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Material Complementar Unidade 1 CONCEITO DE IDENTIFICAÇÃO A identificação é uma soma de caracteres que individualizam uma pessoa. Tal processo determina a identificação ou a não identificação de um indivíduo, ou seja, aquela pessoa é ou não é determinado indivíduo. França (20011) define identidade como sendo o conjunto de caracteres que individualiza uma pessoa ou uma coisa, fazendo-a distinta das demais. Dentre os requisitos técnicos para um processo de identificação ser utilizado estão: • Unicidade - elementos ou conjunto de sinais escolhidos devem permitir a distinção de um indivíduo dos outros; • Imutabilidade - o que se usa para identificar um indivíduo tem que ser imutável, ou seja, não pode sofrer mudanças devido a ação da idade ou de doenças; • Praticabilidade - deve haver uma possibilidade de uso prático, compatível com custo, facilidade de obtenção etc; • Classificabilidade - deve haver uma possibilidade de classificação dos dados coletados. Os métodos de identificação devem ser cientificamente sólidos, confiáveis, aplicáveis e capazes de serem implementados dentro de um período de tempo razoável. Todo processo de identificação envolve métodos primários e secundários de identificação humana. Os meios primários e mais confiáveis de identificação são papiloscopia (impressão digital), odontologia legal (arcada dentária) e genética forense (perfil genético/DNA). Números de série únicos de implantes médicos também podem ser identificadores confiáveis em termos de prova de identidade. Os meios secundários de identificação incluem descrição pessoal, achados médicos, tatuagens, bem como pertences e roupas encontradas com a vítima. Esses meios de identificação servem para apoiar identificação por outros meios e normalmente não são suficientes como único meio de identificação2. Torna-se importante diferenciar dois termos que são equivocadamente utilizados como sinônimos: reconhecimento e a identificação de um indivíduo. O processo pelo qual familiares ou amigos, utilizando-se apenas da observação direta ou indireta, imaginam conhecer a identidade de um indivíduo e indicam essa às autoridades, é chamado de reconhecimento. Apesar de ser um procedimento usualmente empregado, esse não deve ser empregado como um método confiável de identificação humana, pois é subjetivo, não é baseado em conhecimento técnico-científico e não pode ser reprodutível3. Como visto, os meios primários e mais confiáveis de identificação são impressão digital, a arcada dentária e o perfil genético (DNA). A identificação pela odontologia legal é realizada por meio da comparação entre as características dentárias e esqueléticas observadas nos restos mortais com o registro dessas mesmas características quando a vítima estava viva. O exame odontolegal comumente depende do registro sob a forma de exames radiográficos, fotográficos e modelos. Apesar de conferir grande confiabilidade e dos aspectos positivos da técnica, alguns pontos continuam a constituir grandes dificuldades à sua realização, tal como que sejam encontrados os cirurgiões-dentistas responsáveis pelos tratamentos dessas quando em vida e que esses profissionais tenham a guarda dos registros clínicos (prontuários, fotografias ou radiografias) e os disponibilizem para comparação3. A papiloscopia, por sua vez, é uma técnica amplamente utilizada e que atende adequadamente muitos casos. Entretanto também possui suas limitações: • Inviável em casos de amputações; • Inviável na identificação de corpos carbonizados ou altamente deteriorados; • Inviável em caso de condições congênitas (ex: síndrome de Nagali); • Dificuldade na identificação de vítimas estrangeiras; • Para fins criminais, nem sempre a impressão digital é encontrada no local de crime; • A definição da digital pode sofrer variações entre indivíduos, de forma natural ou em decorrência do atrito ou contato frequente com substâncias químicas. A identificação genética, por sua vez, supera todas estas dificuldades, uma vez que de qualquer parte do corpo humano (mesmo de pequenos fragmentos) é possível recuperar DNA. Por outro lado, em locais de crime, é muito comum a coleta de material biológico. Atualmente, tendo em vista a sensibilidade das técnicas laboratoriais de genética forense, é possível obter perfis genéticos de qualidade inclusive do chamado “DNA de toque”, ou seja, do DNA deixado sobre superfícies que tiveram contato com a pele humana (decorrente de descamação epidérmica e de secreções naturais da pele). Além disto, a análise do perfil genético de um indivíduo, como método de identificação, resguarda as seguintes características já mencionadas previamente: • Imutabilidade: o DNA está presente em todo o corpo humano, não se alterando a depender do tecido analisado, e não muda através do tempo; • Praticabilidade: a coleta é fácil (suabe bucal) e sua análise vem tendo o custo cada vez mais baixo (em torno de R$ 100,00 – R$ 200,00 por amostra); • Classificabilidade: os dados podem ser resumidos em um código alfa- numérico, facilmente armazenada em bancos de dados. O QUE É DNA? A estrutura dos organismos vivos Com exceção dos vírus, todos os seres vivos são formados por células. Célula é a menor parte com forma definida que constitui um ser vivo e é dotada de capacidade de auto-duplicação (pode se dividir sozinha). São as unidades estruturais e funcionais dos organismos vivos. Podem ser comparadas aos tijolos de uma casa. As células, em geral, possuem tamanho tão pequeno que só podem ser vistas por meio de microscópio. Dentro delas ocorrem inúmeros processo que são fundamentais para manter a vida. Os seres humanos possuem aproximadamente 100 trilhões de células; um tamanho de célula típico é o de 10 µm (1 µm = 0,000001m); uma massa típica da célula é 1 nanograma (1ng = 0,000000001g). A nível básico, as células eucarióticas podem ser descritas como contendo três regiões sub-celulares distintas; nomeadamente a membrana , o citosol e o núcleo. Suas características são citadas a seguir: • Membranas celulares: apesar de terem apenas nanômetros de largura, são altamente enriquecidas em receptores de sinalização, proteínas transmembranares, bombas e canais, permitindo absorver substâncias e interagir com outros células à sua volta. • Citosol: abriga organelas celulares, incluindo o complexo de Golgi, o retículo endoplasmático (RE), ribossomos e numerosas vesículas e vacúolos. Podem existir proteínas solúveis nesta região. • Núcleo: abriga o material genético e todos os componentes relacionados à sua expressão e regulação. As células não são uma mistura amorfa de proteínas, lipídios e outras moléculas. Em vez disso, todas as células são constituídas por compartimentos bem definidos, cada um especializado em uma função particular. Em muitos casos, os processos subcelulares podem ser descritos com base na ocorrência na membrana plasmática , no citosol ou dentro de organelas ligadas à membrana, como o núcleo, o aparelho de Golgi ou mesmo os componentes vesiculares do sistema de tráfico de membrana , como os lisossomos e os endossomas. Figura: Estrutura celular. O DNA é uma molécula que contém as informações genéticas dos organismos e está presente nas células. Praticamente qualquer material biológico contém DNA, seja ele mucosa oral (células epiteliais), sangue, sêmen, músculo, órgãos, ossos, dentes, saliva, urina, fezes, pelo, etc. As moléculas de DNA nuclear são compostas de dois filamentos enrolados na forma de espiral formando uma hélice, semelhante a uma escada retorcida cujos degraus são feito de pares de moléculas menores (monômeros) chamadas bases. No DNA quatro tipos de bases estão presentes: adenina (A), citosina (C), guanina (G) e timina (T). Cada base só pode ser unida com uma base complementar específica: A com T e G com C. A união de duas bases complementares formaum degrau da escada chamado par de bases. O exame de DNA foi um avanço tecnológico relativamente recente no campo das ciências forenses. Tal tecnologia tem um notável poder de discernir as diferenças genéticas, ao ponto de individualização. Juntamente com o desenvolvimento de métodos cada vez mais sensíveis, o teste de DNA é agora uma parte essencial do arsenal pericial objetivando a investigação de crimes. A identificação de indivíduos através do DNA (também chamada de tipagem do DNA ou genotipagem) foi introduzida na ciência forense em meados da década de 1980, decorrente de descobertas feitas em pesquisas biomédicas. Ray White, um geneticista americano da Universidade de Utah, identificou regiões de DNA que não codificavam proteínas, mas eram altamente variáveis entre os indivíduos. Figura: Estrutura química do DNA Cada indivíduo representa uma combinação do DNA de seus pais, sendo que a metade do DNA é herdada da mãe, e a outra metade, do pai. Todas as células de um indivíduo contém a mesma informação genética (mesmo DNA), o que se traduz em 3,2 bilhões de pares de bases. As exceções são os gametas (que possuem apenas metade da informação genética) e as células anucleadas, como as hemácias (que não possuem tal material genético). Contudo, a fita de DNA é muito longa e isso com certeza poderia atrapalhar na hora da divisão celular (quando o DNA também tem que se dividir, indo cada uma das cópias para uma das células filha). Por isso o DNA se condensa, formando as estruturas que chamamos de cromossomos. Eles nada mais são do que o DNA altamente condensado. Porém, a totalidade do DNA de uma célula não se concentra em um único cromossomo. Cada espécie tem um número determinado de cromossomos. A espécie humana, por exemplo, tem um conjunto de 46 cromossomos, presentes nos núcleos de cada célula. Na verdade temos dois cromossomos de cada tipo, ou seja, eles formam duplas. As células chamadas diplóides possuem os cromossomos em pares; dizemos que são cromossomos homólogos. Nosso organismo possui em sua maioria células diplóides; nossas únicas células haplóides são os gametas (óvulos e espermatozóides). Quando os gametas se encontram (na fecundação) o material genético de ambos se une e o número diplóide volta a se reestabelecer. Como vimos, o DNA humano é organizado em 23 pares de cromossomos. Dentro de todo esse DNA, existe uma parte codificante e uma parte não codificante. A parte codificante é aquela que está relacionada à produção de proteína, a qual pode estar relacionada a alguma característica humana. Um elevadíssimo percentual do DNA, mesmo o codificante, é comum a todos os indivíduos, porque nosso corpo funciona da mesma forma, nossos órgãos são os mesmos, ou seja, a forma de funcionamento do corpo é igual. Apenas um pequeno percentual da DNA nos diferencia, indivíduo a indivíduo, gerando diferenças na cor dos olhos, na cor da pele, na altura, no formato do rosto etc. Uma região codificante tem que ser mais ou menos igual, senão nós seríamos muito diferentes em termos de funcionamento do organismo. A região não codificante que, na verdade, não influencia nas características físicas e comportamentais das pessoas, ela sim tem interesse científico, porque varia muito de pessoa para pessoa permitindo sua individualização e sem, contudo, variar o funcionamento do nosso corpo. HISTÓRICO DO EXAME DE DNA A grande variabilidade genética existente torna o DNA uma ferramenta poderosa de identificação humana, pois permite a individualização de pessoas, da mesma maneira que o faz as impressões digitais. Assim, o DNA coletado em um local de crime pode tanto ligar um indivíduo ao vestígio como eliminar um suspeito da cena do crime, evitando uma condenação equivocada. É importante ressaltar que apesar do DNA humano possuir bilhões de pares de base, no exame para a obtenção do perfil genético são analisadas de 5.000 a 20.000 pares de bases em regiões não-codificantes. Ou seja, em um exame de DNA (obtenção de perfil genético) é analisado menos de 0,0007% do genoma humano, em regiões que não guardam relação com traços somáticos ou comportamentais das pessoas. A identificação de indivíduos através do DNA foi introduzida na ciência forense em meados da década de 1980, decorrente de descobertas feitas em pesquisas biomédicas. Ray White, um geneticista americano da Universidade de Utah, identificou regiões de DNA que não codificavam proteínas, mas eram altamente variáveis entre os indivíduos. Figura: Dr Ray White em seu laboratório na Universidade de Utah. A pesquisa inicial incluiu o uso de enzimas de restrição para cortar filamentos de DNA em locais específicos e produzir fragmentos de DNA de comprimentos definidos. Figura: Enzima de restrição cortando o DNA em um ponto específico. Cada enzima de restrição reconhece uma sequência própria e divide o DNA naquele ponto. White separou os fragmentos com base no tamanho, sendo as variações chamadas de RFLP (Restriction Fragment Length Polymorphisms – polimorfismos de comprimento de fragmento de restrição). Em 1980, White e colaboradores descreveram o primeiro marcador RFLP polimórfico e propuseram métodos para mapear o genoma humano com base na tecnologia RFLP. Figura: Como era realizado o exame de DNA baseado na análise RFLP. As primeiras aplicações da técnica na área forense surgiram do trabalho de Alec Jeffreys, que descobriu que a tecnologia RFLP poderia ser usada para desenvolver padrões de DNA, mais ou menos específicos para cada indivíduo5, e a descoberta a potencialidade de regiões do DNA não codificantes na individualização de pessoas. Na época, seu trabalho se concentrava no teste de paternidade. Dado o impacto dessa descoberta, Dr Jeffreys foi instado a usar pela primeira vez tal ferramenta em um caso forense (https://www.dnalc.org/view/15107-The- Ghana-Immigration-case-Alec-Jeffreys.html). Embora não criminal, a investigação tratava do esclarecimento de uma situação de imigração, um caso de vínculo materno, onde se queria confirmar um vínculo genético entre uma suposta mãe e seu suposto filho. Esse caso foi muito impactante para a época. Dada a eficácia do exame de DNA na identificação do vínculo genético (maternidade), foi pensado, https://www.dnalc.org/view/15107-The-Ghana-Immigration-case-Alec-Jeffreys.html https://www.dnalc.org/view/15107-The-Ghana-Immigration-case-Alec-Jeffreys.html pela primeira vez, que esse exame de DNA seria útil também em casos forenses criminais. Figura – Manchete de jornal da época, relatando o primeiro caso de uso forense do exame de DNA. Na mesma época duas meninas, Lynda Mann e Dawn Ashworth, haviam sido estupradas e assassinadas em Leicester, Reino Unido, em locais de crime diferentes. Naquela época não existia o exame de DNA na área de segurança pública. Porém existia um suspeito, Richard Buckland, cujo tipo sanguíneo (na época, era o único exame usado) era compatível com o sangue encontrado nas duas cenas de crime. Tal suspeito havia confessado um dos crimes, porém não confessava ser o autor de ambos. Investigando o modus operandi, a polícia tinha evidências de que se tratava de um mesmo autor, e estava confiante de que tinha encontrado a pessoa certa. Contudo, tendo em vista a dificuldade em se concluir o caso, e tendo em vista a reverberação do uso anterior do exame de DNA, o investigador responsável fez contato com o Alec Jeffreys e pediu que ele atuasse nesse caso. Figura – Lynda Mann e Dawn Ashworth, foram estupradas e assassinadas em Leicester, Reino Unido, na década de 80. Jeffreys concordou em fazer exames no sangue de Buckland e no sêmen retirado dos corpos das garotas mortas. Ao final do exame ele constatou que as garotas haviam sido estupradas pelo mesmo homem, como indicava a polícia. Contudo o perfil genético de Buckland era completamente diferente, logo ele não era o criminoso.A polícia ficou atônita e inicialmente relutou em acreditar no que estava ouvindo. Porém o teste foi repetido mais duas vezes e reproduziu o mesmo resultado. Richard Buckland foi considerado inocente e liberado em seguida, após mais de três meses de custódia. A polícia voltou então a buscar o assassino das duas meninas. No mês seguinte, os detetives decidiram que a tecnologia que havia libertado Buckland deveria ser usada para capturar o assassino. Cartas foram enviadas para todos os homens nascidos entre 1953 e 1970, que viveram ou trabalharam na área de Narborough nos últimos anos, pedindo-lhes que concordassem em fornecer uma amostra de sangue. Após oito meses, 5.511 homens forneceram amostras de sangue, porém não houve correspondência com as amostras de sêmen. A polícia continuou a investigação e meses depois chegou a Colin Pitchfork, um padeiro de 27 anos e pai de dois filhos pequenos. Ele confessou os crimes e o teste de DNA confirmou-o como o culpado pelos assassinatos. Pitchfork foi condenado à prisão perpétua pela Corte do Reino Unido. Figura – Manchete de jornal da época, relatando a prisão de Colin Pitchfork, com base em exames de DNA. A partir deste caso, o potencial investigativo do exame de DNA foi rapidamente reconhecido e adotado pelas forças policiais em todo o mundo. Nos últimos 30 anos, segundo algumas estimativas, mais de 50 milhões de pessoas tiveram seu DNA testado durante investigações criminais. Tal medida assegurou as condenações de incontáveis criminosos, a exclusão de vários suspeitos inocentes (como Buckland) e a anulação de erros judiciais. Figura: Dr Alec Jeffreys em seu laboratório na Universidade de Leicester. Os fragmentos de DNA cortados pelas enzimas de restrição contêm genes e DNA não codificante. O DNA não codificante inclui regiões que consistem em repetições diretas da mesma sequência de bases, referidas como repetições em série (ou repetições em tandem). O número de repetições da sequência é determinado geneticamente e, considerando que a sequência é suficientemente longa e repetida um número de vezes suficiente, afetará o comprimento do fragmento de restrição. Estas regiões são denominadas VNTR (Variable Number of Tandem Repeats - Número Variável de Repetições em Tandem). Figura: Uso das regiões VNTR na identificação de pessoas Apesar de altamente discriminatória a análise RFLP de VNTRs apresentam problemas como: 1. processo trabalhoso e demorado; 2. utilizam sondas radioativas, as quais apresentam riscos à saúde e no descarte; 3. necessidade de grande quantidade de amostra; 4. necessidade de DNA não degradado e com alto peso molecular; 5. necessita utilizar géis de separação. Por estes motivos, tal técnica ainda apresentava vários empecilhos que dificultavam sua aplicação constante em casos forenses. Em 1983, Kary Mullis desenvolveu a técnica conhecida como PCR (Polymerase Chain Reaction - Reação em Cadeia da Polimerase), que revolucionou a biologia molecular, incluindo a análise de DNA forense. Através da PCR, a análise de DNA forense tornou-se essencialmente mais rápida e sensível. Problemas anteriormente citados, como o tempo de análise, a utilização de materiais radioativos, a grande quantidade de amostra, a presença de DNA não degradado de alto peso molecular e a necessidade de lidar com variações de tamanho foram todos resolvidos pelas várias técnicas de PCR. Figura: Dr Kary Mullis recebeu o Prêmio Nobel de Química em 1993 pela invenção da técnica de PCR. Um dos primeiros testes PCR foi baseado na identificação do antígeno leucocitário humano (HLA), cujos marcadores são proteínas de sequencia conhecida e a codificação para cada antígeno pode ser identificada, tendo sido desenvolvido um teste simples para um dos loci do HLA, chamado DQ-Alpha. Este apresenta quatro principais alelos, os quais têm subtipos, contudo, alguns alelos não conseguiam ser bem distinguidos. O teste foi aprimorado para incorporar outros loci concomitantemente com o DQ-Alpha, chamado Polymarker, o que tornou o teste mais sensível e simples, mas mesmo assim não apresentava o poder de discriminação do RFLP. Figura: Como é realizada a técnica de PCR. A próxima fase no desenvolvimento do DNA para uso na ciência forense retornou ao conceito de VNTRs. Algumas regiões VNTR são relativamente curtas e podem ser amplificadas por PCR. Algumas vezes denominadas AmpFLPs (Amplified Fragment Polymorphisms – Polimorfismos de Fragmentos Amplificados). AmpFLPs não tiveram o poder de discriminação de RFLP ou a simplicidade de DQ-Alpha / Polymarker e não foram amplamente utilizados. Mais tarde, na década de 1990, análises de STR (Short Tandem Repeat – Repetições Curtas em Tandem) surgiram nos exames de DNA forense. De acordo com o nome, os STRs são regiões semelhantes ao VNTR que possuem sequências muito curtas, variando aproximadamente 2 a 6 pares de bases (pb). Embora as regiões STR individuais não sejam tão discriminatórios quanto os marcadores RFLP, o tamanho curto e o número de STRs disponíveis permitiram aos cientistas amplificar e analisar várias regiões STR simultaneamente (análise multiplex). Figura: O uso do STR na individualização de pessoas. OBTENÇÃO DO PERFIL GENÉTICO Em genética forense, o exame que visa à identificação genética é baseado na análise de regiões não-codificantes do DNA, sendo assim, não permite a determinação de características físicas ou comportamentais individuais, exceto gênero sexual. A análise de STR é o método de escolha atual para os exames de DNA em laboratórios forenses e produz resultados que são praticamente equivalentes à individualização. As chaves para o sucesso da genotipagem por STR são a análise simultânea de várias regiões e a capacidade de marcar nucleotídeos com substâncias fluorescentes. Os marcadores genéticos são altamente polimórficos (variam bastante de indivíduo para indivíduo), conferindo grande poder de discriminação, o que os torna ideais na individualização humana. Desta forma, o perfil genético de um indivíduo corresponde às informações obtidas (alelos) em cada um dos marcadores analisados. Atualmente, a análise de DNA forense usa a seguinte sequência de etapas: Figura: Etapas da análise de uma amostra biológica em um laboratório de genética forense: da amostragem à separação dos fragmentos amplificados de DNA. Figura: Etapas da análise de uma amostra biológica em um laboratório de genética forense: análise e interpretação utilizando bancos de dados de perfis genéticos. Como são expressos os resultados do exame de DNA forense? Quem já leu um laudo de genética forense deve ter percebido que os resultados são expressos de duas formas: • Numericamente: expresso em Razão de Verossimilhança (LR ou Likelihood Rate), com base em duas hipóteses; • Textualmente: utiliza-se uma escala verbal, que traduz o resultado de acordo com o valor de LR obtido. Daí pode surgir a pergunta: Mas por que não se responde apenas que sim ou que não? Isso não é possível pois os resultados genéticos são expressos com base em cálculos bioestatísticos que se utilizam de dados de genética populacional. As tecnologias e os insumos de genética forense têm avançado muito nos últimos anos. No início do uso dos perfis genéticos como forma de identificação, algumas poucas regiões do DNA eram analisadas, o que gerava uma certa limitação em seu uso. Atualmente a maioria dos kits analisam mais de vinte regiões do DNA simultaneamente (multiplex), o que aumenta a confiabilidade da técnica e, consequentemente, o valor estatístico do resultado obtido. Isto é estudado em pesquisas de frequência populacional. No Brasil, existem algumas tabelas de frequência alélica publicadas para a nossa população, e que são utilizadas nos cálculos bioestatísticos que subsidiarão os resultados dos exames genéticos.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1FRANÇA, GENIVAL VELOSO. Medicina Legal, 6ª ed, Editora Guanabara Koogan, 2001. 2INTERPOL. Disaster Victim Identification Guide (Proposed Amendments: March, 2014), (2014). Disponível em https://www.interpol.int/How-we- work/Forensics/Disaster-Victim-Identification-DVI 3PICOLI, F. F., ALVES, A. M.; MUNDIM, M. B. V.; MENDES, S. D. S. C.; SILVA, R. F. A Fragilidade da Análise Facial como Único Método de Identificação Humana. Brazilian Journal of Forensic Sciences, Medical Law and Bioethics 3(4):281-302 (2014). 4DECANINE, D. O papel de marcadores moleculares na genética forense. Rev. Bras. Crimin. 5(2), 18-27, 2016 5 LODISH H, BERK A, ZIPURSKY SL, MATSUDAIRA P, BALTIMORE D, DARNELL J. Análise genética em biologia molecular. In: Nader HB, editor. Biologia celular e molecular. Rio de Janeiro: Revinter; 2002. p.255-93. 6 BUTLER. Advanced Topics in Forensic DNA Typing: Methodology. Elsevier 2012. https://www.interpol.int/How-we-work/Forensics/Disaster-Victim-Identification-DVI https://www.interpol.int/How-we-work/Forensics/Disaster-Victim-Identification-DVI Banco Básico de Perfis Genéticos e Legislação Aplicada Unidade 1 OBJETIVOS Olá Aluno! Olá Aluna! Prontos para começar o curso sobre banco perfis genéticos e legislação aplicada? O objetivo deste curso é apresentar e discutir a legislação vigente que prevê a coleta de material biológico de condenados e a identificação genética de suspeitos, para fins de inserção nos bancos da Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos (RIBPG). Ao completar esta ação educacional espera-se que os servidores capacitados compreendam a importância dos bancos de dados de perfis genéticos, conheçam as possibilidades dos bancos de perfis genéticos como ferramenta auxiliar à justiça e investigações e estejam aptos para realizarem a coleta de amostras de referência de suspeitos e condenados. Recomendamos que vocês façam anotações em um caderno, bloco de notas ou um arquivo de texto no computador. Este curso tem material de leitura extenso e bastante técnico. Anote conceitos e o que mais achar importante. Lembre-se: após cada unidade do curso, vocês terão acesso a uma avaliação composta por questões objetivas. Cada avaliação vale até 25 pontos da nota final. Para sua aprovação no curso, é necessário que você obtenha 70% do total do evento e, pelo menos, 40% em cada avaliação. Vamos iniciar!? INTRODUÇÃO Em 28 de maio de 2012, foi sancionada a Lei nº 12.654/2012, que alterou duas outras importantes leis do ordenamento jurídico brasileiro: a Lei 7.210/1984 (Lei de Execução Penal) e a Lei 12.037/2009 (Lei de Identificação Criminal do civilmente identificado). A partir daquele momento, estava previsto no ordenamento jurídico nacional a coleta de material biológico de indivíduos condenados ou suspeitos por crimes, dentro de regras estabelecidas, bem como a inserção do respectivo perfil genético destes em bancos de dados de perfis genéticos. Tal feito criou novos caminhos para a investigação criminal no Brasil e ampliou a possibilidade de solução de crimes principalmente no que concerne à identificação do autor do ato delitivo. Mas do que se trata um perfil genético? Como funciona um banco de dados? Quais as limitações impostas pela Lei? Como se realiza uma coleta de material biológico para fins de referência? O que é material de referência? Este é um assunto relativamente novo e ainda gera muitas dúvidas. Nosso curso ajudará você a compreender melhor este tema e se sentir capaz de atuar de forma mais efetiva no cumprimento da legislação vigente e no uso dos bancos de dados de perfis genéticos como ferramenta de elucidação de crimes. CONCEITO DE IDENTIFICAÇÃO A identificação é uma soma de caracteres que individualizam uma pessoa. Tal processo determina a identificação ou a não identificação de um indivíduo, ou seja, aquela pessoa é ou não é determinado indivíduo. Os métodos de identificação devem ser cientificamente sólidos, confiáveis, aplicáveis e capazes de serem implementados dentro de um período de tempo razoável. Torna-se importante diferenciar dois termos que são equivocadamente utilizados como sinônimos: reconhecimento e a identificação de um indivíduo. Alguns indivíduos não relacionados podem ter aparências muito similares, como exemplificado a seguir: Figura: General Douglas MacArthur (esquerda) e Bruce Willis (direita). Figura: Hermann Rorschach (esquerda) e Brad Pitt (direita). Apesar de ser um procedimento usualmente empregado, o reconhecimento não deve ser empregado como um método confiável de identificação humana, pois é subjetivo, não é baseado em conhecimento técnico-científico e não pode ser reprodutível. As falhas decorrentes do reconhecimento facial, principalmente relacionadas à identificação visual, podem levar a erros graves de identificação. Um caso famoso que tomou repercussão nacional em 2014 foi o do ator Vinícius Romão, acusado de roubar uma mulher. Vinícius ficou 16 dias preso após o reconhecimento da vítima. A investigação policial, contudo, apontou Dione Mariano da Silva como o verdadeiro assaltante. A identificação genética é um método de identificação sólido, confiável, aplicável e capaz de ser implementado dentro de um período de tempo razoável. Além disto, a análise do perfil genético de um indivíduo, como método de identificação, resguarda as seguintes características: • Imutabilidade: o DNA está presente em todo o corpo humano, não se alterando a depender do tecido analisado, e não muda através do tempo. • Praticabilidade: a coleta é fácil (suabe bucal) e sua análise vem tendo o custo cada vez mais baixo (em torno de R$ 100,00 – R$ 200,00 por amostra). • Classificabilidade: os dados podem ser resumidos em um código alfa- numérico, facilmente armazenados em bancos de dados. O QUE É DNA? O DNA é uma molécula que contém as informações genéticas dos organismos e está presente nas células. Praticamente qualquer material biológico contém DNA, seja ele mucosa oral (células epiteliais), sangue, sêmen, músculo, órgãos, ossos, dentes, saliva, urina, fezes, pêlo, etc. Cada indivíduo representa uma combinação do DNA de seus pais, sendo que a metade do DNA é herdada da mãe, e a outra metade, do pai. A fita de DNA é muito longa e isso com certeza poderia atrapalhar na hora da divisão celular. Por isso o DNA se condensa, formando as estruturas que chamamos de cromossomos. Cada espécie tem um número determinado de cromossomos. A espécie humana, por exemplo, tem um conjunto de 46 cromossomos, presentes nos núcleos de cada célula. Todas as células de um indivíduo contêm a mesma informação genética (mesmo DNA), o que se traduz em 3,2 bilhões de pares de bases. As exceções são os gametas (que possuem apenas metade da informação genética) e as células anucleadas, como as hemácias (que não possuem tal material genético). Dentro de todo DNA, existe uma parte codificante e uma parte não codificante. A parte codificante é aquela utilizada para a produção de proteínas, a qual pode estar relacionada a alguma característica física, comportamental ou doenças. Já a região não codificante não influencia nas características físicas e comportamentais das pessoas. Esta região sim tem interesse técnico-científico nas ciências forense porque varia muito de pessoa para pessoa permitindo sua individualização. Assim, quando se fala de perfil genético, estamos falando da análise de uma quantidade de 5 mil a 20 mil pares de base de regiões não codificantes. Ou seja, analisa-se apenas 0,0007% (de um total de 3,2 bilhões de pares de base) do DNA do indivíduo em regiões não codificantes. Portanto, o exame de genética forense não diz absolutamente nada sobre ascaracterísticas físicas, comportamentais ou doenças de uma pessoa. A grande variabilidade genética existente torna o DNA uma ferramenta poderosa de identificação de pessoas. Mais à frente estudaremos casos relevantes em que o exame de genética forense foi importante para sua elucidação. Em resumo: A Genética Forense trata da utilização dos conhecimentos e das técnicas de Genética e de Biologia Molecular no auxílio da justiça no que tange desde autorias de locais de crime quanto na identificação de pessoas desaparecidas ou definição de paternidade (ou maternidade). O DNA empregado nesses processos é obtido de materiais biológicos como ossos, dentes, sangue, tecido epitelial, sêmen e saliva1. O processo em que se obtém esse perfil genético e a sua comparação é conhecido como exame de DNA. Esse nome se tornou muito popular, apesar de que de fato no laboratório de genética forense se analisa apenas o perfil genético. HISTÓRICO DO EXAME DE DNA O exame de DNA foi um avanço tecnológico relativamente recente no campo das ciências forenses. Tal tecnologia tem um notável poder de discernir as diferenças genéticas, ao ponto de individualização. Juntamente com o desenvolvimento de métodos cada vez mais sensíveis, o teste de DNA é agora uma parte essencial do arsenal pericial objetivando a investigação de crimes. As primeiras aplicações da técnica na área forense surgiram do trabalho de Alec Jeffreys, o qual vinha estudando a utilização de fragmentos polimórficos* de DNA para testes de paternidade. Os polimorfismos genéticos são variações na seqüência de DNA. A freqüência de alelos heterozigotos para o polimorfismo genético ocorre em mais de 2% da população. Em 1985, a polícia britânica de West Midlands se aproximou de Jeffreys para ajudá-los em um caso de estupro e homicídio. O trabalho de Jeffrey resultou na libertação de um homem injustamente condenado e na apreensão e condenação do verdadeiro perpetrador. Em 1983, Kary Mullis desenvolveu a técnica conhecida como PCR (Polymerase Chain Reaction - Reação em Cadeia da Polimerase), que revolucionou a biologia molecular, incluindo a análise de DNA forense. Através da PCR, a análise de DNA forense tornou-se essencialmente mais rápida e sensível. Problemas que ocorriam anteriormente, como o tempo de análise, a utilização de materiais radioativos, a grande quantidade de amostra, a presença de DNA não degradado de alto peso molecular e a necessidade de lidar com variações de tamanho foram melhorados pelo uso da técnica de PCR. A PCR é um processo enzimático no qual uma região específica do DNA é replicada repetidamente para produzir muitas cópias de uma determinada sequência. Este processo envolve o aquecimento e resfriamento de amostras em um padrão de ciclo térmico. O processo de amplificação por PCR tem um duplo propósito: aumentar o número de moléculas que representam um local-alvo específico e anexar um marcador, na maioria das vezes um corante fluorescente, que permite a detecção dos amplicons produzidos. OBTENÇÃO DO PERFIL GENÉTICO As regiões analisadas apresentam sequências de DNA repetitivas (Short Tandem Repeats – STR) também conhecidas como marcadores genéticos e consistem em unidades de repetição com 1 a 5 nucleotídeos, repetidos entre 2 a 40 vezes. Estas repetições são muito abundantes em zonas não codificantes do DNA nuclear e são analisadas por técnicas de biologia molecular nos laboratórios de genética forense. A análise de STR é o método de escolha atual para os exames de DNA em laboratórios forenses e produz resultados robustos de identificação e/ou vínculo genético. As chaves para o sucesso do exame de DNA utilizando STRs são a análise simultânea de várias regiões e a capacidade de marcar nucleotídeos com substâncias fluorescentes. O exame envolve diversas etapas: • AMOSTRAGEM: toma-se uma parte do material biológico (ou ele todo, no caso de suabes ou outros itens pequenos) que represente o objeto encaminhado a exame; a análise é feita por meio de exame visual, óptico (com uso de luzes forenses, lupas, microscópios etc) ou bioquímico (com uso de reagentes específicos), os quais podem apontar os locais onde existe material biológico apto à obtenção de DNA. • EXTRAÇÃO: lise celular (liberação do DNA da célula) seguida de purificação, visando a obtenção de uma solução contendo o material genético; • QUANTIFICAÇÃO: determinação de quanto DNA se tem na amostra; no caso de amostras de referência (onde há boa quantidade de DNA e o material genético é proveniente de uma única fonte) esta etapa pode ser excluída; • AMPLIFICAÇAO: produção de múltiplas cópias do DNA por meio da técnica de PCR • SEPARAÇÃO: separação do produto de DNA amplificado para permitir a sua subsequente identificação; atualmente é realizada pela técnica de eletroforese capilar; • ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO: a determinação de um perfil genético utiliza kits comerciais que analisam ao menos 15 marcadores genéticos autossômicos simultaneamente, além do marcador de gênero sexual (Amelogenina). A obtenção de um perfil genético é um processo laboratorial complexo. Após obtidos, no entanto, os perfis genéticos são dados simples que podem ser facilmente armazenados em bancos de dados. Exemplo de perfil genético: DPF12345 X,Y 7,8 15,17 23,27 13 8,11 10,11 12,13 8,9 15,16 12 9,13 12,18 13,14 11 22,24 O exame de DNA é de natureza comparativa. A comparação quantitativa e qualitativa das amostras de DNA presentes em vestígios (amostras questionadas) frente a perfis de DNA conhecidos (amostras de referência) podem ser realizadas por meio de: 1) comparação direta (quando a investigação já aponta os suspeitos – casos fechados) ou 2) bancos de dados de perfis genéticos (quando a investigação não aponta os suspeitos – casos abertos). Compara-se o perfil genético de uma amostra questionada com o perfil genético de uma amostra de referência. Enquanto a amostra questionada pode ser praticamente qualquer vestígio, a amostra de referência é coletada de uma pessoa de identidade conhecida. As amostras questionadas normalmente são coletadas pelos peritos criminais na perícia de local de crime, mas também podem ser coletadas no corpo da vítima, durante os exames de corpo de delito realizados nos institutos de Medicina Legal. As amostras de referência são mais comumente coletadas de pessoas vivas, mas também podem (e devem) ser coletadas de cadáveres de identidade conhecida. A coleta de material biológico de pessoa viva preferencialmente é feita a partir da boca, coletando-se células da mucosa oral com o auxílio de um suabe ou dispositivo de coleta. Como são expressos os resultados do exame de DNA forense? Quem já leu um laudo de genética forense deve ter percebido que os resultados são expressos de duas formas: • Numericamente: expresso em Razão de Verossimilhança (LR ou Likelihood Rate), com base em duas hipóteses; • Textualmente: utiliza-se uma escala verbal, que traduz o resultado de acordo com o valor de LR obtido. Mas como é calculada a Razão de Verossimilhança (LR)? Basicamente, o que se calcula é a razão entre duas hipóteses. No caso de uma coincidência (match) entre um vestígio e uma amostra de referência (condenado ou suspeito), as seguintes hipóteses são consideradas: • Hipótese 1 (também chamada de Hipótese da acusação): A amostra questionada é oriunda do indivíduo doador da amostra de referência. • Hipótese 2 (também chamada de Hipótese da defesa): A amostra questionada é oriunda de um outro indivíduo qualquer da população sem vínculo familiar próximo com o doador da amostra de referência. O LR é a razão entre a Probabilidade de ocorrer a Hipótese 1 sobre a Probabilidade de ocorrência da Hipótese 2: LR =Probabilidade da Hipótese 1 Probabilidade da Hipótese 2 Para tanto utiliza-se tabelas de frequência alélica da população em estudo. Isso quer dizer que cada população possui uma determinada frequência na ocorrência de determinados alelos (STRs que ocorrem em determinadas regiões do DNA). Após os cálculos, os resultados são relatados da seguinte maneira: “O resultado obtido é n vezes mais provável se considerarmos a hipótese 1 do que se considerarmos a hipótese 2”, onde n é o valor obtido de LR. Para fins de apresentação dos resultados, também pode ser utilizada uma escala verbal, de maneira a tornar mais simples a interpretação do Laudo. “Os resultados obtidos suportam de maneira "escala verbal1" a hipótese de que a amostra questionada analisada é oriunda do doador da amostra de referência.” 1 No laboratório de Genética Forense da Polícia Federal se utiliza a escala proposta em Buckleton, Triggs & Walsh, Forensic - DNA Evidence Interpretation, CRC Press, 2005. • LR ≥ 1.000.000 (um milhão) - Extremamente forte • 100.000 (cem mil) ≤ LR < 1.000.000 (um milhão) - Muito forte • 10.000 (dez mil) ≤ LR < 100.000 (cem mil) – Forte • 1.000 (um mil) ≤ LR < 10.000 (dez mil) – Moderadamente forte • 100 (cem) ≤ LR < 1000 (mil) – Moderado • 10 (dez) ≤ LR < 100 (cem) - Limitado • 1 (um) ≤ LR < 10 (dez) – Inconclusivo Por exemplo, no caso do LR calculado ser da ordem de 1 octilhão (valor de ordem bem comum nas análises genéticas atuais), pode-se concluir da seguinte maneira: “Os resultados obtidos suportam de maneira extremamente forte a hipótese de que a amostra questionada analisada é oriunda do doador da amostra de referência.” REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BUTLER. Advanced Topics in Forensic DNA Typing: Methodology. Elsevier 2012. DECANINE, D. O papel de marcadores moleculares na genética forense. Rev. Bras. Crimin. 5(2), 18-27, 2016. FRANÇA, GENIVAL VELOSO. Medicina Legal, 6ª ed, Editora Guanabara Koogan, 2001. INTERPOL. Disaster Victim Identification Guide(Proposed Amendments: March, 2014), (2014). Disponível em https://www.interpol.int/How-we- work/Forensics/Disaster-Victim-Identification-DVI LODISH H, BERK A, ZIPURSKY SL, MATSUDAIRA P, BALTIMORE D, DARNELL J. Análise genética em biologia molecular. In: Nader HB, editor. Biologia celular e molecular. Rio de Janeiro: Revinter; 2002. p.255-93. PICOLI, F. F., ALVES, A. M.; MUNDIM, M. B. V.; MENDES, S. D. S. C.; SILVA, R. F. A Fragilidade da Análise Facial como Único Método de Identificação Humana. Brazilian Journal of Forensic Sciences, Medical Law and Bioethics 3(4):281-302 (2014). RIBPG. MANUAL DE PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS DA RIBPG (VERSÃO 3). Brasília : Resolução nº 8, 2017. https://www.interpol.int/How-we-work/Forensics/Disaster-Victim-Identification-DVI https://www.interpol.int/How-we-work/Forensics/Disaster-Victim-Identification-DVI CURSO BÁSICO DE BANCOS DE PERFIS GENÉTICOS E LEGISLAÇÃO APLICADA OBJETIVO OBJETIVO • Recomendamos que vocês façam anotações em um caderno, bloco de notas ou um arquivo de texto no computador. Este curso tem material de leitura extenso e bastante técnico. Anote conceitos e o que mais achar importante. • Lembre-se: após cada unidade do curso, vocês terão acesso a uma avaliação composta por questões objetivas. Cada avaliação vale até 25 pontos da nota final. Para sua aprovação no curso, é necessário que você obtenha 70% do total do evento e, pelo menos, 40% em cada avaliação. • Vamos iniciar!? INTRODUÇÃO INTRODUÇÃO • Em 28 de maio de 2012, foi sancionada a Lei nº 12.654/2012, que alterou duas outras importantes leis do ordenamento jurídico brasileiro: a Lei 7.210/1984 (Lei de Execução Penal) e a Lei 12.037/2009 (Lei de Identificação Criminal do civilmente identificado). • A partir daquele momento, estava previsto no ordenamento jurídico nacional a coleta de material biológico de indivíduos condenados ou suspeitos por crimes, dentro de regras estabelecidas, bem como a inserção do respectivo perfil genético destes em bancos de dados de perfis genéticos. Tal feito criou novos caminhos para a investigação criminal no Brasil e ampliou a possibilidade de solução de crimes principalmente no que concerne à identificação do autor do ato delitivo. INTRODUÇÃO • Mas do que se trata um perfil genético? Como funciona um banco de dados? Quais as limitações impostas pela Lei? Como se realiza uma coleta de material biológico para fins de referência? O que é material de referência? • Este é um assunto relativamente novo e ainda gera muitas dúvidas. Nosso curso ajudará você a compreender melhor este tema e se sentir capaz de atuar de forma mais efetiva no cumprimento da legislação vigente e no uso dos bancos de dados de perfis genéticos como ferramenta de elucidação de crimes. DNA Saves - How the DNA Database Works por DNASaves • Tradução Ronaldo Carneiro Júnior Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=GUKKrQBO-Ps https://www.youtube.com/watch?v=GUKKrQBO-Ps CONCEITO DE IDENTIFICAÇÃOCONCEITO DE IDENTIFICAÇÃO CONCEITO DE IDENTIFICAÇÃO A identificação é uma soma de caracteres que individualizam uma pessoa. Tal processo determina a identificação ou a não identificação de um indivíduo, ou seja, aquela pessoa é ou não é determinado indivíduo. Os métodos de identificação devem ser cientificamente sólidos, confiáveis, aplicáveis e capazes de serem implementados dentro de um período de tempo razoável. CONCEITO DE IDENTIFICAÇÃO • Torna-se importante diferenciar dois termos que são equivocadamente utilizados como sinônimos: reconhecimento e identificação. • Alguns indivíduos não relacionados podem ter aparências muito similares, como exemplificado a seguir: Ator americano Bruce Willis (esquerda) e General americano Douglas MacArthur (direita) • Apesar de ser um procedimento usualmente empregado, o reconhecimento não deve ser empregado como um método confiável de identificação humana, pois é subjetivo, não é baseado em conhecimento técnico-científico e não pode ser reprodutível. Atriz britânica Keira Knightley (esquerda) e Atriz israelense Natalie Portman (direita) CONCEITO DE IDENTIFICAÇÃO CONCEITO DE IDENTIFICAÇÃO • As falhas decorrentes do reconhecimento facial, principalmente relacionadas à identificação visual, podem levar a erros graves de identificação. • Um caso famoso que tomou repercussão nacional em 2014 foi o do ator Vinícius Romão, acusado de roubar uma mulher. Vinícius ficou 16 dias preso após o reconhecimento da vítima. A investigação policial, contudo, apontou Dione Mariano da Silva como o verdadeiro assaltante. • A grande variabilidade genética existente torna o DNA uma ferramenta poderosa de identificação de pessoas. • A identificação genética é um método de identificação sólido, confiável, aplicável e capaz de ser implementado dentro de um período de tempo razoável. • Mais à frente estudaremos casos relevantes em que o exame de genética forense foi importante para sua elucidação. CONCEITO DE IDENTIFICAÇÃO • Além disto, a análise do perfil genético de um indivíduo, como método de identificação, resguarda as seguintes características: • Imutabilidade: o DNA está presente em todo o corpo humano, não se alterando a depender do tecido analisado, e não muda através do tempo. • Praticabilidade: a coleta é fácil (suabe bucal) e sua análise vem tendo o custo cada vez mais baixo (de R$ 100,00 – R$ 200,00). • Classificabilidade: os dados podem ser resumidos em um código alfa-numérico, facilmente armazenados em bancos de dados. CONCEITO DE IDENTIFICAÇÃO O QUE É DNA? "O que é DNA?" por AFPBR. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=9ZBD8Us7x2Q https://www.youtube.com/watch?v=9ZBD8Us7x2Q • A fita de DNA é muito longa e isso com certeza poderia atrapalhar na hora da divisão celular. Por isso o DNA se condensa, formando as estruturas que chamamos de cromossomos.• Cada espécie tem um número determinado de cromossomos. A espécie humana, por exemplo, tem um conjunto de 46 cromossomos, presentes nos núcleos de cada célula. O QUE É DNA? O QUE É DNA? • Cada indivíduo representa uma combinação do DNA de seus pais, sendo que a metade do DNA é herdada da mãe e a outra metade, do pai. • Salvo poucas exceções, as células de um indivíduo contêm a mesma informação genética (mesmo DNA), o que se traduz em 3,2 bilhões de pares de nucleotídeos. O que é um Cromossomo? Como Funciona? Genética - Vídeo Animado por NutriDiversidade. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=UBfInkTvqt8 https://www.youtube.com/watch?v=UBfInkTvqt8 O QUE É DNA? • Dentro de todo DNA, existe uma parte codificante e uma parte não codificante. • A parte codificante é aquela utilizada para a produção de proteínas, a qual pode estar relacionada a alguma característica física, comportamental ou doenças. O QUE É DNA? O QUE É DNA? HISTÓRICO DO EXAME DE DNA • O exame de DNA foi um avanço tecnológico relativamente recente no campo das ciências forenses. Tal tecnologia tem um notável poder de discernir as diferenças genéticas, ao ponto de individualização. • Juntamente com o desenvolvimento de métodos cada vez mais sensíveis, o exame de genética forense é agora uma parte essencial do arsenal pericial objetivando a investigação de crimes. HISTÓRICO DO EXAME DE DNA HISTÓRICO DO EXAME DE DNA • As primeiras aplicações da técnica na área forense surgiram do trabalho de Alec Jeffreys, o qual vinha estudando a utilização de fragmentos polimórficos de DNA para testes de paternidade. • Os polimorfismos genéticos são variações na seqüência de DNA. • Em 1985, a polícia britânica de West Midlands se aproximou de Jeffreys para ajudá-los em um caso de estupro e homicídio. O trabalho de Jeffrey resultou na libertação de um homem injustamente condenado e na apresentação e condenação do verdadeiro perpetrador. HISTÓRICO DO EXAME DE DNA • Em 1983, Kary Mullis desenvolveu a técnica conhecida como PCR (Polymerase Chain Reaction - Reação em Cadeia da Polimerase), que revolucionou a biologia molecular, incluindo a análise de DNA forense. • Através da PCR, a análise de DNA forense tornou-se essencialmente mais rápida e sensível. • Problemas que ocorriam anteriormente, como o tempo de análise, a utilização de materiais radioativos, a grande quantidade de amostra, a presença de DNA não degradado de alto peso molecular e a necessidade de lidar com variações de tamanho foram melhorados pelo uso da técnica de PCR. HISTÓRICO DO EXAME DE DNA • A PCR é um processo enzimático no qual uma região específica do DNA é replicada repetidamente para produzir muitas cópias de uma determinada sequência. • Este processo envolve o aquecimento e resfriamento de amostras em um padrão de ciclo térmico. HISTÓRICO DO EXAME DE DNA O processo de amplificação por PCR tem um duplo propósito: 1) aumentar o número de moléculas que representam um local-alvo específico e 2) anexar um marcador, na maioria das vezes um corante fluorescente, que permite a detecção das cópias produzidas. OBTENÇÃO DO PERFIL GENÉTICO OBTENÇÃO DO PERFIL GENÉTICO As regiões analisadas apresentam sequências de DNA repetitivas (Short Tandem Repeats – STR) também conhecidas como marcadores genéticos e consistem em unidades de repetição com 1 a 5 nucleotídeos, repetidos entre 2 a 40 vezes. Estas repetições são muito abundantes em zonas não codificantes do DNA nuclear e são analisadas por técnicas de biologia molecular nos laboratórios de genética forense. OBTENÇÃO DO PERFIL GENÉTICO A análise de STR é o método de escolha atual para os exames de DNA em laboratórios forenses porque produz resultados robustos de identificação e/ou vínculo genético. As chaves para o sucesso do exame de DNA utilizando STRs são a análise simultânea de várias regiões e a capacidade de marcar nucleotídeos com substâncias fluorescentes. O exame envolve diversas etapas: EXTRAÇÃOAMOSTRAGEM QUANTIFICAÇÃO AMPLIFICAÇAO SEPARAÇÃO ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO OBTENÇÃO DO PERFIL GENÉTICO • AMOSTRAGEM: toma-se uma parte do material biológico (ou ele todo, no caso de suabes ou outros itens pequenos) que represente o objeto encaminhado a exame. • A análise é feita por meio de exame visual, óptico (com uso de luzes forenses, lupas, microscópios, etc) ou bioquímico (com uso de reagentes específicos), os quais podem apontar os locais onde existe material biológico apto à obtenção de DNA. OBTENÇÃO DO PERFIL GENÉTICO • EXTRAÇÃO: lise celular (liberação do DNA da célula) seguida de purificação, visando a obtenção de uma solução contendo o material genético. OBTENÇÃO DO PERFIL GENÉTICO • QUANTIFICAÇÃO: determinação de quanto DNA se tem na amostra. • no caso de amostras de referência (onde há boa quantidade de DNA e o material genético é proveniente de uma única fonte) esta etapa pode ser excluída. OBTENÇÃO DO PERFIL GENÉTICO • AMPLIFICAÇAO: produção de múltiplas cópias do DNA por meio da técnica de PCR. OBTENÇÃO DO PERFIL GENÉTICO • SEPARAÇÃO: separação do produto de DNA amplificado para permitir a sua subsequente identificação. Atualmente é realizada pela técnica de eletroforese capilar. OBTENÇÃO DO PERFIL GENÉTICO • ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO: A determinação de um perfil genético utiliza kits comerciais que analisam ao menos 15 marcadores genéticos autossômicos simultaneamente, além do marcador de gênero sexual (Amelogenina). DNA Analysis por NFSTC/FIU Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=JUoBTk1NDZ8 Tradução Ronaldo Carneiro Júnior https://www.youtube.com/watch?v=JUoBTk1NDZ8 OBTENÇÃO DO PERFIL GENÉTICO • Vimos que a obtenção de um perfil genético é um processo laboratorial complexo. No entanto, após obtidos, os perfis genéticos são dados simples que podem ser facilmente armazenados em bancos de dados. OBTENÇÃO DO PERFIL GENÉTICO • O exame de DNA é de natureza comparativa. Compara-se o perfil genético de uma amostra questionada com o perfil genético de uma amostra de referência. • Enquanto a amostra questionada pode ser praticamente qualquer vestígio, a amostra de referência é coletada de uma pessoa de identidade conhecida. • As amostras questionadas normalmente são coletadas pelos peritos criminais na perícia de local de crime. • Contudo, também podem ser coletadas no corpo da vítima, durante os exames de corpo de delito realizados nos Institutos de Medicina Legal. OBTENÇÃO DO PERFIL GENÉTICO • As amostras de referência são mais comumente coletadas de pessoas vivas, mas também podem (e devem) ser coletadas de cadáveres de identidade conhecida. • A coleta de material biológico de pessoa viva normalmente é feita a partir da boca, coletando- se células da mucosa oral com o auxílio de um suabe ou dispositivo de coleta. OBTENÇÃO DO PERFIL GENÉTICO THE BEST REVIEW OF STR'S (SHORT TANDEM REPEAT) MUTATION | APPLIED TO THE FORENSIC por Bits de Ciência. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=9bEAJYnVVBA Tradução Ronaldo Carneiro Júnior https://www.youtube.com/watch?v=9bEAJYnVVBA OBTENÇÃO DO PERFIL GENÉTICO • Como são expressos os resultados do exame de genética forense? • Quem já leu um laudo de genética forense deve ter percebido que os resultados são expressos de duas formas: • Numericamente: expresso em Razão de Verossimilhança (LR ou Likelihood Rate), com base em duas hipóteses; • Textualmente: utiliza-se uma escala verbal, que traduz o resultado de acordo com o valor de LR obtido. • Mas como é calculada a Razão de Verossimilhança (LR)? • Basicamente, o que se calcula é a razão entre duas hipóteses. • Hipótese 1 (também chamada de Hipótese da acusação): A amostra questionada é oriunda do indivíduo doador da amostra de referência. • Hipótese 2 (também chamada de Hipótese da defesa): A amostra questionada é oriunda de um outro indivíduo qualquer da população sem vínculo familiar próximo com o doador da amostra de referência. OBTENÇÃO DO PERFIL GENÉTICOOBTENÇÃO DO PERFIL GENÉTICO • O LR é a razão entre a Probabilidade de ocorrer a Hipótese 1 sobre a Probabilidade de ocorrência da Hipótese 2: LR = Probabilidade da Hipótese 1 Probabilidade da Hipótese 2 • Para tanto utiliza-se tabelas de frequência alélica da população em estudo. Isso quer dizer que cada população possui uma determinada frequência na ocorrência de determinados marcadores genéticos (STRs que ocorrem em determinadas regiões do DNA). OBTENÇÃO DO PERFIL GENÉTICO • Após os cálculos, os resultados são relatados da seguinte maneira: • “O resultado obtido é n vezes mais provável se considerarmos a hipótese 1 do que se considerarmos a hipótese 2”, onde n é o valor obtido de LR. OBTENÇÃO DO PERFIL GENÉTICO • Para fins de apresentação dos resultados, também pode ser utilizada uma escala verbal, de maneira a tornar mais simples a interpretação do Laudo. • “Os resultados obtidos suportam de maneira "escala verbal" a hipótese de que a amostra questionada analisada é oriunda do doador da amostra de referência.” OBTENÇÃO DO PERFIL GENÉTICO • “Os resultados obtidos suportam de maneira extremamente forte a hipótese de que a amostra questionada analisada é oriunda do doador da amostra de referência.” Por exemplo, no caso do LR calculado ser da ordem de 1 octilhão (valor de ordem bem comum nas análises genéticas atuais), pode-se concluir da seguinte maneira: Escala proposta em Buckleton, Triggs & Walsh, Forensic - DNA Evidence Interpretation, CRC Press, 2005. • LR ≥ 1.000.000 (um milhão) - Extremamente forte • 100.000 (cem mil) ≤ LR < 1.000.000 (um milhão) - Muito forte • 10.000 (dez mil) ≤ LR < 100.000 (cem mil) – Forte • 1.000 (um mil) ≤ LR < 10.000 (dez mil) – Moderadamente forte • 100 (cem) ≤ LR < 1000 (mil) – Moderado • 10 (dez) ≤ LR < 100 (cem) - Limitado • 1 (um) ≤ LR < 10 (dez) – Inconclusivo A Genética Forense trata da utilização dos conhecimentos e das técnicas de Genética e de Biologia Molecular no auxílio da justiça no que tange desde indicações de autorias de locais de crime quanto na identificação de pessoas desaparecidas ou definição de paternidade (ou maternidade). O DNA empregado nesses processos é obtido de materiais biológicos como ossos, dentes, sangue, tecido epitelial, sêmen e saliva. O exame de genética forense não diz absolutamente nada sobre as características físicas, comportamentais ou doenças de uma pessoa. O processo em que se obtém esse perfil genético e a sua comparação é conhecido como exame de DNA. Esse nome se tornou muito popular, apesar de que de fato no laboratório de genética forense se analisa apenas o perfil genético. A Genética Forense trata da utilização dos conhecimentos e das técnicas de Genética e de Biologia Molecular no auxílio da justiça no que tange desde indicações de autorias de locais de crime quanto na identificação de pessoas desaparecidas ou definição de paternidade (ou maternidade). O DNA empregado nesses processos é obtido de materiais biológicos como ossos, dentes, sangue, tecido epitelial, sêmen e saliva. O exame de genética forense não diz absolutamente nada sobre as características físicas, comportamentais ou doenças de uma pessoa. O processo em que se obtém esse perfil genético e a sua comparação é conhecido como exame de DNA. Esse nome se tornou muito popular, apesar de que de fato no laboratório de genética forense se analisa apenas o perfil genético. Em resumo Nos vemos na próxima unidade. Até lá! Veja mais sobre métodos de identificação, histórico do exame de DNA e processamentos laboratoriais no MATERIAL COMPLEMENTAR REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BUTLER. Advanced Topics in Forensic DNA Typing: Methodology. Elsevier 2012. DECANINE, D. O papel de marcadores moleculares na genética forense. Rev. Bras. Crimin. 5(2), 18-27, 2016. FRANÇA, GENIVAL VELOSO. Medicina Legal, 6ª ed, Editora Guanabara Koogan, 2001. INTERPOL. Disaster Victim Identification Guide(Proposed Amendments: March, 2014), (2014). Disponível em https://www.interpol.int/How-we- work/Forensics/Disaster-Victim-Identification-DVI LODISH H, BERK A, ZIPURSKY SL, MATSUDAIRA P, BALTIMORE D, DARNELL J. Análise genética em biologia molecular. In: Nader HB, editor. Biologia celular e molecular. Rio de Janeiro: Revinter; 2002. p.255-93. PICOLI, F. F., ALVES, A. M.; MUNDIM, M. B. V.; MENDES, S. D. S. C.; SILVA, R. F. A Fragilidade da Análise Facial como Único Método de Identificação Humana. Brazilian Journal of Forensic Sciences, Medical Law and Bioethics 3(4):281-302 (2014). RIBPG. MANUAL DE PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS DA RIBPG (VERSÃO 3). Brasília : Resolução nº 8, 2017. https://www.interpol.int/How-we-work/Forensics/Disaster-Victim-Identification-DVI Material Complementar Unidade 2 FUNCIONAMENTO DOS BANCOS DE DADOS DE PERFIS GENÉTICOS Podem-se classificar os bancos de dados atualmente existentes de duas formas: pelo conteúdo e pela finalidade. Pelo seu conteúdo os bancos de dados podem ser subclassificados como :de identificação genética, arquivos de amostras biológicas e arquivos de DNA. Os dois últimos tipos de bancos de dados são também chamados de biobancos e não se tratam dos bancos de dados abarcados pela Lei 12.654/2012 e estudados neste curso. Por outro lado, considerando a sua finalidade, os bancos de dados podem ter: • finalidade profissional – quando a atividade profissional específica impõe a necessidade de padrões biológicos dos indivíduos (por exemplo, arquivos de material biológico de militares, os quais estão expostos a risco constante e cujo material genético pode ser utilizado para fins de referência direta em caso de morte) • finalidade forense – quando o banco de dados é usado para a identificação de indivíduos na esfera forense. Podem ser subdivididos em forenses criminais (identificação de criminosos) ou forenses civis (identificação de vítimas e/ou pessoas desaparecidas). • finalidades diversas: bancos de dados para pesquisa, para busca genealógica etc. OS BANCOS DE PERFIS GENÉTICOS PARA USO CRIMINAL O banco de perfis genéticos realiza a comparação entre perfis de amostras coletadas em locais de crime e perfis oriundos de indivíduos cadastrados criminalmente, seja por determinação legal ou judicial. A depender da legislação de cada país, o tempo de permanência das informações nas bases de dados varia. Em países como Inglaterra, Noruega e Áustria, a permanência dos dados no banco se dá por tempo indefinido. Em outros países, as informações permanecem nos bancos até a prescrição do crime. A GENÉTICA FORENSE NO BRASIL No início dos anos 2000, existiam poucos laboratórios de genética forense NO Brasil, os quais processavam apenas casos em que havia suspeitos. Além disto, os laboratórios não realizavam rotineiramente o intercâmbio de informações. Nesta época, ciente da importância do tema, o Governo Federal aprovou pela primeira vez uma política de implantação de bancos de dados de perfis genéticos para fins criminais no Brasil. Tal proposta foi incluída no Plano Nacional de Segurança Pública de 2002, o qual dispunha: “(...) esse modelo também supõe a identificação dos indiciados por DNA. O material será arquivado e ficará à disposição para ser comparado com o DNA de futuros suspeitos. A evolução desse sistema se dará via aquisição de tecnologia que proporcione condições para pesquisa automática no Banco de Dados (...)”. A partir de então, se iniciaram investimentos em três frentes principais: formação de massa crítica; infraestrutura e; legislação. O primeiro passo foi dado entre os anos 2003-2004, por meio da Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça e Segurança Pública, que possuía um projeto de expansão dos laboratórios de genética forense e de implantação dos bancos de dados de perfis genéticos. Nesta época, foram firmados Acordos de Cooperação Técnica com Estados e com universidades, visando à capacitação de peritos e à implantaçãode laboratórios. Tal iniciativa foi o embrião do que nós conhecemos hoje como a Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos (RIBPG). Entre 11 e 14 de junho de 2007 foi realizada, em Brasília/DF, a Reunião da Rede Nacional de Genética Forense, grupo este que seria o precursor do que chamamos hoje de RIBPG. Neste grupo participavam acadêmicos e peritos oficiais, que tinham como objetivo promover a discussão da inserção dos exames de DNA na segurança pública e a importância dos bancos de dados de perfis genéticos para a comparação dos perfis gerados pelos laboratórios. Este grupo se dedicou à padronização de procedimentos pois não adiantaria cada laboratório ter a sua técnica e a sua linguagem se o que se pretendia com esses esforços era justamente a criação de bancos de dados e o intercâmbio e o compartilhamento de perfis genéticos em todo o país. Figura – Reunião da Rede Nacional de Genética Forense (Brasília, 11-14/06/2007). Em 2009, o Brasil opta pela utilização do programa computacional CODIS (Combined DNA Index System), do FBI (Federal Bureau of Investigation) Em 2010, especialistas do FBI foram a Brasília para realizar a instalação do CODIS e o primeiro treinamento sobre este software. Nesta época, com todos os esforços de política pública de genética forense, já existiam no Brasil 16 laboratórios de genética forense em funcionamento (15 UFs + Polícia Federal). Peritos oficiais de cada um destes 16 laboratórios foram treinados. Figura – Implantação do CODIS no Brasil (05/2010). Paralelamente, vários esforços eram realizados junto ao Legislativo visando à sensibilização de que era importante não só dar encaminhamento ao processamento do vestígio, à coleta em local de crime e ao software de banco de dados, mas também avançar na legislação brasileira, para que os bancos de dados também pudessem receber perfis genéticos de referência para comparação. Figura – Encontro de familiares das vítimas do Maníaco de Contagem, senadores e peritos criminais para discussão sobre o Projeto de Lei que daria origem à Lei 12.654/2012. Isto culminou na promulgação da Lei 12.654 em 28 de maio de 2012, a qual altera as Leis 12.037/2009 e 7.210/1984, para prever a coleta de perfil genético como forma de identificação criminal. A partir daí, regularmente, os perfis genéticos armazenados nos bancos de dados são confrontados em busca de coincidências que permitam relacionar indivíduos a vestígios, bem como diferentes locais de crime entre si. O cumprimento da legislação penal, com o efetivo cadastramento de indivíduos em bancos de perfis genéticos, é fundamental para que os vestígios sejam identificados e a RIBPG possa auxiliar na elucidação de crimes, bem como a evitar condenações equivocadas. COMO SE DÁ A ENTRADA DE UM LABORATÓRIO NA RIBPG? O CODIS hoje é distribuído gratuitamente aos laboratórios integrantes da RIBPG por meio de um Acordo de Cooperação Técnica firmado entre a Polícia Federal, a SENASP e as unidades da federação. Para ingresso do laboratório de DNA forense na Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos - RIBPG, instituída por força do Decreto 7.950/2013, as Secretarias de Segurança Pública das UFs precisam firmar, obrigatoriamente, Acordo de Cooperação Técnica - ACT com o Ministério da Justiça e Segurança Pública - MJSP, com a interveniência da Secretaria Nacional de Segurança Pública - SENASP e da Polícia Federal, conforme aduz o art. 1º, § 3º, da referida Norma, in verbis: Art. 1º Ficam instituídos, no âmbito do Ministério da Justiça, o Banco Nacional de Perfis Genéticos e a Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos. § 1º O Banco Nacional de Perfis Genéticos tem como objetivo armazenar dados de perfis genéticos coletados para subsidiar ações destinadas à apuração de crimes. § 2º A Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos tem como objetivo permitir o compartilhamento e a comparação de perfis genéticos constantes dos bancos de perfis genéticos da União, dos Estados e do Distrito Federal. § 3º A adesão dos Estados e do Distrito Federal à Rede Integrada ocorrerá por meio de acordo de cooperação técnica celebrado entre a unidade federada e o Ministério da Justiça. A cooperação mútua entre os partícipes prevê, ainda, ações conjuntas para padronização de procedimentos e técnicas de análise de DNA, captação de recursos de infraestrutura e adoção de medidas de segurança para garantir a confiabilidade dos dados, em observância ao disposto no Decreto nº 7.950 de 2013. Por outro lado, embora a assinatura dos ACTs possibilite o ingresso automático desses laboratórios à RIBPG, é importante destacar que eles ainda não são habilitados para armazenar, difundir e comparar perfis genéticos com o Banco Nacional de Perfis Genéticos - BNPG. Compete ao Comitê Gestor da RIBPG (CG- RIBPG) estabelecer os critérios para que o laboratório de DNA integre seus respectivos Bancos de Perfis Genéticos à Rede, especialmente, ao Banco Nacional de Perfis Genéticos - BNPG. Para disciplinar essa demanda, o Comitê Gestor publicou os requisitos de admissibilidade em dois normativos: Manual de Procedimentos Operacionais da RIBPG e a Resolução que dispõe sobre os requisitos técnicos para a realização de auditorias nos laboratórios e bancos que compõem a Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos. Estando o pleiteante em conformidade com os critérios estabelecidos pelo CG- RIBPG, após a instalação do servidor e acesso ao CODIS1 (Combined DNA Index System), o laboratório é habilitado a compartilhar seus perfis genéticos com o BNPG, possibilitando a comparação dos mesmos com os demais laboratórios integrantes da RIBPG. 1 Programa computacional de propriedade do Federal Bureau of Investigation (FBI) e cedido gratuitamente para o Brasil e outros países. Banco Básico de Perfis Genéticos e Legislação Aplicada Unidade 2 Olá Alunos e Alunas. Todos prontos para iniciar a segunda unidade deste nosso curso? Neste tópico abordaremos assuntos relacionados o início do uso dos bancos de perfis genéticos no Brasil e a Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos, a RIBPG. Além disso, estudaremos um pouco da Lei nº 12.654/2012, que trouxe um importante avanço para a investigação criminal ao prever a coleta de material biológico e o uso do perfil genético como forma de identificação criminal, bem como outros normativos aplicados aos bancos de perfis genéticos. Vamos lá? Como nós vimos anteriormente, o uso da genético no auxílio a investigações surge em 1984. Na época, o trabalho do Dr. Alec Jeffrey resultou na libertação de um homem injustamente condenado e na apreensão e condenação do verdadeiro perpetrador. A partir deste caso, o potencial investigativo do exame de DNA foi rapidamente reconhecido e adotado pelas forças policiais em todo o mundo. Nos últimos 30 anos, segundo algumas estimativas, mais de 50 milhões de pessoas tiveram seu DNA testado durante investigações criminais. Tal medida assegurou as condenações de incontáveis criminosos, a exclusão de vários suspeitos inocentes e a anulação de erros judiciais. FUNCIONAMENTO DOS BANCOS DE DADOS DE PERFIS GENÉTICOS Existem no mundo diferentes tipos de bancos de dados relacionados a material genético. Então necessitamos conhecer as diferenças entre eles para melhor compreender do que se tratam os bancos estudados neste curso. Pelo seu conteúdo os bancos de dados podem ser subclassificados da seguinte maneira: • de identificação genética – sistemas informatizados que guardam perfis genéticos visando a identificação genética; • arquivos de amostras biológicas – guardam fisicamente, em sistemas de conservação adequado, amostras biológicas para fins de estudo, pesquisa e/ou conservação do patrimônio biológico; • arquivos de DNA – guardam fisicamente, em sistemas de conservação adequado, amostrasde DNA extraído para fins de estudo, pesquisa e/ou conservação do patrimônio genético. Quando um banco é gerenciado por ferramentas informatizadas e contém apenas dados alfanuméricos (letras e números associados ao código de identificação de uma pessoa), ele é chamado de “banco de dados de perfis genéticos”. Estes são os bancos de dados estudados neste curso e abarcados pela legislação brasileira aplicada. Os dois últimos tipos de bancos (arquivos de amostras biológicas e arquivos de DNA) são também chamados de biobancos e não se tratam dos bancos que visam a identificação genética e estudados neste curso. OS BANCOS DE PERFIS GENÉTICOS PARA USO CRIMINAL Os bancos de dados de perfis genéticos para fins forenses criminais funcionam como mais uma ferramenta de investigação. Isto ocorre porque estes bancos contêm informações sobre os perfis genéticos procedentes de várias fontes, a exemplo de vestígios não identificados procedentes de locais de crime, vestígios biológicos coletados em vítimas e amostras de condenados e/ou de suspeitos. Assim sendo, esta ferramenta pode auxiliar tanto na indicação da autoria de um ato delituoso quanto para desvincular um suspeito ao crime. O banco nada mais é que um gerenciador de dados de perfis genéticos que possibilita a busca e o confronto automatizados. Deste modo, ao invés de se realizar a comparação manual dos perfis genéticos, o que seria humanamente impossível para uma grande quantidade de dados, utiliza-se de softwares de busca que permitem essa comparação automática. Os bancos de dados de perfis genéticos têm ajudado investigações na elucidação de crimes ao relacionar diferentes delitos cometidos pelo mesmo indivíduo em todo o mundo. Por meio desta tecnologia, é possível auxiliar a investigação criminal com a indicação de crimes em série, crimes sem suspeito, crimes antigos, crimes interestaduais e até mesmo crimes internacionais. Dentro de um banco de perfis genéticos para uso criminal existem dois repositórios: 1. o banco de vestígios composto por amostras coletadas em locais de crime, por peritos; 2. o banco de referência composto por perfis genéticos de indivíduos que estão ali cadastrados criminalmente, seja por determinação legal ou judicial. Figura. Vestígios encontrados em diferentes locais de crime são confrontados entre si, assim como são comparados com o banco de referências visando a indicação de autoria do delito. Quando os bancos de dados apontam para uma relação entre perfis genéticos (seja vestígio-vestígio ou vestígio-referência) tal coincidência é muitas vezes denominada match (do inglês “coincidir”). A coincidência entre vestígio e referência de um indivíduo cadastrado criminalmente, seja condenado ou suspeito, indica uma possível autoria para o crime em questão. Já a coincidência de perfis genéticos oriundos de vestígios de diferentes locais de crimes também tem importância pois indica que se trata de um criminoso em série e, assim, diferentes equipes de investigação podem trocar informações para auxílio mútuo na busca do autor do crime. Resumidamente, os bancos de dados de perfis genéticos para fins forenses criminais constituem-se de repositórios de perfis genéticos, os quais não revelam qualquer característica física ou comportamental do indivíduo, servindo apenas como ferramenta auxiliar à investigação e à justiça na identificação e individualização. A GENÉTICA FORENSE NO BRASIL Os primeiros diplomas legais em relação a bancos perfis genéticos no Brasil surgiram com a Lei nº 12.654/2012, posteriormente regulamentada pelo Decreto nº 7.950/2013. A recenticidade destes normativos pode dar a falsa impressão de que se trata de uma inovação. Entretanto, essa história precede alguns anos de esforços e inovações no sistema técnico-científico no Brasil, que trouxe a ferramenta de Banco de Perfis Genéticos para o sistema brasileiro. No Brasil o exame de DNA ganha mais visibilidade nos anos 2000 quando investigações de grande repercussão, como os casos envolvendo a cantora Gloria Trevi e do menino Pedrinho, foram solucionados com o auxílio de exames de DNA. Figura – Casos da cantora Gloria Trevi e do menino Pedrinho, onde exames de DNA foram essenciais para a elucidação. No início dos anos 2000, existiam poucos laboratórios de genética forense no Brasil. Eram apenas sete laboratórios oficiais de genética forense em funcionamento, no Distrito Federal, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Paraná, São Paulo e Rio Grande do Sul. Figura – Laboratórios de genética forense em funcionamento no Brasil em 2003. Devido ao fato do exame de DNA ser um exame comparativo e de não existir na época bancos de perfis genéticos, estes laboratórios processavam apenas casos fechados que são aqueles em que as investigações indicavam a existência de suspeitos e destes eram coletadas amostras biológicas. Também, por não existirem bancos de dados, os laboratórios não intercambiavam rotineiramente dados entre si, o que dificultava o esclarecimento de crimes interestaduais. Nota-se, portanto, que o uso da genética forense tinha uma atuação bem limitada no país a época. Em 2002, o Governo Federal aprovou uma política de implantação de bancos de dados de perfis genéticos para fins criminais no Brasil. Figura – Projeto Segurança Pública para o Brasil (Plano Nacional de Segurança Pública). Brasília, 2002. A partir de então, se iniciaram investimentos em três frentes principais: 1. Formação de massa crítica - nessa época existiam poucos peritos oficiais capacitados em genética forense; 2. Infraestrutura - o parque tecnológico era muito tímido e muitos Estados sequer tinham laboratórios; 3. Legislação aplicada à área - não adiantaria investir pesadamente no aumento da capacidade operativa dos laboratórios, se não se olhasse também a parte dos bancos de referência, o banco de padrão com os quais os vestígios precisam ser comparados. Em 2005, foi publicado pela SENASP o documento “Padronização de exames de DNA em perícias criminais” o qual dispunha de variados temas como qualificação técnica dos peritos; procedimentos de coleta; uso de regiões não codificantes do DNA (STR); exames de proficiência e; apresentação de resultados. Isto significa dizer que existia uma preocupação na época em se padronizar o uso da tecnologia no país. Mas para quê? Para que todos trabalhassem da mesma forma e falassem a mesma linguagem. Desta forma, no futuro próximo seria possível o intercâmbio de perfis genéticos através de uma rede de bancos de dados. Em 2009, o Brasil opta por utilizar a tecnologia de banco de perfis genéticos distribuída gratuitamente pelo Federal Bureau of Investigation (FBI) conhecida também como CODIS (Combined DNA Index System). Por meio de um Termo de Compromisso (Letter of Agreement) entre o FBI e a Polícia Federal foi firmado o acordo que possibilitou o uso do CODIS por todos os estados partícipes da RIBPG. Figura – Assinatura do Letter of Agreement entre o FBI e a Polícia Federal (2009) Em dezembro de 2020, 295 laboratórios de genética forense em 59 países utilizam o programa CODIS para gerenciamento de bancos de perfis genéticos. Destes, 189 laboratórios estão localizados nos Estados Unidos e 22 no Brasil. Figura – Países que utilizam o software CODIS para gerenciamento de banco de perfis genéticos além dos Estados Unidos da América. Paralelamente, no início da década de 2010, vários esforços foram realizados junto ao Poder Legislativo visando a normatização do uso de perfis genéticos de referências em bancos de dados para comparação com perfis provenientes de vestígios. A sensibilização do poder Legislativo levou à promulgação da Lei 12.654 em 28 de maio de 2012, a qual altera as Leis 12.037/2009 e 7.210/1984, ao prever a coleta de perfil genético como forma de identificação criminal tanto
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