objeto ou situação, que não seja situação de exposição pública 
ou medo de ter um ataque de pânico (CASTILLO et al., 2000; BANDELOW, MICHAELIS 
& WEDEKIND, 2017). Já a fobia social consiste no medo persistente e intenso de situações 
onde a pessoa julga estar exposta à avaliação de outros, ou se comportar de maneira 
humilhante ou vergonhosa, caracterizando-se o diagnóstico (CASTILLO et al., 2000; 
BANDELOW, MICHAELIS & WEDEKIND, 2017). 
O transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) consiste nas consequências advindas 
de violência, abuso sexual, desastres ambientais, tendo havido um reconhecimento de que 
essas experiências traumáticas têm impacto grave e duradouro sobre os indivíduos, havendo 
muito comprometimento de suas atividades (CASTILLO et al., 2000; BANDELOW, 
MICHAELIS & WEDEKIND, 2017). 
Por fim, o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é caracterizado pela presença de 
obsessões e/ou de compulsões (ROSARIO-CAMPOS & MERCADANTE, 2000; 
BANDELOW, MICHAELIS & WEDEKIND, 2017). Obsessões podem ser definidas como 
eventos mentais, tais como pensamentos, ideias, impulsos e imagens, vivenciados como 
intrusivos e incômodos. Já as compulsões são definidas como comportamentos ou atos 
mentais repetitivos, realizados para diminuir o incômodo ou a ansiedade causados pelas 
obsessões, ou para evitar que uma situação temida venha a ocorrer (ROSARIO-CAMPOS & 
MERCADANTE, 2000; BANDELOW, MICHAELIS & WEDEKIND, 2017). 
4.2 Epidemiologia da Depressão e Transtornos da Ansiedade 
Ao analisarem-se os anos de vida perdidos por incapacitação, os transtornos mentais 
estão entre os 5 mais prevalentes (INSTITUTO NACIONAL DE SAÚDE MENTAL, 2011; 
TUNG et al., 2018; QUADROS et al., 2018). Os sistemas de saúde não estão respondendo 
adequadamente aos prejuízos da doença mental e, como consequência, há uma lacuna entre as 
necessidades de tratamento e seus recursos em grande parte do mundo (SONY, 2009). Em 
29 
 
 
países de renda média e baixa, entre 76% a 85% das pessoas com transtornos mentais graves 
não recebem tratamento, e nos de renda alta, os dados de 35 a 50% também são alarmantes 
(INSTITUTO NACIONAL DE SAÚDE MENTAL, 2014). 
A doença mental possui custos econômicos e sociais. Aproximadamente 12% dos 
prejuízos globais foram atribuídos às desordens mentais e comportamentais em 1999, sendo 
que a previsão para 2020 é de 15% (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2001; 
QUADROS et al., 2018). A Agência de Qualidade em pesquisa e saúde nos EUA estimou um 
custo de 57,5 bilhões de dólares em 2006 para os cuidados em saúde mental, equivalente aos 
custos com cuidados do câncer (SONY, 2009). 
Porém, diferentemente do câncer, muitos dos prejuízos da doença mental não são com 
custo do cuidado, mas com a perda de renda devido ao desemprego, gastos com suporte 
social, e uma variedade de custos indiretos devidos à incapacidade crônica que inicia-se 
precocemente (QUADROS et al., 2018). As despesas globais com saúde mental são grandes, 
estimadas em cerca de 2,5 trilhões de dólares em 2010 (2/3 de custos indiretos), com 
projeções de aumento para 6 trilhões em 2030 (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 
2012). Somente por comparação, o gasto global total com saúde foi de 6,5 trilhões em 2010, 
com prejuízos de saúde por pessoa/ano de 948 dólares, de acordo com a OMS 
(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2012). 
No Brasil, a partir de 2015, há uma notória ausência de dados referentes à saúde 
mental no país (DANTAS & ODA, 2014), bem como a escassez de estudos avaliativosda 
qualidade dos serviços na área (TRAPÉ & CAMPOS, 2017). Ademais, existe uma grande 
dificuldade em localizar estudos atuais que relatem a epidemiologia dos transtornos mentais 
sem especificar algum estado ou alguma região (DANTAS & ODA, 2014; TRAPÉ & 
CAMPOS, 2017). Contudo, em 2017, a Organização Mundial da Saúde publicou uma 
pesquisa na qual o Brasil lidera mundialmente a prevalência dos transtornos da ansiedade, 
sendo o quinto nos diagnósticos da depressão (DE SOUZA & DE SOUZA, 2017). 
Comparada à pesquisa anterior, (WHO, 2005), houve um aumento na frequência de 
transtornos depressivos e de ansiedade em todo o mundo, tendo o crescimento da população e 
maior longevidade como fatores contribuintes para a imagem atual. Assim, torna-se uma 
problemática coletiva o ônus pessoal e financeiro da ansiedade e da depressão no mundo e no 
Brasil (DE SOUZA & DE SOUZA, 2017), exigindo-se uma ação imediata e coordenada da 
comunidade científica e agências governamentais. 
4.3 Tratamento da Depressão e Transtornos da Ansiedade 
30 
 
 
 Diferentes tipos de medicamentos são utilizados no tratamento dos transtornos 
mentais. Porém, as principais classes utilizadas na depressão e ansiedade são os 
antidepressivos associados a benzodiazepínicos, raramente utilizando-se de antipsicóticos e 
estabilizadores de humor (FURLANETTO et al., 2009; BANDELOW, MICHAELIS & 
WEDEKIND, 2017). 
Estudos randomizados controlados em todo o mundo (WILLIAMS et al., 2017) 
mostraram benefício dos antidepressivos como primeira linha no tratamento para depressão e 
também: nos transtornos de ansiedade (pânico, transtorno obsessivo compulsivo, fobia social, 
transtorno de estresse pós-traumático). Além disso, os antidepressivos tricíclicos são eficazes 
no tratamento da dor neuropática, independentemente da existência de sintomas de depressão 
ou ansiedade (FURLANETTO et al., 2009; BANDELOW, MICHAELIS & WEDEKIND, 
2017). 
Os antidepressivos podem ser classificados de acordo com a estrutura química ou as 
propriedades farmacológicas. Atualmente os antidepressivos são classificados 
preferencialmente em função da ação farmacológica, mais útil na prática clínica porque os de 
nova geração não compartilham estruturas comuns. Podemos dividi-los de acordo com o 
mecanismo de ação proposto, aumentando a eficiência sináptica da transmissão 
monoaminérgica (particularmente de neurônios noradrenégicos e/ou serotonérgicos). 
Medicamentos antidepressivos produzem aumento na concentração de neurotransmissores na 
fenda sináptica através da inibição do metabolismo, bloqueio de recaptura neuronal ou 
atuação em autoreceptores pré-sinápticos. O quadro 1 abaixo traz os principais 
antidepressivos utilizados na prática clínica (TENG, HUMES & DEMÉTRIO; 2005; 
BANDELOW, MICHAELIS & WEDEKIND, 2017). 
 
Quadro 1 - Principais antidepressivos utilizados, doses terapêuticas, indicações e efeitos 
adversos 
Classe Nome 
Dosagem 
Usual 
(mg/dia) 
Indicações de 
uso 
Perfil de efeitos adversos 
Inibidores seletivos 
da receptação de 
serotonina (ISRS) 
-Fluoxetina 
-Sertralina 
-Paroxetina 
-Citalopram 
-Escitalopram 
-Fluvoxamina 
 
20-80 
50-200 
20-60 
20-60 
10-30 
50-150 
Baixo 
potencial 
arritmogênico, 
mesmo em 
doses 
elevadas. 
- Grande potencial de interações 
medicamentosas (exceto 
citalopram, escitalopram e 
sertralina). 
- Agitação, alteração do sono, 
disfunção sexual (diminuição da 
libido, anorgasmia, retardo na 
ejaculação) e distúrbios 
gastrintestinais. 
 
31 
 
 
Continuação Quadro 1 - Principais antidepressivos utilizados, doses terapêuticas, indicações 
e efeitos adversos 
 
Classe Nome 
Dosagem Usual 
(mg/dia) 
Indicações de uso Perfil de efeitos adversos 
Antidepressivos 
tricíclicos 
-Nortriptilina 
 
-Amitriptilina 
 
-Imipramina 
 
50-150 
 
75-300 
 
75-300 
 
Útil em pacientes 
com depressão 
associada à dor, 
inapetência ou 
insônia. 
- Risco cardíaco 
(aparecimento/agravamento 
de distúrbios de condução e 
arritmias). 
- Podem ocorrer efeitos 
anticolinérgicos (boca seca, 
visão turva, retenção 
urinária, taquicardia, 
aumento da pressão intra-
ocular, constipação, tontura 
e hipotensão). 
Novos 
antidepressivos 
Bupropiona 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Mirtazapina 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Venlafaxina 
 
 
 
 
 
 
 
Duloxetina 
 
 
 
 
 
 
 
150-300 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15-45 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
75-300 
 
 
 
 
 
 
 
 
60-120 
 
 
- Útil em pacientes 
com hiperinsônia, 
lentificação 
psicomotora, ou 
disfunção sexual 
induzida por ISRS 
 
 
 
 
- Eficaz em 
depressões graves, 
melhora da 
ansiedade, apetite 
e distúrbios do 
sono. Poucas 
interações 
medicamentosas. 
 
 
- Eficaz em 
depressões graves, 
menor interação 
medicamentosa 
que ISRS. 
 
 
 
 
- Ação dual 
benéfica contra a 
dor. 
Poucas interações 
medicamentosas 
limitadas ao 
CYP2D6e dos 
ISRS. 
- Agitação, insônia, 
náuseas. 
- Pode levar a um aumento 
da pressão arterial e crises 
convulsivas em indivíduos 
predispostos. 
 
 
 
 
- Ganho de peso, sedação, 
lentificação cognitiva, 
distúrbios motores. 
Aumento da dose. 
 
 
 
 
 
 
 
- Em doses mais altas, 
hipertensão sistólica. 
- Agitação, insônia, perda 
de peso e disfunção sexual. 
 
 
 
 
 
- Início do tratamento: 
náuseas. 
- Elevação da pressão 
arterial dose-dependente 
Fonte: adaptado de TENG; HUMES; DEMETRIO (2005) 
32 
 
 
Os benzodiazepínicos estão entre os medicamentos mais usados mundialmente 
(MOORE & MATTISON, 2017; MADRUGA et al., 2019). Porém, para depressão e/ou 
transtornos da ansiedade são somente tratamento adjuvante à terapia inicial antidepressiva 
(VOTAW et al., 2019; MADRUGA et al., 2019). Podem ser úteis no tratamento de pacientes 
com ataques de pânico ou depressão com ansiedade e/ou insônia acentuadas, enquanto os 
antidepressivos, sobretudo os ISRSs, ainda não fizeram efeito (MOORE & MATTISON, 
2017; MARTIN et al., 2018; MADRUGA et al., 2019). 
De fato, prescrições combinadas de antidepressivos e benzodiazepínicos são muito 
comuns em muitas partes do mundo. Segundo KANBA (2004), o uso concomitante de um 
ansiolítico na terapia inicial antidepressiva é frequentemente necessário, pois a fase aguda da 
depressão é acompanhada de ansiedade, insônia e irritabilidade, e o uso dos 
benzodiazepínicos aliviaria tais sintomas. Assim, benzodiazepínicos podem ser empregados 
concomitantemente nas primeiras semanas durante a latência dos antidepressivos 
(GUIMARÃES, 2010; MARTIN et al., 2018; VOTAW et al., 2019). Porém, o benefício da 
terapia combinada é apontado somente no início do tratamento, pelo alívio de sintomas como 
a insônia e ansiedade, perdendo-se aproximadamente a partir da quarta semana de tratamento 
(MARTIN et al., 2018; MADRUGA et al., 2019). 
O uso crônico de benzodiazepínicos leva à inúmeros efeitos deletérios, dentre eles a 
dependência psicológica e física (maior entre os de meia-vida curta e intermediária), e a 
tolerância (característica predominante da dependência física). A dependência é entendida 
como sendo a incapacidade de controlar a ingestão de uma substância para a qual um 
indivíduo é viciado (MADRUGA et al., 2019), que engloba uma gama de recursos 
inicialmente descritos em conexão com o abuso de álcool, hoje reconhecido como uma 
síndrome associada a uma série de substâncias (VOTAW et al., 2019). Já a tolerância, é um 
fenômeno que se desenvolve com muitos medicamentos utilizados cronicamente, na qual o 
organismo responde à presença continuada do fármaco com uma série de ajustamentos que 
tendem a superar os efeitos do mesmo. No caso dos benzodiazepínicos, mudanças 
compensatórias ocorrem nos receptores de benzodiazepínicos e de GABA (Ácido Gama-
Aminobutírico) que se tornam menos responsivos, de modo que suas ações inibitórias se 
tornam reduzidas (JONES, MOGALI & COMER, 2012; VOTAW et al., 2019). Como 
resultado, a dose inicial do fármaco tem, progressivamente, menos efeitoe uma dose mais 
elevada é necessária para obter o efeito original. Ademais, a dose diária e a meia-vida do 
33 
 
 
fármaco também representam fatores determinantes na instalação de dependência (MEHDI, 
2012). 
Assim, o uso irracional de benzodiazepínicos sob prescrição ou não tem aumentado e 
se tornado um problema de saúde pública mundial (VOTAW et al., 2019). Contudo, há ainda 
poucos estudos que analisam os efeitos a longo prazo do uso destes medicamentos 
(AIRAGNES et al., 2019). Estudo brasileiro mostrou a alta prevalência do uso de 
benzodiazepínicos no país (MADRUGA et al., 2019), bem como fatores de risco para o uso 
abusivo destes medicamentos, tais como uso de álcool, depressão, sedentarismo e distúrbios 
do sono. De fato, nos EUA, as mortes relacionadas à sobredose por uso de benzodiazepínicos 
aumentou mais de 400% de 1996-2013 (BACHHUBER et al., 2016), sendo que as consultas 
emergenciais relacionadas ao uso irracional destes medicamentos aumentaram mais que 300% 
no período de 2004 a 2011 (JONES & MCANINCH, 2015). Interessante observar que fatores 
como baixa qualidade de vida auto-relatada, criminalidade e uso contínuo de substâncias 
durante o tratamento são fatores relacionados ao uso irracional dos benzodiazepínicos 
(VOTAW et al., 2019). 
O Quadro 2 mostra a faixa terapêutica usual e a meia-vida dos principais benzodiazepínicos 
utilizados na prática clínica 
 
Quadro 2- Principais benzodiazepínicos, faixa terapêutica utilizada e meia-vida 
 
Medicamento Meia- vida (horas) Dose Média (mg) 
 
Alprazolam 
10-14 
 
1,5-10 
 
Bromazepam 
 
8-19 
 
1,5-15 
 
Clordiazepóxido 
 
7-28 
 
25-100 
 
Clonazepam 
18-56 
 
1-8 
 
Cloxazolam 
 
20-90 
 
1-16 
 
Diazepam 
 
20-90 
 
5-40 
 
Lorazepam 
 
8-16 
 
2-10 
 
Midazolam 
 
1,5-3 
 
7,5-15 
Fonte: adaptado de CORDIOLLI (2006) 
34 
 
 
O tratamento da depressão e dos transtornos da ansiedade requer também estratégias 
não farmacológicas e a importância das mesmas vêm sendo comprovadas nos últimos anos 
(ALESSIO et al., 2020; DAVIS et al., 2020; ZAPRUTKO et al 2020). A eficácia da terapia 
psicológica, especialmente a cognitivo comportamental, já está bem estabelecida tanto para a 
depressão quanto para os transtornos da ansiedade (BANDELOW, MICHAELIS & 
WEDEKIND, 2017; THABREW et al., 2018). Por sua vez, diversas evidências na literatura 
também indicam a atividade física e prática da meditação agregando benefícios sinérgicos aos 
tratamentos clássicos (antidepressivos e benzodiazepínicos) para depressão e transtornos da 
ansiedade (D' ALESSIO et al., 2020). Ao reduzirem o desenvolvimento da depressão durante 
o tratamento (GOMES et al., 2019; FERNANDEZ-MONTERO et al., 2020), o risco de 
ansiedade e melhorarem o desempenho cognitivo (HARVEY et al., 2018), a atividade física e 
meditação contribuem com o tratamento medicamentoso e/ ou cognitivo comportamental (D' 
ALESSIO et al., 2020). Assim, as intervenções não farmacológicas e os tratamentos clássicos 
farmacológicos combinados, podem ter efeitos sinérgicos na função cerebral e nos sintomas 
clínicos, auxiliando no controle dos transtornos de depressão e ansiedade (KANDOLA et al., 
2016; PASCOE, THOMPSON & SKI, 2017), além de reduzirem o risco de efeitos adversos 
(D' ALESSIO et al., 2020). 
4.4 A desprescrição dos benzodiazepínicos 
O conceito de desprescrição para medicamentos que causam dependência física e/ou 
psicológica vem sendo evidenciado nos últimos anos como uma prática essencial, apesar de 
inúmeras dificuldades na implementação (HWANG et al., 2016; POTTIE et al., 2018; 
CLOUGH et al., 2019; VOTAW et al., 2019). A desprescrição trata-se de um processo 
colaborativo envolvendo médico, paciente e outros profissionais na área da saúde em relação 
à retirada de medicamentos que, a longo prazo, geram reações adversas aos usuários 
(MARTIN & TANNENBAUM, 2017; REEVE et al., 2017; POTTIE et al., 2018). Ela ocorre 
através da redução gradual da dose (“desmame”), aliada à intervenções farmacológicas 
adjuvantes e estratégias não farmacológicas (POLLMANN et al., 2015; MARTIN & 
TANNENBAUM, 2017; POTTIE et al., 2018; MADRUGA et al., 2019). De fato, o 
tratamento da dependência dos BZD (retirada gradual) envolve uma série de medidas 
farmacológicas, não-farmacológicas e a retirada gradual da dose variando de acordo com o 
tipo de intervenção (REEVE et al., 2017; POLLMANN et al., 2015; MADRUGA et al., 
2019). 
35 
 
 
Evidências atuais de revisão sistemática contendo 351 artigos identificaram o mal uso 
dos benzodiazepínicos, bem como as consequências deletérias acerca do uso abusivo dessas 
substâncias (VOTAW et al., 2019). Apesar do risco de sobredose, o uso concomitante de 
benzodiazepínicos e opioides é comum (HWANG et al., 2016), fator que tem contribuído 
para um aumento mundial na taxa de letalidade associada ao uso de ambos (HOISETH et al., 
2016; SUN et al., 2017; HUPPERTZ et al., 2018). Adicionalmente, o risco de letalidade 
associada ao uso de benzodiazepínicos aumenta muito quando também são utilizados junto ao 
álcool e outras drogas ilícitas (VOGEL et al., 2013; KELLY et al., 2015; MATEU-
GELABERT et al., 2017). 
O melhor local para a desprescrição é o ambulatorial, pois leva ao maior engajamento 
do paciente e possibilita tanto mudanças farmacológicas quanto psicológicas. Suporte 
psicológico deve ser oferecido e mantido tanto durante quanto após a redução da dose, 
incluindo informações sobre os BZD, reasseguramento e promoção de medidas não-
farmacológicas para lidar com a ansiedade (POLLMANN et al., 2015; MATEU-GELABERT 
et al., 2017). De fato, não somente a farmacoterapia, bem como o apoio psicossocial, 
treinamento de habilidades para sobrepujar a ansiedade, psicoterapia formal e 
psicofarmacoterapia de estados depressivos subjacentes ou de outras comorbidades, auxiliam 
na distinção entre os sintomas de ansiedade e abstinência, oferecendo o suporte a longo prazo 
(FURLANETTO et al., 2009; BANDELOW, MICHAELIS & WEDEKIND, 2017; MATEU-
GELABERT et al., 2017; HUPPERTZ et al., 2018). 
Em relação à diminuição gradual da dose utilizada, há uma variabilidade de conduta 
entre os prescritores (REEVE et al., 2017; HUPPERTZ et al., 2018; VOTAW et al., 2019). 
Alguns preferem reduzir um quarto da dose por semana. Já outros negociam com o paciente 
um prazo, que poderá ser em torno de 6 a 8 semanas, podendo até mesmo durar mais de 10 
semanas. Os 50% iniciais da retirada são mais fáceis e plausíveis de serem concluídos nas 
primeiras duas semanas, ao passo que o restante do medicamento pode requerer um tempo 
maior para a retirada satisfatória (POLLMANN et al., 2015; REEVE et al., 2017). Torna-se 
essencial oferecer esquemas de redução das doses por escrito, com desenhos dos 
comprimidos e datas subsequentes de redução. Pacientes que não conseguem concluir o 
plano de redução gradual podem se beneficiar da troca para um agente de meia-vida mais 
longa, como o diazepam (POLLMANN et al., 2015; REEVE et al., 2017). 
36 
 
 
O suporte farmacológico adjuvante pode ser necessário (POLLMANN et al., 2015; 
REEVE et al., 2017), sendo utilizados medicamentos como carbamazepina, particularmente 
em pacientes recebendo benzodiazepínicos de meia vida curta. A pregabalina, antidepressivos 
com ação hipnótica como a trazodona e a paroxetina, e até mesmo a melatonina podem ser 
utilizados (POLLMANN et al., 2015; REEVE et al., 2017; HUPPERTZ et al., 2018; 
VOTAW et al., 2019). 
Modelos colaborativos baseados em equipes que incluam farmacêuticos clínicos 
auxiliam no processo de desprescrição (FURBISH et al., 2017; MARTIN et al., 2018; 
MURPHY et al., 2018). Como especialistas em medicamentos, os farmacêuticos clínicos 
estão bem posicionados para colaborar com a equipe interdisciplinar no sentido de otimizar o 
uso apropriado de benzodiazepínicos, melhorar a segurança do paciente e otimizar o controle 
dos sintomas das crisesde abstinência (TANNENBAUM & TSUYUKI, 2013; FURBISH et 
al., 2017). De fato, no Canadá, intervenções farmacêuticas interromperam prescrições 
inadequadas de idosos utilizando-se de benzodiazepínicos após 6 meses (MARTIN et al., 
2018). Adicionalmente, no mesmo país, programa implementado por farmacêuticos 
comunitários com base em mudanças de comportamentos e capacitação em saúde mental, 
geraram desfechos positivos na redução dos benzodiazepínicos dos pacientes (MURPHY et 
al., 2018). 
4.5 A implantação/implementação de serviços farmacêuticos 
Os serviços farmacêuticos clínicos surgiram para melhorar o processo de uso dos 
medicamentos, potencializando os desfechos positivos clínicos para seus usuários e 
melhorando a sua qualidade de vida (CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA 2016; 
PEREIRA, 2018). Contudo, para que o serviço farmacêutico se realize em um local, torna-se 
importante realizar avaliações de qualidade ligadas a indicadores de estrutura, de processo e 
aos desfechos obtidos (DONABEDIAN, 2005; MURPHY et al., 2014; BLONDAL, 
ALMARSDOTTIR & SPORRONG, 2017). 
A implantação e a avaliação da qualidade dos serviços de saúde, incluindo os providos 
por farmacêuticos, pode ser realizada sobre três pilares (DONABEDIAN, 2005): estrutura 
(recursos físicos, humanos, materiais, instrumentais normativos, administrativos, fontes de 
financiamento), processos (interações e procedimentos envolvendo profissionais de saúde e 
pacientes) e resultados (alteração no estado de saúde atribuível à intervenção em saúde). Para 
37 
 
 
a presente pesquisa, os indicadores de resultados foram os primeiros a serem utilizados na 
avaliação da qualidade em saúde, seguido do de processos. 
A palavra implantar tem a sua origem no Latim IN, “em”, mais PLANTA, “broto, 
planta”, de PLANTARE, o mesmo que “empurrar para dentro do solo com o pé (HOUAISS, 
2009). De outro modo, significa iniciar e promover o desenvolvimento de algo; estabelecer; 
fixar. Em relação aos serviços de saúde, implantar uma prática consiste no estabelecimento de 
protocolos, processos, sistemas de documentação e avaliação dos resultados 
(GASTELURRUTIA, 2005). Já a implementação vem de IMPLERE do Latim, com o sentido 
de “encher, satisfazer, completar”, o que significa pôr em execução; colocar em prática um 
plano, um programa ou um projeto, sendo o segundo passo após a implantação, por exemplo, 
de um serviço de saúde (HOUAISS, 2009; GASTELURRUTIA, 2005). 
A busca por implantação e implementação de processos de acreditação ambulatorial 
tem como elemento norteador a padronização de condutas e rotinas e educação permanente 
dos profissionais (BARRETO, 2018). A implantação de serviços de saúde se concentra na 
condição de saúde ou doença, no serviço propriamente dito, intervenções e programas com a 
promessa de reduzir a lacuna na qualidade do atendimento, bem como introduzir práticas de 
saúde baseada em evidências (POWELL et al., 2012). Este tipo de pesquisa pode considerar 
qualquer aspecto da implantação, incluindo os fatores que afetam a implantação, os processos 
de aplicação e os resultados da implantação (ALCÂNTARA, 2016). 
Apesar dos benefícios dos serviços clínicos farmacêuticos à população (MURPHY et 
al., 2014; DOSEA et al., 2015; CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA 2016; RAMOS et 
al., 2018; SILVA et al., 2019), há ainda poucos estudos sobre a implantação dos mesmos no 
Brasil, sendo que nenhum deles direcionado a pacientes ambulatoriais do CAPS (AGUIAR, 
2010; BALISA-ROCHA, 2010; RIOS et al., 2013; BRITO, 2015; DOSEA et al., 2015; 
SANTOS-JUNIOR et al., 2015; ALCÂNTARA, 2016; PEREIRA 2018). Por outro lado, 
existe também grande variabilidade na literatura no que tange ao impacto oferecido pelos 
serviços clínicos farmacêuticos na saúde do paciente, o que pode ser consequência da 
ausência de padronização na sua execução (BLONDAL, ALMARSDOTTIR & SPORRONG, 
2017; SILVA et al., 2019). 
Já está bem estabelecido que os farmacêuticos, através dos seus serviços clínicos, 
melhoram os desfechos dos tratamentos de pacientes com transtornos mentais (SCAHILL et 
al., 2015; SILVA, LIMA & RUAS, 2018; LOPES, 2019), estando em posição ideal e 
altamente acessível para a promoção da saúde mental dos usuários (SCAHILL et al., 2015; 
38 
 
 
HATTINGH et al., 2017). Contudo, faltam modelos de implantação/implementação de 
serviços, e essa falta de padronização compromete, interferindo diretamente na qualidade e 
resultados mensurados que esses serviços venham a oferecer (MURPHY et al., 2014; 
HATTINGH et al., 2017; PEREIRA 2018). De fato, a implementação de um serviço de 
intervenção de manejo de medicamentos psicotrópicos demandou a transformação do cenário 
de prática e um planejamento cuidadoso, bem como o treinamento, motivação e suporte da 
equipe envolvida (HATTINGH et al., 2017). Assim, para que ocorra cada vez mais a 
expansão da prática do cuidado farmacêutico a pacientes com transtornos mentais, 
necessitam-se de estudos que contemplem o desenho dos serviços oferecidos, o 
desenvolvimento, a implementação e avaliação dos mesmos demtro de cada contexto 
(MURPHY et al., 2014; SCAHILL et al., 2015; HATTINGH et al., 2017). 
4.6 A saúde mental no Brasil 
No início da década de 1970 teve-se o movimento da Reforma Sanitária Brasileira, 
que em conjunto com a introdução do Sistema Único de Saúde, contribuiu para a 
implementação da Lei n°10.216/2001, que tratou da Política Nacional de Saúde Mental e 
Reforma Psiquiátrica Brasileira (BRASIL, 2001; BRASIL 2005; LOPES et al., 2019). As 
principais propostas do Movimento da Reforma Sanitária, explicitadas na 8ª Conferência 
Nacional de Saúde – universalidade, integralidade, equidade, regionalização e controle social- 
foram incorporadas ao texto Constitucional nos artigos 194 a 196 e regulamentadas pelas Leis 
8.080/90 e 8.142/90, criando o Sistema Único de Saúde (SUS), (BRASIL, 1990). O SUS pode 
ser definido como “uma nova formulação política e organizacional para o reordenamento dos 
serviços e ações de saúde estabelecida pela Constituição de 1988” (BRASIL, 1990; SILVA, 
1999). Esse sistema, portanto, definiu normas, princípios e diretrizes para a atenção à saúde 
em todo o país, inclusive na área da saúde mental. 
A Lei Federal 10.216/2001, Lei da Política Nacional de Saúde Mental, redirecionou a 
assistência em saúde mental, privilegiando o oferecimento de tratamento em serviços de base 
comunitária, dispondo sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais, 
contudo, não instituiu mecanismos claros para a progressiva extinção dos manicômios 
(BRASIL, 2001; 2005). Apesar disso, a promulgação dessa lei impôs novo impulso e ritmo 
para a consolidação do processo da Reforma Psiquiátrica no Brasil. Foi no contexto da 
promulgação da lei 10.216/2001 e da realização da III Conferência Nacional de Saúde Mental, 
que a política de saúde mental do governo federal, alinhada com as diretrizes da Reforma 
39 
 
 
Psiquiátrica, passou a consolidar-se, ganhando maior sustentação e visibilidade (BRASIL, 
2005). 
Torna-se importante então frisar que a Reforma Psiquiátrica Brasileira surgiu no 
“bojo” da Reforma Sanitária, a qual lhe conferiu sustentação política (SAÚDE MENTAL, 
2009). Porém, com o passar do tempo, a Reforma Psiquiátrica organizou-se como um 
movimento político e social complexo, que foi além da aprovação ou existência de normativas 
e mudanças nas políticas governamentais e nos serviços de saúde (TRAPÉ & CAMPOS, 
2017). Seus princípios incluem “o desenho de um novo modelo de serviços que tem como 
premissa fundamental a cidadania do usuário do serviço” (BARROS, 1996; ALVES & 
SOUZA, 2015), envolvendo vários atores sociais e exigindo, pela característica de seu público 
alvo, transformações nas práticas profissionais, no saber cuidar e na valorização do meio 
cultural e social do indivíduo (BRASIL, 2005). 
Ao final do ano de 2001, a realização em Brasília, da III Conferência

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