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UNIDADE 3 
 
DISCUTINDO A LEGISLAÇÃO APLICADA 
Já conhecemos no tópico anterior a legislação aplicada aos bancos de perfis 
genéticos e seu impacto jurídico, ao modificar outros dois dispositivos legais. Mas 
em que ela se baseia e quais os impactos práticos da mesma? Vamos nos 
aprofundar neste assunto. 
 
Cada vez mais, os agentes estatais se utilizam das tecnologias disponíveis para 
potencializar o nível de precisão e de eficácia das ferramentas de persecução penal, 
tendência que se verifica a nível mundial. Foi à vista disso que surgiu a iniciativa de 
criar os bancos de perfis genéticos — potencializar e fomentar a investigação 
criminal brasileira. 
Como visto na Unidade anterior, a Lei n° 12.654, publicada em de 28 de maio de 
2012, inaugurou no ordenamento jurídico pátrio a possibilidade da coleta de perfil 
genético como forma de identificação criminal. Para tanto, promoveu alterações 
nos dispositivos então vigentes, como a Lei nº 12.037, de 1º de outubro de 2009, 
que trata da identificação criminal, e a Lei 7.210/1984, de 11 de julho de 1984, que 
institui a Lei de Execução Penal. 
Pautando-se nos altos índices de impunidade e crescente criminalidade brasileiros, 
a nova legislação estabeleceu a identificação por perfil genético como um 
importante instrumento para combater esse quadro nacional. A possibilidade de 
realização da coleta de amostra biológica para fins de obtenção do perfil genético, 
nos casos de identificação criminal, passou a ser uma importante ferramenta para 
as investigações policiais. 
O artigo 3º, inciso IV, da Lei 12.037/2009 prevê que, quando "a identificação 
criminal for essencial às investigações policiais, segundo despacho da autoridade 
judiciária competente, que decidirá de ofício ou mediante representação da 
autoridade policial, do Ministério Público ou da defesa". Além disso, o parágrafo 
único do artigo 5º do mesmo diploma estipula que, na hipótese do inciso IV do 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12037.htm
artigo 3º, "a identificação criminal poderá incluir a coleta de material biológico para 
a obtenção do perfil genético". 
Por outro lado, de maneira obrigatória e independente de autorização judicial, o 
ordenamento jurídico também trouxe importante instrumento, prevendo que os 
condenados por determinados crimes tenham armazenado em banco de dados sua 
identificação de perfil genético realizada mediante extração de DNA (ácido 
desoxirribonucleico), por técnica adequada e indolor, conforme previsto no artigo 
9º A da Lei de Execução Penal (LEP). 
Nesse sentido, a aplicação das legislações relativas aos bancos de perfis genéticos 
mostra-se de extrema importância na elucidação de crimes ainda sem solução, 
auxiliando o Sistema Judiciário na revisão de condenações, na possibilidade de 
absolvição de inocentes e, precipuamente, na busca do uso da tecnologia para 
punir criminosos e fortalecer a segurança pública. 
A legislação determina que as informações genéticas contidas nos bancos de dados 
de perfis genéticos não poderão revelar traços somáticos ou comportamentais das 
pessoas, exceto determinação genética de gênero. Cabe ressaltar ainda que a Lei 
nº 12.654/2012, ao impor em seu artigo 2º que "as informações genéticas contidas 
nos bancos de dados de perfis genéticos não poderão revelar traços somáticos ou 
comportamentais das pessoas", mostra-se adequada ao quanto dispõe a 
Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos, adotada, em 2005, pela 
33ª Sessão da Conferência Geral da UNESCO: 
Art. 9º. A privacidade dos indivíduos envolvidos e a confidencialidade de suas 
informações devem ser respeitadas. Com esforço máximo possível de proteção, 
tais informações não devem ser usadas ou reveladas para outros propósitos que 
não aqueles para os quais foram coletadas ou consentidas, em consonância com 
o direito internacional, em particular com a legislação internacional sobre direitos 
humanos. 
 É notório que, adotadas as devidas cautelas no gerenciamento do Banco Nacional 
de Perfis Genéticos e da RIBPG, são minimizados os riscos de mau uso e erro, e os 
órgãos de persecução criminal ganham uma ferramenta poderosa para elucidação 
de fatos submetidos à investigação criminal, não somente para a obtenção de 
condenações, mas também para evitar condenações injustas. 
 Visando à avaliação da qualidade e melhoria contínua dos processos de controle 
dos procedimentos adotados pela RIBPG, o Decreto nº 7.950/2013 previu a 
realização periódica de auditorias externas nos laboratórios de genética forense: 
Art. 9º Compete ao Ministério da Justiça e Segurança Pública auditar 
periodicamente o Banco Nacional de Perfis Genéticos e a Rede Integrada de 
Bancos de Perfis Genéticos para averiguar se suas atividades estão em 
conformidade com este Decreto, nos termos do disposto no acordo de 
cooperação técnica de que trata o § 3º do art. 1º, observados os requisitos 
técnicos previstos no inciso IV do caput do art. 5º. 
Parágrafo único. Participarão da auditoria especialistas vinculados a instituições 
científicas ou de ensino superior sem fins lucrativos. 
 
Ao prever a possibilidade de submissão da pessoa para coleta de material biológico 
e documentação do perfil genético, seja para fins de identificação criminal, seja 
para inserção em banco de dados de perfil genético, diversas vozes, na doutrina 
nacional, indicaram a inconstitucionalidade do diploma legal por contrariedade a 
preceitos da Constituição brasileira que encontram previsões assemelhadas, 
quando não idênticas, a enunciados constantes de Convenções e Tratados 
Internacionais. 
Vejamos alguns trechos do artigo “Investigação criminal genética – banco de perfis 
genéticos, fornecimento compulsório de amostra biológica e prazo de 
armazenamento de dados” (Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, 
vol. 4, n. 2, p. 809-842, mai.-ago. 2018): 
“A implementação efetiva do banco nacional de perfis genéticos, 
isoladamente, não será suficiente para aplacar essa crise, mas pode 
constituir um fator coadjuvante no aprimoramento da investigação de 
crimes graves, por meio da utilização de solução tecnológica 
compatível com o arcabouço jurídico que orienta a persecução penal 
como um todo. 
[...] 
A corrente contrária ao uso mais amplo dessa ferramenta tecnológica 
no enfrentamento do crime (que implica a obrigatoriedade de o 
investigado ou sentenciado tolerar a retirada de seu material biológico 
– cooperação passiva do imputado) levanta preocupações legítimas 
sobre os riscos de mau uso dos dados armazenados, que poderiam 
redundar em violações da intimidade, em especial a intimidade 
genética, e na estigmatização ainda maior da população carcerária e 
dos investigados mais pobres. 
[...] 
 Quanto à compatibilidade da coleta corporal compulsória de DNA 
com a garantia da não autoincriminação, é certo que bons argumentos 
existem em ambos os sentidos, mas é necessário enriquecer essa 
reflexão levando-se em conta a experiência estrangeira, a palavra das 
cortes internacionais de direitos humanos, a tendência de 
funcionalização do Direito Internacional e os reclamos de efetividade 
do processo penal. 
[...] 
Com o avanço em escala global da criminalidade organizada e do 
terrorismo, o respeito aos direitos individuais na persecução criminal 
é desafiado constantemente pelo discurso da necessidade de se 
garantir a segurança da população. 
[...] 
Se, por um lado, argumenta-se que o uso da prova genética pode 
colocar em xeque direitos individuais – sobretudo os direitos à 
intimidade, à liberdade e à integridade física e a não produzir prova 
contra si mesmo –, por outro não se pode esquecer que a segurança 
pública também é um direito fundamental, de titularidade da 
sociedade, indispensável para a legitimação e o funcionamento do 
próprio Estado. 
[...] 
Assim, direitos básicos como a vida, a liberdade, a incolumidade física 
e a propriedade não podem ser exercidos se for constantea ameaça 
gerada pela falta de segurança pública. 
[...] 
Necessário, porém, considerar nessa ponderação de interesses que o 
banco de dados jamais cumprirá sua função social se sua alimentação 
depender da voluntariedade da entrega de material genético por 
parte dos imputados ou de buscas e apreensões para a coleta de 
amostras biológicas dos investigados em locais que tenham 
frequentado ou de objetos que tenham usado, pois a complexidade 
desse procedimento reduziria significativamente o número de perfis 
genéticos disponíveis para confronto, comprometendo a eficácia do 
sistema. 
[...] 
Um banco de perfis genéticos constitui um repositório de “impressões 
digitais do DNA” (DNA fingerprints) ou “fotografias genéticas” de 
indivíduos e serve para identificá-los ou individualiza-los. Possui 
enorme valor forense, pois, a partir das sequências de DNA 
armazenadas, é possível afirmar com probabilidade extremamente 
alta que uma amostra biológica (sangue, raiz capilar, sêmen, osso, 
dente, saliva, suor, pele, urina etc.) se originou de determinada 
pessoa. 
[...] 
Outro fator justificante da identificação por perfil genético, no caso 
previsto no art. 9º-A da LEP, é a constatação de que, diante dos altos 
índices de reincidência observados no Brasil e da gravidade dos crimes 
que justificam a medida de identificação, é do interesse público 
manter por certo período os dados genéticos do sentenciado, como 
forma de proteção social, tanto pela inibição de novas condutas 
criminosas quanto pela facilitação da sua persecução criminal. 
[...] 
Considerando a necessidade de assegurar à população o direito 
fundamental à segurança pública em um momento de grave crise 
nessa área, abrir mão de um meio investigativo que tem se mostrado 
eficaz em outros países somente se justificaria se a lesão ou ameaça a 
outros direitos fundamentais fosse desproporcionalmente 
significativa, o que não se verifica na situação vertente, pois, adotadas 
as cautelas e procedimentos técnicos devidos e instituídos 
mecanismos de respeito ao sigilo dos dados armazenados, a 
intervenção corporal e o risco à privacidade são diminutos. 
[...] 
Uma vez obtido legitimamente pelo Estado o perfil genético de 
alguém, tal informação poderá ser utilizada para finalidades de 
persecução criminal não inicialmente previstas, como por exemplo 
reavivar investigação arquivada por indefinição quanto à autoria 
delitiva, em caso de convergência entre aquele perfil genético e o 
constante do banco de dados, vinculado a amostra biológica colhida 
no local do crime cuja investigação havia sido interrompida. 
 
Após a leitura destes trechos, conclui-se que é importantíssimo que o direito 
interno acompanhe a evolução da sociedade, não sendo defensável que se 
preserve as garantias de uma época anterior. 
A legislação passou pela necessidade do Brasil incorporar os bancos de perfis 
genéticos à sua realidade, os quais tratam-se de inovação tecnológica útil ao 
aprimoramento da persecução penal. Igual caminho fizeram os países mais 
desenvolvidos, onde há um grande crescimento de tais bancos. O alto índice de 
impunidade e da crescente criminalidade no país também dá respaldo à 
identificação por perfil genético, a qual atua como um novo instrumento para 
combater e reverter o cenário atual no Brasil. Há um grande potencial no uso de 
informações e bancos de perfis genéticos como agentes de mudança na situação 
de impunidade no que se refere aos crimes violentos no país. 
Neste aspecto, a legislação vigente passou a permitir, por meio de ordem judicial, 
que no curso da persecução criminal seja possível a coleta de material genético, 
denominada identificação criminal facultativa. Entretanto, aos condenados por 
crimes previstos no artigo 9ºA da LEP, a coleta de material genético é obrigatória. 
O legislador brasileiro teve o cuidado de restringir a finalidade do banco de dados 
de perfil genético na esfera criminal: trata-se de banco de dados dirigido 
estritamente à identificação criminal. Não se admite qualquer utilização para 
outros fins , seja de definição comportamental ou para fins de eugenia ou de 
definição criminológica ou criminógena do sujeito ali identificado. Essa coleta, para 
fins de investigação criminal, não viola a garantia da não autoincriminação, pois o 
investigado não está obrigado a adotar postura ativa no sentido de fornecer a 
prova, nem mesmo pode ser compelido a abrir a boca para a coleta de células com 
suabe se não quiser cooperar. 
Salienta-se que os dados constantes dos bancos de perfis genéticos possuem 
caráter sigiloso, podendo aquele que infringi-lo responder civil, penal e 
administrativamente, se permitir ou promover sua utilização para fins diversos 
daquelas previstos legalmente ou através de decisão judicial. 
O legislador interno indicou, ainda, que o cotejo dos dados extraídos dos bancos de 
perfis genéticos dá-se apenas e tão somente por meio de perícia oficial. As 
informações colhidas a partir da coincidência de perfis genéticos deverão ser 
consignadas em laudo pericial firmado por perito oficial devidamente habilitado. 
Segundo Suxberger, no artigo “A funcionalização como tendência evolutiva do 
Direito Internacional e sua contribuição ao regime legal do banco de dados de 
identificação de perfil genético no Brasil” (Revista de Direito Internacional, Brasília, 
Vol. 12, No. 2, p. 649-665, 2015): 
Os dados têm caráter sigiloso, isto é, a fixação do sigilo é estipulada legalmente e 
funda-se — vale destacar — na conformação legal do direito constitucional à 
intimidade (ou à vida privada), tal como positivado no inciso X do artigo 5.º da 
Constituição, também na Convenção Europeia de Direitos Humanos de 1950 e na 
Convenção Americana de Direitos Humanos. [...] Tais cuidados — ou elementos 
que dificultam o acesso ao banco — protegem, salvaguardam e garantem a 
intimidade do particular em face da atuação persecutória do Estado. Não 
houvesse essa previsão legal, aí sim se poderia cogitar de malferimento do direito 
à intimidade, o qual, aliás, projeta-se em diversas outras garantias de igual ou 
maior jaez: como o sigilo bancário, o sigilo fiscal, etc. 
 
Entende-se que o direito de não produzir provas contra si mesmo pode e deve ser 
usado em um processo ou investigação penal, mas jamais pode servir como um 
“salvo-conduto” para não o identificar em caso de prática de novos delitos. 
 Como se pode concluir, a análise de DNA acerca da investigação criminal contribui 
para um processo penal mais adequado e justo, inserindo a ideia da busca pela 
verdade real, de forma a apontar os verdadeiros culpados e impedir que pessoas 
inocentes sejam condenadas. 
 
OPINIÃO TÉCNICA DE MAGISTRADOS 
A Procuradora Geral da República de 2017 a 2019, Vossa Excelência Raquel Dodge, 
no PARECER nº 07/2017 – AJCR/SGJ/PGR referente ao RECURSO EXTRAORDINÁRIO 
Nº 973837/MG, afirma: 
“ A evolução científica disponibilizou novos exames em favor da moderna 
investigação, sobretudo relacionadas à genética. Atualmente, é possível coletar e 
identificar traços de DNA e relacioná-los a determinado indivíduo a partir de 
vestígios colhidos da vítima ou extraídos do local do crime. A identificação da 
pessoa é direito estatal voltado à preservação da segurança pública. A 
Constituição, ao tratar sobre a identificação, estabeleceu sua compulsoriedade – 
coleta de impressões digitais –, tendo desautorizado a identificação criminal 
quando já promovida a identificação civil. É dizer: já houve o balizamento e 
autorização constitucional de intervenção corporal – ainda que coercitiva – para 
coleta de material pessoal (impressões digitais) para fins de identificação criminal 
mediante exame datiloscópico, a fim de resguardar a segurança pública. Há notar 
que a diretriz da suficiência da identificação civil deve ser interpretada à luz do 
contexto histórico em que editada, quando inexistentes outros instrumentos 
igualmente válidos para auxiliar na identificação criminal.Agora, não mais 
subsistindo a equivalência entre a identificação criminal e a civil, não deve se 
obstaculizar a coleta de dados, para fins de identificação criminal, quando a 
medida mostre-se necessária, ainda que determinado investigado tenha 
apresentado documentação válida e suficiente à sua identificação civil. 
 O que se exige, para tal balizamento, é a fiel observância dos postulados 
concernentes ao exame da proporcionalidade da medida – necessidade, 
adequação e proporcionalidade em sentido estrito. O legislador, ao editar a Lei 
12.654/2012, estabeleceu a utilização, mediante cooperação jurídica, do Sistema 
CODIS – Combined DNA Index System –, criado pelo FBI norte-americano e já 
utilizado em mais de 30 países, para auxiliar no gerenciamento dos dados ali 
lançados. Trouxe, ainda, dois instrumentos bastante úteis na investigação 
criminal: o primeiro, relativo à coleta e armazenamento de material biológico 
extraído da vítima ou do local do crime, assim como de investigados; o segundo, 
concernente à coleta de material biológico de indivíduos condenados pela prática 
de crimes graves ou cometidos com violência. Nesse segundo caso enquadra-se o 
recorrente. De início, há afastar a suposta abstração do artigo 5º–II da 
Constituição, uma vez tratar-se de obrigação estabelecida em lei. O recorrente 
invoca, ainda, que o direito de não produzir prova contra si mesmo acoberta o 
direito de o condenado não fornecer o material biológico determinado. Ora, a lei, 
malgrado estabeleça obrigação, não tratou do emprego de meios coercitivos 
diretos para obtenção do material. Logo, não há presumir ser possível o emprego 
de força, a fim de compelir o investigado ou condenado a fornecer o material 
biológico. Por outro lado, obtido o material genético por meio diverso não-
invasivo, autorizada está sua submissão à perícia, cruzamento de informações e 
armazenamento do perfil genético em banco de dados. Nestes casos, a obtenção 
da prova dar-se-á a partir de prévia decisão judicial que avaliará, no caso concreto, 
a proporcionalidade da medida. Para a análise da prerrogativa contra a 
autoincriminação, é necessário observar que, mesmo nos casos que dependem de 
uma participação ativa do agente, uma vez fornecido voluntariamente o material 
não há falar em ofensa ao princípio da não autoincriminação. O direito não apenas 
reputa válida a prova assim obtida, mas a encoraja. Com efeito, o fornecimento 
de padrão gráfico ou vocal para perícias, por exemplo, não é viável senão 
mediante a sujeição do indivíduo ao quanto determina a lei. Em caso de 
discordância, não é possível compelir o sujeito sem que para tanto se ofendam 
direitos assegurados aos indivíduos, assim como as próprias condições exigidas 
para o exame. No caso de confrontação de perfis genéticos, certo é que a 
produção da prova prescinde de um comportamento ativo do sujeito, mas 
depende, por outro lado, de sua anuência, uma vez que o procedimento impõe 
uma intervenção corporal, ainda que mínima e indolor. Desautorizada a coleta, o 
procedimento padrão para a coleta do material não deve ser executado. Logo, não 
há supor ofensa à aludida prerrogativa nos casos em que o investigado atenda à 
determinação legal e, voluntariamente, submeta-se a exame para coleta de 
material genético, assim como não há afronta ao aludido princípio nos casos em 
que o agente abra mão do direito ao silêncio e confessa a prática de determinado 
crime. Relevante observar, contudo, que, no presente caso, é possível a obtenção 
de material genético independentemente da anuência do agente. Normatizou-se 
como técnica padrão para a obtenção do perfil genético o esfregaço bucal com 
suabe. Cuida-se de técnica pouco invasiva e indolor. A despeito de ser possível 
obter o material genético mediante intervenção corporal desautorizada, certo é 
que o legislador assim não dispôs. 
 O Instituto Nacional de Criminalística, ao tratar do tema, esclareceu que 
procedimentos alternativos para coleta do perfil genético terão lugar quando o 
agente não concordar em fornecer o material biológico. Nesse sentido, listou três 
distintas possibilidades, todas sempre acompanhadas por perito, a fim de evitar a 
contaminação do material e documentar a cadeia de custódia: a) a utilização de 
material biológico coletado em eventuais exames de saúde feitos no indivíduo 
custodiado; b) a coleta de objetos pessoais – escovas de cabelo, copos ou talheres 
usados, roupas íntimas, entre outros, coletados em ambiente isolado e/ou 
controlado; c) a busca e apreensão mediante prévia autorização judicial de 
objetos pessoais – esta última hipótese de aplicação mais restrita. Certo é que, em 
caso de recusa, a coleta não é feita pelo método ordinário, não se compelindo o 
agente a fornecer o material. Nestes casos, documenta-se o fato em termo 
próprio e se o submete à autoridade judicial competente, que deliberará pela 
obtenção do material mediante um dos procedimentos alternativos existentes. Da 
obtenção deste material não há supor ofensa à não autoincriminação, nem, 
tampouco, à dignidade do indivíduo. Assim, ainda que se estenda a prerrogativa 
do silêncio para além do que expressamente enuncia o texto constitucional, certo 
é que tal direito não pode ser invocado em procedimentos em que o agente não 
produza ativamente prova contra si. É possível entrever, na execução dos 
procedimentos alternativos, alguma incursão na esfera privada do indivíduo; daí, 
todavia, não reponta inconstitucionalidade da lei. Em casos tais, imperioso o 
sopesamento dos direitos constitucionais em apreço. A lei prevê inúmeras 
hipóteses em que a privacidade do indivíduo cede ante a segurança: assim, por 
exemplo, as interceptações telefônicas, quebras de sigilos bancário, fiscal, 
telemático e telefônico, o procedimento de reconhecimento, entre tantos outros. 
Mostra-se, pois, viável a limitação legal deste direito, desde que a lei observe os 
reclamos da proporcionalidade e não atinja o núcleo essencial do direito. A lei 
atende aos reclamos da proporcionalidade: o acesso ao banco de dados deve ser 
precedido de autorização judicial; os perfis dirão respeito a amostras extraídas do 
local do crime, de investigados ou de condenados por crimes graves ou praticados 
com violência; não haverá registro de informações relativas a doenças ou outras 
características somáticas, exceto o gênero biológico; os dados serão arquivados 
por tempo definido, sendo competência exclusiva do Poder Público o 
armazenamento destes dados genéticos. As informações encaminhadas pelo INP 
esclareceram, ainda, que o perfil genético não pode estar associado a qualquer 
informação pessoal, mas apenas a um código conhecido apenas pela instituição 
responsável pela inserção do perfil no banco de dados. Em tudo se observa a 
preocupação do legislador em regulamentar de modo adequado tema tão 
sensível, de modo a evitar a utilização dos dados coletados para finalidade distinta 
daquela para o qual foi concebido, assim como para minimizar a limitação de 
outros direitos envolvidos, razão pela qual não se enxerga ilegítima incursão no 
núcleo essencial de direitos constitucionais assegurados ao indivíduo. Por outro 
lado, não se pode descurar que a coleta de perfil genético trará significativos 
avanços para as investigações, contribuindo para o esclarecimento de diversos 
crimes, servindo, inclusive, para exculpar investigados e até condenados pela 
Justiça. 
 Nesse rumo, aliás, o trabalho existente nos Estados Unidos da América 
denominado Innocence Project – Projeto Inocência –, que dedica-se a coletar 
amostras de DNA de condenados que se declaram inocentes com o objetivo de 
revisar condenações criminais injustas, sobretudo as baseadas em provas dúbias 
ou não suficientemente conclusivas. De fato, o banco de dados garantirá ao 
inocente o acesso a uma prova de forte conteúdo exculpante. Não havendo duas 
pessoas com o mesmo perfil genético, aquele cuja presença não for confirmada 
na cena do crime pelaperícia não poderá ser condenado injustamente. O banco 
de dados criado a partir da lei em análise já permitiu, inclusive, concretamente a 
revisão criminal e absolvição de condenado pela prática de crime sexual, 
evidenciando a necessidade da medida para robustecer a convicção e o processo 
penal. 
 Observa-se que a inclusão do perfil genético de condenados pela prática de 
crimes graves ou cometidos com violência contra a pessoa não prejudicará sua 
condição civil e tampouco ensejará condenação antecipada pela prática de outros 
delitos; donde, não há falar em ofensa ao princípio constitucional da não-
culpabilidade. A coleta do perfil genético viabiliza a produção de uma prova 
adicional sujeita não apenas a todos os procedimentos legais estabelecidos e à 
demonstração do nexo causal, mas também à apreciação do Judiciário, 
assegurando-se, evidentemente, todos os meios e recursos legais existentes e 
disponíveis à defesa, caso confirmada a identidade entre determinado material 
coletado e eventual crime ainda sob investigação: o processo penal está 
sedimentado na ampla defesa e no contraditório, razão pela qual não há supor 
ofensa a tais postulados. Ora, a prova eventualmente produzida a partir da 
confrontação de perfis genéticos é plena, e deverá ser adequadamente apreciada 
pelo Judiciário. Portanto, a lei disponibilizou apenas mais um instrumento de 
investigação criminal, voltado à identificação do autor da prática de um crime, à 
semelhança da perícia datiloscópica e da identificação por fotografia. A restrição 
da coleta de dados aos indivíduos condenados por determinados crimes graves 
prende-se, sobretudo, ao fato de os autores de delitos desta natureza muitas 
vezes praticarem mais de um crime, apontando a estatística para reincidência 
superior a 50%. Nessa mesma direção, o índice de homicídios esclarecidos no 
Brasil não ultrapassa 5% dos casos, o que sugere a necessidade urgente do 
implemento de outros meios para a investigação, como a utilização deste 
importante instrumento que é a perícia de DNA. O Brasil, lamentavelmente, ocupa 
o 6º lugar no ranking de homicídios, e possui um dos mais baixos índices de 
elucidação, inferiores a 10% (e-STF fls. 295/297). Por outro lado, estudos já 
evidenciaram a eficiência dos bancos de perfis genéticos. Nos Estados Unidos, a 
taxa de coincidência é próxima a 50%, na Holanda remonta a 54% e no Reino 
Unido é superior a 63%. Isto é, em cada 100 casos em que se confrontam dados 
coletados do corpo de delito e aqueles constantes do banco de dados, 63 são 
prontamente identificados (e-STF fl. 219/220). Tal sistemática é sobretudo 
relevante em casos em que não há sequer um suspeito, permitindo a solução de 
crimes que, até então, compunham a cifra negra da criminalidade. No Brasil, 
apesar de ainda pequeno o volume de dados coletados, já se começaram a coletar 
os frutos da experiência. Até o dia 28 de maio de 2017, a Rede Integrada dos 
Bancos de Perfis Genéticos apresentou ao poder público 279 coincidências 
confirmadas, auxiliando 372 investigações . 
 Estudos mencionados nas informações do Instituto Nacional de 
Criminalística apontaram, ainda, que o incremento de 10% na alimentação dos 
bancos de DNA levou à redução de 5,2% da taxa de homicídios e 5,5% da taxa de 
estupros, além de ressaltar, para além da eficiência do instrumento na apuração 
e repressão de crimes, o caráter inibitório que a existência do banco de dados 
acarreta, prevenindo seus cometimentos (e-STF fl. 220). A investigação criminal 
tem se valido, sobretudo nos tempos atuais, dos mais modernos meios de 
investigação, como escutas telefônicas, interceptação telemática, ações 
controladas, reconstituições criminais. Estes novos meios de prova têm sido 
acompanhados pelo Ministério Público e sempre autorizados pelo Judiciário, o 
que dá ao cidadão a garantia. 
 A partir da noção de dignidade humana, da concepção de que todos os 
homens são iguais e determinam suas próprias ações, cabe ao Estado não só 
permitir o aprimoramento dos instrumentos existentes para a investigação 
criminal mas, também, prover os meios para tanto necessários, a fim, inclusive, 
de assegurar os direitos fundamentais de todos os cidadãos, entre eles, o direito 
à vida, à segurança, ao livre desenvolvimento da personalidade, à integridade 
física e moral, à liberdade de ideias e crenças, à honra, à própria imagem e a todos 
aqueles inerentes à própria condição de ser humano. O instrumento aqui em 
discussão, portanto, em vez de abstrair a dignidade humana, tem por finalidade 
precípua promovê-la, sem afetar o núcleo essencial de qualquer direito 
assegurado a investigados e condenados. Além disso, importante recordar que a 
lei mostra-se adequada ao quanto dispõe a Declaração Universal sobre Bioética e 
Direitos Humanos, adotada, em 2005, pela 33ª Sessão da Conferência Geral da 
UNESCO: 
Art. 9º. A privacidade dos indivíduos envolvidos e a confidencialidade de suas 
informações devem ser respeitadas. Com esforço máximo possível de proteção, 
tais informações não devem ser usadas ou reveladas para outros propósitos que 
não aqueles para os quais foram coletadas ou consentidas, em consonância com 
o direito internacional, em particular com a legislação internacional sobre direitos 
humanos. 
Assim, a coleta de perfil genético mostra-se, de fato, como reflexo da progressão 
científica, cuja eficiência e indiscutível relevância têm ensejado progressiva 
adoção nos mais diversos países do mundo. De resto, vale notar que a União 
Europeia editou a Resolução 193/2002, em que os Estados Europeus 
comprometeram-se a estabelecer uma relação de cooperação e intercâmbio de 
dados de DNA, com o fim de facilitar o acesso a informações e ampliar as 
possibilidades da investigação criminal. Ante o exposto, opino pelo 
desprovimento do recurso. Brasília, 18 de dezembro de 2017”. 
 
Sobre o tema, o juiz Costa Neto (2020) explica: 
 “Inicialmente, verifico a necessidade de coleta do material genético do acusado, 
como medida cautelar probatória. No Brasil, a coleta de material genético de 
condenados a certos crimes é obrigatória. Já no caso de investigados, a coleta será 
obrigatória a depender de ordem judicial que a repute essencial à elucidação dos 
fatos. São essas as inovações da Lei n. 12.654/12. Embora a coleta de DNA não 
tenha sido devidamente efetivada, já há várias amostras no Banco Nacional. Nesse 
contexto, o Relatório do Banco Nacional de Perfis Genéticos, disponível da página 
do Ministério da Justiça, demonstra que muitos crimes notadamente de estupro, 
no DF e na Paraíba, por exemplo, só foram solucionados graças ao Banco. A 
constitucionalidade do Banco Nacional de Perfis Genéticos será decidida no 
Recurso Extraordinário (RE) 973837. Há ao menos dois importantes argumentos a 
favor da constitucionalidade da lei: a) a Procuradoria-Geral da República sustenta 
que a identificação por DNA é como a identificação por meio de impressão digital. 
Logo, é perfeitamente constitucional; b) a Academia de Ciências Forenses defende 
que a colheita de DNA é passiva e não invasiva. Logo, seria constitucional. A Lei nº 
12.654/12 que criou o Banco Nacional de Perfis Genéticos impõe a coleta de DNA 
de condenados por crimes violentos e, desde que com autorização judicial, de 
investigados. 
Registro que a legislação aplicada a identificação pelo perfil genético não fere o 
direito à não autoincriminação. O exame de DNA adotado para fins forenses é 
realizado com a utilização do suabe (espécie de cotonete) passado suavemente na 
superfície interna da boca (céu da boca), procedimento indolor e que não implica 
nenhum risco para a saúde do fornecedor. O direito de não produzir prova contra 
si mesmo veda apenas: (1) que o acusado seja obrigado a colaborar, por meio de 
comportamentos ativos, à produção de provas; e (2) meios de extração de prova 
invasivos. Não se pode exigir, por exemplo, que o réu participe da reconstituição 
do crime, porque isso exigiria uma colaboraçãoativa do acusado contra seus 
próprios interesses. Também não se pode extrair sangue do acusado 
coercitivamente, já que a extração é considerada invasiva e diz respeito 
diretamente à integridade corporal do acusado. Mas nada impede que o acusado 
seja obrigado a participar de um reconhecimento de pessoas. Sempre se entendeu 
na jurisprudência que o acusado pode ser coercitivamente enfileirado junto de 
outras pessoas para que a vítima ou uma testemunha possa indicar se, dentre os 
presentes, está aquele que teria cometido o crime. Isso porque o reconhecimento 
é meramente passivo. O mesmo ocorre na coleta de DNA. Nesse contexto, 
também se pode obrigar o acusado a permitir que um cotonete seja levemente 
passado no céu da sua boca. É só isso que o suabe bucal envolve: passar um 
cotonete no céu da boca de uma pessoa. Diferentemente da extração de sangue, 
o cotonete não penetra no corpo do acusado. A coleta de provas é totalmente 
superficial. Com efeito, não se trata de meio invasivo. Em suma: a extração de 
DNA pelo chamado suabe bucal não é nem invasiva, nem demanda 
comportamento ativo do acusado. Logo, não fere o direito a não 
autoincriminação. No caso do condenado, a coleta do material genético configura 
verdadeiro efeito extrapenal genérico da condenação. Se o Estado pode tomar a 
liberdade e a propriedade do condenado por crime, se pode impedi-lo de dirigir 
ou de exercer sua profissão, então é certo que o Estado também pode obrigar o 
condenado a fornecer material genético, em nome de interesses coletivos 
cogentes. Mas e no caso do investigado? A colheita seria constitucional? Afinal, o 
investigado, diferentemente do condenado, não pode ser tratado como culpado. 
Trata-se de decorrência da própria regra de tratamento inerente à presunção de 
inocência. No caso do investigado, a colheita do material genético que se submete 
à reserva de jurisdição (o Richtervorbehalt do direito alemão) é uma verdadeira 
medida cautelar probatória. Se o Juiz, após pedido do MP, pode determinar a 
apreensão de escritos do acusado para realizar futuro exame grafotécnico, 
também pode determinar, de maneira circunstanciada e com base na gravidade 
concreta do crime, que seja recolhido o material genético do acusado seja na 
investigação, seja no processo penal. No Brasil, aquele que ainda não foi 
condenado só poderá ter o material genético recolhido se o Juiz, em decisão 
adequadamente fundamentada, entender que esse material é importante para a 
investigação ou para o processo penal em curso. Não se trata de recolher material 
genético indiscriminadamente. A reserva de jurisdição oferece uma garantia ao 
réu, que poderá, inclusive, impugnar a decisão nas instâncias superiores, se o Juiz 
agir de forma arbitrária. Esse raciocínio é totalmente compatível com a 
Constituição Federal. A CF/88 estabelece em seu art. 5º, LVIII, que o “ (...) 
civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas 
hipóteses previstas em lei. Já o art. 3º, IV, da Lei 12.037/09 (Lei de Identificação 
Criminal) permite a identificação criminal, ainda que apresentado documento de 
identificação, quando a (...) identificação criminal for essencial às investigações 
policiais, segundo despacho da autoridade judiciária competente, que decidirá de 
ofício ou mediante representação da autoridade policial, do Ministério Público ou 
da defesa . A coleta de material genético não viola, portanto, a CF/88. Consigno 
que, no exterior, as democracias civilizadas têm entendido pela admissibilidade 
do DNA. É o caso, por exemplo, dos EUA, merecendo menção o caso Maryland v. 
King, 569 U.S. 435 (2013), julgado pela Suprema Corte norte americana. O STF já 
decidiu várias vezes, inspirado no Tribunal Constitucional Federal alemão, que a 
máxima da proporcionalidade inclui o princípio da proibição da proteção 
insuficiente (Untermaßverbot). Isso significa que cabe ao Estado desincumbir-se 
do seu dever de proteção (Schutzpflicht). O dever de proteger a população obriga 
o Estado a instituir mandamentos de criminalização; a combater o crime; e a 
efetivar todos os meios ao seu alcance que permitam o esclarecimento de 
infrações penais, a exoneração de inocentes acusados de maneira injusta, e 
também a condenação dos culpados. A Lei 12.654/2012 não é apenas 
constitucional. Ela é uma exigência da própria Constituição. O Estado tem o dever 
de usar a tecnologia para exonerar os injustamente acusados, para proteger os 
direitos fundamentais das vítimas e para punir os criminosos” 
 
COSTA NETO (2020) ressalta ainda: 
 “O artigo 9ºA da Lei 7.210/1984 (Lei de Execução Penal) obriga a coleta do DNA 
para todos os condenados por determinados crimes, não se tratando, portanto, 
de uma opção para o magistrado. O mesmo ocorre quando presentes os 
requisitos de concessão da cautelar probatória no caso de investigados. A lei 
diz expressamente, inclusive no caso de investigados, que a medida pode e 
deve ser concedida de ofício pelo juiz, quando preenchidos os requisitos. 
A decisão do TJSP foi tomada por 2 votos a 1, tendo o voto divergente 
defendido em todos os seus termos a decisão do magistrado de primeiro grau. 
A Defensoria Pública tem contestado esse trecho da Lei, inclusive com ação no 
Supremo Tribunal Federal. No entanto, no momento, a lei permanece vigente 
e goza de presunção de constitucionalidade. O STF nunca suspendeu os efeitos 
da lei, o que poderia ter feito. 
Cabe lembrar ainda que a coleta do DNA é um procedimento passivo e não 
invasivo. É semelhante a outros processos de identificação, como o da coleta 
de impressões digitais, em que não se considera que o condenado é obrigado 
a produzir provas contra si. Não há desrespeito à Constituição Federal. 
O DNA é uma ferramenta que tem ajudado a Justiça a solucionar casos 
pendentes, no sentido de encontrar culpados, mas também de provar a 
inocência dos injustamente acusados. O famoso caso Israel, por exemplo, 
permitiu a exoneração de um homem injustamente condenado por um estupro 
que nunca cometeu. Todavia, Israel passou anos preso. Se o DNA já fosse uma 
realidade no Brasil, como é em democracias consolidadas, a história teria sido 
outra.” 
 
A IMPORTÂNCIA DA RIBPG PARA A SEGURANÇA PÚBLICA 
 
Atualmente, os Bancos de Perfis Genéticos têm uma importância muito grande 
para a Segurança Pública por ser mais uma ferramenta de investigação e de 
coibição da reincidência criminal. 
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2021 apresentou as estatísticas 
criminais por unidade da federação para os anos de 2019 e 2020. Segundo os dados 
disponíveis, durante o ano de 2020 ocorreram no Brasil: 
TIPO DO CRIME QUANTIDADE 
Homicídio doloso 42.105 
Lesão corporal seguida de morte 627 
Latrocínio 1.428 
Estupros 12.246 
Estupros de vulnerável 39.070 
Tabela – Quantidade de ocorrências criminais relacionadas a mortes intencionais e estupros em 2020 
no Brasil segundo Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2021. 
O número de mais de 44 mil ocorrências/ano de mortes intencionais e mais de 51 
mil ocorrências/ano de estupros durante o ano de 2020 impressiona e lança um 
grande desafio para a segurança pública nacional. Com relação aos estupros ainda 
se salienta que trata-se de um dos tipos criminais mais subnotificados por uma 
questão cultural e pelas dificuldades que a vítima encontra, o que se reflete na 
possibilidade destes quantitativos serem ainda maiores e a situação mais 
alarmante. 
Portanto, existem no Brasil muitos crimes cuja resolução pode ser auxiliada pelas 
técnicas de investigação criminal e pela produção de prova técnico-científica. 
Ressalta-se que estes mesmos tipos criminais violentos (homicídios e estupros) 
costumam deixar materiais biológicos como vestígios, que podem ser 
laboratorialmente analisados e gerar perfis genéticos, abastecendo bancos de 
dados e possibilitando sua comparação com materiais de referência previamente 
cadastrados. 
Outro ponto a ser analisado é a situaçãoda reincidência no Brasil. Sobre este tema, 
em anos anteriores, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) celebrou acordo de 
cooperação técnica com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) para 
que fosse realizada uma pesquisa sobre reincidência criminal no Brasil. O termo 
previu um trabalho capaz de apresentar um panorama da reincidência criminal com 
base em dados coletados em alguns estados do país. O estudo considerou apenas 
o conceito de reincidência legal, ou seja, conforme os artigos 63 e 64 do Código 
Penal, só reincide aquele que volta a ser condenado no prazo de cinco anos após 
cumprimento da pena anterior. 
A pesquisa revelou que a cada quatro ex-condenados, um volta a ser condenado 
por algum crime no prazo de cinco anos, uma taxa de 24,4%. O resultado foi obtido 
pela análise amostral de 817 processos em cinco unidades da federação (Alagoas, 
Minas Gerais, Pernambuco, Paraná e Rio de Janeiro) de onde se constatou 199 
reincidências criminais. 
Um dos fatores que retroalimenta a reincidência é a sensação de impunidade 
presente no país. Neste ponto, os bancos de dados de perfis genéticos são uma 
extraordinária ferramenta de investigação e coibição da impunidade, tendo em 
vista que criminosos condenados por crimes de grave violência contra a pessoa 
(além de investigados com autorização judicial) terão seus perfis genéticos 
armazenados nos bancos de dados e, em caso de reincidência, serão identificados 
prontamente. 
O Brasil tem uma demanda muito grande em relação à segurança pública, sendo 
hoje uma das principais preocupações dos cidadãos brasileiros. Atualmente, os 
bancos de dados de perfis genéticos são um excelente meio de prova e, juntamente 
com outros vestígios e análises investigatórias, pode auxiliar a justiça na elucidação 
de crimes. 
A economista norte-americana Jennifer Doleac (2016) realizou um estudo sobre os 
efeitos dos bancos de dados de DNA na investigação criminal e identificou que tal 
ferramenta possui um grande potencial na Segurança Pública. Segundo sua 
pesquisa, nos Estados Unidos um incremento de 10% no banco de dados de perfis 
genéticos leva a uma redução de 5.2% nos homicídios e 5.5% nos estupros. Ao 
analisar os valores, em 2016, para a alimentação das bases de dados de perfis 
genéticos e outros meios, a autora concluiu que o custo para evitar um crime 
violento e de natureza grave nos Estados Unidos é de 26 mil dólares americanos se 
optar pelo aumento do policiamento, mais de 7 mil dólares americanos se escolher 
pelo aumento de penas e apenas 600 dólares americanos caso a opção seja pela 
alimentação dos bancos de perfis genéticos. 
E, por fim, tal estudo também afirma que há um efeito dissuasor, ou seja, de 
diminuição de reincidência criminal e de aumento da taxa de detecção do 
reincidente. Assim sendo, quando há reincidência, também há uma maior 
probabilidade de identificar esse reincidente, porque os seus dados já estão 
disponíveis para um potencial confronto. 
Ressalta-se que as coincidências entre perfis de diferentes locais de crime 
permitem a identificação de crimes em série e permitem que diferentes equipes de 
investigação compartilhem informações em busca da autoria. Por outro lado, as 
coincidências entre vestígios e perfis de indivíduos cadastrados criminalmente 
podem auxiliar as equipes de investigação na identificação dos autores dos delitos, 
trazendo rápida resposta à Sociedade Brasileira. 
 
 
CONCLUSÃO 
 
Terminamos aqui a terceira unidade. Esta unidade possui material 
complementar referente a legislação pertinente ao tema. 
Vamos para a próxima unidade!? Até lá! 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
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Segurança Pública, 2021. Disponível em: https://forumseguranca.org.br/wp-
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MINERVINO, A; SILVA JR., R. C.; MALTA, A. A.; BECKER, C. M. S.; MALAGHINI, M. 
Projeto de Coleta de Amostra de Condenados: Incremento do Auxílio a 
Investigações e a Justiça. Revista Brasileira de Ciências Policiais, v.11, n.3, 2020. 
RIBPG. MANUAL DE PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS DA RIBPG (VERSÃO 4). 
Brasília : Resolução nº 14. 2019. Disponível em: https://www.justica.gov.br/sua-
seguranca/seguranca-publica/ribpg 
RIBPG. Resolução nº 10 - Procedimentos para a Coleta de Material Biológico de que 
trata a Lei nº 12.654/2012. 2019. Disponível em: https://www.justica.gov.br/sua-
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SINESP. Dados Nacionais de Segurança Pública. Disponível em: 
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https://www.justica.gov.br/sua-seguranca/seguranca-publica

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