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UNIDADE 4 Vamos iniciar a última unidade de estudos deste curso! Prontos? Vamos lá! RESULTADOS DA RIBPG Como dito em outras unidades, a Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos (RIBPG), instituída pelo Decreto nº 7.950/13-MJ, surgiu com a finalidade principal de manter, compartilhar e comparar perfis genéticos para auxiliar tanto na apuração criminal e na instrução processual quanto na identificação de pessoas desaparecidas. Ao longo dos anos, a RIBPG tem incrementado cada vez mais sua contribuição à Sociedade Brasileira pelo aumento de investigações auxiliadas. A evolução numérica ao longo dos anos, considerando o tipo de perfil genético e unidade da federação, pode ser analisada pelo sistema de análise DADOS DO BANCO NACIONAL DE PERFIS GENÉTICOS, disponível no sítio eletrônico do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Ademais, desde 2014, o Comitê Gestor da RIBPG publica relatórios contendo balanços semestrais na página eletrônica da RIBPG (https://www.justica.gov.br/sua-seguranca/seguranca-publica/ribpg/). Entre nos links acima, faça suas pesquisas e depois retorne para a leitura!! O aumento de inserção de perfis nos bancos da RIBPG, especialmente de indivíduos cadastrados criminalmente, seja condenados ou suspeitos, mostra-se diretamente https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiMGM0OGQwYzQtZWI3MC00NTkzLWJiNDAtNGM2YTgxMzA4OTNkIiwidCI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDNmNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9 https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiMGM0OGQwYzQtZWI3MC00NTkzLWJiNDAtNGM2YTgxMzA4OTNkIiwidCI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDNmNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9 https://www.justica.gov.br/sua-seguranca/seguranca-publica/ribpg/ proporcional ao crescimento do número de coincidências e, consequentemente, de investigações auxiliadas. Apesar do aumento linear, os dados ao longo dos anos demonstram que a funcionalidade dos bancos de perfis genéticos como valiosa ferramenta de investigação criminal e auxílio ao judiciário ainda é subutilizada pela segurança pública brasileira. Espera-se que com o crescimento expressivo de inserção de perfis genéticos de indivíduos cadastrados criminalmente e o processamento e inserção de perfis genéticos obtidos vestígios, seja locais de crimes contra a vida, sexuais ou patrimônio, a contribuição da RIBPG como ferramenta para identificação de crimes em série, identificação de possíveis autores de delitos e, ainda, permitir a revisão de condenações de inocentes injustamente acusados seja cada vez mais consolidada. A EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL Devido ao aumento do uso do DNA forense em todo o mundo, cada vez mais países utilizam bancos de dados nacionais para armazenar, gerenciar e comparar seus perfis genéticos. Em meados da década de 1990, quando foram criados os primeiros bancos de dados sobre DNA, as vantagens que podiam oferecer no campo da investigação policial não foram totalmente apreciadas. Inicialmente, muitos países limitaram a introdução de perfis de DNA em seus bancos de dados nacionais, dependendo do tipo de local do crime de onde foram coletadas amostras biológicas (por exemplo, crimes violentos). Critérios relativos à introdução de perfis individuais na base de dados também foram aplicados; por exemplo, os criminosos acusados deveriam ter sido condenados a uma sentença mínima de prisão. Muitos países estenderam os critérios para incluir mais tipos de crimes e perfis de pessoas, critérios que em alguns países podem cobrir qualquer falta que crie um registro policial. Da mesma forma, em muitos países, os critérios para a introdução do perfil de um indivíduo não se limitam aos réus criminais, mas também podem incluir suspeitos. Os países também usam bancos de dados nacionais de DNA para fazer comparações com outras categorias de perfis, como cadáveres a serem identificados e pessoas desaparecidas. Quanto maior a inserção de perfis genéticos de indivíduos cadastrados criminalmente, seja de condenados ou suspeitos, no banco de dados nacional, maior será a taxa de detecção de crimes no país. Portanto, não há dúvida de que os bancos de dados de perfis genéticos podem ser usados para resolver crimes em série, como estupros, homicídios, furtos em residências ou roubos de veículos, que geralmente são muito difíceis de resolver por outros meios. Pesquisas sobre os bancos de dados de perfis genéticos também mostraram que os agressores geralmente não se limitam a cometer apenas um tipo de crime. Por exemplo, foram encontradas coincidências entre perfis genéticos vinculados a crimes violentos, como estupros e homicídios, com perfis oriundos de criminosos que cometeram crimes mais leves, como roubo As instituições de segurança pública que utilizam os bancos de dados de DNA perceberam imediatamente o seu grande potencial. Este progresso tem repercussões do ponto de vista político, uma vez que implica em uma adequação da legislação relativa aos crimes ou as pessoas a respeito de quais situações deve- se armazenar perfis genéticos em bancos de dados. Isso também levou a um aumento considerável no tamanho dos bancos de dados na última década. Periodicamente, a INTERPOL realiza uma pesquisa global para monitorar o uso da genética forense e dos bancos de perfis genéticos a nível global. Em fevereiro de 2019, os 194 escritórios da INTERPOL foram instados a fornecer suas estatísticas nacionais referentes ao período até 2018. Um total de 108 países membros (56%) responderam à pesquisa. Essas respostas foram compiladas e adicionadas aos dados fornecidos para pesquisas anteriores da INTERPOL. O relatório informa que um total de 111 países relataram usar exames de DNA em investigações criminais, dos quais 84 países possuem um banco de dados nacional. Em 2018, havia um total estimado de 35.475.671 perfis genéticos armazenados nestes países. Figura: Países membros da INTERPOL em 2019. Região Número de países utilizando exames de DNA em investigações Número de países utilizando bancos de perfis genéticos Africa 15 7 Américas 17 15 Asia e sul do Pacífico 31 20 Europa 48 42 TOTAL 111 84 Tabela: Número de países que utilizam perfis genéticos e/ou bancos de dados por região. EXPERIÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS E ALEMANHA Entre os dias 25 e 26/05/2017, o Supremo Tribunal Federal realizou uma audiência pública para discutir aspectos técnicos a respeito da coleta de DNA aplicada à investigação forense. Na ocasião foram convidados palestrantes internacionais para compartilhar de suas experiências. Dentre eles, o Dr. Douglas Hares, perito criminal do Federal Bureau of Investigation (FBI), que foi o administrador do banco de dados norte-americano por 11 anos. Também palestrou o Dr. Ingo Bastisch, diretor do Laboratório de DNA do Bundeskriminalamt (BKA) alemão e chairman do Interpol DNA Monitoring Expert Group. Os textos que se seguem foram baseados em suas falas durante o referido evento. A Experiência nos Estados Unidos Texto adaptado da palestra do Dr. Douglas Hares, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=IYRedqA8pHw https://www.youtube.com/watch?v=IYRedqA8pHw Figura: Dr. Douglas Hares durante audiência pública no STF em 2017. No final da década de 1980, o DNA tornou-se muito popular. A partir de então, os estados americanos começaram a aprovar leis nos EUA para coleta de material biológico e inserção de perfis genéticos em banco de dados no final da década de 1980. O FBI entendeu a importância do DNA e vislumbrou a importância de realizar um projeto visando o intercâmbio de informações genéticas entre os estados com o objetivo de resolver crimes. Tal projeto iniciou-se em 1990. Em 1991 o FBI publicou as primeiras diretrizes normativas. Eles queriam ter certeza de que os estados que iniciaram seus programas de DNA se alinhavam com o que o Governo Federal queria fazer. Então, estas diretrizes abordavam temas como: as informaçõesque eram estocadas, a importância da privacidade dos dados e o controle de segurança do laboratório. A primeira lei sobre banco de dados de DNA foi chamada de Lei de Identificação de DNA (DNA Identification Act) de 1994. Permitiu ao FBI estabelecer o banco de dados nacional e também criou um conselho para criar padrões mínimos de qualidade para os laboratórios forenses. A partir disto foi publicada em 1996 a "Lei de Privacidade", onde se definiu onde seriam guardados os perfis genéticos e as informações de identificação pessoal. No banco de dados não poderia ser mantida nenhuma informação identificadora do doador além do próprio perfil genético. Então, em outubro de 1998, a primeira versão do software CODIS tornou-se operacional, onde foram inseridas todas as informações genéticas de nove estados norte-americanos. Os estados tinham que atender a certos requisitos de qualidade para enviar perfis ao banco de dados nacional. Atualmente todos os cinquenta estados compartilham perfis genéticos através do banco nacional. O FBI criou este banco de dados, contudo a inserção de perfis genéticos de criminosos não foi permitida até o ano 2000, quando foram aprovadas mudanças no Código Penal Federal através do Criminal Justice Integrity and Law Enforcement Assistance Act. Desde então, foram expandidas as leis de coleta. Em 2004, foi definido que os laboratórios deveriam passar por processos de acreditação, bem como adicionaram todos os crimes no rol de coletas. Em 2005, ampliou-se o escopo para os presos federais, para serem incluídos nesse banco de dados. Também se determinou que amostras usadas para exclusão não seriam permitidas no banco de dados. Além disto foi criado um sistema de checagem para que não houvesse erros. Tal checagem era feita antes de liberar as informações sobre os casos. Leis estaduais começaram a ser aprovadas mesmo antes da lei federal. Mas uma das coisas que foi percebida, inicialmente, é que as leis abarcavam pessoas que eram sentenciadas por ofensas sexuais. Depois, isso foi expandido para crimes violentos. Mas os tipos criminais continuaram a ser ampliados continuamente e atualmente se coleta inclusive em casos de roubos e todos os outros crimes nos 50 estados. Por conta da preocupação sobre a privacidade, apenas quatro informações são mantidas nos bancos de dados: 1. o perfil genético; 2. o laboratório responsável por aquele perfil; 3. algum tipo de código numérico para o perfil (um número de identificação) e; 4. o analista responsável pela análise. Também, a lei determinou como se daria o acesso aos dados genéticos e todas as agências do governo acabaram se alinhando com isso. Em resumo, no transcorrer de todo este tempo, desde a publicação da primeira lei, os seguintes pontos foram alcançados: • Criou-se um comitê gestor, desenhado com a participação de cientistas, advogados, juízes e especialistas em segurança, visando criar padrões mínimos de qualidade. • O FBI foi autorizado a criar o índice nacional de DNA e também foi especificado que dados são elegíveis para inserção. • Foi imposto um mínimo de requisitos para assegurar a qualidade e se iniciou um teste de proficiência interlaboratorial. • Foram incluídos também requisitos de acreditação e auditoria. • Restringiu-se o acesso aos dados e também requeriu-se que se a condenação for eliminada ou revertida, os dados genéticos também deverão ser retirados dos bancos de dados. • Se definiram penalidades para possíveis casos de divulgação da informação genética. • Para a genotipagem foram criadas diretrizes de interpretação. A existência destes requisitos mínimos significa dizer que, se o laboratório atender a esses padrões ele estará apto a inserir perfis no banco de dados. • Criou-se um Manual de Procedimentos Operacionais e todos devem seguir esses procedimentos determinados pelo FBI. Os laboratórios são auditados, com relação a esses padrões a cada dois anos, e eles têm que submeter as ações corretivas da auditoria para o FBI, para que se possa assegurar que os laboratórios estão aplicando os procedimentos apropriadamente. Com relação às coletas permitidas em lei nos Estados Unidos, em 2017, existia a seguinte situação: • Todos os 50 estados coletam o material dos condenados por todo e qualquer crime que seja punível com um ano ou mais em prisão (considerados crimes graves ou felony). • No caso de contravenções, que são punidas com penas de menos de um ano, trinta e três estados aprovaram leis para coletar material biológico destes condenados. • Trinta e um estados aprovaram leis onde uma amostra pode ser coletada após o indiciamento Em 2017, o banco de dados norte-americano possuía quase duzentos laboratórios integrados. Eles são colocados em três diferentes níveis. Em um primeiro nível local existem os laboratórios criminais das grandes cidades americanas, que servem às próprias cidades e às suas áreas metropolitanas. Eles usam o sistema para comparar cena de crime contra a cena de crime nas suas jurisdições. Esses dados são levados até o nível estadual e, neste segundo nível, eles são comparados com dados de outras cidades dentro do mesmo estado, para que eles possam comparar crimes em cidades diferentes. O terceiro nível é o nível nacional, onde se compara todos os perfis de um estado com os outros estados, para que se possa vincular cenas de crime num estado com referências em outro estado e resolver crimes; ou cenas de crime em um estado com cenas de crime em outro estado para se averiguar crimes seriais. Verificava-se em 2017 que 85% das coincidências (matches) ocorrem dentro do próprio estado e que 15% das coincidências (matches) ocorrem em um nível nacional (entre estados). Em 2017, o banco de dados norte-americano possuía mais de 12 milhões de perfis, sendo quase 3 milhões de perfis de presos e mais de 770 mil perfis forenses. Ao longo de 20 anos foram acrescentados quase 600 mil perfis anualmente. Estima-se que o banco de dados já tenha auxiliado 358 mil investigações nos Estados Unidos. Atualmente são em torno de 3 mil investigações auxiliadas/mês. O FBI disponibiliza informações sobre os padrões de qualidade, o manual de procedimentos operacionais e perguntas feitas frequentemente no endereço eletrônico https://www.fbi.gov/services/laboratory/biometric-analysis/codis. Perguntas ao Dr. Douglas Hares Pergunta: Em sua opinião, qual a importância do uso do DNA quando se trata de reincidência, ou seja, pessoas que cometem diversas vezes o mesmo delito, especialmente a importância disso quando o delinquente, o criminoso tem certos perfis psicológicos que, em princípio, talvez, tenderiam a se repetir. Resposta: Bom, nós vimos algumas coisas acontecerem nos Estados Unidos. Uma coisa que nós notamos, e especialmente com roubo e com invasão domiciliar: eles repetem esse crime várias vezes. E o que nós vemos aqui é que eles ficam mais sérios uma vez que eles repetem esses crimes. Então, se nós pudermos interrompê- los antes, nós podemos impedir esses futuros crimes. E é por isso que nós fazemos a coleta de perfis desses criminosos que comente roubos, para poder utilizar esses dados e identificar quem são esses criminosos em série, para não deixar que eles aconteçam novamente. E esse crime acontece com frequência nos Estados Unidos. Estupro é outro crime grave nos EUA. E nós vemos isso também. Um caso que me vem à memória toda vez que penso sobre estupro é um caso que, de fato, aconteceu na década de 1970. Mas eles foram capazes de voltar e encontrar algumas evidências desse caso e testá-lo. Havia uma série de estupros graves e todos tinham o mesmo perfil. Finalmente, essa pessoa realmente tentou comprar uma arma na década de 1990, e temos muitas verificações de antecedentes pessoais quando você compra uma arma. E eles descobriram que ele era um foragido desde a década de 1970.Quando eles analisaram sua amostra na base de dados, indicou 31 vezes. Foram 31 crimes que não foram resolvidos, todos estupros, todos não resolvidos, em 8 estados diferentes. Essa amostra ligou todos os casos. Sabemos que nos EUA temos criminosos em série e, ao ter seu perfil no banco de dados, somos capazes de resolver crimes do futuro e do passado, porque muitas vezes o crime pode ter acontecido antes da tecnologia de DNA estar disponível, como esse caso que, originalmente, começou na década de 70, e os EUA https://www.fbi.gov/services/laboratory/biometric-analysis/codis começou a usar a identificação por DNA mesmo no início dos anos 90. Então, nós temos conseguido resolver tanto crimes do passado como crimes futuros também. Pergunta: Quais são os mecanismos de proteção do cidadão para que ele não tenha, ilicitamente, vasculhados os seus dados genéticos. Quais são as medidas que o sistema tem para evitar que o cidadão seja alvo de uma prática ilegal. Resposta: Bom, duas coisas. O nosso sistema, o nosso banco de dados está ligado a uma agência da lei. Então, não é aberto para qualquer pessoa fora dessa rede que possa acessar esses dados. Assim, nós temos muito cuidado em nossos procedimentos para saber quem são os elegíveis para o banco de dados. Quando entramos, por exemplo, com uma amostra de um crime, tem que ser da cena do crime. Não vamos inserir uma amostra que não esteja na cena do crime, elas não são as evidências que nós estamos procurando. Nós estamos procurando pela arma ou talvez um chapéu descartado, alguma coisa que tenha o perfil da pessoa que, de fato, cometeu o crime, não aquilo que está em volta da cena do crime. Então, depois, temos as proteções dos cidadãos também e isso está na lei federal e na Constituição. Então, não podemos informar um perfil que não esteja numa cena do crime e não podemos compartilhar essas informações com o público também. Esse é o tipo de proteção à privacidade, porque as pessoas podem pedir informações se uma pessoa for julgada. Mas outras pessoas que não estejam no crime não podem ser genotipadas e inseridas. Elas são protegidas pela lei. Pergunta: Quando se captura alguém e tem a indicação de que as amostras são compatíveis, é comum realizar uma nova amostra se ao menos o acusado aceitar? Ou se confia cegamente nos dois dados de arquivo, o coletado na cena do crime e o arquivado no sistema? Resposta: Uma excelente pergunta. Parte do nosso procedimento de confirmação, no qual não entrei em detalhes, é que, quando achamos as compatibilidades, aquela informação é apenas uma pista para conseguir uma outra amostra, porque nós queremos uma amostra coletada diretamente da pessoa e comparar com a cena do crime mais uma vez, para o processo judicial. Esse é parte do nosso procedimento de confirmação que garante que não temos amostras trocadas. Nós solicitamos uma nova amostra. Nos Estado Unidos, o banco de dados não é levado para o julgamento porque mostraria que se condenou previamente ou algo assim. Não queremos que haja um erro de julgamento porque se trouxeram crimes passados. Na maior parte do tempo, não podemos fazer isso nos Estados Unidos. Essa segunda amostra permite prevenir que isso aconteça. Diretamente da pessoa é comparada com a amostra da cena do crime, não com o banco de dados. A Experiência na Alemanha Texto adaptado da palestra do Dr. Ingo Bastisch, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=IYRedqA8pHw Figura: Dr. Ingo Bastisch, durante audiência pública no STF em 2017. https://www.youtube.com/watch?v=IYRedqA8pHw O uso da tecnologia de DNA é parte do trabalho diário da Polícia e do Sistema Judicial, e é muito aceito em todos os países europeus. Esse método permite a investigação de crimes e o processo de um número de crimes que, sem o uso do DNA, não poderiam ser investigados e resolvidos. Também é demonstrado que o DNA não é só utilizado com a capacidade de resolver crimes, o uso mais extenso do DNA pode também prevenir crimes. Analisando-se a legislação europeia com relação aos tipos de crimes que se permitem incluir no banco de dados, verifica-se que as leis variam muito de país para país. Isso é parte da história, parte das Constituições diferentes, e é parte do processo de discussão na sociedade. Mas pode-se verificar que nos Estados Unidos e na Europa, quando a análise de DNA começou a incluir crimes de menor potencial ofensivo, foi uma história bem-sucedida. Isso permitiu a inclusão de outros tipos criminais, porque não somente os crimes mais graves fazem parte do trabalho policial e do sistema judiciário. Até mesmo no nível da União Europeia foi reconhecido que o uso da tecnologia de DNA é bem-sucedido. Quando a Europa abriu as suas fronteiras foi previsto que isso não somente levaria as pessoas comuns a viajarem mais facilmente de um país para o outro, mas o crime também se moveria de um país para o outro mais facilmente. Isso cria a possibilidade de troca de dados entre os países. A Alemanha e a legislação alemã são exemplos do que ocorre em muitos outros países europeus. Já em 1990, a Suprema Corte alemã determinou que fazer a análise de DNA somente na região não codificante do genoma humano é algo admissível e que só poderia ser usado para procedimentos nos tribunais. Esse foi um primeiro passo relativo ao uso da tecnologia de DNA. Cinco anos depois, o Tribunal Constitucional Federal determinou que essa análise não violava os direitos humanos e, por isso, estava de acordo com a Constituição, mas era restrita somente à parte não codificante do genoma. Contudo, quando você interfere nos direitos humanos, você tem que aprovar uma lei. E isso foi feito pelos legisladores na ocasião. A legislação do DNA faz parte do Código de Processo Penal alemão, que foi alterado no ano de 1997, e introduziu a análise do DNA de acordo com o Adendo nº 81, que já coletava amostras de pessoas. Assim, houve uma base legal para a primeira lei visando que a análise de DNA fosse usada apenas para propósitos de identificação. Também foi excluído o uso de informação genética codificante, utilizando genes que permitissem a previsão de qualquer situação médica ou aparência física. E uma terceira restrição foi que a análise de DNA só poderia ser realizada quando fosse ordenada por um juiz. Naquela ocasião, a ordem judicial era também necessária para amostras de vestígios coletadas nas cenas de crimes, o que foi mudado no transcorrer do tempo. Primeiramente se registra que na Alemanha o banco de dados de DNA é considerado uma ferramenta de investigação. E é uma regra geral no país que o conhecimento forense e a investigação devem ser separados para que o conhecimento forense não seja enviesado. E, para ser menos enviesado ainda, as amostras recebidas no laboratório são pseudonominadas: não são designadas pelo nome, somente pelas iniciais e pelo ano de nascimento. Assim, para qualquer investigação criminal o uso da evidência de DNA é geralmente permitido. Entre 1997 e 1998 houve alguns casos de crimes sexuais na Alemanha, onde jovens garotas, em torno de dez a onze anos de idade, foram estupradas e mortas. Tais casos atraíram muita atenção pública. Houve um desejo geral da mídia e da população de que essa tecnologia de DNA fosse disponibilizada para que o país fizesse mais para prevenir os crimes. Então, o que aconteceu foi que o Governo criou uma lei permitindo a obtenção de perfis genéticos. E o Ministro do Interior implementou tal banco de dados, tendo como ideia principal a prevenção e a resolução de crimes futuros. Isso incluía também a possibilidade de inserir as amostras de DNA e dos perfis de DNA de ofensores já previamente condenados. Ainda se manteve a necessidade de uma fundamentação legal para a inserção do perfil genético de uma pessoa. Na ocasião, só se admitia a inserção mediante um crime de significaçãosubstancial. Tal situação era decidida por um juiz, o qual avaliaria o procedimento a ser adotado. Para estar no banco de dados deve-se atender a alguns requisitos, o que significa dizer que o indivíduo incluído no banco de dados deve ter algum histórico criminal que permita inferir uma perspectiva de que essa pessoa pode cometer novos crimes no futuro. Ou seja, não é porque uma pessoa simplesmente cometeu um crime que será inserida em bancos de dados. Deve haver mais informação sobre essa pessoa, como uma avaliação de risco, e então o indivíduo pode ser inserido no banco de dados. Isto também está conectado com o histórico policial da pessoa, por exemplo: quando o histórico policial de uma pessoa é apagado, isso apaga automaticamente o seu perfil no banco de dados. Alguns anos depois, em 2000/2001, houve uma decisão pelo Tribunal Constitucional Federal, mais uma vez confirmando que a análise do DNA era constitucional. Mas eles também se manifestaram, especialmente a respeito das possibilidades futuras de um novo crime que, aí, os juízes precisariam fazer uma avaliação melhor e decidir se as pessoas deveriam ser incluídas no banco de dados. Em 2002, a Corte Constitucional Federal também deixou claro que o perfil de DNA não era um perfil da personalidade e sim apenas um código individualizador. Mais tarde, devido ao sucesso do DNA, o Código de Crimes Sexuais foi emendado novamente, e o que aconteceu foi que isso facilitou a inclusão de todos os crimes, de todos os tipos de ofensores criminais no banco de dados, mais uma vez sob justificativa, e incluindo a possibilidade do marcador sexual, que não era regulado pela lei anterior. Em novembro de 2005 uma nova emenda ocorreu e foi permitida a inclusão de voluntários no banco de dados, o que tem sido aplicado em alguns dos nossos estados, mas não foi regulamentado por lei. Essa é uma área nebulosa ainda, onde os legisladores deixaram bem claro que teria que haver uma permissão escrita para a inclusão no banco de dados sem a ordem de um juiz. Também foi baixado o limite do nível do crime: foi considerado que não necessitava ser um crime de significação substanciosa, mas poderia ser um número maior de pequenos crimes que todos juntos fossem comparáveis a um crime de significação mais substanciosa. Além disso, na lei também foi incluída a possibilidade de uma coleta em massa. Apesar de voluntária, essa coleta em massa tem uma boa taxa de sucesso. Há anos atrás foi realizado um levantamento e constatou-se que de 60% a 70% dessas coletas levaram ao criminoso verdadeiro. O conteúdo do banco de dados alemão inclui pessoas acusadas, condenados e vestígios coletados nos locais de crime. Também existem perfis de pessoas desaparecidas, mas num banco de dados separado, sem conexão com o banco de dados criminal. Os dados genéticos seguem as leis aplicáveis e são checados, sendo mantidos por dez anos, para adultos, ou cinco anos, para menores. Isso não significa que os dados são apagados automaticamente após esse prazo, mas será checado se tal indivíduo ainda está ativo criminalmente e se o registro policial ainda existe. Em caso contrário, o dado genético deverá ser apagado. Com relação às bases legais da legislação alemã, temos: • Para o exame físico, se coleta o material oral pela polícia. Não é necessário ser feito por um perito, pois todos são instruídos sobre como realizar tal procedimento. • Se o indivíduo se nega a fornecer a amostra, não há nenhum problema; se um juiz ordenar, a pessoa é levada a um médico para tirar uma amostra sanguínea sem a autorização ou sem a permissão escrita. • Uma vez a amostra sendo coletada e usada, ela deve ser destruída. • Ainda existe a possibilidade de coletar amostras de vítimas ou de testemunhas, mesmo se elas não derem a permissão. Mas geralmente isto não acontece, porque as vítimas e as testemunhas normalmente são bastante colaboradoras e permitem a coleta. • A Seção E-81 determina que o material coletado pode ser usado para exames genéticos por duas razões: primeiro, para determinar a descendência e, segundo, para ter certeza se os vestígios encontrados na cena do crime são originados do indivíduo. E deve-se expressar explicitamente que nenhum outro achado deve ser feito. A inserção de perfis genéticos no banco de dados da Alemanha iniciou-se em 1998 e vem evoluindo desde então. Atualmente ultrapassa um milhão de perfis, incluindo mais de 850 mil indivíduos e amostras de 350 mil locais de crimes. No total existem em torno de 240 mil coincidência (matches) registradas. Na sua maioria, coincidências entre vestígios coletados na cena do crime e de indivíduos que tiveram sua amostra coletada. A cada três amostras inseridas no banco de dados há a coincidência com um indivíduo registrado. A troca de informações na Europa também foi favorecida pelo Tratado de Prüm (Prüm Convention), muito famoso no mundo das ciências forenses, e que foi concebido para auxiliar a investigação criminal com o intercâmbio de perfis genéticos e outros dados. E, assim, o sucesso começou com os primeiros testes entre a Áustria e a Alemanha, onde houve mais de mil coincidências (matches). O mesmo pode ser acessado em https://ec.europa.eu/anti- fraud/sites/antifraud/files/docs/body/prumtr.pdf. Figura: Países participantes do Tratado de Prüm: em azul, os países signatários; em amarelo, outros países da União Européia; em laranja, países não membros da União Européia que também participam do tratado. https://ec.europa.eu/anti-fraud/sites/antifraud/files/docs/body/prumtr.pdf https://ec.europa.eu/anti-fraud/sites/antifraud/files/docs/body/prumtr.pdf Perguntas ao Dr. Ingo Bastisch A Polícia alemã confia cegamente nos seus arquivos ou, havendo a comparação e um resultado positivo, ela retoma a amostra daquele que seria suspeitamente criminoso para fazer nova comparação? Eu posso explicar o nosso procedimento um pouquinho mais. O que acontece quando nós temos uma coincidência no banco de dados é que, inicialmente, o match volta para o laboratório ou laboratórios que geraram o perfil e eles checam os arquivos, verificam se não houve, por exemplo, uma troca, uma contaminação, no caminho entre o laboratório até o banco de dados. Eles checam se o dado é consistente e se existe alguma contradição. E, aí, a informação é depois enviada à investigação. A coleta de uma segunda amostra não é obrigatória. Os advogados podem solicitar, se necessário, mas isso acontece muito raramente. Existem alguns estados onde o promotor quer ter isso de forma generalizada, mas essa é uma prática que é determinada pelas unidades federativas, não é determinada pela lei. Ou seja, há a possibilidade de fazer o exame de novo, se for necessário, mas não é um procedimento regular, é só em caso de exceção. Pela lei alemã, só se armazena a parte não codificante do DNA. Poderia explicar os motivos disso? Qual a diferença entre a região codificante e a não codificante e os motivos pelos quais só se armazena essa parte? Isso tem a ver com a privacidade do cidadão? Sim, isso tem a ver com a privacidade do cidadão e tem a ver com uma das primeiras decisões do nosso Tribunal Constitucional, porque eles afirmaram que é constitucional se for a parte não codificante. Então, é claro que a razão é a privacidade. Se você olhar para os genes, é muito difícil dizer, sob uma perspectiva biológica, quais são os genes e o que realmente significam. Um gene pode sempre significar uma característica física e psicológica, e você tem que olhar de forma mais cuidadosa sobre o que você pode ou não pode fazer. O propósito da lei é a identificação. Para a identificação, você não precisa entrar nos genes. É até mesmo melhor não entrar nos genes, porque os genes mostram mais similaridades entre os indivíduos que a região não codificante. CONCLUINDO Os bancos de dados de perfis genéticossão ferramentas usadas amplamente em todo o mundo e que tem se mostrado muito eficientes nos objetivos aos quais se propõem. Na área criminal, apresentam-se como excelentes ferramentas de investigação, acessíveis e eficazes, servindo tanto para apontar os culpados por determinado delito quanto para inocentar indivíduos injustamente acusados. Neste sentido, os bancos de dados de perfis genéticos auxiliam na promoção da Justiça e na eficiência do trabalho policial. Neste cenário, o Brasil não tem se mantido à parte. A legislação nacional se adaptou à nova realidade mundial e a cada ano o crescimento da RIBPG é notado. A evolução dos bancos de dados de perfis genéticos no Brasil é constante e os números cada vez maiores de perfis genéticos e matches no Banco Nacional de Perfis Genéticos são uma prova disto. Contudo os desafios são grandes se quisermos que os bancos de dados brasileiros se aproximem em número e eficiência aos bancos de dados de países mais desenvolvidos. O caminho é longo, porém possível, desde que haja a disseminação deste conhecimento e o efetivo e adequado uso dos bancos de dados, bem como o abastecimento constante dos mesmos com perfis genéticos conforme a legislação brasileira. Você agora é um agente disseminador destas informações e parte integrante deste processo! Divulgue, aplique e promova os conhecimentos adquiridos neste curso! REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS INTERPOL. Global DNA Profiling Survey Results. 2019. Disponível em: https://www.interpol.int/How-we-work/Forensics/DNA RIBPG. Relatórios Semestrais. Disponíveis em: https://www.justica.gov.br/sua- seguranca/seguranca-publica/ribpg/relatorio SINESP. Dados do Banco Nacional de Perfis Genéticos. Disponível em: https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiMGM0OGQwYzQtZWI3MC00NTkzLWJiN DAtNGM2YTgxMzA4OTNkIiwidCI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDNmNy05MWYyL TRiOGRhNmJmZThlMSJ9 TV JUSTIÇA. Audiência Pública STF - Coleta de material genético de condenados. 2017. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=IYRedqA8pHw https://www.interpol.int/How-we-work/Forensics/DNA https://www.justica.gov.br/sua-seguranca/seguranca-publica/ribpg/relatorio https://www.justica.gov.br/sua-seguranca/seguranca-publica/ribpg/relatorio https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiMGM0OGQwYzQtZWI3MC00NTkzLWJiNDAtNGM2YTgxMzA4OTNkIiwidCI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDNmNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9 https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiMGM0OGQwYzQtZWI3MC00NTkzLWJiNDAtNGM2YTgxMzA4OTNkIiwidCI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDNmNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9 https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiMGM0OGQwYzQtZWI3MC00NTkzLWJiNDAtNGM2YTgxMzA4OTNkIiwidCI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDNmNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9 https://www.youtube.com/watch?v=IYRedqA8pHw
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