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Nexo de causalidade

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Introdução ao tema
Somente após apreciar a existência do fato típico, no qual se inclui o nexo causal entre a conduta e o evento, é que se faz juízos de valor sobre a ilicitude e a culpabilidade.
Teoria da equivalência dos antecedentes causais
1. O nosso Código, ao resolver a questão do nexo de causalidade, adotou a teoria da equivalência dos antecedentes causais (conditio sine qua non). Reza o art. 13, caput, 2ª parte, que é considerada causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. 
2. Atribui relevância causal a todos os antecedentes do resultado, considerando que nenhum elemento, de que depende a sua produção, pode ser excluído da linha de desdobramento causal. Tomando, por exemplo, o movimento de um automóvel, são considerados a máquina, o combustível etc., que influem no movimento.
3. Para saber se uma ação é causa do resultado, basta, mentalmente, excluí-la da série causal. Se com sua exclusão o resultado teria deixado de ocorrer, é causa.
4. A crítica mais severa que se faz à teoria diz respeito à sua extensão. Seria causa do homicídio a fabricação da própria arma usada pelo agente. Grispigni dava o seguinte exemplo: A abre com chave falsa uma porta para roubar. B entra pela porta e mata o dono da casa. A também seria responsável pela morte da vítima. Cairíamos no que se denomina regressus ad infinitum: todos os agentes das condições antecedentes responderiam pelo crime, pois teriam contribuído materialmente para o evento. Na lesão corporal também seria responsável o comerciante vendedor do rebenque com que o agente houvesse golpeado a vítima, uma vez que, excluída mentalmente a venda do instrumento, o resultado não teria ocorrido. Objeta-se, ainda, que, nas legislações que aceitam a responsabilidade penal objetiva, a adoção da teoria da equivalência dos antecedentes seria perigosa. Daí ter surgido, como veremos, a teoria da imputação objetiva, que dá soluções corretas a todos os temas propostos.
Causalidade na omissão
1. Não há causalidade na omissão, já que nada surge do nada. A estrutura da conduta omissiva é essencialmente normativa, não naturalística. Um agente responde pelo resultado não porque o causou com a omissão, mas porque não o impediu realizando a conduta a que estava obrigado.
2. Adotando a teoria da omissão normativa, determina o art. 13, § 2° do CP: 
Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. 
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: 
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;  
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;  
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. 
3. Nota-se, contudo, que o caput da disposição, ao estatuir que se considera causa não só a ação como também a omissão, sem a qual não teria ocorrido o resultado, adotou a teoria naturalística ou mecanicista da omissão, em contradição com o § 2º, que prevê a doutrina normativa. 
4. O §2° aponta os casos de crimes omissivos impróprios (comissivos por omissão):
· O primeiro caso de dever jurídico de agir ocorre quando existe um mandamento imposto pela lei determinando a realização da conduta impeditiva do resultado. Ex.: a mãe deixa de alimentar o filho, que vem a morrer de inanição. Está descumprindo uma obrigação imposta pela lei (CC, art. 1.634). A obrigação de cuidado, proteção ou vigilância advém das relações de poder familiar, casamento, família, tutela, curatela, adoção etc.
· No segundo caso, a doutrina não fala mais em dever contratual, uma vez que a posição de garantidor pode advir de situações em que não existe relação jurídica entre as partes. Exs.: guia alpino e alpinista; enfermeiro e doente; salva-vidas e mau nadador.
· No terceiro caso, o sujeito pratica um fato provocador do perigo de dano, tendo por isso a obrigação de impedir o resultado. 
Superveniência causal
1. O legislador brasileiro, restringindo a aplicação da teoria da conditio sine qua non, abriu-lhe uma exceção no § 1º do art. 13:
§ 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.
2. A causa pode ser preexistente, concomitante ou superveniente, relativa ou absolutamente independente do comportamento do agente:
· Exemplo de causa preexistente absolutamente independente da conduta do sujeito: A desfecha um tiro de revólver em B, que vem a falecer pouco depois, não em consequência dos ferimentos recebidos, mas porque antes ingerira veneno. 
· Exemplo de causa concomitante absolutamente independente: A fere B no mesmo momento em que este vem a falecer exclusivamente por força de um colapso cardíaco. 
· Exemplo de causa superveniente absolutamente independente: A ministra veneno na alimentação de B que, quando está tomando a refeição, vem a falecer em consequência de um desabamento. Quando a causa é absolutamente independente da conduta do sujeito, o problema é resolvido pelo caput do art. 13: há exclusão da causalidade decorrente da conduta. 
Nota: Nos exemplos, a causa da morte não tem ligação alguma com o comportamento do agente. Em face disso, ele não responde pelo resultado morte, mas sim pelos atos praticados antes de sua produção.
· Exemplo de causa preexistente relativamente independente em relação à conduta do agente: A golpeia B, hemofílico, que vem a falecer em consequência dos ferimentos, a par da contribuição de sua particular condição fisiológica. 
· Exemplo de causa concomitante relativamente independente: A desfecha um tiro em B no exato instante em que este está sofrendo um colapso cardíaco, provando-se que a lesão contribuiu para a eclosão do êxito letal.
· Exemplo de causa superveniente relativamente independente: num trecho de rua, um ônibus, que o sujeito dirige, colide com um poste que sustenta fios elétricos, um dos quais, caindo ao chão, atinge um passageiro ileso e já fora do veículo, provocando a sua morte em consequência da forte descarga elétrica. 
Nota: Nos dois primeiros exemplos, de acordo com o CP, as causas (hemofilia e colapso cardíaco) não excluem a linha de desdobramento físico desenvolvida pelas ações, de modo que os agentes respondem pelo resultado morte. Hoje, diante da teoria da imputação objetiva, que adotamos, cremos incorreta a solução do CP. No terceiro caso, o agente não responde pela morte do passageiro, mas somente pelos atos anteriores, se descritos como infração penal. É aí que cabe a aplicação do disposto no art. 13, § 1º. 
Referências: 
JESUS, Damásio de. Parte geral – arts. 1 ao 120 do CP. Vol 1. Atualizador: André Estefam. 37 ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2020.

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