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Avidez de IgG em amostras coletadas em papel filtro: importância do diagnóstico precoce da toxoplasmose congênita Jéssica Yonara de SouzaTaynara Cristina GomesHanstter Hallison Alves RezendeHeloísa Ribeiro StorchiloPatrícia Giffron RodriguesAna Maria de Castro Abstrair Objetivo O objetivo do presente estudo é padronizar e avaliar o uso do teste de avidez do anticorpo imunoglobulina G (IgG) em amostras de sangue de recém-nascidos coletadas em papel filtro para a realização do teste do calcanhar visando sua implementação em programas em andamento. Métodos Amostras de sangue de recém-nascidos foram coletadas em papel filtro simultaneamente com o teste do punho do calcanhar. Todas as amostras foram submetidas aos ensaios imunoglobulina M IgM e imunoadsorção enzimática (ELISA). O sangue periférico foi coletado novamente de forma tradicional e em papel filtro de recém-nascidos com níveis elevados de IgG (33). Foram realizados três tipos de técnicas, o padrão de medição de IgG em soro, adaptado para papel filtro e a técnica de avidez de IgG em soro e em papel filtro. Os resultados do teste de avidez foram classificados de acordo com o protocolo de Rahbari. Resultados Das 177 amostras, 17 foram coletadas em duplicata da mesma criança, sendo 1 de sangue periférico e 1 em papel filtro. Nesta análise, 1 (5,88%) das 17 amostras coletadas em duplicata também apresentou baixa avidez de IgG, sugerindo infecção congênita. Além disso, os resultados obtidos a partir de soro e papel filtro foram concordantes, ou seja, 16 (94,12%) amostras apresentaram alta avidez, com 100% de concordância entre os resultados obtidos do soro e do papel filtro. Conclusão Os resultados do presente estudo indicam que o teste de avidez pode ser outro método valioso para o diagnóstico de toxoplasmose congênita em recém-nascidos. Palavras-chave toxoplasmose; avidez de IgG; papel de filtro; triagem neonatal; gravidez Resumo Objetivo O objetivo do presente estudo é padronizar e avaliar a utilização do teste de avidez de anticorpos imunoglobulina G (IgG) em amostras de sangue de recémnascidos (RNs) coletadas em papel filtro para a realização do teste do pezinho visando a implementação nos programas já vigentes. Métodos Foram coletadas amostras de sangue de recém-nascidos em papel filtro simultaneamente ao teste do pezinho. Em todas as amostras, foram realizados os testes imunoenzimáticos (ELISA) imunoglobulina M (IgM) e IgG. Dos RNs que apresentaram altos índices de IgG (33), foi novamente coletado sangue periférico da forma tradicional e em papel filtro. Foram realizadas técnicas padrão para a dosagem de IgG em soro, adaptadas para papel filtro, e a técnica de avidez de IgG em soro e em papel filtro. Os valores obtidos para o teste de avidez foram classificados de acordo com o protocolo de Rahbari. Resultados Dentre as 177 recoletas, em 17 amostras foi realizada a coleta simultânea de sangue periférico e papel filtro da mesma criança. Nesta análise, 1 (5,88%) das 17 amostras coletadas em duplicata obteve também baixa avidez de IgG, sugerindo infecção congênita da criança, e houve concordância entre os resultados obtidos em soro e em papel filtro: 16 (94,12%) das amostras apresentaram alta avidez, com concordância de 100% entre os resultados obtidos em soro e em papel filtro. Conclusão Os dados do presente trabalho evidenciam que o teste de avidez poderá ser mais um método valioso a ser utilizado no diagnóstico da toxoplasmose congênita em RNs. Palavras-chave toxoplasmose; avidez de IgG; papel filtro; triagem neonatal; gravidez Introdução A toxoplasmose congênita é uma doença infecciosa causada pela transferência transplacentária de taquizoítos de Toxoplasma gondii da infecção primária da mãe, pela reinfecção ou pelo ressurgimento de uma infecção anterior, e é particularmente relevante devido aos danos infligidos ao feto em desenvolvimento.1 A toxoplasmose é uma das doenças mais nocivas para o feto, principalmente quando a mãe se infecta no 1St 2 trimestres de gravidez.2 Estudos no Brasil têm revelado uma prevalência de toxoplasmose congênita entre 3 e 20 por 10.000 nascidos vivos.3,4,5,6 Aproximadamente 80% das crianças infectadas verticalmente não apresentam sintomas ao nascimento, mas depois apresentam sinais da doença, principalmente com envolvimento ocular, motor e do sistema nervoso central.7,8 A importância do diagnóstico da infecção ativa por T. gondii durante a gestação e da confirmação da transmissão congênita em recém-nascidos (RNs) não pode ser exagerada, pois permite a adoção de medidas de atenção primária e secundária, minimizando os sérios comprometimentos causados pela transmissão congênita.9 Nos exames laboratoriais de rotina oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a toxoplasmose é diagnosticada por meio de testes sorológicos baseados na detecção de anticorpos específicos das classes de imunoglobulina M (IgM) e imunoglobulina G (IgG), principalmente por meio do método de ensaio imunoenzimático (ELISA).10 No entanto, a assistência prestada às gestantes durante o pré-natal ainda não é satisfatória. As gestantes costumam ter acesso aos exames apenas no último mês de gestação, quando os exames pré-natais são realizados em programas que utilizam papel filtro para triagem sorológica. Essa situação é um dos principais fatores que limitam o controle e a prevenção da infecção, da confirmação do risco e da transmissão congênita.11 O diagnóstico da toxoplasmose é complexo, e o monitoramento dos RNs de mães infectadas por T. gondii, a confirmação da infecção e o tratamento precoce são cruciais para o prognóstico do recém-nascido.12 A literatura recomenda o teste de avidez IgG por ser uma técnica rápida e barata, sendo um método auxiliar para otimização do diagnóstico de infecção recente e, portanto, de toxoplasmose congênita. Essa recomendação favorece a implementação dessa técnica em programas de saúde pública, especialmente no Brasil, onde a incidência de toxoplasmose congênita é alta. A infecção geralmente é confirmada por exames laboratoriais que identificam o parasita ou pela presença de anticorpos específicos que não atravessam a barreira placentária (IgA, IgM ou IgE) no sangue do paciente.13 A imunoglobulina G, que é um marcador de infecção crônica e atravessa a barreira transplacentária, ainda não é usada como marcador de infecção congênita. No entanto, quando os níveis de IgG em RNs diferem dos níveis maternos, eles podem sugerir infecção.14 A afinidade funcional dos anticorpos IgG para antígenos é baixa na resposta primária do antígeno e aumenta quando o sistema imunológico atinge a maturidade.15 O teste de avidez de anticorpos IgG analisa a afinidade de ligação do complexo antígeno-anticorpo (AG-AB). A ligação AG-AB é facilmente dissociada na fase aguda da doença, pois a síntese de anticorpos é recente. É por isso que a IgG tem baixa avidez para antígenos, que são considerados de baixa avidez (< 30%, dependendo de quais kits e protocolos são usados). Por outro lado, os complexos AG-AB são de difícil dissociação na fase crônica, apresentando alta avidez de IgG, ou seja, síntese tardia de anticorpos considerados de alta avidez.16 Portanto, o objetivo do presente estudo foi padronizar e avaliar o uso do teste de avidez de anticorpos IgG em amostras de sangue de RNs, a fim de otimizá-lo e empregá-lo em programas existentes que utilizam papel filtro para coleta de sangue para o teste de puntura do calcanhar neonatal. Métodos O presente projeto de pesquisa foi submetido ao Sistema Brasileiro de Propostas de Pesquisa em Seres Humanos, Plataforma Brasil, e foi aceito sob o Protocolo nº 943.441 em 11 de fevereiro de 2015. As amostras de sangue foram coletadas entre abril de 2016 e fevereiro de 2017 nas maternidades do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC-UFG) e do Hospital e Maternidade Dona Iris (HDMI), ambas no município de Goiânia, estado de Goiás, Brasil, ena maternidade da Era Cais Nova (CNE, em Aparecida de Goiânia, estado de Goiás, Brasil. Essas maternidades foram escolhidas por conveniência, e as pacientes eram provenientes da rede pública de saúde de Goiânia, estado de Goiás, Brasil. As amostras foram coletadas em papel filtro ao mesmo tempo em que foi aplicado o teste do punho do calcanhar, mediante o consentimento do responsável pelo RN. O sangue foi coletado da região plantar lateral do RN em papel filtro Wathman Grau 1, com o RN mantido na posição de arroto para garantir uma boa circulação sanguínea nos pés. Após os círculos marcados no papel filtro serem preenchidos com sangue, os papéis foram etiquetados e colocados em prateleiras horizontais para secar por ~ 3 horas à temperatura ambiente, entre 15 e 20°C, evitando o contato com outras amostras. As amostras biológicas secas foram então encaminhadas para o Laboratório de Estudos de Relação Parasita-Hospedeiro da Universidade Federal de Goiás (LAERPH-UFG). Todas as amostras foram submetidas a ELISA IgM e IgG utilizando kits Quibasa-Bioclin. Recém-nascidos com níveis de IgG superiores à média dos pacientes testados na rotina do LAERPH, ou seja, pacientes com nível ≥ 3, serviram como critério de risco para infecção congênita. Uma nova amostra de sangue periférico foi coletada desses lactentes, colhida da maneira tradicional e em papel filtro, dentro de um período de até 3 meses após o 1St coleta de amostra de sangue, para confirmação e comparação da sorologia em papel filtro e para o teste de avidez IgG do lactente. A avidez foi avaliada pelo protocolo de Rahbari et al.,17 com algumas adaptações para o papel de filtro, conforme descrito em detalhes em Gráfico 1. https://www.scielo.br/j/rbgo/a/fJrqkttjhFc4FWfcMR5QhCz/?lang=en Quadro 1 Técnica ELISA (ensaio imunoenzimático) de acordo com o protocolo do fabricante do kit Quibasa- Bioclin, técnica adaptada para avidez IgG, e padronizada internamente com alterações para o uso de amostras coletadas em papel filtro Duas placas, A e B, foram utilizadas simultaneamente para determinar a reatividade. As amostras de soro foram diluídas 1:200 e 100 μl foram adicionados por poço. Após a incubação, a placa A foi lavada 5 vezes com tampão de amostra dos kits comerciais Bioclin (Quibasa Química Básica Ltda), enquanto a placa B foi lavada 3 vezes com tampão de amostra contendo 6 molares de ureia. As placas foram então tratadas de acordo com as instruções do fabricante. Para validar a técnica e padronizar o uso de discos de papel filtro de 5 mm, foram realizados testes concomitantemente utilizando as amostras coletadas em papel filtro utilizando o kit comercial Virion Serion para papel filtro e os kits comerciais Quibasa-Bioclin utilizados em nosso estudo. Após as leituras e validações técnicas, o ponto de corte de cada placa e os índices de cada amostra foram calculados para determinar IgG e IgM. A porcentagem de avidez de IgG foi calculada com base na seguinte fórmula: AI = Abs (U + ) / Abs (U-) x 100,1 onde o resultado da absorvância dos poços lavados com PBS-ureia (U+) foi dividido pelas absorvâncias dos poços lavados com PBS (U-) e depois multiplicado por 100.17Os valores obtidos no teste de avidez foram classificados de acordo com o protocolo proposto por Rahbari et al.,17 e pacientes com valores de avidez ≤ 30% foram considerados como tendo baixa avidez de IgG. Resultados Um total de 1.277 amostras de sangue total foram coletadas em papel filtro de RNs de 3 a 7 dias de idade nas maternidades do HC-UFG, do HMDI e do CNE. O teste ELISA detectou a presença de anticorpos IgG anti-T. gondii em 44,4% (567/1.277) das amostras analisadas. Das 567 amostras de sangue coletadas em papel filtro reativas à IgG, 57,67% (327/567) apresentaram valor de absorbância ≥ 3,0 e foram consideradas de risco no presente estudo. Seguindo a metodologia proposta, as mães de lactentes cujas amostras de sangue em papel filtro apresentaram títulos ELISA ≥ 3 foram contatadas e amostras de sangue periférico foram coletadas de seus bebês antes dos 3 meses de idade 1. Comparação dos resultados do sangue em papel filtro e sangue periférico Foram coletados 177 pares de amostras, e os resultados de 167 (94,36%) amostras de sangue periférico de RNs foram concordantes com os obtidos no teste de punção do calcanhar em papel filtro. No entanto, 10 (5,64%) amostras de sangue periférico apresentaram resultados inconsistentes com os obtidos em papel filtro. 2. Comparação da sorologia em amostras coletadas simultaneamente de sangue periférico de lactentes e suas mães Todos os 177 pares de lembranças (mães e filhos) realizados apresentaram resultados negativos para IgM. Em relação à IgG, 167 pares (94,36%) de amostras de mãe e filho foram detectados com a presença de anticorpos IgG anti-T gondii. 3. Alta avidez de IgG - papel de filtro versus sangue periférico As 167 amostras de bebês que permaneceram IgG positivas após 3 meses foram submetidas ao teste de avidez IgG para determinar a força de ligação desta imunoglobulina com o epítopo, a fim de verificar se a infecção era uma infecção recente ou passada da mãe. Dentre essas 167 amostras, 163 (97,60%) apresentaram alta avidez de anticorpos e 4 (2,40%) das amostras apresentaram baixa avidez de anticorpos IgG, o que é indicativo de infecção recente. A infecção congênita foi então confirmada em 50% das amostras de lactentes com baixa avidez de anticorpos IgG pelo método de Western Blot. Para lactentes com alta avidez de IgG, o achado deve ser confirmado por outros métodos. Dentre as 167 amostras coletadas em duplicata, 17 amostras foram coletadas aleatoriamente de sangue periférico e papel filtro simultaneamente do mesmo lactente. Nesta análise, 1 (5,88%) das 17 amostras coletadas em duplicata também apresentou baixa avidez de IgG, sugerindo infecção congênita do lactente, e os resultados obtidos em soro e em papel filtro foram concordantes. Dezesseis (94,12%) das amostras apresentaram alta avidez, com 100% de concordância entre os resultados obtidos no soro e no papel filtro Discussão O diagnóstico clínico da toxoplasmose é complexo e, às vezes, impreciso, pois a maioria das gestantes é assintomática. Além disso, quando apresentam sintomas, estes podem ser confundidos com outros agentes infecciosos, como citomegalovírus, vírus Herpes simplex (HSV-1 ou HSV-2), vírus da rubéola, HIV, Epstein Barr, Treponema pallidum, Listeria monocytogenes, Borrelia burgdorferi (doença de Lyme) e Trypanosoma cruzi (doença de Chagas).18 De acordo com dados apresentados pela Associação de Pais e Amigos de Crianças com Deficiência (APAE) em Goiânia, Goiás, Brasil, no período de 2003 a 2013, foram realizados 9.247.974 exames de triagem pré-natal em mães em seus 1St trimestre de gravidez, mas apenas 653.562 gestantes foram submetidas a exames pré-natais nos 3Rd trimestre. Em outras palavras, ~ 93% das mães não se submeteram ao teste de rastreamento de toxoplasmose recomendado durante a gravidez, embora esta seja a terceira doença mais frequente diagnosticada entre os 24 testes realizados durante o pré- natal em um total de 27.924 gestantes com infecções confirmadas, enquanto a hepatite B e a sífilis ocupam o primeiro e o segundo lugar, respectivamente.19 A infecção neonatal geralmente é assintomática e, quando identificada, pode apresentar sinais clínicos semelhantes à eritroblase-tose fetal e a certas doenças degenerativas. O exame clínico apenas sugere a possibilidade dessa etiologia, mesmo quando a toxoplasmose é sintomática.20 A maioria dos estudos, incluindo os de Buffolano et al.21 e Cañedo-Solares et al.,22 foco no valor preditivo do teste de avidez IgG em gestantes, demonstrando a importância deste teste no diagnóstico durante a fase aguda da infecção, com 100% de sensibilidade e 92,7% de especificidade.23,24 No entanto, poucos estudos na literatura enfocaram o uso da avidez no sangue de RNs, e observaram baixos valores de avidez de IgG emRNs infectados.25 O foco do presente estudo foi mensurar e analisar os níveis de IgG e testar a avidez de IgG no sangue periférico de RNs, seguindo os critérios supracitados. No entanto, com base em nossos achados e no potencial promissor desse método no diagnóstico precoce da toxoplasmose congênita, a possibilidade de validação de uma técnica de avidez IgG em papel filtro seria de grande relevância, dada a sua notável contribuição para o sistema de atenção primária aos RNs, como no teste do punho do calcanhar, por exemplo. O Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN), conhecido como "Heel Prick Test", foi criado e implementado pelo Ministério da Saúde por meio da Portaria MG/MS nº 822/01,26 e visa a detecção precoce de distúrbios e doenças em RNs para garantir a intervenção adequada e potencialização do tratamento. Quase 3 milhões de crianças nascem a cada ano no Brasil, e a cobertura do rastreamento do RN varia de acordo com o estado. No entanto, em 2017 (os dados mais recentes), a cobertura nacional do teste do calcanhar por picada atingiu 85,8%, demonstrando o forte apoio desse programa pela população.27 A adesão claramente maior ao teste do calcanhar do que ao teste pré-natal da mãe ressalta o viés contra o programa pré-natal. Assim, para compensar essa falta, o teste de avidez de IgG em papel filtro pode ser de grande valia como parte das abordagens metodológicas realizadas no teste de puntura do calcanhar. A detecção de IgG de baixa avidez já no teste de puntura do calcanhar de RNs pode agilizar o diagnóstico de infecção congênita. De acordo com Fonseca et al.,23 RNs expostos a T. gondii apresentam níveis séricos elevados de IgM e IgG e, quando sua IgG apresenta baixa avidez, apresentam sintomas mais graves de toxoplasmose congênita. Os autores acima mencionados observaram que a avidez de IgG elevada em RNs provavelmente indica um menor risco de infecção por T. gondii.28 As 10 amostras discordantes relatadas no item 1 da seção Resultados podem ser explicadas pela taxa de sensibilidade de 61,1 a 99,3% do teste ELISA e pelo período de tempo do 2Nd coleta de sangue, que, em alguns casos, foi de 3 meses. Apesar dessa pequena divergência, o uso da sorologia em amostras coletadas em papel filtro já foi padronizado e é amplamente utilizado, sendo a técnica considerada altamente eficiente e reprodutível.29,30,31,32 Quanto às 4 amostras que apresentaram baixa avidez de anticorpos IgG descritas no item 2 da seção Resultados, e considerando que a IgG atravessa a barreira placentária, esse anticorpo pode ter sido passado para o feto durante a gestação. No entanto, isso não diminui sua relevância, uma vez que pode indicar infecção materna primária, com risco considerável de transmissão vertical. Essa situação pode indicar uma infecção recente ou mesmo uma produção atual de IgG de baixa avidez pelo RN, o que em ambos os casos é de extrema importância para o diagnóstico e tratamento mais precoce possível.33,34 O fato de nem todas as amostras com altas concentrações de IgG terem sido coletadas em duplicata deveu-se à dificuldade de comunicação com os pais dos lactentes e à falta de interesse em permitir uma segunda coleta de sangue, uma vez que os lactentes eram aparentemente assintomáticos. Ressalta-se que a falta de comunicação é um dos principais problemas no diagnóstico da toxoplasmose congênita, pois muitas vezes os RNs nascem assintomáticos e só apresentam sequelas meses ou mesmo anos após o nascimento.30,35,36,37 Nossos dados revelam que o rastreamento de lactentes com altos títulos de IgG, aliado ao teste de avidez, pode contribuir para o rastreamento e diagnóstico precoce da toxoplasmose pós-natal. Conclusão O teste de avidez IgG mostrou-se eficiente, pois possibilitou a detecção de pacientes com baixa avidez em 2,4% das amostras analisadas, contribuindo para a identificação precoce da toxoplasmose congênita em 50% dessas amostras, posteriormente confirmada pelos testes de Western Blot. O rastreamento para toxoplasmose em RNs com altos títulos de IgG, aliado ao teste de avidez, pode ser realizado em papel filtro e facilmente incluído no atual teste de puntura do calcanhar. Assim, pode contribuir para o rastreamento e diagnóstico precoce, uma vez que a toxoplasmose congênita é de difícil diagnóstico e depende de diversos fatores, particularmente daqueles referentes à idade do feto quando a infecção se instala, e da ausência de sintomas em lactentes infectados, o que dificulta ainda mais sua identificação. Os dados aqui relatados indicam que o teste de avidez pode ser outro método valioso para o diagnóstico de toxoplasmose congênita em RNs. Esse método é de baixo custo e fácil de implementar em amostras de sangue que apresentam altas concentrações de IgG detectadas no teste do calcanhar, teste básico do programa pós-natal, oferecido em todo o território nacional pelo SUS. Referências • 1 Teimouri A, Mohtasebi S, Kazemirad E, Keshavarz H. Papel do teste de avidez IgG Toxoplasma gondii na discriminação entre toxoplasmose aguda e crônica na gravidez. J Clin Microbiol. 2020;58(09):e00505–e00520. DOI: 10.1128/JCM.00505-20 » https://doi.org/10.1128/JCM.00505-20 • 2 Cruz AM, Araújo AM, Fit SS, Vieira LC, Félix LC, Sousa DS, et al. Incidência e delineamento epidemiológico de gestantes com toxoplasmose, em uma unidade de referência de Santarém-Pará. Livro de Resumos da Feira de Trabalhos Acadêmicos e Científicos–Fetac; Novembro de 2014; Santarém, PA. • 3 Bahia-Oliveira LM, Jones JL, Azevedo-Silva J, Alves CC, Oréfice F, Addiss DG. 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