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TÉCNICAS EM PESQUISA E CONSTRUÇÃO DE TEXTOS CIENTÍFICOS Núcleo Comum Núcleo de Pós-Graduação 2 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Sumário MÓDULO 1 - Introdução à Metodologia Científica 1.1 Conhecimento: o desejo do universo 1.2 Os tipos de Conhecimento 1.2.1 Conhecimento Popular/Empírico 1.2.2 Conhecimento Religioso/Teológico 1.2.3 Conhecimento Filosófico 1.2.4 Conhecimento Científico 1.2.5 Conhecimento Estético/Artístico 1.2.6 Conhecimento Técnico. 1.3 O Conhecimento Científico e sua correlação com o conhecimento popular 1.4 Considerações finais MÓDULO 2 - Metodologias de pesquisa científica 2.1 Conceito de Método 2.2 Principais Métodos 2.2.1 Método Indutivo 2.2.2 Método Dedutivo 2.2.3 Método Hipotético-Dedutivo 2.2.4 Método Dialético 2.2.5 Métodos específicos das Ciências Sociais Módulo 3 - A organização dos Estudos na Universidade 3.1 A Universidade e seus instrumentos de trabalho 3.2 A documentação como método de estudo pessoal 3.2.1 A documentação temática: o encontro com o pano de fundo 3.2.2 A documentação bibliográfica: o encontro com o arquivo 3.2.3 A documentação geral: o encontro com a história 3.3 Diretrizes para leitura, estudo, análise e interpretação de textos 3.3.1 Análise textual 3.3.2 Análise temática 3.3.3 Análise interpretativa 3.3.4 Problematização 3.3.5 Síntese Pessoal 3.4 Considerações finais 3 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o MÓDULO 4 - A Pesquisa Científica 4.1 Indicações relevantes sobre a produção do texto 4.1.1Elaboração de monografia: recomendações 4.1.2 Elaboração de artigos científicos: recomendações 4.1.3 Tipos e exemplos de citação 4.1.4 Recomendações essenciais para evitar o plágio 4.2.3 Quadro-síntese: formas de citação dos autores no texto de pesquisa 4.2.4 Notas de rodapé MÓDULO 5 – Redação e apresentação do trabalho científico 6.1 Monografia 6.1.2 Elementos pré-textuais a. Capa b. Lombada c. Folha de rosto d. Ficha catalográfica e. Errata f. Dedicatória g. Agradecimentos h. Epígrafe i. Resumo em língua estrangeira k. Lista de ilustrações l. Lista de tabelas m. Sumário 6.1.3 Elementos textuais a. Introdução b. Revisão da Literatura c. Metodologia d. Resultados e. Conclusão 6.1.4 Elementos pós-textuais a. Referências b. Glossário c. Apêndices d. Anexos 6.2 Artigo Científico 6.2.1 A linguagem do artigo científico 4 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o 6.2.2 Estrutura: a. Introdução b. Resumo c. Resumo em língua estrangeira d. Palavras-chave e. Desenvolvimento f. Conclusão g. Referências Bibliográficas MÓDULO 6 - Estrutura do artigo científico 6.1 Linguagem do artigo 6.1.1 Introdução 6.1.2 Resumo 6.1.2 Resumo em língua estrangeira 6.1.3 Palavras-chave 6.2 ARTIGO: corpo 6.2.1 Introdução 6.2.3 Desenvolvimento 6.2.4 Considerações Finais 5 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o MÓDULO 1 – Introdução à Metodologia Científica Patrícia Helena Ferreira Disciplina: Técnicas em Pesquisa e Construção de Textos Científicos. Módulo 1 – Introdução à Metodologia Científica - Faculdade Campos Elíseos (FCE) – São Paulo – 2016. Guia de Estudos – Módulo 1 – Introdução à Metodologia Científica. 1. Conhecimento 2. Ciência 3. Metodologia Orgs.: Adriana Alves Farias e Cláudia Regina Esteves Faculdade Campos Elíseos 6 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Conversa Inicial Caro(a) aluno(a), Bem-vindo à disciplina Técnicas em Pesquisa e Construção de Textos Científicos. No primeiro módulo, Introdução à Metodologia Científica, discutiremos sobre o significado de conhecimento e suas diversas vertentes. Para tanto, no primeiro momento estudaremos as compreensões sobre o termo conhecimento e a necessidade de sistematização de uma disciplina que estuda as relações do homem com o conhecimento: a epistemologia. Na segunda parte do módulo destacaremos os principais tipos de conhecimento, a saber: conhecimento popular/empírico, conhecimento religioso/teológico, conhecimento filosófico; conhecimento científico, conhecimento estético/artístico e conhecimento técnico. Por fim, faremos uma breve correlação entre conhecimento empírico e conhecimento científico e terminaremos com algumas considerações sobre o “uso” da ciência. Agora com a descrição de toda a trajetória, podemos iniciar a nossa jornada de estudos. Ótimo aprendizado! 7 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o 1.1 Conhecimento: o desejo do universo Vivemos em um mundo onde “conhecimento” parece ser uma das palavras mais utilizadas e valorizadas atualmente. No excerto acima, o físico Stephen Hawkingi assevera que, desde o início do que se pode chamar de espécie humana, os homens têm o desejo de conhecer a ordem do mundo e também sobre si mesmos. Podemos então ir mais além e fazermo-nos mais algumas perguntas: - O que significa conhecer? - A capacidade de conhecer é inerente à espécie humana? - O que nos diferencia dos diversos seres vivos que habitam nosso planeta? - Como conhecemos? - De que forma o conhecimento faz parte de nossas vidas? Desde a aurora da civilização as pessoas não se dão por satisfeitas com a noção de que os eventos são desconectados e inexplicáveis. Sempre ansiamos por compreender a ordem subjacente do mundo. Hoje, ainda almejamos saber por que estamos aqui e de onde viemos. O desejo profundo da humanidade pelo conhecimento é justificativo suficiente para nossa busca contínua. Stephen Hawking 8 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Para aprofundarmos um pouco mais essa discussão, necessitamos buscar mais elementos que possam contribuir sobre o entendimento que temos atualmente sobre a própria ideia de conhecimento. A palavra “conhecimento” tem sua origem no latim. Ela provém do vocábulo COGNOSCERE, traduzido como “conhecer” ou “saber”. Este termo latino é composto por: COM - “junto” + GNOSCERE - “obter conhecimento” Conhecer implica uma relação entre aquele que será o sujeito que conhece e o objeto a ser conhecido. Segundo Aranha e Martins (2002, p. 21), “a apropriação intelectual do objeto supõe que haja regularidade nos acontecimentos do mundo; caso contrário, a consciência cognoscível nunca poderia superar o caos”. Todos os dias “conhecemos”, isto é, entramos em contato/relação com os acontecimentos e coisas. Dessa forma, nos apropriamos desse conhecimento em prol de novos conhecimentos, mesmo quando não temos consciência de tal fato. Por exemplo, ao conhecermos uma nova “palavra” mobilizaremos nossas funções cognitivas para que essa seja aplicada em diversas situações da nossa vida cotidiana, desde as mais pessoais até as que estão relacionadas à atuação na sociedade, como profissionalmente ou em um contexto acadêmico. Podemos concluir então que conhecer é construir significados sobre algo que nos é apresentado. De forma geral, entende-se que o conhecimento pode tanto designar o ato de conhecer, como abordado acima (relaçãoentre sujeito cognoscente e objeto), quanto referir-se ao produto, a sistematização, o conhecimento acumulado pelo homem historicamente. O conhecimento, nesta última acepção, deixa de ser uma questão do ponto de vista individual para ser tratado como um patrimônio da humanidade. Em nossa disciplina abordaremos mais a concepção de conhecimento a partir da segunda compreensão, ou seja, conhecimento como construção histórica. 9 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Embora tratemos do conhecimento como tal conjunto de saberes acumulados, não podemos deixar de considerar que a apreensão que fazemos mundo não é sempre tematizada, sendo inicialmente pré-reflexiva, mais no nível da intuição e da experiência (ARANHA; MARTINS, 2002). Pelo esforço constante do questionamento podemos sair desse grau de apreensão do mundo para nos aproximarmos de um pensamento cada vez mais complexo, que questiona as suas próprias bases. Desta forma, conforme as autoras supracitadas, podemos sintetizar que nossa relação de apreensão com o real (conhecimento) pode se dar de duas formas: • Pela intuição – forma de conhecimento imediato, feito sem intermediários. A intuição é uma visão súbita, o ponto de partida do conhecimento e está ligada à questão da inventividade. Pode ser classificada em: • Intuição sensível – ligada ao conhecimento imediato dos órgãos do sentido. Por exemplo, as sensações de frio e de calor. • Intuição inventiva – é da ordem do súbito. Está ligada aos sábios, cientistas e artistas, além de também transitar na vida cotidiana. • Intuição intelectual – representa o esforço para captar a essência do objeto. Como exemplo temos o cogito, de Descartes. • Pelo Conhecimento Discursivo – O conhecimento discursivo se dá por meio de conceitos, operando por etapas. Nesse modo de apreensão do real a razão (faculdade de julgar) necessita fazer abstrações (a abstração é o processo de pensamento em que as ideias são distanciadas dos objetos, usando a estratégia de simplificação). Podemos exemplificar: quando abstraímos a ideia de “casa”, conseguimos isolar e simplificá-la a tal ponto que a representação intelectual da casa independe dos diversos tipos de habitação. Aranha e Martins (2002), por fim, discorrem que que tanto a intuição quanto o conhecimento discursivo são importantes, pois, o conhecimento necessita transitar entre essas duas formas de apreensão do real, entre o vivido e o teorizado, entre o concreto e o abstrato. 10 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Epistemologia: a teoria do conhecimento Chamamos de epistemologia ou gnosiologia o ramo da filosofia que se ocupa do conhecimento humano, especialmente nas relações que se estabelecem entre o sujeito e o objeto do conhecimento, pelo que também é designada de “teoria do conhecimento”. Em sentido mais restrito, a epistemologia refere-se às condições sob as quais se pode produzir o conhecimento científico e dos modos para alcançá-lo, avaliando a consistência lógica de teorias. Nesse caso, identifica-se com a filosofia da ciência. A epistemologia surge como disciplina autônoma na Idade Moderna, quando os filósofos começam a se preocupar sistematicamente com as questões de origem, essência e certeza do conhecimento humano e até hoje continua a estudar os fundamentos e as implicações ético-políticas do mesmo. Sintese A palavra conhecimento provém do vocábulo COGNOSCERE, traduzido como “conhecer” ou “saber”. O termo conhecimento possui várias acepções, podendo ser destacadas: - ato de conhecer - relação entre o sujeito cognoscente e objeto); - o conjunto de saberes acumulados pelo homem historicamente. A epistemologia estuda a origem, a estrutura, os métodos e a validade do conhecimento. Também é conhecida como teoria do conhecimento e relaciona- se com a metafísica, a lógica e a filosofia da ciência 11 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o 1.2 Os tipos de conhecimento Embora a disciplina de metodologia científica esteja preocupada com o conhecimento científico, não podemos deixar de considerar que este não é o único existente. Ao longo de toda sua existência o homem vem acumulando conhecimentos desde o seu nascimento, conhecimentos vitais e necessários para a sua sobrevivência. Podemos distinguir, a partir dos principais livros e compêndios sobre metodologia científica, quatro tipos principais de conhecimento: o conhecimento popular ou senso comum, o conhecimento teológico/religioso, o conhecimento filosófico e o conhecimento científico. Acrescentaríamos a esta lista o conhecimento técnico e o conhecimento estético/artístico. Cada um deles presenta características próprias e específicas, mas não podemos referenciar uma ordem de importância entre eles. Não existe um conhecimento que seja melhor do que outro; cada um deles, dentro de seu escopo, possui o mesmo objetivo: responder às nossas dúvidas atuais e criar novas dúvidas. Apesar do conhecimento científico ser o mais sistematizado, podemos afirmar que a ciência não é o único caminho que leva à verdade. A seguir, analisaremos cada um deles. 1.2.1 Conhecimento Popular/Empírico Leia o texto a seguir com atenção. O excerto abaixo demonstra que a dona de casa que necessita fazer compras para a família realizou várias operações mentais para saber adequar a quantia de dinheiro que possuía com o preço das mercadorias, os gostos de cada membro e até os benefícios de cada alimento. 12 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Nesse trecho temos um exemplo concreto de conhecimentos que são ativados/mobilizados no dia-a-dia por todos nós, sem que muitas vezes o percebamos. Embora saibamos que a Sra. “X”, como escolhemos denominá-la, recorreu a saberes advindos dos mais variados campos, que tipo de conhecimento ela mais mobilizou em suas escolhas? O conhecimento popular, empírico ou do senso comum, é aquele que se se adquire no trato direto com as coisas e os seres humanos. As informações são assimiladas pela tradição e por meio de experiências causais e Ela é uma dona de casa. Pega o dinheiro e vai à feira. Não se formou em coisa alguma. Uma pessoa comum, como milhares de outras. Vamos pensar como ela funciona, lá na feira, de barraca em barraca. Seu senso comum trabalha com problemas econômicos: como adequar os recursos que dispõe, em dinheiro, às necessidades de sua família, em comida. E para isso ela tem de processar uma série de informações. Os alimentos oferecidos são classificados em indispensáveis, desejáveis e supérfluos. Os preços são comparados. A estação dos produtos é verificada: produtos fora de estação são mais caros. Seu senso econômico, por sua vez, está acoplado às outras ciências. Ciências humanas, por exemplo. Ela sabe que os alimentos não são apenas alimentos. Sem nunca ter lido Veblen ou Lévi-Strauss, ela sabe do valor simbólico dos alimentos. Uma refeição é uma dádiva da dona de casa, um presente. Com a refeição ela diz algo. Oferecer chouriço para um marido de religião adventista, ou feijoada para uma sogra que tem úlceras, é romper claramente com uma política de coexistência pacífica. A escolha dos alimentos, aqui, não está regulada apenas por fatores econômicos, mas por fatores simbólicos, sociais e políticos. Além disso, a economia e a política devem dar lugar ao estético: o gostoso, o cheiroso, o bonito. E para o dietético. Assim, ela ajunta o bom para comprar, o bom para dar, com o bom para ver, cheirar e comer, com o bom para viver. ALVES, Rubem. Filosofia da ciência: introdução ao jogo e suas regras.19. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2015. 13 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o assistemáticas. Tem como objetivo primeiro a resolução dos problemas cotidianos. Nossas crenças, tradições e saberes populares são exemplos nítidos dessa forma de conhecer. Segundo Trujillo (1974, Apud MARCONI; LAKATOS, 2004), o conhecimento popular possui as seguintes características: • É valorativo – fundamenta-se numa seleção com base em estados de ânimo e sensações. Os valores do sujeito contribuem para a construção do objeto de conhecimento; • É reflexivo – faz análise de um determinado objeto, mas a mesma está limitada à familiaridade com o elemento, não podendo ser reduzido a uma formulação geral; • É assistemático – casual, baseia-se na organização particular própria do sujeito e não na sistematização de ideias. • É verificável – confirmado dentro da sua especificidade, que é a vida cotidiana. • É falível e inexato – pelas suas características de assistematicidade e informalidade. Tal tipo de conhecimento não permite a formulação de hipóteses. 1.2.2 Conhecimento Religioso/Teológico O conhecimento religioso é aquele adquirido a partir da aceitação de axiomas1 da fé teológica, é fruto da revelação da divindade, por meio de indivíduos inspirados que apresentam respostas aos mistérios que permeiam a mente humana. O conhecimento teológico ou religioso preocupa-se com verdades absolutas, verdades correlacionadas à fé. O sagrado é explicado por si só. Há, nesse tipo de conhecimento, uma tentativa mítica ou mágica de explicação do mundo. 1 14 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Embora considerado como religioso, não está ligado diretamente a uma fé específica, mas sim a uma relação com o sagrado e com explicações ritualísticas e mágicas do mundo. Vejamos o exemplo abaixo: Morená: a praia sagrada O largo e comprido rio Xingu não tem nascente própria. O encontro de três rios, dois largos, Kuluene e Ronuru, e um estreito, Batovi, é que forma o grande rio. Nessa confluência, esses três rios formam também uma praia extensa e muito bonita que os índios chamam de Morená. Essa praia é muito importante na vida de muitas aldeias da região. Foi ali que o criador Mavutsinin criou os índios. No cerimonial do Kuarup, os índios fazem uma verdadeira representação do ato de criação. - Pai, como é que a gente apareceu no mundo? – perguntou Acanai. - Mavutsinin criou todos nós – respondeu o pai, Cuiparé. - Quem é esse? Não é aquele que na festa do Kuarup canta a noite inteira e de madrugada chora? – indagou o menino. - Os nossos Aramoên contavam que Mavutsinin cortou alguns toros de madeira e transformou, lá no Morená, todos em gente. (...) - Quando o dia estava clareando Mavutsinin começou a cantar e chorar. Daí o sol apareceu e, com o seu calor, os toros tomaram vida. Foi assim que Mavutsinin criou todo o pessoal – explicou Cuiaparé. In: VILLAS BOAS, Cláudio e Orlando. Histórias do Xingu. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2013. 15 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Tal como em outras narrativas religiosas, a narrativa indígena acerca da criação do mundo, segundo o ritual do Kuarup, tem como objetivo oferecer uma verdade acerca da ordem terrena, a partir de lógicas que não podem ser explicadas sistematicamente, somente podem ser aceitas e interiorizadas. O fiel não está à procura da evidência lógica dos fatos, mas sim da causa primeira, ou seja, a revelação divina. Sintetizando, podemos dizer que o conhecimento teológico possui as seguintes características (TRUJILLO, 1974, Apud MARCONI; LAKATOS, 2004): • É valorativo – suas doutrinas são inspiradas em proposições sagradas; • É inspiracional – sua verdade provém da revelação da palavra; • É Infalível e exato – indiscutível e preciso. Não há do quê duvidar; • É sistemático – apresenta uma explicação causal e organizada do mundo; • Não é verificável – Sendo obra do criador divino, suas evidências não podem ser verificáveis. Tais evidências provêm de uma relação com o sobrenatural; 1.2.3 Conhecimento Filosófico A Filosofia e Ciência podiam ser consideradas como um só corpo de conhecimento até o final do século XIX, quando houve uma cisão mais definitiva entre as duas devido ao Positivismo2. Ambas têm como objetivo a busca da verdade. Ambas buscam uma sistematização do conhecimento. Mas o que diferencia a Filosofia da Ciência e dos demais tipos de conhecimento? Vejamos como Bertrand Russel, conhecido filósofo do século XX, discorre a respeito de algumas das proposições da Filosofia 16 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o O conhecimento filosófico, segundo Marconi e Lakatos (2004), caracteriza-se pelo esforço da razão em questionar os problemas humanos, recorrendo à razão. O objeto de análise da filosofia são as ideias, as relações conceituais, a existência enfim. Dessa forma, não há como reduzir tais questionamentos à verificação e à comprovação por meio da experiência. Para Aranha e Martins (2002), enquanto que a ciência tende a especificidade, a filosofia considera seu objeto de estudo do ponto de vista da totalidade. Sua visão é de conjunto, tentando superar a fragmentação do real. Ainda, a filosofia não elabora juízos de realidade, como a ciência, mas juízos de valor, procurando dar sentido à experiência. Por fim, continuam as autoras, por meio da reflexão filosófica que o homem sai da dimensão puramente prática e toma o distanciamento necessário para a avaliação dos fundamentos dos atos humanos. Sintetizando, de acordo com Trujillo (1974, Apud MARCONI; LAKATOS, 2004), o conhecimento filosófico pode ser considerado como: • Valorativo – suas hipóteses não podem ser submetidas à observação. • Não verificável – os resultados dessas hipóteses não podem ser confirmados, nem refutados; Em si, a filosofia não pretende resolver as nossas dificuldades nem salvar as nossas almas. Como dizem os gregos, é uma espécie de aventura turística que se empreende por gosto. Portanto, em princípio, não há nenhuma questão de dogma, nem de ritos, nem de entidades sagradas de qualquer tipo, ainda que os filósofos, individualmente, possam ser obstinadamente dogmáticos. RUSSELL, Bertrand. História do pensamento ocidental: a aventura dos pré-socráticos à Wittgenstein. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015. 17 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o • Racional – pois está configurado a partir de um conjunto de enunciados logicamente correlacionados; • Sistemático – pois visa a uma compreensão coerente da realidade, com objetivo de apreendê-la; • Infalível e exato – seus postulados não são submetidos à observação. Por fim, adentraremos na discussão do conhecimento científico, o qual, para fins da elaboração de trabalhos de conclusão de curso e monografias, é o que se apresenta como referência por apresentar características que objetivam a sistematização, a racionalização e a generalização do saber. Na primeira metade do século XX, Einstein descreveu a trama do espaço e do tempo coma teoria da relatividade, enquanto Bohr e seus jovens amigos capturaram em equações a estranha natureza quântica da matéria. Na segunda metade do século XX, os físicos trabalharam a partir desses fundamentos, aplicando as duas novas teorias aos mais variadosdomínios da natureza: do macrocosmo da estrutura do universo ao microcosmo das partículas elementares. ...... A ciência, antes de ser um conjunto de experimentos, medições, matemáticas e deduções rigorosas, constitui-se principalmente de visões. O pensamento científico se nutre da capacidade de “ver” as coisas de modo diferente de como elas eram vistas antes. ROVELLI, Carlo. Sete breves lições de física. Rio de Janeiro: Objetiva, 2015. 18 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Conhecimento Científico Há diversas tentativas de definição de Ciência. Etimologicamente, o vocábulo procede do latim SCIENTIA, “conhecimento”, de SCIRE, “conhecer, saber”, que provavelmente no seu início significava “distinguir, separar coisas” e também de uma raiz Indoeuropeia SKEI, “cortar, separar”. Nos dicionários, dentre outros significados mais gerais, o vocábulo ciência costuma ser designado por um “conjunto organizado de conhecimentos relacionados a uma determinada área do saber, obtidos por meio da observação e método experimental para formulr leis gerais e que expliquem os fenômenos ou fatos estudados” (BECHARA, 2011, p. 414). Para Marconi e Lakatos (2004), a ciência está relacionada a uma sistematização dos conhecimentos, por meio de um conjunto de proposições logicamente relacionadas sobre um fenômeno que se quer estudar. Essas proposições são passíveis de verificação. Pode-se dizer também que existem critérios comuns que compõem a ciência: a confiabilidade do seu corpo de conhecimentos, sua organização e seu método. Embora saibamos que o conceito de ciência ultrapassou a área das chamadas ciências físicas e biológica, incorporando nesse entendimento também as ciências humanas, ainda há grande divergência acerca dos pressupostos apontados acima, principalmente no que diz respeito à área das humanidades. O que não se pode discordar é que o conhecimento científico traz consigo, desde o seu nascimento, nas raízes da modernidade, um novo modo de apreender as coisas, não de maneira ocasional, mas a partir da correlação causa-efeito, buscando a organização de leis explicativas a partir desta correlação. Segundo Ander-Egg (1978, Apud MARCONI; LAKATOS, 2004), a ciência é um tipo de conhecimento racional, certo ou provável, obtido metodicamente, sistemático e verificável, que está relacionado a objetos da mesma natureza. 19 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Complementando, Trujillo (1974, Apud MARCONI; LAKATOS, 2004), sisntetiza as principais características do conhecimento científico: • É contingente – suas proposições são submetidas à verificação por meio da experimentação; • É sistemático – é uma saber logicamente ordenado, formado por um sistema de ideias; • É verificável – suas hipóteses são testadas e comprovadas; • É falível – em virtude de não ser definitivo, absoluto ou final; • É aproximadamente exato – pois está sempre em reformulação. Síntese Após tomarmos contato com os principais tipos de conhecimento apontados por diversos autores, façamos um quadro comparativo das principais características dos principais tipos de conhecimento: CONHECIMENTO POPULAR/EMPÍRICO CONHECIMENTO CIENTÍFICO CONHECIMENTO FILOSÓFICO CONHECIMENTO TEOLÓGICO Valorativo Reflexivo Assistemático Verificável Falível Inexato Real (factual) Contingente Sistemático Verificável Falível Aproximadamente exato Valorativo Racional Sistemático Não verificável Infalível Exato Valorativo Inspiracional Sistemático Não verificável Infalível Exato * MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 2004. 20 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o 1.2.5 Conhecimento Estético/Artístico René Magritte – Les Deux Mystères, 1966. - O que esse quadro de René Magritte representa? - Por que podemos caracterizá-lo como uma obra de arte? - Quais sensações essa obra causa nos que entram em contato com a mesma? - Que relações podemos estabelecer entre tal obra e nossas formas de conhecer o mundo? Para Martins, Picosque e Guerra (1998), a relação que o homem estabelece com a realidade é mediada por diferentes linguagens e sistemas simbólicos. O mundo tem o significado que construímos para ele. A arte é uma forma privilegiada de conhecimento porque prescinde das certezas da ciência. Segundo Aranha e Martins (2002), assim como a ciência e o mito são um tipo de organização da experiência humana, a arte é um caso de entendimento intuitivo do mundo, uma forma de expressão. O conhecimento estético/artístico não tem como objetivo recriar a natureza ou descrevê-la, mas criar símbolos que são as obras de arte, objetos sensíveis, individuais que expressam a vitalidade da relação do homem com o mundo. A arte tem por uma de suas funções o alargamento da experiência humana com a sensível. Em suas diversas manifestações, na pintura, desenho, música, dança, teatro e outras formas de expressão, o conhecimento artístico é uma das formas privilegiadas de contato do homem com o mundo, daí sua entrada na classificação dos tipos de conhecimentos aqui apresentada. 21 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o 1.2.6 Conhecimento Técnico O termo grego tecné corresponde ao nosso saber fazer, o know how. Este tipo de conhecimento requer a intervenção da razão, a qual que estabelece regras de procedimentos para a execução de diferentes atividades ou tarefas. A técnica é o conhecimento do “como” fazer algo e dos meios que podem ser utilizados para a realização de tarefas. Utiliza-se o conhecimento técnico como aplicação de formas e métodos para resolução de problemas, tendo como objetivo o domínio do mundo e da natureza. Por fim, trata-se de um saber que auxilia o homem na sua relação com o mundo, pelo modo como orienta, sistematiza e procedimentaliza os saberes. Frequentemente, o conhecimento técnico está na base da profissionalização. Agora que tomamos contato com os diferentes tipos de conhecimento e concluímos que a coexistência entre os mesmos não se dá de uma forma hierarquizada, embora o pareça, faremos uma breve análise de uma relação por muitas vezes debatida, principalmente no meio educativo: a do conhecimento popular versus conhecimento científico. 1.3 O Conhecimento Científico e sua correlação com o conhecimento popular A admiração é filha da ignorância, porque ninguém se admira senão das coisas que ignora, principalmente se são grandes; e mãe da ciência, porque admirados os homens das coisas que ignoram, inquirem e investigam as causas delas até as alcançarem, e isto é o que se chama ciência. Padre Antônio Vieira 22 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Nos últimos tempos, o conhecimento científico e a ciência começaram a ocupar um patamar na vida da sociedade que nos leva, muitas vezes, à compreensão de que só este tipo de relação com o mundo e com o saber é tido como válido. As imagens sobre a ciência e os cientistas os transformaram em objetos quase divinos e por vezes sacralizados. Alves (2015, p. 10) adverte-nos sobre esse perigo: “o cientista virou um mito. E todo o mito é perigoso, porque induz o comportamento e inibe o pensamento. Esse é um dos resultados engraçados (e trágicos) da ciência”. O propósito dessa seção é, de certa forma, dar a importância devidaao conhecimento científico, mas, ao mesmo tempo dessacralizá-lo. Desde a Antiguidade o homem, em sua relação com o mundo, constrói uma série de conhecimentos que permitem sua sobrevivência e adaptação aos diferentes meios em que vive. Desde um simples processo de plantio e colheita de hortaliças, legumes e tubérculos até um sofisticado procedimento de confecção de alimentos industrializados e sintetizados. Os dois processos convivem até hoje e não são excludentes entre si. Conforme Marconi e Lakatos (2004) o que difere o conhecimento popular do científico não é nem a veracidade, nem a natureza do objeto conhecido. A diferença reside na forma, modo ou método e os instrumentos de conhecer. Isso faz com que cheguemos à seguinte conclusão: • A ciência não é a única forma de conhecimento; • Pode-se analisar um mesmo fenômeno ou objeto sob o ponto de vista do homem “comum” ou da ciência. Tanto o senso comum quanto a ciência buscam a coerência e a objetividade, buscam a ordem. Para Alves (2015), a ciência não é uma forma de conhecimento diferente do senso comum. Fazendo uma analogia com os órgãos do corpo humano, o autor argumenta que a ciência é uma hipertrofia e especialização de um desses órgãos, de uma forma mais sistemática. Ambos (senso comum e ciência) partem de um problema e vão, a partir de sua 23 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o observação e análise, tentar resolvê-lo. O que difere é a forma, o controle e a sistematização dos modos de resolução. O conhecimento popular ou do senso comum talvez seja a primeira forma de conhecimento a ter surgido sobre a face da Terra. Tal forma de conhecimento da realidade é extremamente importante. Sem ele não poderíamos resolver os problemas mais simples do nosso dia-a-dia, pois nos defrontamos diretamente e a todo momento com fenômenos os quais exigem respostas rápidas. Não há, entretanto, nesse tipo de relação com o mundo uma preocupação com o método, com a organização e sistematização do conhecimento, nem com uma formulação teórica generalizante do que ali se apreendeu. Já a ciência se distingue por ser um tipo de conhecimento que se caracteriza como racional, analítico, sistemático, cumulativo, explicativo, preditivo e generalizante. Essa configuração o diferencia do conhecimento popular/empírico e dos demais estudados no presente módulo, mas não lhe assegura o status de “sagrado”, até porque, como já visto anteriormente, ele é falível e está em constante renovação. Um último ponto necessita aqui ser destacado. O “poder” da ciência deve ser objeto de constante vigília do pensamento, pois a mesma pode estar a serviço do homem ou contra o mesmo. Não há, embora muitos o digam, a neutralidade da ciência. Ela está sempre imersa no debate ético e político das sociedades. Todos nós, com lugar especial dado aos cientistas e aos governos, temos responsabilidade pelos rumos que são dados a partir das inúmeras descobertas que nos assolam diuturnamente. Temos que constantemente nos perguntar: o que estamos fazendo de nós e dos outros, como já diria Michel Foucault, importante pensador do século XX. 24 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o 1.4 Considerações finais Chegamos ao fim do Módulo 1, “Introdução à metodologia científica”. Neste segmento iniciamos nossa conversa com questões que perpassarão sua vida enquanto estudante de pós-graduação, das quais destacamos a definição do que é conhecimento, os diferentes tipos de conhecimento e a correlação entre conhecimento popular ou empírico e o conhecimento científico. Esperamos que esse início sirva como plataforma para os módulos posteriores, os quais afunilarão as questões abordadas aqui e desembocarão em orientações para escrita dos trabalhos acadêmicos. Não se esqueçam de aprofundarem seus estudos consultando as referências bibliográficas e a indicação de leitura suplementar. Por fim, lançaremos modos de conversa com todos alunos a partir do nosso fórum e também por meio de algumas questões sobre o tema abordado neste módulo. Até o próximo encontro!! NOTAS EXPLICATIVAS Stephen William Hawking é um físico teórico e cosmólogo britânico e um dos mais consagrados cientistas da atualidade. Atualmente, é diretor de pesquisa do Departamento de Matemática Aplicada e Física Teórica (DAMTP) e fundador do Centro de Cosmologia Teórica (CTC) da Universidade de Cambridge. Publicou diversos livros, dentre eles “Uma breve história do tempo”, best seller internacional que sintetiza suas pesquisas no campo da cosmologia. 1 Proposição que se admite como verdadeira e que serve de fundamento a uma teoria; postulado; princípio ou afirmação sancionada pela experiência e tida pela generalidade das pessoas como clara e evidente. 1 O positivismo é uma corrente filosófica que surgiu na França no começo do século XIX, tendo como principais defensores Augusto Comte e John Stuart Mill. O positivismo defende a ideia de que o conhecimento científico é a única forma de conhecimento verdadeiro e que somente podemos afirmar que uma teoria é válida se for passível de comprovação por meio de métodos científicos válidos. Fonte: http://www.suapesquisa.com/o_que_e/positivismo.htm 25 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o MÓDULO 2 - Metodologias de pesquisa científica Cláudia Ribeiro Calixto Técnicas em Pesquisa e Construção de Textos Científicos. Módulo 2 – Métodos Científicos – Faculdade Campos Elíseos (FCE) – São Paulo – 2016. Guia de Estudos – Módulo 2 – Métodos Científicos. 1. Metodologia 2. Métodos Científicos 3. Orgs.: Adriana Alves Farias e Cláudia Regina Esteves Faculdade Campos Elíseos 26 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Retomando a conversa Caro (a) aluno (a), No primeiro módulo, percorremos as bases epistemológicas do conhecimento – origem, estrutura, métodos e processos de validação do conhecimento. No trajeto, destacamos os diferentes tipos de conhecimentos (popular, teológico, filosófico, científico, estético, técnico). Retomamos nossa jornada de estudos nesse segundo módulo, tematizando uma questão de relevância no trajeto de uma pesquisa: a metodologia de investigação. Aportaremos no tema métodos científicos e nos ateremos ao modo como, sob o paradigma científico, o homem produziu, e vem produzindo, uma forma específica de acesso ao conhecimento, e que prevê procedimentos próprios de acesso à realidade e estabelecimento de conhecimentos – científicos. Disporemos os principais métodos constantes de literatura acadêmica, suas características e o contexto histórico de sua produção. Retomemos, então, nossa jornada de estudos! 27 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o A atividade de investigação no campo de qualquer saber que se intitule científico pressupõe o emprego de um caminho que permita ao pesquisador uma afirmação assertiva acerca de um fenômeno físico, biológico, matemático, químico ou social. Ao final de uma pesquisa afirma-se ou se nega uma resposta a um problema. Essa resposta, sempre provisória, comporá um corpus3 de conhecimento de determinada área de saber. Historicamente constituído, o método científico pressupõe um modo de aproximação e tratamento do objeto de pesquisa que se pretende interrogar. É o que veremos a seguir. 2.1 Conceito de Método Etimologicamente, a palavra método deriva do vocábulo méthodos do latimtardio (meta) e da palavra grega hodós (vida, caminho). Como conceitua Antônio Geraldo da Cunha (2010, p.424) a palavra refere-se à “ordem que se segue na investigação da verdade, no estudo de uma ciência ou para alcançar um fim determinado”. O método científico é, por sua vez, “um conjunto de procedimentos por intermédio dos quais (a) se propõe os problemas científicos e (b) colocam-se à prova as hipóteses científicas” (BUNGE apud LAKATOS e MARCONI, 2004, 33 Do latim cörpus (CUNHA, 2010, p.182), o termo remete à coletânea ou conjunto de documentos, de pesquisas científicas, acerca de determinado tema. Uma prática de pesquisa é um modo de pensar, sentir, desejar, amar, odiar, uma forma de interrogar, de suscitar acontecimentos, de exercitar a capacidade de resistência e de submissão ao controle (CORAZZA, 2002, p.124). 28 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o p.45). Assim, conforme asseveram Eva Maria Lakatos e Marina de Andrade Marconi (ibidem), o método constitui-se das atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo, qual seja, o conhecimento considerado válido e verdadeiro. O método permite traçar um caminho a ser seguido e, por um emprego sistemático de procedimentos, possibilita a detecção de erros e orienta as decisões do pesquisador. Sob a égide desse paradigma epistemológico, o conhecimento científico, para ser validado como tal, deveria ser passado por dados procedimentos (LAKATOS e MARCONI, 2004): • a experimentação, a qual pressupõe a observação, o registro sistemático e experimentos acerca de dado problema de pesquisa; • a formulação de hipóteses, as quais procuraram estabelecer relações de causa e efeito implicados e determinantes no fenômeno estudado; • a repetição, ou seja, um experimento deve obter os mesmos resultados sob condições diferentes de ambiente e sob realização de outros cientistas; • a testagem das hipóteses, por meio da qual busca-se novos dados, elementos, variáveis e evidências que a confirmem; • a formulação de generalizações e leis, fundamentadas nas evidências constadas, generalizando suas explicações para os fenômenos da mesma natureza. A título de localização teórica, façamos um brevíssimo recuo histórico do método científico. Suas disposições originam-se em investigações acerca dos fenômenos físicos e da natureza efetivadas no alvorecer da Modernidade, no século XVII, com destaque às pesquisas e formulações de Galileu Galilei (1564-1642), cuja teoria heliocêntrica, dentre outras, veio a abalar as crenças, a alterar radicalmente percepção do homem sobre o mundo e sobre si mesmo, bem 29 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o como ensejou o desenvolvimento de procedimentos inaugurais de indagação e investigação dos fenômenos e estabelecimento de conhecimentos validados como verdadeiros. A partir desse período da história da humanidade, a ciência ganhou proeminência nas narrativas sobre o mundo e sobre o homem: surge o indivíduo moderno. A partir do século XIX, os métodos de investigação científica são reivindicados às ciências sociais, que almejam o estatuto de saber científico. Assentados em procedimentos originários das chamadas ciências “duras” (física, matemática, astronomia etc.) são migrados para o estudo em diferenciados campos de saber, como a educação e a psicologia, por exemplo. 2.2 Principais Métodos Convém destacarmos, a essa altura de nosso estudo, que a emergência de uma pesquisa provém de uma inquietação com alguma pergunta, com um problema a ser investigado e o trabalho de investigação está crivado de decisões importantes, dentre as quais: O que, por que e para que investigar? Que passos seguir? Em quais fontes pesquisar? Tais perguntas estão impregnadas de implicações ético-políticas e metodológicas, dentre as quais a escolha do método. Hora, pois, de o pesquisador, uma vez definido o objeto, a finalidade e a abordagem teórica que orientará o estudo, debruçar-se sobre o caminho que permitirá a melhor abordagem ao seu problema de pesquisa. Nesse momento, então, nos deparamos com uma questão crucial e importante, a saber: Qual o melhor método para o objeto que se pretende investigar? Todo método está inserido em dada tradição epistemológica, ou seja, ele pressupõe um conjunto de crenças e apostas acerca do conhecimento e das formas de conhecer. 30 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Seguiremos, agora, com uma disposição dos principais métodos de pesquisa científica constantes da literatura acadêmica e que historicamente foram inseridos como procedimentos de investigação dos fenômenos na empreitada do homem na busca pelo conhecimento. 2.2.1 Método Indutivo A melhor prova é a experiência. Francis Bacon No início do século XVII, período da chamada Revolução Científica, sob impacto das pesquisas e formulações acerca do mundo, então desenvolvidas, em especial as teorias de Galileu e Newton, Francis Bacon (1561-1626), cientista e filósofo britânico, estabeleceu um novo sistema de investigação, definindo o método indutivo para conduzir as experiências científicas (BUCKNGHAM, 2011). Lembremos que, até esse momento da história, a visão de mundo vigente na Europa Ocidental era teocêntrica e o conhecimento era efeito de uma revelação externa, a palavra de Deus, não passando pelo crivo das percepções ou da razão humanas. Para Bacon, a boa ciência, o bom conhecimento, deveria gerar uma produção. De orientação utilitária e pragmática, emerge uma percepção de que os frutos da prática científica deveriam produzir efeitos positivos para maioria das pessoas. Tem-se aqui o nascimento da metodologia científica moderna e da tradição da pesquisa científica voltada à intervenção na natureza. O método indutivo firmou-se como procedimento do Empirismo4, sendo que a fonte e a base do conhecimento dar-se-iam pela experiência empírica, ou 4 Trata-se de uma teoria do conhecimento segundo a qual a fonte do conhecimento provém da experiência empírica, ou seja, só é passível de conhecimento aquilo que for passível pela experiência e 31 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o seja, passariam necessariamente pela experiência sensível, em que os sentidos seriam fatores decisivos na apreensão do verdadeiro. Por essa lógica, um fato ou fenômeno só existe e é explicável se percebido pelos sentidos. Aqui, os dados apreendidos da experimentação, da observação, pelos sentidos, seriam sistematizados pela razão, a qual permitiria, então, chegar-se a uma lei geral e ao estabelecimento de relações de causa e efeito. Vejamos alguns exemplos (LAKATOS e MARCONI, 2004, p.53-54): O corvo 1 é negro. O corvo 2 é negro. O corvo 3 é negro. O corvo n é negro. Conclusão: (todo) corvo é negro. Cobre conduz energia. Zinco conduz energia. Cobalto conduz energia. Ora, Cobre, zinco e cobalto são metais. Logo (todo) metal conduz energia O homem Pedro é mortal. O homem José é mortal. O homem João é mortal. Conclusão: (todo) homem é mortal. Como podemos observar no exemplo supracitado, a indução parte de fatos, fenômenos particulares, dados singulares, os quais passam pelo tratamento do método científico, deles infere-se uma verdade geral ou universal. A parte analisada isoladamente não dá conta da explicação de um fenômeno ou categoria, o que não permitiria extrair-lhe, isoladamente, uma lei geral. É a análise de um conjunto de elementosou partes que se poderá chegar a uma generalização e extrair relações causais aos fenômenos analisados. pela sensação (JAPIASSÚ; MARCONDES, 2006).São alinhados a essa doutrina além de Francis Bacon, Locke e Hume. 32 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o No emprego desse método de pesquisa, uma premissa acertada conduzirá a um resultado válido: se uma premissa é verdadeira, a conclusão que se chegará será verdadeira. Na indução, o caminho de raciocínio e de definição do conhecimento vai, pois, do específico ao geral, do particular ao universal, dos indivíduos às espécies, das espécies ao gênero, dos fatos às leis. Ela se realiza em três etapas: • observação dos fenômenos, • estabelecimento da relação entre eles (hipótese) e • generalização dessa relação. Conforme destacam Lakatos e Marconi (2004), a utilização da indução como procedimento implica ao pesquisador, no momento de sua decisão metodológica, o levantamento de pelo menos duas perguntas fundamentais: Síntese O método indutivo vai da análise dos elementos e das partes para alcançar uma lei geral ou universal. Seu procedimento se apoia na experiência e os sentidos desempenham um papel essencial: um fenômeno ou objeto só são apreensíveis à medida que passam pela experiência sensorial. Trata-se da síntese como método. Qual a justificativa para as inferências indutivas? Qual a justificativa para a crença de que o futuro será como o passado? 33 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o 2.2.2 Método Dedutivo É necessário que ao menos uma vez na vida você duvide, tanto quanto possível, de todas as coisas. René Descartes O método dedutivo foi investido pelos pensadores alinhados ao Racionalismo5, dentre os quais seu mais proeminente representante: René Descartes (1596-1650). Em meio à Revolução Científica do século XVII, o filósofo francês deslocou o paradigma do entendimento humano sobre o homem e os objetos, fundando o pensamento moderno, o qual alicerça uma forma de compreender o mundo e a forma de conhecimento por meio da lógica racional. Descartes com sua obra Discurso sobre o método questiona a lógica da indução. Para o filósofo, os sentidos são falhos e podem nos induzir ao erro. Quem garante que o que vejo ou percebo são de fato reais ou são fruto de uma ilusão, de um sonho? – pergunta-se. Nessa linha de raciocínio, Descartes defende a dúvida como método. Uma vez que os sentidos podem induzir ao erro, é necessário pautar-se na razão. Para ele, a radicalidade da dúvida geraria a radicalidade da primeira certeza. Por meio da célebre frase: “Penso, logo existo” (DESCARTES, 2016, 5 Trata-se de uma escola de pensamento que apregoa a supremacia da razão sobre todas as faculdades humanas, bastando o juízo racional para a elaboração de preceitos considerados verdadeiros. A razão constitui o fundamento de todo o conhecimento possível (JAPIASSÚ; MARCONDES, 2006). São filiados a essa doutrina, além de Descartes, Espinoza, Leibniz e Kant. 34 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o p.24). defendeu que a razão é o único meio seguro e infalível de se chegar ao conhecimento verdadeiro. Podemos duvidar de tudo o que existe, mas ao duvidar estamos fazendo uso da razão. No próprio ato de duvidar temos o entendimento que estamos duvidando – e disso não podemos duvidar. Assim, para o filósofo, existem verdades universais que somente podem ser acessadas pelo uso eficiente da razão. Ele desenvolve uma teoria inatista do conhecimento, defendendo que os conhecimentos já existiriam dentro de cada um de nós, e pela razão, e apenas por meio dela, seria possível acessá-lo e produzir, a partir dele, outros conhecimentos. A dedução constitui o cerne do método cartesiano. Trata-se de uma forma de raciocínio por meio da qual se chega a conclusões a partir de uma suposição geral, de um princípio ou de uma proposição; parte-se de verdades estabelecidas para a análise dos fatos e fenômenos particulares, verificando sua adequação à teoria, usando-os para comprová-la. Opera, pois, uma lógica inversa ao indutivo: vai da lei geral para a particular, do todo para a parte, por meio de análise. Vejamos um exemplo (LAKATOS e MARCONI, 2004, p.63): Todo mamífero tem um coração. Ora, todos os cães são mamíferos. Logo, todos os cães têm um coração. Nos argumentos dedutivos pode-se perceber que as informações constantes da conclusão já estavam, ainda que implicitamente, nas premissas (SALMON apud LAKATOS e MARCONI, 2004, p.53-54). Para que a conclusão fosse falsa, bastaria que uma das duas premissas fosse falsa: se nem todos os cães fossem mamíferos, nem todos teriam um coração; se nem todos os mamíferos tivessem um coração, não necessariamente todos os cães teriam um coração. 35 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o O modelo cartesiano acabou por postar uma percepção dicotômica da realidade, separando corpo e alma, sujeito de objeto de conhecimento, instaurando no pensamento moderno a primazia da razão. Síntese O método dedutivo, na lógica inversa do indutivo, vai da lei geral ou universal às partes. Seu procedimento se apoia na razão refutando-se a importância das experiências sensoriais no acesso ao conhecimento. Trata-se de um método analítico. 2.2.3 Método Hipotético-Dedutivo Toda solução para um problema cria novos problemas não solucionados. Karl Popper Do século XVII ao XIX, operou-se com uma ideia de que competiria à ciência provar as verdades sobre o mundo, fosse pela vida da indução, fosse pela via da dedução. Uma boa teoria científica seria capaz de provar conclusivamente ser verdadeira. No século XX, Karl Raimund Pooper (1902- 36 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o 1994) posta uma nova questão ao fazer científico: “o que constitui uma teoria científica é que ela seja capaz de ser falsificada ou demonstrada como errônea pela experiência” (BUCKINGHAM, 2011). O filósofo austríaco defende a ideia de que toda intervenção experimental altera a realidade que havia antes, trazendo novas questões e alterando as condições ou realidade de um fenômeno. Caberia à ciência, e, portanto, ao pesquisador, “descobrir problemas novos, mais profundos e mais gerais e sujeitar suas respostas sempre a testes provisórios, sempre renovados e sempre mais rigorosos (POPPER apud LAKATOS; MARCONI, p. 73) Para Popper, o único método de fato científico seria o hipotético- dedutivo, pois permitiria, por meio de tentativas e erros, demonstrar seu grau de falibilidade e falseamento. Segundo o filósofo, o conhecimento científico opera por indução, ou seja, parte de observações particulares em direção a princípios gerais. Observemos um exemplo: Todo cisne que vejo é branco. Todos os cisnes são brancos. Diferentemente dos racionalistas, para o filósofo, esses princípios não poderiam ser comprovados, mas refutados, pela observação, por exemplo, de um cisne negro (BUCKINGHAM, 2011). Analisa, Popper, que toda pesquisa principia com um “problema para o qual se procura uma solução, por meio de tentativas (conjecturas, hipóteses, teorias) e eliminação de erros” (LAKATOS; MARCONI, 2004, p.73). O papel da metodologia de investigação, nesse sentido, seria de um instrumento de buscaaos problemas e detecção e eliminação de erros. Assim, toda teoria deve passar pelo crivo da falseabilidade de modo a cercear as conclusões de possíveis contradições ou lacunas que induzam ao erro nas conclusivas. Popper destaca a importância da escolha de problemas: “eu tenho tentado desenvolver a tese de que o método científico consiste na escolha de problemas interessantes e na crítica de nossas permanentes tentativas 37 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o experimentais e provisórias de solucioná-los” (POPPER apud LAKATOS; MARCONI, 2004, p.74). O método hipotético-dedutivo prevê as seguintes etapas: ✓ expectativas ou conhecimento prévio ✓ lacuna, contradição ou problema ✓ conjecturas, soluções ou hipóteses ✓ consequências falseáveis, enunciados deduzidos ✓ técnicas de falseabilidade ✓ testagem ✓ análise dos resultados ✓ avaliação das conjecturas, soluções ou hipóteses ✓ rejeição com retorno às hipóteses/ validação das hipóteses – nova teoria ✓ nova lacuna, contradição ou problema desdobrando-se novas pesquisas Síntese O método hipotético-dedutivo prevê um movimento de análise e síntese, que visa, por meio de um procedimento de tentativa e erro, passar o objeto de estudo e o próprio método ao teste de falseamento, como atitude crítica de investigação, refutando o caráter de objetividade geralmente atribuído aos métodos científicos. 38 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o 2.2.4 Método Dialético As ideias dominantes de cada época sempre foram as ideias de sua classe dominante. Karl Marx A dialética moderna tem em Hegel, Marx e Engels seus nomes mais proeminentes e entende a realidade não como um estado de coisas, mas como um processo contínuo de mudança. Essa perspectiva contrapõe a ideia instaurada pelo pensamento cartesiano de separação entre o sujeito e o objeto do conhecimento. Aqui, é o sistema no seu conjunto que importa, mais do que o individual (RUSSEL, 2015). É atribuído a Karl Marx (1818-1883) o termo materialismo histórico o qual prevê a dialética como método. Como afirma Pedro Demo (2005, p.12), “a dialética considera a realidade intrinsecamente contraditória porque sua dinâmica é tipicamente contrária”. Mais do que desvendar o mundo e seu funcionamento, o materialismo dialético propõe uma transformação da realidade: “Os filósofos não fizeram mais do que interpretar o mundo de diversas maneiras; a verdadeira tarefa é transformá-lo” (MARX apud RUSSEL, 2015, p.353). A perspectiva dialética considera que todos os aspectos da realidade, seja da natureza ou da sociedade, prendem-se por laços necessários e recíprocos (ibidem), não podendo ser, portanto, analisados e investigados 39 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o como se determinado evento, fenômeno estivesse apartado do contexto e do ambiente circundante, isoladamente. Vejamos um exemplo (POLITZER et alii apud LAKATOS; MARCONI, 2004): Uma simples mola de metal não pode ser considerada à parte do universo que a rodeia: ela foi produzida pelo homem com material extraído da natureza. Ainda que em repouso, a mola não está independente do ambiente: sobre ela atuam o calor, a oxidação, a gravidade etc. Tais condições podem alterar tanto a posição quanto a natureza da mola (ferrugem). Imaginemos que um pedaço de chumbo seja suspenso na mola: sobre ela será exercida uma força, distendendo-a até seu ponto de resistência. Assim, o peso age sobre a mola que age sobre o peso. Mola e peso formam um todo em que há interação e conexão recíproca. A dialética, como procedimento de investigação científica, propõe como etapas: Análise objetiva e crítica da realidade, para aprofundar o seu conhecimento com vistas à transformação. Reflexão a respeito da relação sujeito e objeto, confrotando as variáveis e sua contradições para chegar a uma síntese, uma vez que nada está isolado, tudo é movimento e mudança, tudo depende de tudo. Assim, constituem seus passos: Elaboração da tese – afirmação inicial Elaboração da antítese – oposição à tese Elaboração da síntese – do conflito resultante da análise da tese e da antítese surge a síntese que, por sua vez, transforma-se em tese pra um 40 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o novo ciclo, com interposição de nova antítese, resultando em nova síntese e assim por diante. Síntese O método dialético considera que a realidade deve ser analisada como um todo de partes interdependentes e interpenetráveis. Traz como etapas a elaboração da tese, da antítese e síntese. 2.2.5 Métodos Específicos das Ciências Sociais São muitas as possibilidades metodológicas e vários são os tipos de pesquisas investidos no campo das ciências sociais. Considerando os métodos mais veiculados na literatura pedagógica, tomaremos por base aqui a compilação feita por Lakatos e Marconi (2004), o que nos possibilitará vislumbrar e inspirar algumas dessas possibilidades a partir do que se tem investido metodologicamente: Método histórico – esse método se ramifica em algumas abordagens, dentre as quais destacaremos duas de maior relevância. a. abordagem histórica clássica – Parte da noção de que as atuais formas organização social, as instituições, os fenômenos sociais do presente, encontram origem no passado. Tal investigação busca o estabelecimento de relações causais ao longo de um período histórico de modo a justificar e explicar a ocorrência do objeto investigado. 41 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o b. abordagem genealógica. Refuta a ideia de origem, para pensar os fenômenos do presente como produções contingenciais. Essa perspectiva investiga as condições de possibilidade em que, em determinada contingência histórica, certo fenômeno, certa forma de pensar, certa prática ou organização social se instituiu. Tal proposta almeja evidenciar o caráter arbitrário, não natural das produções sociais humanas, desnaturalizando sua ocorrência. Método comparativo – considera-se aqui que o estudo das semelhanças e diferenças entre diversos tipos de grupos, sociedades ou povos contribui para uma melhor compreensão do comportamento humano, desdobrando-se uma explicação dos fenômenos, pela dedução dos elementos constantes, abstratos, gerais. Método monográfico – consiste no estudo de determinados indivíduos, instituições, grupos, com objetivo de extrair generalizações. Método estatístico – consiste na redução de fenômenos sociológicos, políticos, econômicos, educacionais etc. a termos quantitativos. Pelo manejo dos dados estatísticos estabelece-se e busca-se a comprovação de relações dos fenômenos entre si e a obtenção de generalizações sobre sua natureza, ocorrência ou significado. Método tipológico – esse procedimento metodológico foi o empregado pelo sociólogo Max Weber (1864-1920). Por meio da classificação e comparação de fenômenos, organizações etc. extrai-se uma tipologia qualitativa, criando-se tipos ou modelos ideais a partir dos aspectos do fenômeno considerados essenciais pela análise do pesquisador. Método funcionalista – trata-se mais de um método de interpretação. Toma-se o objeto de estudo a partir da função de suas unidades, considerando-se o fenômeno como parte de um sistema organizado de atividades. 42 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Método estruturalista – Inaugurado por Lévi-Strauss, parte deum fenômeno concreto para alcançar um nível abstrato, por meio da produção de um modelo que represente o objeto do estudo, retornando, ao final, ao concreto, tomando-se então como uma realidade estruturada e relacionada com a experiência do sujeito social. Para finalizar o módulo, cabe-nos citar uma importante reflexão de Gaston Bachelard (1884- 1962) acerca do método: A aplicação de um bom método de pesquisa é, no início, sempre fecunda. (...) Cada método é destinado a cair em desuso e a caducar. a metodologia científica é obrigada a seguir a ciência em sua evolução e seus progressos. Cristalizar a metodologia numa forma fixa equivale a comprometer o futuro e a paralisar o espírito de iniciativa (2004, p.65). Acompanhando essa reflexão do filósofo e poeta francês, destacamos que a metodologia constitui um caminho. O que definirá esse caminho é uma inquietação daquele que pesquisa, o objeto e a abordagem teórica que irá eleger. Aqui, advertências são cabíveis quanto aos cuidados e a responsabilidade daquele que pesquisa: é preciso ter em mente que, como mencionado no módulo 1, a ciência não é neutra – seus resultados produzem efeitos. 43 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Síntese Conforme anunciamos no início do módulo, a questão do método num processo investigativo é fundamental e sua escolha não deve ser aleatória. Um método se coloca a serviço de uma pergunta, de um objeto de investigação – nem todos os caminhos levam a Roma! Considerações Finais No módulo 2, “Métodos Científicos”, percorremos os principais métodos de pesquisa científica e destacamos suas características e caminhos, situando, ainda e brevemente, a contextualização histórica de seus surgimentos. Vimos que duas formas de raciocínio originaram dois métodos de investigação científica já no início da Modernidade: o indutivo (que vai do particular ao geral – síntese) e o dedutivo (que parte da lei geral para a parte – análise). Ambos preconizavam, ainda que por via inversa, o estabelecimento de leis gerais, de verdades universais. Vimos, ainda, o método hipotético-dedutivo e o dialético, e, ao final, alguns métodos específicos das ciências sociais, dentre os quais o método histórico, o tipológico, funcionalista e o estruturalista. Esperamos que esse breve percurso lhe tenha ajudado a identificar os pressupostos de uma metodologia científica e a vislumbrar possibilidades metodológicas em seu caminho de pesquisa. 44 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Advertimos que nenhum método está isento de críticas ou de ser posto à prova a qualquer momento, bem como o resultado de uma pesquisa qualquer. A pesquisa é uma aventura do pensamento e seus caminhos são traçados tendo em vista um problema que se mira enfrentar com as ferramentas metodológicas e teóricas e que possam colocar em xeque primados anteriormente estabelecidos ou lançar novas perguntas para o próprio objeto de pesquisa. Na sequência adentraremos a normatização e aspectos formais da escrita acadêmica – o jogo da pesquisa e suas regras. Por ora, dê prosseguimento a seus estudos no tema do módulo pela indicação de leitura suplementar e consulte a indicação bibliográfica. Não se esqueça de participar do fórum de debate e responder as questões ao final. Até o próximo!! 45 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Módulo 3 – A ORGANIZAÇÃO DOS ESTUDOS NA UNIVERSIDADE Patrícia Helena Ferreira Técnicas em Pesquisa e Construção de Textos Científicos. Módulo 3 – A organização dos estudos na Universidade - Faculdade Campos Elíseos (FCE) – São Paulo – 2016. Guia de Estudos – Módulo 3 – A organização dos estudos na Universidade. 1. Universidade 2. Documentação 3. Metodologia da Pesquisa Orgs.: Adriana Alves Farias e Cláudia Regina Esteves Faculdade Campos Elíseos 46 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Conversa Inicial Caro(a) aluno(a), Chegamos ao terceiro módulo da Disciplina Técnicas em Pesquisa e Construção de Textos Científicos. Neste módulo, “A organização dos estudos na Universidade”, discutiremos sobre o papel das universidades na formação do indivíduo, fazendo um breve recuo na história das universidades. Após essa breve introdução adentraremos na discussão dos principais instrumentos de estudo que o aluno deve se valer na sua passagem acadêmica. Destacaremos a importância da documentação como método de estudo pessoal, enfatizando a documentação temática, a documentação bibliográfica e a documentação geral. Por fim, conheceremos algumas diretrizes para leitura, análise e estudo de textos na universidade, a partir da contribuição de pesquisadores como Severino e Marconi e Lakatos, dando ênfase às análises textual, temática e interpretativa, para podermos chegar à problematização dos textos estudados. Desejamos ótimos encontros nesse percurso! 47 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o 3.1 A Universidade e seus instrumentos de trabalho Para início de conversa.... A universidade existe para produzir conhecimento, gerar pensamento crítico, organizar e articular os saberes, formar cidadãos, profissionais e lideranças intelectuais. O desempenho dessas nobres e decisivas funções, porém, não é algo que se resolva no plano abstrato. Do mesmo modo que as demais instituições, a universidade está sempre historicamente determinada. Pode funcionar bem ou mal, cumprir com maior ou menor efetividade suas atribuições, ser mais ou menos admirada e respeitada. Ela não é perfeita nem inquestionável. Não está acima da sociedade nem desconectada dela. As próprias circunstâncias internas da instituição - seu corpo docente, sua estrutura administrativa, seus dirigentes, estatutos e tradições - incidem sobre sua imagem e seu desempenho. Em certa medida, cada época, cada sociedade e cada Estado têm a universidade que podem ter, por mais que a instituição universitária, por sua própria natureza, tenha luz própria e possa, justamente por isso, operar com alguma liberdade em relação às circunstâncias histórico-sociais que lhe estão na base. Não se trata de dependência ou limitação, mas de determinação. Marco Aurélio Nogueira 48 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o No Brasil do século XXI assistimos à expansão do ensino superior. Essa expansão, em dados numéricos, superou em muito qualquer outro índice já atingido anteriormente. Se tal expansão, em termos quantitativos, pode representar um aumento do nível de escolaridade da população, em termos qualitativos, traz em seu bojo a discussão da função da universidade e o papel do estudante do ensino superior. Nossa intenção, no presente módulo, não é fazermos uma discussão das atuais condições da universidade na sociedade atual, mas sim, ao nos depararmos com a especificidade de tal instituição, oferecermos alguns instrumentos importantes para o prosseguimento na vida acadêmica. Para tal, iniciaremos com uma rápida abordagem histórica do ensino Universitário. A palavra universidade origina-se do latim Universitas. Ela está relacionada à própria noção de universalidade, companhia, corporação, colégio, associação. Historicamente, o vocábulo advém do século XIV, porém a ideia de Universidadeaparece desde o século IV A.C., na Grécia, por meio da Academia de Platão, a qual buscava o conhecimento e a especulação desinteressada e indagadora (SILVA; DAVEL, 2005). Na Idade Média a universidade desenvolveu muitas de suas características que prevalecem até hoje: um nome e uma localização central, mestres com nível de autonomia, estudantes, sistema baseado em aulas, procedimentos avaliativos e até uma estrutura administrativa com suas faculdades. Não podemos nos esquecer, porém, que em tal momento esses espaços tinham natureza confessional e voltavam-se a atender as necessidades do feudalismo (BARROS; LEHFELD, 2000). Mais tarde, com o Renascimento científico e cultural, as universidades desviam do seu foco o ensino confessional e começam a ser guiadas pela pesquisa empírica. 49 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Com a implementação da pesquisa ou da investigação científica na França, Inglaterra, Alemanha, as universidades vão se reestruturando através de respostas substanciais às reformas solicitadas para o desenvolvimento, ora mais utilitário, através do paradigma epistemológico da racionalidade e do experimentalismo, ora voltado para o conhecimento das questões socioeconômicas da sociedade, como forma de superação de seus problemas (BARROS; LEHFELD, 2000, p. 8). No Brasil, as primeiras instituições de ensino superior foram criadas a partir da vinda da família real portuguesa e sua corte, no início do século XIX. A expansão das Universidades deu-se, porém, a partir da segunda metade do século XX, culminando com a publicação da Lei 5.540, de 28 de novembro de 1968, a qual fixava normas de organização e funcionamento do ensino superior e sua articulação com a escola média. Tal lei conferiu ao ensino superior no Brasil uma organicidade nunca vista anteriormente. A lei da reforma universitária, como tal dispositivo foi chamado, foi modificada quando da promulgação da atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. A Lei Federal número 9.394, de 20 de dezembro de 1996, destaca, dentre as principais finalidades do ensino superior, as que seguem abaixo: I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo; II - formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua; III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive; IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação; V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar a correspondente concretização, 50 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada geração; VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade; VII - promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição. VIII - atuar em favor da universalização e do aprimoramento da educação básica, mediante a formação e a capacitação de profissionais, a realização de pesquisas pedagógicas e o desenvolvimento de atividades de extensão que aproximem os dois níveis escolares (BRASIL, 1996). Se nos voltarmos à ideia de ensino superior como um espaço de estudo, criação expansão do ensino científico, tal fórum deve estar alicerçado no exercício de pensamento crítico e endereçado à pesquisa como um todo. Para tal, exige do aluno mudança na sua postura de estudante, baseada principalmente numa “maior autonomia para efetivação da aprendizagem, maior independência em relação aos subsídios da estrutura do ensino e dos recursos institucionais” (SEVERINO, 2002, p.23). O aluno deverá, então, tomado de tal espírito, utilizar-se de diversos instrumentos de trabalho com o fim de organizar sua vida de estudos. Antes de adentrar às atividades práticas, de laboratório ou de campo, é necessário que o aluno obtenha embasamento teórico da área de estudo que escolheu para sua formação. Tal embasamento não poderá ser feito somente nas aulas presenciais, nem também com a simples leitura das apostilas da Educação à Distância – EAD. Segundo Antônio Joaquim Severino (2002) os instrumentos de trabalho na universidade são principalmente bibliográficos, podendo ser destacados: 51 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o • Obras de referência geral – textos básicos para estudo de sua área específica: um dicionário da área, um texto introdutório à área, algum texto de história da área, um tratado mais amplo, revistas especializadas • e até mesmo algumas monografias. Tais textos têm a função de iniciar o aluno no estudo de sua área, fornecer um vocabulário básico e os principais conceitos da área, além de complementar as aulas presenciais; • Textos especializados – à medida que o aluno adquire o conhecimento básico da sua área, buscará textos mais específicos, estudos monográficos e continuará buscando informações nas revistas especializadas. As revistas publicam as pesquisas recentes da área e tornam públicos os repertórios bibliográficos da sua ciência e das ciências afins; • Participação em simpósios, congressos, seminários – tais eventos são espaços de socialização das pesquisas da área e são fonte de material para publicação das revistas e periódicos especializados. O aluno pode inicialmente participar como ouvinte e posteriormente já iniciar a publicização de sua pesquisa. • Recursos tecnológicos gerados pela tecnologia educacional – as próprias revistas e periódicos estão, em sua grande maioria, disponibilizados em meio digital, o que facilita a consulta do aluno. Existem alguns sites que reúnem publicações importantes decorrentes das pesquisas acadêmicas, dentre os quais podemos citar: I. Scielo – Scientific Eletronic Library Online: Coleção de revistas e artigos científicos. Possui uma grande variedade de temas relacionados à filosofia, com artigos completos disponíveis para download. www.scielo.org/ II. Portal de Periódicos da CAPES: oferece acesso aos textos completos de artigos selecionados de mais de 21.500 revistas internacionais, nacionais e estrangeiras. www.periodicos.capes.gov.br/ 52 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Síntese 3.2 A documentação como método de estudo pessoal O vocábulo universidade provém do latim universitas e, atualmente, podemos relacioná-lo a uma associação de docentes e alunos que objetiva fomentar o ensino, a pesquisa e a formação profissional. No ensino superior o aluno deve munir-se de vários instrumentos para se apropriar da metodologia de trabalho própria dessa etapa da educação, dentre eles: obras de referência geral, revistas especializadas, periódicos, participação em congressos e outros eventos e sites especializados da internet. Sou um visual. O que na memória trago, trago-o visualmente, se susceptível é de assim sertrazido. Mesmo ao querer evocar em mim uma qualquer voz, um perfume qualquer, não evito que antes que ela ou ele me vislumbre no horizonte do espírito, me apareça à visão rememorativa a pessoa que fala, a coisa donde o perfume partiu. Não dou isto por absolutamente certo; pode ser que, radicada em mim de vez a persuasão de que sou um visual, no lugar final do sofisma que é a escuridão íntima do ser me fosse desde então impossível evitar que a ideia de que sou um visual não levantasse imediatamente uma imagem falsamente inspiradora. Seja como for, o menos que sou, é um visual predominantemente. Vejo, e vendo, vivo. Fernando Pessoa 53 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Após qualquer atividade de aula ou de leitura de material bibliográfico é necessário que o aluno do ensino superior passe a uma fase muito importante da vida acadêmica: a documentação. Muitos se perguntam sobre a necessidade de documentar o processo de estudos, que vai desde a simples documentação das aulas até a sistematização de livros, artigos e outros textos referentes às disciplinas que fazem parte do currículo da área. O processo de documentar reúne fontes de informação diversas, anotações pessoais e registros impressos e digitais que podem contribuir para o aprimoramento da vida acadêmica. O processo de produzir fichas, anotações, resumos, em diversos meios (fichas de cartolina, folhas organizadas em pastas, arquivos virtuais etc) contribui para aprimorar a disciplina de estudos e formar um arquivo intelectual precioso para vida estudantil. Não se trata de decorar, memorizar e sim de proceder a um processo de estudos que leve o aluno ao exercício da reflexão e pesquisa, por meio da análise, comparação e exercício da escrita sistemática de anotações. A memória visual, tal como descrita por Fernando Pessoa, ajuda o estudante/pesquisador Vale lembrarmos que estudar, na universidade é um ato “consciente e volitivo determinado” (BARROS; LEHFELD, 2000, p. 16). Há, nesse processo, uma passagem gradativa de conceitos frouxos para um quadro de elaboração e de formulação de juízos sistematizados, que auxilia o aluno na construção da sua vida acadêmica e nos seus encaminhamentos profissionais posteriores. Antônio Joaquim Severino nos lembra que o ato de sistematizar nossos estudos envolve alguns passos importantes, como a própria participação em aula e o estudo em casa (o qual envolve a reorganização da matéria estudada e a elaboração de fichamentos, relatórios e exercícios). Abaixo o fluxograma da vida de estudos indicado pelo autor: 54 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o (SEVERINO, 2002, p. 31) Diante do fluxograma descrito acima, o qual envolve várias fases do processo de estudo e da nossa vida enquanto estudantes de graduação/pós-graduação, podemos nos fazer algumas perguntas: - Quais foram as suas decisões, tomadas em prol de um ato de estudar voltado para a efetiva aprendizagem? - Quais elementos contribuíram para uma melhor organização de estudos? - Como sua rotina de estudos está organizada? Tal rotina inclui momentos para a documentação das aulas e das fontes bibliográficas? Se a resposta à terceira questão não inclui momentos para documentação do material de aula e do acervo bibliográfico, a primeira recomendação é que se dê, de imiediato, o início de tal procedimento. O fichamento, técnica que se iniciou com a prática de registros em fichas de cartolina e evoluiu até os mais sofisticados meios digitais, é uma ferramenta muito importante para todo aluno e pesquisador. Tal documento condensa informações do autor, indicações bibliográficas, citações diretas e indiretas, além de comentários pessoais que facilitam a organização pessoal e o encadeamento de ideias. Há várias formas de documentar, de acordo com regras estabelecidas por cada autor. 55 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Escolhemos apresentar neste material os tipos de documentação apresentados por Antônio Joaquim Severino, em seu livro Metodologia do Trabalho Científico (SEVERINO, 2002): 3.2.1 A documentação temática: o encontro com o pano de fundo Tal como próprio nome já designa, a documentação temática tem como objetivo reunir elementos importantes para o estudo em geral ou para a realização de um trabalho sob um tema específico da área de trabalho escolhida pelo estudante. Os temas podem ainda ser divididos em subtemas, conforme a complexificação ou extensão do mesmo. Toda reunião de material deve ser feita a partir desse tema e as fontes podem ser diversas: informações das aulas, artigos científicos, livros, periódicos, dicionários, participação em congressos etc. Exemplo de ficha de documentação temática SOCIOLOGIA Conceituação Segundo o dicionário eletrônico Aurélio, a sociologia é o “estudo científico das sociedades humanas e dos fatos sociais”. https://dicionariodoaurelio.com/sociologia Para Durkheim, “ela [a Sociologia] tem um objeto claramente definido e um método para estudá-lo. O objeto são os fatos sociais; o método e a observação e a experimentação indireta, em outros termos, o método comparativo. O que falta atualmente é traçar os quadros gerais da ciência e assinalar suas divisões essenciais. (...) Uma ciência não se constitui verdadeiramente senão quando é dividida e subdividida, quando compreende um certo número de problemas diferentes e solidários entre si” “ DURKHEIM, 1953, p. 100 “Weber compreendeu a possibilidade de uma sociologia que, mediante rigorosos estudos históricos e comparativos, lograsse separar as fronteiras entre as situações históricas e fenômenos específicos, e por meio da identificação das forças causais relevantes extraísse conclusões sobre as circunstâncias em que ocorre a mudança social, o desenvolvimento da ação orientada a valores e a formação do sentido subjetivo” KALBERG, 2010, p. 27 Dentre os vários ramos da sociologia podemos destacar a sociologia da religião, a sociologia da educação, a sociologia do trabalho e a sociologia do direito (anotações em classe). 56 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o 3.2.2 A documentação bibliográfica: o encontro com o arquivo De posse das informações sobre o tema a ser estudado, há a necessidade de complementação do estudo da questão, explorando referências bibliográficas que aprofundem o tratamento do tema. É o momento de recorrer aos livros, aos artigos e às monografias que discorrem sobre o tema. Para Severino (2002) a documentação bibliográfica deve ser feita paulatinamente e iniciar com uma leitura um pouco mais superficial do texto (sumário, orelhas, introdução, prefácio, considerações finais). Cabe também procurar em revistas especializadas as resenhas e resumos sobre o livro. Após esse primeiro contato, caberá uma leitura mais aprofundada do texto. Cabe ainda lembrar que não é necessário complementar as informações da ficha bibliográfica de uma só vez, podendo ser acrescentados elementos à medida que novas leituras forem feitas e novas informações forem apreendidas. Para facilitar a visualização é necessário que sigamos alguns procedimentos de organização, como, por exemplo, definir no alto, à esquerda, a citação bibliográfica completa do texto e à direita o tema e eventuais subtítulos. Com intuito de exemplificar tal tipo de documentação apresentaremos um tipo possível de ficha bibliográfica. 57 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c oExemplo de Ficha de Documentação Bibliográfica SOCIOLOGIA DURKHEIM, Emile. As regras do Método Sociológico São Paulo, Martins Fontes, 3. Ed., 2007, 165 p. O livro, publicado inicialmente em 1895, teve duas novas edições com algumas alterações. A estrutura do livro está assim delineada: Prefácio Introdução I. O que é um fato social? II. Regras relativas à observação dos fatos sociais III. Regras relativas à distinção entre normal e patológico IV. Regras relativas à constituição dos tipos sociais V. Regras relativas à explicação dos fatos sociais VI. Regras relativas à administração da prova Conclusão Notas “O objetivo de Durkheim é demonstrar que pode e deve existir uma sociologia objetiva e científica, tendo por objeto o fato social. Para que haja tal sociologia, duas coisas são necessárias: que seu objeto seja específico, distinguindo-se do objeto das outras ciências, e que possa ser observado e explicado de modo semelhante ao que acontece com os fatos observados pelas outras ciências. Esta dupla exigência leva às duas fórmulas que servem de fundamento para a metodologia de Durkheim: é preciso considerar os fatos sociais como coisas; a característica do fato social é que ele exerce uma coerção sobre os indivíduos” http://resumodaobra.com/raymond-aron-emile-durkheim-geracao-passagem-seculo- regras-metodo-sociologico/ 58 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o 3.2.3 A documentação geral: o encontro com a memória A documentação geral, segundo Severino (2002) é aquela que provém de fontes perecíveis (recortes de jornais, cópias de revistas, apostilas, documentos pessoais etc) cuja fonte não foi meio de digitalização à época. Os documentos acima descritos podem ser arquivados em pastas e até mesmos digitalizados, formando um material que poderá ser utilizado pelo estudante à medida que as questões de sua pesquisa forem surgindo, sendo importante fonte de dados para a mesma. Exemplos de Documentação geral Jornal Correio de São Paulo, 16 de junho de 1932. http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2012/09/jornais-e-revistas-antigos-sao- digitalizados-pela-biblioteca-nacional Carta do Beatle, Paul McCartner, escrita em 1962. http://www.thebeatles.com.br/new/carta-de-paul-mccartney-foi-vendida-por-97-mil/ 59 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Síntese 3.3 Diretrizes para leitura, estudo, análise e interpretação de textos O processo de documentar reúne fontes de informação diversas, anotações pessoais e registros impressos e digitais que podem contribuir para o aprimoramento da vida acadêmica, para a disciplina de estudos e para formar um arquivo intelectual precioso para vida estudantil. Dentre os vários tipos de documentação podemos citar a classificação de Antônio Joaquim Severino, a saber: a documentação temática, a documentação bibliográfica e a documentação geral. Estudar seriamente um texto é estudar o estudo de quem, estudando, o escreveu. É perceber o condicionamento histórico-sociológico do conhecimento. É buscar as relações entre o conteúdo em estudo e outras dimensões do conhecimento. Estudar é uma forma de uma forma de reinventar, de recriar, de reescrever – tarefa de sujeito e não de objeto. Desta maneira, não é possível a quem estuda, numa tal perspectiva, alienar-se ao texto, renunciando assim à sua atitude crítica em face dele. Paulo Freire 60 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Paulo Freire, importante educador brasileiro, em seus vários escritos, denunciava a importância dos atos de ler e de estudar como correlatos de um processo de formação de um indivíduo crítico e reflexivo. Não podemos deixar de considerar, então, na especificidade da disciplina Metodologia Científica, algumas questões acerca do ler e do estudar, coadunadas com o objetivo de inserir o aluno no domínio da pesquisa e da ciência. De acordo com Barros e Lehfeld (2000) o estudo pós-aula é benéfico porque pode levar o aluno a compreender detalhes da mesma, memorizar conceitos imprescindíveis à disciplina, complementar o conteúdo das aulas com leituras afins, conhecer novas terminologias e o vocabulário afeito à disciplina e proceder a análises gerais e temáticas a partir dos estudos feitos. O estudo está intimamente relacionado à leitura. A leitura é a porta de entrada para o estudo. O ato de ler envolve conhecimento, interpretação e escolhas e constitui-se como “um dos fatores decisivos do estudo e imprescindível em qualquer tipo de investigação científica. Favorece a obtenção de informações já existentes, poupando o trabalho da pesquisa de campo ou experimental” (MARCONI; LAKATOS, 2001, p. 15). Para as referidas autoras há três espécies de leitura, segundo suas finalidades: a. A leitura de Entretenimento ou Distração – sem nenhuma destinação de sistematização, a não ser o próprio prazer do ato de ler; b. A leitura de Cultura Geral ou Informativa – tem como objetivo fazer uma apreensão mais panorâmica do mundo, mas sem grandes aprofundamentos; c. A leitura de Aproveitamento ou Formativa – é aquela que se destina a aprofundar determinada questão e vai exigir do leitor concentração e atenção. Este tipo de leitura é o que será base para construção de análises dos textos dos cursos de graduação e pós-graduação. 61 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Antes de procedermos à leitura e estudo de qualquer obra é necessário que façamos a identificação da mesma, a qual consiste na leitura básica do título, da data de publicação (incluindo suas edições e reimpressões), da ficha catalográfica (a qual reúne as informações básicas do livro e do autor), da orelha e da contracapa (para que possamos ter uma primeira apreciação da obra), do índice ou sumário, da introdução ou prefácio e da bibliografia. Este contato inicial nos apresenta a obra e seu contexto geral. Faz-se necessário, posteriormente, no caso de uma leitura formativa, procedermos a uma delimitação da unidade de leitura, ou setor de determinado texto escolhido para leitura que configure uma totalidade de sentido (SEVERINO, 2002). Ao término de cada unidade o leitor terá a possibilidade de retomá-la e fazer as considerações gerais e específicas. Não é recomendável a leitura de um livro inteiro sem delimitar os tópicos principais, pois a leitura por etapas é muito mais proveitosa. Por fim, não podemos deixar de considerar que toda leitura envolve três elementos: o emissor (aquele que escreve, emite a mensagem), a mensagem (o texto em si) e o receptor (o leitor, o qual terá a tarefa de ler, decodificar e compreender a mensagem). Complementando, podemos falar ainda do código, ou linguagem e dos canais de comunicação. Neste processo há a interferência de vários fatores que poderão contribuir para facilitação ou dificultação do entendimento da mensagem, fatores esses que podem estar localizados no próprio emissor e no seu processo de construção da mensagem, quanto no receptor e seu contexto sociocultural. Tal advertência reafirma a necessidade de organização de procedimentos básicos de análise com objetivo de evitar distorções e garantir maior objetividade à leitura e à análise. 62 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o O Processo de Comunicação: Fonte: https://sites.google.com/site/revolucaodosmeiosdecomunicacao/o-processo-de- comunicacao 3.3.1 Análise textual A análise textual é, segundoSeverino (2002), a primeira abordagem do texto com vistas à preparação da leitura. No início, faz-se uma leitura “seguida e completa da unidade do texto em estudo” (SEVERINO, 2002, p.51). Essa leitura não tem como objetivo esgotar toda análise do texto, mas sim ter uma visão panorâmica do mesmo. Neste momento deverão ser feitos alguns esclarecimentos em relação: a. Ao autor – resumo de sua vida, obra e pensamento, detendo-se mais ao último; b. Ao vocabulário – iniciar um levantamento dos conceitos fundamentais do texto e fazer uma sistematização dos mesmos; c. Aos fatos históricos, doutrinas e outros autores – realizar pesquisa sobre todos esses itens, de modo a clarificar a compreensão do texto. 63 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o A análise textual tem vital importância para se ter um conhecimento amplo e prévio do texto e pode ser encerrada com a elaboração de um esquema do mesmo. O esquema permite uma visualização global do texto e ainda é uma tentativa de sistematização mais simplificada do mesmo. Ele pode ser dividido em três momentos: introdução, desenvolvimento e conclusão. Segundo Barros e Lehfeld, o esquema pode “ser expresso através de ideias centrais do texto; é a representação gráfica do que se leu” (2000, p. 22). Ainda, possui como características a fidelidade ao texto original, a estrutura lógica e a flexibilidade e funcionalidade. Exemplo de esquema: Adaptado de http://slideplayer.com.br/slide/2900259/ 3.3.2 Análise temática Nesta fase o leitor passará à compreensão da mensagem do autor, sem intervir no conteúdo da sua mensagem. Para isso, o estudante ficará atento aos seguintes tópicos: A ciberdependência I – Introdução: 1. Tema: a ciberdependência; 2. Uma realidade social que pode tornar-se preocupante. II – Desenvolvimento: 1. Comparação do uso da web a uma doença ou vício; 2. Público mais influenciável; 3. Aspectos positivos e negativos do uso da web. III – Conclusão: 1. Retomada do Tema; 2. Considerações acerca da importância da leitura. 64 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o a. O tema – o qual não está expresso necessariamente no título da obra. É preciso ir mais além para inferir sobre o tema do texto, tentando captar as diversas relações que o autor faz entre os diferentes elementos; b. A problematização do tema – qual foi a questão que provocou o autor? Como o assunto foi problematizado?; c. A tese – qual é a ideia central que o autor quis defender com a escrita do texto? Essa tese pode ser apresentada logo no início do texto ou pode estar diluída nos capítulos/incisos. É importante notar, neste momento, o raciocínio do autor no desenvolvimento do problema; d. As ideias secundárias – que podem ser consideradas subtemas ou subteses do texto. Isso ocorre em textos mais longos. A análise temática dá condições para que o aluno realize o resumo ou a síntese do texto. Este resumo deverá demonstrar como foi a construção do raciocínio do autor na elaboração do texto. Para Barros e Lehfeld (2000), o resumo é a condensação das ideias principais do texto, com coerência à mensagem do autor. O resumo compõe-se das seguintes fases: ▪ Leitura atenta do texto; ▪ Levantamento da ideia-chave de cada parágrafo; ▪ Ordenação das ideias dos parágrafos em geral, num encadeamento lógico; ▪ Escrita da síntese em que conte as ideias principais do texto; ▪ Retomada da escrita, para confronto com as ideias do autor; ▪ Escrita final, respeitando as ideias do autor, mas utilizando de linguagem própria. Por fim, a análise temática permite a elaboração de roteiros de leitura e de organogramas (descrição geometrizada do raciocínio). 65 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Exemplo de uma possível formatação para um organograma Fonte: http://www.miniwebcursos.com.br/curso_aprender/modulos/aula_3/sintetizar.html 3.3.3 Análise interpretativa A interpretação é a fase que decorre das duas primeiras análises, pois, neste momento, após a compreensão das ideias do autor, o estudante toma uma posição pessoal a respeito do texto e inicia um diálogo com o mesmo. Neste momento devem ser observadas algumas etapas (SEVERINO, 2002): a. Delimitação do pensamento desenvolvido pelo autor; b. Delimitação do pensamento do autor no contexto mais amplo da cultura epistêmica geral – quais são suas posições diante das várias orientações existentes; c. Delimitação dos pressupostos do texto – princípios que justificam a posição assumida pelo autor; d. Aproximação e associação das ideias expostas no texto com outras ideias semelhantes; e. Crítica – formulação de um juízo crítico, ou seja, de uma tomada de posição. Dessa forma, o texto pode ser analisado: 66 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o I. Do ponto de vista da sua coerência interna; II. Do ponto de vista da sua originalidade, alcance, validade e contribuição 3.3.4 Problematização A problematização tem por objetivo o levantamento de problemas para discussão, a qual pode ser feita individualmente ou em grupo. A mesma pode ser feita nos mesmos níveis citados anteriormente: ▪ A problematização textual; ▪ A problematização temática; ▪ A problematização interpretativa; É importante distinguirmos essa fase de problematização do texto, a qual será feita pelo leitor, a partir da análise sistemática do mesmo, da análise do problema do texto (estabelecido pelo autor), feita na análise temática. A problematização aqui aludida diz respeito às questões gerais que o texto gerou nos leitores, isto é, é a crítica fundamentada do leitor para com os argumentos do autor. 3.3.5 Síntese pessoal A síntese pessoal é a finalização de todo processo de análise textual. É o momento em que o aluno elabora uma redação final que dê conta de todas as análises feitas até então. Segundo Marconi e Lakatos (2001, p. 29), a síntese é uma operação mental que “permite conhecer as relações determinantes da unidade do objeto em estudo, dando-lhe um sentido global”. 67 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Síntese 3.4 Considerações finais Chegamos ao fim do Módulo 3, “A organização dos estudos na Universidade”. Neste segmento aprofundamos nossa conversa dos módulos anteriores, trazendo à baila a questão do papel da universidade e da importância do estudo como balizador da vida acadêmica. Neste módulo também conhecemos algumas formas de documentar e de proceder à análise de textos acadêmicos. Lembramos que a consulta às referências bibliográficas e as indicações de leitura complementam toda discussão aqui apresentadas. Por fim, para socializarmos algumas ideias e partilharmos dúvidas e inquietações conversaremos por meio do nosso fórum e lançaremos algumas questões para verificação da sua aprendizagem. Fique ligado!!! Analisar significa estudar, decompor, dissecar, interpretar e criticar. Consiste no estudo extenso de uma obra ou de parte dela, para tentar captar o todo e suas partes constitutivas. O seu fim conduz a uma visão crítica e coerente das ideias do autor e num exercício de síntese e disciplina intelectual do leitor. Para Severino (2000) existe a possibilidade de fazermos uma análise de uma obra sob os pontos de vista: textual, temático e interpretativo. Ainda, é necessário proceder à problematização e à síntese pessoal. 68 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã od e T e x to C ie n tí fi c o MÓDULO 4 - Redação e apresentação do trabalho científico Cláudia Ribeiro Calixto Técnicas em Pesquisa e Construção de Textos Científicos. Módulo 4 – A Pesquisa Científica – Faculdade Campos Elíseos (FCE) – São Paulo – 2016. Guia de Estudos – Módulo 4 – A Pesquisa Científica. 1. Metodologia. 2. Métodos Científicos. 3. Pesquisa. Orgs.: Adriana Alves Farias e Cláudia Regina Esteves Faculdade Campos Elíseos 69 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Retomando a conversa Caro (a) aluno (a), Nos módulos anteriores vimos os tipos de conhecimentos, métodos científicos de investigação, técnicas de pesquisa e construção de textos científicos. A essa altura do nosso estudo, nos deparamos com questões que remetem ao nosso exercício direto de pesquisa, tais como: Que tema será investigado? Qual o objeto e o problema da pesquisa? Como e onde serão coletados os dados? Que tipo de dados? Que tipos de fontes serão explorados? Quais autores e teorias servirão de arcabouço teórico? Que métodos serão escolhidos? Chegou o momento, então, de adentrarmos a estruturação de um projeto de pesquisa. Pois bem, neste módulo, A pesquisa científica, trataremos do desenvolvimento do projeto. Inicialmente, disporemos os conceitos e tipologia que são apontados na literatura sobre projetos de pesquisa. Destacaremos as dimensões éticas que implicam a escolha e o caminho da pesquisa, a questão da “neutralidade”, a relevância e função social de um estudo. Veremos os tópicos relevantes, a forma de estruturação de um projeto, algumas possibilidades de caminhos de investigação. Destacaremos os itens que devem conter um projeto, procedimentos possíveis e algumas precauções. Percorreremos as etapas de uma pesquisa: definição do tema e objeto/problema, justificativa, objetivos, levantamento bibliográfico, metodologia, coleta e apresentação de dados, análise e conclusão. Esperamos que ao final você possa visualizar um passo a passo possível para pensar começar a estruturar seu projeto. Bom estudo! 70 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o 4.1 A pesquisa 4.1.1 Conceitos A pesquisa constitui uma procura, fruto de uma inquietação, de um incômodo, de uma dúvida; é uma vontade e um trabalho laborioso, tão apreensível por outrem quanto passível de ser questionável a qualquer tempo. Assim, podemos dizer que é aventura e risco. Para viabilizar uma pesquisa é preciso cadenciar o pensamento, garantir um caminho lógico e sistematizado. É preciso, então, escolher uma metodologia. A palavra método vem do grego e significa caminho; o verbete lógica também de origem grega, estudo. Ainda no campo da etimologia, o termo pesquisa é empregado já no século XVI e se refere à “busca com investigação” (CUNHA, 2010, p.493) e o verbo investigar significa “seguir os vestígios de, indagar, pesquisar” (p.364). Eis, então, uma tarefa fundamental que nos colocamos na pós-graduação: aventurarmo-nos em um trabalho de investigação. Questionar é desejar saber uma coisa. Roland Barthes 71 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Uma pesquisa não é uma reposição de conhecimentos já disponíveis ou presumidos de antemão. Como conceitua Pedro Demo (2005), constitui um procedimento de fabricação do conhecimento, havendo nele um processo reconstrutivo e produtivo de conhecimentos, sempre provisórios, parciais e prontos a serem questionados. Para que as conclusões de um estudo sejam incorporadas ao conjunto de saberes acadêmicos, para que lhe seja conferida credibilidade, confiabilidade e validade, é necessário que os dados e a análise passem por uma metodologia científica, qual pudemos estudar no segundo módulo. Segundo Umberto Eco (2016), para um trabalho merecer ser denominado científico, deverá atender aos seguintes requisitos: debruçar-se sobre um objeto reconhecível e definido de tal forma que seja reconhecível por outros, dizer algo que ainda não foi dito sobre o objeto e ser útil aos demais. Em complementação às afirmações de Eco, Pedro Demo (2005) destaca que uma pesquisa científica deve atender aos critérios de coerência, sistematicidade, consistência, originalidade, objetivação e discutibilidade e Gilberto de A. Martins e Carlos R. Theóphilo (2016) apontam que o estudo deverá ser, ao mesmo tempo, importante, original e viável. Ao final, a pesquisa se materializará numa escritura: o texto! No ensino superior tomará a forma de um trabalho acadêmico: uma monografia, uma dissertação de mestrado ou uma tese de doutorado. Nesse texto, o estudante contará a história da própria pesquisa; a história de sua escrita. Ou seja, ali se disporá além do objeto da investigação, o próprio caminho levado a cabo, pelo pesquisador, mediante um problema definido, os dados levantados, seu tratamento teórico-metodológico efetivado num percurso de raciocínio e suas conclusões. Exporá, pois, tanto os procedimentos de investigação, como os conceitos e a fundamentação teórica que informou a análise dos dados levantados no decorrer do estudo. Esse registro permitirá a reconstituição de um caminho e suas escolhas, remontar, desmontar e refazer a análise que foi produzida quando de possíveis questionamentos acerca das assertivas concluídas pelo pesquisador e do modo da pesquisa que foi por ele procedido. 72 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o 4.1.2 Tipos de pesquisa Na atualidade, muitas são as abordagens teórico-metodológicas e tipos de pesquisa em produção no meio acadêmico. As pesquisas podem ser classificadas de variadas formas, de acordo com diferentes critérios, dentre os quais, conforme dispõe Elisa Pereira Gonçalves (2003): em função dos objetivos a que se propõe (explorar, descrever, explicar um fenômeno, bibliográfica, participativa, documental), segundo os procedimentos de investigação que emprega (experimental, levantamento, estudo de caso etc.), em função das fontes de informação que lançará mão (laboratório, campo, bibliografia, documentos), segundo a natureza dos dados (quantitativos ou qualitativos). Para que você possa visualizar alguns caminhos possíveis, destacamos, a seguir, tipos de acordo com algumas classificações. Em relação à forma de abordagem do problema (SEVERINO, 2002): a) Quantitativa: esse tipo de pesquisa intenta medir em quantidade os dados coletados acerca de um fenômeno. Aqui, busca-se dispor sua constância, a variação ou mesmo a raridade de sua ocorrência. Por exemplo, quando se pretende levantar o perfil econômico e/ou cultural e/ou de consumo e/ou de ideias e suposições sobre um assunto e/ou critérios de avaliações e decisões de determinada comunidade. Os dados são expressos em números e lança-se mão de instrumental estatístico para tratamento do material empírico6: dados, cálculos numéricos, emprego de gráficos e tabelas. Nesse tipo, é frequente o emprego de entrevistas com questões fechadas e de questionários com perguntas de múltipla escolha. 6 Material empírico remete ao conjunto de informações acerca do objeto que se pretende investigar que serão retirados 73 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o b) Qualitativa – nesse tipo, objetiva-se atribuir um significado aos fatos/fenômenos. Caracteriza-se, pois, pelo tratamento qualitativo dos dados empíricos. A defesa desse tipo demétodo advoga que a qualidade é menos questão de extensão do que de intensidade (DEMO, 2005, p.34). Poderão se constituir material de análise fotos, filmagens, observação direta, dentre outros. Também questionários e entrevistas com questões abertas são, mormente, utilizados. Em relação aos objetivos (SEVERINO, 2002), ao que intenta a pesquisa, podemos classificar: a) Exploratória – esse tipo de pesquisa visa estudar em profundidade um assunto. Não é estatística e sua análise explora com vagar os dados coletados. Por exemplo, levantamento e análise das impressões e narrativas de determinados grupo de alunos e/ou professores acerca de seu processo avaliativo e resultados aprendizagem. Podem envolver levantamento bibliográfico, entrevistas, experimentos práticos, estudos de caso, análise de exemplos; b) Descritiva – esse tipo busca descrever as características o fenômeno ou da população investigada, estabelecendo relações entre variáveis: estas se pautam em dados coletados por meio de métodos padronizados de coleta. Do ponto de vista dos procedimentos técnicos, as pesquisas podem ser categorizadas em, de acordo com Gil (1994): a) Bibliográfica ou “pesquisa de ideias” – esse tipo de pesquisa é eminentemente teórico: os “dados” são as próprias teorias e autores (DEMO, 2005). Assim poderia ser uma pesquisa sobre o conceito de biopolítica em Michel Foucault e sua atualidade para os estudos sociais. b) Documental – esse tipo de pesquisa toma por fontes, documentos ainda não analisados por outras pesquisas. Esses documentos podem ser de outro(s) período(s) histórico(s) ou da atualidade. 74 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o c) Experimentais ✓ levantamento – este tipo envolve o questionamento direto das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer; ✓ experimental – este tipo de pesquisa, majoritariamente utilizado nas pesquisa sobre fenômenos físicos e biológicos, pressupõe a seleção de variáveis que influenciam o fenômeno, define formas de controle e observação dos efeitos que as mesmas exercem sobre o mesmo. ✓ ex-post-facto – aqui a análise recai sobre fatos já acontecidos, nos quais não há como fazer qualquer intervenção. A análise de muitos fenômenos naturais enquadram-se neste tipo, como por exemplo, a ocorrência de um furacão. ✓ estudos de caso – esse tipo de pesquisa destaca uma determinada experiência que tenha se dado para analisar seu contexto e as variáveis. Nesse tipo, busca-se um estudo minucioso e focado; ✓ Etnografia – constitui, segundo Lakatos e Marconi (2004), uma forma específica de investigação qualitativa e refere-se ao estudo da cultura. Pressupõe a hipótese da existência de um mundo cultural desconhecido, a necessidade de descrever o modo de vida dos povos tendo em vista a compreender seu significado e entender o funcionamento da sociedade de grupos, e ainda, prevê a participação ativa na vida da comunidade, com o fito de conhecê-la melhor (LAKATOS;MARCONI, 2004). Destacamos, aqui, outra possibilidade de agrupar tipos de pesquisa, está apontada por Pedro Demo (2005), a qual, podemos dizer, está relacionada à natureza do objeto do estudo. 75 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o a) Teórica – busca “reconstruir teorias, conceitos, ideias, ideologias, polêmicas (...) – suas polêmicas, seus acordos, os conteúdos implícitos e explícitos” (DEMO, 2005, p.22), para depois, com condições mais adequadas poder até se contrapor, se assim lhe convier a análise. Trata- se de, ao final, desconstruir teorias para reconstruí-las em outro patamar e momento; b) Metodológica – visa “inquirir métodos e procedimentos a serviço da cientificidade, polêmicas e paradigmas metodológicos; seu uso e abuso, tanto em âmbito epistemológico quanto no do controle empírico” (DEMO, 2005, p.22). Podemos dizer que ao se posicionar com essa intencionalidade esse tipo de pesquisa parte da problematização que põe em xeque os modos de fazer; c) Empírica – empenha-se em “tratar a face empírica e fatual de uma realidade preferencialmente mensurável; produz e analisa dados, procedendo sempre pela vida do controle empírico e fatual” (DEMO, 2005, p.23); d) Prática – liga-se “à práxis, ou seja, à prática histórica em termos de usar conhecimento científico para fins explícitos de intervenção” (DEMO, 2005, 23). Aqui se posicionam alguns métodos identificados como qualitativos como a pesquisa participante e a pesquisa-ação. ✓ pesquisa participante – neste tipo de pesquisa, há uma interação entre pesquisadores e pessoas envolvidas nas situações investigadas (GIL, 1994). ✓ pesquisa ação – aqui pesquisador e participantes da situação ou problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo. Neste tipo de pesquisa, após um diagnóstico inicial do problema, propõe-se uma forma de intervenção, a qual é vivenciada, registrada e os resultados serão analisados pelo pesquisador. 76 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Disposto esse panorama com alguns tipos de pesquisa possíveis, destacamos que, conforme alerta Pedro Demo (2005), para que você avalie seu procedimento, é importante que você considere as seguintes questões: ➢ “quais são, dentro dos conhecimentos que possuo, os que me ajudam a escolher meu problema e de que ordem são estes conhecimentos? ➢ são apenas fatuais ou possuem bases conceituais e teóricas? ➢ meus valores e minha visão de mundo orientaram minha escolha dos problemas?” (DEMO, 2005, 126). Síntese Como acabamos de ver, as pesquisas podem ser classificadas de acordo com seu objetivo, com os procedimentos de investigação que foram adotados, com a natureza de seu objeto, com a forma de abordagem etc. Assim, uma mesma pesquisa pode ser classificada como qualitativa, como prática, como experimental, dependendo do critério que se tome como referência. O importante é ter em mente que ao se propor uma pesquisa, deve-se ter clareza do que se quer, do objeto que se pretende investigar, para melhor pensar o modo de fazê-la. 77 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o 4.2. O projeto de Pesquisa Antes de ser efetivada, a pesquisa precisa ser planejada. Aqui, veremos um caminho possível, seguindo alguns passos que poderão nortear sua trajetória, percurso esse apontado pela maioria dos textos que tematizam a construção de um projeto de pesquisa científica. Antes de adentrarmos na disposição formal do projeto, enfatizamos que a escritura da pesquisa também deverá explicitar o percurso de investigação e de pensamento do pesquisador. Alguém cujos trabalhos são, grosso modo, e apesar de tudo, trabalhos de história, alguém que pretende enunciar discursos relativamente objetivos, que pensa que seus discursos têm certa relação com a verdade, esse alguém tem realmente o direito de contar assim a história de sua escrita, de comprometer assim a verdade a que pretende com uma série de impressões, de lembranças, de experiências que são profundamente subjetivas? Michel Foucault No questionamento acima, Michel Foucault, importante pesquisador francês, versa sobre a importância de desfiar, percorrer a desordem primeira do pensamento que se estrutura em trabalho de pesquisa e se organiza racionalmente em forma de comunicação escrita. 78 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o No momento da idealização do projeto, o pensamento pode apresentar certa desorganização e um emaranhado, por vezes, confuso e caótico de ideias.Para planificar e organizar essas ideias é importante que elaboremos o esboço de um roteiro que possa orientar e organizar tanto o pensamento quanto as ações que serão necessárias para a investigação. 4.2.1 Desenvolvimento do projeto Como apontamos no segundo módulo, para que a conclusões de uma pesquisa entrem no jogo dos conhecimentos validados, é necessário que se observem algumas exigências. É preciso que a pesquisa se justifique no campo, apresente rigor e apuro metodológico e teórico. O pesquisador necessita, para tanto, ter muito claras as questões que seguem: O que, por que, para que e como pesquisar? Que passos seguir? E agora, por onde ir? O projeto de pesquisa constitui um rascunho inicial, um esboço em que o estudante apresentará o interesse temático, o problema que o inquieta, o caminho que incialmente visualiza, as ideias/autores teóricos com os quais conversará e que hipóteses iniciais formula sobre o fenômeno. A seguir, veremos alguns tópicos fundamentais que lhe poderão ajudar nesse momento de planificação de seu projeto. a. Tópicos relevantes na estrutura de um projeto de pesquisa Um projeto, em linhas gerais, se compõe de algumas partes principais (DEMO, 2005): definição do tema, objeto e hipóteses de trabalho, avanço do referencial teórico, possível base empírica ou fatual, alicerces metodológicos, resultados esperados ou realização da hipótese e conclusão. 79 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o É necessário que se elaborem hipóteses acerca do fenômeno que se pretende investigar. Mas também é fato que, se pensamos ter as respostas e explicações sobre o problema, não estaremos propondo uma pesquisa e não haverá vigor analítico, pois não haverá, de fato, uma pergunta. Assim, cabe a advertência que uma pesquisa não deve ter por objetivo panfletar uma ideia, advogar um ponto de vista ou um modo de investigação. É preciso um não- saber do próprio pesquisador para se definir um projeto. b. Projeto de estudo e plano de pesquisa Um projeto de pesquisa constitui, antes de qualquer coisa, um exercício de análise. Trata-se de um trabalho que demanda a aplicação de uma metodologia de investigação e de uma forma de abordagem teórica que permita a discussão do problema. O projeto é provisório, delineia um roteiro, um caminho e é disparado pelas informações primeiras do pesquisador e por sua afetação intelectual por determinado tema. Ele trará as linhas mestras do trabalho de investigação, uma construção lógica e a coordenação de ideias e etapas do percurso. Muitas são as decisões e ações que envolvem um estudo, bem como amplas são as possibilidades de problematização e recorte de um tema, afinal, como observa Alfredo Veiga-Neto (2002), infinitos recortes e combinações compõem o mundo. É preciso que o pesquisador estabeleça uma rotina organizativa. Assim, para que o processo aconteça com certa economia de tempo e de esforços, cadência, concentração e objetivação na pesquisa, é importante que o estudante elabore um plano de trabalho e de estudo. Neste plano, deverão ser previstas as etapas da investigação, consideradas as fases que devem ser contempladas, no período cronológico em que se deverá dar conta de todo o processo, ou seja, até a data-fim prevista no seu programa de pós-graduação. A elaboração do plano possibilitará que você evite repetições desnecessárias de tarefas. 80 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Sua elaboração envolve um trabalho prévio que, conforme apontam Lakatos e Marconi (2004, p.264), três aspectos: a orientação geral sobre a matéria; o conhecimento de uma bibliografia pertinente; a reunião, seleção e ordenação do material levantado. Ainda, é preciso planificar as atividades de leitura e de constituição do arquivo para a pesquisa (fichamentos, resenhas) e pensar os passos que serão dados até o final do estudo, perspectivando-as no tempo – quando cada ação deverá estar concluída. Evidente que se trata de um plano que será redimensionado no processo e que os resultados de cada ação vão se entremeando, mas tê-lo elaborado o ajudará a percorrer o trajeto com mais tranquilidade e de forma organizada. c. A “neutralidade” do pesquisador Já nos módulos anteriores, destacamos que o conhecimento científico não é neutro. Ainda que se persiga um grau de objetividade, há um consenso na literatura acerca da metodologia de pesquisa que tanto pela forma de aproximação e tratamento do objeto, pela metodologia, quanto por sua entrada no campo das produções de qualquer área, não há neutralidade na disposição e produção de conhecimentos. Como afirma Eagleton (apud DEMO, 2005, p.27), “Não vemos a realidade de modo neutro, mas postados em algum lugar da sociedade. Tendo, por trás de nós, história que já passou e à frente de nós, história que está por vir”. Nem mesmo a metodologia pode ser descrita como neutra: tanto os métodos de investigação quanto a linguagem já constituem a rede de conhecimentos no quais nos vemos, ou seja, já conduzem o nosso olhar e dispõe aquilo que conseguimos ver e pensar. Alfredo Veiga-Neto (2002, p.36) aponta haver “total impossibilidade do distanciamento e da assepsia metodológica ao lançar nossos olhares sobre o mundo. Isso não significa falta de rigor, mas significa que devermos ter sempre presente que somos irremediavelmente parte daquilo que analisamos e que, tantas vezes, queremos modificar”. 81 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Atente, contudo, que não é papel de um pesquisador posicionar-se a favor, defender, panfletar acerca de qualquer objeto, ideia ou forma. É preciso garantir na pesquisa o rigor e vigor investigativo e analítico. O posicionamento ético-político do pesquisador deve assentar-se na atitude crítica que assume ao questionar-se acerca do lugar público de sua pesquisa. Segundo Pedro Demo (2005), as metodologias a serem utilizadas não devem produzir um discurso marcado pela justificação, como o é o discurso ideológico, não devendo se constituir na postulação de meras especulações. d. Função social da pesquisa Segundo Wayne C Booth, Gregory G. Colomb e Joseph M. Williams (2005) a pesquisa é uma atividade inteiramente social e deve almejar o benefício de todos os envolvidos por ela e da coletividade como um todo. Uma pesquisa precisa dizer a que veio. Não é possível defini-la e pensá- la apenas do ponto de vista formal. É necessário que um estudo explicite as contribuições que podem advir de suas conclusões tanto para o campo quanto para a sociedade e para o seu tempo. Suas contribuições poderão ser desde um novo foco, uma nova perspectiva ou um novo caminho de investigação. Ela pode pôr em xeque primados anteriormente estabelecidos ou, ainda, lançar novas perguntas para um mesmo problema. Lembremos que o conhecimento científico tem sua emergência no século XVII e trazia como promessa a “descoberta de verdades universais”, pregava uma suposta objetividade, certeza e neutralidade à ciência: seus métodos, resultados e aplicações. Ao lado das inquestionáveis contribuições às formas de produção, terapêuticas à saúde dentre outras, as trágicas experiências que vimos a partir do século passado (tecnologias de guerra, genocídios, devastação do meio natural etc.), envolvendo o uso dos saberes científicos, desmontaram tais crenças e colocaram aos pesquisadores questões inquietantes, bem como colocaram em xeque os paradigmas do conhecimento científico (KUHN, 2011). Como alerta Pedro Demo (2005, p.39), 82 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o “torna-se problema candente o abusodo conhecimento científico par fins eticamente escusos, a começar por tipo de crescimento econômico deletério ao meio ambiente, além de espoliativo das maiorias”. Não raro, vimos emergir “teorias científicas” produzidas para afirmar, justificar e naturalizar diferenças que foram historicamente construídas (raças, etnias, gêneros, classes etc.) estabelecendo relações de superioridade-inferioridade. No plano metodológico podemos afirmar que existe certo relativismo epistemológico, contudo, conforme assevera Veiga-Neto (2002), o mesmo não deve ser confundido com relativismo ético. Isso significa que noções tais como solidariedade, justiça social e igualdade de direitos devem balizar nosso trabalho. e. Levantamento bibliográfico Tendo em vista garantir a coerência e consistência à pesquisa, é necessário fazer um levantamento das produções teóricas e dos autores considerados importantes no campo temático da pesquisa. Podemos dividir o levantamento bibliográfico em dois campos: um referente à metodologia e à abordagem teórica que informará a análise do pesquisador; e outro referente à literatura existente sobre o objeto de estudo – aquilo que se dispõe no campo e que possa interessar à pesquisa; aquilo que já se sabe, que já se investigou e sob quais perspectivas teóricas e metodológicas. Uma teoria, ou um conjunto teórico-metodológico o ajudará a pensar o problema e pesquisar o seu objeto e o auxiliará no seu exercício de argumentação. Lembre-se, contudo, que uma pesquisa não deve repor o já dito. Destaque-se que o pesquisador irá fazer a sua leitura e sua própria interpretação do fenômeno. Há que se ter certa infidelidade aos autores que nos convocam a pensar. Mais que suas conclusões e postulações acerca de um objeto/tempo deve nos interessar seu modo de investigação. O modo de 83 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o melhor reverenciá-lo é, no mais das vezes, sendo-lhe infiel. Nossos referenciais teóricos não devem, pois, nos aprisionar no pensamento. A forma de investigação, os caminhos metodológicos já trilhados por outros podem nos interessar, inspirar, inquietar e até nos orientar. O conteúdo deve nos desafiar. Lemos autores para nos tornamos autores, não vassalos. Pedro Demo Sintetizando... Uma pesquisa deve atender aos critérios de coerência, sistematicidade, consistência, originalidade, objetivação e discutibilidade. Traz para o campo de saber no qual se insere não somente questões formais, mas também políticas. Não há assepsia possível no campo da produção do conhecimento. Uma pesquisa precisa dizer ao que veio e seu projeto deve explicitar quais as contribuições que ela pode trazer ao campo, bem como suas contribuições de ordem social. 84 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o 4.2.1 A pesquisa científica: Etapas Veremos um passo-a-passo que poderá lhe orientar no desenvolvimento do seu estudo, dispondo os aspectos formais, os quais seu projeto deverá contemplar. Atentem, pois, aos itens que se seguem: a. Definição do Tema Segundo Martins e Theóphilo (2016, p.7), “o processo de escolha de um tema assemelha-se à elaboração de um roteiro para iluminação de uma peça teatral”. Com criatividade e engenhosidade, é preciso escolher onde se deve jogar luz, dar o zoom”. Trata-se de buscar e engendrar uma perspectiva, um ângulo que possibilite dizer algo que ainda não foi dito, ou rever, sob outra perspectiva, o que já foi dito sobre o assunto. O tema constitui, pois, o principal assunto que a pesquisa abordará. Ele anuncia um horizonte vasto de possibilidades de recortes de fenômenos e problemas, como, por exemplo: direito civil, avaliação da aprendizagem, administração escolar, planejamento operacional, história da arte, políticas de saúde pública, sucesso e fracasso escolar etc. O tema deve ser um assunto de interesse do estudante, algo que de alguma forma a intriga, o inquieta, o convoca a pensar e o desafia a investigar. Tendo em vista tornar o trabalho mais interessante e eficiente, convém que o tema tenha alguma relação com a área de atuação profissional do pesquisador, ou que faça parte de sua experiência pessoal. Nessas condições, o pesquisador já possui conhecimento prévios que poderão facilitar sua entrada no tema, a interpretação dos textos, ideias e jargões da área, orientando na busca de bibliografia e consulta a profissionais especializados (MARTINS; THEÓPHILO, 2016). 85 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Nessa decisão, contudo, deve-se observar a relevância desse tema e dessa investigação. Para tanto, é fundamental fazer um contato prévio com a bibliografia que existe disponível sobre o tema – as controvérsias, a insuficiência de informações ou abordagens. É necessário ler, fichar, planificar informações de estudos já realizados. Aqui os instrumentos apontados no módulo 3 o ajudarão. Convém iniciar por trabalhos mais gerais, para, após abordar estudos mais especializados (LAKATOS; MARCONI, 2004). Costuma- se desenvolver temas da atualidade – eventos, fenômenos em ocorrência no tempo presente (Currículo na Educação Infantil, na atualidade, por exemplo) ou temas históricos (a escravidão no Brasil no século XVIII, por exemplo). É importante, ainda nesse momento, definir o período de tempo que será investigado (marco temporal), o espaço, a população e o tipo de amostragem de onde se extrairão os dados (marco empírico). Assim, deverá o pesquisador “fixar as circunstâncias, sobretudo de tempo, espaço e sob que ponto de vista ou perspectiva o tema será focalizado” (MARTINS; THEÓPHILO, 2016, p.7). Nas palavras de Antônio Joaquim Severino (2002, p.76), o desdobramento de um trabalho de pesquisa pode se dar em três fases: há o momento da invenção, da intuição, da descoberta, da formulação de hipóteses, fase eminentemente lógica em que o pensamento é provocador, o espírito é atuante; logo após, parte para a pesquisa positiva, seja experimental, seja de campo ou bibliográfica. Para Severino, nesse momento, o pesquisador é posto diante dos fatos, de outras analíticas já desenvolvidas acerca do objeto. É do confronto com essa produção que ideias poderão ser abandonadas, outras poderão surgir e algumas ainda poderão ser reformuladas b. Formulação do problema, hipóteses e proposições Definido o tema, deverá o pesquisador fazer um corte e definir, então, o objeto de estudo, ou seja, o centro da atenção e a pergunta que irá perseguir. Como apontam Gilberto de Andrade Martins, um tema precisa ser 86 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o problematizado. Aqui, o estudante irá delimitar aquele assunto – o tema – e especificar o problema que irá investigar: deverá formular com clareza e precisão um problema concreto a ser estudado. Deve-se cuidar para que o problema seja genérico demais ou restrito demais, cujo solução se aproxime de resultados óbvios, com alertam Martins e Theóphilo (2016). A formulação do problema é um momento crucial – constitui uma delimitação fundamental a qual norteará o caminho da investigação. O tema, o qual remete a um assunto geral, amplo, precisa ser problematizado pelo pesquisador. Essa etapa constitui, pois, no exercício de delimitar o problema dentro do espectro vasto que é o tema. Assim, define-se um objeto que será convertido em pergunta orientadora. Para Martins e Theóphilo, nessa primeira etapa do processo de pesquisa, o investigador deverá responder com clareza e precisão às questões: O que fazer? Por que fazer? Ao responder essas perguntas, o pesquisador estará caracterizandoo seu objeto de estudo. O problema de pesquisa deve estabelecer relações entre duas ou mais variáveis, ser formulado em forma de questão de forma clara, objetiva, concisa e deve ser passível de comprovação. Vejamos um exemplo: TEMA: Sucesso e fracasso escolar OBJETO: Relações entre aproveitamento escolar e identidade de gênero e raça no ensino fundamental PROBLEMA: É possível estabelecer entre sucesso/fracasso escolar no ensino fundamental e identidade de gênero e raça? Como se distribui e funciona o processo de produção do fracasso escolar entre meninos e meninas/raça? 87 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Destacamos que a definição de um problema de pesquisa é determinada pela abordagem teórica do pesquisador. No exemplo acima, o tema foi problematizado por uma abordagem teórica pós-crítica, trazendo à baila variáveis como gênero e raça, por uma perspectiva que problematiza as relações de poder que (se) produzem socialmente. O mesmo tema definido no exemplo acima poderia ser problematizado por várias outras perspectivas teóricas, levantando questões diferentes. Numa outra perspectiva teórica, por exemplo, poderia definir-se como problema: como surgiu a problematização da relação entre fracasso/sucesso escolar e gênero? Como se deu a emergência e a proveniência da noção de gênero? Como analisa Sandra Mara Corazza (2002, p.115), “as questões feitas àquilo que chamamos de realidade são constituídas pela(s) perspectiva(s) teórica(s) de onde olhamos e pensamos esta mesma realidade”. Para a pesquisadora, um problema não existe em si mesmo, mas é engendrado por nós. Defende, ainda que constituir um problema de pesquisa é começar a suspeitar de todo e qualquer sentido consensual, de toda e qualquer concepção partilhada, como os quais estamos habituadas/os; indagar se aquele elemento do mundo – da realidade, das coisas, das práticas, do real – é assim tão natural nas significações que lhe são próprias; duvidar dos sentidos cristalizados, dos significados que são transcendentais e que possuem estatuto de verdade (...) é virar a própria mesa, rachando os conceitos e fazendo ranger as articulações das teorias (CORAZZA, 2002, p.118). Muito possivelmente, no desenvolvimento da pesquisa um problema inicial poderá remeter o pesquisador a outro problema e, até, a outro objeto. Destacamos que a definição clara do problema permitirá o desdobramento da(s) hipótese(s) que orientará(ão) o tratamento analítico e o encaminhamento lógico do raciocínio. Detenha-se a essa tarefa com atenção. 88 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o c. Justificativa do estudo Nesse momento, o pesquisador apresentará a proposta de sua pesquisa: relatará a forma como se aproximou do tema e suas inquietações e problematizações acerca do objeto, justificando a pertinência desse estudo, expondo a relevância para o campo, para a área do tema a ser estudado. A justificativa deverá informar ao leitor o porquê do projeto de pesquisa proposto, ou seja, o seu foco de atenção, a pergunta central do estudo e a problematização do tema. Destacamos a importância de ser apontada a relevância social da pesquisa. Sem assumir uma intenção utilitarista, uma pesquisa deve dispor um exercício crítico das práticas. Implicam-se aqui algumas questões de relevância ética: A que serve essa pesquisa? O bem comum, questão tanto destacada na filosofia, não pode estar ausente nos momentos de propositura, escolha de caminhos e análise do investigador. d. Definição dos objetivos – geral e específico O objetivo geral indicará a extensão do estudo, explicitará até onde se deseja chegar e deve ser amplo e possível de ser desdobrado em objetivos específicos. Assim, para o tema e objeto citados no exemplo, citamos os objetivos proposto por Marília Pinto de Carvalho (2004, p.247): “conhecer os processos através dos quais se produz, no ensino fundamental, o fracasso escolar mais acentuado entre crianças negras do sexo masculino, conforme vêm indicando as estatísticas educacionais brasileiras há algumas décadas”. Os objetivos específicos expressam o que se pretende fazer tendo em vista responder ao problema proposto pela pesquisa. Desdobrados do objetivo geral, apresentam as ações que precisam ser efetivadas, tendo em vista a consecução do objetivo geral. Devem ser alcançáveis. Do exemplo citado como objetivo geral, poderíamos desdobrar, também a título de exemplo, alguns 89 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o inventariar as variáveis que são mobilizadas na literatura acadêmica quando se analisa a questão do fracasso escolar; ➢ levantar o conceito de raça em circulação no meio acadêmico; ➢ identificar se e quando a identificação racial passou a compor o discurso acadêmico e/ou as estatísticas estatais e/ou os discursos docente e discente; ➢ planificar os resultados do aproveitamento escolar nos quartos anos do ensino fundamental de uma escola estadual de São Paulo; ➢ realizar entrevistas com alunos, professores e pais acerca das expectativas escolares e representação racial dos alunos – pertencimento étnico-racial; ➢ observar e analisar o contexto cotidiano de uma turma de 4º ano na escola estudada; ➢ realizar entrevistas com os professores dos alunos dessa turma – aula regular e recuperação paralela – sobre a percepção das causas da diferença no desempenho escolar entre meninos e meninas; ➢ investigar os critérios de avaliação dos professores e suas ideias sobre as relações raciais (CARVALHO, 2004, P.268). Note-se que os objetivos devem ser enunciados a partir de um verbo no infinitivo: analisar, investigar, comparar, especificar, estabelecer etc. e. Revisão da Literatura/ levantamento da bibliografia Nesta etapa, mapeamos o terreno, ou seja, levantaremos o que já existe pesquisado sobre o tema/objeto. É importante fazer uma compilação do conjunto de produções já em circulação na área de modo a garantir a consistência e pertinência da pesquisa. Esse é o trabalho de levantamento do “estado da arte”, ou seja, o levantamento do que já existe de produção no campo: investiga-se o que já foi pesquisado sobre o tema, que abordagens são circuladas na literatura sobre o problema que se quer perseguir, que tratamentos teórico-metodológicos e conexões e articulações temáticas e conceituais já foram produzidas, para, então, rever o próprio problema: que perguntas e contribuições ele pode trazer à área e a esse debate? 90 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Aqui, deparamos com o excesso ou a escassez de pesquisas e produções sobre o tema e, em especial, sobre o objeto que se pretende investigar: o que se tem problematizado, que informações e dados se tem (insuficientes, abundantes, excessivos, insatisfatórios, inexistentes). Isso para evitar repetições, reiterações ou vícios analíticos. É importante que se proponha, na pesquisa, um tratamento diferenciado do objeto ou uma nova problematização sobre o mesmo. Esse momento constitui-se, pois, de procedimentos para localização e busca criteriosa de documentos que tangenciam e podem interessar ao tema do projeto (SEVERINO, 2002). Do compêndio de documentos passíveis de consulta e escrutínio destacam-se livros, artigos científicos, dissertações e teses. Lembramos que esse levantamento e sua leitura deverão ser realizados com uma atitude crítica – ou seja, localizando aquela produção no contexto em que foi produzida, a escola de pensamento que assenta a análise daquela produção, sob que motivações e justificativas o estudo foi realizado e, se for o caso, quais efeitosele produz sobre o fenômeno e o papel que desempenha no meio acadêmico – as reverberações de determinadas teorias e abordagens sobre um fenômeno. f. Metodologia de pesquisa Os métodos de pesquisa remetem às formas de raciocínio que orientarão a análise do pesquisador. No segundo módulo desta disciplina, destacamos os métodos de investigação mais referenciados, dentre os quais, o indutivo, o dedutivo, o hipotético-dedutivo e o dialético. Indução, dedução dialética referem-se modos de raciocínio aos quais lançamos mão para dar o devido tratamento ao objeto. Os métodos de pesquisa são muitos, assim como os tipos de pesquisa, conforme citamos na primeira parte deste módulo. Como aponta Demo (2005, 91 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o p.24) “nenhum tipo de pesquisa é autossuficiente”. Na prática, mesclamos diferentes métodos, “apenas dando ênfase a um tipo” (DEMO, 2005, p.24). Para a escolha do método, ou da composição metodológica, deveremos investigar as ferramentas da área e pensar qual o tipo será enfatizado, levando-se em consideração os objetivos, a natureza de do objeto, o campo teórico em que se movimentará. Como alerta Eco (2016), ao definir a metodologia, o caminho de investigação, é necessário avaliar se o quadro metodológico está ao alcance da experiência do pesquisador, tendo em vista garantir o percurso e a efetivação da pesquisa. Destaque-se que um estudo pode ser orientado por diferentes procedimentos metodológicos ou por uma combinação de dois ou mais (DEMO, 2005). g. Coleta de dados Trata-se aqui da obtenção de informações. Nesse momento, o pesquisador disporá a forma e os lugares (fontes) onde irá coletar dados para informar a análise do problema a que se propõe e levantar informações acerca do acontecimento, do fenômeno. Conforme aponta Eco (2016), para se elaborar um projeto de pesquisa exequível necessário definir fontes de consulta que sejam acessíveis e manejáveis. Vários podem ser os lugares onde buscar os dados: arquivos públicos (bibliotecas, banco de dados de órgãos governamentais e não governamentais), arquivos particulares, coleções particulares etc. Conforme destaca Eco (2016, p. 45), uma pesquisa científica “estuda um objeto por meio de determinados instrumentos. Muitas vezes o objeto é um livro e os instrumentos, outros livros”. Quando a pesquisa utiliza os escritos de determinado pensador, dizemos que estamos lidando com fontes primárias. 92 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Quando se analisa os textos sobre esse pensador, estamos lidando com fontes secundárias. Os dados de um estudo podem ser coletados de documentos historiográficos (textos, documentos oficiais, jurídicos, fotos, filmes, mapas etc.), de entrevistas e de questionários, dentre outros. No caso da entrevista e do questionário, o pesquisador deve estar atento à formulação das perguntas e do roteiro. Os espectros de informações que podem ser levantadas são incontáveis. Assim, mais uma vez, destacamos que o objeto e o problema da pesquisa é que deverão orientar o planejamento e elaboração desses instrumentos. No caso do questionário, convém destacar que se trata de um instrumento que pode ser aplicado a várias pessoas, em diferentes localidades ao mesmo tempo ou não. Assim, convém que o mesmo seja acompanhado de um texto introdutório em que sejam explicitados os objetivos e intenções da pesquisa. As questões devem ser claras de modo a não deixarem dúvida em relação às opções de respostas possíveis e devem seguir uma lógica de acordo com o tema, das mais simples às mais complexas. Deve-se levar em conta o público alvo da pesquisa, adequando-lhe a linguagem. Idas a campo são outras formas de observação direta para obtenção de dados cujo emprego depende das intenções da pesquisa e da natureza do objeto. Para esse procedimento é importante que o pesquisador elabore um cronograma com data, horário, atividade, objetivo e observações tendo em vista a organização e orientação do trabalho, com a devida atenção aos prazos. h. Tabulação e apresentação dos dados Nesta parte, será organizado e apresentado o compêndio dos dados coletados na pesquisa. Aqui, o material empírico deverá ser apresentado de forma objetiva e clara. 93 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Os dados quantitativos podem ser dispostos em gráficos de diversos tipos (em barras, em colunas, em pizza, em linhas, em áreas etc.) e/ou tabelas etc. Nesse caso, então, é interessante que os dados sejam visualmente apresentados. Os dados levantados por pesquisas de foco mais qualitativo podem ser categorizados, perfilados em tabelas e, normalmente, são descritos em textos que vão dispondo as informações em acordo com o roteiro e com os itens importantes para a construção da análise e do argumento – a próxima fase dos procedimentos da pesquisa. Análise e discussão dos resultados Recolhidos e organizados os dados, chegou o momento de encará-los com acuidade, atenção e criticidade. Na análise e discussão dos resultados entrarão em jogo e, em certa medida, em confronto, o arcabouço teórico do pesquisador e os dados coletados. Deve-se atentar ao critério da consistência e coerência no tratamento dos dados coletados na pesquisa. É necessário “saber orquestrar os componentes do caminho percorrido, de modo que realizem convergência consistente nessa parte” (DEMO, 2005, p.150). Será feita, nessa parte, a discussão e interpretação dos resultados. Serão estabelecidas as relações lógicas, os dados serão comparados e analisados à luz das teorias e abordagem circulantes acerca do objeto/fenômeno, anteriormente levantadas. Desse exercício emergirá uma possível generalização de princípios e da análise. Aqui serão refutadas ou confirmadas as hipóteses iniciais, devendo haver uma amarração entre dados, teoria e metodologia. Então, é hora de tecer os argumentos. Do confronto entre dados, teorias, hipótese, confirmar ou rechaçar as hipóteses iniciais e construir uma analítica sobre o objeto de pesquisa, já de posse dos dados coletados – isso é o que podemos chamar de tratamento analítico dos dados. 94 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Destacamos que, conforme dispõe Demo (2005, p150), uma das qualidades centrais de uma tese é “saber orquestrar os componentes do caminho percorrido, de modo que realizem convergência consistente” na realização da hipótese. É importante que se faça uma amarração teórica e metodológica. Conclusões. Aqui, efetiva-se um recolhimento sintético do que se produziu na pesquisa. Trata-se da mensagem final. Dedica-se em média nessa parte uma página ou pouco mais. Deve, pois, ser breve e conciso (DEMO, 2005). Ao final, deverá o pesquisador apontar sugestões para pesquisas posteriores ao estudo então apresentado. Lembramos que os resultados de qualquer pesquisa são provisórios e que o conhecimento está sempre em movimento. Afinal... A ciência é edifício bastante frágil: o melhor que pode alcançar é a oferta de apreciações continuamente cambiantes de como as coisas funcionam. Nosso conhecimento científico é sempre atacável e provisório. Cada nova teoria científica está condenada a ser objetada sempre pela seguinte. HOROWITZ e JANIS, 1994, p.151 apud DEMO, 2005, p. 60. 95 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Síntese O processo de uma investigação científica passa por algumas etapas. Cada parte do processo influencia as outras. A escolha edelimitação do tema e objeto de pesquisa são fundamentais para as decisões e ações subsequentes. Um tema precisa ser problematizado. É necessário levantar hipóteses iniciais, os objetivos gerais e específicos, realizar um estudo bibliográfico acerca do que já existe sobre o tema, definir tempo e espaço de investigação, tipos de dados e fontes e escolher a metodologia de investigação. Do confronto entre o que já existe pesquisado sobre o tema, os dados coletados, pelo tratamento analítico do pesquisador, chegar-se-á às conclusões do estudo, com a confirmação ou negação das hipóteses do estudo. Ao final, o investigador deverá indicar possibilidades futuras de pesquisa a partir dos resultados de seus estudos. 96 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Considerações Finais Roland Barthes em um de seus cursos no Collége de France, no ano de 1979, comparou a aula e o livro a um filme. Tomemos de empréstimo essa analogia do filósofo francês: a pesquisa pode ser comparada a uma obra fílmica: o pesquisador escolhe o assunto, compõe o enredo, define os ângulos das tomadas, realiza os cortes, a edição, os focos de luz e define a trilha sonora. Ao final dá-lhe um título. Podemos dizer que ao idealizar, planejar e efetivar uma pesquisa que, ao final, resultará numa comunicação na forma de texto, estamos realizando a roteirização e direção de um filme. Esperamos que esse breve percurso lhe tenha ajudado a identificar os principais tópicos de uma pesquisa e que, ao dispor as etapas de uma pesquisa, lhe oriente em seu percurso e que, concluído o caminho, resulte um “filme” analiticamente consistente, que apresente para o campo de estudo o ar da atitude crítica trazendo boas perguntas. Dê prosseguimento a seus estudos no tema do módulo pela indicação de leitura suplementar e consulte a indicação bibliográfica. E não se esqueça de participar do fórum. Por fim, verifique seus conhecimentos nas questões ao final. 97 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o MÓDULO 5 – Redação e apresentação do trabalho científico Patrícia Helena Ferreira Técnicas em Pesquisa e Construção de Textos Científicos. Módulo 5 – Redação e apresentação do trabalho científico (FCE) – São Paulo – 2016. Guia de Estudos – Módulo 5 – Redação e apresentação do trabalho científico. 1. Trabalho científico 2. Produção textual 3. Metodologia da Pesquisa Orgs.: Adriana Alves Farias e Cláudia Regina Esteves Faculdade Campos Elíseos 98 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Conversa Inicial Caro (a) aluno(a), Eis-nos caminhando rumo ao quinto módulo da disciplina Técnicas em Pesquisa e Construção de Textos Científicos. Neste trajeto, intitulado “Redação e apresentação do trabalho científico”, iniciaremos nossos trabalhos refletindo sobre o papel social da pesquisa e o momento de apresentação de todo trabalho desenvolvido no decorrer dos estudos na universidade. Posteriormente, adentraremos à algumas questões relevantes na escritura do texto, tanto do ponto de vista do léxico, quanto das regras de textualização. Destacaremos algumas características das monografias e dos artigos científicos, dois dos principais gêneros utilizados na escrita acadêmica. A temática da ética e o plágio também farão parte da presente discussão, por se tratarem de questões cruciais quando pensamos na questão da finalidade da pesquisa e no seu devido exercício autoral. Por fim, conheceremos algumas diretrizes básicas para a utilização das citações, notas de rodapé e referências. Bons estudos! 99 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Para início de conversa.... Como diria Sandra Corazza (2002), em seu texto Labirintos da pesquisa, diante dos ferrolhos, é chegada a hora dos estudantes comunicarem sua pesquisa, decorrente de anos de estudo, sistematização de saberes e investigações teóricas e empíricas. Esse momento é a finalização de todo um processo, que pode continuar em novas perguntas e, por consequência, novas pesquisas. Todavia, a comunicação desse percurso utiliza-se de uma linguagem específica para tal e está formatada dentro de uma ordem do discursoii, como nos diria o pensador francês Michel Foucault. Caberia a todo estudante a formulação de algumas questões: - Por que pesquisar? Então, é como se o nosso próprio fazer de pesquisadoras/es colocasse um ponto de basta, onde é necessário parar e pensar: Afinal, como é mesmo que venho fazendo meu movimento de pesquisa? Até para que se possa estabelecer suas principais coordenadas; desenhar suas curvas de visibilidade e de enunciação; reconhecer suas linhas de sedimentação e também de fraturas; reordenar os percursos e manter os cursos; direcionar as luzes em outra direção e conservar alguns focos lá onde já estavam; em poucas palavras, mapear o terreno e a cartografar as linhas do trabalho nele realizado. Assim é que vimos emergir condições atuais de nosso percurso intelectual, das quais é chegada a hora de prestar contas às/aos outras/os, que também investigam e pensam territórios teóricos, para que a interlocução se estabeleça com os materiais aproveitáveis, e também se processe sobre os resíduos a serem dejetados. CORAZZA, 2002, p. 106. 100 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o - Qual a necessidade de comunicar a pesquisa realizada de uma maneira formal? - De que maneira é feita essa comunicação? - Quais os procedimentos básicos a serem seguidos? - Como demonstrar autoria intelectual? Essas e outras perguntas assolam os estudantes-pesquisadores quando da aproximação do final dos seus respectivos cursos. A escrita e apresentação do trabalho científico representa a etapa crucial de toda caminhada acadêmica, em que o aluno vai, finalmente, demonstrar a que veio e qual foi o seu amadurecimento intelectual no percurso que se propôs a trilhar. Este módulo adentrará em algumas questões importantes acerca da redação e apresentação dos trabalhos científicos, procurando ajudá-lo em suas principais dúvidas e procedendo a orientações de cunho metodológico. 5.1 Indicações relevantes sobre a produção do texto A linguagem na ponta da língua, tão fácil de falar e de entender A linguagem na superfície estrelada de letras, sabe lá o que ela quer dizer? Professor Carlos Góis, ele é quem sabe, e vai desmatando o Amazonas da minha ignorância. Figuras de gramática, esquipáticas, atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me. Já esqueci a língua em que comia, em que pedia para ir lá fora, em que levava e dava pontapé, a língua, breve língua entrecortada do namoro com a prima. O português são dois; o outro, mistério. Andrade, Carlos Drummond. 101 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Na leitura do poema de Carlos Drummond de Andrade, vemos como a sociedade utiliza a linguagem como meio de comunicação social (SARMENTO, 2012, 2013). Desde a linguagem não verbal, a linguagem oral e a linguagem escrita, o homem usa de símbolos para expressar suas ideias e se comunicar com os outros. Cada tipo de linguagem possui seus códigos, seus ditos e interditos. Segundo Sarmento (2012) existem três concepções de linguagem: • A linguagem comoexpressão do pensamento – seguem-se regras gramaticais, mas não existe a preocupação com a interatividade verbal; • A linguagem como instrumento de comunicação – a língua é considerada como um código que é necessário dominar para que exista comunicação com outros indivíduos, mas não há preocupação com o processo histórico-social de construção da língua; • A linguagem como forma de interação – o falante/escritor usa a língua para interagir comunicativamente com o ouvinte/leitor, criando efeitos de sentido entre os interlocutores. Se pensarmos na escrita de um trabalho científico como uma forma de interação com um determinado grupo de leitores, precisaremos observar regras/requisitos mínimos para que esse tipo de comunicação se dê de uma forma mais próxima da precisão em termos da enunciação de uma mensagem que se quer transmitir, possibilitando diversas conversas. É necessário, primeiramente, o conhecimento do léxico (vocabulário) e da gramática (conjunto de regras e normas acerca do funcionamento de uma língua). Ainda, para melhor compreensão/escrita de um texto, é imperativo que se conheçam as regras de textualização (relativas à organização do texto) e as regras de interação verbal (fusão do léxico e da gramática). Todos esses elementos contribuem para que a redação de um trabalho acadêmico seja feita de uma forma que possa, de fato, produzir uma interlocução com seus possíveis leitores. 102 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o De forma diversa da linguagem informal, feita principalmente por meio da oralidade, a comunicação escrita é mais precisa e extensa, pois necessita prestar as devidas informações ao leitor, utilizando-se de recursos de expressão, como a pontuação, e de outros recursos linguísticos. Para transformarmos uma sequência linguística em um texto precisamos fazer com que ele adquira elementos de textualização, dos quais fazem parte a coesão, a coerência e informatividade e a intertextualidade. Ainda, não podemos esquecer que esse texto pertence a um determinado contexto e faz parte de um discurso, a saber, “o uso da língua em uma determinada situação de comunicação entre interlocutores” (SARMENTO, 2012, p. 66). Resumindo: • A coesão textual diz respeito à conexão estabelecida entre as partes de um texto por meio de conectivos (conjunções, preposições, advérbios etc.) e outros recursos linguísticos, com objetivo de dar ao mesmo um sentido lógico, coerente; • Para que um escrito seja eficaz também é necessário que ele tenha coerência textual, que representa a estruturação lógica das ideias, conferindo-lhe sentido unitário; • A informatividade diz respeito à relevância do que o texto apresenta; • A intertextualidade é o diálogo entre dois ou mais textos. De certa forma, ela demonstra o domínio e o arquivo bibliográfico que o escritor tem. De posse destes conhecimentos, os quais devem fazer parte do arcabouço de qualquer escrita que se pretenda interativa, destacaremos alguns critérios que devem ser observados na escrita de um texto científico, objeto de nosso estudo do módulo. 103 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o 1. Quanto aos aspectos sintáticos: • Deve-se utilizar a 1ª pessoa do plural ou a 3ª pessoa do singular para elaboração do texto: “O presente estudo tem por objetivos....”, “realizamos a pesquisa a partir de...”; • A voz verbal indicada é a voz passiva sintéticaiii: “Comprovou-se que os dados foram....”, “Elaborar-se-á, ao final, a tabela de......”; • Estruturas frasais – como já descrito anteriormente, o texto deve ser escrito em língua culta, observando os critérios de coesão, coerência, clareza e concisão. Para tal, a construção dos períodos deve se dar de forma que os mesmos não sejam muito longos e que se utilizem de linguagem clara. Quanto à utilização da norma culta, deve-se evitar a escrita coloquial. A mesóclise é uma das formas indicadas para a construção do texto quando o autor demonstrar algo no futuro do presente e no futuro do pretérito. “Definir-se-iam novos vetores, caso os resultados aludissem para tal”, “No presente estudo, elencar-se-ão elementos que contribuam para...”. 2. Quanto aos aspectos morfológicos e semânticos - devem ser observados os seguintes critérios: • Sobriedade – utilização de linguagem clara, sintética e precisa. O texto não deve possuir exagero em adjetivos qualitativos, de modo que se torne o mais objetivo possível; • Propriedade - relaciona-se à apropriação de linguagem técnico-científica da área (utilização de termos e conceitos adequados), bem como à utilização de verbos mais formais, evitando-se o coloquialismo. Exemplos de alguns verbos que podem ser utilizados: “resultar”, “constituir”, “compreender”, “realizar”, “conter”, “referir-se”, “constatar”, “observar” etc. 104 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Síntese 5.1.1 Recomendações na elaboração de monografias e de artigos científicos a. A monografia: características e recomendações Na escrita de um trabalho científico faz-se necessário observarmos regras/requisitos mínimos para que esse tipo de comunicação se dê de uma forma mais próxima da precisão em termos da enunciação de uma mensagem que se quer transmitir. É necessário, para tal feito, o conhecimento do léxico, da gramática, das regras de textualização e das regras de interação verbal. Para considerarmos qualquer escrita como um texto é necessário que ele observe os elementos de textualização, dos quais fazem parte a coesão, a coerência e informatividade e a intertextualidade Etimologicamente, a palavra monografia vem do grego monos, que significa "única", e graphein, que quer dizer "escrita". 105 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o A monografia, segundo Marconi e Lakatos (2001, p. 151), é um estudo sobre um tema específico ou particular, com suficiente valor representativo e que obedece a rigorosa metodologia. Investiga determinado assunto não só em profundidade, mas em todos seus ângulos e aspectos, dependendo dos fins a que se destina. Uma monografia apresenta algumas características que a diferenciam de outro tipo de produção, como a escrita de um trabalho sistemático e completo, de um tema específico, que revela um estudo pormenorizado sobre o mesmo. Apesar de sua profundidade, é um estudo limitado que se utiliza da metodologia científica para contribuir para algum aspecto relevante da ciência estudada. A monografia, de acordo com Prodanov e Freitas (2013) possui sentido estrito e sentido lato. • Em sentido estrito, identifica-se com a tese7: “relatório escrito sobre um tema específico que decorre de uma pesquisa realizada com o objetivo de fornecer uma contribuição original” (PRODANOV; FREITAS, 2013, p. 170); • em sentido lato, é todo trabalho científico resultante de uma pesquisa, realizado pela primeira vez, como é o caso das dissertaçõesiv em geral e os Trabalho de Conclusão de Cursov (TCC) de graduação ou de pós- graduação lato sensu. Pensando como um exercício de pesquisa, a monografia tem vital importância na formação do aluno pesquisador, porque independentemente do nível, lato ou estrito, é um trabalho que envolve observação, coleta de informações, organização de elementos, sistematização de ideias e comunicação de resultados. 106 T é c n ic a s e m P e sq u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Lembramos que a monografia, tal qual outros tipos de trabalho científico, necessita ser escrita de acordo com as normas da ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. No caso das monografias, vige a norma 14724:2002, a qual trata de informação e documentação de trabalhos acadêmicos. Essa é a fonte principal de normatização ao elaborarmos uma monografia, além dos manuais de orientação das diversas instituições de ensino superior e dos livros de metodologia científica. Antônio Joaquim Severino (2002) enfatiza algumas etapas para a preparação e execução de uma monografia científica: • a determinação do tema e do problema do trabalho; • o levantamento da bibliografia acerca desse tema; • a leitura e a documentação dessa bibliografia; • a construção lógica do trabalho; • a redação do texto. A escolha do tema é o primeiro passo da tarefa, tendo que ser esse muito bem delimitado para que possa facilitar o processo de pesquisa do aluno, como por exemplo, falar sobre a liberdade em geral e falar sobre a liberdade de imprensa (a delimitação do segundo tema permite ao pesquisador maior foco na pesquisa). É do tema que serão estabelecidas as estruturas de relações com outras variáveis: históricas, sociais, geográficas etc. A escolha do tema também definirá o tipo de pesquisa a ser feita: bibliográfica, de campo, etnográfica etc. A visão clara do trabalho levará o pesquisador à formulação do problema, isto é, uma questão que será desenvolvida a partir do tema. “A gênese dessa problemática dar-se-á pela reflexão surgida por ocasião das leituras, dos debates, das experiências, da aprendizagem, enfim da vivência intelectual no meio de estudo universitário e no ambiente científico e cultural” (SEVERINO, 2002, p. 75). 107 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Da formulação do problema, que representa uma questão que guiará o pesquisador no desenrolar de seu trabalho, desencadear-se-á a hipótese central, que poderá ser comprovada ou refutada no desenvolvimento do raciocínio. A partir dessa tomada de posição sobre o tema e seu problema, firma-se a tese, ou ideia central, “proposição portadora da mensagem principal do trabalho que deverá ser demonstrada logicamente através do raciocínio (SEVERINO, 2002, p. 75). O levantamento da bibliografia e sua documentação caracteriza-se pelo trabalho de “garimpagem” de fontes bibliográficas de diversos tipos (livros, artigos, repertórios, catálogos bibliográficos, boletins, dicionários especializados, monografias, revistas e periódicos acadêmicos). Parte-se para documentação de tal repertório, por meio de fichas bibliográficas, como já visto no módulo 3. O aluno deverá, para tal, elaborar um roteiro primeiro de seu trabalho, ainda provisório. De posse desse roteiro, partirá para análise dos documentos, os quais já foram selecionados em uma primeira triagem, feita a partir da elaboração das fichas de síntese das obras. Combina-se, na leitura, o critério da atualidade (das mais atuais às mais antigas) e da generalidade (obras gerais, enciclopédias, dicionários especializados, monografias e revistas especializadas). Essa leitura deve ser feita em função do tema e do problema eleitos como foco de trabalho da monografia e não deve ter caráter generalista pois, nessa fase, são escolhidos os aspectos das obras que interessarão à pesquisa. A construção lógica do trabalho “é a coordenação inteligente das ideias conforme as exigências racionais de sistematização própria do trabalho” (SEVERINO, 2002, p. 81-82). Essa construção é expressa por meio do encadeamento dos raciocínios utilizados para demonstração da hipótese formulada no início do trabalho. Neste momento, vale voltarmos às regras de coesão, coerência, concisão e intertextualidade, apresentadas anteriormente, as quais fornecem ao trabalho clareza e objetividade. 108 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Do ponto de vista formal, o trabalho apresenta três fases: 1. Introdução – demonstra a questão, articulando-a a outros trabalhos já escritos e justificando a pertinência e a relevância do trabalho. Nesse momento também são delimitados os objetivos, anunciados o tema e problema, a tese e os procedimentos de pesquisa. Tal texto deve ser sintético e objetivo. 2. Desenvolvimento – corresponde ao corpo do trabalho, em toda sua estrutura de seções, capítulos e itens, formando uma estrutura lógica e de sentido. Cada capítulo deve ter títulos expressivos, que anunciam a ideia do conteúdo do mesmo. Nesta fase também é feita a fundamentação lógica do encadeamento de raciocínio apresentado, com a discussão, análise e demonstração do percurso; 3. Conclusão – é a síntese final do trabalho, momento em que será feito um balanço geral do mesmo, resgatando brevemente seu percurso e apresentando os resultados obtidos. Na fase de redação do texto, serão observados os critérios já elencados anteriormente, transformados num texto que se dirige a um possível leitor interessado pelas questões apresentadas pelo trabalho. Essa redação não será, de início, definitiva e será composta por vários rascunhos (nesse ponto, a importância e a facilidade que o meio eletrônico trouxe é fundamental, dando a liberdade do autor produzir tantos rascunhos necessitar e salvá-los). A linguagem deve ser sóbria, precisa e clara, sem dar lugar a hermetismos, esoterismos, sentimentalismos ou pomposidades. Cabe, finalmente, alertarmos para a construção do parágrafo, cabendo a justa medida entre o excesso de parágrafos e a quase inexistência dos mesmos. Os Atenção! A introdução é a última parte do trabalho que deve ser escrita. 109 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o parágrafos representam a articulação do raciocínio do autor e devem colaborar para tal função. b. O artigo científico: características e recomendações Os artigos científicos são “pequenos estudos, porém completos, que tratam de uma questão verdadeiramente científica, mas que não se constituem em matéria de um livro” (MARCONI; LAKATOS, 2001, p. 84). Os mesmos, geralmente, demonstram o resultado de uma pesquisa ou estudo e são apresentados em evento (congressos, encontros, seminários) ou publicado num periódico especializado. Por meio destes discutem-se ideias, métodos, técnicas, processos e resultados encontrados nas diversas áreas do conhecimento. O artigo pode resumir, analisar e discutir informações já publicadas, bem como apresentar temas ou abordagens originais. Segundo a NBR 6022 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2003), que estabelece as regras para artigo em publicação periódica impressa, artigo científico é a parte de uma publicação com autoria declarada, que apresenta e discute ideias, métodos, técnicas, processos e resultados nas diversas áreas do conhecimento. A norma reconhece dois tipos de artigos: artigo original, também chamado de científico, é aquele que apresenta temas ou abordagens próprias, geralmente relatando resultados de pesquisa; e artigo de revisão, em geral, resultado de pesquisa bibliográfica, caracteriza-se por analisar e discutir informações já publicadas (PRODANOV; FREITAS, 2013, p. 159). Por seu caráter sintético e objetivo, os artigos científicos são de grande circulação no meio acadêmico e facilitam a inserção dos estudantes no universo das pesquisas científicas, demonstrando uma trajetória de pesquisa ou argumentativa. 110 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Os artigoscientíficos são muito utilizados como exercício de pensamento e ensaio de pesquisas que ainda estão em andamento, podendo ser classificados, segundo Marconi e Lakatos (2001), em três tipos: • Artigo de Argumento Teórico – é um artigo que apresenta argumentos favoráveis ou contrários a uma opinião. Só é recomendável quando o pesquisador se encontrar em um nível de experiência diferenciado, pois requer aprofundamento de pesquisa; • Artigo de análise – o autor realiza uma análise dos elementos constitutivos de um assunto, englobando a descrição, a definição, a classificação do assunto. Tem como objetivo estabelecer uma relação das partes com o todo. • Artigo classificatório – o pesquisador classifica os aspectos de determinado assunto e explica suas partes. Costuma ser o tipo mais utilizado e divide-se em: definição, descrição objetiva e análise. Em suma, a redação de um artigo científico dá a oportunidade do pesquisador introduzir aspectos de um assunto ainda não estudado, dar uma nova interpretação a assuntos já estudados ou até mesmo apresentar questões secundárias que não caberiam em uma obra que está sendo escrita. Sua forma estilística deve ser clara, concisa e simples, de modo que exerça a sua função comunicativa. A estrutura formal do artigo científico será apresentada no módulo 6. No presente módulo destacaremos algumas recomendações para a escrita do mesmo. Segundo Campana (2000), antes da redação de um artigo ou comunicação científica, algumas questões devem ocupar a atenção do pesquisador; a. O que se pretende dizer com o trabalho? Essa pergunta tem a ver com a relevância e o objetivo do mesmo, relacionado ao público a que se destina; 111 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o b. Como a pesquisa foi delineada? Qual a metodologia utilizada? A mesma atendeu aos propósitos da pesquisa? c. O artigo é merecedor de ser publicado? Uma vez que o mesmo destinar- se-á à publicação no meio científico ele deve trazer alguma contribuição para discussão de determinada questão. d. Qual é a melhor forma para apresentação da pesquisa? Além do artigo científico, há outras formas de publicação, como o paper, carta ao editor, revisão etc. e. Para qual meio de publicação deve ser enviado? Essa pergunta dependerá da própria natureza do trabalho e da temática que as revistas científicas abordam. Acrescentaríamos a essas questões formuladas por Campana, a necessidade da abordagem ética sobre a pertinência e originalidade da publicação, para que possa, de fato, analisar a viabilidade da sua execução. Deve ser feita uma avaliação de sua adequação, exatidão, unidade, honestidade em termos acadêmicos e contribuição para posteriores estudos. Síntese A monografia e o artigo científico são duas modalidades de escrita acadêmica que, embora distintas, seguem as recomendações técnicas da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, e apresentam rigor teórico-metodológico na sua elaboração e redação. Além da técnica, a questão ética deve permear toda formulação e escrita de um trabalho científico, seja qual for a sua natureza. 112 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o 5.1.2 Recomendações para evitar o plágio Segundo o Dicionário On-line de Português, o plágio é a “ação de apresentar alguma coisa (trabalho, livro, teoria etc.) como se esta fosse de sua própria autoria, embora tenha sido criada e/ou desenvolvida por outrem” (https://www.dicio.com.br/) Tal ação não se restringe somente às obras oriundas da Academia, mas também da literatura, música, jornalismo, direito e outras áreas onde se configure a noção de autoria. Nos últimos anos, com a difusão da rede internacional de computadores, essa ação vem sendo constantemente discutida por diversas áreas da sociedade civil, incluindo as comissões de ética das áreas relativas. Foram elaboradas, então, orientações e normatizações a respeito da utilização do plágio, as quais implicam em sanções da ordem dos próprios comitês de ética até sanções jurídicas, ligadas ao direito. Na área acadêmica, as comissões de ética têm elaborado documentos a respeito do direcionamento ético das pesquisas, explicitando nessas recomendações, a questão do plágio. Prodanov e Freitas (2013), destacam alguns princípios éticos que devem ser observados na produção de trabalhos acadêmicos, sejam eles de diversos tipos: I. A responsabilidade do pesquisador no que diz respeito à sua investigação científica; II. O caráter antiético da apropriação indevida de obras intelectuais, considerada como crime de violação de direitos autorais; III. A autoria como esteio balizador da pesquisa; IV. A observação às normatizações da ABNT na execução e formatação dos referidos trabalhos. 113 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Especificamente falando em pesquisas acadêmicas e plágio, existem recomendações da CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior – em nível federal e da FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, para que as instituições de ensino superior adotem políticas de conscientização e informação sobre a chamada propriedade intelectual, como forma de evitar o plágio acadêmico. Além disso, existem comitês específicos para discussão da ética nas pesquisas acadêmicas nas diversas áreas do conhecimento. Os comitês de ética em pesquisa são responsáveis pela avaliação ética dos projetos de pesquisa e devem informar e educar seus membros e a comunidade quanto a sua função no controle social. No âmbito jurídico, como bem destacam Pithan e Vidal (2013), a questão do plágio insere-se na problemática dos direitos autorais, direitos esses que são assegurados pela Constituição Federal de 1988 e pela Lei Federal 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, a qual altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais. Segunda tal legislação, o autor é definido como “a pessoa física criadora de obra literária, artística ou científica” (BRASIL, 1998), cabendo-lhe proteção quando da violação de sua autoria e responsabilizando quem se utilizar de sua obra, sem referenciá-lo, por danos morais. Cabe aqui destacarmos que é função das universidades e faculdades a orientação e o acompanhamento dos trabalhos de seus alunos, dando-lhes suporte teórico e metodológico para evitar a apropriação de ideias de outrem sem a devida referenciação. Acrescido ao acompanhamento institucional, o estudante de graduação/pós-graduação deve ter em mente as principais recomendações: a. A consulta às fontes bibliográficas é um exercício saudável e necessário para que o mesmo adquira amadurecimento intelectual; b. Tal consulta deve, primeiramente, ser fonte de estudo aprofundado, documentação minuciosa, para verificação da sua contribuição no trabalho a ser desenvolvido pelo aluno-pesquisador; c. Os documentos apurados de tal consulta poderão fazer parte do corpus teórico do trabalho do aluno, desde que sempre referenciados em sua autoria e 114 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o que tenham servido como inspiração, premissa ou mesmo fonte de contestação; d. Quando da necessidade de citação de algum trecho de artigo, livro ou outra documentação, o aluno deverá seguir as regras da ABNT, tanto no caso de citação direta quanto no de paráfrase8; e. A elaboração de um arquivo virtual contendo todos textos e fontes citados é recomendável, em caso de necessidade de nova consulta ou de sanar alguma dúvida. f. A revisão do texto é um ótimo meio do autor verificar se foram utilizadasmuitas citações e referências e quanto de pensamento autoral foi ali despendido. g. A escrita do texto sempre deverá ser acompanhada pelo professor orientador do trabalho. Tal acompanhamento deverá ser sistemático e não somente ao final do trabalho. h. Existem hoje softwares que fazem o trabalho de revisão de possíveis escritos sem referenciação. O aluno e a instituição de ensino podem utilizar-se dos mesmos. Por fim, o trabalho de autoria, um dos objetivos principais do ensino superior, demanda do aluno um exercício de rigor intelectual e esse exercício só será bem feito se o mesmo tiver seriedade nos estudos e acompanhamento devido. Síntese O tema do plágio na elaboração de trabalhos acadêmicos está relacionado a questões de cunho institucional, legal e ético. Cabe ao aluno-pesquisador além do estudo rigoroso do campo teórico e da realização da pesquisa empírica, a observância das regras de referenciação aos autores, conforme o que preveem as normatizações existentes. Cabe às Instituições de ensino superior a orientação e o acompanhamento aos seus alunos. 115 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Após analisarmos as questões estilísticas e de ética na pesquisa acadêmica, adentraremos a tópicos mais técnicos na elaboração de trabalhos, os quais demonstram a seriedade na elaboração do trabalho e a necessidade do aluno-pesquisador em seguir as orientações dadas pelas normatizações específicas. Serão, pois, apresentadas algumas orientações gerais sobre citações, notas de rodapé e referências bibliográficas, ancoradas pela normatização da ABNT e dos manuais de metodologia científica. É importante destacarmos que, para uma consulta minuciosa e pormenorizada, deverá sempre ser utilizada a normatização específica da ABNT. 5.1.3 Citações As citações são “elementos retirados dos documentos pesquisados durante a leitura da documentação e que se revelam úteis para corroborar as ideias desenvolvidas pelo autor no decorrer do seu raciocínio” (SEVERINO, 2002, p. 106). De acordo com a NBR 10520:2002b, podemos definir: ▪ citação: menção de uma informação extraída de outra fonte. ▪ citação de citação: citação direta ou indireta de um texto em que não se teve acesso ao original. É o chamado apud. ▪ citação direta: transcrição textual de parte da obra do autor consultado. ▪ citação indireta: texto baseado na obra do autor consultado, com pequenas alterações. 116 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Algumas orientações devem ser seguidas quando utilizamos citações. a. Quando o texto citado possuir até três linhas: • A citação deve ser feita no próprio texto, entre aspas duplas (“), no mesmo tamanho e fonte utilizada no texto; • Caso o texto já tenha palavras com aspas duplas, o autor deve substituí-las por aspas simples (‘); • Os autores podem ser enunciados antes da citação ou somente ao final dela (nesse caso, o sobrenome é escrito em caixa alta, ficando entre parênteses). Exemplos: b. Quando o texto a ser citado possuir mais de três linhas: • As citações longas devem ter um recuo de 4 cm da margem esquerda, com texto, justificado, com fonte menor (geralmente 11). De acordo com Veiga-Neto (2002, p. 25), “para compreender como as Ciências Humanas estabeleceram suas representações acerca da realidade, é preciso rastrear as origens da sua racionalidade”. ou “Para compreender como as Ciências Humanas estabeleceram suas representações acerca da realidade, é preciso rastrear as origens da sua racionalidade”. (VEIGA-NETO, 2002, p. 25) 117 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Exemplo: c. Quando a citação for indireta: a citação indireta é um texto baseado na obra consultada, podendo ser uma paráfrase ou comentário da obra. Nesse caso, deve ser acrescentado, entre parênteses, o nome do autor em caixa alta, e o ano. Por ser um comentário ou paráfrase não é necessário inserir aspas, nem indicar a página, até porque a ideia descrita pode estar distribuída em várias páginas. Exemplo: Quanto à questão da moral: Expor as condições de criação dos valores vigentes, sua arbitrariedade, sua historicidade, não significa sumariamente invalidá-los. Significa, em vez disso, tão somente situá-los, colocá-los em sua devida e respeitável posição de criaturas, de invenções, de artefatos. Um valor deve saber o seu lugar. (SILVA, 2002, p.8). ou Quanto à questão da moral, Tomaz Tadeu da Silva (2002, p.8), alerta: Expor as condições de criação dos valores vigentes, sua arbitrariedade, sua historicidade, não significa sumariamente invalidá-los. Significa, em vez disso, tão somente situá-los, colocá-los em sua devida e respeitável posição de criaturas, de invenções, de artefatos. Um valor deve saber o seu lugar. A escola é um ambiente de comunicação em que determinados atos têm efeitos tanto para que a frequenta, quanto para a sociedade como um todo (CORREA, 2004). Na escola o principal exercício é o da imobilidade, promovido em pelo menos quatro horas diárias de rituais particulares. 118 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o d. Citação de citação: é a menção de um documento ao qual não se teve acesso, mas que foi citado em outro trabalho. Tal recurso somente é recomendado quando da impossibilidade de ter acesso ao texto original ou quando o mesmo for um documento histórico muito antigo, ou em língua diversa. • Usa-se a expressão apud que em latim significa “citado por”, após as informações do texto citado e em seguida cita-se a fonte pesquisada (onde a citação estava inserida). Exemplo: Algumas outras observações podem ser feitas ainda em relação às citações: ✓ Caso haja no texto citado algo que se julgue estranho, que deva ser corrigido, coloca-se a expressão (sic!), entre parênteses, indicando que era dessa forma que o texto estava escrito; ✓ Caso queira se dar ênfase a uma palavra, a mesma pode ser escrita em negrito. Essa alteração deve ser assinalada com a expressão “grifo nosso”, colocada entre parênteses no texto ou em nota de rodapé; “Ele quer falar de alguma coisa para além da lenda, de algo que não conhecemos e que ele mesmo não saberia, em consequência, designar com mais precisão.” (KAKFA, 1980, p. 727 apud LINS, 2004, p. 109). ou Segundo o que nos diria Kafka (1980, p. 727 apud LINS, 2004, p. 109), “ele quer falar de alguma coisa para além da lenda, de algo que não conhecemos e que ele mesmo não saberia, em consequência, designar com mais precisão”. 119 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Exemplo: “A arte de desenvolver uma estratégia bem-sucedida e sustentável [...]” (KAPLAN; NORTON, 2OOO, P. 103, grifo nosso). O mesmo ocorre quando o autor citado grifa uma palavra e trecho do seu texto. Neste caso usa-se “grifo do autor”; ✓ Os textos em outras línguas são traduzidos no corpo do trabalho. Somente em trabalhos de estudos linguísticos devem ser mantidos em sua língua original; ✓ Supressões de texto, comentários e acréscimos devem ser indicados dentro de colchetes. Exemplo: “Há um vaivém permanente entre um raciocínio ordenado [...] e o sentimento.” (LINS, 2004. P. 108). 5.1.4 Notas de Rodapé Segundo Severino (2002), as notas de rodapé têm três finalidades: • Indicar a fonte de onde é retirada a citação, quando a mesma nãofor feita no corpo do próprio texto; • Inserir considerações complementares que podem ser úteis aos leitores; • Trazer a versão original de um texto que foi traduzido no corpo do trabalho, a fim de compará-los. A NBR 10520:2002b conceitua as notas como: a. Notas de referência – aquelas que indicam as fontes consultadas ou remetem a outras partes da obra onde o assunto foi consultado; b. Notas de rodapé – são as indicações, observações ou acréscimos feitos pelo autor; 120 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o c. Notas explicativas – utilizadas para comentários, esclarecimentos ou explanações. De toda forma, todas essas notas costumam aparecer no rodapé da página e são digitadas em espaço simples, com fonte 10. Exemplos: Quanto às notas de referência há algumas considerações a fazer: a. A numeração das mesmas deve ser única e consecutiva para cada capítulo ou parte; b. A primeira citação de uma obra deve ter a sua referência completa (autor, título, cidade da publicação, editora e ano); c. As citações subsequentes da mesma obra podem ser referenciadas de forma abreviada, utilizando-se as seguintes expressões, conforme o caso. Notas de referência: ________________________________ 1. FARIA, José Eduardo (Org.). Direitos Humanos, direitos sociais e justiça. São Paulo: Malheiros, 1994. Notas explicativas ou de rodapé: _______________________________ 2. Veja-se, como exemplo, o estudo feito por Corazza (2002). 121 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o EXPRESSÃO LATINA ABREVIATURA UTILIZAÇÃO EXEMPLO Apud (citado por) Pode ser usada tanto no texto quanto na nota de rodapé. Segundo Kafka (1980, p. 727 apud LINS, 2004, p. 109). Idem ou Id. * (do mesmo autor) Usada em substituição ao nome do autor, quando se tratar de citação de diferentes obras de um mesmo autor. 1. FOUCAULT, 1978. 2. Id., 1994. 3. Id. 2000. Ibidem ou Ibid. * (na mesma obra) Usada em substituição aos dados da citação anterior, pois o que difere apenas é o número da página. 1.DELEUZE, Giles. A ilha deserta. São Paulo: Iluminuras, 2006, p. 177. 2. Ibid., p. 180. Opus citatum ou op. cit. * (obra citada) Usada no caso de obra citada anteriormente, na mesma página, quando houver outras notas. 1. FOUCAULT, 1978, p. 123. 2. DELEUZE, 2006, p. 177. 3. FOUCAULT, op. cit., p. 40. 4. DELEUZE, op. cit., p.196. Passim (em diversas passagens) Usada quando a informação é retirada de diversas páginas do documento citado. 1. LINS, 2004, passim. Loco citado ou loc. cit. (no lugar citado) Usada para designar a mesma página de uma obra já citada anteriormente, mas com intercalação de notas. 1. FOUCAULT, 1978, p. 123. 2. LINS, 2006, p. 177. 3. FOUCAULT, 1978, loc. cit. Confira ou Cf. * (confronte) Usada como abreviatura para recomendar a consulta a um trabalho ou nota. 1. Cf. DELEUZE, 2006, p. 177. 2. Cf. nota 2 desta seção. Sequentia ou et. seq. (seguinte) Usada quando não quer se citar todas as páginas da obra referenciada. 1. DELEUZE, 2006, p. 177 et. seq. 122 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o * Só podem ser utilizadas na mesma página da citação a que se referem. ** Todas essas expressões, à exceção do apud, só podem ser utilizadas em notas de rodapé e não no corpo do texto. 5.1.5 Referências A NBR 6023:2002 conceitua referência como “conjunto padronizado de elementos descritivos, retirados de um documento, que permite sua identificação Individual” (ABNT, 2002a). As referências, tanto utilizadas nas notas de referência, quanto ao final do texto, são de fundamental importância para que o autor forneça a informação completa de todas as obras consultadas, em diversos meios (livros, periódicos, internet etc.). Há uma pormenorização de toda a normatização das referências na NBR 6023:2002, a qual não pretendemos abarcar, dada a amplitude de nosso trabalho. Apenas faremos alguns pequenos destaques que podem ser úteis quando da elaboração das referências bibliográficas: a. As referências sempre dão atenção ao autor da obra, título da obra, cidade de publicação, editora e ano de publicação. Essa é a formatação mais simples que é apresentada. Exemplo: DELEUZE, Giles. A ilha deserta. São Paulo: Iluminuras, 2006. b. Devem ser observadas questões relativas à apresentação desses itens, como: I. Sobrenome do autor em caixa alta; II. Título da obra em negrito ou itálico; III. Após a informação da cidade utiliza-se dois pontos ( : ); IV. Após a informação da editora utiliza-se a vírgula. 123 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o c. Para cada caso de obra há um acréscimo de informações ou modos de separação das informações específicos. Como o estudante se utiliza de diversas fontes, é necessário que o mesmo proceda à pesquisa da referenciação das mesmas na própria NBR 6023:2002 ou nos manuais para elaboração de trabalhos de conclusão de curso de sua respectiva instituição de ensino superior; d. Os artigos científicos costumam utilizar-se da mesma referenciação das monografias e trabalhos de conclusão de curso – TCC; e. O importante é proceder à correta referenciação para que o leitor do trabalho possa, caso queira, ter acesso à mesma com facilidade. Síntese As citações, notas de rodapé e as referências bibliográficas são elementos importantes na elaboração dos trabalhos acadêmicos. Os mesmos conferem rigor e organicidade ao trabalho e contribuem para torná-lo autoral, obedecendo aos critérios de ética e transparência na pesquisa. Todos esses elementos obedecem às normatizações elaboradas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT. 124 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o 5.2 Considerações finais Chegamos ao fim do Módulo 5, “Redação e apresentação do trabalho científico”. Estamos nos aproximando do final da nossa disciplina e, finalmente, no módulo 6, serão apresentadas a estruturação formal do artigo científico e da monografia. Para chegarmos até lá vivenciamos 5 módulos que apresentaram orientações e questões diversas sobre tipos de conhecimento, métodos científicos, a organização dos estudos na universidade, a pesquisa científica e a redação do trabalho científico. Lembramos que a consulta às referências bibliográficas e as indicações de leitura complementam toda discussão aqui apresentadas. Por fim, para socializarmos algumas ideias e partilharmos dúvidas e inquietações conversaremos por meio do nosso fórum e lançaremos algumas questões para verificação da sua aprendizagem. Até a próxima! 125 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Notas explicativas: 1 A Ordem do Discurso - livro que reproduz a aula inaugural ministrada por Michel Foucault ao assumir a cátedra no Collège de France pela morte de Jean Hyppolite em 2 de Dezembro de 1970. 1 A voz passiva sintética ou pronominal constrói-se com o verbo na 3ª pessoa, seguido do pronome apassivador “se”. O agente da passiva não costuma vir expresso na voz passiva sintética. 1 Tese: “Documento que representa o resultado de um trabalho experimental ou exposição de um estudo científico de tema único e bem delimitado. Deve ser elaborado com base em investigação original, constituindo-se em real contribuição para a especialidade em questão.É feito sob a coordenação de um orientador (doutor) e visa a obtenção do título de doutor, ou similar” (NBR 14724:2002c, p. 3). 1 Dissertação: “Documento que representa o resultado de um trabalho experimental ou exposição de um estudo científico retrospectivo, de tema único e bem delimitado em sua extensão, com o objetivo de reunir, analisar e interpretar informações. Deve evidenciar o conhecimento de literatura existente sobre o assunto e a capacidade de sistematização do candidato. É feito sob a coordenação de um orientador (doutor), visando a obtenção do título de mestre” (NBR 14724:2002c, p. 2). 1 O TCC é um trabalho que o estudante universitário deve desenvolver para demonstrar o conhecimento cientifico adquirido ao longo de sua graduação ou pós-graduação. Ele pode ser apresentado de várias formas: monografia, artigo cientifico, relatório de estágio, tese de doutorado e dissertação de mestrado. 1 A paráfrase é um recurso de linguística que pretende explicar e ampliar uma informação. Para tal, faz uma espécie de imitação do discurso original, ainda que recorrendo a uma linguagem diferente. Fonte: http://conceito.de/parafrase 126 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o MÓDULO 6 - Estrutura da monografia: orientações Cláudia Ribeiro Calixto Técnicas em Pesquisa e Construção de Textos Científicos. Módulo 6 – Estrutura do trabalho científico (FCE) – São Paulo – 2016. Guia de Estudos – Módulo 6 – Estrutura do trabalho científico 3. Trabalho científico. 2. Monografia. 3. Artigo Científico. Orgs.: Adriana Alves Farias e Cláudia Regina Esteves Faculdade Campos Elíseos 127 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Conversa Inicial Caro(a) aluno(a), No trajeto até aqui percorrido, vimos uma tipologia de conhecimentos, enfocamos as características do conhecimento científico, dispusemos os métodos científicos mais circulados, situando sua construção histórica e destacamos o papel e a história das universidades. Enfatizamos a importância da documentação como método de estudo pessoal, em especial a documentação temática, a bibliográfica e a documentação geral. A partir desse ponto, centramos nossa atenção na pesquisa científica, quando destacamos os tópicos relevantes na estrutura de um projeto de pesquisa, os elementos e etapas de um projeto. No módulo anterior, permeamos o conceito de autoria, tematizamos a questão da ética e problemática do plágio, conceituamos monografia e artigo científico. Chegamos, enfim, ao último módulo da disciplina Técnicas em Pesquisa e Construção de Textos Científicos, intitulado Estrutura do trabalho científico. Neste módulo, serão abordadas, de forma geral, a estrutura formal e as regras de apresentação do trabalho, de acordo com as normas dispostas pela Associação Brasileira de Notas Técnicas, tanto para a escrita de uma monografia quanto para o texto de um artigo científico. Bons estudos e boa escrita! 128 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Para início de conversa.... Por que a escrita de um trabalho científico deve seguir certas normas técnicas e padronização? Qual é a forma que devemos conferir ao texto? O que devermos observar quanto à formalização da escrita de um estudo? Quais são e onde estão disponíveis as normas de escrita do trabalho científico? É o que veremos neste módulo. As normas definem a forma e estrutura do trabalho e são estabelecidas por pesquisadores envolvidos nos debates acerca dos estudos acadêmicos e das áreas de conhecimento. A normatização, conforme defendem Martins e Theóphilo (2016), possibilita, por um lado, a efetivação de uma circulação orgânica aos textos e, por outro, nos libera para concentrarmos nosso exercício criativo e analítico àquilo que realmente confere relevância ao trabalho: o tratamento analítico. As normas nos liberam de responder questões de ordem de forma, tais como: - Que elementos devem ser observados nessa escrita? - Como o texto deve ser estruturado? - Que itens registrar? Em que sequência? Com que formatação? - Quais os procedimentos básicos a serem seguidos? 129 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Assim, a normatização e utilização de padrões técnicos possibilitam organização e fluxo ao acesso e circulação das comunicações dos trabalhos científicos, a comparação entre diferentes pesquisas e catalogação para fins de diferentes tipos de consultas e para diferentes tipos de leitores (pesquisadores e interessados). Fundada no ano de 1940, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) regula e define a normatização técnica no Brasil. As normas, por ela publicadas, via de regra, orientam a formatação e a edição dos trabalhos científicos das instituições de ensino superior no país. As deliberações da ABNT são editadas por meio de normas técnicas sob a sigla NBR (Norma Brasileira Editada). 6.1 Monografia O trabalho científico, segundo Antônio Joaquim Severino (2002), tem por fim comunicar os resultados de uma pesquisa. Essa comunicação assumirá a forma escrita de uma monografia que, como já vimos, poderá ser resultado de um trabalho de conclusão de curso ou especialização, de uma dissertação de mestrado ou de uma tese de doutoramento. Sua estrutura formal prevê três partes constitutivas (ABNT, 2003): elementos pré-textuais, textuais e pós- textuais. Vejamos a seguir tais elementos. 130 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o 6.1.2 Elementos pré-textuais Os elementos pré-textuais (ABNT, 2002c) referem-se àquelas informações que auxiliam na identificação, consulta e utilização do trabalho por outras pessoas. Note que alguns são obrigatórios, outros opcionais. Veja na ilustração abaixo os elementos pré-textuais no conjunto e, abaixo, a discriminação de cada um desses tópicos. a. Capa (item obrigatório) Refere-se à proteção externa do trabalho, sobre a qual são impressas as informações indispensáveis de identificação. Nela, todo o texto deverá ser redigido em fonte Times New Roman ou Arial, tamanho 12, em negrito, com espaçamento entre linhas de 1,5. Deverá conter as seguintes informações: ✓ Nome da instituição (todo em letra maiúscula – centralizado) ✓ Nome da faculdade (todo em letra maiúscula – centralizado) ✓ Nome do departamento (todo em letra maiúscula – centralizado) ✓ Nome do programa de pós-graduação – (todo em letra maiúscula – centralizado). LISTAS (se necessário) ABSTRACT RESUMO EPÍGRAFE (opcional) AGRADECIMENTOS (opcional DEDICATÓRIA (opcional) FOLHA DE APROVAÇÃO FOLHA DE ROSTO FACULDADE CAMPOS ELÍSIOS PEDAGOGIA PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO ESCOLAR ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR E RELAÇÕES DE PODER: um estudo sobre as racionalidades políticas nas práticas de gestão escolar na atualidade Clarice Pallazzi Ribeiro Orientadora: Profa. Dra. Sônia da Silva SÃO PAULO 2016 São Paulo 201 131 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o ✓ Título e subtítulo do trabalho (10 espaços abaixo da linha do programa) ✓ Nome completo do autor (dois espaços, após o anterior – primeira letra em maiúscula) ✓ Nome do orientador (na linha seguinte ao anterior – primeira letra em maiúscula) ✓ Local – penúltima linha da folha – todas as letrasmaiúsculas ✓ Ano de defesa – última linha da folha b. Lombada (opcional) As informações devem ser impressas, conforme NBR 12.225, do alto para o pé da lombada, constando o nome do autor impresso longitudinalmente, de forma legível, o título do trabalho e elementos alfanuméricos de identificação (por exemplo, v.2). Veja um exemplo: FACULDADE CAMPOS ELÍSIOS PEDAGOGIA Clarice Pallazzi Ribeiro ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR E RELAÇÕES DE PODER: um estudo sobre as racionalidades políticas nas práticas de gestão escolar na atualidade São Paulo 2016 ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR E RELAÇÕES DE PODER: um estudo sobre as racionalidades políticas nas práticas de gestão escolar na atualidade CLARICE PALLAZZI RIBEIRO FCE 2016 132 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o c. Folha de rosto (obrigatório) Nela, devem ser registradas as informações essenciais do trabalho, na ordem: ✓ nome do autor (responsável intelectual do trabalho); ✓ título principal do trabalho; ✓ subtítulo, se houver, subordinado ao título principal, precedido de dois pontos; ✓ número de volumes (se houver mais de um); ✓ natureza (tese, dissertação, trabalho de conclusão de curso, outros), objetivo (aprovação em disciplina, grau pretendido e outros), nome da instituição a que é submetido e área de concentração; ✓ nome do orientador e coorientador (se houver); ✓ local onde deve ser apresentado; ✓ ano de depósito (entrega). 3 cm NOME DO AUTOR TÍTULO DO TRABALHO: (SUBTÍTULO, SE HOUVER) 3 cm 2cm Trabalho de conclusão de curso apresentado à banca examinadora da Faculdade Campos Elísios como requisito para aprovação no curso (nome). Orientador: (nome do professor) CIDADE ANO 2cm Fonte tamanho 12 Fonte tamanho 10 Fonte tamanho 12 Fonte tamanho 12 133 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o d. Ficha catalográfica (obrigatório) Trata-se de um quadro que contém as informações básicas do trabalho para fins de catálogo bibliográfico. Observe no exemplo os elementos e disposições das informações: A ficha catalográfica deve ser registrada no verso da folha de rosto. e. Errata (opcional) É possível que, concluído e impresso o trabalho, alguma informação equivocada ou erros de digitação sejam identificados. Nesse caso, elabora-se uma lista de correções na qual se relacionam as folhas e linhas que contém erros, seguidas das devidas correções. Essa folha pode ser encartada no trabalho ou apresentada à parte. Sobrenome, Nome. Título da monografia: subtítulo/ Autor (nome e sobrenome), ano. Total de folhas. Orientador: Nome e sobrenome. Monografia (Especialização) – Faculdade Campos Elíseos, cidade, ano. 1. Assunto. 2. Assunto. 3. Assunto. I. Faculdade Campos Elíseos. Nome da faculdade (Ex: Pedagogia). II. Sobrenome, nome do autor. III. Título. Sobrenome, Nome. Título da monografia: subtítulo/ Autor (na ordem direta – nome e sobrenome), ano. Total de folhas. Orientador: Nome e sobrenome. Monografia (Especialização) – Faculdade Campos Elíseos, cidade, ano. 1. Assunto. 2. Assunto. 3. Assunto. I. Faculdade Campos Elíseos. Nome da faculdade (Ex: Pedagogia). II. Sobrenome, nome do autor. III. Título. 134 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o f. Dedicatórias (opcional): g. Agradecimentos (opcional): após a dedicatória. Nesse item, o autor poderá manifestar seu agradecimento àqueles que tiveram papel relevante no desenvolvimento de seu processo. A meus pais, pelo apoio de sempre. Alinhamento à direita, com espaçamento de 1,5, ao final da página. Agradeço ao professor e orientador (nome) por ... e aos demais professores desta Faculdade por... Alinhamento justificado, com espaçamento de 1,5 e em negrito. 135 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o h. Epígrafe (opcional) Uma citação relacionada com a matéria do trabalho que pode funcionar como uma espécie de aguilhão do texto – evidencia uma ideia que perpassa o trabalho. i. Resumo na língua do texto O resumo deve apresentar, numa sequência de frases sucintas, como define a NBR 6022 (ABNT, 2003). Nessa parte, os objetivos, a metodologia e os resultados devem ser apresentados de forma enxuta. O texto deve alcançar um total de até quinhentas palavras. Na linha abaixo, devem ser registradas as palavras-chave (palavras que remetam ao conteúdo do texto). Não se deve fazer uso de citações e parágrafos. Emprega-se a terceira pessoa e o verbo deve estar na voz ativa. Veja o modelo e formatação a ser observada: “Anseios de felicidade anseios de verdade anseios de eternidade, olhem só!” Wislawa Szymborska Alinhamento à direita, com espaçamento de 1,5. O texto não deve ultrapassar a metade da folha e o nome do autor deve ser registrado em itálico. Texto ao final da página, entre aspas. RESUMO Jojojo jojoj ojojo jojojj ojojojoj ojojo jojo ojojo joojojoj oooo ojojojojoj oojo jojojoo joj ojoj ojojo jojo ojojo jojoo jojoj oojoj ojojo joojjo joojo joj ojoj ojojojo jojoojo joj ojojoj ojojo ojojo jojoj oojoj ojo jojojojojo jojojojojo joojoj ojojojo jojojoj ojoj oojoj ojoj ojojoo joj ojoj ojjo. Alinhamento justificado. Texto iniciado junto à margem, esquerda, em um só parágrafo, espaçamento simples, sem negrito e em itálico. Título: letras maiúsculas, centralizado. Espaço de 1,5 entre título e texto. 136 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o j. Resumo em língua estrangeira (obrigatório) É o resumo tal qual apresentado no item anterior, em língua estrangeira (Abstract – em inglês, Resumem – em espanhol, Résumé – em francês) k. Lista de ilustrações (opcional) Trata-se da relação de desenhos, gravuras, imagens que acompanharam o texto. l. Lista de tabelas (opcional) Apenas para os trabalhos em que o pesquisador fez uso de tabelas para demonstrar de forma sintética e organizada os dados que serviram de elementos para alguma análise. m. Sumário (obrigatório) Trata-se da enumeração das principais divisões e subdivisões do trabalho, de acordo com a ordem e grafia que aparecem no texto, com indicação do número da página em que se inicia. Veja o modelo abaixo: ABSTRACT Jojojo jojoj ojojo jojojj ojojojoj ojojo jojo ojojo joojojoj oooo ojojojojoj oojo jojojoo joj ojoj ojojo jojo ojojo jojoo jojoj oojoj ojojo joojjo joojo joj ojoj ojojojo jojoojo joj ojojoj ojojo ojojo jojoj oojoj ojo jojojojojo jojojojojo joojoj ojojojo jojojoj ojoj oojoj ojoj ojojoo joj ojoj ojjo. Fonte: Times New Roman, tamanho 12, alinhamento justificado. Texto iniciado junto à margem, esquerda, em um só parágrafo em espaçamento simples, sem negrito e em itálico. Título: fonte Times New Roman, tamanho 12, letras maiúsculas, centralizado, em itálico. Espaço de 1,5 entre título e texto. 137 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n str u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o 6.1.3 Elementos textuais Nessa parte, a mais substancial, a matéria do trabalho será desenvolvida. Ela é composta de um encadeamento que permite ao leitor acompanhar o caminho da pesquisa, da sua intenção, do problema proposto, do levantamento do que existe já estudado sobre o tema, dos procedimentos metodológicos e da conclusão a que o pesquisador chegou. SUMÁRIO LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS..........................4 LISTA DE QUADROS......................................................5 1. CAPÍTULO I: .....................................................9 1.1 SUBTÍTULO ..................................................13 1.2 SUBTÍTULO ..................................................21 2. CAPÍTULO II: ...................................................32 2.1 SUBTÍTULO .................................................41 2.2 SUBTÍTULO .................................................50 3. CAPÍTULO III: ...................................................54 3.1 SUBTÍTULO ..................................................62 3.2 SUBTÍTULO ..................................................71 4. CONCLUSÃO ......................................................83 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................86 6. GLÓSSÁRIO .......................................................99 7. APÊNDICE 1 .....................................................100 8. ANEXO A ..........................................................104 Texto - conclusão Texto - desenvolvimento Texto - introdução 138 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o a. Introdução Nessa parte, o pesquisador apresenta a justificativa do trabalho: as razões da escolha do tema, sua problematização e apresenta os objetivos, destacando a relevância de seu objeto, anunciando a abordagem teórica e metodológica que escolheu. b. Desenvolvimento Essa é a parte principal e mais substantiva a qual deverá expor o assunto: da revisão bibliográfica à conclusão de suas análises. Aqui, o texto deverá mostrar a revisão da literatura: o pesquisador apresentará todo o trabalho realizado na pesquisa bibliográfica, dispondo os autores mais reconhecidos, as abordagens e ideias já existentes acerca do problema da pesquisa. Também deverá ser apresentada a sua problematização do tema: que novas perguntas e/ou abordagens propôs como diferencial em relação ao que já se sabe e já de diz sobre o objeto de estudo. O estudante-pesquisador deverá, então, dar a saber o embasamento teórico, sua filiação de pensamento, bem como explicitar e explicar a metodologia que escolheu para a coleta e tratamento analítico dos dados. Apresentará, então as fontes e os dados recolhidos. Apresentará, enfim, os resultados, procedendo a uma análise e apresentando suas conclusões com a confirmação ou negação das hipóteses iniciais da pesquisa. Nessa segunda parte da estrutura da monografia, o texto pode ser divido em seções e subseções, em função da abordagem e do método. 139 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o c. Conclusão É a parte final do texto. Aqui, o autor fará suas considerações finais, quando apresentará uma síntese das conclusões, focando na delimitação do problema apresentado na primeira parte e indicando se os objetivos da pesquisa foram alcançados ou não. Não deve haver citações de outras obras, bem como ser acrescidas novas informações, de modo que são evocadas apenas informações advindas do próprio trabalho, nesse momento. Ainda, devem ser apontadas possiblidades de outros estudos a partir dos resultados dessa que se encerrou, ou seja, que novas perguntas podem ser formuladas a partir dos que se investigou e que novas pesquisas podem ser suscitadas. Veja bem, nessa última parte, a escrita é curta e deve ser redigida de forma clara e concisa, ocupando-se, em média, uma folha e meia (SEVERINO, 2002). 6.1.4 Elementos pós-textuais ÍNDICES (se necessários) ANEXOS (se necessários) APÊNDICES (se necessários) GLOSSÁRIO (se necessário) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 140 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o a. Referências Bibliográficas Conforme conceituado na NBR 6023:2002 (ABNT, 2002a), a referência constitui o “conjunto padronizado de elementos descritivos, retirado de um documento, que permite a sua identificação individual”. A referência, consoante essa definição, constitui a listagem das obras citadas no texto, de onde foi extraída a informação de um documento – impressos, manuscritos, registros audiovisuais, sonoros, magnéticos eletrônicos etc. O título (REFERÊNCIAS) é centralizado na folha. As referências têm espaçamento simples entre as linhas e espaço duplo entre uma e outra. Um equívoco comum apresentado em muitas monografias é a formatação justificada das referências. Veja bem: esse registro deve ser alinhado apenas à margem esquerda da página. São elementos essenciais aqueles indispensáveis à identificação do documento e, quando necessário, são acrescidos elementos complementares. A seguir, apontaremos a forma de referência de tipo de fontes e documentos mais comuns e em acordo com as normas publicadas pela ABNT. Para a escrita de monografias, usa-se a referenciação das obras pelo sistema autor-data. São consideradas monografias: livros e/ou folhetos (manual, guia, catálogo, enciclopédia, dicionário etc.) e trabalho acadêmicos (teses, dissertações, trabalhos de conclusão de curso etc.). Quando a referência for de uma monografia com apenas um autor, seus elementos essenciais para o registro da referência são: autor(es), título, edição, local, editora e data de publicação. Assim, a indicação da fonte deve ser feita pelo sobrenome autor em letra maiúscula, seguido dos nomes em letra minúscula, após vírgula. Na sequência, são informados o título da obra e o subtítulo, se houver, separados por dois pontos. Na sequência, o número da edição, cidade de publicação, editora, ano e páginas, na conformidade que segue no exemplo: 141 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o AQUINO, Julio Groppa. Da autoridade pedagógica à amizade intelectual: uma plataforma para o éthos docente.1.ed. São Paulo: Cortez, 2014. LARROSA, Jorge. Pedagogia Profana: danças, piruetas e mascaradas. 5.ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. Note que o título, em caso de livros ou artigos é grafado em negrito (pode-se fazer uso de outro recurso tipográfico para destaque – itálico ou grifo). No caso de haver mais de uma obra de um mesmo autor no mesmo ano de edição, deve ser acrescida uma letra à frente do ano da edição em ordem alfabética: LEVI, Primo. A assimetria e a vida: artigos e ensaios 1955-1987. Organização Marco Belpoliti. Tradução Ivone Benedetti. 1.ed. São Paulo: Unesp, 2016a. _________. O ofício alheio: com um ensaio de Ítalo Calvino. Tradução Silvia Massimini Felix. 1.ed. São Paulo: Unesp, 2016b. Observe, ainda, no exemplo acima, que quando o nome do autor se repete, não é necessário escrevê-lo novamente, bastando estender uma sublinha (underline) em dois centímetros. Quando houver mais de um autor, os nomes devem ser separados por ponto e vírgula: BOOTH, Wayne C.; COLOMB, Gregory G.; WILLIAMS, Joseph M. A arte da pesquisa. Tradução Henrique A. Rego Monteiro. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005. Quando se tratar de obras cujo suporte seja a internet, o endereço eletrônico passa a constituir elemento essencial da referência, sendo registradoentre os sinais < >, precedido da expressão Disponível em:, e a data de acesso ao documento, precedida da expressão Acesso em: Vejamos um exemplo: CARVALHO, Marília Pinto de. O fracasso escolar de meninos e meninas: articulações entre gênero e cor/raça. Cadernos pagu (22) 2004: p.247-290. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/cpa/n22/n22a10.pdf>, Acesso em: 10/09/2016. 142 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Quando o documento é parte de outra obra (como o capítulo de um livro, por exemplo), os elementos essenciais são autor(es), título da parte, seguidos da expressão In:, e da referência completa da monografia no todo. No final da referência, deve ser informada a paginação ou outra forma de individualizar a parte referenciada. Note-se que o título da obra em que o documento está contido, deve ser grafado em negrito: CORAZZA, Sandra Mara. Labirintos da pesquisa, diante dos ferrolhos. In: COSTA, Marisa Vorraber (org.). Caminhos investigativos: novos olhares na pesquisa em educação. 2.ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002, p.105-131. Temos, com frequência, citações de periódicos (jornais, revistas, boletins etc.). Conforme conceituam Gilberto de Andrade Martins e Carlos Renato Theóphilo (2016, p.175) referem-se àquelas publicações que têm frequência periódica e “que apresentam artigos científicos, editoriais, matérias jornalísticas ou reportagens e seções”. A referência de periódicos tem uma diferenciação nos elementos essenciais, sequência e no destaque tipográfico (negrito, itálico ou grifo), que recai, nesse caso, no título do periódico. Seus termos essenciais são: título do periódico, subtítulo, local de publicação, editora, número, volume (e/ou fascículo), data de início e de encerramento da publicação, se houver: EDUCAÇÃO & REALIDADE. Porto Alegre: UFRS/FACED, 1975 -. Quadrimestral. Quando a referência for de partes ou matéria existente em um periódico (coleções, fascículo, número de revista, de jornal, caderno etc.; artigos científicos de revistas, editoriais, matérias jornalísticas, seções, reportagens etc.), devem ser incluídas as seguintes informações: volume, número do fascículo, números especiais e suplementos. EDUCAÇÃO E PESQUISA. Quadrimestral. Faculdade de Educação. Universidade de São Paulo. São Paulo, v.29, n.1, p. 185-193, jan./jun. 2003. EDUCAÇÃO & REALIDADE. Porto Alegre: UFRS/FACED, 1975 - . Quadrimestral. nº 41, vol. 3, 2016. 143 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Vejamos alguns exemplos de citação de matérias ou capítulos retirados de periódicos: CIDADES e territórios. Folha de São Paulo, São Paulo, 18 jun, 2016, p.2,3,6,7. Seminários Folha. CORAZZA, Sandra Mara. Currículo e didática da tradução: vontade, criação e crítica. Educação & Realidade. Faculdade de Educação. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, v. 41, n. 4, p. 1313-1335, out./dez. 2016. SAYÃO, Rosely. A questão do gênero na escola. Folha de São Paulo. São Paulo, 31/05/2016. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/colunas/roselysayao/2016/05/1776526-a- questao-de-genero-na-escola.shtml#_=_>. Acesso em: 10/10/2016. Para o registro das referências de documentos jurídicos – legislação – tais como Constituição, leis, resoluções, portarias e normas emanadas por instituições públicas e privadas (ato normativo, portaria, comunicado, circular, decisão administrativa, entre outros) segue-se o modelo padrão como apresentado a seguir: JURISDIÇÃO. Título do documento (se houver), data (se houver), Título da obra: subtítulo. Edição (se houver). Local: Editora, data. Veja alguns exemplos: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NOTAS TÉCNICAS. NBR 6023: Elaboração de referências. Rio de Janeiro, ago. 2002. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6022: informação e documentação: artigo em publicação periódica científica impressa: apresentação. Rio de Janeiro, 2003. 5p. BRASIL. Código Civil. 46.ed. São Paulo: Saraiva, 1995. Para referenciar obras de imagem em movimento (filmes, DVD, videocassetes etc.), devem ser registrados os seguintes elementos: título, diretor, produtor, local, produtora, data e especificação do suporte em unidades físicas. LIXO extraordinário. Direção: João Jardim; Karen Harley; Lucy Walker. Reino Unido/Brasil: Angus Aynshey; O2 Filmes, 2010. 1 DVD (99 min). DVD son., color. 144 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Por fim, nas referências, as obras são apresentadas em ordem alfabética do sobrenome dos autores, nome da Instituição ou obra: como vimos, um tipo de documento (monografia, por exemplo) pode ter um elemento inicial, para registro na referência, diferente de outro tipo (filme, por exemplo): ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NOTAS TÉCNICAS. NBR 6023: Elaboração de referências. Rio de Janeiro, ago. 2002. CIDADES e territórios. Seminários Folha. Folha de São Paulo, São Paulo, 18 jun, 2016, p.2,3,6,7. FOUCAULT, Michel. O Governo de Si e dos Outros: curso dado no Collège de France (1982-1983) São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010b. LIXO extraordinário. Direção: João Jardim; Karen Harley; Lucy Walker. Reino Unido/Brasil: Angus Aynshey; O2 Filmes, 2010. 1 DVD (99 min). DVD son., color. São muito variados os tipos de documentos e fontes. Caso utilize algum tipo que não estiver contemplado na lista de situações arroladas neste módulo, consulte a NBR 6023 da ABNT. b. Glossário Nessa seção do trabalho, optativa, efetua-se uma relação alfabética em que se explicam os significados das palavras, termos, conceitos e “expressões técnicas de uso restrito ou de sentido não comum na linguagem trivial que foram utilizadas no texto” (MARTINS; THEÓPHILO, 2016, p.182). A listagem do glossário deve ser registrada em página própria. Seu título deve estar centralizado, escrito com todas as letras maiúsculas. O espaçamento entre as linhas deve ser simples e entre cada item do glossário, o espaçamento de 1,5. Não deve haver espaço entre a margem e a palavra. Entre a palavra e a explicação do conceito, devem ser interpostos dois pontos. c. Apêndice Nessa parte, são incluídos materiais complementares, elaborados pelo próprio autor do trabalho, caso o mesmo julgue necessário ou conveniente, em função de sua pesquisa. 145 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o ÍNDICES d. Anexos Nessa parte, também opcional, são incluídos materiais complementares, textos ou documentos (gráficos, tabelas, imagens etc.), elaborados por outros autores e servem de fundamentação, comprovação ou ilustração do trabalho, os quais o autor julgou por bem incluir. Tal como o apêndice, os anexos devem ser empregados com parcimônia. Para você ter uma visualização gráfica da sequência dos elementos acima discriminados, conforme disposto pela ABNT, apresentamos uma ilustração ANEXOS APÊNDICE GLOSSÁRIO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CONCLUSÃO DESENVOLVIMENTO INTRODUÇÃO LISTAS (se necessário) ABSTRACT RESUMO EPÍGRAFE (opcional) AGRADECIMENTOS (opcional DEDICATÓRIA (opcional) FOLHA DE APROVAÇÃO FOLHA DE ROSTO FACULDADE CAMPOS ELÍSIOS PEDAGOGIA PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO ESCOLAR ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR E RELAÇÕES DE PODER: um estudo sobre as racionalidades políticas nas práticas de gestão escolar na atualidade Clarice Pallazzi Ribeiro Orientadora: Profa. Dra. Sônia da Silva SÃO PAULO 2016 146 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Em todas as páginas do trabalho, as margens devem ser constantes:Também a fonte deve ser a mesma – do início ao fim (escolher entre Times New Roman ou Arial), tamanho 12, excetuando as referências recuadas. ATENÇÃO: a ABNT define as linhas gerais de formatação dos textos. Entretanto, o estudante deverá consultar a normatização publicada por sua faculdade ou normas editoriais do periódico, em caso de artigo científico, para certificar se há alguma complementação ou orientação a ser observada na escrita e formatação de seu texto. 3 cm 3 cm 2 cm 2 cm 147 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Síntese A normatização dos trabalhos científicos (trabalho de conclusão de curso, dissertações, teses, entre outros) é realizada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas a qual edita normas técnicas que devem ser observados quando da redação das monografias. As monografias devem ser estruturadas em três elementos essenciais: elementos pré-textuais, textuais e pós-textuais. Cada elemento é constituído de seções cuja formatação (margem e alinhamento, tamanho da fonte, tipografia etc.) e sequência são especificadas em normas próprias. Há seções que são obrigatórias e outras opcionais, dependendo, estas, do que o autor julgar pertinente ou necessário em função da natureza e abordagem de seu trabalho. 6.2 Artigo Científico Como abordamos no quinto módulo, o artigo é um trabalho técnico- científico escrito por um ou mais autores e constitui “parte de uma publicação com autoria declarada, que apresenta e discute ideias, métodos, técnicas, processos e resultados nas diversas áreas do conhecimento” (ABNT, 2003). Ele pode ser de revisão (resume, analisa e discute informações já publicadas) ou original (apresenta temas ou abordagens originais). O artigo científico apresenta estrutura similar à monografia, devendo ser constituído por: ➢ elementos pré-textuais: título e subtítulo (se houver), nome do(s) autor(es), resumo na língua do texto e palavras-chave na língua do texto; ➢ textuais: introdução, desenvolvimento e conclusão; 148 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o ➢ pós-textuais: título e subtítulo (se houver) em língua estrangeira, resumo em língua estrangeira, palavras-chave em língua estrangeira, nota(s)explicativa(s), referências, glossário, apêndice(s), anexo(s). O texto deverá ser escrito, conforme definido pela ABNT, em editor de texto com fonte Times New Roman ou Arial, nº 12. Entre as linhas, deverá ser formatado o espaçamento de 1,5 e entre os parágrafos, espaço duplo. As citações, referências e notas de rodapé, ao longo do texto, devem ser formatadas conforme informamos no quinto módulo. 6.2.1 A linguagem do artigo científico A linguagem empregada no texto é fundamental para a sua leitura e compreensão. Para o artigo ser capaz de comunicar os resultados de um estudo, deve-se buscar a fluidez e a clareza. Devemos escrever o texto, como se fôssemos seus leitores (BOOTH; COLOMB; WILLIAMS, 2005). É preciso que o texto seja generoso com o leitor, que não deixe lacunas conceituais ou omita informações importantes, ao mesmo tempo em que é recomendável que seja econômico, evitando detalhamentos desnecessários, “firulas” e hermetismos. Assim, deve-se utilizar de uma linguagem clara, objetiva e concisa. As frases devem ser curtas e simples, comunicando-se uma ideia por vez. As ideias devem ser logicamente encadeadas, devendo-se observar a coesão e coerência em sua redação. O texto deve ser impessoal, de modo que é recomendável o emprego da terceira pessoa do singular e do verbo na voz ativa, com emprego das normas gramaticais e ortográficas, evitando-se o emprego de gírias, jargões e linguagem coloquial. A estrutura do artigo deve observar a estrutura e normas previstas pela ABNT. É o que veremos na sequência. 149 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o 6.2.2 Estrutura a. Introdução Nessa parte, o tema deve ser apresentado de maneira clara, precisa e sintética. Não se deve, portanto, fazer considerações históricas ou antecipar os resultados do estudo. Podemos dizer que a introdução apresenta, mas com certo suspense, o problema e o caminho que se evidenciará ao longo do desenvolvimento do texto. Deve conter quatro ideias básicas: o que foi tematizado, a razão da escolha do tema, as contribuições e resultados que se pretende alcançar e qual a trajetória traçada para solução do problema proposto (MARTINS, THEÓPHILO, 2016). b. Resumo O resumo consiste na apresentação sucinta de todos os pontos relevantes do artigo. Tem por objetivo oferecer elementos capazes de permitir ao leitor decidir sobre a necessidade e interesse de consulta e leitura integral do artigo (MARTINS, THEÓPHILO, 2016). O resumo deve evidenciar o problema, apresentar os objetivos, a abordagem metodológica, os resultados e as conclusões, destacando os achados da pesquisa: surgimento de fatos novos, diferenças com análise anteriores, relações e efeitos novos verificados. Deve se constituir pelo encaminhamento lógico de frases sucintas. Não se utilizam parágrafos, frases negativas, fórmulas e diagramas no resumo. Na formatação deve-se fazer uso de espaço simples entre linhas. O texto deve alcançar até duzentas e cinquenta palavras. Há periódicos que pedem resumo e abstract. Mas há aqueles que admitem outra língua para o resumo em língua estrangeira. c. Abstract O abstract é o resumo convertido em língua inglesa. Deve ser redigido com a mesma formatação e conteúdo do resumo na língua do texto. 150 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o d. Palavras-chave Também designadas como descritores, as palavras-chave aparecem logo na linha abaixo do resumo e devem expressar as principais ideias ou conceitos movimentados pelo artigo. Sua quantidade varia de três a cinco. e. Desenvolvimento Essa é a parte principal e mais extensa do artigo. Nela, devem ser apresentados a fundamentação teórica, a metodologia de investigação empregada, os resultados alcançados e a discussão. Nos artigos de revisão, evidentemente, não serão registrados elementos como material de análise, metodologia de investigação e resultados alcançados. f. Considerações Finais Essa é a parte da conclusão em que são respondidas as questões da pesquisa, a consecução dos objetivos do estudo e as hipóteses que foram confirmadas, informando se o problema proposto foi atingido. Seu conteúdo compreende, basicamente, “afirmação sintética da ideia central do trabalho e dos pontos relevantes apresentados no texto” (MARTINS; THEÓPHILO, 2016, p.224). É interessante que sejam apontados sugestões de outra pesquisa e/ou novos enfoques vislumbrados pelo autor para trabalhos futuros a partir dos resultados da pesquisa comunicada. g. Referências bibliográficas Nessa parte, são relacionadas as referências bibliográficas consultadas para elaboração do artigo, na mesma configuração apontada quando desenvolvemos os elementos pós-textuais da monografia. 151 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Síntese Os textos dos artigos científicos deverão contem três partes essenciais: introdução, desenvolvimento e conclusão. Deve-se buscar uma linguagem clara, concisa, simples e objetiva. 6.3 Considerações finais Com o fim do Módulo 6, finalizamos a disciplina Técnicas. Neste, apresentamos a estruturação formal do artigo científico e da monografia. Lembramos que a consulta às referênciasbibliográficas e as indicações de leitura complementam toda discussão aqui apresentada. Por fim, para socializarmos algumas ideias e partilharmos dúvidas desse último módulo e inquietações conversaremos por meio do nosso fórum e lançaremos algumas questões para verificação da sua aprendizagem. Esperamos que o caminho da disciplina, que até aqui percorremos, lhe tenha sido útil no sentido de fornecer algumas coordenadas e noções para a construção e registro de seu estudo, que tenha lhe dado uma ideia da elaboração de um trabalho de pesquisa, desde sua concepção (a escolha do tema, a problematização, a definição de um caminho metodológico etc.) e permitido visualizar caminhos possíveis de investigação, informações úteis quanto à normatização do registro de uma monografia e de um artigo. 152 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o Referências Bibliográficas Módulo 1 ALVES, Rubem. Filosofia da ciência: introdução ao jogo e suas regras. 19. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2015. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofando: introdução à Filosofia. 2. Ed. São Paulo: Editora Moderna, 2002. BECHARA, Evanildo. Dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 2004. MARTINS, Mirian Celeste; PICOSQUE, Gisa; GUERRA, Maria Terezinha Telles. Didática do ensino da arte: a língua do mundo. Poetizar, fruir e conhecer arte. São Paulo: FTD, 1998. ROVELLI, Carlo. Sete breves lições de física. Rio de Janeiro: Objetiva, 2015. RUSSELL, Bertrand. História do pensamento ocidental: a aventura dos pré- socráticos à Wittgenstein. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015. VILLAS BOAS, Cláudio e Orlando. Histórias do Xingu. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2013. Módulo 2 ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 5.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007. BACHELAR, Gaston. Ensaio sobre o conhecimento aproximado. Tradução Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 2004. BUNCKINGHAM, Will et alii. O livro da filosofia. Tradução Rosemarie Ziegelmaier. São Paulo: Globo, 2011. CERVO, Amado L. ; BERVIAN, Pedro A. Metodologia Científica. 5.ed. São Paulo: Prentice Hall, 2002. COSTA, Marisa Vorraber (Org.). Caminhos Investigativos: novos olhares na pesquisa em educação. 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. CUNHA, Antônio Geraldo da. Dicionário etimológico da língua portuguesa. 4.ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2010. 153 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o DEMO, Pedro. Metodologia da Investigação em Educação. Curitiba: Ibpex, 2005. DESCARTES, René. Discurso del Método. Edición: Disponível em eBooket www.eBooket.net. Disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/download /texto/bk000197.pdf. Acesso em 09/10/2016. _________. Discurso do método; As paixões da alma; Meditações; Objeções e respostas; Cartas. Introdução Gilles-Gaston Granger. Tradução J. Guinsburg e Bento Prado Junior. 4ed. – Coleção Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1988. JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. 4ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2006. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia Científica. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004. LALANDE, André. Vocabulário Técnico e Crítico da Filosofia. 3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. RUSSEL, Bertrand. História do pensamento ocidental: a aventura dos pré- socráticos a Wittgenstein. Tradução Laura Alves, Aurélio Rebello. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015. WEINBERG, Steven. Para explicar o mundo: a descoberta da ciência moderna. Tradução Denise Bottmann. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. Módulo 3 BECHARA, Evanildo. Dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011. BARROS, Aidil Jesus da Silveira; LEHFELD, Neide Aparecida de Souza. Fundamentos de metodologia científica: um guia para a iniciação científica. 2 ed. São Paulo: Makron Books, 2000. BRASIL. Lei Federal 9.394, de 20 de dezembro de 1996. LARROSA, Jorge. Leitura, experiência e formação. In: COSTA, Marisa Vorraber (org.). Caminhos Investigativos: novos olhares da pesquisa em educação. 2. Ed. Rio de Janeiro. DP&A, 2002. MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 2004. ___________. Metodologia do trabalho Científico. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2001. PRODANOV, Cleber Cristiano; FREITAS, Ernani Cesar. Metodologia do trabalho científico: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2 ed. Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul: Universidade FEEVALE, 2013. RUSSELL, Bertrand. História do pensamento ocidental: a aventura dos pré- socráticos à Wittgenstein. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015. SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho Científico. 22 ed. São Paulo: Cortez, 2002. 154 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o SOUZA-SILVA, Jader C.; DAVEL, Eduardo. Concepções, práticas e Desafios na formação do Professor: examinando o caso do ensino superior de Administração no Brasil. O&S - v.12 - n.35 - Outubro/Dezembro – 2005. Módulo 4 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: referências: elaboração. Rio de Janeiro, ago. 2002a. ___________. NBR 10520: informação e documentação: apresentação de citações em documentos. Rio de Janeiro, ago. 2002b. ___________. NBR 6022: Informação e documentação - Artigo em publicação periódica científica impressa – Apresentação. Rio de Janeiro, maio 2003. ___________. NBR 14724: Informação e documentação - Trabalhos acadêmicos – Apresentação. Rio de Janeiro, ago. 2002c. BECHARA, Evanildo. Dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011. BARROS, Aidil Jesus da Silveira; LEHFELD, Neide Aparecida de Souza. Fundamentos de metodologia científica: um guia para a iniciação científica. 2 ed. São Paulo: Makron Books, 2000. BRASIL. Lei Federal 9.394, de 20 de dezembro de 1996. ___________. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. CAMPANA, ÁLVARO OSCAR. Redação de Trabalho Científico. J. Pneumologia, São Paulo, v. 26, n. 1, p. 30-35, fevereiro de 2000. 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Metodologia do trabalho científico: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2 ed. Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul: Universidade FEEVALE, 2013. SARMENTO, Leila Lauar. Gramática em textos. 3 ed. São Paulo: Moderna, 2012. ___________. Oficina de Redação. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2013. SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho Científico. 22 ed. São Paulo: Cortez, 2002. Módulo 5 BARTHES. Roland. A preparação do romance II: a obra como vontade. Tradução Leyla Perrone-Moisés.São Paulo: Martins Fontes, 2005. BOOTH, Wayne C.; COLOMB, Gregory G.; WILLIAMS, Joseph M. A arte da pesquisa. Tradução Henrique A. Rego Monteiro. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005. BOURDIEU, Pierre. Os usos sociais da ciência. Tradução Denice Bárbara Catani. São Paulo: Editora UNESP, 2004. CARVALHO, Marília Pinto de. Sucesso e fracasso escolar: uma questão de gênero. Educação e Pesquisa. 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Caminhos Investigativos: novos olhares na pesquisa em educação. 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002, p.23-38. Módulo 6 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: referências: elaboração. Rio de Janeiro, ago. 2002a. ___________. NBR 10520: informação e documentação: apresentação de citações em documentos. Rio de Janeiro, ago. 2002b. ___________. NBR 14724: Informação e documentação - Trabalhos acadêmicos – Apresentação. Rio de Janeiro, ago. 2002c. ___________. NBR 6022: Informação e documentação - Artigo em publicação periódica científica impressa – Apresentação. Rio de Janeiro, maio 2003. BARROS, Aidil Jesus da Silveira; LEHFELD, Neide Aparecida de Souza. Fundamentos de metodologia científica: um guia para a iniciação científica. 2 ed. São Paulo: Makron Books, 2000. BOOTH, Wayne C.; COLOMB, Gregory G.; WILLIAMS, Joseph M. A arte da pesquisa. Tradução Henrique A. Rego Monteiro. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005. CORAZZA, Sandra Mara. Labirintos da pesquisa: diante dos ferrolhos. In: COSTA, Marisa Vorraber (org.). Caminhos investigativos: novos olhares da pesquisa em educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. p. 105-131. MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 2004. Metodologia do trabalho Científico. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2001. 158 T é c n ic a s e m P e s q u is a e C o n s tr u ç ã o d e T e x to C ie n tí fi c o MARTINS, Gilberto de Andrade; THEÓPHILO, Carlos Renato. Metodologia da investigação científica para ciências sociais aplicadas. 3.ed. São Paulo: Atlas, 2016. PRODANOV, Cleber Cristiano; FREITAS, Ernani Cesar. Metodologia do trabalho científico: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2 ed. Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul: Universidade FEEVALE, 2013. SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho Científico. 22ed. São Paulo: Cortez, 2010