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10 ) (Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa Panorama dos elementos de ficção na literatura inglesa OBJETIVO Ao término deste capítulo, o estudante, será capaz de definir o panorama dos elementos de ficção. E, então? Motivado (a) para desenvolver tal competência? Avante, e bom estudo! Caro estudante, uma vez que sua formação já compreendeu o estudo de aspectos como: narrador, fluxo narrativo, ponto de vista, voz narrativa, enredo e personagens na construção do texto em literatura inglesa. Este capítulo será dedicado a apresentação resumida e contextualizada acerca do panorama dos elementos de ficção. Então, bom estudo! Definindo elementos de ficção O gênero ficcional inclui componentes essenciais ao andamento da trama. Aprender quais são os elementos desta modalidade de narrativa, e como utilizá-los ao longo de uma construção é essencial ao profissional de Letras-Inglês. Logo, é relevante estudar os elementos textuais de ficção, sejam em estrutura e elementos necessários ao desenvolvimento da narrativa (ABDALA Jr., 1995; SILVA, 2005; BARTHES, 2008). A narrativa ficcional inicia pela introdução, seguida pelo desenvolvimento, clímax e conclusão (desfecho). É na introdução em que se apresentam as personagens, bem como localiza e orienta o leitor quanto ao tempo e espaço. O desenvolvimento compreende o espaço em que as ações das personagens são narradas. Isto é, em que a trama de fatos e eventos é construída Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa ) (1 visando conduzir o leitor ao clímax. E, na conclusão concentra- se o fechamento da narrativa (SILVA, 2005; BARTHES, 2008). Figura 1: William Shakespeare, apontado como um dos maiores expoentes da literatura inglesa e universal dedicou-se a escrever para o teatro Fonte: Wikicommons Os elementos da narrativa ficcional são recursos empregados para detalhar aspectos de um texto. Constituem elementos da narrativa: enredo, tempo, narrador, personagens, os quais auxiliam na contextualização de uma narrativa (BARTHES, 2008). Elemento Textual - Tempo Caro, estudante em seus estudos já aprendeste que a narrativa ficcional compreende um tipo de texto descritivo fictício ou real, com personagens inseridas em determinado tempo e espaço. A seguir, dedicaremos um tempo à compreensão do elemento TEMPO. 12 ) ( Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa O elemento tempo possui a função de indicar o período em que a narrativa se passa (SILVA, 2005; BARTHES, 2008; REALES, 2008). Figura 2: Relógio de bolso uma analogia ao elemento tempo, também essencial à construção de uma narrativa Fonte: Wikicommons Há dois tipos de marcação de temporal em uma narrativa: o plano do tempo da história (tempo interno) e o plano do tempo do discurso (REALES, 2008). “O tempo da história é o tempo mais rígido da história que é narrada segundo um determinado modo discursivo. É o termo, diríamos, “matemático” propriamente dito, ou seja, a sucessão cronológica de eventos datáveis com maior ou menor rigor. Por cronológico compreenderemos justamente a dimensão do tempo, em sua forma narrada, com referência a certos marcos temporais, como datas e referências mais ou menos explícitas a um Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa ) (13 determinado momento histórico que é narrado” (REALES, 2008, p. 42). Assim, caro estudante, o tempo interno de uma narrativa considera a relação entre o que é narrado e o discurso. Neste tipo de marcação temporal é caracterizada pelo controle cronológico, podendo ser explicitada ou deduzida pelo leitor. Cumpre destacar que o tempo da narrativa na dimensão humana (perspectiva do leitor) revela-se conforme a ordem dos acontecimentos. Com isso, além da marcação cronológica, ocorre o tempo psicológico, em que o primeiro pode ser distorcido em função das vivências subjetivas das personagens (SILVA, 2005; BARTHES, 2008; REALES, 2008). “O tempo psicológico, enquanto conceito de um tipo específico de temporalidade na narrativa, é o tempo que passa pela experiência subjetiva dos personagens” (REALES, 2008 p. 43). Em Alice's Adventures in Wonderland, o tempo da narrativa é cronológico, ou seja, os acontecimentos ocorrem pela ordem do calendário ou do relógio. Na narrativa é possível identificar este aspecto pelo registro de nomes e de locais, bem como pela organização de seus capítulos. Exemplo deste elemento é o Coelho Branco que constantemente visa evitar seu atraso para o encontro com a duquesa, “Ai, ai! Vou chegar atrasado demais!” e “Oh, a duquesa, a duquesa! Como vai ficar furiosa se eu a tiver feito esperar!” (CARROLL, 2009, p. 13). 14 ) (Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa Figura 3: Chapter One — Down the Rabbit Hole aut A ou PNM “pj A Tp iu 4 8 alia Fonte: Wikicommons Logo, o tempo interno pode ser compreendido como a representação narrativa do tempo da história, que se revela de forma linear, enquanto o leitor desenvolve a leitura da trama. Já Reales (2008, p. 61) define tempo do discurso como “[...] como o tempo da história pode ser elaborado a partir de estratégias e perspectivas narrativas e estilísticas muito particulares a cada criação literária. Dissemos, quando descrevíamos o conceito de tempo da história, que esse tempo poderia ser atravessado pelo modo como a história é narrada”. “Nesse sentido, o tempo do discurso teria a ver com o modo como uma narrativa é lida em termos formais. Já o tempo da história diz respeito, como já foi dito, ao tempo em que se passa a ação” (REALES, 2008, p. 47). Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa ) (15 Elemento Textual — Espaço Caro, estudante em seus estudos já aprendeste que a narrativa ficcional compreende um tipo de texto descritivo fictício ou real, com personagens inseridas em determinado tempo e espaço. E, para que tal narrativa possua sentido, esta necessita possuir e atender determinados elementos constitutivos. A seguir, dedicaremos um tempo à compreensão do elemento ESPAÇO. “O espaço é o lugar onde se passa a ação, por isso é uma das categorias mais importantes de uma narrativa (REALES, 2008, p. 47). Conforme Abdala Jr. (1995), Silva (2005), Barthes (2008), espaço é onde ocorrem os acontecimentos, é por onde transitam as personagens. Este elemento também possui relevante destaque, uma vez que auxilia na caracterização dos personagens ao leitor. A construção do espaço em uma narrativa depende da perspectiva do narrador, isto é, da perspectiva narrativa (tipo de narrador, fluxo narrativo, ponto de vista e voz narrativa). Reales (2008) destaque que existe o espaço físico no qual se desenvolve o enredo, e o espaço psicológico, o qual retrata a vivência subjetiva das personagens. Em Alice's Adventures in Wonderland, o espaço físico é representado pelo País das Maravilhas (Wonderland), o qual é acessado por Alice pela toca do Coelho Branco. 16 ) (Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa Figura 4: Representação do espaço do palácio da Rainha de Copas Fonte: Wikicommons. Como já comentado por Reales (2008) o espaço de uma narrativa também pode ser psicológico, ou seja, um espaço ou ambiente psicológico em que o protagonista e/ou as personagens sofrem, são felizes, especulam, sonham ou vivenciam certos estados. Um exemplo de espaço psicológico em Alice's Adventures in Wonderland é quando esta retorna do País das Maravilhas: “Continuou sentada, de olhos fechados, e meio que acreditou estar no País das Maravilhas, embora soubesse que bastava abrir os olhos para que tudo se transformasse na realidade monótona [...]” (CARROLL, 2009, p. 170-171). Podem constituir o espaço de uma narrativa: lugares geográficos extensos ou não, os objetos, os móveis, a decoração em geral, bem como todas as alusões possíveis aos componentes e ambientações que caracterizamum espaço (REALES, 2008). Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa ) (17 Destaca-se que o espaço também pode ser classificado em interno e externo. Interno quando as ações ocorrem dentro de um lugar fechado, e externo quando as personagens circulam em ambientes abertos (BARTHES, 2008). Logo, observa-se que o espaço não serve apenas para situar a personagem no espaço físico e tempo, mas compreende um relevante elemento à continuidade da narrativa. Bem como auxiliando na construção de uma atmosfera narrativa. Elemento Textual — Caracterização Caro, estudante em seus estudos já aprendeste que a narrativa ficcional compreende um tipo de texto descritivo fictício ou real, com personagens inseridas em determinado tempo e espaço. E, para que tal narrativa possua sentido, esta necessita possuir e atender determinados elementos constitutivos. A seguir, dedicaremos um tempo à compreensão do elemento CARACTERIZAÇÃO. Entende-se por caracterização o processo descritivo que objetivamente define as características, as qualidades que possam ter as personagens e os demais elementos da narrativa (REALES, 2008). “A caracterização não pode ser confundida com a identificação, que pode nomear um personagem a partir de um signo identificador como um nome ou apelido. A caracterização na verdade investe o personagem de uma série de traços, qualidades e características que são a matéria de descrição e que funcionaliza o jogo e o embate dos personagens no enredo da história” (REALES, 2008, p. 51). Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa ) (19 Propósito autoral, intenção e tema na literatura inglesa OBJETIVO Ao término deste capítulo, o estudante, será capaz de conceituar o propósito autoral, a intenção e o tema nos textos de ficção. E, então? Motivado (a) para desenvolver tal competência? Avante, e bom estudo! Caro estudante, estamos chegando ao segundo capítulo desta unidade! Já estudamos sobre o panorama dos elementos de ficção na literatura inglesa. Este capítulo será dedicado à apresentação resumida e contextualizada acerca do propósito autoral, da intenção e do tema em textos de ficção. Então, bom estudo! Definindo Propósito Autoral Propósito autoral compreende o objetivo norteador à construção de um texto. Quando um autor elabora sua narrativa, este a realiza de forma a estabelecer uma conexão com seu leitor. E, assim expor ideias, narrar acontecimentos, partilhar experiências, argumentar posicionamentos e opiniões, etc. (MARCUSCHI, 2008). 20 ) (Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa Figura 5: Leitura (1893), tela de Eliseu Visconti. Tela exemplificando como a leitura aproxima os atores (autor-leitor), e contribui à compreensão do propósito de uma obra. Fonte: Wikicommons. O objetivo discursivo dependerá do contexto, do emissor e do receptor. Ou seja, dependerá do enredo da narrativa, das características do autor, bem como das características de quem irá realizar a leitura. A construção do propósito deve estar alinhada a intenção do texto (KOCK, TRAVAGLIA, 2007; MARCUSCHI, 2008). Compreender o propósito de um texto facilita a seleção do formato que será utilizado. Bem como, orientará a seleção vocabular (MARCUSCHI, 2008). EXPLICANDO DIFERENTE Se o propósito de um texto é relatar, então este deverá focar sua narrativa em ações e experiências vivenciadas. Se o propósito for argumentar, então a narrativa deverá ater-se ao debate entre a defesa, a refutação, e o posicionamento. Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa ) (21 Definindo Intenção em Textos de Ficção Para Marcuschi (2008) intencionalidade é o conceito que refere-se a intenção do autor em sua obra, e como esta será compreendida (aceita) por seu leitor Desse modo, intencionalidade refere-se ao modo que os autores utilizam a linguagem no processo comunicativo. A forma como a linguagem é empregada, isto é, narrativas adequadas auxiliam à obtenção do propósito inicial. Intencionalidade refere-se a forma como o emissor apresenta sua narrativa ao leitor É através da narrativa que este pode perseguir e realizar suas intenções e obter os efeitos desejados. É por esta razão que o emissor (autor), busca construir uma narrativa coerente ao receptor (receptor) que lhe permitam constituir o sentido desejado (KOCK, TRAVAGLIA, 2007). Para Kock e Travaglia (2007), termos como aceitabilidade e intencionalidade textual são complementares, uma vez que há a interação por meio da linguagem escrita, para a compreensão textual. Ou seja, o autor ao produzir um texto possui uma intenção com seu leitor, e este quando se esforça para compreender a mensagem está aceitando-a. Figura 6: A mente observa e interpreta a realidade, assim como o leitor lê e constrói significância a narrativa apresentada pelo autor Fonte: Wikicommons. 22 ) (Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa Você Sabia que a intenção é um dos fatores textuais que orientará a construção da narrativa. Logo, caro aluno, intenção é quando o emissor (autor) em uma determinada situação comunicativa, aqui a sua narrativa, possui como meta transmitir ao receptor (leitor) uma mensagem. Tal mensagem poderá cumprir o efeito de informação, impressão, aviso, convencimento, etc. Dessa forma, ao produzir um enunciado (texto/ narrativa) o autor possui a intenção compreensiva com o leitor (intencionalidade), e o leitor, por seu turno, esforça-se de forma a compreender e entender o que lhe foi apresentado (aceitabilidade) (KOCK, TRAVAGLIA, 2007; MARCUSCHI, 2008). Definindo o tema em Textos de Ficção Tema compreende muito mais do que o assunto a ser desenvolvido na narrativa, este é parte integrante do propósito autoral, isto é a intencionalidade do autor. Assim, o tema em textos de ficção abarcará também o conhecimento já existente sobre determinado assunto (MARCUSCHI, 2008). Conforme Schutt (2018) tema é o tópico específico sobre o qual o autor deseja que seu leitor reflita durante a apreensão de sua narrativa. Podem ser abordados temas como o amor, a justiça, a guerra, etc. Contudo, este salienta que palavras genéricas não conferem o real propósito de um tema, pois estas devem ser mais específicas dentro do tópico tratado. Isto é, dentro de um tema podem ser desenvolvidas muitas possibilidades. Assim, em narrativas envolventes, o enredo (conhecimento existente) pode conduzir o leitor a considerar aspectos que levem à reflexão sobre as possibilidades desenvolvidas (SCHUTT, 2018). À seguir, caro estudante, convido-o a conhecer um famoso autor da literatura inglesa, cuja narrativa possui a excepcional capacidade de levar o leitor à reflexão da existência humana, e Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa ) (23 seus mais íntimos medos. Em suas obras mais do que leitores, somos testemunhas de crimes “quase perfeitos”. Aproveite a oportunidade para observar como este autor desenvolveu seus temas. Também referenciado como Pai do Terror, trata-se do fundador da narrativa de horror e de mistério. Edgar Allan Poe foi um escritor americano, nascido em Boston em 1809. Faleceu em 1849, sendo sua morte um mistério, assim como toda a atmosfera de seus contos. Figura 7: Edgar Allan Poe Fonte: Wikicommons. Pai do Conto, Edgar Allan Poe, foi um dos maiores contista do gênero ficção policial e de toda uma geração. Figura entre as principais influências, até os dias atuais, em termos de ficção policial para muitas gerações de escritores. Tais como Donan Doyle, Agtha Cristie, Bioy Casares, J.L Borges e Dostoiévski. 24 ) (Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa EXPLICANDO DIFERENTE Somente possuímos grandes detetives como Sherlock Holmes (Conan Doyle); Hercule Poirot (Agatha Christie), Don Isidoro Parodi (Bioy Casares), dentre outros, porque antes houve certo detetive chamado AugusteDupin da obra Assassinatos na Rua Morgue. Figura 8: O detetive Dupin confronta o marinheiro numa passagem de “Os assassinatos da Rua Morgue”. Ilustração de 1909 Byam Shaw Fonte: Wikicommons. Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa ) (25 EXPLICANDO DIFERENTE C. Auguste Dupin é o detetive francês criado por Poe para a resolução do crime ocorrido em “Os Assassinatos da Rua Morgue”, através da dedução e observação dos fatos, características estas que faziam parte da personalidade do autor, e que foram “transferidas” a sua personagem. Esta personagem, também, participa da construção de mais duas obras: O Mistério de Marie Rogêt (1842), e A Carta Roubada (1844). Poe foi um escritor do Movimento Romântico Americano, contudo é mais reconhecido por seu estilo gótico, sempre recorrendo ao uso de temas que tratavam a questão da morte e demais alegorias como a decomposição, a reanimação, etc. (FERNANDES, 2014). Muitas, das obras de Poe, abarcam a temática do sofrimento causado pela morte (perda), pois para este não havia nada mais belo e romântico, do que escrever sobre a morte de uma mulher tão bela quanto à narrativa. Figura 9: Uma ilustração de O Corvo de Edgar Allan Poe, feita por Gustave Doré. Fonte: Wikicommons. 26 ) (Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa A Figura 9 retrata bem as narrativas de Edgar Allan Poe, estas possuem uma atmosfera envolta de terror e mistério, onde temas como o sobrenatural e a loucura, materializam-se na forma de devaneios, assassinatos e suicídio. O estilo gótico, aqui referido, compreende a construção de narrativas cujo tema recorrente é o romance atrelado à morte, em que a realidade e a ficção podem ser tão próximas e assustadoras. Poe segue um rumo contrário ao Romantismo, pois para ele a forma mais eficaz de acessar o íntimo do leitor, era através da narrativa curta e envolvente. Aqui reside a sua receita de sucesso, a brevidade, a técnica do breve relato acessa com maior sucesso a experiência e a significância do leitor. Poe trabalha com o psicológico em suas narrativas, sendo a principal marca de suas personagens a ambiguidade, nem bom, nem mau, apenas humano. Temas frequentes em suas obras a morte, o mistério, o macabro, o medo, a ambiguidade, a loucura, a histeria, a culpa, a fuga à realidade. Se você ficou interessado (a) em conhecer um pouco mais da obra de Poe, seguem sugestões de leituras: Assassinatos na Rua Morgue, A carta Roubada, O Mistério de Maria Roget, O Corvo, O Gato Preto. A seguir, apresenta-se a obra “A Máscara da Morte Rubra”. A Máscara da Morte Rubra (1842) “Assim protegidos, seria impossível o contágio. O mundo exterior que se arranjasse. Lá dentro, o príncipe previu tudo. Nada faltava. Até diversões. Música, bailarinos, vinho. Lá dentro, tudo isso e mais a segurança. Lá fora, o desespero, a morte rubra” (POE, p. 8, 2011). Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa ) (27 Figura 10: A Máscara da Morte Rubra Fonte: Wikicommons. Na obra 4 Máscara da Morte Rubra encontramos a narrativa sobre uma peste, a Morte Rubra, que assombra determinado reino. De forma a evitar a doença, o príncipe reúne mil amigos em um mosteiro. E, lá promove a realização de uma imponente festa, um baile de máscara com duração de seis meses, cujo tema cerceia a beleza e o terror, o sonho e o pesadelo. Uma das características da narrativa de Poe é a forma detalhada como descreve o ambiente, e as situações. Na presente obra ele descreve em detalhes o local do baile, bem como a doença. A morte rubra era caracterizada por dores agudas, com um desvanecimento súbito, e logo os poros da pessoa sangravam abundantemente. Em seguida, vinha a sua decomposição. Manchas escarlates surgiam no corpo e, com maior concentração no rosto da vítima, esta era segregada do convívio social, da assistência e da compaixão (POE, 2011). Contudo, uma figura mascarada surge em meio à festa, e passa a assombrar os nobres quanto à doença e suas implicações, tais como a total devastação de um reino, e a decadência humana. 28 ) (Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa Figura 11: O Príncipe próspero enfrentando a morte, este embate nos faz bem pensar que embora fosse seu desejo escapar à morte, ela sempre lhe encontra. Fonte: Wikicommons. RESUMINDO Neste capítulo aprendemos a conceituar o propósito autoral, a intenção e o tema em textos ficcionais. Em nossos estudos compreendemos que o propósito autoral compreende o objetivo norteador à construção de um texto. Bem como, a intencionalidade refere-se a forma como o emissor apresenta sua narrativa ao leitor. E, tema compreende muito mais do que o assunto a ser desenvolvido na narrativa, esta é parte integrante do propósito autoral, isto é a intencionalidade do autor. Termos como aceitabilidade e intencionalidade textual são complementares, uma vez que há a interação por meio da linguagem escrita, para a compreensão textual. De forma complementar realiza-se análise da obra e escrita de Edgar Allan Poe. Aproveite seu momento de estudo e amplie seus conhecimentos, busque mais informações na literatura indicada. Avante e bom estudo! Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa ) (29 A ironia nos textos de ficção na literatura inglesa OBJETIVO Ao término deste capítulo, o estudante, será capaz de identificar a ironia nos textos de ficção. E, então? Motivado (a) para desenvolver tal competência? Avante, e bom estudo! Caro estudante, estamos chegando ao terceiro capítulo desta unidade! Já estudamos sobre o panorama dos elementos, propósito autoral, intenção e tema de ficção na literatura inglesa. Este capítulo será dedicado à apresentação resumida e contextualizada acerca das características da ironia em textos de ficção. Então, boa leitura! Definindo a Ironia Ironia compreende o recurso de linguagem que gera um efeito de sentido contrário ao apresentado inicialmente pelo interlocutor (GARCIA, 2000). Assim, cabe ao leitor realizar a análise do conjunto de significados atribuídos ao exposto. Logo, caro estudante, no uso da ironia é necessário que o contexto seja observado pelo interpretador (leitor/enunciador), pois caso contrário, o sentido pretendido pelo ironista (autor/locutor) não será alcançado (ALAVARCE, 2009). Sobre o processo de interpretação da mensagem irônica Ducrot (1987) apud Klein e Fomeck (2015) esclarece que o locutor não admite sob a sua responsabilidade a opinião manifestada. Assim, a ironia reside na opinião manifestada que não pode ser atribuída ao locutor, o qual é responsável 30 ) (Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa unicamente pelas palavras, e sim a outro personagem de seu Jogo discursivo, o enunciador. Os personagens do jogo da ironia são o interpretador e o ironista. A participação do interpretador (leitor) é decisiva, uma vez que está na percepção deste, decodificar ou não a presença da ironia textual (ALAVARCE, 2009). Figura 12: Obra “A Leitora”, imagem representativa ao processo de interação entre obra, autor, leitor (interpretador e ironista). Fonte: Wikicommons. Kierkegaard (2005) e Facioli (2010) apresentam a ironia como a forma de expressão literária ou figura de retórica, que possui a função de apresentar, ao leitor, o oposto daquilo que se quer expressar. Ducrot (1987) apud Klein e Forneck (2015, p. 57) definem “tronia como uma inversão total do discurso, em que o locutor expressa, por meio de um enunciado, o ponto de vista de um enunciador”. Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa ) (31 Podendo ser empregada como instrumento de denúncia, crítica ou censura, logo cumpre o papel de convite à reflexão ativa do leitor. Assim, o emprego da ironia deve estimular o raciocínio do leitor, fazendo com que este considere o real teor da mensagem quese pretende comunicar (KIERKEGAARD, 2005; FACIOLI, 2010). Figura 13: “The Fool” (Momus) from an 18th century minchiate playing card deck. Momo é a personificação do sarcasmo, das burlas e da ironia. Fonte: Wikicommons. “[...] seja de um modo mais impositivo, seja de um mais liberal, a ironia, a paródia e o riso veiculam suas “verdades”, mas não o fazem de forma explícita (ALAVARCE, 2009, p, 11). Ou seja, a ironia compreende o uso de palavras que manifestam o sentido contrário ao de seu contexto literal. “A ironia como um paradoxal meio de comunicação que traz em si mensagens claras para uns, obscuras para outros; inteligentes para uns, agressivas para outros” (MACHADO, 2014, p. 109). De forma complementar, cita-se Cabral (1976) e 32 ) (Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa Citelli (2002) para os quais a ironia se caracteriza pelo jogo da afirmação e da negação, isto é, empregar a palavra para designar uma realidade ironizada, com o intuito de afirmar o contrário do que tal palavra remonta. Exemplificando o uso da Ironia A seguir são apresentados obras e autores em que apresentaram em determinados pontos de suas construções o emprego do recurso da ironia. Jane Austen foi uma escritora inglesa responsável por romances que empregavam uso da ironia em sua construção narrativa. Em suas obras, a autora, de forma discreta retratava o desejo por uma educação liberal à mulher, e reavaliação do comportamento de subserviência feminino (KELLY, 1992). Figura 14: Retrato a óleo de Jane Austen, feito em 1875, de autor desconhecido, baseado na aquarela feita pela irmã em 1810. Fonte: Wikicommons. Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa ) (33 Na obra Sense and Sensibility os costumes ingleses são retratados e criticados de forma cômica. O exposto pode ser observado na passagem, abaixo, na qual a personagem Marianne aborda a idade ideal para as mulheres casarem. Observe o emprego do recurso irônico, em que a autora pretende revelar ao leitor o contrário daquilo que pensa. “Uma mulher de vinte e sete anos (...) não pode mais esperar sentir ou inspirar amor, e se sua casa não for confortável ou se suas posses forem modestas, acho que deva oferecer os serviços de enfermeira, em troca de sustento e da segurança de uma esposa. [...). Seria um pacto de convivência, e a sociedade ficaria satisfeita. [...]. Para mim, seria só uma troca comercial, em que cada um pretende lucrar à custa do outro (AUSTEN, 2012, p. 29-30). Figura 15: Jane Austen retratou com toques de ironia os costumes da sociedade de sua época. Fonte: Wikicommons. “Charles Lutwidge Dogson, mais conhecido sob o pseudônimo de Lewis Carroll, é afamado pela sua importante contribuição para a literatura moderna. O autor britânico conseguiu combinar o universo do real com elementos do mundo 34 ) (Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa mágico, sem que seja possível traçar um paralelo distintivo entre ambos” (KLEIN; FORNECK, 2015, p. 57). Figura 16: Lewis Carroll, autor de Alice's Adventures in Wonderland (Alice no país das maravilhas). Obra na qual o narrador é muito atuante. Fonte: Wikicommons. No capítulo 7 — Um chá de malucos da obra Alice's Adventures in Wonderland (Alice no país das maravilhas), é possível observar o emprego da ironia, leia e analise a presença da ironia no trecho abaixo: Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa ) (35 Figura 17: encontro de Alice, Lebre de março e o Chapeleiro Maluco — Chapter 7 - A Mad Tea Party (Um chá de malucos). Fonte: Wikicommons. Trecho da obra Alice's Adventures in Wonderland: Um chá de Malucos. Havia uma mesa posta sob uma das árvores na frente da casa, e a Lebre de Março e o Chapeleiro estavam tomando chá. Um Arganaz estava sentado entre eles, profundamente adormecido, e os outros dois o usavam como almofada, descansando nele os cotovelos e conversando sobre a sua cabeça: “Muito confortável para o Arganaz”, pensou Alice, “só que, como está dormindo, acho que não se importa” (CARROLL, 2009, p. 90). Caro, estudante “arganaz” é uma espécie de pequeno roedor da América do Norte. Observe o emprego da ironia quando Alice pontua “Muito confortável para o Arganaz”, uma vez que está sendo utilizado como almofada, e apoio corporal não deve compreender uma agradável função. 36 ) (Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa Tipificando a Ironia Na literatura, a ironia visa obter distintas reações do leitor, contudo sua percepção por vezes converge em algo complexo, uma vez que existem diferentes tipos de ironia, o que requer certa atenção à construção narrativa (KIERKEGAARD, 2005; ALAVARCE, 2009). Muecke (1995) apud Alavarce (2009) apresenta a ironia em duas categorias: a ironia situacional (observável) e a ironia verbal (instrumental). Um exemplo da ironia situacional é retratado em uma passagem da obra Odisseia, quando Ulisses retorna a sua terra Ítaca disfarçado como mendigo e, escuta um dos pretendentes ao seu trono comentar que ele (Ulisses) nunca retornaria. Observe o emprego do recurso irônico, ele (Ulisses) retorna, bem como escuta a negativa de seus adversários ao trono. Figura 18 - Odisseu e sua fiel esposa Penélope de Francesco Primaticcio, 1563. Fonte: Wikicommons. Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa ) (37 Conhecido como um dos maiores clássicos da literatura ocidental, a Odisseia (8 a.C. — 9 a C.), e sequência de Ilíada compreende uma composição épica representada na forma de poema, escrito por Homero. Estruturada em 24 cantos, a Odisseia é composta por 12 mil versos. A obra Odisseia compreende a retratação sequencial das viagens e aventuras, de Ulisses, rei de Ítaca e valoroso herói da Guerra de Troia, ao buscar retorno a sua pátria. À ironia verbal ou instrumental ocorre através da inversão semântica, neste caso, a ironia compreende falar uma coisa para significar outra. Nesse tipo de manifestação observa-se o comportamento do sujeito sendo irônico. É preciso, então, que se compreenda justamente o oposto daquilo que é dito (ALAVARCE, 2009). RESUMINDO Neste capítulo aprendemos a identificar a ironia nos textos de ficção. Aprendemos que a ironia compreende o recurso de linguagem que gera um efeito de sentido contrário ao apresentado. E, que o sucesso do emprego da ironia em textos depende da participação do interpretador (leitor), uma vez que sua percepção é essencial para decodificar ou não a presença da ironia. Assim, aprendemos que o emprego da ironia deve estimular o raciocínio do leitor, fazendo com que este considere o real teor da mensagem que se pretende comunicar. O estudo da ironia é dividido em duas categorias: a ironia situacional (observável) e a ironia verbal (instrumental). Aproveite seu momento de estudo e amplie seus conhecimentos, busque mais informações na literatura indicada. Avante e bom estudo! 38 ) (Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa Características do diálogo na literatura inglesa OBJETIVO Ao término deste capítulo você será capaz de discernir sobre a função do diálogo nos textos de ficção. E, então? Motivado (a) para desenvolver tal competência? Avante! E bom estudo. Caro estudante, estamos chegando ao fim desta unidade! Estudamos sobre o panorama dos elementos; propósito autoral, intenção e tema de ficção; a ironia em textos de ficção na literatura inglesa. Este capítulo será dedicado à apresentação resumida e contextualizada acerca das características do diálogo na literatura inglesa. Então, boa leitura! Definindo o Diálogo O diálogo possui como função trazer realidade à narrativa, uma vez que as personagens podem ser observadas quanto ao seu comportamento, expressividade e formas de relacionamento, ou seja, revela suas características. Compreende o recurso que fornece agilidade à narrativa, auxiliandona construção da trama (SCHUTT, 2018). Figura 19: Imagem ilustrativa do diálogo E Fonte: Elaboração da autora Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa ) (39 Kohan (2011) define diálogo como o recurso narrativo mais convincente que um escritor pode utilizar. Ainda, conforme a mesma autora o diálogo constitui a estratégia literária que aproxima o leitor das personagens, uma vez que apresenta suas falas sem intermediário de um narrador. Diálogos representam trocas de informações e percepções entre as personagens, tais trocas auxiliam na caracterização de suas personalidades. Construções dialógicas estratégicas e oportunas fornecem informações relevantes ao avanço do enredo de uma narrativa (ABDALA JR., 1995; SCHUTT, 2018). REFLITA Você já parou para pensar sobre a relevância do diálogo entre as personagens de uma narrativa? Pois, bem Caro Estudante, quando existe o emprego do recurso “diálogo”, as personagens tornam-se mais reais frente ao processo de leitura, uma vez que o leitor pode acompanhar suas ações e falas. Para Abdala Jr. (1995) e Schutt (2018) os recursos “descrição” e “diálogo” possuem diferenças relevantes. Enquanto, o primeiro é fortemente dependente da ação de um narrador, cuja função é descrever uma perspectiva, ao mesmo tempo em que conduz a percepção do leitor. O segundo expõe, diretamente ou indiretamente, o leitor a dada perspectiva, neste o leitor reconhece pelo discurso as características, as expressões e os sentimentos das personagens. Logo, em um diálogo bem construído a personagem “se apresenta”, sem um narrador para isso. 40 ) (Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa Progredir é necessário. Caro, estudante, ao inserir diálogos em sua narrativa, situe as personagens discordando ou sendo contrariadas. Nada torna tão entediante a narrativa ao leitor, quanto à falta de progressão em seus diálogos. Logo, priorize a construção de diálogos que gerem a progressão da narrativa. Observe no trecho de diálogo abaixo, entre Alice e o Gato de Cheshire aspectos como progressão e divisão de falas. Pois, os diálogos apresentados geram a progressão da narrativa, bem como as falas das personagens são proporcionais. Trecho da obra Alice's Adventures in Wonderland: Diálogo de Alice e a Gato de Cheshire. “Nesta direção”, disse o Gato, girando a pata direita, “mora um Chapeleiro. E nesta direção”, apontando com a pata esquerda, “mora uma Lebre de Março. Visite quem você quiser, ambos são loucos.” “Mas eu não ando com loucos”, observou Alice. “Oh, você não tem como evitar”, disse o Gato, “somos todos loucos por aqui. Eu sou louco. Você é louca.” “Como é que sabe que eu sou louca?”, disse Alice. “Você deve ser”, disse o Gato, “senão não teria vindo pra cá” (CARROLL, 2009, p. 84-85). Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa ) G Figura 20: The Cheshire Cat Fonte: Wikicommons. Você Sabia que o diálogo é o recurso mais utilizado em obras de ficção. Tipificando o Diálogo O diálogo das personagens pode ser representado de duas maneiras: diretamente ou indiretamente, na primeira a fala é apresentada exatamente como a personagem a transmitiu. Já na segunda a fala da personagem é “transcrita”, ou seja, a fala é posta conforme a interpretação, aqui no caso pelo narrador (GARCIA, 2010). EH Direto — Maria disse ao colega: Estou farta de tanta demora neste processo. Indireto — Maria disse ao colega que estava farta de tanta demora naquele processo. Então, caro estudante! Conseguiste perceber a diferença entre as duas formas de diálogo? (1) Diálogo Direto: a fala da personagem é apresentada diretamente. Diálogo Indireto: a fala da personagem é apresentada indiretamente. No trecho a seguir da obra Alice's Adventures in Wonderland — Advice from a Caterpillar (Conselhos de uma Lagarta) é possível observar o diálogo direto entre Alice e a 42 ) (Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa Lagarta, isto é, as falas das personagens são apresentadas de forma direta. Trecho da obra Alice's Adventures in Wonderland: Diálogo de Alice e a Lagarta. “Quem é você?”, disse a Lagarta. Não era um começo de conversa muito estimulante. Alice respondeu um pouco tímida: “Eu... eu... no momento não sei, minha senhora... pelo menos sei quem eu era quando me levantei hoje de manhã, mas acho que devo ter mudado várias vezes desde então”. “O que você quer dizer?”, disse a Lagarta ríspida. “Explique-se!” “Acho que infelizmente não posso me explicar, minha senhora”, disse Alice, “porque já não sou eu, entende?” “Não entendo”, disse a Lagarta. “Receio não poder me expressar mais claramente”, respondeu Alice muito polida, “pois, para começo de conversa, não entendo a mim mesma. Ter muitos tamanhos num mesmo dia é muito confuso” (CARROLL, 2009, p. 61). Caro estudante, ao analisar o trecho do diálogo acima, é possível observar traços de comportamento e expressividade que acompanham a personagem Alice em quase toda a obra. Isto é, sua busca pela identidade, a qual em muitos eventos narrados é descaracterizada como no capítulo em que perde seu nome. Quando a lagarta lhe pergunta, quem é você? Alice não sabe a resposta. “[...] sei quem eu era quando me levantei hoje de manhã, mas acho que devo ter mudado várias vezes desde então” (CARROLL, 2009, p. 61). Neste breve diálogo é possível Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa ) (43 observar a inquietação da personagem em afirmar-se sobre o que é; o que foi; e o que está em constante transformação. Figura 21: momento de diálogo entre Alice e a Lagarta apresentado na obra Alice's Adventures in Wonderland — Advice from a Caterpillar (Conselhos de uma Lagarta). as Naga ua Fonte: Wikicommons. Bechara (2019) classifica os discursos em: direto, indireto e indireto livre. O discurso direto compreende aquele em que o autor apresenta as falas do interlocutor (aquele que está falando) com auxílio explícito ou não de verbos dicendi e sentiendi. O discurso indireto é aquele que utiliza os verbos dicendi acompanhados de elementos de subordinação como pronomes e advérbios. Por exemplo: explicou que. Já, o discurso indireto livre introduz a fala da personagem sem uso de verbos dicendi, possui como característica manter as interrogações e exclamações da oração originária. Ainda, conforme Garcia (2010) é importante observar na construção de diálogos o emprego adequado de verbos dicendi e verbos sentiendi. Verbos dicendi compreendem aqueles que 44 ) (Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa indicam o interlocutor, ou seja, explicita o ato oral como dizer, perguntar, responder, continuar, finalizar, concordar, etc. Já os verbos sentiendi são aqueles que exprimem emoções, estados de espírito ou reações psicológicas das personagens, tai como: balbuciar, berrar, gaguejar, gemer, suspirar ou lamentar, etc. Trecho da obra Alice's Adventures in Wonderland: Diálogo de Alice e a Gato de Cheshire. “Gatinho de Cheshire” começou um pouco tímida, pois não sabia se ele gostaria do nome, mas ele abriu ainda mais o sorriso. “Vamos, parece ter gostado até agora”, pensou Alice, e continuou: “Poderia me dizer, por favor, que caminho devo tomar para sair daqui?” “Isso depende bastante de onde você quer chegar”, disse o Gato. “O lugar não importa muito...”, disse Alice. “Então não importa o caminho que você vai tomar”, disse o Gato (CARROLL, 2009, p. 84-85). Então, caro aluno, observe no trecho acima do diálogo entre Alice e o Gato de Cheshire o emprego do discurso direto com auxílio de verbos dicendi. Bem como, o emprego de discurso indireto livre em: “Gatinho de Cheshire” começou um pouco tímida, pois não sabia se ele gostaria do nome, mas ele abriu ainda mais o sorriso. “Vamos, parece ter gostado até agora”, pensou Alice, e continuou: “Poderia me dizer, por favor, que caminhodevo tomar para sair daqui?” Ainda, tipificando o diálogo, cita-se Mckee (2016) o qual esclarece que a linguagem de uma personagem pode abarcar três dimensões: o dito, o não dito, e o indizível. O Dito compreende ideias e emoções (explícitas) compartilhadas pela personagem. Logo, o dito permite ao leitor a interpretação literalmente do que lhe é apresentado, Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa ) (as independentemente do nível acessado de caracterização do enredo e contexto. O Não Dito compreende o que a personagem pensa, sente ou deseja, contudo não o expressa verbalmente. Aqui, caro estudante, observamos a expressão “subentendido nas entrelinhas”, isto é, realizamos a inferência do que a personagem não externaliza. Aqui, cumpre destacar que a construção da inferência do leitor é fortemente relacionada à caracterização do enredo e contexto. Já, o indizível compreende o conteúdo inconsciente da personagem como desejos, medos e teorias, sendo que o indizível a personagem não consegue expressar em palavras. Dicas de construção de Diálogo Caro, estudante, já aprendemos que diálogos são relevantes recursos da escrita, pois são eles que oportunizam voz às personagens, bem como influenciam o ritmo de uma narrativa. Logo, frente a tal importância esta seção dedica-se a apresentar alguns aspectos a serem observados na escrita de diálogos. Cumpre destacar que o conteúdo apresentado é resultado das obras consultadas de Garcia (2010), Kolan (2011), e Schutt (2018). E Sempre relacionar diálogo à cena descrita: ao inserir diálogos em sua narrativa, você deve observar se o mesmo está relacionado à cena. Ou seja, se o diálogo apresentado possui proposta e alinhamento ao ambiente em que ocorre a narrativa. Observe o trecho do diálogo entre Alice e o Gato de Cheshire: “Nesta direção”, disse o Gato, girando a pata direita, “mora um Chapeleiro. E nesta direção”, apontando com a pata esquerda, “mora uma Lebre de Março. Visite quem você quiser, ambos são loucos (CARROLL, 2009, p. 84-85)” Na ilustração original o gato está no topo de uma árvore situada em uma bifurcação presente no caminho que Alice 46 ) (Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa segue, assim pode-se observar que o diálogo acompanha a cena retratada. Figura 22: The Cheshire Cat as illustrator John Tenniel depicted it in the 1865 publication. Fonte: Wikicommons. E Observe a divisão das falas: ao inserir diálogos em sua narrativa, observe para que as falas das personagens sejam proporcionais. Personagens que possuem falas ininterruptas podem levar o leitor a desviar o foco da trama, bem como converter a leitura em um processo maçante e cansativo. Como estratégias indicam-se o uso de interjeições entre as falas, ou a inserção de trechos narrativos. Para sinalizar, ao leitor, qual personagem está falando, basta mencionar “fulana disse” ou “beltrano disse”, por exemplo. E, após os trechos narrativos, recomenda-se a utilização elementos que indiquem continuidade e progressão como: continuou, prosseguiu, retomou. E Cada personagem deve possuir sua “voz”: ao inserir diálogos em sua narrativa, observe a construção da fala de cada personagem. Lembre-se que as personagens por serem diferentes, também devem possuir “voz” diferente. Por exemplo: Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa ) (47 uma personagem jovem deve possuir diferenças na fala, quando comparada a fala de uma personagem adulta. Bem como, o diálogo entre personagens de diferentes regiões, cultura, tal variação deve ser refletida na fala também. Aqui, entre o emprego de um elemento já estudado o contexto: quem é a personagem? E em qual situação ela se encontra? Figura 23: Capa da primeira edição da revista do Chico Bento publicada em 1987. Fonte: Wikicommons. Acima, caro estudante, é apresentada uma personagem representativa em que a “voz” da personagem é empregada nos diálogos construídos. A imagem caipira, conforme Ilari e Basso (2009, p. 163), costuma ser associada ao seu modo de falar, caracterizado principalmente pelo erre retroflexo, pela queda do erre em fins de palavra (começá por começar, querê por querer), pela queda do ele em fins de palavra (ou sua pronúncia como erre retroflexo) e pela pronúncia como erre retroflexo do ele em fins de sílaba (animar ou animá por animal; vortá por voltar etc.). 48 ) (Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa EH Menos é mais, não abuse de expressões ou dialetos: ao inserir diálogos em sua narrativa, você deve usar com parcimônia expressões e dialetos. E muito interessante utilizar esse recurso estratégico para caracterizar e personificar a personagem, mas nunca descuide de seu leitor e da fluidez que a narrativa poderá perder por este uso excessivo. Também é possível, nos diálogos, demarcar o regionalismo utilizando expressões. Por exemplo, a expressão “trem”, característica da região de Minas Gerais. AXO DNNTD Caro, estudante de forma complementar ao desenvolvimento da competência “Discernir sobre o diálogo nos textos de ficção”, recomenda-se o acesso a entrevista com Luis Dill — O uso do diálogo na literatura, disponível em: | https://bit.ly/2C2ortR. Acesso em 29/06/2020.
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