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08/02/2023 16:25 lddkls221_teo_inv_cri https://colaboraread.com.br/integracaoAlgetec/index?usuarioEmail=geilmaarmil2019%40gmail.com&usuarioNome=GEILMA+AZEVEDO+DA+SILVA&disciplinaDescricao=TEORIA+DA+INVESTIGAÇÃO+CRIMINAL&… 1/7 NÃO PODE FALTAR ASPECTOS HISTÓRICOS Kheyder Loyola Imprimir PRATICAR PARA APRENDER O processo investigativo, com o passar dos anos, sofreu diversas mudanças, desenvolvendo-se para melhor se adequar as nuances políticas e sociais. A �m de ampliar nossos conhecimentos relativos ao tema, é indispensável procedermos a uma análise acurada no que concerne à evolução histórica da investigação criminal. Nesta aula, abordaremos os processos investigativos adotados na antiguidade e como o sistema de produção probatória funcionava nos primórdios da vida em sociedade. Analisaremos, do ponto de vista histórico, o desenvolvimento das investigações criminais no Brasil, desde sua aplicabilidade durante as Ordenações do Reino, passando pelo Código Criminal do Império e culminando nos processos investigativos previstos na Constituição de 1988. Por meio desta aula, pretende-se ampliar os conhecimentos históricos relativos à investigação criminal, possibilitando o correto entendimento quanto às in�uências que as legislações antigas exerceram sobre os procedimentos atuais. Imagine a situação hipotética em que você foi procurado, no ano e 1831, para defender uma pessoa acusada de estupro, porém, soube que, para haver a con�ssão do crime, o acusado, seu cliente, passou por um processo inquisitorial focado na tortura. De posse dos elementos de defesa da época (se é que existem), apresente uma solução de defesa. CONCEITO-CHAVE INVESTIGAÇÃO CRIMINAL NA ANTIGUIDADE 0 V e r a n o ta çõ e s 08/02/2023 16:25 lddkls221_teo_inv_cri https://colaboraread.com.br/integracaoAlgetec/index?usuarioEmail=geilmaarmil2019%40gmail.com&usuarioNome=GEILMA+AZEVEDO+DA+SILVA&disciplinaDescricao=TEORIA+DA+INVESTIGAÇÃO+CRIMINAL&… 2/7 Ao buscar informações relativas às investigações criminais na Antiguidade, é possível encontrar traços dela em 4000 a.C., no antigo Egito onde os Magiaí eram responsáveis por colher as acusações e adotar as providências que entendessem necessárias para elucidação dos fatos. Os Magiaí eram conhecidos como procuradores do rei (ou mesmo, olhos e língua do rei) e, além de servirem de agentes responsáveis pelas investigações criminais, também aplicavam os castigos necessários à punição dos delitos. No ano de 1754 a.C., o rei Hamurabi, da Babilônia, editou o Código de Hamurabi, com 282 artigos, o qual já deixava clara a importância da investigação criminal para realização de uma acusação, expondo, logo em seu primeiro artigo, que “se um awllum acusou um awllum e lançou sobre ele (suspeita de) morte, mas não pôde comprovar: o seu acusador será morto”. É importante destacar que Emanuel Bouzon (1980, p. 25) ao traçar comentários sobre o Código de Hamurabi, frisou que, na Babilônia o termo awllum era usado para descrever o homem livre e que gozava de seus direitos. Na antiga Grécia, o sistema penal era baseado na acusação popular; a Helieia (tribunal) era composta por 500 membros, escolhidos por sorteio, dentre os cidadãos com mais de 30 anos. Na ágora (praça pública onde se realizada a Helieia), qualquer cidadão poderia sustentar uma acusação e, assim, tanto a defesa quanto a acusação possuíam o ônus da prova, ou seja, a investigação criminal no período não era competência exclusiva do Estado, mas de todos os interessados. Já no Direito Romano, a �gura dos pater famílias era detentora de toda autoridade, dessa forma, cabia a ele investigar, apurar os fatos e impor a sanção que considerasse necessária a qualquer membro de seu grupo. Já na idade média, a Direito Canônico passou a ter fortes in�uências sobre a persecução penal e o processo investigativo em si, sendo que, a partir do ano 1184, passaram a vigorar as chamadas Bulas Inquisitoriais: Ad Abolendam e Vergentis in Senium, sendo que a segunda, editada pelo Papa Inocêncio III, no ano de 1199, deu início à investigação inquisitiva e equiparou o crime de heresia ao crime de traição ao rei. 0 V e r a n o ta çõ e s 08/02/2023 16:25 lddkls221_teo_inv_cri https://colaboraread.com.br/integracaoAlgetec/index?usuarioEmail=geilmaarmil2019%40gmail.com&usuarioNome=GEILMA+AZEVEDO+DA+SILVA&disciplinaDescricao=TEORIA+DA+INVESTIGAÇÃO+CRIMINAL&… 3/7 No período de inquisição católica, surgiu importante �gura para o estudo das investigações criminais, a chamada “denúncia”, que poderia ser equiparada à atual delação, pela qual, caso alguém confessasse seus crimes dentro de determinado período e apontasse os seus comparsas, seria aceito novamente pela igreja. Dessa forma, é possível veri�car que os procedimentos de investigação criminal estão em constante desenvolvimento e que as �guras responsáveis pela persecução penal são alteradas de tempos em tempos, porém, em todos os momentos da história, a investigação criminal sagrou-se como importante instrumento para a busca da justiça, seja com a �nalidade de punir culpados ou mesmo de proteger inocentes. ORDENAÇÕES DO REINO No Brasil pré-colonial, ante a inexistência de um sistema jurídico próprio ou de regras relativas aos procedimentos de persecução penal, adotavam-se as leis de Portugal, as quais possuíam a denominação de Ordenações do Reino e sofriam fortes in�uências do Direito Canônico. Para o estudo relativo às investigações criminais no Brasil, existiram 3 ordenações importantes, sendo elas: as Ordenações Afonsinas (1446-1521); as Ordenações Manuelinas (1521-1603); e as Ordenações Filipinas (1603-1830). No período em que vigoravam as Ordenações Afonsinas, a investigação criminal era realizada por meio de inquérito, pelo qual o sujeito denunciado por um determinado crime participava de todo o procedimento investigativo. Exceção ao inquérito era a realização da chamada “devassa”, iniciado de ofício e sem a participação do denunciado. Cabe ressaltar que as Ordenações Afonsinas tiveram pouca ou nenhuma aplicabilidade no Brasil, posto que, em que pese o descobrimento ter se dado em 1500, a colonização efetivamente se deu somente no ano de 1531, época em que já vigoravam as Ordenações Manuelinas. No período compreendido entre 1521-1603, as Ordenações Manuelinas é que determinavam os rumos da persecução penal em solo brasileiro. O procedimento criminal tinha início com as querelas juradas, denúncias ou devassas. 0 V e r a n o ta çõ e s 08/02/2023 16:25 lddkls221_teo_inv_cri https://colaboraread.com.br/integracaoAlgetec/index?usuarioEmail=geilmaarmil2019%40gmail.com&usuarioNome=GEILMA+AZEVEDO+DA+SILVA&disciplinaDescricao=TEORIA+DA+INVESTIGAÇÃO+CRIMINAL&… 4/7 Por �m, nas Ordenações Filipinas de 1603, as investigações criminais tinham início com denúncias perpetradas por particulares, dando origem a devassas ou querelas, de caráter inquisitorial e realizadas, ante a ausência de uma autoridade policial, por membros da sociedade, os quais recebiam ordens dos Alcaides. Nesse período, surgiu ainda a �gura das devassas gerais ou especiais, que tinham por objetivo apurar crimes incertos. Nas querelas e devassas, realizadas sem a presença do denunciado nas investigações, o direito de defesa apenas era concedido na fase de julgamento, ocasião na qual, era oportunizada a apresentação de testemunhas. As Ordenações Filipinas vigoraram até a efetiva promulgação do Código Penal do Império, em 1830, que alterou drasticamente o modelo jurídico adotado no Brasil. O Código Penal do Império teve clara in�uência do movimento liberalista europeu, o que trouxe avanços para o processo investigativo no Brasil. A esse respeito, José Reinaldo Guimarães Carneiro (2007, p. 30), em sua obra O Ministério Público e suas Investigações Independentes, é didático ao a�rmar que: Dessa forma, no que tange à evolução histórica da investigação criminal no Brasil, desde o descobrimento, a aplicação das Ordenações do Reino eseu caráter indubitavelmente opressivo e inquisitório foi claramente superada pelo desenvolvimento da própria sociedade e da forma como a persecução penal passou a ser vista, alcançando, assim, patamares mais próximos do efetivo respeito à dignidade humana e aos direitos fundamentais do indivíduo. A INVESTIGAÇÃO CRIMINAL NA CONSTITUIÇÃO DE 1988 A investigação criminal é o instrumento de que dispõe o Estado para apuração da materialidade e da autoria de um determinado delito. Desde os primórdios, os procedimentos investigativos vêm evoluindo e se desenvolvendo, seja com atuação dos Magiaí, no antigo Egito, das prescrições dadas pelo Rei Hamurabi da Babilônia, pelas in�uências do direito grego e romano O movimento liberalista europeu acabou por implicar re�exos diretos no cenário legislativo e governamental brasileiro, iniciando-se o abandono aos regimes opressores e aos sistemas inquisitivos de investigação e aplicação da legislação penal, os quais desrespeitavam, por inteiro, os mais básicos direitos humanos.“ 0 V e r a n o ta çõ e s 08/02/2023 16:25 lddkls221_teo_inv_cri https://colaboraread.com.br/integracaoAlgetec/index?usuarioEmail=geilmaarmil2019%40gmail.com&usuarioNome=GEILMA+AZEVEDO+DA+SILVA&disciplinaDescricao=TEORIA+DA+INVESTIGAÇÃO+CRIMINAL&… 5/7 ou, até mesmo, pelas experiências cravadas pelo sistema inquisitorial das Ordenações do Reino. Com a promulgação da Constituição de 1988 não foi diferente. O Código de Processo Penal, promulgado em 03 de outubro de 1941, tinha como escopo a segurança pública, sem dar ênfase ao garantismo e proteção de direitos fundamentais; com o advento da Constituição Federal de 1988, os ideais democráticos conquistados no período pós-ditadura fortaleceram-se. A Magna Carta, também chamada de Constituição Cidadã, alterou a própria essência do Processo Penal, que deixou de ser um mero instrumento voltado à aplicação da lei e se converteu em verdadeira ferramenta garantista de proteção ao indivíduo face a persecução penal perpetrada pelo Estado. Com a efetiva promulgação da Constituição Federal, os acusados passaram a ter garantias não apenas durante a instrução processual, mas também na própria fase precedente, como a proibição de tortura e tratamento degradante ou desumano. A respeito de tal premissa, Fauzi Choukr (2006, p. 8) é didático ao tratar do afastamento do modelo inquisitivo e da necessidade de respeito aos direitos do acusado: A investigação criminal é alicerçada em diversos princípios trazidos pelo sistema garantista protegido pela Constituição Cidadã, como a isonomia, o contraditório e a ampla defesa. A �m de dar efetivo cumprimento ao seu papel constitucional, a investigação criminal possui por objetivo evitar acusações infundadas e sem indícios de materialidade ou autoria, até porque o caráter estigmatizante do processo penal persiste mesmo que o acusado seja absolvido ao �nal do procedimento. A respeito do assunto, Salo de Carvalho (2008, p. 82) ensina: A dignidade da pessoa humana como fundamento maior do sistema implica a formação de um processo banhado pela alteridade, ou seja, pelo respeito à presença do outro na relação jurídica, advindo daí a conclusão de afastar-se deste contexto o chamado modelo inquisitivo de processo, abrindo-se espaço para a edi�cação do denominado sistema acusatório. Fundamentalmente aí reside o núcleo de expressão que a�rma que o réu (ou investigado) é sujeito de direitos na relação processual (ou fora dela, desde já na investigação), e não objeto de manipulação do Estado. “ 0 V e r a n o ta çõ e s 08/02/2023 16:25 lddkls221_teo_inv_cri https://colaboraread.com.br/integracaoAlgetec/index?usuarioEmail=geilmaarmil2019%40gmail.com&usuarioNome=GEILMA+AZEVEDO+DA+SILVA&disciplinaDescricao=TEORIA+DA+INVESTIGAÇÃO+CRIMINAL&… 6/7 Ante a tais apontamentos, podemos enfatizar que a evolução histórica da investigação criminal, com o advento da Constituição Federal de 1988, teve claros avanços no sentido garantista, criando um verdadeiro equilíbrio entre a necessidade do Estado na obtenção de indícios de um delito e o respeito aos direitos e garantias fundamentais dos acusados, servindo, dessa forma, de verdadeiro instrumento de proteção à dignidade da pessoa humana. ASSIMILE Alguns autores consideram que os Magiaí seriam a forma inicial do próprio Ministério Público, principalmente ante a sua dupla função no sistema penal egípcio, ou seja, acusador e protetor dos cidadãos. A assimilação deste conteúdo é importante, principalmente para entender sobre a estrutura e o desenvolvimento do próprio Ministério Público e sua atuação no sistema de persecução penal, principalmente no que tange à investigação criminal. REFLITA Ante aos apontamentos realizados no material, cabe a você re�etir se os criminosos merecem tratamento isonômico, independentemente do delito cometido, ou se é possível a relativização de direitos em determinados casos, com a aplicação de um procedimento inquisitivo. EXEMPLIFICANDO A adoção do modelo garantista pela Constituição Federal de 1988 é importante, posto que, com a abolição das penas de tortura pelo advento da Constituição de 1824, que balizou a promulgação do Código Penal do Império, em uma investigação criminal, nos dias de hoje, independente do O modelo garantista pretende instrumentalizar um paradigma de racionalidade do sistema jurídico, criando esquemas tipológicos baseados no máximo grau de tutela dos direitos e na �abilidade do juízo e da legislação, com intuito de limitar o poder punitivo e garantindo a(s) pessoa(s) contra qualquer tipo de violência arbitrária, pública ou privada. Por se tratar de modelo ideal (e ideológico), apresenta inúmeros pressupostos e consequências lógicas e teóricas, negadas ou desquali�cadas por modelos opostos de produção de saber/poder. “ 0 V e r a n o ta çõ e s 08/02/2023 16:25 lddkls221_teo_inv_cri https://colaboraread.com.br/integracaoAlgetec/index?usuarioEmail=geilmaarmil2019%40gmail.com&usuarioNome=GEILMA+AZEVEDO+DA+SILVA&disciplinaDescricao=TEORIA+DA+INVESTIGAÇÃO+CRIMINAL&… 7/7 delito cometido, a utilização de tortura para obtenção de uma con�ssão fatalmente fere a Magna Carta, ensejando a nulidade da prova obtida, além da responsabilidade pelo crime de tortura. Assim, assimilando o conteúdo exposto até aqui, é possível notar que a investigação criminal passou por constante desenvolvimento no decurso dos anos, desde o modelo investigativo adotado no antigo Egito até aquele utilizado nos dias atuais. Parte desse desenvolvimento se deu em decorrência da própria evolução do pensamento social e/ou do modus operandi da criminalidade, que acabou forçando os processos investigativos a se modernizarem. REFERÊNCIAS ALMEIDA, C. M. de. Codigo Philippino, ou, Ordenações e leis do Reino de Portugal: recopiladas por mandado d'El-Rey D. Philippe I. Rio de Janeiro : Typ. do Instituto Philomathico, 1870. Disponível em: https://bit.ly/3F5v3CM. Acesso em: 8 jul. 2021. BOUZON, E. (intr. e com). O código de Hammurabi, 8. ed. Petrópolis: Vozes, 1980. BRASIL. Código Penal do Império. 1830. Disponível em: https://bit.ly/3GOnnFD. Acesso em: 9 jul. 2021. CARNEIRO, J. R. G. O Ministério Público e suas investigações independentes. São Paulo: Malheiros, 2007. CARVALHO, S de. Penas e Garantias. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2008. CHOUKR, F. H. Garantias Constitucionais na Investigação Criminal. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora Lúmen Júris, 2006. COSTA, C. J. et al. História do Direito Português no período das Ordenações Reais. Anais... V Congresso Internacional de História, s.L., p. 2191-2198, 21 a 23 de setembro de 2011. Disponível em: https://bit.ly/3p3dU7r. Acesso em 9 jul. 2021. 0 V e r a n o ta çõ e s http://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/242733 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lim/lim-16-12-1830.htm
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