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Material Complementar 
 
Unidade 1 
 
CONCEITO DE IDENTIFICAÇÃO 
A identificação é uma soma de caracteres que individualizam uma pessoa. Tal 
processo determina a identificação ou a não identificação de um indivíduo, ou seja, 
aquela pessoa é ou não é determinado indivíduo. 
França (20011) define identidade como sendo o conjunto de caracteres que 
individualiza uma pessoa ou uma coisa, fazendo-a distinta das demais. 
Dentre os requisitos técnicos para um processo de identificação ser utilizado estão: 
• Unicidade - elementos ou conjunto de sinais escolhidos devem permitir a 
distinção de um indivíduo dos outros; 
• Imutabilidade - o que se usa para identificar um indivíduo tem que ser 
imutável, ou seja, não pode sofrer mudanças devido a ação da idade ou de 
doenças; 
• Praticabilidade - deve haver uma possibilidade de uso prático, compatível 
com custo, facilidade de obtenção etc; 
• Classificabilidade - deve haver uma possibilidade de classificação dos dados 
coletados. 
Os métodos de identificação devem ser cientificamente sólidos, confiáveis, 
aplicáveis e capazes de serem implementados dentro de um período de tempo 
razoável. Todo processo de identificação envolve métodos primários e secundários 
de identificação humana. Os meios primários e mais confiáveis de identificação são 
papiloscopia (impressão digital), odontologia legal (arcada dentária) e genética 
forense (perfil genético/DNA). Números de série únicos de implantes médicos 
também podem ser identificadores confiáveis em termos de prova de identidade. 
Os meios secundários de identificação incluem descrição pessoal, achados 
médicos, tatuagens, bem como pertences e roupas encontradas com a vítima. 
Esses meios de identificação servem para apoiar identificação por outros meios e 
normalmente não são suficientes como único meio de identificação2. 
Torna-se importante diferenciar dois termos que são equivocadamente utilizados 
como sinônimos: reconhecimento e a identificação de um indivíduo. O processo 
pelo qual familiares ou amigos, utilizando-se apenas da observação direta ou 
indireta, imaginam conhecer a identidade de um indivíduo e indicam essa às 
autoridades, é chamado de reconhecimento. Apesar de ser um procedimento 
usualmente empregado, esse não deve ser empregado como um método confiável 
de identificação humana, pois é subjetivo, não é baseado em conhecimento 
técnico-científico e não pode ser reprodutível3. 
Como visto, os meios primários e mais confiáveis de identificação são impressão 
digital, a arcada dentária e o perfil genético (DNA). 
A identificação pela odontologia legal é realizada por meio da comparação entre as 
características dentárias e esqueléticas observadas nos restos mortais com o 
registro dessas mesmas características quando a vítima estava viva. O exame 
odontolegal comumente depende do registro sob a forma de exames radiográficos, 
fotográficos e modelos. Apesar de conferir grande confiabilidade e dos aspectos 
positivos da técnica, alguns pontos continuam a constituir grandes dificuldades à 
sua realização, tal como que sejam encontrados os cirurgiões-dentistas 
responsáveis pelos tratamentos dessas quando em vida e que esses profissionais 
tenham a guarda dos registros clínicos (prontuários, fotografias ou radiografias) e 
os disponibilizem para comparação3. 
 A papiloscopia, por sua vez, é uma técnica amplamente utilizada e que atende 
adequadamente muitos casos. Entretanto também possui suas limitações: 
• Inviável em casos de amputações; 
• Inviável na identificação de corpos carbonizados ou altamente deteriorados; 
• Inviável em caso de condições congênitas (ex: síndrome de Nagali); 
• Dificuldade na identificação de vítimas estrangeiras; 
• Para fins criminais, nem sempre a impressão digital é encontrada no local de 
crime; 
• A definição da digital pode sofrer variações entre indivíduos, de forma 
natural ou em decorrência do atrito ou contato frequente com substâncias 
químicas. 
A identificação genética, por sua vez, supera todas estas dificuldades, uma vez que 
de qualquer parte do corpo humano (mesmo de pequenos fragmentos) é possível 
recuperar DNA. Por outro lado, em locais de crime, é muito comum a coleta de 
material biológico. Atualmente, tendo em vista a sensibilidade das técnicas 
laboratoriais de genética forense, é possível obter perfis genéticos de qualidade 
inclusive do chamado “DNA de toque”, ou seja, do DNA deixado sobre superfícies 
que tiveram contato com a pele humana (decorrente de descamação epidérmica e 
de secreções naturais da pele). 
Além disto, a análise do perfil genético de um indivíduo, como método de 
identificação, resguarda as seguintes características já mencionadas previamente: 
• Imutabilidade: o DNA está presente em todo o corpo humano, não se 
alterando a depender do tecido analisado, e não muda através do tempo; 
• Praticabilidade: a coleta é fácil (suabe bucal) e sua análise vem tendo o custo 
cada vez mais baixo (em torno de R$ 100,00 – R$ 200,00 por amostra); 
• Classificabilidade: os dados podem ser resumidos em um código alfa-
numérico, facilmente armazenada em bancos de dados. 
 
O QUE É DNA? 
A estrutura dos organismos vivos 
Com exceção dos vírus, todos os seres vivos são formados por células. 
Célula é a menor parte com forma definida que constitui um ser vivo e é dotada 
de capacidade de auto-duplicação (pode se dividir sozinha). 
São as unidades estruturais e funcionais dos organismos vivos. Podem ser 
comparadas aos tijolos de uma casa. As células, em geral, possuem tamanho tão 
pequeno que só podem ser vistas por meio de microscópio. Dentro delas ocorrem 
inúmeros processo que são fundamentais para manter a vida. 
Os seres humanos possuem aproximadamente 100 trilhões de células; um 
tamanho de célula típico é o de 10 µm (1 µm = 0,000001m); uma massa típica da 
célula é 1 nanograma (1ng = 0,000000001g). 
A nível básico, as células eucarióticas podem ser descritas como contendo três 
regiões sub-celulares distintas; nomeadamente a membrana , o citosol e o núcleo. 
Suas características são citadas a seguir: 
• Membranas celulares: apesar de terem apenas nanômetros de largura, são 
altamente enriquecidas em receptores de sinalização, proteínas 
transmembranares, bombas e canais, permitindo absorver substâncias e 
interagir com outros células à sua volta. 
• Citosol: abriga organelas celulares, incluindo o complexo de Golgi, o retículo 
endoplasmático (RE), ribossomos e numerosas vesículas e vacúolos. Podem 
existir proteínas solúveis nesta região. 
• Núcleo: abriga o material genético e todos os componentes relacionados à 
sua expressão e regulação. 
As células não são uma mistura amorfa de proteínas, lipídios e outras moléculas. 
Em vez disso, todas as células são constituídas por compartimentos bem definidos, 
cada um especializado em uma função particular. Em muitos casos, os processos 
subcelulares podem ser descritos com base na ocorrência na membrana plasmática 
, no citosol ou dentro de organelas ligadas à membrana, como o núcleo, o aparelho 
de Golgi ou mesmo os componentes vesiculares do sistema de tráfico de 
membrana , como os lisossomos e os endossomas. 
 
 
Figura: Estrutura celular. 
 
O DNA é uma molécula que contém as informações genéticas dos organismos e 
está presente nas células. Praticamente qualquer material biológico contém DNA, 
seja ele mucosa oral (células epiteliais), sangue, sêmen, músculo, órgãos, ossos, 
dentes, saliva, urina, fezes, pelo, etc. 
As moléculas de DNA nuclear são compostas de dois filamentos enrolados na forma 
de espiral formando uma hélice, semelhante a uma escada retorcida cujos degraus 
são feito de pares de moléculas menores (monômeros) chamadas bases. No DNA 
quatro tipos de bases estão presentes: adenina (A), citosina (C), guanina (G) e 
timina (T). Cada base só pode ser unida com uma base complementar específica: A 
com T e G com C. A união de duas bases complementares formaum degrau da 
escada chamado par de bases. 
 
O exame de DNA foi um avanço tecnológico relativamente recente no campo das 
ciências forenses. Tal tecnologia tem um notável poder de discernir as diferenças 
genéticas, ao ponto de individualização. Juntamente com o desenvolvimento de 
métodos cada vez mais sensíveis, o teste de DNA é agora uma parte essencial do 
arsenal pericial objetivando a investigação de crimes. 
A identificação de indivíduos através do DNA (também chamada de tipagem do 
DNA ou genotipagem) foi introduzida na ciência forense em meados da década de 
1980, decorrente de descobertas feitas em pesquisas biomédicas. Ray White, um 
geneticista americano da Universidade de Utah, identificou regiões de DNA que 
não codificavam proteínas, mas eram altamente variáveis entre os indivíduos. 
 
 
Figura: Estrutura química do DNA 
 
Cada indivíduo representa uma combinação do DNA de seus pais, sendo que a 
metade do DNA é herdada da mãe, e a outra metade, do pai. Todas as células de 
um indivíduo contém a mesma informação genética (mesmo DNA), o que se traduz 
em 3,2 bilhões de pares de bases. As exceções são os gametas (que possuem 
apenas metade da informação genética) e as células anucleadas, como as hemácias 
(que não possuem tal material genético). 
Contudo, a fita de DNA é muito longa e isso com certeza poderia atrapalhar na hora 
da divisão celular (quando o DNA também tem que se dividir, indo cada uma das 
cópias para uma das células filha). Por isso o DNA se condensa, formando as 
estruturas que chamamos de cromossomos. Eles nada mais são do que o DNA 
altamente condensado. 
Porém, a totalidade do DNA de uma célula não se concentra em um único 
cromossomo. Cada espécie tem um número determinado de cromossomos. A 
espécie humana, por exemplo, tem um conjunto de 46 cromossomos, presentes 
nos núcleos de cada célula. Na verdade temos dois cromossomos de cada tipo, ou 
seja, eles formam duplas. As células chamadas diplóides possuem os cromossomos 
em pares; dizemos que são cromossomos homólogos. Nosso organismo possui em 
sua maioria células diplóides; nossas únicas células haplóides são os gametas 
(óvulos e espermatozóides). Quando os gametas se encontram (na fecundação) o 
material genético de ambos se une e o número diplóide volta a se reestabelecer. 
Como vimos, o DNA humano é organizado em 23 pares de cromossomos. Dentro 
de todo esse DNA, existe uma parte codificante e uma parte não codificante. 
A parte codificante é aquela que está relacionada à produção de proteína, a qual 
pode estar relacionada a alguma característica humana. 
Um elevadíssimo percentual do DNA, mesmo o codificante, é comum a todos os 
indivíduos, porque nosso corpo funciona da mesma forma, nossos órgãos são os 
mesmos, ou seja, a forma de funcionamento do corpo é igual. Apenas um pequeno 
percentual da DNA nos diferencia, indivíduo a indivíduo, gerando diferenças na cor 
dos olhos, na cor da pele, na altura, no formato do rosto etc. 
Uma região codificante tem que ser mais ou menos igual, senão nós seríamos muito 
diferentes em termos de funcionamento do organismo. A região não codificante 
que, na verdade, não influencia nas características físicas e comportamentais das 
pessoas, ela sim tem interesse científico, porque varia muito de pessoa para pessoa 
permitindo sua individualização e sem, contudo, variar o funcionamento do nosso 
corpo. 
 
HISTÓRICO DO EXAME DE DNA 
 
A grande variabilidade genética existente torna o DNA uma ferramenta poderosa 
de identificação humana, pois permite a individualização de pessoas, da mesma 
maneira que o faz as impressões digitais. Assim, o DNA coletado em um local de 
crime pode tanto ligar um indivíduo ao vestígio como eliminar um suspeito da cena 
do crime, evitando uma condenação equivocada. 
É importante ressaltar que apesar do DNA humano possuir bilhões de pares de 
base, no exame para a obtenção do perfil genético são analisadas de 5.000 a 20.000 
pares de bases em regiões não-codificantes. Ou seja, em um exame de DNA 
(obtenção de perfil genético) é analisado menos de 0,0007% do genoma humano, 
em regiões que não guardam relação com traços somáticos ou comportamentais 
das pessoas. 
 
A identificação de indivíduos através do DNA foi introduzida na ciência forense em 
meados da década de 1980, decorrente de descobertas feitas em pesquisas 
biomédicas. Ray White, um geneticista americano da Universidade de Utah, 
identificou regiões de DNA que não codificavam proteínas, mas eram altamente 
variáveis entre os indivíduos. 
 
 
Figura: Dr Ray White em seu laboratório na Universidade de Utah. 
A pesquisa inicial incluiu o uso de enzimas de restrição para cortar filamentos de 
DNA em locais específicos e produzir fragmentos de DNA de comprimentos 
definidos. 
 
Figura: Enzima de restrição cortando o DNA em um ponto específico. Cada 
enzima de restrição reconhece uma sequência própria e divide o DNA naquele 
ponto. 
 
White separou os fragmentos com base no tamanho, sendo as variações chamadas 
de RFLP (Restriction Fragment Length Polymorphisms – polimorfismos de 
comprimento de fragmento de restrição). Em 1980, White e colaboradores 
descreveram o primeiro marcador RFLP polimórfico e propuseram métodos para 
mapear o genoma humano com base na tecnologia RFLP. 
 
Figura: Como era realizado o exame de DNA baseado na análise RFLP. 
 
As primeiras aplicações da técnica na área forense surgiram do trabalho de Alec 
Jeffreys, que descobriu que a tecnologia RFLP poderia ser usada para desenvolver 
padrões de DNA, mais ou menos específicos para cada indivíduo5, e a descoberta a 
potencialidade de regiões do DNA não codificantes na individualização de pessoas. 
Na época, seu trabalho se concentrava no teste de paternidade. 
Dado o impacto dessa descoberta, Dr Jeffreys foi instado a usar pela primeira vez 
tal ferramenta em um caso forense (https://www.dnalc.org/view/15107-The-
Ghana-Immigration-case-Alec-Jeffreys.html). Embora não criminal, a investigação 
tratava do esclarecimento de uma situação de imigração, um caso de vínculo 
materno, onde se queria confirmar um vínculo genético entre uma suposta mãe e 
seu suposto filho. Esse caso foi muito impactante para a época. Dada a eficácia do 
exame de DNA na identificação do vínculo genético (maternidade), foi pensado, 
https://www.dnalc.org/view/15107-The-Ghana-Immigration-case-Alec-Jeffreys.html
https://www.dnalc.org/view/15107-The-Ghana-Immigration-case-Alec-Jeffreys.html
pela primeira vez, que esse exame de DNA seria útil também em casos forenses 
criminais. 
 
Figura – Manchete de jornal da época, relatando o primeiro caso de uso forense do exame de 
DNA. 
 
Na mesma época duas meninas, Lynda Mann e Dawn Ashworth, haviam sido 
estupradas e assassinadas em Leicester, Reino Unido, em locais de crime 
diferentes. Naquela época não existia o exame de DNA na área de segurança 
pública. Porém existia um suspeito, Richard Buckland, cujo tipo sanguíneo (na 
época, era o único exame usado) era compatível com o sangue encontrado nas 
duas cenas de crime. Tal suspeito havia confessado um dos crimes, porém não 
confessava ser o autor de ambos. Investigando o modus operandi, a polícia tinha 
evidências de que se tratava de um mesmo autor, e estava confiante de que tinha 
encontrado a pessoa certa. Contudo, tendo em vista a dificuldade em se concluir o 
caso, e tendo em vista a reverberação do uso anterior do exame de DNA, o 
investigador responsável fez contato com o Alec Jeffreys e pediu que ele atuasse 
nesse caso. 
 
Figura – Lynda Mann e Dawn Ashworth, foram estupradas e assassinadas em Leicester, Reino 
Unido, na década de 80. 
Jeffreys concordou em fazer exames no sangue de Buckland e no sêmen retirado 
dos corpos das garotas mortas. Ao final do exame ele constatou que as garotas 
haviam sido estupradas pelo mesmo homem, como indicava a polícia. Contudo o 
perfil genético de Buckland era completamente diferente, logo ele não era o 
criminoso.A polícia ficou atônita e inicialmente relutou em acreditar no que estava ouvindo. 
Porém o teste foi repetido mais duas vezes e reproduziu o mesmo resultado. 
Richard Buckland foi considerado inocente e liberado em seguida, após mais de três 
meses de custódia. 
A polícia voltou então a buscar o assassino das duas meninas. No mês seguinte, os 
detetives decidiram que a tecnologia que havia libertado Buckland deveria ser 
usada para capturar o assassino. Cartas foram enviadas para todos os homens 
nascidos entre 1953 e 1970, que viveram ou trabalharam na área de Narborough 
nos últimos anos, pedindo-lhes que concordassem em fornecer uma amostra de 
sangue. Após oito meses, 5.511 homens forneceram amostras de sangue, porém 
não houve correspondência com as amostras de sêmen. 
A polícia continuou a investigação e meses depois chegou a Colin Pitchfork, um 
padeiro de 27 anos e pai de dois filhos pequenos. Ele confessou os crimes e o teste 
de DNA confirmou-o como o culpado pelos assassinatos. Pitchfork foi condenado 
à prisão perpétua pela Corte do Reino Unido. 
 
Figura – Manchete de jornal da época, relatando a prisão de Colin Pitchfork, com base em 
exames de DNA. 
A partir deste caso, o potencial investigativo do exame de DNA foi rapidamente 
reconhecido e adotado pelas forças policiais em todo o mundo. Nos últimos 30 
anos, segundo algumas estimativas, mais de 50 milhões de pessoas tiveram seu 
DNA testado durante investigações criminais. Tal medida assegurou as 
condenações de incontáveis criminosos, a exclusão de vários suspeitos inocentes 
(como Buckland) e a anulação de erros judiciais. 
 
 
 
Figura: Dr Alec Jeffreys em seu laboratório na Universidade de Leicester. 
 
 
Os fragmentos de DNA cortados pelas enzimas de restrição contêm genes e DNA 
não codificante. O DNA não codificante inclui regiões que consistem em repetições 
diretas da mesma sequência de bases, referidas como repetições em série 
(ou repetições em tandem). O número de repetições da sequência é determinado 
geneticamente e, considerando que a sequência é suficientemente longa e 
repetida um número de vezes suficiente, afetará o comprimento do fragmento de 
restrição. Estas regiões são denominadas VNTR (Variable Number of Tandem 
Repeats - Número Variável de Repetições em Tandem). 
 
Figura: Uso das regiões VNTR na identificação de pessoas 
 
Apesar de altamente discriminatória a análise RFLP de VNTRs apresentam 
problemas como: 
1. processo trabalhoso e demorado; 
2. utilizam sondas radioativas, as quais apresentam riscos à saúde e no 
descarte; 
3. necessidade de grande quantidade de amostra; 
4. necessidade de DNA não degradado e com alto peso molecular; 
5. necessita utilizar géis de separação. 
Por estes motivos, tal técnica ainda apresentava vários empecilhos que 
dificultavam sua aplicação constante em casos forenses. 
 
Em 1983, Kary Mullis desenvolveu a técnica conhecida como PCR (Polymerase 
Chain Reaction - Reação em Cadeia da Polimerase), que revolucionou a biologia 
molecular, incluindo a análise de DNA forense. Através da PCR, a análise de DNA 
forense tornou-se essencialmente mais rápida e sensível. Problemas 
anteriormente citados, como o tempo de análise, a utilização de materiais 
radioativos, a grande quantidade de amostra, a presença de DNA não degradado 
de alto peso molecular e a necessidade de lidar com variações de tamanho foram 
todos resolvidos pelas várias técnicas de PCR. 
 
Figura: Dr Kary Mullis recebeu o Prêmio Nobel de Química em 1993 pela invenção 
da técnica de PCR. 
 
Um dos primeiros testes PCR foi baseado na identificação do antígeno leucocitário 
humano (HLA), cujos marcadores são proteínas de sequencia conhecida e a 
codificação para cada antígeno pode ser identificada, tendo sido desenvolvido um 
teste simples para um dos loci do HLA, chamado DQ-Alpha. Este apresenta quatro 
principais alelos, os quais têm subtipos, contudo, alguns alelos não conseguiam ser 
bem distinguidos. O teste foi aprimorado para incorporar outros loci 
concomitantemente com o DQ-Alpha, chamado Polymarker, o que tornou o teste 
mais sensível e simples, mas mesmo assim não apresentava o poder de 
discriminação do RFLP. 
 
Figura: Como é realizada a técnica de PCR. 
 
A próxima fase no desenvolvimento do DNA para uso na ciência forense retornou 
ao conceito de VNTRs. Algumas regiões VNTR são relativamente curtas e podem 
ser amplificadas por PCR. Algumas vezes denominadas AmpFLPs (Amplified 
Fragment Polymorphisms – Polimorfismos de Fragmentos Amplificados). AmpFLPs 
não tiveram o poder de discriminação de RFLP ou a simplicidade de DQ-Alpha / 
Polymarker e não foram amplamente utilizados. 
Mais tarde, na década de 1990, análises de STR (Short Tandem Repeat – Repetições 
Curtas em Tandem) surgiram nos exames de DNA forense. De acordo com o nome, 
os STRs são regiões semelhantes ao VNTR que possuem sequências muito curtas, 
variando aproximadamente 2 a 6 pares de bases (pb). Embora as regiões STR 
individuais não sejam tão discriminatórios quanto os marcadores RFLP, o tamanho 
curto e o número de STRs disponíveis permitiram aos cientistas amplificar e analisar 
várias regiões STR simultaneamente (análise multiplex). 
 
Figura: O uso do STR na individualização de pessoas. 
 
 
OBTENÇÃO DO PERFIL GENÉTICO 
Em genética forense, o exame que visa à identificação genética é baseado na 
análise de regiões não-codificantes do DNA, sendo assim, não permite a 
determinação de características físicas ou comportamentais individuais, exceto 
gênero sexual. 
A análise de STR é o método de escolha atual para os exames de DNA em 
laboratórios forenses e produz resultados que são praticamente equivalentes à 
individualização. As chaves para o sucesso da genotipagem por STR são a análise 
simultânea de várias regiões e a capacidade de marcar nucleotídeos com 
substâncias fluorescentes. 
Os marcadores genéticos são altamente polimórficos (variam bastante de indivíduo 
para indivíduo), conferindo grande poder de discriminação, o que os torna ideais 
na individualização humana. Desta forma, o perfil genético de um indivíduo 
corresponde às informações obtidas (alelos) em cada um dos marcadores 
analisados. 
 
Atualmente, a análise de DNA forense usa a seguinte sequência de etapas: 
 
Figura: Etapas da análise de uma amostra biológica em um laboratório de 
genética forense: da amostragem à separação dos fragmentos amplificados de 
DNA. 
 
 
Figura: Etapas da análise de uma amostra biológica em um laboratório de 
genética forense: análise e interpretação utilizando bancos de dados de perfis 
genéticos. 
 
 
Como são expressos os resultados do exame de DNA forense? 
Quem já leu um laudo de genética forense deve ter percebido que os resultados 
são expressos de duas formas: 
• Numericamente: expresso em Razão de Verossimilhança (LR ou Likelihood 
Rate), com base em duas hipóteses; 
• Textualmente: utiliza-se uma escala verbal, que traduz o resultado de 
acordo com o valor de LR obtido. 
Daí pode surgir a pergunta: Mas por que não se responde apenas que sim ou 
que não? 
Isso não é possível pois os resultados genéticos são expressos com base em cálculos 
bioestatísticos que se utilizam de dados de genética populacional. 
As tecnologias e os insumos de genética forense têm avançado muito nos últimos 
anos. No início do uso dos perfis genéticos como forma de identificação, algumas 
poucas regiões do DNA eram analisadas, o que gerava uma certa limitação em seu 
uso. Atualmente a maioria dos kits analisam mais de vinte regiões do DNA 
simultaneamente (multiplex), o que aumenta a confiabilidade da técnica e, 
consequentemente, o valor estatístico do resultado obtido. 
 
Isto é estudado em pesquisas de frequência populacional. No Brasil, existem 
algumas tabelas de frequência alélica publicadas para a nossa população, e que são 
utilizadas nos cálculos bioestatísticos que subsidiarão os resultados dos exames 
genéticos.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
1FRANÇA, GENIVAL VELOSO. Medicina Legal, 6ª ed, Editora Guanabara Koogan, 
2001. 
2INTERPOL. Disaster Victim Identification Guide (Proposed Amendments: March, 
2014), (2014). Disponível em https://www.interpol.int/How-we-
work/Forensics/Disaster-Victim-Identification-DVI 
3PICOLI, F. F., ALVES, A. M.; MUNDIM, M. B. V.; MENDES, S. D. S. C.; SILVA, R. F. A 
Fragilidade da Análise Facial como Único Método de Identificação Humana. 
Brazilian Journal of Forensic Sciences, Medical Law and Bioethics 3(4):281-302 
(2014). 
4DECANINE, D. O papel de marcadores moleculares na genética forense. Rev. Bras. 
Crimin. 5(2), 18-27, 2016 
5 LODISH H, BERK A, ZIPURSKY SL, MATSUDAIRA P, BALTIMORE D, DARNELL J. 
Análise genética em biologia molecular. In: Nader HB, editor. Biologia celular e 
molecular. Rio de Janeiro: Revinter; 2002. p.255-93. 
6 BUTLER. Advanced Topics in Forensic DNA Typing: Methodology. Elsevier 2012. 
 
https://www.interpol.int/How-we-work/Forensics/Disaster-Victim-Identification-DVI
https://www.interpol.int/How-we-work/Forensics/Disaster-Victim-Identification-DVI

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