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CAPÍTULO 23 Recursos Trabalhistas em Espécie Sumário: 1. Dos recursos típicos no processo de cognição: 1.1. Da revisão do valor da causa: 1.1.1. Conceito e previsão legal; 1.1.2. Do procedimento recursal; 1.2. Dos embargos declaratórios: 1.2.1. Conceito e previsão legal; 1.2.2. Cabimento; 1.2.3. Procedimento e efeitos; 1.2.4. Dos embargos para fins de prequestionamento e da imposição de multa por embargos procrastinatórios; 1.3. Recurso ordinário: 1.3.1. Previsão legal; 1.3.2. Noções gerais/procedimento; 1.3.3. Das peculiaridades do recurso ordinário no procedimento sumaríssimo (art. 895, §§ 1º e 2º, da CLT); 1.4. Recurso de revista: 1.4.1. Considerações gerais/previsão legal; 1.4.2. Cabimento; 1.4.3. Uniformização de jurisprudência e recursos repetitivos; 1.4.4. Procedimento; 1.5. Embargos no Tribunal Superior do Trabalho: 1.5.1. Considerações gerais/previsão legal; 1.5.2. Do processamento; 1.6. Recurso extraordinário para o Supremo Tribunal Federal: 1.6.1. Considerações gerais/previsão legal; 1.6.2. Procedimento; 1.7. Agravo de instrumento: 1.7.1. Considerações gerais/previsão legal; 1.7.2. Cabimento e procedimento; 1.8. Agravo regimental; 1.9. Agravo interno; 1.10. Correição parcial − 2. Recursos típicos da execução: 2.1. Recurso de agravo de petição: 2.1.1. Considerações gerais/previsão legal; 2.1.2. Procedimento; 2.2. Recurso de revista em execução. Após a apresentação da sistemática recursal como um todo, cabe agora identificar os recursos aplicáveis no âmbito do direito processual do trabalho. Nesse momento, podemos dizer que o legislador fez a opção de determinar a espécie recursal adequada, em razão do tipo de prestação jurisdicional que se pretende impugnar. Por isso mesmo existem diferentes recursos aplicáveis ao processo de conhecimento ou ao processo de cognição, sendo esse o critério que adotamos para encadear tais hipóteses recursais. Vejamos. 1. DOS RECURSOS TÍPICOS NO PROCESSO DE COGNIÇÃO Neste tópico, abordaremos recursos em espécie de disciplina legal específica do processo trabalhista de cognição. 1.1. Da revisão do valor da causa 1.1.1. Conceito e previsão legal Segundo a previsão da Lei n. 5.584/70, em seu art. 2º, nos dissídios individuais, caso omisso ou indeterminado o valor da causa para fins de definição da alçada, deve o juiz fixar-lhe o valor. Todavia, caso qualquer das partes não concorde com o valor fixado pelo juiz, poderá impugná-lo e, sendo mantida a decisão, pode ainda pedir a revisão desta, no prazo de quarenta e oito horas, ao presidente do TRT. É o que se depreende da redação legal: Art. 2º Nos dissídios individuais, proposta a conciliação, e não havendo acordo, o Presidente, da Junta ou o Juiz, antes de passar à instrução da causa, fixar-lhe-á o valor para a determinação da alçada, se este for indeterminado no pedido. § 1º Em audiência, ao aduzir razões finais, poderá qualquer das partes, impugnar o valor fixado e, se o Juiz o mantiver, pedir revisão da decisão, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, ao Presidente do Tribunal Regional. § 2º O pedido de revisão, que não terá efeito suspensivo deverá ser instruído com a petição inicial e a Ata da Audiência, em cópia autenticada pela Secretaria da Junta, e será julgado em 48 (quarenta e oito) horas, a partir do seu recebimento pelo Presidente do Tribunal Regional. § 3º Quando o valor fixado para a causa, na forma deste artigo, não exceder de 2 (duas) vezes o salário mínimo vigente na sede do Juízo, marco Realce marco Realce marco Realce marco Realce marco Realce será dispensável o resumo dos depoimentos, devendo constar da Ata a conclusão da Junta quanto à matéria de fato. § 4º Salvo se versarem sobre matéria constitucional, nenhum recurso caberá das sentenças proferidas nos dissídios da alçada a que se refere o parágrafo anterior, considerado, para esse fim, o valor do salário mínimo à data do ajuizamento da ação. Nota-se que a Lei n. 5.584/70 definiu a existência do procedimento sumário, tendo acabado por criar um novo expediente recursal, desta feita para a impugnação da decisão judicial que fixa o valor de alçada. Ou seja, excepcionou-se a regra de que, no direito processual do trabalho, inexistem recursos imediatos em face das decisões interlocutórias. Note-se que, ademais, como já dissemos, o aludido valor de alçada possui relevância como definitória do rito sob o qual a demanda irá ser processada. Desse modo, podemos dizer que o denominado pedido de revisão é o expediente recursal apto a reformar a decisão interlocutória do juízo de piso que define o valor arbitrado pelo juiz à causa. Há muitos que entendem ser de pouca valia tal expediente, na medida em que, com o advento da Lei n. 9.957/2000, e com a criação do rito sumaríssimo por meio da redação conferida aos arts. 852-A e seguintes da CLT, teria havido revogação tácita da Lei n. 5.584/70, com a extinção do denominado rito sumário. A partir do art. 852-A da CLT, nota-se que o legislador determinou a submissão ao rito sumaríssimo para aquelas demandas cujo valor não exceder a quarenta vezes o salário mínimo: Art. 852-A. Os dissídios individuais cujo valor não exceda a quarenta vezes o salário mínimo vigente na data do ajuizamento da reclamação ficam submetidos ao procedimento sumaríssimo. Para esses, há apenas o chamado rito sumaríssimo e o rito ordinário. Desse modo, diante da extinção das hipóteses do denominado rito sumário, não faria sentido a previsão recursal. Ademais, mesmo para os que entendem que não houve a revogação, revela-se de pouco interesse prático tal recurso, porquanto apenas as demandas cujo valor fixado fosse inferior ao dobro do mínimo legal estariam sujeitas à consequência prática daquela decisão, qual seja, a irrecorribilidade da sentença proferida sob o aludido procedimento, não sendo comum a fixação do valor de alçada em tão pouca monta. Daí por que Carlos Henrique Bezerra Leite117 indica que o valor da causa fixado em valor igual ou inferior a dois salários mínimos seria verdadeiro pressuposto recursal específico. De todo modo, não se pode ignorar que é possível o equívoco do juízo de piso, restando às partes o manejo do instrumento adequado, consoante já decidiram as cortes pátrias: Agravo de instrumento. Valor de alçada. No processo do trabalho a fixação do valor da causa visa determinar o procedimento e a alçada (art. 2º da Lei 5.584/1970). Com efeito, a Súmula 71 do C. TST orienta que “a alçada é fixada pelo valor dado à causa na data de seu ajuizamento, desde que não impugnado, sendo inalterável no curso do processo”. Igualmente, a Súmula 356 do C. TST consagrou o entendimento de que “o art. 2º, § 4º, da Lei 5.584, de 26.06.1970 foi recepcionado pela CF/1988, sendo lícita a fixação do valor da alçada com base no salário mínimo”. Diante disso, verificando-se que o valor de R$ 500,00 atribuído à causa (f.), que interessa para os fins previstos na Lei 5.584/1970 e que foi considerado pelo juízo sentenciante para fixação das custas (f.), era inferior a dois salários mínimos por ocasião do ajuizamento da ação, a ação é de alçada, sendo, portanto, irrecorrível. Ressalta-se que a alçada recursal no processo do trabalho, tanto quanto à irrecorribilidade de certas decisões ou quanto à marco Realce utilização do salário mínimo como base de cálculo para a sua fixação, não foi extinta pela Constituição Federal, que ainda admite instância única, como se depreende do disposto nos arts. 103, III, e 105, III. Assim, no caso em análise, ante o valor atribuído à causa, o processo é da alçada exclusiva do órgão de primeira instância, nos termos do § 4º do art. 2º da Lei 5.584/1970 (SP 00113-2009-030-02-01-5, rel. Marcelo Freire Gonçalves, 12ª Turma, j. 10-9-2009, data de publicação: 25-9- 2009). 1.1.2. Do procedimento recursal No atinente ao procedimento recursal, como já vimos acima, a Lei n. 5.584/70 tentou explicitar que a impugnação ao valor fixado poderá ser apresentada por qualquer das partes, ao aduzir razões finais, cabendo ao juízo de primeiro grau a reconsideração ou não da decisão. Mantidaou não a decisão, mas persistindo a irresignação da parte, caberá a esta apresentar o pedido de revisão da decisão a fim de que o Tribunal determine o adequado valor da causa, para fins da definição da alçada. O recurso correspondente ao pedido de revisão possui o prazo de quarenta e oito horas para sua interposição, as quais devem ser contadas seguindo o mesmo critério fixado no art. 774 da CLT. O mesmo pedido não terá efeito suspensivo e deverá ser instruído com a cópia da petição inicial e da ata da audiência. A redação da Lei n. 5.584/70 indica que a autenticação daqueles documentos deveria ser feita pela Secretaria da Vara. Todavia, diante da redação do art. 830 da CLT, conferida pela Lei n. 11.925/2009, entendemos que houve revogação tácita do dispositivo no tocante a aludida exigência, sendo facultada ao próprio advogado a declaração de autenticidade das cópias, o que seria suficiente para o cumprimento da exigência legal. O mesmo dispositivo deixa de prever, todavia, a exigência de abertura de vistas à outra parte acerca do incidente. Na verdade, a previsão seria a de que o expediente seria encaminhado diretamente para a presidência do Tribunal Regional, a quem incumbiria a decisão no prazo de quarenta e oito horas. Não há previsão legal para a abertura de prazo para que o recorrido pudesse se manifestar imediatamente acerca do pedido de revisão, fato justificado em razão da necessidade de que o incidente seja apreciado em tempo hábil para que o recorrente, caso queira, possa apresentar o recurso em face da sentença de mérito, dado que esse recurso não objeta qualquer outro. Ter-se-ia o diferimento do contraditório para momento posterior. 1.2. Dos embargos declaratórios 1.2.1. Conceito e previsão legal Dos recursos mais criticados, mas ainda assim absolutamente relevante para a materialização de uma prestação jurisdicional clara e completa, os embargos de declaração ainda hoje possuem sua natureza recursal contestada. Há alguns que refutam a ideia de que tal instrumento seria, efetivamente, um recurso, porque são submetidos e julgados pelo mesmo órgão jurisdicional que proferiu a decisão impugnada, dentre outros argumentos. Outros, ainda, defendem o caráter recursal da medida quando por meio dela é possível a reforma da decisão, respeitando-se inclusive o preceito do contraditório. Mas não é só. Havia, ainda, resistência de alguns quanto à aplicabilidade, no âmbito da Justiça do Trabalho, dos embargos declaratórios, dada a então ausência de previsão na CLT a respeito do expediente. Somente a partir da alteração da CLT, com a inclusão do art. 897-A no texto consolidado, é que enfim a dúvida acerca da aplicabilidade ou não marco Realce marco Realce marco Realce marco Realce desse expediente restou dissipada, porquanto passou a ser expressamente previsto: Art. 897-A. A Caberão embargos de declaração da sentença ou acórdão, no prazo de cinco dias, devendo seu julgamento ocorrer na primeira audiência ou sessão subsequente a sua apresentação, registrado na certidão, admitido efeito modificativo da decisão nos casos de omissão e contradição no julgado e manifesto equívoco no exame dos pressupostos extrínsecos do recurso. § 1º Os erros materiais poderão ser corrigidos de ofício ou a requerimento de qualquer das partes. § 2º Eventual efeito modificativo dos embargos de declaração somente poderá ocorrer em virtude da correção de vício na decisão embargada e desde que ouvida a parte contrária, no prazo de 5 (cinco) dias. § 3º Os embargos de declaração interrompem o prazo para interposição de outros recursos, por qualquer das partes, salvo quando intempestivos, irregular a representação da parte ou ausente a sua assinatura. Enquanto inexistia aquela previsão legal, os que admitiam o expediente entendiam que a hipótese seria a de aplicar as previsões do então art. 535 do CPC/73, subsidiariamente, correspondente ao atual art. 1.022 do CPC: Art. 1.022. Cabem embargos de declaração contra qualquer decisão judicial para: I − esclarecer obscuridade ou eliminar contradição; II − suprir omissão de ponto ou questão sobre o qual devia se pronunciar o juiz de ofício ou a requerimento; III − corrigir erro material. Parágrafo único. Considera-se omissa a decisão que: I − deixe de se manifestar sobre tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em incidente de assunção de competência aplicável ao caso sob julgamento; II − incorra em qualquer das condutas descritas no art. 489, § 1o. O TST deixou claro, no do art. 9º da Resolução n. 203/2016, a opção política do Tribunal quanto à compreensão do sistema processual trabalhista, admitindo a aplicação supletiva do art. 1.022 do CPC ao processo laboral. A partir daquelas previsões, tanto a celetista quanto a do CPC, podemos dizer que os embargos de declaração são o remédio processual destinado a corrigir qualquer decisão judicial, seja omissa, contraditória ou obscura. Sim, embora uma análise apressada pudesse nos fazer acreditar ser cabível o recurso de embargos de declaração apenas quando houvesse obscuridade, contradição ou omissão em sentença ou acórdão (art. 897-A), na verdade, parece cabível aludido recurso contra qualquer decisão judicial, inclusive as interlocutórias e os despachos118. Pelo menos esse parece ser o mais adequado entendimento acerca da matéria. Tal conclusão, inclusive, poderia ser observada a partir da redação conferida pela Súmula 421 do TST, em que se aceita expressamente a apresentação de embargos em face de decisão interlocutória: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. CABIMENTO. DECISÃO MONOCRÁTICA DO RELATOR CALCADA NO ART. 932 DO CPC DE 2015. ART. 557 DO CPC DE 1973. I – Cabem embargos de declaração da decisão monocrática do relator prevista no art. 932 do CPC de 2015 (art. 557 do CPC de 1973), se a parte pretende tão somente juízo integrativo retificador da decisão e, não, modificação do julgado. II – Se a parte postular a revisão no mérito da decisão monocrática, cumpre ao relator converter os embargos de declaração em agravo, em face dos princípios da fungibilidade e celeridade processual, submetendo-o ao pronunciamento do Colegiado, após a intimação do marco Realce marco Realce recorrente para, no prazo de 5 (cinco) dias, complementar as razões recursais, de modo a ajustá-las às exigências do art. 1.021, § 1º, do CPC de 2015. Todavia, deve-se alertar que há quem aponte o entendimento no sentido de serem incabíveis os embargos de declaração em face das decisões interlocutórias119, fundado no exclusivo critério da regulamentação infraconstitucional do aludido recurso. Tal compreensão não é imune a críticas, dado que todo provimento jurisdicional merece ser inteligível para cumprir o requisito da fundamentação (art. 93, IX, da CF/88). A fim de consagrar a superação daquela compreensão, cumpre mencionar que durante muitos anos a jurisprudência majoritária do TST não admitia tal recurso em face do despacho denegatório de recurso de revista, em interpretação restritiva do art. 897, b, c/c o art. 897-A, ambos da CLT. Tinha-se quanto àquela que sua natureza seria a de mero despacho, e os despachos seriam irrecorríveis. É o que se depreendia da redação da OJ 377 da SDI-I, atualmente cancelada: Embargos de declaração. Decisão denegatória de recurso de revista exarado por presidente do TRT. Descabimento. Não interrupção do prazo recursal. – Não cabem embargos de declaração interpostos contra decisão de admissibilidade do recurso de revista, não tendo o efeito de interromper qualquer prazo recursal. O cancelamento daquela orientação jurisprudencial, aliado às previsões da Instrução Normativa n. 40/2016, dá conta da compreensão de que são cabíveis os embargos de declaração em face de qualquer decisão jurisdicional, inclusive os despachos (art. 1º, § 1º), a partir do reconhecimento da aplicabilidade do art. 1.022 de forma integral ao processo do trabalho, e a consagração daquilo que se denomina “princípio da ampla embargalidade”120, sendo suficiente que a decisão impugnada contenha os vícios indicados. 1.2.2. CabimentoO recurso de embargos de declaração possui intrigante associação entre suas hipóteses de cabimento e as hipóteses em que o recurso seja procedente. Evidente que os âmbitos de cabimento e de procedência recursal são diferentes. Todavia, o próprio legislador acabou por fundi-los na hipótese dos declaratórios, fato que ocasiona diversas dificuldades práticas. De todo modo, podemos dizer que, quanto ao cabimento, seguindo essencialmente as hipóteses previstas nos arts. 1.022 do CPC e/ou 897-A da CLT, ter-se-á, em síntese, como cabíveis os declaratórios quando houver na decisão, sentença ou acórdão omissão, obscuridade ou contradição, além da hipótese do denominado manifesto equívoco no exame dos pressupostos extrínsecos do recurso. A omissão que dá azo ao recurso de embargos é aquela que diz respeito a um ou alguns pedidos ou mesmo argumentos suscitados pelas partes. Não houve pronunciamento jurisdicional acerca de tese, fato ou pedido relevante para a integral prestação jurisdicional. Cumpre reafirmar que não há distinção daquilo que se denomina omissão no âmbito do processo laboral, em relação ao processo civil. Visando delimitar conceitualmente em que consistiriam as omissões, o legislador assim consignou, no âmbito do CPC, aplicável: Art. 1.022. (...) Parágrafo único. Considera-se omissa a decisão que: I − deixe de se manifestar sobre tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em incidente de assunção de competência aplicável ao caso sob julgamento; II − incorra em qualquer das condutas descritas no art. 489, § 1º. (...) marco Realce marco Realce Art. 489. (...) § 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que: I − se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão decidida; II − empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso; III − invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão; IV − não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador; V − se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos; VI − deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento. Sobre a omissão, é possível identificar que sua ocorrência poderia autorizar não apenas a oposição de embargos de declaração, mas mesmo a interposição de recurso ordinário, suscitando-se como preliminar a nulidade da decisão, ou mesmo a proposição de ação rescisória, sob o fundamento da violação aos arts. 141 e 492 do CPC. Segundo o entendimento consolidado pela SDI II, em sua OJ 41, a hipótese é de sentença citra petita, cuja cindibilidade é reconhecida: 41. AÇÃO RESCISÓRIA. SENTENÇA “CITRA PETITA”. Revelando-se a sentença “citra petita”, o vício processual vulnera os arts. 141 e 492 do CPC de 2015 (arts. 128 e 460 do CPC de 1973), tornando-a passível de desconstituição, ainda que não interpostos embargos de declaração. Há que falar ainda na hipótese de obscuridade, ou seja, quando não fica claro qual a solução dada ao litígio pelo Judiciário, conceito que guarda a mesma coerência, no processo laboral, em relação ao sistema do direito processual civil. Ademais, é hipótese recursal ainda quando se está adiante de contradição, ou seja, quando o pronunciamento jurisdicional contém em si premissas ou conclusões incompatíveis. No tocante ao denominado manifesto equívoco no exame dos pressupostos extrínsecos do recurso, hipótese específica do art. 897-A da CLT, sua ocorrência se expressa quanto àquele erro perceptível de plano, que, para sua retificação, não demanda maiores divagações ou reflexões. Com efeito, o manifesto equívoco no exame dos pressupostos extrínsecos corresponde à verificação do cumprimento dos aludidos pressupostos por simples e mera constatação daquilo que, de fato, há nos autos, na análise da tempestividade, representação, autenticidade e preparo, por exemplo. 1.2.3. Procedimento e efeitos Os embargos são cabíveis no prazo de cinco dias, assim como previsto no CPC e no art. 897-A da CLT. Até o advento da Lei n. 9.957/2000 havia grande polêmica acerca do prazo aplicável, dado que o art. 6º da Lei n. 5.584/70 indicava o prazo de oito dias para interpor ou contra-arrazoar qualquer recurso. Com a fixação expressa do prazo no art. 897-A da CLT, tal discussão foi superada. No tocante aos efeitos, os embargos possuem dois efeitos importantes, quais sejam: o de interromper o prazo do recurso principal e o de eventualmente modificar, ou conferir efeito infringente ao recurso, em razão da sanação do vício apontado. De outro lado, deve-se alertar por igual que os embargos não possuem, de regra, efeito suspensivo (art. 1.026 do CPC). Todavia, não se pode ignorar que poderá ser conferido o efeito suspensivo pelo juiz ou relator (§ 1º do art. 1.026 do CPC). No tocante ao efeito interruptivo, devemos nos socorrer da hipótese marco Realce marco Realce expressa no art. 1.026 do CPC e no § 3º do art. 897-A da CLT. Ou seja, tendo havido a apresentação de embargos de declaração regular, ter-se-á a interrupção do prazo para a apresentação do recurso principal, em relação a todas as partes. Todavia, deve-se destacar que, para que haja o aludido efeito é preciso que os embargos sejam regulares, que sejam conhecidos pela instância julgadora. Na hipótese de intempestividade, irregularidade de representação do advogado ou ausência de autenticidade da peça, estar-se- ia diante de evidente inviabilidade daquele efeito. É o que se depreende da redação legal em que se fixa, com clareza, que os embargos de declaração interrompem o prazo para interposição de outros recursos, por qualquer das partes, salvo quando intempestivos, irregular a representação da parte ou ausente sua assinatura. Há movimento na doutrina e jurisprudência no sentido de que os embargos não conhecidos por pretensa inadequação (ausente uma das hipóteses de cabimento) não teriam o condão de interromper o prazo recursal. Todavia, parece que esse entendimento é equivocado na medida em que, embora improcedentes os embargos, para que se apure a existência de omissão, contradição ou obscuridade, no particular, inequivocamente estar-se-ia diante da análise do próprio mérito do recurso. Assim sendo, tendo havido análise do recurso, ensejaria a interrupção do mesmo prazo. Ademais, com base na redação do § 3º do art. 897-A parece que a interpretação restritiva não deve ser a adotada, considerando que a própria lei definiu quais seriam as hipóteses em que não teria havido a interrupção do prazo recursal. Em relação ao denominado efeito modificativo dos declaratórios, trata-se daquele que enseja possível alteração, seja quanto às premissas, seja quanto às conclusões do julgado, em razão do provimento do recurso horizontal. Por meio do efeito modificativo ou infringente, tem-se a marco Realce marco Realce possibilidade de alteração, de reforma da decisão embargada, mesmo que em princípio esse não seja o objeto dos embargos declaratórios. Note-se que a previsão do art. 897-A indica as hipóteses em que seja cabível o aludido efeito modificativo, não se excluindo, para o processo do trabalho, a obscuridade como hipótese de cabimento dos embargos declaratórios, na forma do art. 1.022, I, do CPC. Notadamente nas hipóteses em que seja possível a imposição de efeito modificativo do julgado, a fim de que se preserve o contraditório e a ampla defesa, é elementar que seja intimado o embargado para, querendo, manifestar-se, no prazo de cinco dias, sobre os embargos opostos, caso seu eventual acolhimento implique a modificação da decisão embargada. Trata- se do cumprimento do quanto previsto no art. 1.023, § 2º, do CPC. Tal opção normativa reafirma o entendimentoconsolidado do TST no sentido de que se deve conceder vistas, obrigatoriamente, à parte embargada, na hipótese de se vislumbrar algum efeito modificativo no recurso. É o que se depreende da OJ 142 da SDI-I do TST: 142. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. EFEITO MODIFICATIVO. VISTA PRÉVIA À PARTE CONTRÁRIA. É passível de nulidade decisão que acolhe embargos de declaração com efeito modificativo sem que seja concedida oportunidade de manifestação prévia à parte contrária. Deve-se ressaltar, ademais, que, com a redação legal do art. 1.023 do CPC, não parece apenas passível de nulidade a decisão que acolhe os declaratórios. Na verdade parece necessariamente viciada a decisão proferida sem conceder vistas à parte embargada quando os embargos forem manejados em sede de sentença ou de outra decisão de primeiro grau. Encontra-se ultrapassada a compreensão de que a concessão obrigatória de vistas à parte contrária seria necessária apenas em sede de embargos de declaração perante o Tribunal Regional, sendo desnecessária sua concessão em face dos embargos opostos contra a sentença. Isso porque, segundo a previsão do § 2º do art. 897-A, na redação que lhe conferiu a Lei n. 13.015/2014, eventual efeito modificativo dos embargos de declaração somente poderá ocorrer em virtude da correção de vício na decisão embargada e desde que ouvida a parte contrária, no prazo de cinco dias. Dado o caráter impositivo da aludida redação, desde aquela alteração parece imperiosa a concessão do efeito modificativo apenas depois de ouvida a parte embargada, não havendo razões para excepcionar tal disciplina em relação às decisões proferidas em primeiro grau de jurisdição. A petição dos embargos é dirigida ao relator do recurso, ou ao juiz da causa, com a indicação da(s) hipótese(s) de cabimento do recurso, observado o prazo de cinco dias, contados da ciência da decisão. Note-se, que em relação às pessoas jurídicas de direito público, o prazo para opor embargos é em dobro (art. 183 do CPC, c/c o art. 1º, III, do Decreto-lei n. 779/69), aplicável tal qual consolidado pelo TST por meio da OJ 192 SDI-I: 192. Embargos declaratórios. Prazo em dobro. Pessoa jurídica de direito público. Dec.-lei 779/1969. – É em dobro o prazo para a interposição de embargos declaratórios por pessoa jurídica de direito público. Não há preparo. Os embargos devem ser decididos no prazo de cinco dias (art. 1.024 do CPC) ou na primeira audiência ou sessão subsequente a sua apresentação (art. 897-A, caput, da CLT). Sendo prazo impróprio, dado que, para o juízo, a desobediência a ele não implicará qualquer irregularidade para o processo. O pedido a ser formulado nesse recurso será, necessariamente, o preenchimento, aclaramento ou correção dos termos da decisão. Não há marco Realce audiência, assim como não há previsão de sustentação oral. Na hipótese de manejado o recurso perante o Tribunal, o relator apresentará os embargos em mesa na sessão subsequente, proferindo voto. Não havendo julgamento nessa sessão, será o recurso incluído em pauta automaticamente (art. 1.024 do CPC). Ademais, quando os embargos de declaração forem opostos contra decisão de relator ou outra decisão unipessoal proferida em Tribunal, o órgão prolator da decisão embargada decidi-los-á monocraticamente. Ou seja, sendo a decisão embargada meramente monocrática, preserva-se ao juízo, também monocraticamente, a apreciação dos declaratórios. Em sentido oposto, sendo embargada a própria decisão colegiada, deve-se, por igual, respeitar o quórum para apreciação do recurso horizontal. 1.2.4. Dos embargos para fins de prequestionamento e da imposição de multa por embargos procrastinatórios Como já vimos, consolidou-se na jurisprudência brasileira a exigência do denominado prequestionamento para fins do conhecimento da medida recursal pela instância extraordinária. Diante dessa realidade, exige-se que a instância inferior tenha previamente se pronunciado acerca de determinada matéria para que o Tribunal Superior possa se pronunciar na instância extraordinária. Daí por que há diversos verbetes sumulares, sejam do STF ou mesmo do TST, tratando da matéria, admitindo a oposição de embargos de declaração com o propósito de prequestionamento das matérias que se pretende reformar. A legislação visou disciplinar de algum modo a utilização dos declaratórios com o efeito de prequestionamento. O TST, de outro lado, não deixou dúvidas quanto à aplicação do art. 1.025 do CPC ao processo laboral (art. 9º da IN 203/2016). marco Realce Em sendo assim, deve-se considerar incluídos no acórdão os elementos que o embargante suscitou, para fins de prequestionamento, ainda que os embargos de declaração sejam inadmitidos ou rejeitados, caso o Tribunal Superior considere existentes erro, omissão, contradição ou obscuridade, tal qual previsto no art. 1.025 do CPC. As Súmulas 282 e 356 do STF assim dispõem a respeito: Súmula 282. É inadmissível o recurso extraordinário, quando não ventilada, na decisão recorrida, a questão federal suscitada. Súmula 356. O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos embargos declaratórios, não pode ser objeto de recurso extraordinário, por faltar o requisito do prequestionamento. Por sua vez, a jurisprudência do TST também tratou do assunto: Súmula 297, do TST. Prequestionamento. Oportunidade. Configuração. I. Diz-se prequestionada a matéria ou questão quando na decisão impugnada haja sido adotada, explicitamente, tese a respeito. II. Incumbe à parte interessada, desde que a matéria haja sido invocada no recurso principal, opor embargos declaratórios objetivando o pronunciamento sobre o tema, sob pena de preclusão. III. Considera-se prequestionada a questão jurídica invocada no recurso principal sobre a qual se omite o Tribunal de pronunciar tese, não obstante opostos embargos de declaração. Diante do aludido tratamento, em muitas oportunidades as partes pretendem, indiscriminadamente, o manejo dos embargos declaratórios, com o fito de atender ao entendimento do E. TST. Todavia, é preciso parcimônia, principalmente porquanto o prequestionamento não é uma das hipóteses de cabimento dos embargos declaratórios. Na verdade, parecem cabíveis os declaratórios para fins de marco Realce marco Realce prequestionamento apenas quando tiver sido suscitada determinada matéria em sede do recurso principal, em relação à qual seria necessária a manifestação pelo juízo recorrido, mas não houve pronunciamento acerca da mesma matéria. Assim estaria configurada a omissão, o que autorizaria o manejo dos declaratórios. Todavia, não há necessidade do prequestionamento quando a violação do direito surgir na própria decisão recorrida121. Tampouco há falar em cabimento dos declaratórios quando não houve alusão a determinada questão no recurso principal. A partir da Súmula 297, II, desde que a matéria haja sido invocada no recurso principal, incumbe à parte interessada suscitar o pronunciamento expresso do Regional a respeito, sob pena de preclusão. Em não havendo sido suscitada a questão jurídica, incabível o manejo dos declaratórios, por ausente quaisquer de suas hipóteses de cabimento. Tendo sido suscitada a matéria no recurso principal, omisso o Regional, cumpre à parte a apresentação dos embargos declaratórios. Se ainda assim mantido o não pronunciamento a respeito da matéria pelo Regional, o TST considera devidamente prequestionada a matéria. Tal compreensão foi a consagrada, inclusive, pelo CPC, tal qual já indicamos. Assim, em tendo havido os embargos de declaração, independentemente do pronunciamento pelo Tribunal acerca do tema, ter- se-á como prequestionada a matéria (art. 1.025 do CPC). Nesse contexto, é preciso reafirmar que não são procrastinatórios os embargos em que se pretenda o prequestionamento. Aplicável, no particular, o entendimento apresentado pelo E. STJ a respeito: Súmula 98. Embargos de declaração manifestados com notório propósito de prequestionamento não têm caráter protelatório. A propósito dos embargos procrastinatórios, é preciso que se identifiquea intolerância à utilização dos expedientes recursais, notadamente os embargos declaratórios, como verdadeira chicana. Tal intuito fez com que o legislador, no CPC, editasse regras limitantes ao exercício da prerrogativa recursal, tudo no afã de permitir a otimização da prestação jurisdicional. É o que se depreende dos §§ 2º, 3º e 4º do art. 1.025 do CPC. Segundo se conclui da leitura de tais dispositivos, quando manifestamente protelatórios os embargos de declaração, o juiz ou o Tribunal, em decisão fundamentada, condenará o embargante a pagar ao embargado multa não excedente a 2% sobre o valor atualizado da causa. Havendo reiteração do manejo impróprio dos declaratórios, a multa necessariamente será elevada a até 10% sobre o valor atualizado da causa, e a interposição de qualquer recurso ficará condicionada ao depósito prévio do valor da multa, à exceção da Fazenda Pública e do beneficiário de gratuidade da justiça, que a recolherão ao final. Tal previsão não impede, ainda, a incidência do art. 793-C da CLT, com a condenação do litigante temerário a indenizar a parte contrária pelos prejuízos que esta sofreu e a arcar com os honorários advocatícios e com todas as despesas que efetuou em relação àquele excesso. De todo modo, limita-se a possibilidade do manejo dos embargos de declaração, que não serão admitidos se os dois anteriores houverem sido considerados protelatórios. O recurso manifestamente protelatório122 é aquele cuja finalidade é unicamente a de retardar o andamento do feito. Todavia, é preciso que se identifique que o condicionamento do depósito imediato da sanção pecuniária para a apresentação do recurso subsequente é somente exigível quando há a reiteração dos embargos protelatórios. Note-se que a imposição da multa deve seguir à risca o comando dos arts. 1.026 do CPC e 793-C da CLT, não havendo falar em incidência sobre o valor da condenação, mas apenas sobre o valor da causa. Nesse sentido o TST já se pronunciou: RECURSO DE REVISTA. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO MANIFESTAMENTE PROTELATÓRIOS. MULTA. BASE DE CÁLCULO. VALOR DA CAUSA. O parágrafo único do art. 538 do Código de Processo Civil de 1973, aplicável à espécie, é claro quanto à imposição de multa “não excedente de 1% (um por cento) sobre o valor da causa” na hipótese de embargos de declaração reputados manifestamente protelatórios. Nesse contexto, o Tribunal Regional, ao cominar a referida multa sobre o valor da condenação, e não sobre o valor da causa, violou o art. 538, parágrafo único, do CPC/73. Recurso de revista parcialmente conhecido e provido (TST, RR 660004120085050194, rel. Walmir Oliveira da Costa, 1ª Turma, j. 29-8-2018, DEJT 31-8-2018). 1.3. Recurso ordinário 1.3.1. Previsão legal O recurso ordinário é o mais amplo dos expedientes recursais no processo de conhecimento, porquanto por meio dele é possível a impugnação das decisões definitivas ou terminativas proferidas em dissídios individuais. Sua disciplina encontra guarida nos arts. 893 e 895 da CLT: Art. 893. Das decisões são admissíveis os seguintes recursos: (...) II – recurso ordinário; (...) § 1º Os incidentes do processo são resolvidos pelo próprio Juízo ou Tribunal, admitindo-se a apreciação do merecimento das decisões interlocutórias somente em recursos da decisão definitiva. (...) Art. 895. Cabe recurso ordinário para a instância superior: I – das decisões definitivas ou terminativas das Varas e Juízos, no prazo de 8 (oito) dias; e Capítulo 23 - Recursos Trabalhistas em Espécie 1. Dos recursos típicos no processo de cognição 1.1. Da revisão do valor da causa 1.1.1. Conceito e previsão legal 1.1.2. Do procedimento recursal 1.2. Dos embargos declaratórios 1.2.1. Conceito e previsão legal 1.2.2. Cabimento 1.2.3. Procedimento e efeitos 1.2.4. Dos embargos para fins de prequestionamento e da imposição de multa por embargos procrastinatórios 1.3. Recurso ordinário 1.3.1. Previsão legal
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