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UNESP 
 Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” 
IA – Instituto de Artes 
Programa de Pós-Graduação em Artes – Mestrado em Artes 
 
 
MIGUEL ARCANJO PRADO DE OLIVEIRA 
 
 
O discurso de O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo 
sobre Cacilda!!! Glória no TBC do Oficina e Édipo na 
Praça do Satyros, peças que buscaram dialogar com as 
"Jornadas de Junho" de 2013 
 
 
 
 
 
 
São Paulo - SP - Brasil 
2018 
UNESP 
 
 
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” 
Instituto de Artes - IA 
Programa de Pós-Graduação em Artes – Mestrado em Artes 
 
 
 
MIGUEL ARCANJO PRADO DE OLIVEIRA 
 
O discurso de O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo sobre Cacilda!!! 
Glória no TBC do Oficina e Édipo na Praça do Satyros, peças que buscaram 
dialogar com as “Jornadas de Junho” de 2013 
 
Dissertação submetida ao Instituto de Artes da UNESP – 
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, 
como requisito parcial exigido pelo Programa de Pós-
Graduação em Artes, área de concentração em Artes 
Cênicas, linha de pesquisa Estética e Poéticas Cênicas, sob 
a orientação do Prof. Dr. Alexandre Luiz Mate, para 
obtenção do título de Mestre em Artes. 
 
 
 
São Paulo - SP - Brasil 
2018 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ficha catalográfica preparada pelo Serviço de Biblioteca e Documentação do Instituto de Artes da 
UNESP 
 
 
O48d Oliveira, Miguel Arcanjo Prado de, 1981- 
O discurso de O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo sobre 
Cacilda!!! Glória no TBC do Oficina e Édipo na Praça do Satyros, 
peças que buscaram dialogar com as Jornadas de Junho de 2013 / 
Miguel Arcanjo Prado de Oliveira. - São Paulo, 2018. 
113 f. : il. color. 
 
Orientador: Prof. Dr. Alexandre Luiz Mate. 
Dissertação (Mestrado em Artes) – Universidade Estadual 
Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Instituto de Artes. 
 
1. Teatro - Aspectos políticos. 2. Teatro político brasileiro. 3. 
Jornais. 4. Crítica teatral. I. Oliveira, Miguel Arcanjo Prado de. II. 
Universidade Estadual Paulista, Instituto de Artes. III. Título. 
 
CDD 792.0981 
(Laura Mariane de Andrade - CRB 8/8666) 
 
 
 
 
 
 
 
 
MIGUEL ARCANJO PRADO DE OLIVEIRA 
 
O discurso de O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo sobre Cacilda!!! Glória no TBC 
do Oficina e Édipo na Praça do Satyros, peças que buscaram dialogar com as “Jornadas 
de Junho” de 2013 
 
Dissertação submetida ao Instituto de Artes da UNESP – Universidade Estadual Paulista 
“Júlio de Mesquita Filho”, como requisito parcial exigido pelo Programa de Pós-Graduação 
em Artes, área de concentração em Artes Cênicas, linha de pesquisa Estética e Poéticas 
Cênicas, sob a orientação do Prof. Dr. Alexandre Luiz Mate, para obtenção do título de 
Mestre em Artes. 
 
Banca Examinadora: 
 
____________________________________________________________________ 
Prof. Dr. Alexandre Luiz Mate (orientador) – Instituto de Artes – UNESP 
 
____________________________________________________________________ 
Prof. Dr. Danilo Júnior de Oliveira – CELACC – ECA – USP 
 
____________________________________________________________________ 
Prof. Dr. Dennis de Oliveira – ECA – USP 
 
Suplentes: 
 
 
____________________________________________________________________ 
Profa. Dra. Lúcia Regina Vieira Romano – IA – UNESP 
 
 
 
____________________________________________________________________ 
Profa. Dra. Simone Carleto – Pesquisadora independente 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedicatória 
 
Para Juan Manuel Tellategui, que me faz bem. 
Nina Rose Prado Honorato, de quem sou primeiro e orgulhoso fruto. 
Rafael e Gabriel, irmãos nesta aventura chamada viver. 
Cecilia, que desponta cheia de esperança e futuro. 
Cleber, Gizelle e Alê, que somaram-se aos nossos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Agradecimentos 
 
Prof. Dr. Alexandre Luiz Mate, instigante mentor repleto de afeto e ensinamentos. 
Prof. Dr. Dennis de Oliveira, nosso grande baluarte. 
Prof. Dr. Danilo Júnior de Oliveira, encorajador, sempre inteligente, desta pesquisa. 
Bob Sousa, irmão de aventuras teatrais e padrinho desta dissertação. 
Maíra Carvalho de Moraes, amiga-irmã imprescindível na vida e na academia. 
Marcelo Gonçalves, amigo-irmão desde os primeiros livros da adolescência. 
Viviane Pistache, pelo intercâmbio mineiro na neurótica Selva de Pedra. 
Companheiros do grupo de pesquisa Amorada, pelas trocas férteis. 
Professores, funcionários e colegas do Instituto de Artes da UNESP, onde tanto cresci, 
representados na figura de Cassiano Fraga, amigo fiel neste processo de mestrado. 
Zé Celso, Beto Mettig, Ivam Cabral, Rodolfo García Vázquez, Phedra D. Córdoba, Cléo De 
Páris, Robson Catalunha e todos artistas do Oficina e do Satyros, que sempre me acolhem 
com carinho e respeito ao diálogo profundo entre teatro e jornalismo que estabelecemos. 
Todos os queridos colegas da graduação na UFMG e da especialização na USP. 
Meus mestres no jornalismo: Marcílio Lana, Alessandra Costa, Angela Carrato, Carmen 
Vieira, Vera França, Rachel Barreto, Josie Jeronimo, Roberto Almeida, Elias Santos, Tacyana 
Arce, Paulo Valladares, Renê Astigarraga, José Amaro Siqueira, Thomaz Souto Corrêa, Alice 
Cruz, Wania Capelli, Denise Gianoglio, Félix Fassone, Rosana Costa, Denis Russo 
Burgierman, Mônica Bergamo, Otavio Frias Filho, Silvana Garzaro, Sérgio Ripardo, Ligia 
Braslauskas, Ricardo Feltrin, Fabíola Reipert, Cleide Floresta, Marina Yakabe, Luiz Carlos 
Duarte, Nilson Camargo, César Camasão, Antonio Rocha Filho, Mariana Poli, Aline Rocha 
Soares, Ailton Nasser Mineiro, Nathalia Boscolo, Lidiane Shayuri, Antonio Guerreiro, 
Douglas Tavolaro, Luiz Pimentel, Lela Ribeiro, Rafael Perantunes, Claudio Cordeiro, Tellé 
Cardim, Guta Nascimento, Ana Paula Padrão, Vitor Almeida, Natalia Sousa, Carolini 
Almeida, Bruna Ferreira, Elba Kriss, Ana Paula de Freitas, Paola Corrêa e Luiza Camargo. 
Nina Rose Prado Honorato, mãe pronta a dizer que tudo vai dar certo desde o início. 
Gabriel Prado, irmão amado e grande apoiador nesta arte de viver a vida. 
Juan Manuel Tellategui, pela paciência e amor incondicional neste processo. 
 
 
Título: O discurso de O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo sobre Cacilda!!! Glória 
no TBC do Oficina e Édipo na Praça do Satyros, peças que buscaram dialogar com as 
“Jornadas de Junho” de 2013 
Autor: Miguel Arcanjo Prado de Oliveira 
Resumo: 
 
A dissertação analisa, com base em teóricos da comunicação, da linguagem e da cultura, a 
cobertura feita pelos jornais paulistanos de circulação nacional no Brasil O Estado de S. Paulo 
e Folha de S.Paulo, bem como seus respectivos discursos, sobre as peças Cacilda!!! Glória no 
TBC da Associação Teatro Oficina Uzyna Uzona e Édipo na Praça da Cia. de Teatro Os 
Satyros. As produções teatrais buscaram dialogar com as “Jornadas de Junho” no ano de 2013. 
Após apresentar o contexto histórico no qual tais peças surgiram, dois meses após a eclosão das 
grandes manifestações conhecidas como “Jornadas de Junho”, desencadeadas por um aumento 
na tarifa do transporte público na cidade de São Paulo, a pesquisa apresenta e analisa o discurso 
dos jornais sobre tais espetáculos, descortinando seu viés ideológico e político na cobertura 
jornalístico-cultural de tais peças. 
 
Palavras chave: jornalismo, teatro, Oficina, Satyros, Jornadas de Junho. 
 
 
 
Resúmen: 
 
Esta disertación analiza, con base en teóricos de la comunicación, del lenguaje y de la cultura, 
la cobertura hecha por los diarios paulistanos de circulación nacional en Brasil O Estado de S. 
Paulo y Folha de S. Paulo, así como sus respectivos discursos sobre las obras Cacilda!!! Glória 
no TBC (Cacilda!!! Gloria en el TBC) de la Associação Teatro Oficina Uzyna Uzona e Édipo 
na Praça (Edipo en la Plaza) de la Cia. de Teatro Os Satyros. Las producciones teatrales 
buscaron dialogar con las“Jornadas de Junio” en el año 2013. Después de presentar el contexto 
histórico en lo cual dichas obras surgieron, dos meses después de la eclosión de las grandes 
manifestaciones conocidas como “Jornadas de Junio”, desencadenadas por el aumento de la 
tarifa del transporte público en la ciudad de San Pablo, la pesquisa presenta y analiza el discurso 
de los diarios sobre tales obras teatrales, descortinando su mirada ideológica y política en la 
cobertura periodística-cultural de estas obras. 
 
Palabras clave: periodismo, teatro, Oficina, Satyros, Jornadas de Junio. 
 
 
 
 
 
Abstract: 
 
This dissertation analyzes, based on communication, language and culture theorists, the 
coverage done by the newspapers from São Paulo: O Estado de S. Paulo and Folha de S. Paulo, 
as well as their respective discourses, about the plays: Cacilda!!! Glória no TBC (Cacilda!!! 
Gloria in the TBC) of the group Oficina and Édipo na Praça (Édipo in the Square) of the group 
Satyros, productions that dialogued with the “Journeys of June” in 2013, triggered by an 
increase in the public transportation fare in the city of São Paulo. After presenting the historical 
context in which such pieces appeared, two months after the outbreak of the great 
manifestations known as "Journeys of June", the research presents and analyzes the discourse 
of the newspapers about such shows, revealing their ideological and political bias in jornalistic-
cultural coverage of the plays of the two groups studied. 
 
Key words: journalism, theater, Oficina, Satyros, Journeys of June. 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
INTRODUÇÃO............................................................................................................10 
 
CAPÍTULO 1 – APONTAMENTOS SOBRE AS “JORNADAS DE JUNHO” DE 2013 
NA CIDADE DE SÃO PAULO..........................................................................21 
1.1 – Redes e ruas no século XXI: da Primavera Árabe às “Jornadas de Junho” no 
Brasil...............................................................................................................................22 
1.2 – “Jornadas de Junho” de 2013: os 20 centavos que eclodiram um país..................26 
1.3 – “Jornadas de Junho”: um movimento que influenciou um país.............................34 
 
CAPÍTULO 2 – ASSOCIAÇÃO TEAT(R)O OFICINA UZYNA UZONA E 
COMPANHIA DE TEATRO OS SATYROS: UTILIZAÇÃO DE EXPEDIENTES 
TEATRAIS EM DIÁLOGO COM A HITÓRIA RECENTE DO BRASIL............37 
2.1 – Teatro: aspectos gerais...........................................................................................37 
2.2 – Oficina: teat(r)o, antropofagia e tropicalismo........................................................39 
2.3 – Os Satyros: underground sem tabus.......................................................................47 
 
CAPÍTULO 3 – LINGUAGEM, DISCURSOS, JORNALISMO E IDEOLOGIAS, 
PLURALIDADES A SERVIÇO DE............................................................................55 
3.1 – Linguagem e discurso.............................................................................................55 
3.2 – O jornal ..................................................................................................................58 
3.3 – A notícia.................................................................................................................60 
3.4 – O acontecimento.....................................................................................................61 
3.5 – Teatro como acontecimento no jornal....................................................................64 
3.6 – Construção do discurso jornalístico.......................................................................66 
3.7 – O jornalismo cultural..............................................................................................71 
 
 
 
CAPÍTULO 4 – O DISCURSO DE O ESTADO DE S. PAULO E FOLHA DE S.PAULO 
SOBRE CACILDA!!! GLÓRIA NO TBC DO OFICINA E ÉDIPO NA PRAÇA DO 
SATYROS, PEÇAS QUE BUSCARAM DIALOGAR COM AS “JORNADAS DE 
JUNHO” DE 2013..........................................................................76 
4.1 – Cacilda!!! Glória no TBC e Édipo na Praça em O Estado de S. Paulo................76 
4.2 – Cacilda!!! Glória no TBC e Édipo na Praça na Folha de S. Paulo......................79 
4.3 – Apontamentos sobre o discurso de O Estado de S.Paulo e Folha de S. Paulo sobre 
Cacilda!!! Glória no TBC do Oficina e Édipo na Praça do Satyros, peças que buscaram 
dialogar com as “Jornadas de Junho” de 2013................................................................86 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................96 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................104 
 
ANEXOS.......................................................................................................................106 
10 
 
INTRODUÇÃO 
 
O autor da presente reflexão pretende apresentar, nesta pesquisa, uma análise do 
discurso midiático hegemônico impresso, no caso o dos jornais Folha de S. Paulo e O Estado 
de S. Paulo, sobre a as peças Cacilda!!! Glória no TBC, da Associação Teat(r)o Oficina Uzyna 
Uzona, e Édipo na Praça, da Companhia de Teatro Os Satyros. Ambos os grupos, sediados na 
cidade de São Paulo, levaram para espaços representacionais, sob forma de diálogo artístico 
cênico, os significativos atos populares ocorridos em junho de 2013 na cidade de São Paulo. 
Tais atos-manifestacionais foram desencadeados, em tese, pelo aumento de 20 centavos na 
tarifa do transporte público. A partir dos protestos na capital paulista, as manifestações 
acabaram por ser realizadas em outras partes do país, conhecidas como “Jornadas de Junho”. 
Ambas as peças estavam em processo de ensaio quando ocorreu a intensa movimentação 
social. Desse modo, ambas as equipes de criação resolveram levar à cena o que ocorria nas ruas, 
já que muitos dos artistas, das duas companhias — e de diferentes formas — participaram 
ativamente dos protestos. Nesse último particular, inclusive a sede do Satyros serviu de abrigo 
a manifestantes que, em determinado momento, fugiram da truculência policial em um dos 
protestos que culminou com violência na região da rua da Consolação e praça Roosevelt. 
Quando das estreias de ambos espetáculos, ocorridas no mesmo dia, a sexta-feira 16 de agosto 
de 2013, os dois trabalhos obtiveram cobertura dos dois tradicionais jornais paulistanos, 
representantes da imprensa escrita brasileira hegemônica, bem como posteriormente receberam 
também crítica teatral para os espetáculos nestes veículos. 
A análise de tais textos publicados sobre os espetáculos caracteriza-se no cerne desta 
pesquisa, que — a partir de certos recortes — trabalhará com conceitos de linguagem, discurso 
midiático, jornalismo e ideologia presentes nos textos analisados sobre as peças de ambos os 
grupos. Por intermédio do tema em epígrafe e seus recortes objetiva-se traçar um panorama da 
relação entre teatro e mídia/jornalismo naquele período que já entrou para a recente história do 
Brasil, face que os efeitos sociopolíticos das “Jornadas de Junho” são sentidos até os dias de 
feitura desta dissertação. 
Os objetos desta pesquisa qualitativa são dois veículos midiáticos, representantes do 
meio impresso hegemônico, Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo, que serão nesta pesquisa 
tratados por Folha e Estadão, de forma sucinta. Ambos os jornais detêm circulação de impacto 
11 
 
nacional e são amplamente respeitados, principalmente por certos estratos sociais, sobretudo 
por sua longevidade e tradição de estarem há décadas nas bancas, influenciando - de alguma 
forma - o pensamento paulista e nacional: o Estadão circula desde 1875, enquanto que a Folha, 
desde 1921. 
No ano de 2013, quando ocorreram as “Jornadas de Junho” e os espetáculos dos gruposem epígrafe estiveram em cartaz e os textos analisados foram produzidos, a Folha teve 
circulação média diária de 294.811 exemplares, enquanto que o Estadão teve uma circulação 
média diária de 232.385 exemplares, segundo dados do Instituto Verificador de Circulação 
(IVC). Tais números colocam a Folha no segundo lugar e o Estadão no quarto entre os jornais 
que mais circularam no Brasil em 2013, ano do recorte desta pesquisa. 
Devido a essa importância no jornalismo brasileiro de ambos os jornais, os dois maiores, 
mais tradicionais e de maior circulação e impacto na cidade de São Paulo, foram os veículos 
escolhidos para a análise do discurso midiático no jornalismo impresso hegemônico sobre tais 
peças que dialogaram com as “Jornadas de Junho”. 
O pesquisador é formado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela 
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em dezembro de 2006. É um jornalista atuante 
na cobertura cultural e teatral da cidade de São Paulo desde o ano de 2007, em diversos veículos 
de comunicação e em blog dedicado à cobertura teatral que leva seu nome. Em 2013, o 
pesquisador também assistiu e cobriu jornalisticamente as duas montagens, entrevistando na 
época seus diretores e equipe, além de ter participado da cobertura jornalística das “Jornadas 
de Junho”. 
Tal experiência serve como elemento enriquecedor desta pesquisa, bem como o fato de 
já ter analisado a presença de ambos os grupos nos jornais citados em seu trabalho de conclusão 
de curso e obtenção do título de Especialista em Mídia, Informação e Cultura pelo Centro de 
Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação (CELACC) da Escola de 
Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP), em monografia defendida 
em setembro de 2014 na ECA-USP, intitulada Teatro no Jornal: O Olhar do Estadão e da Folha 
para os Grupos Oficina e Satyros, sendo esta atual pesquisa um desdobramento daquela, com 
novo recorte e maior aprofundamento no discurso dos veículos sobre as peças dos grupos que 
dialogaram com as “Jornadas de Junho”. 
12 
 
O mês de junho de 2013, como veremos no capítulo 1, foi marcado na cidade de São 
Paulo, e posteriormente em todo o Brasil, por grandes manifestações populares nas ruas que 
atraíram milhares de participantes para, inicialmente, protestar contra o aumento da tarifa no 
transporte público paulistano, que havia subido de R$ 3,00 para R$ 3,20. A grande mobilização 
popular chamou de imediato a atenção da mídia e tornou-se pauta nos diferentes veículos, que, 
num primeiro momento, condenaram de forma veemente as manifestações. De forma 
conservadora, os veículos analisados, Estadão e Folha, chegaram, inclusive, a publicar 
editoriais rechaçando o movimento popular nas ruas. 
Muitas manifestações registraram confrontos violentos entre policiais e manifestantes, 
com duras cenas de repressão — inclusive com agressão à imprensa que fazia a cobertura das 
marchas —, muitas delas comparadas aos tempos da ditadura civil-militar que vigorou no Brasil 
entre 1964 e 1985 (COSTA JUNIOR, 2016). A grande mobilização popular também chegou a 
ser comparada às manifestações pelas Diretas Já, de 1983-1984, e também ao movimento Fora 
Collor, de 1992, em razão do grande número de pessoas nas ruas, que foi aumentando 
gradativamente a cada um dos sete atos convocados nas redes sociais pelo Movimento Passe 
Livre (MPL), deflagrador das “Jornadas de Junho” (ESPÍRITO SANTO, 2014). 
Tal efervescência de manifestação política nas ruas paulistanas chamou a atenção de 
dois grupos localizados na região central de São Paulo: Oficina, com sede na rua Jaceguai, 520, 
no Bixiga, e Satyros, com sede na praça Roosevelt, 222, no centro da capital. Como veremos 
no capítulo 2, dedicado às companhias, trata-se de dois grupos teatrais longevos da cidade, o 
primeiro fundado em 1958, e o segundo, em 1989. 
 
13 
 
 
 
Localização da sede da Cia. de Teatro Os Satyros, na praça Roosevelt, região central de São Paulo – Fonte: Google 
Maps 
14 
 
 
Localização da Associação Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona, no bairro do Bixiga, região central de São Paulo – 
Fonte: Google Maps 
15 
 
Ambos os grupos estavam em processos de criação de seus novos espetáculos e, 
“antenados” ao seu tempo e cidade, resolveram incorporar as “Jornadas de Junho” ao enredo 
de suas peças, no caso Cacilda !!! Glória no TBC, que retomou a trajetória da vida da atriz 
Cacilda Becker (1921-1969), um dos grandes nomes da história do teatro brasileiro, focando 
em seu período de glória do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), terceiro capítulo da "saga" 
sobre a artista iniciada na década de 1990 pelo Oficina, sob direção de José Celso Martinez 
Corrêa; e Édipo na Praça, do Satyros, sob direção de Rodolfo García Vázquez, a partir da 
lendária história da mitologia grega. Afinal, como afirma o pesquisador Alexandre Mate em 
artigo no livro Teatro e Vida Pública, “[...] teatro de grupo, na condição de sujeito histórico, 
sempre existiu” (DESGRANGES e LEPIQUE, 2012, p. 74). 
 
 
A atriz Cléo De Páris como Jocasta em Édipo na Praça na Praça Roosevelt, SP, 2013 – Foto: Bob Sousa 
 
16 
 
No período de análise dos textos dos jornais, o segundo semestre de 2013, o Teat(r)o 
Oficina voltou a contar a saga da atriz Cacilda Becker, que começou na década de 1990, 
estreando no segundo semestre de 2013, logo após as “Jornadas de Junho”, a peça Cacilda!!! 
Glória no TBC, em 16 de agosto de 2013, após apresentações nas semanas anteriores em 
unidades do Sesc no interior de São Paulo: Sesc São José dos Campos, Sesc Araraquara e Sesc 
Sorocaba. 
O Oficina (CORRÊA, 2013) — apesar de certa paralisação, fruto de processos 
persecutórios, decorrentes da ditadura civil-militar brasileira — é um dos mais longevos grupos 
teatrais em atividade no mundo, já que surgiu em 1958, completando 60 anos de atuação em 
2018, ano da defesa desta pesquisa, permanecendo, desde sua criação, sob comando ininterrupto 
do diretor paulista José Celso Martinez Corrêa, conhecido como Zé Celso. 
No mesmo período em análise, a Cia. de Teatro Os Satyros celebrou os 25 anos de sua 
fundação, com a estreia em 16 de agosto de 2013 da peça Édipo na Praça, sua versão para o 
clássico grego sob direção do paulistano Rodolfo García Vázquez, fundador do grupo em 1989 
ao lado do ator paranaense Ivam Cabral. A obra buscou dialogar com as “Jornadas de Junho” e 
também com a praça Roosevelt, onde fica sua sede e cuja recuperação social o grupo está 
intimamente ligado — esta foi a primeira peça do grupo que saiu de sua sala teatral e teve parte 
da obra encenada na praça, onde se localiza a sede da companhia. 
Desde 2000, o Satyros está instalado na praça Roosevelt, no centro de São Paulo 
(GUZIK, 2006), onde possui duas salas teatrais, sendo um dos responsáveis pela revitalização 
do lugar, que foi também um dos cenários de confrontos violentos durante as “Jornadas de 
Junho”, entre a polícia militar e manifestantes (capitaneados por agremiações de extrema direita 
para ações de violência), com direito a protestantes escondidos na sede do grupo durante os 
ensaios para se abrigarem das bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha lançadas pela 
força policial. 
As peças — suas estreias, que ocorreram no mesmo dia, e consequentes temporadas — 
ganharam cobertura da imprensa, com notas, reportagens e críticas, incluindo aí os cadernos 
culturais dos jornais selecionados: Folha de S. Paulo, Ilustrada; e O Estado de S. Paulo, 
Caderno 2, tradicionais veículos do jornalismo cultural brasileiro. Portanto, a Ilustrada e o 
Caderno 2 caracterizam-se nos objetos escolhidos para esta pesquisa de análise do discurso 
midiático sobre tais peças. 
17 
 
É importante ressaltar que já há pesquisas que investigaram as “Jornadas de Junho” em 
seus aspectos políticos, comunicacionais, mas esta pesquisa é pioneira no diálogo das “Jornadas 
de Junho” e o discurso que a imprensa hegemônicafez sobre sua representação no teatro. Esta 
pesquisa busca contribuir neste encontro entre o jornalismo e o teatro paulistano quando de um 
importante momento histórico brasileiro recente. 
 
 
A atriz Camila Mota e o diretor Zé Celso em cena de Cacilda!!! Glória no TBC, SP, 2013 – Foto: Jennifer Glass 
 
Pretende-se, ainda, contribuir para preencher a lacuna de estudos sobre a imbricação 
entre teatro e jornalismo no Brasil, abordando peças de dois importantes e longevos grupos 
teatrais brasileiros e suas respectivas leituras pela imprensa hegemônica impressa. Há uma 
carência de estudos que abordem aspectos do discurso midiático sobre o teatro brasileiro 
contemporâneo. Busca-se, assim, contribuir, por intermédio deste estudo, nesta área. 
Além disso, tal pesquisa deixa ao próprio teatro uma reflexão sobre o discurso que certa 
mídia hegemônica faz sobre o mesmo, sobretudo quando este se vê obrigado a deparar-se e 
dialogar em suas obras com manifestações de cunho popular e políticas. 
18 
 
Durante o processo de pesquisa, buscou-se analisar quais recursos a mídia hegemônica 
utiliza para chamar a atenção de seu público para os espetáculos teatrais, a partir do recorte 
selecionado e como estes recursos podem interferir na relação dos artistas com seu público. 
Trata-se, como se buscará sublinhar, de destacar os modos como a mídia e seu olhar ideológico, 
interessado e mascarado por certa e tendenciosa verdade, ao discursar sobre as peças reportadas 
a seus leitores, utilizando-se de ferramentas típicas da sociedade do espetáculo (DEBORD, 
1997). 
Pretende-se, portanto, apresentar um (re)descortinamento do olhar que a mídia analisada 
imprimiu sobre as respectivas montagens e grupos em epígrafe, no intuito mesmo de chamar 
atenção para a procura de novas alternativas de comunicação com seu público sobre seus 
trabalhos. Trata-se, portanto, de instaurar — a partir de evidências, que serão apresentadas em 
assuntos ou tópicos específicos — o mascaramento ideológico de certos veículos de 
comunicação no sentido de buscar arejamento e certa independência do discurso midiático 
hegemônico, tendo no meio digital um caminho para buscar um contato mais direto com o 
público, cujo sentido tem se ressignificado, exatamente, por novos expedientes e canais de 
comunicação e de troca. 
Saber como a mídia cobriu as peças de dois importantes grupos do teatro brasileiro, 
Oficina e Satyros, quando de seus diálogos com as “Jornadas de Junho” de 2013 contribui para 
entender o espaço do teatro na sociedade brasileira contemporânea. Além disso, ao evidenciar 
certos procedimentos discurssivos (abrigantes de um ideológico significadamente mascarado) 
a pesquisa pode fornecer, também, ferramentas para que esses e outros integrantes de grupos 
teatrais possam perceber o que há nos discursos midiáticos sobre os mesmos, estimulando-os a 
pensar novas formas de comunicação de seus trabalhos junto ao chamado grande público. 
Além do apontado, a pesquisa busca registrar, de certa forma, como este momento 
importante da história recente brasileira, que acabou por influenciar nos rumos posteriores da 
política no país, influenciou os palcos, sendo perceptível e noticiado midiaticamente, 
lembrando que as influências das “Jornadas de Junho” ainda seguem sendo sentidas e estudadas 
em diversas áreas do conhecimento no Brasil contemporâneo. Apresentar sua influência nos 
palcos e sua recepção midiática pode caracterizar-se em significativa contribuição histórica. 
Na medida em que há poucas pesquisas acadêmicas que abordam a relação do teatro 
brasileiro com a mídia hegemônica na contemporaneidade, por meio da reflexão aqui 
desenvolvida, busca-se estabelecer as bases da análise do discurso midiático sobre as peças do 
19 
 
Oficina e do Satyros que dialogaram com as “Jornadas de Junho”, foco central deste trabalho e 
esmiuçado no capítulo 4. Mas, antes, é preciso o cotejamento por referências teóricas que 
norteiam tal análise. 
Assim, no capítulo 3, apresentam-se certos apontamentos e proposições teóricas sobre 
linguagem, jornalismo, discurso e ideologia presente na comunicação midiática. Para melhor 
compreensão do discurso em si, o trabalho utilizará as premissas de Eni Puccinelli Orlandi no 
livro A Linguagem e Seu Funcionamento: As Formas do Discurso (2001), no qual a autora 
estabelece o discurso como a linguagem em interação e ainda critica o discurso autoritário 
vigente na linguagem, com só o eu locutor prevalecendo. Mikhail Bakhtin, em Marxismo e 
Filosofia da Linguagem (2004), também servirá de base ao apontar como o discurso é ideologia, 
formada por signos, e que este desenvolve-se, sempre, em determinado contexto histórico-
social e, evidentemente, a partir de interesses de classe determinados. 
Trata-se de pesquisa qualitativa por meio da qual busca-se apresentar as premissas 
teóricas da comunicação e do jornalismo (ROSSI, 1998), com apresentação sucinta de conceitos 
como notícia (TRAQUINA, 2001; LUSTOSA, 1996; LAGE, 2003) e acontecimento 
(RODRIGUES, 1993, LUSTOSA, 2003), explicitando como fatos e acontecimentos podem se 
misturar no discurso jornalístico (FRANÇA e ALMEIDA, 2006). 
Por intermédio de (FAUSTO NETO, 1991) pretende-se analisar a construção da 
realidade, bem como as especificidades do jornalismo cultural (PIZA, 2003; BARRETO, 2005), 
área do jornalismo onde se dará o discurso analisado nesta pesquisa. As questões concernentes 
a uma visão crítica do jornalismo, revelando que este se dá imerso de ideologia, desvelando o 
mito da imparcialidade, tomará algumas teses (MARCONDES FILHO, 1986) e ainda a 
concentração do poder comunicacional no Brasil fortemente atrelado à elite econômica no país 
sua participação no processo histórico nacional (KUCINSKI, 1998). 
No capítulo 4, são apresentados e analisados os textos dos dois jornais sobre as duas 
peças que dialogaram com a “Jornadas de Junho”, buscando ainda referências sobre a cultura 
da mídia, revelando posturas políticas e ideológicas nesta (KELLNER, 2001) e ainda a relação 
de mediação que os meios de comunicação de massa estabelecem com seus receptores 
(THOMPSON, 2014). A criação de um discurso espetacular sobre as peças, típico da sociedade 
do espetáculo (DEBORD, 1997). Debord (1997) afirma que o espetáculo inicia-se nele e 
encerra-se nele mesmo, transformado na principal produção da sociedade atual. Para o autor, a 
sociedade, ao tornar-se mera espectadora, se distancia do conhecimento de sua própria 
20 
 
existência. Assim, o espetáculo é uma fabricação concreta de alienação, na medida que põe fim 
aos limites do eu bem como suprime os limites entre verdadeiro e falso, já que a realidade vivida 
fica pequena diante da presença real da falsidade garantida pela organização da aparência. 
Por fim, como ferramenta das considerações finais apontadas nesta pesquisa recorre-se 
à proposição de uma prática jornalística para além do poder hegemônico, em busca de uma 
emancipação, como apresentado em Jornalismo e Emancipação de Dennis de Oliveira (2017), 
no qual é apresentado a ligação da mídia hegemônica ao controle social e ao modo de produção 
capitalista, apresentando como saída um jornalismo como ação cultural pela emancipação, feito 
como mídia alternativa. 
 
 
 
21 
 
CAPÍTULO 1 – APONTAMENTOS SOBRE AS “JORNADAS DE JUNHO” DE 2013 
NA CIDADE DE SÃO PAULO 
 
Há muito tempo o Brasil não via manifestações populares em suas ruas como se 
mostraram as “Jornadas de Junho” de 2013. Elas foram deflagradas, primeiramente, em razão 
do aumento na tarifa do transporte público da cidade de São Paulo, maior metrópole do país, 
no caso, de R$ 3,00 para R$ 3,20. 
No período democrático que se instalou no Brasil em 1985, após 21 anos de ditadura 
civil-militar, apenas o movimento Fora Collor, que terminou no impeachment do presidente 
Fernando Collor de Mello (PRN, atual PTC) em 1992 acusado de corrupção, se comparou às 
“Jornadasde Junho”; antes da democracia, o movimento Diretas Já, que clamou nas ruas, com 
milhares de pessoas em protesto pelo direito a voto entre 1983 e 1984 em grandes comícios que 
marcaram a história, também havia levado milhares de pessoas às ruas das principais cidades 
brasileiras. 
Em junho de 2013, milhões de pessoas tomaram as ruas do país, em um movimento que 
todavia segue sendo estudado em diversas áreas das ciências humanas na busca de ser melhor 
compreendido e cujos efeitos foram sentidos nos anos posteriores, influenciando a história 
brasileira contemporânea. As “Jornadas de Junho” impactaram não só a política, mas a 
sociedade como um todo, incluindo aí também o teatro e, mais especificamente, o teatro feito 
na cidade de São Paulo, onde elas foram deflagradas. Como se verá ao longo desta pesquisa, os 
grupos Oficina e Satyros, que estavam em salas de ensaio quando as “Jornadas de Junho” 
eclodiram, decidiram dialogar com o movimento nas ruas, incorporando as manifestações às 
suas respectivas cenas, em um diálogo estético-artístico-político-social. 
Ambos os grupos estrearam suas peças no mesmo dia 16 de agosto de 2013, dois meses 
após o ápice das manifestações. O Oficina lançou Cacilda!!! Glória no TBC, enquanto que o 
Satyros apresentou Édipo na Praça. Em ambas as peças, cenas inspiradas nas ruas de junho 
faziam parte da narrativa cênica. 
Os dois maiores jornais impressos da cidade de São Paulo, onde as duas companhias 
têm sede, Folha de S. Paulo, ou, simplesmente, Folha, e O Estado de S. Paulo, ou apenas 
Estadão, tendo em vista a dimensão do ocorrido e seu apelo noticioso e artístico, cobriram tais 
espetáculos. E é o discurso de ambos os jornais ao comentar tais espetáculos que dialogaram 
22 
 
com as “Jornadas de Junho” que se caracteriza no tema central deste trabalho. Mas, antes, é 
preciso compreender melhor o que foram as “Jornadas de Junho”. 
 
Ato das “Jornadas de Junho” no Largo da Batata, em São Paulo, 2013 – Foto: Eduardo Enomoto 
 
1.1 – Redes e ruas no século XXI: da Primavera Árabe às “Jornadas de Junho” no Brasil 
 
O século XXI viveu em seus primeiros anos a proliferação do acesso de parte 
significativa da população mundial à internet, cada vez mais comum em aparelhos móveis, bem 
como o desenvolvimento de potentes redes sociais interligadas, conectando as pessoas em todo 
o planeta em forma instantânea de comunicação social, como Twitter, Facebook e Instagram, 
capazes de difundir e reverberar múltiplas vozes instantaneamente. 
Maria Ouriveis do Espírito Santo em Lutas Sociais e Ciberespaço: O Uso da Internet 
pelo Movimento Passe Livre nas Manifestações de Junho de 2013 em São Paulo (2014) aponta 
que o pioneirismo neste aspecto da chamada Primavera Árabe, que começou na Tunísia, em 
2010, com protestos contra a violência policial, e depois ganhou espaço no Egito, em 2011. Ela 
lembra que tais manifestações também foram expressões contra a corrupção policial e o 
desemprego, inaugurando no mundo uma série de mobilizações sócio-políticas que utilizaram 
a internet como instrumento de articulação e de divulgação de informações. 
 
23 
 
 
Imagem do começo da Primavera Árabe na Tunísia em 2011 – Foto: Franck Prevel/Getty Images 
 
Espírito Santo (2014) lembra que na Tunísia e no Egito provedores de internet foram 
derrubados pelos respectivos governos como tentativa de cessar as manifestações arquitetadas 
pelas redes sociais, mas não houve como freá-las. Elas logo se espalharam por países como 
Líbia, Iêmen, Síria, Argélia, Marrocos, Bahrein, Jordânia e Omã, criando a chamada Primavera 
Árabe, que teve desdobramentos políticos e ainda segue tendo resultados esperados na região. 
 
No mundo árabe o início das movimentações se deu na Tunísia, em dezembro 
de 2010, quando Mohamed Buazizi, jovem de 26 anos, vendedor de hortaliças, 
decidiu pela autoimolação depois de ter sido agredido por policiais ao se negar 
a pagar propina para comercializar seus produtos. Sua morte, um ato de 
protesto contra o abuso de poder policial, ganhou o mundo depois que foi 
relatada na internet pelo Facebook, juntamente com imagens do protesto 
organizado por seus amigos em frente à prefeitura da cidade de Sidi Bouzid, 
onde moravam. [...] O Edito seguiu o mesmo caminho. Alguns meses antes 
uma situação parecida havia acontecido com um jovem de 28 anos que 
documentava ações de policiais corruptos. O rapaz, Jalid Said, foi espancado 
até a morte e, por meio da internet, em especial das redes sociais, a população 
foi sendo informada e convidada a protestar. [...] Alguns governantes acataram 
os pedidos vindos das ruas e promoveram mudanças na tentativa de acalmar a 
população. Outros conseguiram derrubar seus líderes políticos. Mas, de forma 
geral, a região ainda espera ver o resultado dessa Primavera (ESPÍRITO 
SANTO, 2014, p. 17-8). 
24 
 
 
Mapa mostra países influenciados pela Primavera Árabe – Fonte: Band.com.br 
 
Logo após a Primavera Árabe, a Europa também conheceu a capacidade das redes 
sociais em mobilizar gente para as ruas em grandes manifestações políticas. Na Espanha, em 
15 de maio de 2011, houve um gigantesco protesto organizado pelo movimento Democracia 
Real Ya!, que resultou com mais de 100 espaços públicos espanhóis ocupados pela população, 
protesto que ficou conhecido como Indignados (ESPÍRITO SANTO, 2014, p. 18). Depois, o 
movimento chegou ao continente americano também. Nos Estados Unidos, a onda de protestos 
impulsionados pelas redes sociais também logo eclodiu. Lá, as manifestações organizadas pelas 
redes sociais começaram em setembro de 2011, quando o Zuccoti Park, próximo a Wall Street, 
em Nova York, foi ocupado com pessoas insatisfeitas com a gigante desigualdade econômica 
estadunidense, exigindo que o 1% mais rico da população distribuísse a renda com os 99% mais 
pobres, no movimento que ficou conhecido como Occupy, que logo também se espalhou por 
outras cidades dos EUA (ESPÍRITO SANTO, 2014, p. 19). 
No Brasil, a força das redes sociais como ferramenta de mobilização popular para 
grandes protestos mostrou seu impacto em junho de 2013. Neste mês, em razão do aumento da 
tarifa do transporte público paulistano de R$ 3,00 para R$ 3,20, o Movimento Passe Livre 
(MPL), definido como autônomo, horizontal, apartidário e independente e com o lema “por 
25 
 
uma vida sem catracas”, convocou em eventos no Facebook grandes atos populares reais em 
espaços públicos de São Paulo. 
O número de manifestantes foi crescendo a cada ato e à medida em que a violência 
policial repressiva se ampliava, abordada de modos diferentes pelo prefeito da cidade de São 
Paulo, Fernando Haddad (PT), e pelo governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin 
(PSDB), já que o preço das tarifas do transporte público na capital paulista é interligado entre 
rede estadual de transporte (metrô e trens) e municipal (ônibus). Ambos os políticos estavam 
unidos pelo aumento da tarifa. A forte repressão policial, visível em postagens nas redes sociais, 
passou a indignar, também, de maneiras diversas, a população, que passou a se somar aos atos, 
cada vez com mais gente. Isso fez crescer gradualmente a cada novo ato o número de 
manifestantes, sobretudo após o 4º Grande Ato, no fatídico dia 13 de junho de 2013, quando 
houve dura repressão, com muitos feridos pelos policiais, que agiram — como soe acontecer 
— de forma truculenta, atacando inclusive transeuntes que não estavam nas manifestações, 
jornalistas e fotógrafos, fazendo com que o discurso midiático, até então condenatório às 
Jornadas de Junho, mudasse prontamente, em uma grande virada midiática. 
Com acesso direto aos vídeos da repressão policial nas redes sociais, muitos deles feitos 
por moradores de prédios da própria rua da Consolação (Cerqueira César, próximo da região 
central da cidade), onde houve o confronto mais sangrento no dia 13 de junho de 2013, a 
população mudou sua percepção sobre osmanifestantes, até então chamados de “baderneiros” 
e “vândalos” pela mídia hegemônica e pelos governantes. 
Isso fez com que muitos se somassem ao 5º Grande Ato, que lotou o Largo da Batata 
(Pinheiros, região oeste da cidade) em 17 de junho de 2013, quando jornalistas da Globo 
chegaram a ser expulsos do local por manifestantes. Diante disso, houve a mudança do discurso 
da grande mídia sobre os atos, até então condenados por ela (ESPÍRITO SANTO, 2014, p. 27). 
A grande repressão no 4º Grande Ato fez com que milhares de pessoas fossem ao 5º Grande 
Ato, que terminou com a sede do Governo de São Paulo, no bairro do Morumbi, zona sul de 
São Paulo, cercada pelos manifestantes. No 6º Grande Ato, no dia 18 de junho, foi a vez de a 
Prefeitura de São Paulo, na região central da cidade, ser cercada pelos protestantes. Após este 
ato, em decisão conjunta, em 19 de junho de 2013, a Prefeitura de São Paulo e o Governo do 
Estado de São Paulo revogaram o aumento da tarifa. 
Contudo, isso não parou os atos, como esperavam os governantes de partidos rivais, mas 
de postura semelhante durante as “Jornadas de Junho”. O MPL convocou o 7º Grande Ato para 
26 
 
20 de junho de 2013, na Avenida Paulista, bairro Cerqueira César, feito logo após a revogação 
do aumento da tarifa. Já não havia mais a pauta pelo cancelamento do aumento da tarifa, já 
conquistado, contudo, mesmo assim, a rua foi invadida por questionamentos dos mais diversos, 
da extrema esquerda à extrema direita. Entretanto, um fato marcante determinou a força 
histórica deste dia: a expulsão da Avenida Paulista com ameaça de violência por muitos 
manifestantes de militantes caracterizados com camisetas e bandeiras de partidos políticos e 
movimentos sociais organizados. 
Diante da confusão e de uma virada à extrema direita das manifestações, o MPL 
resolveu, com os rumos tomado neste sétimo ato, se retirar das Jornadas de Junho que ele 
mesmo havia criado. Contudo, os protestos continuaram sem uma liderança ou pauta clara de 
reivindicações e, já sem o MPL nas semanas seguintes, manifestações seguiram-se não só em 
São Paulo como se espalharam por todo o Brasil, abarcando uma profusão heterogênea de 
reinvindicações, incluindo muitas de extrema direita, como manifestantes proibindo e 
ameaçando a presença de partidos políticos e movimentos sociais e suas bandeiras nos atos que 
se seguiram. 
 
1.2 – “Jornadas de Junho” de 2013: os 20 centavos que eclodiram um país 
 
O Brasil parecia tranquilo até as “Jornadas de Junho” de 2013, que eclodiram na cidade 
de São Paulo em razão do aumento conjunto de 20 centavos na tarifa do transporte público de 
âmbito da Prefeitura (ônibus) e do Estado de São Paulo (metrô e trem) e depois se espalharam 
por cidades em todo o país, com cerca de 1,5 milhão de manifestantes em mais de 120 cidades, 
segundo estimativas apresentadas pela Polícia Militar em reportagens da imprensa na época. 
Após dois mandatos consecutivos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido 
dos Trabalhadores (PT), entre 2003 e 2010, quando o Brasil viveu um período de crescimento 
do consumo interno, pagamento da dívida externa e pujança econômica, junho de 2013 marcava 
o terceiro ano do primeiro mandato de Dilma Rousseff, também do PT, primeira mulher da 
história brasileira à frente da Presidência da República que havia sido eleita com o apoio de 
Lula. Na esfera estadual, Geraldo Alckmin, do Partido da Social Democracia Brasileira 
(PSDB), estava no terceiro ano de seu terceiro mandato não-consecutivo como governador de 
27 
 
São Paulo. Na esfera municipal, Fernando Haddad, do PT, estava em seu primeiro ano como 
prefeito da cidade de São Paulo, cargo que ocupava pela primeira vez. 
Em junho de 2013, em ação conjunta da Prefeitura (responsável pelos ônibus) com o 
Governo de São Paulo (responsável por trens e metrô), foi decretado o aumento da tarifa do 
transporte público de R$ 3,00 para R$ 3,20. Os 20 centavos a mais provocaram indignação da 
população, o que sempre ocorre quando há aumento de tarifas públicas como esta, mas nada 
indicava até então que isso deflagraria a maior movimentação político-social nas ruas vividas 
pelo Brasil até então no começo do século XXI. 
Contudo, as “Jornadas de Junho” de 2013, em sua irrupção, guardavam uma grande 
distância das Diretas Já e do Fora Collor, despertando inquietação e distintas interpretações por 
parte de políticos e estudiosos das ciências humanas. Ao contrários das marchas até então 
realizadas no Brasil, as “Jornadas de Junho” não tinham ligação direta com algum partido ou 
movimento social. E uma novidade importante: as marchas eram organizadas pela internet, com 
ampla difusão nas redes sociais. 
A pauta inicial das “Jornadas de Junho”, lembra Espírito Santo (2014, p. 19), foi a luta 
contra o aumento dos transportes públicos na cidade de São Paulo, como divulgado pelo MPL 
no 1º Grande Ato, em 6 de junho, com 2.000 manifestantes que fecharam as av. 9 de Julho, 23 
de Maio e Paulista (região sul da cidade), com 50 pessoas feridas e 15 presas. Mesmo assim, 
tanto o prefeito Fernando Haddad quanto o governador Geraldo Alckmin se recusaram a 
revogar o aumento da tarifa. E os atos se seguiram, cada vez maiores e com mais repressão 
policial, apoiada pela grande mídia, inclusive os jornais analisados por esta pesquisa. O 2º 
Grande Ato foi no dia 7 de junho, com 5.000 manifestantes que bloquearam a Marginal 
Pinheiros. Assim como no 1º Grande Ato, houve repressão policial com bombas de gás e balas 
de borracha. É nesta segunda manifestação, lembra Espírito Santo (2014, p. 30) que surgem os 
militantes do Black Bloc, com seus rostos cobertos e que enfrentam os policiais. Os Black Blocs 
são fortemente condenados pela mídia, sobretudo pela depredação de estabelecimentos 
públicos, como bancos, e parte da população rechaça os protestos. 
 
28 
 
 
Imagem das “Jornadas de Junho” em São Paulo, 2013 – Foto: Fabio Braga/Folhapress 
 
Espírito Santo (2014) lembra ainda que surgem também os hackers, denominados 
Anonymous, que invadem o site da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo para 
convocar o 3º Grande Ato, em 11 de junho, quando 12 mil pessoas aderiram à manifestação 
que passou pela Avenida Paulista e centro da cidade. Houve depredação de prédios e ônibus no 
Terminal Parque Dom Pedro II, com manifestantes de rostos cobertos, os Black Blocs, ou com 
a máscara Anonymous. A Polícia Militar, mais uma vez, reprime os manifestantes com bombas 
de gás e balas de borracha e a imagem de um policial sangrando é fortemente divulgada pela 
mídia (ESPÍRITO SANTO, 2014: p. 31). Na sequência, a mídia apoia fortemente a repressão e 
o fim imediato dos protestos1. 
A Folha de S. Paulo em 13 de junho de 2013 publica o editorial intitulado “Retomar a 
Paulista”, no qual condena com veemência as manifestações e apoia a repressão policial. 
 
 
1 Na reportagem “Relembre em 7 atos os protestos que pararam SP em junho de 2013”, publicada pela Folha de 
S. Paulo em 25 de maio de 2014, por conta do um ano das “Jornadas de Junho”, o autor João Wainer diz, sobre o 
que ocorreu após o 3º Ato: “A Folha e o Estado de S. Paulo publicaram editoriais pedindo a retomada da 
Paulista. Nas TVs, opiniões raivosas de Arnaldo Jabor, da Globo, e do apresentador José Luiz Datena, da Band, 
atiçaram a PM. A cena do policial Wanderlei Vignoli sangrando foi a gota d'água”. Em < 
http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/2014/05/1458969-relembre-em-7-atos-os-protestos-que-pararam-sp-em-
junho-de-2013.shtml>. Acesso em 15/11/2017. 
29 
 
Oito policiais militares e um número desconhecido de manifestantes feridos, 
87 ônibus danificados, R$ 100 mil de prejuízos em estações de metrô e 
milhões de paulistanos reféns do trânsito. Eis o saldo do terceiro protesto do 
Movimento Passe Livre (MPL), que se vangloria de parar São Paulo --e chega 
perto demaisde consegui-lo. Sua reivindicação de reverter o aumento da tarifa 
de ônibus e metrô de R$ 3 para R$ 3,20 —abaixo da inflação, é útil assinalar 
— não passa de pretexto, e dos mais vis. São jovens predispostos à violência 
por uma ideologia pseudorrevolucionária, que buscam tirar proveito da 
compreensível irritação geral com o preço pago para viajar em ônibus e trens 
superlotados. Pior que isso, só o declarado objetivo central do grupelho: 
transporte público de graça. O irrealismo da bandeira já trai a intenção oculta 
de vandalizar equipamentos públicos e o que se toma por símbolos do poder 
capitalista. O que vidraças de agências bancárias têm a ver com ônibus? Os 
poucos manifestantes que parecem ter algo na cabeça além de capuzes 
justificam a violência como reação à suposta brutalidade da polícia, que 
acusam de reprimir o direito constitucional de manifestação. Demonstram, 
com isso, a ignorância de um preceito básico do convívio democrático: cabe 
ao poder público impor regras e limites ao exercício de direitos por grupos e 
pessoas quando há conflito entre prerrogativas. O direito de manifestação é 
sagrado, mas não está acima da liberdade de ir e vir --menos ainda quando o 
primeiro é reclamado por poucos milhares de manifestantes e a segunda é 
negada a milhões. Cientes de sua condição marginal e sectária, os militantes 
lançam mão de expediente consagrado pelo oportunismo corporativista: 
marcar protestos em horário de pico de trânsito na avenida Paulista, artéria 
vital da cidade. Sua estratégia para atrair a atenção pública é prejudicar o 
número máximo de pessoas. É hora de pôr um ponto final nisso. Prefeitura e 
Polícia Militar precisam fazer valer as restrições já existentes para protestos 
na avenida Paulista, em cujas imediações estão sete grandes hospitais. Não 
basta, porém, exigir que organizadores informem à Companhia de Engenharia 
de Tráfego (CET), 30 dias antes, o local da manifestação. A depender de 
horário e número previsto de participantes, o poder público deveria vetar as 
potencialmente mais perturbadoras e indicar locais alternativos. No que toca 
ao vandalismo, só há um meio de combatê-lo: a força da lei. Cumpre 
investigar, identificar e processar os responsáveis. Como em toda forma de 
criminalidade, aqui também a impunidade é o maior incentivo à reincidência. 
(Folha de S. Paulo, “Editorial: Retomar a Paulista”, 13 de junho de 2013). 
 
Assim como a Folha de S. Paulo, o jornal O Estado de S. Paulo, também em 13 de 
junho de 2013, publica editorial no mesmo tom condenatório às manifestações. 
 
No terceiro dia de protesto contra o aumento da tarifa dos transportes 
coletivos, os baderneiros que o promovem ultrapassaram, ontem, todos os 
limites e, daqui para a frente, ou as autoridades determinam que a polícia aja 
com maior rigor do que vem fazendo ou a capital paulista ficará entregue à 
desordem, o que é inaceitável. Durante seis horas, numa movimentação que 
começou na Avenida Paulista, passou pelo centro - em especial pela Praça da 
Sé e o Parque Dom Pedro - e a ela voltou, os manifestantes interromperam a 
circulação, paralisaram vasta área da cidade e aterrorizaram a população. O 
vandalismo, que tem sido a marca do protesto organizado pelo Movimento 
30 
 
Passe Livre (MPL), uma mistura de grupos radicais os mais diversos, só tem 
feito aumentar. Por onde passaram, os cerca de 10 mil manifestantes deixaram 
um rastro de destruição - pontos de ônibus, lojas, nove agências bancárias e 
ônibus depredados ou pichados. Uma bomba foi jogada na Estação Brigadeiro 
do Metrô e a Estação Trianon teve os vidros quebrados. Em algumas das ruas 
e avenidas por onde circularam, principalmente a Paulista, puseram fogo em 
sacos de lixo espalhados para impedir o trânsito e dificultar a ação da Polícia 
Militar (PM). Atacada com paus e pedras sempre que tentava conter a fúria 
dos baderneiros, a PM reagiu com gás lacrimogêneo e balas de borracha. O 
saldo foi de 20 pessoas detidas e de dezenas com ferimentos leves, entre elas 
policiais. A PM agiu com moderação, ao contrário do que disseram os 
manifestantes, que a acusaram de truculência para justificar os seus atos de 
vandalismo. Num episódio em que isso ficou bem claro, um PM que se afastou 
dos companheiros, nas proximidades da Praça da Sé, quase foi linchado por 
manifestantes que tentava conter. Chegou a sacar a arma para se defender, mas 
felizmente não atirou. Em suma, foi mais um dia de cão, pior do que os outros, 
no qual a violência dos manifestantes assustou e prejudicou diretamente 
centenas de milhares de paulistanos que trabalham na Paulista e no centro e 
deixou apreensivos milhões de outros que assistiram pela televisão às cenas 
de depredação. O reconhecimento por parte de dirigentes do MPL de que 
perderam o controle das manifestações, assim como a diversidade dos grupos 
que o compõem - anarquistas, PSOL, PSTU e juventude do PT, que têm em 
comum o radicalismo -, não atenuam a sua responsabilidade pelo fogo que 
atearam. Embora fragmentado, o movimento mantém sua força, porque cada 
grupo tem seus líderes, e eles já demonstraram sua capacidade de organização 
e mobilização. Sabem todos muito bem o que estão fazendo. A reação do 
governador Geraldo Alckmin e do prefeito Fernando Haddad - este apesar de 
algumas reticências - à fúria e ao comportamento irresponsável dos 
manifestantes indica que, finalmente, eles se dispõem a endurecer o jogo. A 
atitude excessivamente moderada do governador já cansava a população. Não 
importa se ele estava convencido de que a moderação era a atitude mais 
adequada, ou se, por cálculo político, evitou parecer truculento. O fato é que 
a população quer o fim da baderna - e isso depende do rigor das autoridades. 
De Paris, onde se encontra para defender a candidatura de São Paulo à sede 
da Exposição Universal de 2020, o governador disse que "é intolerável a ação 
de baderneiros e vândalos. Isso extrapola o direito de expressão. É absoluta 
violência, inaceitável". Espera-se que ele passe dessas palavras aos atos e 
determine que a PM aja com o máximo rigor para conter a fúria dos 
manifestantes, antes que ela tome conta da cidade. Haddad, que se encontra 
em Paris pelo mesmo motivo, também foi afirmativo ao dizer que "os métodos 
(dos manifestantes) não são aprovados pela sociedade. Essa liberdade está 
sendo usada em prejuízo da população". Mas insinuou que por trás das 
manifestações há pessoas que não votaram nele. A gravidade da situação exige 
que o prefeito esclareça se com isso quis dizer que a oposição é responsável 
pela baderna (O Estado de S. Paulo, “Editorial: Chegou a hora do basta”, 13 
de junho de 2013). 
 
Além dos dois jornais objeto de análise desta pesquisa, em viagem conjunta a Paris, o 
governador Alckmin e o prefeito Haddad, mesmo que de diferentes modos, condenaram 
conjuntamente os manifestantes. Os mesmos foram chamados de “baderneiros” e “vândalos” 
31 
 
por jornalistas e comentaristas da TV, espécie de aval tanto político quanto midiático para uma 
repressão mais dura, o que veio realmente acontecer no ato seguinte. 
 
 
A repórter da Folha Giuliana Vallone, logo após ser ferida por uma bala de borracha da Polícia Militar enquanto 
fazia a cobertura do 4º Grande Ato das “Jornadas de Junho”, o mais violento de todos – Foto: Diego 
Zanchetta/Estadão Conteúdo 
 
O 4º Grande Ato aconteceu em 13 de junho e foi crucial para as “Jornadas de Junho” 
ganharem força e apoio da população, foi “[...] onde houve a repressão mais brutal e o momento 
onde a mídia alterou seu discurso” (ESPÍRITO SANTO, 2014, p. 27). Com cerca de 10 mil 
manifestantes, naquele dia houve a mais forte repressão policial registrada até então contra o 
movimento. As cenas de horror lembraram os tempos da ditadura civil-militar, sobretudo por 
terem ocorrido próximas às esquinas de ruas Maria Antônia e Consolação, local ligado 
fortemente à história do Brasil eda resistência estudantil contra a ditadura civil-militar na 
década de 1960. 
Espírito Santo (2014, p. 31) lembra que, antes mesmo de começar, o 4º Grande Ato já 
contabilizava 40 prisões. A Polícia Militar agrediu não só manifestantes como pessoas que 
passavam coincidentemente pelas ruas. A região da Rua da Consolação na esquina com Rua 
Maria Antônia tornou-se um palco sangrento, com muitos manifestantes tentando fugir para a 
32 
 
região da Praça Roosevelt, nas imediações, sob tiros de balas de borracha e bombas de gás, tudo 
instantaneamente filmado e postado nas redes sociais por moradores dos prédios no local do 
confronto. Ao todo, 130 pessoas foram presas e 105 ficaram feridas (ESPÍRITO SANTO, 2014, 
p. 32). Diante das fortes imagens de violência policial, parte da população ficou indignada, 
sobretudo após muitos vídeos caseiros, feitos por moradores dos prédios no entorno, se 
espalharem nas redes, mostrando policiais sem distintivos agredindo de forma covarde a 
população. 
Espírito Santo (2014) pondera que se os grandes veículos de comunicação transmitiam 
até então uma visão distorcida dos fatos, criminalizando os manifestantes e escondendo boa 
parte da violência policial, o 4º Grande Ato e sua brutalidade marcou uma mudança de 
comportamento da população. Manifestantes e população perceberam o poder enorme que 
tinham nas mãos com seus celulares conectados às redes sociais: produzir e distribuir 
informações sobre os protestos e a repressão policial “[...] e cumprir o papel que a televisão, os 
jornais e as revistas não estavam cumprindo, de informar e não agir apenas como divulgador de 
versões distorcidas sobre os fatos” (ESPÍRITO SANTO, 2014, p. 32-3). 
Neste contexto, a mesma autora afirma que ganha força a Mídia Ninja (Narrativas 
Independentes, Jornalismo e Ação), ligada ao coletivo da área cultural Fora do Eixo2, que logo 
ganha milhares de seguidores nas redes sociais, por representar um contraponto à grande mídia 
na cobertura jornalística das “Jornadas de Junho”. Tais redes apresentavam transmissões ao 
vivo da repressão policial, de dentro das manifestações, que ganhariam computadores e 
celulares conectados por todo o Brasil com uma narrativa de contraponto à hegemônica da 
grande mídia (ESPÍRITO SANTO, 2014, p. 33). 
Em meio a tais desdobramentos — que evidenciavam truculência, sobretudo — os 
grandes meios de comunicação de massa, entre eles a Folha e o Estadão, mudam o tom de 
cobertura sobre as “Jornadas de Junho”. Então, os primeiros atos que foram duramente 
condenados em seus editoriais (e já apresentados neste trabalho) ganharam na sequência um 
 
2 O Fora do Eixo é uma rede interligada de coletivos culturais surgida em 2005 e que congrega mais de 200 
coletivos em todo o Brasil. Em sua página oficial, ele se define assim: “O Fora do Eixo é uma rede colaborativa 
e descentralizada de trabalho constituída por coletivos de cultura pautados nos princípios da economia solidária, 
do associativismo e do cooperativismo, da divulgação, da formação e intercâmbio entre redes sociais, do respeito 
à diversidade, à pluralidade e às identidades culturais, do empoderamento dos sujeitos e alcance da autonomia 
quanto às formas de gestão e participação em processos sócio-culturais, do estímulo à autoralidade, à 
criatividade, à inovação e à renovação, da democratização quanto ao desenvolvimento, uso e compartilhamento 
de tecnologias livres aplicadas às expressões culturais e da sustentabilidade pautada no uso e desenvolvimento de 
tecnologias sociais”. Em http://foradoeixo.org.br/historico/carta-de-principios/>. Acesso em 15/11/2017. 
33 
 
tom de abrandamento. Em 15 de junho de 2013, no editorial “Agentes do caos”, a Folha de S. 
Paulo, que antes pedia mais repressão, passa a condenar a violência policial: “Revela-se 
despreparo — e covardia —, entretanto, quando se ataca indiscriminadamente a população 
indefesa, ainda que sob a justificativa de defender a liberdade de ir e vir dos prejudicados pela 
manifestação”, pontou o jornal. O Estadão também assumiu nova linha no discurso sobre os 
atos no editorial de 15 de junho de 2013, intitulado “Entender as Manifestações”: “Foi a 
manifestação mais violenta - pela insistência dos seus integrantes em ocupar vias [...], e pela 
reação da Polícia Militar (PM), muito mais dura que nos dias anteriores”, afirmou o jornal, que 
passa a ponderar: "É fundamental que todos os que têm uma parcela de responsabilidade na 
questão, especialmente os que cuidam da segurança pública, mantenham o sangue-frio”, além 
de reiterar “[...]tudo deve ser feito, porém, para evitar excessos”. 
Espírito Santo (2014) lembra que, após a repercussão negativa da repressão policial, 
“[...] em 19 de junho o governador Alckmin e o prefeito Haddad anunciam a revogação do 
ajuste da passagem do transporte público em São Paulo, voltando a custar R$ 3,00” (ESPÍRITO 
SANTO, 2014, p. 37). Só que, mesmo com a revogação do aumento, o MPL convocou o 7º 
Grande Ato para o dia 20 de junho, o que seria também o último organizado por este. A marcha 
terminou com brigas e expulsão de partidos políticos e bandeiras de movimentos sociais. 
 
Ficou claro que havia grupos muito opostos dentro de uma mesma marcha. O 
exemplo mais marcante desta época é em relação a um dos princípios 
organizativos do MPL que é o apartidarismo [...] O mau entendimento deste 
ponto fez com que durante as manifestações ele fosse interpretado como anti-
partidarismo. Os partidos políticos passaram a ser apontados não como 
representantes do povo, [mas como] responsáveis pelas desgraças sociais, pelo 
não comprometimento com as promessas, pela aceitação da corrupção. A 
bandeira do Brasil nas costas e o hino nacional cantado em altos brados junto 
a discursos em torno do valor da pátria, da luta pela nação, do orgulho de ser 
brasileiro, ganharam muito espaço. Defendia-se que era necessário lembrar 
que acima de tudo éramos brasileiros, e que se os partidos políticos não faziam 
o que era preciso, faríamos nós, por nossa pátria. Parte disso era um 
nacionalismo bem intencionado, porém foi o espaço necessário para que 
grupos de práticas fascistas se organizassem. Nas redes sociais os debates 
sobre isso foram intensos, contudo, neste dia, o diálogo foi deixado de lado: 
participantes com bandeiras de partidos políticos, ou de movimentos sociais 
como o MST, bonés, camisetas ou até mesmo apenas vestidos de vermelho 
foram expulsos das manifestações, pois estavam sendo ameaçados 
(ESPÍRITO SANTO, 2014, p. 38). 
 
 
34 
 
Com a saída do MPL dos atos, à medida que as marchas foram crescendo e ganhando 
cada vez mais participantes e novas cidades pelo país suas pautas de reivindicações foram 
tornando-se cada vez mais heterogêneas. Com a retirada de campo do convocador inicial das 
sete primeiras manifestações, as “Jornadas de Junho” seguiram confusas e à deriva por todo o 
Brasil, até arrefecerem com a chegada do mês de julho daquele ano. Contudo, as “Jornadas de 
Junho” apresentaram drásticas consequências nos anos posteriores ao país. 
 
1.3 – “Jornadas de Junho”: um movimento que influenciou um país 
 
Ernane Salles da Costa Junior, em Sobre Vozes da Rua e Gigantes que Despertam: 
Retratos de um Imaginário (2016), apresenta três interpretações possíveis, entre tantas, das 
“Jornadas de Junho”. A primeira é de Ricci e Arley (2014), que viram no movimento uma crise 
do modelo institucionalizado de política, sendo as “Jornadas de Junho” uma narrativa de 
sentidos como um “movimento social em rede” próprio dos novos tempos conectados. Eles 
veem tais manifestações como expressão da uma pluralidade de pessoas em uma rebeldia geral 
no sistema posto, de enfrentamento ao status quo. E os autores enxergam nas “Jornadas de 
Junho” uma crítica ao sistema partidário como elemento central de ordem política e tentativa 
de um diálogo concreto,estimulado pela rápida e fácil comunicação das rede sociais (COSTA 
JUNIOR, 2016, p. 13). 
Costa Junior apresenta, ainda, uma segunda visão para as “Jornadas de Junho”, de 
Marilena Chauí (2013), que enfatiza o aspecto ligado à “[...] rebeldia dos manifestantes que 
nega partidos, organizações e representações”, lembrando que ela vai apontar um “[...] potencial 
reacionário e seus contornos até mesmo fascistas contidos nesse tipo de discurso” (COSTA 
JUNIOR, 2016, p. 13). 
Para Chauí, as “Jornadas de Junho” corriam risco de serem manifestações rumo ao 
conservadorismo e ao autoritarismo. A visão da filósofa é corroborada pelos fatos que 
sucederam na história política recente do Brasil após as “Jornadas de Junho”. A visão pessimista 
de Chauí para os desdobramentos políticos das “Jornadas de Junho” se evidenciou nas marchas 
“verde-e-amarelas” que ganharam força no Brasil e foram abraçadas pela mídia hegemônica 
nos anos posteriores, que afirmava lutar contra a corrupção e exigiam a destituição do governo 
federal petista, exclusivamente culpabilizado pelo forte esquema de corrupção exposto pela 
35 
 
Operação Lava-Jato da Polícia Federal. A visão de Chauí ainda foi reforçada pelo aumento de 
um pensamento conservador em parte da sociedade brasileira, o que gerou a ascensão de 
políticos com discurso de extrema direita, caso do deputado militar da reserva Jair Bolsonaro, 
postulante à Presidência em 2018 pelo Partido Social Cristão (PSC), e no surgimento de grupos 
de extrema direita capitaneados por jovens lideranças como Movimento Brasil Livre (MBL), e, 
claro, no impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT) em 31 de agosto de 2016, três anos 
após as “Jornadas de Junho”, em um grande acordo político-judicial para sua destituição com 
forte apoio midiático. 
Por fim, Costa Junior apresenta uma terceira visão, mais otimista, de Manuel Castells 
(2013), que enxergou nas “Jornadas de Junho” “[...] parte integrante de um fenômeno mundial 
que poderia ser definido, em razão da forte presença da internet como meio de mobilização, 
como movimentos em rede” (COSTA JUNIOR, 2016, p. 14). Costa Júnior lembra que, para 
Castells, a articulação política por meio das redes sociais, teria deixado um legado positivo e 
irreversível para a tradição política do país. 
Costa Junior (2016) enxerga, também, aspectos positivos nas “Jornadas de Junho” de 
2013, que, em sua visão, representam o ápice da luta pelo direito ao transporte público gratuito 
nas grandes cidades, luta iniciada com força a partir da redemocratização do país, citando a 
“Revolta do Buzú” em 2003, na cidade de Salvador da Bahia, em a “Revolta da Catraca”, em 
2004, em Florianópolis em Santa Catarina, como exemplos anteriores3. 
Tal legado, na visão de Costa Junior (2016), culmina no chamamento de manifestações 
públicas de protesto nas ruas feito pelo Movimento Passe Livre (MPL) em São Paulo quando 
do anúncio do aumento da tarifa, as “Jornadas de Junho” estudadas nesta pesquisa. O autor 
lembra a máxima “não é por vinte centavos, é por direitos” estampada em muitos cartazes das 
“Jornadas de Junho”. Segundo ele, o slogan das marchas desvela “[...] a percepção de que o 
 
3 Em agosto de 2003, o aumento no preço da passagem do transporte público em Salvador, capital da Bahia, 
desencadeou uma grande manifestação estudantil, reivindicando o passe livre. Com a união de vários grêmios 
representativos estudantis, estudantes reivindicaram a redução da tarifa de R$ 1,50 para R$ 1,30, bem como o 
meio passe também aos fins de semana. Chamado de “Revolta do Buzú”, o evento influenciou posteriormente 
outras manifestações, como a “Revolta da Catraca”, movimento semelhante ocorrido em Florianópolis, em 2004, 
e a própria criação do Movimento Passe Livre (MPL) em 2005, durante o Fórum Social Mundial em Porto 
Alegre. O MPL foi o desencadeador das “Jornadas de Junho”, que começaram por conta do aumento da 
passagem no transporte público paulistano em 2013 de R$ 3,00 para R$ 3,20. Fonte: A Revolta do Buzú em 
Salvador: 10 Anos de Luta pelo Passe Livre. < https://memorialatina.net/2013/08/13/a-revolta-do-buzu-salvador-
10-anos-de-luta-pelo-passe-livre/>. Acesso em 15/11/2017. 
36 
 
aumento da tarifa do transporte e seu valor em si são apenas a ponta de um imenso iceberg de 
um modelo caótico de crescimento urbano” (COSTA JUNIOR, 2016, p. 16). 
Para Costa Junior, o MPL colocou em evidência a importância do transporte público 
como “[...] instrumento imprescindível que garante o acesso aos bens públicos e à cidade em 
geral” (COSTA JUNIOR, 2016, p. 16), reiterando que “[...] ele deve ser visto, pois, como um 
direito, aliás, essencial para o exercício de outros direitos, tendo em vista que assegura o acesso 
aos demais serviços públicos” (COSTA JUNIOR, 2016, p. 16). 
Toda essa inquietação popular durante as “Jornadas de Junho” afetou fortemente dois 
grupos de teatro de São Paulo que ensaiavam suas novas peças quando as manifestações 
ganhavam corpo na cidade de São Paulo e foram inquietados artisticamente por elas. Com 
muitos de seus atores presentes nas marchas ou até mesmo vítimas da repressão policial, os dois 
grupos decidem mudar suas encenações e trazem para a cena as “Jornadas de Junho” nas peças 
que estrearam em agosto de 2013 Cacilda!!! Glória no TBC e Édipo na Praça, dois meses após 
o furacão social que movimentou as ruas. Fato que será coberto pelos dois principais jornais de 
São Paulo: Folha e Estadão. 
 
 
 
37 
 
CAPÍTULO 2 – ASSOCIAÇÃO TEAT(R)O OFICINA UZYNA UZONA E 
COMPANHIA DE TEATRO OS SATYROS: UTILIZAÇÃO DE EXPEDIENTES 
TEATRAIS EM DIÁLOGO COM A HISTÓRIA RECENTE DO BRASIL 
 
Dois grupos de teatro paulistanos longevos e com tradição de dialogarem com seus 
entornos e sua cotidianeidade, sobretudo citadina, em suas obras teatrais, decidiram dialogar 
com as “Jornadas de Junho” no ano de 2013. Isso ocorreu em montagens que estrearam dois 
meses após as grandes manifestações populares que movimentaram a cidade de São Paulo e 
depois se espalharam pelo país. São eles o Oficina e o Satyros. Antes, é preciso conhecer aspetos 
gerais e históricos de ambos e de seu ofício. 
 
2.1 – Teatro: aspectos gerais 
 
Fernando Peixoto em O Que É Teatro define teatro como “[...] um espaço, um homem 
que ocupa este espaço, outro homem que observa. Entre ambos a consciência de uma 
cumplicidade" (1981, p. 9). Na visão do autor, é no momento da representação que surge o 
teatro, advindo da necessidade de o homem representar seu semelhante, mostrando-lhe sua 
criação. Ele lembra que o teatro esteve presente na humanidade desde os primeiros rituais e 
ganhou força nas civilizações antigas, como Egito, China e Grécia, recordando que Aristóteles 
definiu o espectador como aquele que delega poderes para que a personagem pense e atue em 
seu lugar. 
O autor afirma que na Idade Média a Igreja Católica, que tanto se inspirou no teatro para 
seus rituais litúrgicos, decidiu proibi-lo, “[...] ameaçando atores com o fogo do inferno, não 
deixando de se apropriar dele em suas celebrações” (PEIXOTO, 1981, p. 72). Com o 
Renascimento, o teatro recuperou alguma liberdade, com a manifestação de autores como o 
inglês William Shakespeare, que provocou "[...] a emancipação definitiva do teatro de todas as 
amarras, temáticas e formais, anteriores" (PEIXOTO, 1981, p. 77). Com a ascensão da 
burguesia ao poder, surge o drama burguês, para que a plateia pudesse identificar-se com os 
conflitos das personagens e servisse também para impor os ideários burgueses à sociedade 
(SZONDI, 2001). 
38 
 
No século XX, o teatro épico, por intermédio de diversos de seus expedientes, será 
totalmente reformulado, em decorrência de pressupostos materialistas e dialético, por Bertolt 
Brecht (ROSENFELD, 2000). Alexandre Mate (2010) lembra que até chegar à formulação do 
teatro épico brechtiano, o épico passou de algumascaracterísticas: teatralidade explícita; 
ausência de quarta parede e jogo sendo desenvolvido entre atores e público; mescla da mimese 
e da diégese; assuntos de abrangência social, confrontando o objetivo ao subjetivo, o pessoal 
ao histórico; a politização da cena; a inserção de expedientes de outras linguagens artísticas 
(como a projeção fílmica); a narrativa desenvolvida em fluxos de tempos, contemplando 
passado e presente; e o não se ater às questões de conflito (intersubjetivo); lembrando que a 
personagem é social e histórica (MATE, 2010). 
Bertolt Brecht (1898-1956) — estabelecendo a condição de pensar o espetáculo como 
um objeto estético-histórico e social — se destacou ao propor que o espectador não deveria 
deixar a personagem atuar em seu lugar, mas estimulado a pensar criticamente em conjunto. 
Assim, sinalizou uma dimensão política também para o público. Influenciado por este, o diretor 
brasileiro e pensador do teatro Augusto Boal (1931-2009) definiu teatro como ação (praxitron), 
quebrando o limite entre atuadores e espectadores. Para Boal, o teatro deveria quebrar os limites 
entre as classes sociais, libertando o espectador "[...] de uma condição que seria, 
necessariamente, opressiva" (PEIXOTO, 1981, p. 20). 
Ao longo da história, o teatro sempre esteve conectado ao sistema político-social da 
sociedade na qual estivesse inserido, fosse confrontando-se ao sistema ou reproduzindo-o a 
partir dos pontos de vista das classes dominantes da vez. De acordo com Peixoto, o fim do 
século XX provocou uma mudança: "[...] o teatro, mais do que correntes políticas, passou a 
buscar a si mesmo" (PEIXOTO, 1981, p. 18). 
Alexandre Mate (2008) lembra que, com a democratização do Brasil na década de 1980, 
após duas décadas de ditadura civil-militar que reprimiu fortemente o campo artístico, o teatro 
de grupo na cidade de São Paulo voltou a se reorganizar, enfatizando o surgimento de novos e 
múltiplos grupos em distintas regiões da cidade, incluindo aí sua periferia. 
 
Ainda com relação aos grupos de teatro que se formaram na década, mas sem 
ser possível imaginar seu número, por não haver dados estatísticos, vários 
deles atuam na década e dão sentido militante, político e estético ao conceito 
denominado teatro de grupo, cujos processos de reordenação das formas 
grupal e coletiva vão demandar outros modos de produção. Dessa forma, data 
39 
 
da década, mas sem ter começado nela, a proposição do chamado processo 
colaborativo. De modo bastante esquemático, o processo colaborativo — 
cujas inspirações mais distantes resultam do teatro agitropista russo-soviético 
e as mais próximas, principalmente, das experiências do Teatro Experimental 
de Cali (Colômbia), dirigido por Enrique Buenaventura — pressupõe a 
instituição de um colegiado democrático de criação, com divisão de todas as 
tarefas demandadas pelo processo teatral. Mesmo havendo responsáveis 
específicos de cada área da produção, criação estética e apresentação da obra, 
tudo se divide e de intercambia (MATE, 2008, p. 146). 
 
Apesar de estarem inserido no contexto do teatro de grupo que ganhou força na cidade 
de São Paulo a partir da década de 1980, os grupos Oficina e Satyros têm suas especificidades 
históricas e formas de produção, como veremos adiante. 
 
2.2 – Oficina: teat(r)o, antropofagia e tropicalismo 
 
O Oficina é um dos mais longevos grupos teatrais em atividade no mundo, já que surgiu 
em 1958 e permanece em atividade seis décadas depois até os tempos atuais, sob o mesmo 
comando, do diretor paulista José Celso Martinez Corrêa, chamado de Zé Celso. De acordo 
com o livro Oficina 50+ Labirinto da Criação (2013), o Oficina passou a se destacar na década 
de 1960, "[...] por toda a sua experiência cênica internacional e por sido palco do lançamento 
do Tropicalismo, ligado ao Movimento Antropofágico de Oswald de Andrade, o que 
influenciou músicos, poetas e outros artistas" (MARTINS, 2013, p. 11). 
Na revista-encarte A Bigorna Extraordinária, integrante do mesmo livro, o diretor Zé 
Celso afirma que o coletivo caracteriza-se em uma "[...] associação de técnico-artistas 
multimídia" feita para criar "[...] espetáculos que deem continuidade ao momento 
revolucionário da encenação de O Rei da Vela, do poeta paulistano Oswald de Andrade" 
(CORRÊA, 2013, p. 32), referindo-se à histórica peça de 1967 que deu propulsão nos palcos ao 
movimento artístico da Tropicália. 
Desde então, as peças do Oficina, sempre com elenco numeroso — no período em 
análise neste trabalho o Grupo estava composto de mais de 60 artistas, em sua maioria jovens 
integrantes de seu vigoroso coro —, têm, em vários aspectos, sua excelência comprovada. 
Notadamente, dentre todos os aspectos, a figura do coro se caracteriza em sua força icônico-
performático e criativa. Coro que chegou ao Oficina no espetáculo Roda Viva, peça montada 
40 
 
no fatídico ano de 1968 de autoria de Chico Buarque de Hollanda. Por seu teor denunciatório e 
encenação ousada, sobretudo, a obra sofreu forte repressão, no Teatro Ruth Escobar, em São 
Paulo, onde a obra era encenada, e atores espancados — tal fato se repetiu na apresentação da 
peça em Porto Alegre —, como lembra Zé Celso, ao afirmar que a grandeza desta obra teatral 
"[...] foi obscurecida pelos ataques perpetrados pelo Comando de Caça aos Comunistas em São 
Paulo e depois pelo próprio 3º Exército Brasileiro, em Porto Alegre" (CORRÊA, 2013, p. 32). 
 
Imagem da encenação do Oficina para O Rei da Vela, em 1967 – Foto: Arquivo Oficina 
41 
 
 
Chico Buarque vê ensaio do Oficina para sua peça Roda Viva em 1968 – Foto: Arquivo Oficina 
 
Em 13 de dezembro de 1968, data da implantação do tenebroso Ato Institucional nº 5 
(AI-5) no Brasil pela ditadura, suprimindo direitos políticos e civis e que aprofundou o estado 
de exceção no país e a repressão, o Oficina estreou o icônico texto de Bertolt Brecht Galileu 
Galilei. A encenação de Zé Celso comparava os militares no poder no Brasil à Inquisição da 
Igreja Católica da Idade Média que perseguiu o grande astrônomo italiano que protagoniza a 
peça. 
Influenciado pelo grupo estadunidense Living Theater, Zé Celso postulou, no começo 
da década de 1970, seu “te-ato”4, que vira a ser forte marca do Oficina bem como seu coro: 
uma atuação ritual transformadora da relação palco-plateia, com artistas e público fundindo-se, 
rompendo qualquer barreira entre atores e espectadores, dando espaço ao surgimento de uma 
forte libido entre os mesmos. A evidente postura do Oficina contra o regime de exceção gerou 
forte perseguição dos militares e seus colaboradores na sociedade civil aos artistas, o que 
culminou no exílio de Zé Celso em 1974, após 20 dias de prisão e tortura. Para o diretor, sua 
 
4 No seu site oficial, a Universidade Antropófaga da Associação Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona define assim o 
“te-ato”: “Teato é um ato de comunicação direta qualquer. Você encara tudo o que acontece no dia a dia como 
um teatro, onde cada um de nós tem em si uma personagem, e no teato você atua diretamente sobre isso. Teato é 
uma ação de desmascaramento do teatro das relações sociais”. Fonte: Site da Universidade Antropófaga – 
“Teato” <http://www.universidadeantropofaga.org/teato>. Acesso em 15/11/2017. 
42 
 
prisão e tortura que o obrigaram a sair do país foi "a violenta interrupção" de um processo 
artístico que surgia, lembrando que não foi o único alvo "[...] com a invasão do Teat(r)o Oficina, 
prisão e tortura de muitos de seus tecno-artistas" (CORRÊA, 2013, p. 33). 
Em seu exílio, Zé Celso passou por Portugal, na Europa, e Moçambique, na África, e 
retornou a São Paulo apenas em 1978. Na sequência, passou toda a década de 1980 tentando 
reerguer o Oficina e sua força histórico-política como na década de 1960, além de recuperar 
sua sede histórica no bairro do Bixiga, que ganhou um novo prédio, projetado por

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