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APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 1 APG 3 – Se não for um problema na rota bioquímica, é uma falha no sistema imunológico... 1) REVER OS MECANISMOS IMUNOLÓGICOS ENVOLVIDOS NA RESPOSTA ALÉRGICA A ativação do sistema imunológico normalmente resulta na mobilização e na coordenação da atividade de células T e células B, a fim de proteger o corpo contra microrganismos invasores e substâncias tóxicas. Infelizmente, esse mesmo sistema é capaz de causar sérios danos quando não funciona do modo pretendido. Hipersensibilidade é definida como resposta anormal e excessiva do sistema imunológico ativado que provoca lesões e danos aos tecidos do hospedeiro. Os distúrbios causados por respostas imunes são chamados coletivamente de reações de hipersensibilidade. Há 4 tipos, porém vamos rever somente a do tipo I. Hipersensibilidade do tipo 1: Basicamente, anticorpos IgE causam a degranulação de mastócitos = reações alérgicas. É causada por anticorpos IgE específicos para antígenos ambientais que estimulam os mastócitos (alergias) e é o tipo mais prevalente de doença de hipersensibilidade. Ocorre contra antígenos ambientais, não microbianos que envolve os linfócitos do tipo TH2, IgE, mastócitos, basófilos e eosinófilos. Pode ser chamada de hipersensibilidade imediata = respostas rápidas de minutos após a exposição. A resposta de fase inicial ou primária geralmente se inicia de 5 a 30 min após exposição a um alérgeno e desaparece dentro de 60 min Porém, também pode promover uma resposta tardia, em que a inflamação deixada na região pela liberação de citocinas que ficam causando lesão tecidual de tal forma que quanto mais tempo o paciente continuar exposta ao antígeno maior será essa inflamação. Essa hipersensibilidade é chamada também de atopia ou alergia quando uma pessoa é alérgica a um determinado antígeno. Os alergênios mais comumente encontrados incluem proteínas do pólen, ácaros domésticos, pelos de animais, alimentos, produtos químicos domésticos e agentes farmacêuticos como o antibiótico penicilina. Essa reação só ocorre frente a uma exposição anterior ao antígeno, já que os anticorpos produzidos anteriormente a esse alérgeno (antígeno) específico a chamada sensibilização. É dividida em três fases: 1) Tem-se a 1ª exposição do organismo ao alérgeno, quando o antígeno é exposto vai ativar os linfócitos TH2 e isso vai levar os linfócitos B, específicos ao antígeno, a sofrer maturação e liberarem os seus anticorpos: a IgE. Essa IgE se ligará aos mastócitos ficando sensibilizado. 2) Na exposição repetida (fase de ativação), o alérgeno vai se ligar à IgE que está presa na membrana do mastócito (ligação cruzada) que vai causar a ativação e a degranalução do mastócito que secretarão seus mediadores (fase 3): aminas vasoativas = histamina, mediadores lipídicos (reação de hipersensibilidade imediata) e citocinas (reação de fase tardia, ativação de linfócitos) que induzirão a vasodilatação, aumento da permeabilidade vascular, levando a um extravasamento do plasma, com a formação da pápula eritematosa (lesão na pele), essa reação pode acontecer em questão de minutos. A reação imediata é posteriormente seguida (2h-8h) por uma reação tardia, com inflamação e acúmulo de neutrófilos, basófilos, eosinófilos e linfócitos T do tipo TH2 no tecido, podendo durar 24 horas e ir regredindo a resposta inflamatória no decorrer do tempo. É menos intensa que a imediata! REAÇÕES ANAFILÁTICAS OU SISTÊMICAS: A anafilaxia é uma reação de hipersensibilidade sistêmica catastrófica e potencialmente fatal mediada por IgE. Está associada à liberação generalizada de histamina na circulação sistêmica, o que produz vasodilatação maciça, hipotensão, hipoxia arterial e edema das vias respiratórias. É o resultado da existência de quantidades, mesmo que mínimas, de um alergênio introduzido no organismo através das vias respiratórias, da pele, do sangue ou da mucosa gastrintestinal. SENSIBILIZAÇÃO ATIVAÇÃO EFETORA DEGRANULAÇÃO DO MASTÓCITO APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 2 2) DISCUTIR A EPIDEMIOLOGIA, ETIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA, MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DE ALERGIAS ALIMENTARES E INTOLERÂNCIAS ALIMENTARES O diagnóstico de alergia alimentar, ou intolerância alimentar, é feito com frequência, considerando especialmente que os debates e as controvérsias destacam as certezas científicas. A alergologia moderna acredita que esta condição pode ser a causa de muitas doenças, mesmo daquelas em que não há uma regra alergênica de início, tais como Síndrome do Intestino Irritável, neuropatias, desordens psicológicas, síndrome hipercinética, otite serosa média, doenças do colágeno, etc. Mais de 90% das reações alérgicas em crianças são causadas por 6 alimentos, como proteína do leite de vaca, ovo, amendoim, trigo, soja e amêndoa, enquanto no adulto são o amendoim, peixes e frutos do mar e amêndoa os maiores responsáveis. Além desses, muitos outros alimentos, como frutas, vegetais e condimentos, podem ser alergênicos aos seres humanos. A prevalência da alergia alimentar tem sido investigada em um número limitado de estudos, parecendo declinar após a 1ª década de vida, acometendo de 1 a 2% dos adultos e até 5 a 8% das crianças <3 anos. A alergia alimentar é definida como reação adversa a elementos da dieta, de responsabilidade de um ou mais mecanismos imunológicos, sendo a hipersensibilidade do tipo I (reações anafiláticas ou imediatas), mediada por IgE, a principal causa do fenômeno alérgico. No adulto, causas não imunológicas de intolerância alimentar surgem muito mais frequentemente, pois grande parte das reações alimentares não é mediada por mecanismo imune, sendo, então, não alérgicas. Dessa forma, as reações adversas aos alimentos consistem em qualquer reação adversa após a ingestão de um aditivo alimentar ou alimento e são classicamente divididas em: Intolerâncias alimentares: são respostas fisiológicas; alergias alimentares: respostas adversas imunológicas e podem ser mediadas por IgE ou não mediadas por IgE. ALERGIAS ALIMENTARES FISIOPATOLOGIA Uma deficiência nos mecanismos imunológicos e não imunológicos de defesa (hidrólise proteolítica, produção de imunoglobulinas específicas, atividade gástrica, flora intestinal, secreção de muco, renovação celular do epitélio, motilidade intestinal e sistema reticuloendotelial hepático) resulta em entrada e absorção de quantidades excessivas de antígeno, sensibilizando o hospedeiro suscetível. Dos componentes de uma dieta balanceada: carboidratos, lipídios e proteínas, o determinante de alergia alimentar é a proteína! Os carboidratos e lipídios estão relacionados principalmente à intolerância alimentar. A anafilaxia induzida por alimentos é a principal causa de internações de emergência, especialmente entre crianças. Qualquer alimento é capaz de induzir reação de hipersensibilidade em pessoas suscetíveis, porém os alimentos mais comumente envolvidos incluem amendoim, nozes e frutos do mar. Indivíduos com asma, adolescentes e aqueles com história pessoal ou familiar de alergia alimentar têm maior risco de desenvolver reações graves. A penetração do antígeno na mucosa gastrointestinal pode desencadear a produção de IgE no indivíduo predisposto. Os componentes antigênicos são geralmente glicoproteínas resistes ao calor e à destruição enzimática, o que os deixa mais vulneráveis aos mecanismos naturais de defesa, chegando intactos aos locais de absorção e ocasionando a sensibilização. Uma vez sensibilizados, os linfócitos B se diferenciam e iniciam a produção de moléculas de IgE, que se ligam aos mastócitos presentes na parede dotubo digestivo, especialmente na submucosa e na lâmina própria da mucosa. Em exposição subsequente ao mesmo alérgeno da dieta, este pode ligar-se a duas moléculas contíguas de IgE na parede do mastócito e ativá-las. A ativação dos mastócitos resulta na degranulação e liberação de mediadores químicos pré-formados e na geração de mediadores secundários. As consequências imediatas no trato alimentar são: Aumento da permeabilidade vascular; Produção aumentada de muco; Contração da musculatura lisa; Edema das vilosidades; Estimulação de fibras nervosas de dor; Recrutamento de células inflamatórias. Uma forma rara de anafilaxia associada a alimentos é a anafilaxia induzida por exercício dependente de alimentos (AIEDA), em que a fisiopatologia ainda não está muito bem esclarecida, mas acredita-se que existe um estado maleável de tolerância imunológica em indivíduos suscetíveis. APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 3 Durante a prática de exercícios físicos, são prováveis alterações na osmolaridade e no pH do plasma, na atividade enzimática do tecido, na distribuição do fluxo sanguíneo e na permeabilidade gastrintestinal, o que resulta na facilitação do reconhecimento e ligação com o alergênio. É comum a manifestação de sensibilidade cruzada (reações cruzadas) aos alergéno entre alimentos de grupos alimentares estreitamente relacionados. Por exemplo, alguns indivíduos são alérgicos a todas as leguminosas (ou seja, feijão, ervilhas e amendoim) MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A maioria das reações se manifesta no intervalo de 1 hora após a exposição ao alimento, porém é possível ter reações tardias, secundárias à absorção tardia do alérgeno. As manifestações clínicas são dependentes de muitos fatores: Quantidade de alimento ingerido e há quanto tempo que não comia; Doença e medicação concomitante Exercícios físicos; Fase do ciclo menstrual. O episódio anafilático ou é súbito ou anunciado por sintomas menores, como sensação de calor, parestesia na boca, desconforto abdominal, urticária, ansiedade, dispneia. Os principais sintomas são observados na pele, nos sistemas digestório e respiratório. A apresentação pode ser diferente para adultos e crianças. Nas crianças são mais comuns sintomas como dor abdominal, urticária, rinite alérgica, conjuntivite e rubor facial. Respiração sibilante e estridor são mais comuns em pré- escolares e crianças mais velhas, enquanto urticária e vômitos são geralmente observados em lactentes. A enxaqueca é um acontecimento frequente em pacientes alérgicos. DIAGNÓSTICO Como em toda prática médica, a consulta de um paciente com queixa provável alergia alimentar se assenta sobre uma detalhada anamnese. O diagnóstico das alergias alimentares é múltiplo e depende da elaboração cuidadosa de um histórico alimentar e de alguns testes: Dieta de exclusão: método mais utilizado para a confirmação do diagnóstico. Consiste em excluir do regime alimentar, por 2 semanas, os nutrientes suspeitos e reintroduzi-los um a um. Assim, chega- se ao desaparecimento dos sintomas, quando o alimento responsável pela alergia é afastado da dieta. Quando o teste é positivo, isto é, os sintomas desaparecem com a orientação nutricional, o paciente entra na fase seguinte de avaliação, que irá variar dependendo de o alérgeno ter sido ou não reconhecido na primeira fase. Dieta de provocação: é o teste que melhor identifica reação adversa ao alimento. É dieta de prova e tem, portanto, finalidade diagnóstica, sendo considerado padrão ouro. Deve ser realizada sob supervisão rigorosa, de preferência em ambiente hospitalar. Uma semana antes deve ser suspensa a administração de medicamentos como anti- histamínicos e corticosteroides, e também os alimentos a serem testados. Testes cutâneos: suspensões aquosas de extratos alimentares são aplicadas à pele do antebraço, que, posteriormente, sofre escarificações ou punturas. Se o paciente apresenta IgE contra o alimento testado, forma-se, no local da exposição, uma pápula eritematosa em 10 a 15 min. Biópsia intestinal: é feita a biópsia da mucosa jejunal, revelado anormalidades nas vilosidades e infiltração de células inflamatórias. APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 4 TRATAMENTO O tratamento da alergia alimentar incide especificamente sobre a prevenção da exposição ao alérgeno agressor. Indivíduos com alergias graves ou com histórico de anafilaxia devem ser orientados a utilizar autoinjetores carregados com epinefrina e a procurar atendimento de emergência imediatamente após a exposição. INTOLERÂNCIAS ALIMENTARES FISIOPATOLOGIA A intolerância alimentar corresponde às alterações que podem ocorrer nos processos metabólicos de digestão e absorção de determinado componente do alimento sem haver envolvimento de resposta imunológica nesse processo. Abrangem desde deficiências enzimáticas que são responsáveis por digerir e absorver determinado alimento, como deficiência da lactase, e outras doenças gastrointestinais, até reações a corantes (tartrazina), contaminantes acidentais (metais pesados, antibióticos, pesticidas) e agentes farmacológicos naturais em alguns alimentos (cafeína, tiramina). As deficiências enzimáticas podem provocar profunda intolerância a certos carboidratos, aminoácidos e lipídios, como na galactosemia, fenilcetonúria, intolerância à lactose e insuficiência pancreática. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O paciente que sofre com intolerância alimentar frequentemente sente os sintomas logo após o consumo do alimento. Os sinais demoram apenas algumas horas para surgir. Dor abdominal; Náuseas; Vômitos; Flatulência e/ou distensão abdominal; Cefaleia; Diarreia; Os sintomas sempre variam de pessoa para pessoa e dependem do tipo da intolerância, ou seja, a intensidade é varável. DIAGNÓSTICO É importante fazer uma boa anamnese que inclua os hábitos alimentares e estilo de vida do paciente. Para confirmar o diagnóstico, pode ser solicitado alguns exames: análise sanguíneas, fecais, endoscopia. Excluir os alimentos prováveis que desencadearam os sintomas por 2 a 4 semanas, e depois reintroduzir os alimentos pode ser válido para o diagnóstico. No caso da intolerância à lactose, por exemplo, tem-se os seguintes testes: O teste de medida do pH e de substâncias redutoras nas fezes: considera-se sugestivo de intolerância à lactose o achado de pH ≤ 5 e a presença de substâncias redutoras ≥ 0,5 g%. O pH fecal é o primeiro a se alterar, sendo mais sensível que a presença de substâncias redutoras nas fezes. O teste de absorção de lactose pela sobrecarga oral: o paciente faz ingestão de uma quantidade determinada de lactose e o registro posterior do incremento da glicemia. Se surgirem sinais e sintomas até 48 horas após a ingestão da solução-teste, pode-se falar em intolerância à lactose. Existe também a dosagem basal – quando o paciente toma a glicose, em cima dessa glicemia basal, a glicemia deve subir pelo menos 20, caso não suba, há alta probabilidade de ser intolerância à lactose Teste do H2 expirado: cerca de 20% do H2 formado durante a fermentação bacteriana no nível do cólon é absorvido e eliminado pelos pulmões, podendo ser medido por cromatografia gasosa. A técnica consiste na administração de lactose nas doses recomendadas e colhe-se o ar expirado em uma seringa usando um bocal ou máscara facial ou cateter nasal. Valores normais: 10 ppm em condições adequadas de jejum. Valores anormais: > 20 ppm de H2. Teste genético: Recentemente, a avaliação da deficiência primária de lactase está sendo realizada por meio da pesquisa dasmutações do gene que controla a expressão da enzima lactase florizina-hidrolase. Verificou-se que o genótipo C/C 13910 está associado à hipolactasia tipo adulto, enquanto os genótipos C/T-13910 e T/T 13910 estão associados à persistência da lactase. REFERÊNCIAS ABBAS, Abul K.; PILLAI,Shiv; LICHTMAN, Andrew H.. Imunologia: Celular e Molecular. 9 ed. Rio De Janeiro: Editora Elsevier Ltda, 2019. NORRIS, Tommie L. Porth - Fisiopatologia. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021. DANI, Renato; PASSOS, Maria do Carmo F. Gastroenterologia Essencial, 4ª edição. Grupo GEN, 2011.
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