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Teoria da Investigação Criminal Unidade 1 Prof. Me. Alexandre Melatti • Unidade de Ensino: 1 • Competência da Unidade: Conhecer e analisar os aspectos orgânicos e sistêmicos inerentes a investigação criminal, incluindo seu histórico e princípios aplicáveis • Resumo: aspectos orgânicos e sistêmicos da investigação criminal, com uma abordagem ampla relativa a seus conceitos, previsões legais e classificações. • Palavras-chave: Investigação criminal. Conceito. Previsão Legal. • Título da Teleaula: Introdução à Investigação criminal • Teleaula nº: 1 Conceito Conceito Complexo ato que inaugura a persecução penal. O que significa investigar? A expressão “investigação” vem do latim, investigatione, e traz a ideia de busca, pesquisa, e no processo criminal seria o processo preparatório para a instrução criminal. Visa apurar os fatos, colher provas para esclarecer a autoria e a materialidade. Fonte: https://canalcienciascriminais.jusbrasil.co m.br/artigos/729718179/a-investigacao- policial-em-sede-de-inquerito Conceito A investigação criminal, enquanto fase inaugural da persecução penal, visa a apuração dos fatos que envolvam um delito, com o objetivo de apontar sua materialidade e autoria. Para se garantir, inclusive, os direitos dos investigados, a investigação criminal ganha grande relevância no processo penal. Conceito Conjunto de procedimentos e diligências, de caráter estritamente técnico, que tem por objeto a coleta de evidências destinadas a demonstrar a existência e determinar a autoria de um delito, a fim de que as informações coletadas sejam efetivamente utilizadas durante o processamento e julgamento do feito. Conceito A investigação criminal busca a exposição de fatos aparentemente criminosos, marcando “tríplice funcionalidade”, na apuração desses atos, e tem três funções: evitar imputações infundadas (função garantidora); preservar a prova e os meios de sua obtenção (função preservadora); proporcionar justa causa para a ação penal ou abster sua inauguração (função preparatória ou inibidora do processo criminal). Previsões legais Previsões legais A legislação não traz um conceito acerca da investigação criminal, mas, existe previsão legal. A CF/88 aborda a competência atribuída à Polícia Federal e Civil para apuração de infrações penais; a possibilidade de o Ministério Público requisitar diligências investigatórias e ainda; a possibilidade de violação de sigilo de correspondência ou comunicação telefônica para fins de investigação criminal ou instrução processual penal. Previsão constitucional Polícia Federal: apuração de determinados delitos que afetem direta ou indiretamente os interesses da União ou que possuam repercussão interestadual ou internacional. (Art. 144, §1º, CF) Polícia Civil: funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, ou seja, lhe impõe a competência para investigação dos delitos em geral. (art. 144, §4º, CF) Previsão constitucional Respeito aos direitos fundamentais - art. 5º, XII, CF, como exemplo: É inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal Jurisprudência STF - RE 593.727: competência constitucional do Ministério Público para promover, por autoridade própria, a investigação de natureza penal. O MP possui um instrumento de investigação próprio, denominado Procedimento de Investigação Criminal (PIC), regulamentado pela Resolução 181/17, do CNMP. Previsão legal: CPP Art. 4º: Atribui a função de polícia judiciária às autoridades policiais no território de sua circunscrição, definindo ainda que sua finalidade será a de apurar infrações penais e sua autoria, ou seja, exercer, efetivamente, a atividade investigativa. Previsão legal: Lei 12.830/13 Lei que dispõe sobre a investigação criminal conduzida pelo delegado de polícia: a investigação criminal será conduzida pelo delegado de polícia, por meio de inquérito policial ou outro procedimento, com o intuito de apurar a materialidade e autoria de infrações penais. (art. 2º, §1º) Previsão legal: outras legislações Lei 12.529/11 que atribui o Conselho Administrativo de Defesa Econômica – CADE para apurar infrações econômicas relativas a defesa da concorrência; a Lei 9.605/98, que atribui ao IBAMA a competência para apuração de infrações ambientais; e a Lei 12.846/13 que atribuí a CGU a responsabilidade pela apuração de ilícitos contra a Administração Pública relacionados a Lei Anticorrupção. Classificação Classificação Pode ser classificada de três formas, a depender da sua previsão legal e do órgão competente para realização: Investigação Criminal Constitucional (pura, autêntica por outros autores); Investigação Criminal Derivada; e Investigação Criminal Impura Classificação: Constitucional/pura/autêntica Procedimento comum: previsto constitucionalmente e realizado sob a presidência de um Delegado de Polícia. Efetivada pela Polícia Federal e Polícia Civil, e voltada a apuração de infrações penais comuns (no caso da Polícia Civil) ou que afetem os interesses da União (no caso da Polícia Federal). Classificação: derivada Procedimento especial: Infrações militares: a apuração deve ser realizada pela polícia judiciária militar, segundo previsão do art. 8º do Código de Processo Penal Militar (Lei nº 1.002/1969). Comissões Parlamentares de Inquérito (art. 58, §3º, CF): A Constituição confere poderes de investigação próprios das autoridades judiciais as Comissões Classificação: impura Sem previsão constitucional: Fundamentadas em legislação especial, como as realizadas, por exemplo, pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras – COAF; Conselho Administrativo de Defesa Econômica – CADE ou Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA. Evolução histórica Evolução Histórica Antiguidade: Não era propriamente uma investigação criminal, mas, é possível encontrar traços desta desta em 4.000 a.C no antigo Egito onde os Magiaí (conhecidos como procuradores do rei), eram responsáveis por colher as acusações e adotar as providências que entenderem necessárias para elucidação dos fatos. Evolução Histórica Antiguidade: No ano de 1.754 a.C o rei Hamurabi, da Babilônia, editou o Código de Hamurabi, com 282 artigos, o qual já deixava clara a importância da investigação criminal para realização de uma acusação, expondo logo em seu primeiro artigo que se um cidadão acusou um cidadão e lançou sobre ele (suspeita de) morte mas não pôde comprovar: o seu acusador será morto”. Evolução Histórica Antiguidade: Grécia: o sistema penal era baseado na acusação popular, onde o Tribunal era composto por 500 membros, escolhidos por sorteio, dentre os cidadãos com mais de 30 anos. Direito Romano: a figura dos pater famílias era detentora de toda autoridade, cabendo a ele investigar, apurar os fatos e impor a sanção que considerasse necessária a qualquer membro de seu grupo. Evolução Histórica Idade média: Direito Canônico: importante marco e passou a ter fortes influências sobre a persecução penal e o processo investigativo em si. Nesse período (inquisição católica) surgiu importante figura para a investigação criminal, a chamada “denúncia”, que poderia ser equiparada a atual delação, onde caso alguém confessasse seus crimes dentro de determinado período e apontasse os cúmplices, seria aceito novamente pela igreja. Evolução Histórica: no Brasil Período pré-colonial: inexistência de um sistema jurídico próprio ou de regras relativas aos procedimentos de persecução penal. adotava-se as leis de Portugal,as quais possuíam a denominação de Ordenações do Reino e sofriam fortes influências do Direito Canônico. Evolução Histórica: no Brasil Período pré-colonial: 1521-1603 - Ordenações Manuelinas: O procedimento criminal tinha início com as querelas juradas, denúncias ou devassas. Ordenações Filipinas de 1.603: as investigações criminais tinham início com denúncias perpetradas por particulares, dando origem a devassas ou querelas, de caráter inquisitorial e realizadas, ante a ausência de uma autoridade policial, por membros da sociedade. Evolução Histórica: no Brasil 1830 – Código Penal do Império O Código Penal do Império teve clara influência do movimento liberalista europeu, o que trouxe avanços para o processo investigativo no Brasil. “abandono aos regimes opressores e aos sistemas inquisitivos de investigação e aplicação da legislação penal, os quais desrespeitavam, por inteiro, os mais básicos direitos humanos”. (CARNEIRO, 2007, p. 30) Evolução Histórica: no Brasil Constituição Federal 1988 O Código de Processo Penal (1941) tinha como escopo a segurança pública, sem dar ênfase ao garantismo e proteção de direitos fundamentais. A CF/88 alterou a própria essência do Processo Penal, que deixou de ser um mero instrumento voltado a aplicação da lei e se converteu em verdadeira ferramenta garantista de proteção ao indivíduo face a persecução penal perpetrada pelo Estado. Evolução Histórica: no Brasil Constituição Federal 1988 Com a efetiva promulgação da Constituição Federal, os acusados passaram a ter garantias não apenas durante a instrução processual, mas também, na própria fase precedente, como a proibição de tortura e tratamento degradante ou desumano. A investigação criminal é alicerçada em diversos princípios trazidos pela Constituição, como a isonomia, devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa. Sistemas de investigação criminal Sistemas Inquisitivo Remonta à época das inquisições católicas, as quais tinham por objetivo a investigação e punição daqueles considerados hereges pelo clero. Existe uma acumulação de poderes e responsabilidade em apenas uma pessoa, a qual é responsável por gerir todas as provas, acusar e julgar o infrator. Sistemas Inquisitivo O sistema penal inquisitivo serviu de espécie de reinvindicação do Poder Punitivo pelo próprio Estado, que passou a ter a visão de que a responsabilidade pela punição dos delitos deveria ser sua e não da sociedade. Para este sistema, o infrator não possui desejos, sentimentos ou opiniões, não possui direitos, é considerado como um simples objeto, sem qualquer direito de expor seu lado. Sistemas Inquisitivo No sistema inquisitivo o processo tramitava em sigilo, sendo que nem o réu tinha acesso as provas produzidas contra ele. A acumulação dos poderes relativos a investigação, julgamento e mesmo gestão de provas em um único indivíduo, ocasiona a formação de um pré- julgamento, reduzindo ou mesmo impossibilitando a capacidade de defesa de um sujeito acusado injustamente. Sistemas Acusatório Para a maior parte da doutrina é o sistema aplicado no Brasil, especialmente após a vigência da Lei nº 13.964 de 24 de dezembro de 2019, popularmente chamada de “Pacote Anticrime”. A referida legislação alterou o CPP, e passou a dispor que “o processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na fase de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de acusação”. Sistemas Acusatório Efetiva divisão de responsabilidade e atribuições, sendo que, diferente do sistema inquisitivo, as funções de acusar, defender e julgar são conferidas a pessoas distintas. Marcado pela imparcialidade do magistrado e a garantia efetiva de exercício do contraditório e ampla defesa por parte dos acusados. Sistemas Acusatório Por não ocorrer acumulação das funções em uma única pessoa, esse sistema é eficaz na proteção dos diretos fundamentais do acusado ao garantir a possibilidade da formação do contraditório e ampla defesa de modo a auxiliar no livre convencimento do magistrado. Sistemas Acusatório A CF/88 acolheu expressamente o modelo penal acusatório ao atribuir, em seu art. 129, I, ao Ministério Público a atribuição privativa de propor ações penais públicas, reservando assim ao magistrado o poder de gerenciar o processo, impedindo que este adote qualquer iniciativa que não se alinhe com a equidistâncias que deve ter em relação as partes envolvidas. Sistemas Misto Parte da doutrina entende que esse era o sistema aplicado no Brasil, como, por exemplo, Nucci (2020, p. 114): O sistema adotado no Brasil era o misto; hoje, após a reforma realizada pela Lei 13.964/2019, é o acusatório mitigado. Na Constituição Federal de 1988, foram delineados vários princípios processuais penais, que apontam para um sistema acusatório; entretanto, como mencionado, indicam um sistema acusatório, mas não o impõem. Sistemas Misto O sistema penal misto nada mais é do que um sistema intermediário, entre o modelo inquisitivo e o acusatório, principalmente no que tange a presença da efetiva observância dos princípios e garantias fundamentais, como a presunção de inocência, contraditório e ampla defesa, porém, com traços pertencentes ao sistema inquisitivo, como a produção de provas pelo magistrado e a diminuta publicidade na primeira fase do procedimento. Referências CARNEIRO, José Reinaldo Guimarães. O Ministério Público e suas investigações independentes. São Paulo: Malheiros, 2007. NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de direito processual penal. 17. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020.
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