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48 Unidade II Unidade II 5 EAN NOS DIVERSOS CAMPOS DE ATUAÇÃO DO NUTRICIONISTA NAS POLÍTICAS PÚBLICAS O nutricionista é o profissional capacitado para atuar na assistência à saúde e EAN, conforme podemos ver no inciso VII do art. 3º da Lei n. 8.234/1991, que determina serem atividades privativas do nutricionista a “assistência e educação nutricional a coletividades ou indivíduos, sadios ou enfermos, em instituições públicas e privadas, e em consultórios de nutrição e dietética” (BRASIL, 1991). No entanto, o Marco de Referência de Educação Alimentar e Nutricional para as Políticas Públicas (BRASIL, 2012) propõe que as atividades de EAN podem e devem ser desenvolvidas por vários profissionais das mais diversas áreas, tais como assistência social, enfermagem, pedagogia, desde que essas ações de EAN não envolvam indivíduos ou grupos com alguma doença ou agravo. Isso fica justificado quando entendemos que a EAN requer uma abordagem bem ampla e integrada que reconheça as práticas alimentares dos indivíduos como resultado da disponibilidade e do acesso aos mais diversos alimentos, além de considerar comportamentos, práticas e atitudes envolvidas nas escolhas, nas preferências, nas formas de preparação e no consumo dos alimentos. A Resolução n. 600/2018 do Conselho Federal de Nutricionistas (CFN) define as áreas de atuação do nutricionista, e considera o Marco de Referência de EAN como referencial, corroborando que o nutricionista possui a responsabilidade em atuar na aplicação das ações de EAN enquanto recurso terapêutico em indivíduos ou grupos sadios ou com algum agravo ou doença. Portanto, quando as ações de EAN forem consideradas dentro de um contexto terapêutico, como uma ferramenta para tratar doenças, essas ações devem ser realizadas pelo nutricionista habilitado. Lembrete Outros profissionais que não sejam nutricionistas podem realizar ações de EAN, desde que essas ações não sejam direcionadas a indivíduos enfermos ou já portadores de agravos de saúde. O nutricionista é um profissional da saúde, mas também, em sua prática diária humanizada, atua como um educador nutricional, tendo papel importante como mediador e facilitador das relações com os indivíduos e grupos, utilizando seus conhecimentos técnicos na área de ciências biológicas para auxiliar na formação de novos saberes. Reveja no item 4.3.1 as habilidades necessárias para o educador nutricional atuar como facilitador do processo de mudança. Como já vimos no tópico 4, o nutricionista deve romper com o modelo tradicional e tecnicista de educação, baseado em palestras e na mera transmissão de informação, que considera os sujeitos passivos e vazios de conhecimento útil, e se aproximar do modelo crítico-social e da pedagogia dialógica, que utilizam estratégias pedagógicas 49 EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL participativas, baseadas no diálogo e respeito ao contexto histórico, político e social dos indivíduos, bem como a seus saberes populares (SOUZA; JACOBINA, 2009; TORRES; HORTALE; SCHALL; 2003). Observação Tecnicista é considerada a pessoa que tende a empregar palavras ou expressões de excessiva especificidade técnica. Relembre as correntes pedagógicas mais adequadas para EAN na unidade 1, tópico 4. Como já vimos na unidade 1, tópico 2, que trata do Marco de Referência de EAN, é reconhecida a importância de construir ações educativas utilizando estratégias pedagógicas participativas que englobem as diversas dimensões da alimentação. No entanto, estudos mostram que os temas e estratégias desenvolvidos para trabalhar a temática de EAN em escolas e unidades de saúde estão mais alinhados a uma educação tradicional e tecnicista na perspectiva da promoção da saúde, baseadas na transferência de informação em sua dimensão biológica, e menos voltadas a EAN na multidimensionalidade que o Marco de Referência propõe, com metodologias pouco participativas e não problematizadoras (SANTOS; ALVES, 2015; ASSIS, 2002). A qualificação profissional do nutricionista e seu aprimoramento constante é fator imprescindível para dar subsídios para o profissional intervir nos aspectos de alimentação e nutrição das políticas públicas de saúde. Segundo orientação do CFN (2013, p. 87), é importante que o profissional que trabalhe com políticas públicas: Tenha comprometimento com a visão ampliada de sua ação e com o domínio de habilidades e técnicas específicas que, somadas à sua expertise, permitirão a adoção de abordagens e recursos educacionais problematizadores e ativos, que favoreçam o diálogo junto a indivíduos e grupos populacionais, considerando todas as fases do curso da vida, etapas do sistema alimentar e as interações e significados que compõem o comportamento alimentar. É importante para o profissional adquirir e aprimorar o conhecimento também na área das ciências humanas, para o desenvolvimento de ações educativas que possam ir além de somente palestras e transmissão de informações, favorecendo a construção de pensamento crítico e consciente sobre as escolhas alimentares. Afinal, todo nutricionista é um educador: Educadores, onde estarão? Em que covas terão se escondido? Professores, há aos milhares. Mas o professor é profissão, não é algo que se define por dentro, por amor. Educador, ao contrário, não é profissão; é vocação. E toda vocação nasce de um grande amor, de uma grande esperança (ALVES, 1980, p. 11). 50 Unidade II 5.1 As áreas de atuação do nutricionista As áreas de atuação representam o campo de trabalho em que o nutricionista tem a competência de atuar profissionalmente. O órgão que determina as áreas de atuação é o Conselho Federal de Nutrição (CFN), já que sua função é orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício da profissão. Para isso, foi elaborada a Resolução CFN n. 600, de 25 de fevereiro de 2018, que define as áreas de atuação, subáreas e segmentos, e suas respectivas competências, conforme colocamos a seguir: I. Área de nutrição em alimentação coletiva Competências: planejar, organizar, dirigir, supervisionar e avaliar os serviços de alimentação e nutrição; realizar assistência e educação alimentar e nutricional à coletividade ou a indivíduos sadios ou enfermos em instituições públicas e privadas. II. Área de nutrição clínica Competências: prestar assistência nutricional e dietoterápica; promover educação nutricional; prestar auditoria, consultoria e assessoria em nutrição e dietética; planejar, coordenar, supervisionar e avaliar estudos dietéticos; prescrever suplementos nutricionais; solicitar exames laboratoriais; prestar assistência e treinamento especializado em alimentação e nutrição a coletividade e indivíduos, sadios e enfermos, em instituições públicas e privadas, em consultório de nutrição e dietética e em domicílio. III. Área de nutrição em esportes e exercício físico Competências: avaliar e acompanhar o perfil antropométrico, bioquímico e a composição corporal; elaborar o plano alimentar; manter registro evolutivo; promover a educação e orientação nutricional; estabelecer estratégias de reposição hídrica e energética. IV. Área de nutrição em saúde coletiva Competências: organizar, coordenar, supervisionar e avaliar os serviços de nutrição; prestar assistência dietoterápica e promover a educação alimentar e nutricional a coletividades ou indivíduos, sadios ou enfermos, em instituições públicas ou privadas, e em consultório de nutrição e dietética; atuar no controle de qualidade de gêneros e produtos alimentícios; participar de inspeções sanitárias. V. Área de nutrição na cadeia de produção, na indústria e no comércio de alimentos Competências: elaborar informes técnico-científicos; gerenciar projetos de desenvolvimento de produtos alimentícios; prestar assistência e treinamento especializado em alimentação e nutrição; controlar a qualidade de gêneros e produtos alimentícios; atuar em marketing e desenvolver estudos e trabalhos experimentais em alimentação e nutrição; proceder a análises relativas ao processamento deprodutos alimentícios industrializados; e prestar auditoria, consultoria e assessoria em nutrição e dietética. 51 EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL VI. Área de nutrição no ensino, na pesquisa e na extensão Competências: dirigir, coordenar e supervisionar cursos de graduação em Nutrição; planejar, coordenar, supervisionar e avaliar estudos dietéticos; ensinar matérias profissionais dos cursos de graduação em Nutrição e das disciplinas de nutrição e alimentação nos cursos de graduação da área de saúde e outras afins; realizar estudos e trabalhos experimentais em alimentação e nutrição. Em todos os campos de atuação podemos ver pelos trechos em destaque que as competências indicam, de forma direta ou indireta, o desenvolvimento de EAN. Independentemente do seu campo de atuação, o nutricionista deve ter uma visão ampliada de sua ação, aperfeiçoando sempre sua capacidade para trabalhar em equipe, devendo estar comprometido com a implementação de atividades de promoção e prevenção em saúde individual e coletiva. Independentemente da área em que atua, o nutricionista deve estar preparado para pautar sua ação nas diretrizes das políticas públicas de saúde e suas múltiplas interfaces com a alimentação e nutrição, assim como no entendimento de que sua ação, como profissional de saúde, integra o Sistema Único de Saúde e é parte importante do conjunto de propostas que buscam garantir o exercício do Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA), previsto na Constituição, com vista ao alcance da Segurança Alimentar e Nutricional (SAN). Consolida-se assim o seu papel na equipe de saúde e amplia-se a abrangência de sua ação, preservando sua identidade profissional e o exercício de suas atribuições privativas (CFN, 2013, p. 87). Lembrete Independentemente do seu campo de atuação, o nutricionista deve ter uma visão ampliada de sua ação, trabalhar em equipe, comprometido com a promoção e prevenção em saúde individual e coletiva. 5.2 Políticas públicas em alimentação e nutrição Para promover o bem-estar da sociedade em geral, os governos municipais, estaduais e federais desenvolvem uma série de ações para atuar diretamente em diferentes áreas, tais como saúde, educação, segurança pública e meio ambiente. Para tal, utilizam-se das políticas públicas, que assim podem ser: Políticas Públicas são a totalidade de ações, metas e planos que os governos (nacionais, estaduais ou municipais) traçam para alcançar o bem-estar da sociedade e o interesse público (LOPES; AMARAL; CALDAS, 2008, p. 5). O grande desafio das políticas públicas na área de alimentação e nutrição é conseguir viabilizar um sistema alimentar seguro, produtivo, justo, equitativo e sustentável, que possa atender às necessidades de saúde, culturais e sociais dos indivíduos e da sociedade, contribuindo para a manutenção e o aumento 52 Unidade II da biodiversidade. As políticas de alimentação, segundo Lang, Barling e Caraher (2009) são um ponto de interseção de diversas questões, temas e setores, que, muitas vezes, possuem interesses concorrentes e até antagônicos, como podemos ver na figura 13. Trabalho Consumo Educação Nutrição e saúde Meio ambiente Relações sociais Cultura Políticas públicas Informação e comunicação Ciência e tecnologiaComércio Ética e justiça social Cadeia de abastecimento Política alimentar Figura 13 – Políticas de alimentação como ponto de interseção de temas concorrentes Portanto, a interface entre a saúde, o meio ambiente e as interações sociais é o que deve pautar as políticas públicas na área de alimentação e nutrição. Lembrete As políticas de alimentação são um ponto de interseção de diversas questões, temas e setores, que muitas vezes possuem interesses concorrentes e até contrários. Os problemas alimentares da população brasileira atualmente são diversos e complexos. São um reflexo do dinamismo das relações sociais, culturais, políticas e econômicas. Alguns aspectos fundamentais exercem influência direta no processo de alimentação e nutrição, tais como: a relação entre o ato de comer, os alimentos disponíveis para o consumo e a influência do marketing de alimentos; o discurso da mídia trazendo o alimento como um medicamento e vendendo soluções para problemas de saúde; a inter-relação entre as mudanças climáticas, a degradação do meio ambiente e a produção de alimentos. Todos esses aspectos cooperam para o aumento das doenças crônicas não transmissíveis, as quais são responsáveis por milhares de mortes e agravos de saúde. Para atuar de forma efetiva no combate a esses problemas, as políticas públicas de alimentação e nutrição devem colaborar para a perspectiva de um sistema alimentar comprometido com a sustentabilidade ambiental e com a justiça social, para auxiliar os indivíduos a desenvolverem o ato de alimentar-se como uma prática plena de sentido, no âmbito da sua vida cotidiana. 53 EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL Diversas políticas públicas destacam a importância da promoção de ações de EAN no contexto da alimentação adequada e saudável. Entre elas, destacamos a PNAN (BRASIL, 2013); a PNPS (BRASIL, 2010); o Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis no Brasil (BRASIL, 2011); a Política Nacional de Atenção Básica (BRASIL, 2017); Política Nacional de Assistência Social (BRASIL, 2005). Todas as políticas mencionadas contemplam em suas diretrizes a EAN por meio de processos permanentes e institucionalizados. 5.2.1 Exemplos de atuação em políticas públicas Atuação do nutricionista na atenção básica O trabalho na atenção básica está inserido em duas áreas de atuação do nutricionista: nutrição clínica e saúde coletiva. O nível de atenção básica é o primeiro contato da população dentro do sistema de saúde, nos postos de saúde ou unidades básicas de saúde. Art. 2º A Atenção Básica é o conjunto de ações de saúde individuais, familiares e coletivas que envolvem promoção, prevenção, proteção, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de danos, cuidados paliativos e vigilância em saúde, desenvolvida por meio de práticas de cuidado integrado e gestão qualificada, realizada com equipe multiprofissional e dirigida à população em território definido, sobre as quais as equipes assumem responsabilidade sanitária (BRASIL, 2017). Os nutricionistas que trabalham na atenção básica devem considerar os indivíduos de forma ampla, levando em consideração as condições de vida das pessoas e comunidades, além do contexto social, para entender como se manifesta o processo saúde-doença. O CFN (2015), com base em estudos desenvolvidos e experiências prévias, formulou uma cartilha para orientar o papel do nutricionista na atenção primária à saúde, na qual recomenda que as ações de alimentação e nutrição na atenção primária devem considerar os seguintes elementos organizacionais: • Níveis de intervenção: gestão das ações de alimentação e nutrição e cuidado nutricional propriamente dito (englobando ações de diagnóstico, promoção da saúde, prevenção de doenças, tratamento/cuidado/assistência). • Sujeito das ações: indivíduo, família e comunidade. • Caráter das ações: universais, tais como aquelas ações que visam à garantia da SAN e à promoção de alimentação saudável (aplicáveis a quaisquer fases do curso da vida) e específicas, aplicáveis a uma determinada fase do curso da vida, ou seja, ações destinadas a gestantes, crianças, escolares, adolescentes, adultos e idosos. 54 Unidade II Nos elementos organizacionais descritos, podemos perceber que as ações de EAN são ferramentas para alcançar os objetivos na promoção da saúde, prevenção e tratamento de doenças, com indivíduos, famílias e coletividades, em ações universais ou específicas. Lembrete Os nutricionistas da atenção básica devem considerar os indivíduos de forma ampla, levando em conta as condições de vida e o contexto social, para entender como se manifesta o processo saúde-doença. Atuação do nutricionista no PNAE O PNAEé a política pública mais antiga em vigor no Brasil e de maior abrangência em alimentação e nutrição. Teve seu início na década de 1940 com algumas ações realizadas pelo Serviço de Alimentação e Previdência Social da época, fornecendo “sopas escolares” e o “copo de leite na escola” (PEIXINHO, 2011). Desde então, o programa passou por diversas mudanças de gestão, diretrizes e financiamento, passando de uma concepção conceitual considerada assistencialista para outra mais ampla, que considera o alimento não apenas sob seu aspecto nutritivo, mas como instrumento educativo no contexto do processo de ensino-aprendizagem no ambiente escolar, para promover hábitos alimentares saudáveis para os alunos e seus familiares. Gerenciado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), atende a todos os alunos matriculados na educação básica nas etapas de educação infantil, ensino fundamental e ensino médio, contemplando também indígenas, quilombolas, estudantes com necessidades especiais e educação de jovens e adultos. Atualmente, dentro do PNAE, estão estabelecidas parcerias com universidades federais para dar suporte técnico e operacional ao programa, o que permite que possam ser desenvolvidos projetos de pesquisa e extensão nas escolas. Além disso, a sociedade civil pode acompanhar de perto a execução do PNAE, fiscalizando o uso das verbas e a qualidade do atendimento, participando dos Conselhos de Alimentação Escolar, que possuem representantes da sociedade civil, do Poder Executivo, de trabalhadores da educação e de pais de estudantes. A EAN está dentro dos objetivos do PNAE, conforme podemos ver na Resolução/CD/FNDE n. 26/2013, que dispõe sobre o atendimento da alimentação escolar aos alunos da educação básica no âmbito do PNAE: Art. 3º O PNAE tem por objetivo contribuir para o crescimento e o desenvolvimento biopsicossocial, a aprendizagem, o rendimento escolar e a formação de práticas alimentares saudáveis dos alunos, por meio de ações de educação alimentar e nutricional e da oferta de refeições que cubram as suas necessidades nutricionais durante o período letivo (BRASIL, 2013). 55 EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL Cabe ressaltar que o PNAE se destaca pelo potencial de assegurar o DHAA dos seus beneficiários, além de apresentar a EAN como eixo estratégico (BEZERRA, 2018). Dessa forma, a Resolução n. 6, de 8 de maio de 2020, conceitua a EAN no âmbito do PNAE como o: Conjunto de ações formativas, de prática contínua e permanente, transdisciplinar, intersetorial e multiprofissional, que objetiva estimular a adoção voluntária de práticas e escolhas alimentares saudáveis que colaborem para a aprendizagem, o estado de saúde do escolar e a qualidade de vida do indivíduo (BRASIL, 2020). Outra lei reforça a importância da EAN no ambiente escolar e representa um recente avanço na abrangência e importância da EAN no Brasil. Trata-se da Lei n. 13.666, de 16 de maio de 2018, que alterou a Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que é a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), para incluir a EAN como tema transversal no currículo escolar. Isso significa que a EAN deve estar incluída em todas as disciplinas do currículo das escolas do país, de forma transversal, sendo abordada juntamente com os outros assuntos nas disciplinas. Como podemos ver, as ações de EAN fazem parte do ambiente escolar, e dos objetivos desse importante programa de saúde pública brasileiro. O nutricionista, nesse contexto, deve ser um disseminador de informações relevantes e tecnicamente corretas para toda a comunidade escolar, mas, em especial, para os educadores, para que eles possam ser agentes multiplicadores e incorporem a EAN nas suas práticas pedagógicas. Destacamos o trecho do Manual de apoio para as atividades técnicas do nutricionista no âmbito do PNAE (2018) que trata da atuação do nutricionista em EAN: No sistema educacional, os educadores desempenham papel importante na configuração e instituição da EAN, de modo a conduzir a formação do aluno sobre práticas alimentares, proporcionando subsídios para escolhas alimentares saudáveis, com vistas à promoção da saúde e SAN. Os nutricionistas, responsáveis técnicos pelo PNAE, destacam-se por contribuir ao fortalecimento e disseminação das ações e ideias sobre a EAN na escola, por meio da interação com a equipe escolar (BRASIL, 2018, p. 38). Lembrete O nutricionista deve ser um disseminador de informações relevantes para os educadores, para que possam ser multiplicadores e incorporem a EAN nas suas práticas pedagógicas. Atuação do nutricionista no PAT O PAT é a segunda política pública de maior abrangência no país, atrás apenas do PNAE. Foi criado pela Lei n. 6.321/1976, em uma época em que a subnutrição atingia cerca de 1/3 da população brasileira, o que incentivou o poder público a tomar medidas que pudessem combater esse problema de 56 Unidade II saúde pública. O empregador que aderir ao programa fornece alimentação aos seus colaboradores de acordo com regras estabelecidas em legislações, e em contrapartida pode usufruir de isenções de encargos trabalhistas, previdenciários e deduções fiscais. O PAT foi atualizado na década de 1990 com o Decreto n. 5/1991, que alterou o teor nutritivo dos cardápios, melhorando critérios nutricionais específicos como quantidade de calorias e porcentagens de macronutrientes, além de exigir cardápios com quantidades mínimas de frutas, legumes e verduras por refeição. A legislação exige que os cardápios do PAT sejam desenvolvidos por um profissional de nível superior, graduado em Nutrição e legalmente habilitado (com registro no Conselho Regional de Nutricionistas), que assume a responsabilidade técnica pela execução do programa. Entre as atribuições do nutricionista no PAT estão planejar, coordenar, supervisionar e dar apoio técnico às atividades de execução do PAT, assegurando o cumprimento das normas referentes aos parâmetros nutricionais. As atividades de EAN direcionadas aos trabalhadores atendidos também estão contempladas nas atribuições do nutricionista no PAT. Os restaurantes dentro de empresas representam um local privilegiado para ações de EAN. Uma vez que os cardápios são desenvolvidos pelos nutricionistas responsáveis pelo PAT, existem opções saudáveis disponíveis para a população. O desafio, então, é incentivar o consumo dessas preparações, além de estimular que os trabalhadores se sirvam com a quantidade de alimentos necessária e suficiente. Podem ser trabalhados diversos temas, entre eles: sustentabilidade ambiental e desperdício; o ato de comer e a comensalidade (comer em um ritmo apropriado e com atenção plena); variedade e cor no prato; alimentos regionais e cultura alimentar etc. Lembrete Destaca-se a atuação do nutricionista tanto na elaboração de um cardápio que disponibilize preparações saudáveis, quanto na promoção de programas de EAN para incentivar o consumo desses alimentos. 6 PLANEJAMENTO DE PROJETO DE EAN Planejar é decidir, racionalmente, as atividades que devem ser desenvolvidas, para obter os objetivos determinados. O planejamento detalhado das ações é imprescindível para a eficácia e a efetividade das inciativas e a sustentabilidade das ações de EAN. O planejamento é expresso por meio da apresentação de um plano ou projeto. Como profissionais da saúde, assumindo o papel também de educadores nutricionais, como vimos no item 4.3.1, não podemos nos esquecer de uma premissa muito importante: a educação em saúde deve ser tratada como um processo, e não como uma ação pontual, ou várias ações pontuais desconectadas entre si. De acordo com o Marco de Referência de EAN: 57 EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL O planejamento é um processo organizado que contempla diagnóstico, identificação de prioridades, elaboração de objetivos e estratégias para alcançá-los, desenvolvimento de instrumentos de ação, previsão de custos e recursos necessários, detalhamento de plano de trabalho, definição de responsabilidadese parcerias, definição de indicadores de processo e resultados (BRASIL, 2012, p. 29). Quando nos dedicamos ao planejamento, devemos considerar vários aspectos, os quais abordaremos a seguir. Figura 14 – Aspectos do planejamento de ações de EAN 1. Por que realizar? Momento em que será realizada a identificação das problemáticas/questões observadas na comunidade, definição de necessidades e prioridades, para delinear os objetivos das ações de EAN. Estes devem ser possíveis de serem realizados e permitir avaliar se os resultados esperados foram alcançados. 2. Com quem? Identificação das características do público-alvo com informações objetivas e subjetivas, necessidades, demandas, expectativas, dúvidas e temas de interesses do público. Deve-se identificar também os parceiros que irão participar diretamente da realização das ações. 58 Unidade II 3. Onde? Identificação e reconhecimento do local de realização da prática educativa, assim como suas características de espaço físico e mobiliário. Identificar os recursos audiovisuais disponíveis e outros recursos como equipamento e material de papelaria. 4. Sobre o quê? Deve-se ter consciência das intenções da prática educativa para definir os conteúdos e as abordagens com base nas informações do diagnóstico, a fim de atender aos objetivos. Considerar e respeitar a realidade e o interesse do público para favorecer a participação e fortalecer o vínculo com os profissionais e demais participantes da ação, pautar-se nos princípios para as ações do Marco de Referência de EAN (BRASIL, 2012) e buscar fontes confiáveis para abordagem dos temas. 5. Como? Priorizar a utilização de metodologias participativas, problematizadoras, lúdicas e colaborativas, pois potencializam a reflexão, o diálogo e a integração entre os participantes. Valer-se de estratégias que propiciem a colaboração e participação coletiva. Utilizar recursos educativos atrativos e de qualidade. Fazer uso de estratégias de comunicação empáticas, como manter contato visual, empregar linguagem clara e acessível, promover interação constante com os participantes, propiciando o diálogo horizontal e a participação de todos. 6. Quando? Definição da periodicidade das ações (pontuais, periódicas, permanentes), com estabelecimento de cronograma para conectar as atividades de médio e longo prazos entre si. 7. Como avaliar? É essencial reservar um momento para ouvir a opinião das pessoas e dos grupos sobre as atividades de EAN, podendo ser usadas dinâmicas informais, e não apenas questionários e marcação da satisfação. O objetivo da avaliação não é somente avaliar o aprendizado, mas saber se houve reflexão e transformação. As informações coletadas podem ajudar a ajustar e repensar continuamente o processo de trabalho. 6.1 Estratégias de diagnóstico para um programa educativo em EAN O diagnóstico é a fase inicial do planejamento, deve identificar o problema e suas possíveis causas, para posteriormente permitir a formulação das hipóteses e objetivos. O diagnóstico, dentro de um processo educativo, não deve ser desenvolvido para um indivíduo ou grupo, mas sim com um indivíduo ou grupo, caracterizando-se como um processo participativo, e enfatizando a importância do respeito ao próximo e valorização dos seus saberes e da sua cultura. 59 EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL O diagnóstico deve contemplar a realidade social do educando para que a proposta pedagógica possa atingir seus objetivos, de modo que o sujeito seja motivado, engajado para transpor os fatos de seu cotidiano para o processo educativo, trilhando um caminho para a aprendizagem significativa (PEREIRA, 2014). Lembrete Um bom diagnóstico é condição indispensável para a eficácia de um programa que envolva aprendizagem em alimentação e nutrição. Um roteiro diagnóstico pode ser útil para fornecer subsídios para o planejamento, além de estabelecer uma linha de base para avaliação posterior dos resultados. Elaborar previamente um roteiro ajudará a coletar, organizar e posteriormente permitir uma melhor interpretação dos dados básicos para identificar os problemas da população-alvo. Sugerimos que um roteiro contemple: • identificação das características gerais do público: informações objetivas como gênero, origem, idade, escolaridade, renda, tipo de moradia e de trabalho; • informações sobre o ambiente em que vivem, disponibilidade de alimentos (acesso físico e financeiro), condições de higiene, preparo e armazenamento dos alimentos; • informações subjetivas como relato de experiências, vivências, opiniões, percepção de atitudes e valores morais, necessidades, demandas, expectativas, dúvidas e temas de interesses do público; • informações de saúde, como uma avaliação do estado nutricional (parâmetros antropométricos, parâmetros bioquímicos, fatores de risco e hereditariedade para doenças crônicas não transmissíveis), histórico de saúde e doenças pregressas da coletividade ou indivíduo; • informações sobre o consumo alimentar e o comportamento alimentar, preferências alimentares, comensalidade, habilidade de escolher alimentos e prepará-los, alergias e intolerâncias. O comportamento alimentar tem três componentes que devem ser levados em consideração na investigação: componente cognitivo (o que a população sabe sobre o objeto de mudança – conhecimentos básicos da alimentação e nutrição, incluindo crenças, mitos e tabus); componente afetivo (o que a população sente com relação à prática em questão – sentimentos, opiniões e valores); componente situacional (barreiras existentes no meio em que vive – poder aquisitivo, alimentos, recursos, coerção social); • recursos disponíveis para o desenvolvimento do programa: institucionais, financeiros, humanos e materiais. Nem todas as informações descritas podem ser necessárias para um projeto de EAN. O profissional deve escolher as informações que acredite ser mais relevantes para cada contexto. 60 Unidade II Lembrete Organizar as informações que se pretende coletar em forma de um roteiro é importante para organizar as ideias e não esquecer de nenhuma informação. Segundo Galisa (2014), a metodologia para o levantamento dos dados varia conforme a população-alvo. Se a intervenção for individual, os dados podem ser coletados por meio de anamnese alimentar. Se for um grupo, podem ser realizadas entrevistas individuais, discussão em grupo ou aplicação de formulários e/ou questionários, dependendo da quantidade de pessoas, devendo ser avaliada a viabilidade em cada caso. Já para um público maior, uma abrangência populacional, por exemplo, é adequado elaborar pesquisas utilizando ou não amostragem. De posse dos dados, deve-se analisar as respostas e então esquematizar o diagnóstico final. Com essa espécie de “foto” da população-alvo, será definida a situação, ou as situações-problema a serem trabalhadas. É nesse momento que o educador irá identificar os componentes, situações e comportamentos relacionados à alimentação que, no contexto encontrado, são ou podem vir a ser prejudiciais à saúde, e que devem ser trabalhados com a população para minimizar os riscos à saúde. Como já vimos, a avaliação deve ser feita de forma participativa com a comunidade envolvida, já que todas as atividades serão delineadas a partir das necessidades reais e dos interesses de todos. Como instrumento de auxílio na avaliação e identificação dos problemas de forma participativa, podemos usar a técnica da Árvore de Problemas. Veja o passo a passo para aplicar essa ferramenta: Passo 1 – O educador coloca o desenho de uma árvore no centro da mesa ou da sala. Junto com os participantes, relembra os problemas levantados no diagnóstico e escolhe o problema que o grupo considera ser mais significativo para ser priorizado no planejamento participativo. Esse problema deve ser escrito no tronco da árvore. Passo 2 – O educador gera a discussão: “Por que acontece este problema?”. Todas as respostas dadas pelo grupo são escritas nas raízes da árvore.Essas são as causas do problema central. O educador discute sobre as relações entre as causas identificadas. Passo 3 – O educador pergunta ao grupo: “Quais são as consequências deste problema?”. As consequências são escritas nos galhos da árvore. As causas do problema vão orientar as ações que o grupo desenvolverá, serão o foco do processo de construção do plano local de EAN. Os objetivos do projeto de EAN irão atuar sobre essas causas. 61 EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL Efeitos ou consequências do problema central Problema central Causas, razões ou fatores geradores do problema central Figura 15 – Esquema da ferramenta “Árvore de Problemas” para ser aplicado com a população-alvo do projeto de EAN com o objetivo de determinar os objetivos de um projeto de EAN 6.2 Determinação dos objetivos do programa educativo Antes de desenvolver o objetivo, é necessário ter uma ideia bem clara do diagnóstico: foi o que vimos na seção anterior, as estratégias de diagnóstico para um programa educativo em EAN. A partir do diagnóstico realizado, vamos definir o que se espera alcançar com as ações de EAN, ou seja, quais são os objetivos do programa educacional. Objetivo é o fim que se deseja atingir, a meta que se pretende alcançar. É a diretriz para toda ação que envolva aprendizagem. Antes de se iniciar qualquer programa educativo, é essencial definir de maneira clara e objetiva o “para que” do trabalho ou programa. A determinação exata dos objetivos é uma condição importante para o sucesso, não somente de programas que envolvem o processo de ensino-aprendizagem, mas de qualquer ação profissional. A partir de sua definição, serão desenvolvidas as atividades e experiências para a população-alvo. A elaboração de objetivos deve ser clara, simples e precisa, para não gerar dúvidas de interpretação. Em um programa de EAN, todo o planejamento é norteado pela formulação dos objetivos, desde a seleção do conteúdo programático, dos métodos e estratégias, recursos humanos e audiovisuais, e ainda a avaliação do programa. Lembrete Antes de iniciar qualquer programa educativo, é essencial definir de maneira clara e objetiva o “para quê”, ou seja, o objetivo do trabalho ou programa. Os objetivos devem ser classificados em objetivo geral e objetivos específicos, os quais detalharemos as diferenças a seguir (BOOG, 2011; FAGIOLI; NASSER, 2006; GARCIA, 2002): 62 Unidade II Objetivo geral é o principal propósito da atividade. Possui um sentido amplo, “aberto”. Para formulá-lo, usam-se verbos de sentido aberto, tais como orientar, adquirir, aperfeiçoar, capacitar, compreender, conhecer, desenvolver, dominar, motivar, entender, saber etc. É redigido em termos de quem pretende a mudança e não em termos da população-alvo. É complexo, mas alcançável a longo prazo, e possibilita uma visão da meta final do programa. Exemplo: Orientar nutrizes a adotarem práticas alimentares saudáveis e motivar para a prática de aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade do filho. Objetivos específicos são os indicadores do propósito das atividades de forma mais precisa. Apontam os comportamentos que a população deve apresentar ao longo do programa de EAN. Executando os objetivos específicos, será alcançado o objetivo geral, portanto os objetivos específicos devem ser redigidos de modo a indicar claramente as atitudes que se espera dos educandos, em cada situação. Diferentemente do objetivo geral, os verbos para redigir os objetivos específicos devem ser de sentido mais “ fechado”, expressando um comportamento mais preciso, por exemplo: citar, ingerir, listar, explicar, enumerar, elaborar, preparar, indicar, anotar, diferenciar, demonstrar, dizer, relacionar, exemplificar, entre outros. Deve ser redigido em termos da população-alvo e não em termos de quem pretende a mudança (por exemplo, as nutrizes deverão...). Redigir pelo menos um objetivo específico para cada nível de mudança do comportamento desejado: cognitivo, afetivo e situacional, partindo do mais simples para o mais complexo. Exemplo: As nutrizes, após a primeira palestra, deverão citar três vantagens do aleitamento materno exclusivo (cognitivo); deverão elaborar cartazes indicando a posição correta para amamentar (situacional); as nutrizes, após o término do curso, deverão indicar que o aleitamento materno é a melhor opção para seu filho e demonstrar a vontade de amamentar exclusivamente com leite materno, por livre demanda até o sexto mês de vida (afetivo). Ainda, segundo Fagioli e Nasser (2006) e Garcia (2002), é imprescindível a escolha adequada dos objetivos, atuando com efetividade na mudança de conhecimentos, atitudes e práticas relativas ao problema a ser solucionado, mas também levando em consideração o contexto em que vive a população. Portanto os objetivos devem respeitar as características da população, devem ser consistentes, positivos, realistas e realizáveis; devem ser do interesse da população-alvo e estar de acordo com suas características socioeconômicas e culturais; deve haver recursos materiais e humanos disponíveis para executá-los; e devem ser estabelecidos a partir do conhecimento científico atual, possibilitando avaliação posterior dos resultados. Lembrete É imprescindível a escolha adequada dos objetivos, para haver efetividade na mudança de conhecimentos, atitudes e práticas, também levando em consideração o contexto em que vive a população. 63 EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL 6.3 Planejamento e cronograma de atividades Como já falamos anteriormente, as ações de EAN devem ser um processo com várias etapas, o que implica a organização das atividades e o estabelecimento de um cronograma de aplicação. Devem ser priorizadas ações a longo prazo, já que a alteração do comportamento alimentar não é efetiva somente com ações pontuais. É importante definir a periodicidade das ações, se serão pontuais, periódicas ou permanentes, tomando-se o cuidado de conectar as atividades de médio e longo prazos entre si, para manter uma linha de pensamento e desenvolvimento. Lembrete O planejamento das ações é essencial para o sucesso, o estabelecimento de um cronograma torna-se fundamental para a execução de um programa. Quadro 4 – Exemplo de esquema de planejamento de ações de EAN Público-alvo: N. de participantes: Local: Duração geral: Parceiros, profissionais envolvidos: Problemática/questão principal: Data Objetivos Tema/conteúdos Atividades/ estratégias/ dinâmicas Recursos necessários Tempo Responsável Avaliação: Antes e durante as atividades, ter o planejamento em mãos ajuda tanto na organização dos recursos necessários, quanto na orientação do que fazer no momento da atividade. 64 Unidade II 7 DESENVOLVIMENTO DE PROGRAMAS DE EAN A análise integrada e holística da questão alimentar, incluindo a produção de alimentos e sua venda, as políticas públicas e ações governamentais, o consumo, os aspectos econômicos e ambientais, é imprescindível para o desenvolvimento de ações educativas que sejam condizentes com a sociedade atual. Ações educativas que trabalham conceitos de alimentação saudável de forma isolada tendem a não ser efetivas. A mudança de comportamento para obter uma alimentação saudável demanda uma transformação maior, tanto do indivíduo quanto da sociedade. E é nesse cenário que entra a EAN. Precisamos pensar: por que comemos o que comemos? Como aquele alimento chegou ali no nosso prato? Quem produziu? Como e onde se produziu? É mais complexo do que simplesmente ter a informação sobre o que é saudável ou não. São esses aspectos que tornam a EAN tão desafiadora quanto necessária para a sociedade atualmente. Muitas atividades se tornam sem efeito pois não levam em consideração diversos aspectos importantes que não devem ser ignorados, tais como: • Aspectos culturais do indivíduo ou grupo: esses aspectos influenciam a forma como se percebe e entende o mundo ao seu redor, portanto é necessário compreender isso para poder desenvolver uma atividadeque possa atingir o público-alvo. • Características de saúde do grupo: são as necessidades de saúde que o grupo apresenta, o que o grupo acredita ser importante para a sua saúde. • Faixa etária do grupo: vai ser imprescindível para determinar a linguagem e o nível de complexidade dos temas a serem tratados. Lembrete Ações educativas que trabalham conceitos de alimentação saudável de forma isolada tendem a não ser efetivas. Além desses aspectos importantes, a forma como a comunicação é desenvolvida é fundamental e influencia de maneira decisiva os resultados. Nesse sentido, o Marco de Referência de EAN (BRASIL, 2012) propõe que a comunicação no contexto da EAN deve ser pautada por: • escuta ativa e próxima; • reconhecimento das diferentes formas de saberes e de práticas; • construção partilhada de saberes, de práticas e de soluções; • valorização do conhecimento, da cultura e do patrimônio alimentar; 65 EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL • comunicação realizada para atender às necessidades dos indivíduos e grupos; • formação de vínculo entre os diferentes sujeitos que integram o processo; • busca de soluções contextualizadas; • relações horizontais; • monitoramento permanente dos resultados; • formação de rede para profissionais e setores envolvidos, visando trocas de experiências e discussões. 7.1 Metodologias para atividades de EAN Como já citamos anteriormente, o nutricionista deve romper com o modelo tradicional e tecnicista de educação, baseado somente na transmissão de informação, que considera os sujeitos passivos e vazios de qualquer conhecimento sobre alimentação e saúde. Para isso, devemos utilizar estratégias pedagógicas participativas, baseadas no diálogo e respeito ao contexto histórico, político e social dos indivíduos, bem como de seus saberes populares. Método é o caminho, e a técnica é a maneira como percorrê-lo. Ambos são utilizados para melhorar a eficiência da aprendizagem. Mais abrangente que técnicas, o termo “estratégia” compreende os meios que o educador utilizará para facilitar a aprendizagem, ou seja, favorecer o alcance dos objetivos educacionais pelo indivíduo ou pelo grupo populacional. As estratégias para a aprendizagem envolvem desde a organização do espaço até a preparação do material que será utilizado, como os recursos audiovisuais. Trata-se, portanto, do conjunto de procedimentos, técnicas e métodos que têm como objetivo envolver o educando em situações que possibilitem estimular a aprendizagem (GALISA, 2014). Não existe uma técnica ou um método de ensino perfeito, ou superior, mas sim o mais adequado para cada população e cada situação. Devemos priorizar a utilização de metodologias participativas, problematizadoras, lúdicas e colaborativas, pois potencializam a reflexão, o diálogo e a integração entre os participantes. Podemos definir os tipos de métodos e técnicas de ensino assim: • método expositivo: exige grande capacidade e competência do professor, já que ele é a figura central. É necessário ter uma voz clara, boa dicção e facilidade para organizar e expor as ideias. Exemplos de atividades: aula expositiva, palestra; • método de laboratório: centralizado no aluno, que participa diretamente do processo. Exemplos de atividades: demonstração, estudo de caso, dramatização, oficina; 66 Unidade II • demonstração: bastante comum com grupos, consiste na apresentação de um objeto ou de um processo para que o educando conheça suas características ou aprenda a realizar uma série de operações que compõem a tarefa. É um modo prático de explicar como realizar uma atividade específica, por exemplo mostrar a correta higienização das mãos e dos alimentos (GALISA, 2014); • estudo de caso: apresenta-se uma situação-problema baseada em uma experiência verdadeira. Os participantes podem emitir e comparar opiniões, sugerindo soluções, o que leva a aprender com as diferenças e semelhanças. O mediador deve evitar emitir sua opinião para não influenciar as respostas. Ao final, faz-se um fechamento com as conclusões; • dramatização: trata-se da representação teatral de determinada situação. Os “atores” são os educandos, que encenam determinados papéis orientados pelo educador. O enfoque será dado pelo educador, que irá direcionar os assuntos e as situações que quer tratar com seu público. Pode ser feito um script prévio com as falas de cada personagem. • oficina: a oficina é uma metodologia que prevê momentos de interação e troca de saberes a partir de uma atividade prática para ser guiada pelo educador. Normalmente em EAN, realiza-se oficina culinária para a execução de receitas, em que os participantes produzem juntos os pratos a serem apresentados e degustados. O ideal é separar os participantes em pequenos grupos para execução das receitas. Esse tipo de atividade requer espaço físico adequado e recursos materiais e humanos. Lembrete Não existe uma técnica ou um método de ensino perfeito, ou superior, mas sim o método ou técnica mais adequado para cada população e cada situação. A educação em saúde é um processo educativo de grupos ou individual, tendo como premissas o desenvolvimento da autonomia e do senso de responsabilidade de cada indivíduo em relação aos cuidados com sua saúde, com caráter crítico, reflexivo e emancipador. Para alcançar esses objetivos, é imprescindível a valorização da interação e do diálogo entre os educandos e os educadores, que irão orientar e formar indivíduos para que saibam como agir dentro de um processo saúde-doença (SOUZA; JACOBINA, 2009). A estratégia valorizada por esse modelo é a comunicação dialógica, que objetiva a capacitação dos indivíduos para decidirem como irão lidar com o processo saúde-doença-cuidado, tornando-se capazes de manter e recuperar sua saúde. De acordo com Torres, Hortale e Schall (2003), as ações participativas e interativas por meio do diálogo são consideradas as mais efetivas para a promoção da saúde, vez que esse tipo de ação promove impasses, inquietações e soluções de problemas que são construídas e compartilhadas entre todos os envolvidos. Lembrete As ações participativas e interativas por meio do diálogo são consideradas as mais efetivas para a promoção da saúde. 67 EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL Tão importante quanto o conteúdo a ser transmitido é a forma como ele será transmitido, pois determinará a efetividade do aprendizado. Já falamos anteriormente sobre as correntes pedagógicas, bem como teorias e abordagens mais indicadas para serem utilizadas em EAN, você pode revisar isso no tópico 4 da unidade I. Utilizar metodologias ativas, que promovam a participação dos indivíduos, é fundamental para as ações terem sucesso. É um engano pensar que quanto mais conteúdo for passado, mais será aprendido. Lembrete Tão importante quanto o conteúdo a ser transmitido é a forma como ele será transmitido, pois determinará a efetividade do aprendizado. Vejamos a seguir um exemplo de duas atividades diferentes com pais de crianças de quatro anos que precisam melhorar a ingestão de vitaminas: • Projeto 1 – Intervenção com palestra de uma hora falando sobre a importância das vitaminas para os pais, mostrando detalhadamente as funções das vitaminas A, C, K e do complexo B, as consequências das hipovitaminoses, e as fontes alimentares de cada uma. Ao final, abertura para dúvidas. O método usado foi puramente expositivo, o que o torna, nesse contexto, bem cansativo e maçante. Além disso, é desnecessário detalhar tanto a parte técnica e científica para o público-alvo. Ao final da palestra, muitos não se lembrarão de grande parte do que foi exposto, nem ao menos terão dúvidas para apresentar. Alguns ainda podem sair com a sensação de que não sabem nada sobre a “ciência da nutrição”, que se trata de algo distante de sua realidade, sem um exemplo prático de como podem mudar a realidade e melhorar a ingestão de vitaminas dos seus filhos. • Projeto 2 – Intervenção com palestra de 10 minutos sobre as vitaminas em geral, sem detalhartecnicamente cada uma, mas com um conteúdo resumido e ilustrado. Após a palestra, realização de oficina culinária de pratos saudáveis, em que poderão combinar os diferentes alimentos para ingerir as vitaminas que conheceram. O método usado foi misto, expositivo em uma pequena parte, e, posteriormente, de laboratório. Para o caso, uma atividade prática é muito mais útil para a vida real dos pais. Escutarão algumas informações resumidas e depois aprenderão colocando a mão na massa, experimentarão novas sensações e sabores, interagindo e aprendendo com o palestrante e com outros pais, além de ensinar o que sabem. Dessa forma, sairão da atividade prontos para colocarem algo novo em prática. Muitos terão a sensação de que podem, sim, melhorar sua alimentação, e que isso é possível e está dentro da sua realidade. Fica claro que a segunda ação educativa é mais efetiva para a mudança de comportamento. É imprescindível criar espaços que proporcionem diálogos que estejam de acordo com a realidade dos indivíduos, que proporcionem a participação ativa e consciente das pessoas para construção de cidadãos críticos, que se enxerguem envolvidos no bem-estar próprio e coletivo. 68 Unidade II Lembrete É imprescindível criar espaços que proporcionem diálogos que estejam de acordo com a realidade dos indivíduos, que proporcionem a participação ativa e consciente das pessoas. Algumas estratégias e dinâmicas educativas dentro do método laboratorial podem ser utilizadas para incentivar e propiciar uma maior colaboração e participação dos educandos, por exemplo: • roda de conversa ampliada ou em pequenos grupos; • entrevistas com especialistas em determinado assunto; • demonstração de procedimentos (higienização de alimentos, lavagem das mãos, plantio de mudas etc.); • mostras e oficinas culinárias para a vivência na prática, acompanhadas de degustação; • dramatização de situações do cotidiano com análise do papel de cada “personagem” e possíveis mudanças; • visitas a feiras e a mercados para conhecimento dos alimentos e rótulos. Visitas a locais de produção de alimentos para diálogos com produtores e trabalhadores; • troca de receitas tradicionais da família ou região; • criação de hortas domésticas, comunitárias, escolares; • debates dobre os assuntos de interesse. Vale lembrar que a seleção da técnica deve ser adequada às características da população-alvo, ao objetivo do programa e aos recursos físicos, materiais e humanos existentes. Nenhuma estratégia de ensino pode ser considerada correta ou incorreta, boa ou ruim. Sua adequação se dará sempre em função do diagnóstico ou da situação-problema, das características da população-alvo, dos objetivos e dos recursos disponíveis. Todos os seres humanos podem aprender e mudar suas práticas alimentares se necessário, independentemente de idade, sexo ou condição social e cultural. A estratégia de ensino utilizada é fundamental para facilitar a mudança. 69 EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL Lembrete Todos os seres humanos podem aprender e mudar suas práticas alimentares se necessário, independentemente de idade, sexo ou condição social e cultural. Segundo Galisa (2014), é importante considerar alguns pontos, como estratégias de facilitação da comunicação: • manter contato visual; • usar linguagem clara e acessível ao público-alvo; • promover interação constante com os participantes; • usar um tom de voz audível e não linear; • evitar falas e textos longos; • fomentar o diálogo horizontal e a participação de todos; • estimular a comunicação empática e não violenta. Muitas vezes, manter a objetividade na hora de aplicar uma atividade se torna difícil. É um erro tentar alcançar muitos objetivos com uma técnica só. É importante ter clareza sobre o que queremos com a metodologia e atividades que escolhemos e, às vezes, é preciso também diminuir nossas expectativas. Os instrumentos podem nos levar a muitos caminhos e, se não soubermos conduzir os indivíduos, o processo educativo pode ficar disperso e solto. Por isso é importante definir os objetivos da atividade educativa e escolher várias técnicas que se complementam, e que possam contribuir para o alcance desses objetivos. 7.2 Desenvolvimento de conteúdo programático O conteúdo programático é o conjunto de temas que devem ser tratados no programa de EAN para a realização dos objetivos previamente definidos. Todo conteúdo programático deve partir do entendimento de que a alimentação é um processo complexo que envolve as pessoas e suas relações interpessoais, os alimentos e tudo o que está relacionado a sua produção, comercialização e consumo. Para organizar o conteúdo, Galisa (2014) sugere o seguinte roteiro: • identifique quais componentes realmente devem ser mudados; 70 Unidade II • relacione as informações técnicas consideradas indispensáveis para as mudanças comportamentais pretendidas, evitando detalhes e informações muito específicas; • defina o conteúdo com finalidade predominantemente motivacional e relevante. Exemplos: “importância do aleitamento materno para a prevenção de doenças infantis”; “benefícios da alimentação saudável na adolescência; • distribua os temas selecionados por unidades, de acordo com a natureza do tema, grau de complexidade e tempo disponível; • defina a estratégia motivacional a partir das características da população-alvo e vocabulário adequado; • desenvolva o conteúdo programático, de modo a possibilitar a transformação da situação. Programe exercícios e atividades práticas para fixar a aprendizagem do conteúdo. Atualmente, é possível acessar excelentes materiais e cursos virtuais para qualificar o planejamento e a execução de ações em EAN. A Rede Virtual de Educação Alimentar e Nutricional Ideias na Mesa, grupo de pesquisadores ligados à Universidade de Brasília, conta com um ambiente virtual rico em informações, materiais, metodologias ativas e experiências exitosas desenvolvidas em todo o Brasil. Outra possibilidade é o site do Movimento “Comer Pra Quê?”, um projeto de extensão da Escola de Nutrição da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, que dispõe igualmente de uma ampla gama de informações, notícias, imagens e, principalmente, um rico acervo de material em vídeos, filmes e spots de rádios feitos com o intuito de ser aplicado em atividades de EAN, em especial com o público jovem. Todas as fontes citadas usam como referencial teórico a segunda edição do Guia Alimentar para a População Brasileira, publicado pelo Ministério da Saúde em 2014, que deve ser o norte para o planejamento e desenvolvimento de qualquer ação e programa de EAN no Brasil. Suas recomendações consideram as dimensões sociais e culturais das práticas alimentares, tais como: a comensalidade, o ato de cozinhar, a alimentação adequada e saudável como derivada de sistemas alimentares social e ambientalmente sustentáveis. Na sua segunda edição, o Guia Alimentar incorporou a sustentabilidade, em todas as suas dimensões, como um princípio norteador, abordando e orientando a escolha de alimentos a partir da sua classificação de nível de processamento (in natura, minimamente processado, processado e ultraprocessado). Suas recomendações são centradas no empoderamento dos sujeitos para escolhas alimentares mais saudáveis, prazerosas, críticas, conscientes e autônomas. Esse novo paradigma de alimentação saudável reconheceu as limitações do discurso antigo, centrado em nutrientes, e deu muito mais importância às dimensões socioculturais da alimentação. O material é rico em ilustrações de alimentos e suas combinações, preparações culinárias, locais de produção e distribuição de refeições e a prática da comensalidade (OLIVEIRA; SANTOS, 2018). O Guia Alimentar para a População Brasileira é organizado em cinco capítulos (BRASIL, 2014): • o capítulo 1 (Princípios) apresenta os princípios para uma alimentação adequada e saudável, responsáveis por nortear as recomendações traçadas nos demais capítulos. São eles: Alimentação71 EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL é mais que ingestão de nutrientes; Recomendações sobre alimentação devem estar em sintonia com seu tempo; Alimentação adequada e saudável deriva de sistema alimentar socialmente e ambientalmente sustentável; Diferentes saberes geram o conhecimento para a formulação de guias alimentares; Guias alimentares ampliam a autonomia nas escolhas alimentares; • o capítulo 2 (A escolha dos alimentos) traz recomendações gerais para a escolha de alimentos e a composição de uma alimentação nutricionalmente balanceada, saborosa, culturalmente apropriada e promotora de sistemas alimentares social e ambientalmente sustentáveis. Nele, é apresentada a classificação de alimentos por extensão e propósito de processamento em quatro grupos alimentares: alimentos in natura e minimamente processados (grupo 1), ingredientes culinários processados (grupo 2), alimentos processados (grupo 3) e alimentos ultraprocessados (grupo 4). Dessa forma, as definições e os exemplos de cada grupo alimentar são destacados nesse capítulo, além das razões (biológicas, sociais, culturais e ambientais) para priorizar os alimentos do grupo 1, limitar o grupo 3, evitar o grupo 4 e como utilizar com moderação o grupo 2 em preparações culinárias. Por fim, é apresentada a “regra de ouro” que facilita a observação das recomendações gerais do capítulo 2: “Prefira sempre alimentos in natura ou minimamente processados e preparações culinárias a alimentos ultraprocessados”; • o capítulo 3 (Dos alimentos à refeição) traz orientações detalhadas sobre a combinação de alimentos na forma de refeições, com base no consumo alimentar de brasileiros. São apresentados exemplos de refeições saudáveis para café da manhã, almoço, jantar e pequenas refeições, e dos principais grupos de alimentos pertencentes ao padrão alimentar brasileiro (feijões, arroz, milho, trigo, raízes e tubérculos, legumes e verduras, frutas, castanhas e nozes, leite e queijos, carnes e ovos, água). Esse capítulo conta, ainda, com orientações gerais sobre como armazenar e garantir a qualidade higiênico-sanitária dos alimentos; • o capítulo 4 (O ato de comer e a comensalidade) descreve recomendações sobre o ato de comer e as dimensões desse ato que influenciam o aproveitamento dos alimentos consumidos e o prazer proporcionado pela alimentação: comer com regularidade e atenção; comer em ambientes apropriados; comer em companhia; • o capítulo 5 (A compreensão e a superação de obstáculos) apresenta formas de superação dos seis potenciais obstáculos para uma alimentação adequada e saudável: informação, tempo, publicidade, custo, oferta e habilidades culinárias. Por fim, as recomendações do Guia Alimentar são sintetizadas nos dez passos para uma alimentação adequada e saudável. São eles: • fazer de alimentos in natura ou minimamente processados a base da alimentação; • utilizar óleos, gorduras, sal e açúcar em pequenas quantidades ao temperar e cozinhar alimentos e criar preparações culinárias; • limitar o consumo de alimentos processados; 72 Unidade II • evitar o consumo de alimentos ultraprocessados; • comer com regularidade e atenção em ambientes apropriados e, sempre que possível, com companhia; • fazer compras em locais que ofertem variedades de alimentos in natura ou minimamente processados; • desenvolver, exercitar e partilhar habilidades culinárias; • planejar o uso do tempo para dar à alimentação o espaço que ela merece; • dar preferência, quando fora de casa, a locais que servem refeições feitas na hora; • ser crítico quanto a informações, orientações e mensagens sobre alimentação veiculadas em propagandas comerciais. Saiba mais Veja a série de 4 vídeos e suas versões comentadas do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde: O Guia Alimentar na Atenção Básica – notas pedagógicas. Disponível em: https://bit.ly/2URF8ie. Acesso em: 7 abr. 2021. Por muito tempo, o referencial teórico para ações de EAN foi a Pirâmide Alimentar. Destaca-se que a esse referencial, que agrupa os alimentos segundo nutrientes, devem ser somadas outras considerações que foram amplamente destacadas e que consideram todas as dimensões e o significado da alimentação saudável. Como já falamos anteriormente, devemos evitar as abordagens alimento-nutriente, por serem limitadas. Lembrete Para ações de EAN com adultos, devemos ter como referência o Guia Alimentar para a População Brasileira, publicado pelo Ministério da Saúde em 2014. Outro documento norteador é o Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de 2 Anos (BRASIL, 2019), que da mesma forma que o Guia Alimentar para adultos, tem a sustentabilidade e a escolha de alimentos a partir da sua classificação de nível de processamento como um princípio norteador, adicionando recomendações sobre alimentação e nutrição específicas para essa faixa etária, como amamentação e introdução alimentar. Esse guia é composto por sete princípios: 73 EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL • Princípio 1 – A saúde da criança é prioridade absoluta e responsabilidade de todos; • Princípio 2 – O ambiente familiar é espaço para a promoção da saúde; • Princípio 3 – Os primeiros anos de vida são importantes para a formação dos hábitos alimentares; • Princípio 4 – O acesso a alimentos adequados e saudáveis e à informação de qualidade fortalece a autonomia das famílias; • Princípio 5 – A alimentação é uma prática social e cultural; • Princípio 6 – Adotar uma alimentação adequada e saudável para a criança é uma forma de fortalecer sistemas alimentares saudáveis; • Princípio 7 – O estímulo à autonomia da criança contribui para o desenvolvimento de uma relação saudável com a alimentação. O Guia propõe a adoção de 12 passos para uma alimentação saudável para menores de dois anos: • amamentar até os dois anos ou mais, oferecendo somente o leite materno até os seis meses; • oferecer alimentos in natura ou minimamente processados, além do leite materno, a partir dos seis meses; • oferecer à criança água própria para o consumo em vez de sucos, refrigerantes e outras bebidas açucaradas; • oferecer a comida amassada quando a criança começar a comer outros alimentos além do leite materno; • não oferecer açúcar nem preparações ou produtos que contenham açúcar à criança até dois anos de idade; • não oferecer alimentos ultraprocessados para a criança; • cozinhar a mesma comida para a criança e para a família; • zelar para que a hora da alimentação da criança seja um momento de experiências positivas, aprendizado e afeto junto da família; • prestar atenção aos sinais de fome e saciedade da criança e conversar com ela durante a refeição; • cuidar da higiene em todas as etapas da alimentação da criança e da família; 74 Unidade II • oferecer à criança alimentação adequada e saudável também fora de casa; • proteger a criança da publicidade de alimentos. Lembrete Para projetos de EAN com crianças menores de dois anos, a referência de conteúdo programático deve ser o Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de 2 Anos, publicado em 2019. Os temas abordados devem ser relevantes para a população-alvo, para despertar a conscientização e promover a participação dos educandos, facilitando o desenvolvimento de práticas saudáveis. A informação transmitida deve ser a mínima necessária para atingir os objetivos, por isso, cuidado com a transmissão excessiva de conceitos e informações considerados importantes pelo nutricionista, mas inacessíveis ao receptor. Essa é uma das principais causas de insucesso nos programas. Lembrete Cuidado com a transmissão excessiva de conceitos e informações considerados importantes pelo nutricionista, mas inacessíveis ao receptor. O conhecimento aprofundado do tema a ser tratado, por parte do educador, é muito importante. Portanto, o educador deve estar atualizado sobre o assunto a ser tratado. No entanto, é possível que surja alguma dúvida sobre o tema que não possa ser respondida. Caso isso ocorra, educadordeve se preparar para numa próxima ocasião esclarecer a dúvida. Saiba mais A Coordenação Geral de Alimentação e Nutrição e a Universidade do Estado do Rio de Janeiro produziram uma série de vídeos educativos com o tema “alimentação adequada e saudável”. Disponível em: https://bit.ly/3mtrKNa. Acesso em: 7 abr. 2021. 7.3 Recursos audiovisuais Segundo o Dicionário Aurélio (HOLANDA, 2014), “Diz-se [audiovisual] do que pertence ao método ativo de ensino fundamentado na sensibilidade visual da criança e que utiliza a apresentação de imagens, de filmes e de gravações”. Os recursos audiovisuais são meios que permitem uma boa comunicação entre os atores das ações de EAN. São usados para motivar o interesse, favorecer a 75 EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL capacidade de observação, ilustrar experiências e informações mais abstratas para o público leigo, oferecer informações e dados (com o uso de gráficos, por exemplo), favorecer a desinibição e sensibilizar os educandos auxiliando no processo educativo. A escolha de recursos adequados otimiza a aprendizagem dos conteúdos e a interação entre os indivíduos. Por isso, é importante o planejamento prévio para definir os recursos e preparar o ambiente onde serão realizadas as ações. 7.3.1 Recursos audiovisuais não tecnológicos Recursos não tecnológicos são aqueles que não dependem de tecnologias avançadas para seu uso e desenvolvimento na ação educativa. Entre eles, podemos destacar as cartilhas, apostilas, cartazes, folhetos com informações escritas e imagens. Podem ser utilizados os materiais previamente desenvolvidos e disponibilizados pelo Ministério da Saúde e outras entidades de renome e reconhecimento científico. Matérias de jornais e revistas, receitas, poesias e contos também podem ser úteis nas ações. Fantoches e jogos (de percurso, quebra-cabeça, dominó, memória) desenvolvidos com sucatas e materiais reutilizáveis são recomendados nas ações com crianças. Já as fotos, filmes, músicas, informações de sites, blogs e redes sociais dependem de aparelhos eletrônicos para serem utilizados, projetados e mostrados, de modo que a possibilidade de seu funcionamento adequado deve ser checada previamente (BRASIL, 2018). Os próprios alimentos podem ser recursos visuais, muito úteis nas atividades educativas, assim como fotos (com boa resolução) e modelos de alimentos em plástico/resina. Como já falamos anteriormente, a participação dos educandos é fundamental para um processo educativo eficiente, sendo que os recursos visuais que podem ser construídos durante as ações educativas são uma forma participativa de envolver os indivíduos. A produção de cartazes, receitas, poesias, fantoches, murais, jogos (quebra-cabeça, dominó, jogo da memória, entre outros) pelos próprios educandos pode ocorrer no momento da ação educativa, como parte da própria ação, ou como produto dos encontros. Para isso, é necessário fornecer os materiais para elaboração, tais como cartolinas, canetas, tintas, lápis de cor, recortes de jornais e revistas, ilustrações e outros materiais de acordo com o objetivo do conteúdo a ser tratado. No caso de usar apresentações em projetor ou cartazes, siga algumas dicas importantes para um bom visual: • coloque um título: claro e simples que resuma o que vai ser apresentado; • faça legendas: nas fotos, gráficos e tabelas. A legenda deixará mais clara a informação; • escreva com letras legíveis: evite letras manuscritas, prefira letra de forma, em tamanho adequado para o ambiente e a distância entre as pessoas e o que será apresentado; • crie frases curtas: elas serão um gancho para sua fala que irá completar a informação; 76 Unidade II • use poucas linhas: dê preferência por usar tópicos, não escrevendo muito em cartazes e apresentações para evitar a poluição visual. Além disso, com muitas informações escritas as pessoas tendem a querer ler tudo o que está escrito e não prestam atenção à fala do educador; • use cores: mas cuidado com a diferença entre a cor do fundo da apresentação e as letras, procure usar cores diferentes para ficar contrastante; • separe ideias diferentes: procure fazer slides ou folhas diversas, uma para cada ideia; • use ilustrações: são muito importantes para deixar as apresentações mais dinâmicas e dar exemplos do conteúdo que será transmitido; • retire o que for desnecessário: evite poluir as apresentações; • adeque à faixa etária: letras, expressões e imagens devem ser adequadas à faixa etária. Uso de desenhos, por exemplo, pode deixar o conteúdo infantilizado e não atingir os adultos. Se os recursos escolhidos não forem apropriados, pode gerar a fragmentação dos conceitos desenvolvidos no processo educativo. 7.3.2 Recursos audiovisuais tecnológicos Atualmente, os computadores estão presentes em grande parte da sociedade, mas não alcançam ainda a maioria da população. Segundo Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2015), o total de domicílios com a presença de computadores era de 31,4 milhões em 2015, o que representa 46,2% do total de domicílios no Brasil. Os celulares smartphones também funcionam como minicomputadores, com a possibilidade de rodarem aplicativos dos mais variados tipos, que permitem desde acesso a sites e redes sociais, tirar fotos, fazer vídeos, até mesmo realizar transações bancárias. É cada dia mais fácil o acesso a esses reprodutores móveis e pessoais de som, de imagem e de outras mídias, além do acesso crescente à banda larga e a redes móveis de dados. Todos esses meios de comunicação que fazem parte do nosso cotidiano podem funcionar como ferramentas de educação e recursos didáticos. Diversos materiais podem ser acessados gratuitamente em sites de universidades, que podem ser usados como recursos audiovisuais. Um bom exemplo é o curso virtual gratuito Comida de Verdade. Trata-se de uma parceria entre o Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (NUPENS), da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP), e o site Panelinha, da apresentadora Rita Lobo. O curso ensina como elaborar receitas culinárias com alimentos naturais e minimamente processados, de acordo com o preconizado no Guia Alimentar para a População Brasileira (BRASIL, 2014). 77 EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL Saiba mais Acesse o curso Comida de Verdade (2016). Disponível em: https://bit.ly/3fQi5z2. Acesso em: 7 abr. 2021. Alguns softwares e aplicativos podem ser usados para possibilitar a interação através de jogos e questionários de perguntas e respostas, com finalidade educativa, tais como Plickers, Socrative, Expeditions, Kahoot! Alguns são gratuitos, outros exigem assinatura. Os desenvolvedores de aplicativos possuem inúmeras ferramentas tecnológicas que permitem dar feedback em tempo real da experiência do usuário no software/site/aplicativo. São gerados relatórios, avaliando se está sendo intuitiva a navegação, se a pessoa está gostando, se a meta está sendo atingida, quanto tempo o usuário passa em cada tela, se ele passa a barra de rolagem até o final, entre outros. O público-alvo mais adequado são crianças, adolescentes e adultos jovens, lembrando que a conjectura socioeconômica deve ser considerada, já que é um dos determinantes para o acesso à internet. 7.4 Programas de EAN para diferentes populações nos ciclos da vida Mostraremos a seguir algumas atividades que foram realizadas pela autora ou por colegas e parceiros. 7.4.1 Crianças A criança entende o mundo e aprende através do ato de brincar. As ações de educação para essa faixa etária têm que incluir o lúdico, pois tão importante quanto o conteúdo a ser tratado é a forma como será tratado. Para a criança, em especial, é necessário estimular sua participação para reter sua atenção e seu foco, para que possa ser promovida a aprendizagem. Lembrete O grande desafio do nutricionista quando realiza atividades para crianças é ser um educador e um estimulador que busca estratégiaseducativas, criativas e lúdicas para reter a atenção das crianças. O brincar favorece o aprender, o desenvolvimento socioemocional, a internalização de valores e de regras sociais, sendo possível através da brincadeira vivenciar diferentes papéis e compreender a realidade em que se está inserido. Devemos estimular os jogos, tomando cuidado para não apresentar apenas jogos competitivos, mas também os cooperativos, para facilitar as relações sociais do grupo, 78 Unidade II incentivando a colaboração e o respeito ao próximo. No caso de crianças mais velhas, ou mesmo adolescentes, é possível usar situações-problema para gerar reflexões, mantendo a natureza lúdica e inserindo o componente do desafio, instigando o interesse e a reflexão, a cooperação e a tomada de decisões. Observar as crianças brincando é uma ótima forma de conhecê-las. Podemos perceber como se relacionam, como lidam com seus problemas, e é possível reconhecer a personalidade de cada criança. Podemos observá-las para realizar uma avaliação prévia de seus interesses, habilidades, seus gostos e seus conhecimentos prévios para elaborar um projeto adequado a sua realidade. Crianças de até dois anos: estágio sensório-motor O desenvolvimento nesse estágio da vida se baseia principalmente em experiências sensoriais e motoras, utilizadas para atingir os objetivos e adquirir conhecimentos. Segundo Piaget (1972), os bebês adquirem conhecimentos sobre os objetos através de suas interações com eles. Durante esse período a inteligência se manifesta em ações. Antes dos seis meses, o contato com o leite materno, através da amamentação exclusiva, é o seu principal contato com o mundo. Sugando o leite ele se alimenta e incorpora os mecanismos necessários ao ato de sugar, incorporando esse ato e estendendo-o para outras ações, tais como chupar o dedo. Nesse momento, as mãos são um brinquedo. Após os seis meses, a criança pode começar a se interessar mais sobre os efeitos de seus atos no ambiente em que está inserida, por exemplo se interessando em pegar objetos ou em bater em um móbile de berço, prestando atenção nesse ambiente e tirando o foco somente do seu corpo. Nessa idade, na fase de introdução alimentar, o bebê deve ser exposto a alimentos, momento no qual vai se interessar em conhecer os novos sabores e texturas, perceber as diferenças entre eles. Quanto antes ele for exposto a uma variedade de alimentos saudáveis, melhor será a aceitação de novos alimentos. Dessa forma, o repertório alimentar vai se ampliando, e isso contribui para a constituição dos hábitos alimentares, marcando a história, cultura e identidade do sujeito. Crianças de dois a sete anos: brincando e entendendo o mundo Esse estágio é denominado pré-operacional. Nesse momento, a criança começa a usar os processos de imitação, e a brincadeira passa a ter o sentido de assimilar o que ela percebe no seu ambiente. Ela irá reproduzir o seu meio, inicialmente imitando, e depois representando o que já viu e assimilou. Nesse momento a brincadeira é extremamente importante, pois possibilita o entendimento do mundo que a cerca. Brincar de comidinha, de mercado, feira, carrinho, mesmo sem estar de fato manipulando os objetos verdadeiros, possui um significado importante, do que ela já possui interiorizado. Dessa forma, ela é capaz de pegar várias pecinhas de montar, por exemplo, e imaginar que são pedaços de pão ou uma torta, e dar para a sua boneca comer. O incentivo a experimentar novos alimentos é muito importante. Tão importante, que devemos tomar alguns cuidados com frases que escutamos ao longo da nossa vida, e comumente usamos, tais como: “é bom para sua saúde”; “vai deixar você bonita”; “você vai ficar forte como o super-herói”; “você vai parecer uma princesa se comer...”. Esse tipo de fala não é o mais indicado, não funciona como 79 EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL incentivo e ainda reforça alguns estereótipos de gênero para meninos e meninas. Do contrário, para ser efetivo, o incentivo ao consumo de alimentos deve valorizar os aspectos sensoriais, o prazer de comer, usando expressões como: “está uma delícia”; “que salada bonita, deu vontade de provar”; “que cheirinho bom”. Valorizar sempre a experimentação, explorar a cor, o cheiro, a textura, usando o alimento como ferramenta para ações de EAN. Ao elaborar o planejamento de atividade de EAN para crianças, devemos romper com os modelos e estéticas estereotipados que conhecemos, por exemplo a apresentação de pratos de hortaliças moldadas representando animais, ou carinhas felizes; a personificação de alimentos com braços e pernas; pessoas fantasiadas de frutas e o uso de fantoches de frutas e legumes. Esse tipo de representação não repercute na melhor aceitação desses alimentos por parte das crianças, e não garante a continuidade do interesse pelos alimentos e o aprendizado. Dicas para atividades práticas com crianças: • observe as crianças brincando para conhecê-las melhor; • ofereça jogos cooperativos direcionados para o aprendizado, usando o alimento como base e ferramenta pedagógica: jogos de percurso, por exemplo; • participe dos jogos sempre que possível para criar uma relação de aproximação; • crie situações-problema desafiadoras; • verifique através das atividades lúdicas o aprendizado adquirido; • sempre ressalte o aprendizado presente na brincadeira. Exemplos de atividades com crianças Cozinha, feira e supermercado de brinquedo Como já foi citado, os brinquedos representam uma forma de viver a realidade. Ao brincar, a criança está vivendo uma experiência ou alguma situação que já viu ou vivenciou. Ao brincar de ir ao mercado, irá procurar os alimentos que conhece e que gosta, por exemplo refrigerantes ou frutas, o que for habitualmente consumido no ambiente familiar. A criança vai repetir o modo como os adultos a tratam, como conversam e se tratam. A partir desses pressupostos, podemos promover situações de valorização dos alimentos in natura e minimamente processados, promovendo o aprendizado. Podemos ainda “preparar” receitas com alimentos saudáveis em uma cozinha de brincadeira, por exemplo uma salada, para incentivar a criança, na realidade da sua residência, a experimentar fazer o mesmo. As fotos a seguir são de um projeto de EAN com elaboração de cozinha de materiais recicláveis, que ocorreu no Centro de Educação Infantil Espaço Criança Elias Antônio Zogbi, no bairro Santana. 80 Unidade II Figura 16 – Fogão e forno a lenha produzidos com ajuda das crianças, com materiais recicláveis fornecidos pelas famílias Figura 17 – Aluna de dois anos cozinhando “comidinha” com barro, folhas e areia Figura 18 – Prato com folhas que representa uma salada, preparada por uma aluna de três anos 81 EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL Visita à feira Essa atividade pode ser realizada de duas formas: visita à feira do bairro ou organização de barracas para simular uma visita à feira. Materiais necessários para simulação das barracas da feira: mesas, bandejas, caixotes e caixas de papelão para dispor os alimentos in natura higienizados; sacolas preferencialmente retornáveis para cada educando participante; dinheiro falso ou fichas para aquisição de alimentos; guardanapos e utensílios para degustação de alimentos. É importante ter adultos de referência para atuar como “feirantes” e que esses conheçam todos os alimentos expostos para apresentá-los para as crianças. Podem ser feitas perguntas durante a atividade, de acordo com a idade e o nível de compreensão dos alunos, tais como: “Você conhece esse alimento?”, “Já experimentou esse alimento?”, “Como pode ser preparado esse alimento?”. Roda de conversa com alimentos A roda de conversa é uma estratégia simples e efetiva. Consiste em dispor as crianças em roda ou meio círculo e apresentar alimentos in natura. As crianças devem ser encorajadas a pegar os alimentos, cheirá-los, observá-los. É interessante trazer também alimentos previamente preparados (higienizados, porcionados) para que
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