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Prévia do material em texto

CURSO DE PEDAGOGIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
MMÓÓDDUULLOO 
 
SSOOCCIIOOLLOOGGIIAA DDAA 
EEDDUUCCAAÇÇÃÃOO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fevereiro/2015 
 
 
 
 
 
 
 
DIRETOR ADMINISTRATIVO 
Prof. Me. Argemiro Aluísio Karling 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
COORDENADORA DO CURSO DE PEDAGOGIA 
Prof.ª Me. Janaína Ciboto Mulati 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ELABORAÇÃO 
Prof.ª Esp. Elidenir Andressa Prestes Filadelfo 
Prof. Me. Celso Nicola Romano 
Prof. Me. Argemiro Aluísio Karling 
Prof ª. Me. Tatiane Marina dos Anjos Pereira 
 
 
 
 
 
 
 
FORMATAÇÃO DO MATERIAL 
Prof.ª Me. Tatiane Marina dos Anjos Pereira 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nenhuma parte deste fascículo pode ser reproduzida sem autorização expressa do IEC e dos autores. 
 
Direitos reservados para 
 
 
INSTITUTO PARA O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO E DA CIDADANIA 
Av. Carlos C. Borges, 1828 – Borba Gato CNPJ – 02.684.150/0001-97 
CEP: 87060-000 - Maringá – PR – Fone: (44) 3225-1197 
e-mail: fainsep@fainsep.edu.br 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 3 
SUMÁRIO 
 
APRESENTAÇÃO .................................................................................................................... 04 
I - OBJETIVO GERAL ............................................................................................................... 05 
II - COMPETÊNCIAS ................................................................................................................ 05 
III - ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS .............................................................................................. 05 
IV - AVALIAÇÃO ...................................................................................................................... 06 
INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 09 
UNIDADE 1 – CONTEXTOS E CONCEITOS DO PENSAMENTO SOCIOLÓGICO .................... 10 
1.1 A especificidade da sociologia da educação ................................................................. 10 
1.2 A educação como processo socializador ...................................................................... 13 
1.3 A educação como processo de controle social ............................................................. 14 
UNIDADE 2 – OS TEÓRICOS CLÁSSICOS E AS CONCEPÇÕES SOBRE A EDUCAÇÃO: 
PRINCIPAIS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS ............................................................................. 17 
2.1 Karl Marx ....................................................................................................................... 17 
2.2 Emile Durkheim ............................................................................................................. 20 
2.2.1 O fato social na concepção de Durkheim ............................................................ 22 
2.3 Max Weber .................................................................................................................... 24 
2.3.1 Tipos de ação social ............................................................................................ 26 
2.4 Pierre Bourdieu .............................................................................................................. 28 
UNIDADE 3 – SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL ....................................................... 33 
3.1 Contexto histórico ....................................................................................................................... 33 
3.2 Paulo Freire ................................................................................................................... 36 
3.3 As instituições sociais e a educação ............................................................................. 38 
3.4 As primeiras instituições socializadoras: a família e a educação ................................... 40 
3.5 A instituição religiosa e a educação ............................................................................... 42 
3.6 O Estado e a educação ................................................................................................. 43 
3.7 Os meios de comunicação social e a educação ............................................................ 45 
3.8 A educação no Brasil ..................................................................................................... 46 
3.9 Ser professor ................................................................................................................. 51 
UNIDADE 4 – A EDUCAÇÃO NAS SOCIEDADES CAPITALISTAS ........................................... 56 
4.1 O contexto político-econômico e a educação ........................................................................ 57 
4.2 Educação e construção da cidadania ............................................................................ 60 
4.3 Currículo e sujeitos da escola ........................................................................................ 63 
UNIDADE 5 – TENDÊNCIAS NA EDUCAÇÃO E AVANÇOS TECNOLÓGICOS ........................ 67 
5.1 Tendências na educação .......................................................................................................... 67 
5.2 Os avanços tecnológicos colaborando para uma educação de qualidade ..................... 72 
5.2.1 A escola sofre pressões por mudanças ....................................................................... 72 
5.2.2 O uso do computador na prática educativa ................................................................ 74 
5.2.3 Questionando a informática na escola......................................................................... 76 
5.2.4 Formar o cidadão do futuro é papel da escola ........................................................... 77 
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 80 
 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 4 
 
APRESENTAÇÃO 
 
 
Prezados alunos: 
Mais um módulo inicia e gostaria de lembrá-los da missão do INSEP que é de 
formar profissionais educadores, bacharéis e tecnólogos; ampliar a formação humanística 
de pessoas para o pleno exercício da cidadania e preparo básico para funções técnicas e 
serviços gerais; oferecer educação continuada por meio de cursos de atualização, 
aperfeiçoamento e especialização, inclusive para o exercício de docência na educação 
superior; enfim, promover a educação e a cidadania por todos os meios, utilizando para 
tal o conhecimento, o desenvolvimento e a aplicação de novas tecnologias e educação a 
distância. 
Dessa forma, saiba que a formação e profissionalização do educador, com 
apropriação de competências e conhecimentos necessários ao exercício da ação 
docente, serão desenvolvidas durante a Graduação em Pedagogia. Com isso, espera-se 
o desenvolvimento de atitudes de reflexão e análise da atuação pedagógica e de valores 
para bem atuar na sociedade como agente de transformação, em busca de uma 
sociedade mais justa, a partir da identificação e análise das dimensões sócio-políticas e 
culturais de seu meio. 
A Pedagogia abrange o campo teórico e investigativo da educação, do ensino, de 
aprendizagens e do trabalho pedagógico propriamente dito, portanto saibam que, nesta 
Instituição, ao término da graduação, vocês não terão apenas um diploma, mas, sim, uma 
mudança e/ou transformação, tanto nos aspectos pessoais como profissionais, tornado-se 
um indivíduo crítico, criativo e participativo na busca de uma sociedade mais justa. 
 
Bons Estudos! 
 
Prof.ª Janaína Ciboto Mulati 
Coordenadora do Curso de Pedagogia 
 
 
 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 5 
I - OBJETIVO GERAL 
 
 Oferecer subsídios teóricos e práticos aos educandos, favorecendo a reflexão 
consciente e crítica sobre os aspectos políticos e sociais que incidem sobre os processos 
escolares, instrumentalizandoo discente no estudo e na compreensão das concepções 
sociológicas, bem como suas implicações para a educação contemporânea. 
 
II - COMPETÊNCIAS 
 
 Conhecer o histórico da Sociologia da Educação. 
 Identificar o papel da educação na sociedade em seus diferentes momentos históricos. 
 Conhecer as concepções dos principais teóricos clássicos da Sociologia da Educação. 
 Compreender as principais questões atuais que envolvem a relação da educação com 
a sociedade. 
 Conhecer o papel da educação no atual momento político e econômico mundial. 
 Identificar as tendências na educação. 
 Reconhecer os impactos das novas ciências e da tecnologia na educação. 
 
 
III - ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS 
Leia atentamente as orientações didáticas, a fim de inteirar-se das práticas 
empreendidas na FAINSEP. 
 
O que se entende por Aprendizagem? 
Aprendizagem não significa aprender, porque alguém ensina, mas, sim, o processo 
de construção, reconstrução e de tomada de consciência do próprio desenvolvimento por 
parte do sujeito. Entende-se que tudo acontece pela ação do sujeito e, por isso, não se 
pode deixar de evidenciar o papel desta ação, pois é por meio dela que se constroem as 
estruturas do conhecimento. 
É preciso reconhecer que, quando ingressamos no curso superior, assumimos 
compromissos perante a nossa formação ou qualificação profissional e que sempre 
seremos os protagonistas dessa caminhada. Para ter sucesso neste desafio, proposto por 
nós mesmos, é necessário repensarmos o estilo de vida que levamos, a fim de 
valorizarmos cada etapa e tarefa desenvolvida. Devemos, portanto, tomar decisões e 
fazer opções que nos permitam aproveitar proficuamente o tempo de estudo, visando 
obter êxito nos estudos e, consequentemente, na vida pessoal e profissional. 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 6 
 
Para ajudar você nesta nova etapa, selecionamos algumas dicas 
importantes: 
 
 Manter-se atento e disciplinado em relação às atividades e o cronograma do curso, 
para evitar que o ritmo de estudo diminua ao longo do tempo. 
 Organizar bem sua agenda, a fim de reservar um horário adequado para os estudos. 
 Ler, interpretar, esquematizar, resumir, analisar, concluir, reelaborar e tudo o mais 
que se insira no contato com um conteúdo. 
 Participar das atividades propostas. 
 Entrar em contato com o professor/tutor, sempre que tiver necessidade de 
esclarecer dúvidas ou questões. 
 Ampliar sua rede de contatos, conversando com os colegas de turma e 
comparecendo aos encontros presenciais. 
 Desenvolver estratégias próprias de estudo, visando garantir maior aproveitamento 
do curso. 
 Familiarizar-se com o ambiente e os programas que serão utilizados no curso, 
especialmente o Moodle. 
 Acompanhar todo o material disponibilizado e as atividades propostas. 
 
IV – AVALIAÇÃO 
 
Avaliação de dossiê 
 As questões estão disponíveis na copiadora e no moodle (material do módulo). 
Você deverá respondê-las e entregar ou postar no moodle até a data do exame 
presencial. 
 Você poderá utilizar outras fontes bibliográficas (Internet, livros, revistas científicas, 
entre outros) para complementar suas respostas. No entanto, não se esqueça de 
citar as fontes corretamente, conforme as normas da ABNT. 
 A nota do dossiê será de 0,0 a 10,0. 
 
 
Normas para a elaboração do dossiê: 
 No dossiê deve constar o enunciado das questões antes da respectiva resposta. 
 Deve-se obedecer à sequência de perguntas de cada unidade. 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 7 
 Em caso de dossiê manuscrito, o aluno deve redigir as perguntas e respostas em 
folhas de papel almaço. 
 As respostas são individuais e devem ser elaboradas autonomamente, ou seja, 
sem recorrer à cópia de trechos da apostila ou de outros textos pesquisados. 
Lembre-se: o capricho demonstrado na elaboração e apresentação das atividades 
também integra a nota do dossiê. 
 
Exame presencial 
 Ao final do módulo, você terá o exame presencial obrigatório. Não serão permitidas 
consultas. 
 A nota do exame presencial será de 0,0 a 10,0. 
 
Complementação de notas 
 Quem optar por responder as questões “para saber mais” terá acréscimo de até 
1,0 na nota do dossiê, desde que sejam entregues ou postadas no moodle até a 
data do exame presencial. Vale lembrar que todas as questões devem ser 
respondidas adequadamente para que o ponto seja integral. 
 
 
Cálculo da média final 
Dossiê = Peso 3,0 
Exame Presencial = Peso 7,0 
 
Cálculo: 
 
 
 
Exemplo: Se o aluno tirou 6,0 no exame presencial e 7,0 no dossiê, o cálculo será: 
 
 
 
 
 
Para ser aprovado você precisa: 
 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 8 
 Alcançar média geral de 6,0 e obter, no mínimo, 50% da nota de cada avaliação; 
Vale lembrar, entretanto, que a nota mínima 5,0 nas duas avaliações (dossiê e 
exame presencial) não totaliza a média 6,0, necessária à aprovação do aluno em 
cada módulo. 
 
 
Recuperação de notas 
 
 
 Dossiê: se você não atingir a média ou não entregar no prazo determinado, terá 
que solicitar o exame de dossiê. Este procedimento dever ser feito na secretaria 
do curso, mediante taxa de pagamento. O exame de recuperação é composto por 
10 questões discursivas, realizadas sem consulta, nas dependências do INSEP, 
Polo ou Centro de Estudos. 
 
 Exame Presencial: caso não consiga atingir a média mínima (6,0), você poderá 
fazer o exame de 2ª oportunidade, no prazo de 10 ou 15 dias após o encerramento 
do módulo. Se, mesmo assim, não atingir a média, terá uma 3ª oportunidade. 
Aqueles que não fizeram o exame no prazo estabelecido terão que solicitar 
requerimento na secretaria do curso, mediante taxa de pagamento. 
 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 9 
IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO 
Caro aluno (a), 
 
Este módulo refere-se à Sociologia da educação, conteúdo que lhe permitirá 
compreender a escola como instituição social, considerando os processos sociais que a 
envolvem. Neste sentido, buscar-se-á refletir sobre a sociedade, seus fundamentos e 
suas implicações para a educação. Compete a você indagar sobre o processo 
sociocultural; as metodologias e os princípios que norteiam as concepções de educação, 
homem e sociedade vivenciadas historicamente; o envolvimento e influência da sociedade 
em relação à prática pedagógica; e as perspectivas e projeções em relação ao futuro da 
educação, do homem e da sociedade. 
O estudo que desenvolveremos neste módulo é um esforço introdutório de pensar 
sobre a relação entre a sociedade e a educação. Recorremos aos escritos de vários 
autores, embora tenhamos conferido destaque aos teóricos que têm influenciado a 
análise social da realidade educacional. 
O contexto político, econômico e social, a diversidade de pensamentos e 
encaminhamentos, os objetivos propostos e legalmente estabelecidos, as tentativas de 
mudança social e o percurso construído historicamente pela sociedade, entre outros 
aspectos tratados neste fascículo, propagam inúmeras ideologias que devem ser 
constantemente questionadas, a fim de se empreender uma educação integrada e que 
conduza o indivíduo à emancipação política, econômica, intelectual, cultural e social. 
Sendo assim, o objetivo deste módulo não é aprofundar o estudo de uma 
determinada corrente da sociologia. A tentativa maior é instigar o estudante a analisar e 
investigar as práticas pedagógicas empreendidas atualmente, bem como reconhecer as 
concepções sobre homem, educação e sociedade que embasam a própria prática 
pedagógica, a fim de torná-la mais eficaz. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 10 
UNIDADE 1 
CC OONNCCEEIITTOOSS EE CCOONNTTEEXXTTOOSS 
DDOO PPEENNSSAAMMEENNTTOO SSOOCCIIOOLLÓÓGGIICCOO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1.1 A especificidade da sociologia da educação. 
 
 
A sociologiasurgiu no século XIX, como resposta intelectual para os problemas que 
a sociedade estava apresentando. Neste sentido, temos elementos importantes a 
considerar, um deles é, justamente, a significação do século XVIII para o surgimento da 
sociologia como ciência, período em que temos a presença de uma dupla revolução: a 
Revolução Industrial, de caráter econômico e social; e a Revolução Francesa, de cunho 
eminentemente político, por meio da qual a burguesia, enquanto classe social, tomou o 
poder na França e expandiu-se para todo o mundo, internacionalizando-se. 
Outro elemento a considerar é a significação dos processos dessas duas 
revoluções, porque se constituem a força motriz da consolidação do modo de produção 
capitalista, cuja característica básica consiste na posse privada (particular) dos meios de 
produção: 
 
Esse modo de produção que se originou do comércio e da manufatura foi 
responsável pelo desenvolvimento de novas invenções, técnicas, aumento 
das atividades produtivas, dando origem à moderna indústria. A intensa 
urbanização do nosso século é fruto desse processo e o aparecimento de 
classes sociais também o é. Agora, sob a sociedade capitalista, a fonte de 
riquezas não é mais a terra, mas sim a propriedade de fábricas, máquinas, 
bancos, isto é, a propriedade dos meios de produção. Assim, os poucos 
proprietários dos meios de produção se constituem na classe empresarial 
(burguesia) enquanto uma imensa maioria de pessoas não proprietárias se 
constitui na classe trabalhadora (proletariado), que, para sobreviver, troca 
sua capacidade de trabalho por salário (MEKSENAS, 2002, p.29). 
 
 Para começar nossos estudos... 
 
Ao iniciarmos a discussão em torno do pensamento 
sociológico no Brasil, faz-se necessário trazer à luz 
alguns aspectos já vistos por você no módulo de 
Sociologia. Vamos relembrar? 
 
 
 
Estude esta 
unidade 
antes da 
tutoria! 
http://www.google.com.br/imgres?q=perguntas&start=79&hl=pt-BR&biw=1024&bih=571&addh=36&tbm=isch&tbnid=kAcml0c7a62bBM:&imgrefurl=http://alemdorh.blogspot.com/2012/03/por-que-algumas-perguntas-sao-comuns-em.html&docid=24NL4MltMmRqaM&imgurl=http://2.bp.blogspot.com/-0sFglsPv9Tg/T2yNDt93GwI/AAAAAAAAAIY/4rPJSGuaW3U/s1600/perguntas.jpg&w=278&h=283&ei=B4TzT6i3BZOM0QG7_82ABw&zoom=1&iact=hc&vpx=93&vpy=210&dur=282&hovh=226&hovw=222&tx=121&ty=192&sig=104558201298061307707&page=5&tbnh=126&tbnw=131&ndsp=24&ved=1t:429,r:0,s:79,i:6
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 11 
Assim, o que uma sociedade necessita para produzir seus bens é de controle 
privado e da posse particular de uma minoria – os detentores dos meios de produção, 
aspecto de fundamental importância, à medida que essa transformação no contexto das 
sociedades contemporâneas, principalmente das sociedades do mundo ocidental, fez com 
que a sociedade se tornasse um problema, existindo muitas questões de ordem social 
para serem resolvidas. Neste contexto, no século XIX, surge a sociologia como resposta 
intelectual aos problemas que a sociedade enfrentava. 
Temos, assim, a partir do século XIX, notadamente em 1839, ano em que Augusto 
Comte renomeou a ciência conhecida como física social, intitulando-a como sociologia. A 
partir daquele momento, surgia uma ciência com objeto e métodos de investigação, que 
buscaria responder às principais questões que se apresentavam no universo social da 
época e cuja sociedade era marcada por contradições, consequentemente, por crises de 
caráter econômico, político e também cultural; uma sociedade em que se percebia a 
vigência do conflito. 
Segundo Meksenas (2002), podemos afirmar que a sociologia é fruto de uma época, 
de uma nova organização social, de uma transformação social já instaurada e que, 
portanto, necessitava ser explicada e entendida. 
 
Como podemos pensar a educação no contexto dessa nova sociedade e dessa nova 
ciência? 
 
Deve ficar entendido que os processos culturais, no contexto das sociedades 
capitalistas, fazem com que se fortaleça a concepção de que a ciência é a fonte de toda e 
qualquer explicação para “o estar no mundo”. De acordo com Meksenas (2002), 
disseminou-se a ideia de que a própria vida moderna só poderia ser entendida pela ótica 
da ciência, melhor dizendo, pelo enfoque dos métodos científicos; e neste processo, a 
educação também sofreu transformações, já que passou a refletir valores que têm a 
ciência como base, deixando de refletir valores religiosos, presentes no contexto da 
sociedade feudal. Neste sentido, é importante considerar: 
 
Será nesse contexto ideológico da nascente sociedade industrial que 
nasce uma nova instituição responsável por essa educação: a escola. 
Percebemos que uma das características da revolução ideológica 
capitalista foi transportar uma educação que durante o feudalismo ocorria 
na família e na Igreja para a instituição da escola. Nasce assim a escola: 
uma instituição com normas específicas, agentes próprios (diretores, 
professores, alunos, orientadores pedagógicos etc.) e toda uma hierarquia. 
A escola se propõe o objetivo de preparar os indivíduos para a vida em 
sociedade ao mesmo tempo em que desenvolve suas aptidões pessoais. 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 12 
Com isso, nasce também nova estrutura de ensino: muitas salas de aula, 
muitos alunos numa só sala, provas, notas, porcentagens de frequência, 
carteiras em filas, diplomas. Tudo com o objetivo de educar uma massa 
cada vez maior de indivíduos, tentando adaptá-los aos valores dessa nova 
sociedade capitalista do século XVIII. A escola que conhecemos hoje é, 
portanto, produto dos séculos XVIII e XIX, período em que aparece a ideia 
da necessidade de educação pública e obrigatória para todas as pessoas 
(MEKSENAS, 2002, p.29). 
 
No contexto social, na nova ordem capitalista, surgiu a necessidade de explicar a 
realidade, mas também a exigência de criar espaços para preparar indivíduos que se 
adaptassem à nova ordem estabelecida, ao novo sistema. A escola passou a ser, de certa 
forma, a instituição cujo papel consistia em preparar os indivíduos para se adequar ao 
sistema social. 
A partir dessas considerações, é importante verificar a relação de interdependência 
presente entre o contexto social, o surgimento da ciência e o surgimento da escola 
enquanto instituição. A transformação que se operou nas estruturas sociais originou 
novas formas de se enfocar a realidade social vivenciada por indivíduos e grupos, bem 
como novas instituições sociais, com funções específicas, sendo a escola uma das 
principais dentre elas. 
Desse ponto de vista, devemos compreender, também, que se originaram “novas 
sociologias”; entre elas, a sociologia da educação, a ciência que vai investigar, interpretar 
e analisar a escola como instituição social, considerando os processos sociais que a 
envolvem. 
De certa forma, o campo de estudos da sociologia da educação pode ser 
diversificado, mas, mesmo em sua multiplicidade, necessita de instrumental teórico-
metodológico detalhado e específico, que permita a compreensão dos elementos 
presentes no contexto social, histórico, político, cultural e econômico sobre os quais se 
assenta a educação. 
Os autores considerados clássicos da sociologia são Karl Marx (1818-1883), Émile 
Durkheim (1858-1917) e Max Weber (1864-1920), os quais objetivaram desenvolver 
teorias que, até hoje, constituem base explicativa e de interpretação da sociedade 
capitalista. Essas teorias são: a teoria crítica (Marx); a teoria funcionalista (Durkheim); e a 
teoria compreensiva (Weber): ou sociologia crítica; sociologia funcionalista; e sociologia 
compreensiva, respectivamente. No decorrer deste fascículo, aprofundaremos tais teorias, 
bem como as implicações educacionais das ideias defendidas por Marx, Durkheim e 
Weber, entre outros pensadores. 
 
 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 13 
1.2 A educação como processo socializadorO que podemos entender por socialização? 
Socialização é quando tratamos da relação de interdependência entre o surgimento 
de uma ciência e de uma instituição social e as transformações presentes na estrutura 
das sociedades. 
 
Nesse sentido, podemos pensar que a socialização é o processo de adequação do 
indivíduo ao sistema social. Portanto, viver em sociedade significa estar, de certa forma, 
“enquadrado” ao sistema social, seguindo as regras e as normas sociais estabelecidas. 
O processo de socialização permite a manutenção e a sobrevivência da sociedade. 
Na medida em que indivíduos e grupos pautam sua conduta pelas normas e regras 
previstas socialmente, encontram-se adaptados à sociedade a qual pode se manter coesa 
e em harmonia, como nos diriam os positivistas e os funcionalistas. O processo de 
socialização é, pois, fator que permite verificarmos a existência de vínculos sociais que, 
consolidados, mantêm a sociedade harmonicamente constituída e em ordem. 
Desta fora, a educação pode e deve ser concebida como uma das principais 
instâncias de socialização das novas gerações, visto que permite que nos formemos 
enquanto seres sociais, em nosso estar no mundo. Segundo Oliveira (2005), a educação 
consiste em um processo social de caráter permanente no contexto das sociedades 
humanas, sendo responsável pelo nosso ajustamento aos padrões culturais vigentes. 
Claro está, então, que uma das principais tarefas da educação, no contexto das 
sociedades, encontra-se no fato de fazer com que nossos interesses individuais sejam 
realizados por meio dos interesses sociais. A educação, enquanto fonte de socialização, 
faz-nos verificar que, sozinhos, nada conseguimos; precisamos dos outros e precisamos, 
de certa forma, estar adequados às regras coletivas. 
Meksenas (2002, p. 40) esclarece que o homem só desenvolve suas faculdades: 
 
“[...] em contato com outras pessoas, com o meio social. A convivência no 
grupo, por sua vez, só é possível se o indivíduo acatar certas regras 
comuns a todos; se for capaz de „abrir mão‟ de alguns de seus desejos 
para ter outros, socialmente aceitos”. 
 
Viver em sociedade exige propriamente que, de certo modo, consigamos “abrir mão” 
de alguns de nossos desejos em nome do coletivo. 
Podemos afirmar, assim, que o processo de socialização se realiza em sua plenitude 
quando podemos realizar esse gesto, pois a função social da educação é justamente 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 14 
evitar a contradição sempre presente entre os interesses pessoais e os interesses sociais. 
A educação, assim, deve fazer com que o indivíduo internalize ideias e procedimentos 
que fazem parte do meio social, já que a educação enquanto instância transmissora dos 
padrões morais aceitos socialmente permite a própria reprodução da sociedade. 
Ao mesmo tempo, a educação é múltipla, à medida que envolve uma soma de 
conhecimentos diferentes, que variam de indivíduo para indivíduo, considerando-se o 
contexto social. Embora seja una, dentro desta mesma unidade encontramos uma 
diversidade de conhecimentos. 
O caráter múltiplo da educação refere-se às suas especificidades em função das 
condições de classe, de gênero, de raça, de idade, de profissão, em conformidade com as 
determinações da sociedade na qual o ser humano se encontra inserido. Portanto, 
embora ninguém escape à influência da educação, ela não se apresenta de forma única, 
porque as sociedades, bem como as experiências de vida das pessoas, suas 
necessidades e condições de trabalho são diferenciadas. 
 
1.3 A educação como processo de controle social 
 
Vimos a educação em sua função socializadora, mas é importante verificarmos que 
a educação também possui, junto com outras instituições sociais, a função de realizar o 
controle social. Não podemos separar a educação dessa função, sendo que o controle 
social se encontra sempre relacionado com uma forma disciplinar de reger as condutas e 
garanta a permanência e a sobrevivência das sociedades. 
Nos grupos sociais, existe sempre algum tipo de controle, de caráter individual ou 
social, pois não podemos viver numa sociedade sem qualquer forma de controle. Se 
assim não fosse, ninguém saberia ao certo o seu padrão adequado de comportamento, a 
norma de conduta a seguir e assim por diante. Não é possível viver em sociedade, sem 
que existam formas de controle, visto que este mesmo controle rege nossa conduta e 
estabelece repertórios de ações individuais e coletivas e padrões sociais de 
comportamento, que nos permitem circular, com certa segurança, no meio social e no 
exercício de nossos papéis sociais. 
Os padrões sociais de comportamento, ou padrões de comportamento, podem ser 
entendidos enquanto “regularidades” impostas para todos e que determinam a conduta 
dos indivíduos e dos grupos, estabelecidas pelos padrões culturais. 
Segundo Oliveira (2005), a educação tem por finalidade ajustar os educandos aos 
padrões culturais vigentes. Este processo de adequação permite que eles sejam capazes 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 15 
de estar integrados à sociedade, de acordo com o próprio desenvolvimento cultural. E, 
assim, a sociedade se mantém em ordem. 
Em sociedade, temos elementos formais e informais de controle social; comparando 
o direito à educação, podemos entender o direito enquanto elemento formal de controle 
social, uma vez que suas normas e regras se encontram no campo do obrigatório, não 
sendo, portanto, facultativas. 
A educação, por sua vez, pode ser considerada enquanto elemento informal de 
controle social, visto que, nela, encontram-se elementos que se inserem no campo do 
facultativo, da cultura. Salientamos, porém, que, mesmo no campo do facultativo, 
encontramos determinações que estabelecem condutas e padrões comportamentais 
aceitos socialmente. Neste sentido, deve ficar entendido que o conjunto de normas e de 
regras presentes na sociedade se sobrepõe ao indivíduo, fazendo com que este se 
adapte ao meio social. 
Na perspectiva da análise sociológica, portanto, a educação assume a função social 
de preparar os indivíduos para se adequarem ao sistema. Assim, as normas e as regras 
sociais exercem papel norteador de condutas, permitindo a construção de repertórios 
específicos que influenciam decisivamente as ações individuais e coletivas. 
 
Analise a charge! Considerando as discussões apresentadas nesta primeira unidade, 
pense e reflita: Qual o papel da educação no contexto da nossa vida? Qual o papel 
fundamental da educação no contexto das sociedades? 
 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
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 16 
 
 http://humor-na-saude.blogspot.com/2012/10/funcao-social-da-escola.html 
 
PARA COMPLEMENTAR SEUS ESTUDOS 
Uma dica de estudo interessante é a leitura do livro de Paulo Meksenas, que, no segundo 
capítulo, aborda a educação do ponto de vista do funcionalismo. Você encontrará 
elementos que lhe permitirão visualizar a função social da educação enquanto fator de 
socialização. 
 
MEKSENAS, P. A educação segundo o funcionalismo. In:___. Sociologia da educação. 
Introdução ao estudo da escola no processo de transformação social. São Paulo: Loyola, 
2002, p. 39-46. 
 
 
http://humor-na-saude.blogspot.com/2012/10/funcao-social-da-escola.html
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 17 
UNIDADE 2 
OOSS TTEEÓÓRRIICCOOSS CCLLÁÁSSSSIICCOOSS EE 
AASS CCOONNCCEEPPÇÇÕÕEESS SSOOBBRREE AA EEDDUUCCAAÇÇÃÃOO:: 
pprriinncciippaaiiss pprreessssuuppoossttooss tteeóórriiccooss 
 
 
Anteriormente, vimos a especificidade da sociologia da educação e, também, a 
função social da educação. Nesta unidade, vamos trabalhar com os clássicos da 
sociologia – Marx, Durkheim e Weber – e respectivas concepções acerca da educação, 
ressaltando o que eles escrevem de específico nesse campo e suas contribuições para a 
área. 
 
Qual a contribuição dos clássicos da sociologiapara que possamos compreender a 
educação? 
 
Primeiramente, devemos ter claro que a principal questão sociológica se traduz por 
considerar a relação entre indivíduo e sociedade. Neste sentido, torna-se necessário 
examinar os autores clássicos da sociologia e a forma como eles respondem a essa 
principal questão sociológica. 
 
2.1 Karl Marx (1818-1883) 
 
Para Marx, a sociedade determina o indivíduo por meio das condições materiais de 
existência. Podemos verificar, então, que estamos diante de uma concepção de caráter 
determinista. 
O critério de compreensão da relação entre indivíduo e sociedade, em Marx, é, 
como vimos, o critério econômico. Para este autor de referência, somos determinados em 
função de nossas condições materiais de existência e é somente neste sentido que a 
sociedade determina o indivíduo. 
Para o marxismo, o pensamento, a visão de homem e a visão de mundo é resultado 
das condições materiais, portanto o mundo material deve ser considerado anterior ao 
espírito; e este mesmo espírito deriva das condições materiais: 
 
 
 
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SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 18 
 
O materialismo marxista considera o mundo como uma realidade dinâmica, 
um complexo de processos, que exige observarmos a realidade 
dialeticamente, isto é, em que ponto a realidade influencia a ideia e a ideia 
influencia a realidade. Assim, o espírito não é consequência passiva da 
ação da matéria, podendo reagir sobre aquilo que o determina, libertando o 
ser humano por meio de sua ação sobre o mundo, permitindo, assim, no 
futuro, a ação revolucionária (SILVA & CARVALHO, 2006, p. 49). 
 
Dessa maneira, em Marx, encontramos a presença da ação do homem no mundo, 
ou seja, o homem, a partir de sua compreensão da realidade, partindo desta mesma 
realidade, teria o papel de exercer em seu estar no mundo uma ação transformadora. 
 
Nesse sentido, uma pergunta importante deve ser feita: é a ideia que faz o real ou é 
o real que faz a ideia? 
 
Numa concepção marxista, real faz a ideia, pois é no campo da realidade concreta 
que se encontram as condições de possibilidade para realizações. Não é tendo por base 
as ideias de que a vida do homem no mundo será explicada. É, sim, pela atividade 
material humana, a práxis, que vamos compreender as ideias, a visão de homem e a 
visão de mundo. Marx assinala que “as ideias dominantes na sociedade são as ideias da 
classe dominante” (MARX, apud SILVA & CARVALHO, 2006, p. 49). 
 
Compreendido o próprio ponto de partida da concepção marxista da relação entre 
indivíduo e sociedade, vamos, agora, trabalhar a questão da educação. Como a educação 
era entendida por Marx? Como uma concepção marxista trabalha com a educação? 
 
Primeiramente, torna-se necessário repetir que em, Marx, os fatores determinantes 
da sociedade são as relações sociais de produção e as relações econômicas. De acordo 
com a teoria marxista, toda formação social possui uma infraestrutura, em que se 
encontram as relações sociais de produção; e uma superestrutura, em que estão 
presentes três instâncias: a ideológica, a jurídica e a política. 
A infraestrutura determina a superestrutura social, a qual, por sua vez, legitima as 
relações sociais de produção presentes na infraestrutura. Considerando a superestrutura, 
em Marx, podemos verificar que a educação faz parte da superestrutura social, na 
instância ideológica. 
Nesta perspectiva, a compreensão sobre o conceito de ideologia torna-se 
primordial. Em Marx, a ideologia constitui-se em uma distorção do pensamento que se 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 19 
origina das contradições sociais e que oculta estas mesmas contradições, as quais, por 
sua vez, manifestam-se nas ideias, nas visões de mundo e de homem, nas crenças e nas 
próprias categorias de conhecimento. Neste sentido, Silva e Carvalho (2006, p. 43) 
afirmam: 
 
A ideologia impede que o proletário tenha consciência da própria 
submissão, porque camufla a luta de classes ao representar, de forma 
ilusória, a sociedade, mostrando-a como una e harmônica. Além disso, 
segundo Marx, a ideologia esconde que o Estado, longe de representar o 
bem comum, é a expressão da classe dominante. 
 
Podemos, assim, verificar que a ideologia se constitui em uma visão “falsa” da 
realidade, visto que escamoteia, esconde aspectos desta mesma realidade. 
Já dissemos que a educação se encontra na esfera superestrutural da sociedade e é 
respectiva à esfera ideológica. Marx não trabalhou especificamente com a educação; mas 
considerando que as ideias dominantes na sociedade são as ideias da classe dominante, 
podemos ver que no marxismo o processo educativo seria transmissor da ideologia 
dominante, como podemos concluir pela leitura do trecho a seguir: 
 
A esperança de Marx por uma nova sociedade não pode ser construída 
sem a presença da ação educativa. No Manifesto, ele deixa claro que a 
educação deve ser levada em consideração no momento de se elaborar 
qualquer projeto de superação das relações sociais burguesas. É preciso, 
segundo ele, arrancá-la da influência da classe dominante, do modo 
burguês de ver o mundo, se não quisermos que as crianças sejam 
transformadas em “simples objetos de comércio, em simples instrumentos 
de trabalho” (Marx, 1984, p. 32). 
 
Entre as medidas a serem implementadas para que um novo tipo de educação seja 
desenvolvido, é preciso uma “educação pública e gratuita de todas as crianças”. 
Pensando a educação como parte de sua utopia revolucionária, Marx identificou nela uma 
“arma valiosa a ser empregada em favor da emancipação do ser humano, de sua 
libertação da exploração e do jugo do capital – a construção da sociedade comunista” 
(SILVA & CARVALHO, 2006, p. 52). 
Podemos verificar que a concepção marxista acerca da educação e do próprio papel 
dela, no contexto da sociedade capitalista, detém um caráter crítico. Neste sentido, 
também podemos afirmar que a concepção marxista permitiu que se tivesse uma 
percepção do processo educativo de caráter mais questionador. A sociologia da educação 
modifica-se com as questões levantadas pelo marxismo, enquanto instância 
supraestrutural de caráter ideológico. Cabe salientar que, em Marx, a transformação da 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 20 
sociedade capitalista em uma forma mais igualitária e justa de sociedade expressa-se de 
forma clara. 
De acordo com o marxismo, a educação é um instrumento no contexto da sociedade 
capitalista, pelo qual os dominados internalizam os valores e a visão de mundo da classe 
dominante, mas isto exclui a possibilidade de refletirmos acerca de uma pedagogia que 
possa ser um meio pelo qual se possa superar a ordem social capitalista, sempre desigual 
e, marcadamente, excludente: 
 
Tomando as ideias de Marx para uma educação que vise à realização e à 
formação de uma personalidade humana unificada e plena, é necessário 
considerar a educação não um problema individual, privado, sujeito a um 
processo de aperfeiçoamento espiritual, e, sim, um problema social, 
dependente da transformação da estrutura econômica da sociedade. 
Como, para ele, o homem é a essência que se faz a si mesmo, a prática 
educativa pode se tornar uma atividade favorável não apenas para formar 
pessoas, como também para transformar a sociedade (SILVA & 
CARVALHO, 2006, p. 51). 
 
Do ponto de vista de Silva e Carvalho (2006), podemos verificar que a educação tem 
um papel social notadamente crítico e questionador da ordem vigente, contribuindo, 
assim, para a mudança da ordem social, uma vez que permite, por meio do processo de 
ensino-aprendizagem, o próprio rompimento com a dominação estabelecida pela classe 
dominante. 
Paulo Freire é um dos pedagogos brasileiros que buscou transformar o papel 
“conservador” da educação, dando-lhe um caráter transformador, visto que propôs que o 
processo de ensino-aprendizagemse fizesse a partir da própria realidade do aluno, 
marcada fortemente pela desigualdade social. 
De qualquer forma, é importante percebermos que, em Marx, a transformação da 
sociedade envolve a presença da ação educativa. A sociedade capitalista, com suas 
contradições, não pode ser transformada ou superada, sem se considerar o processo 
educativo no que ele tem de supraestrutural e, por consequência, de legitimador da “nova” 
ordem social. 
 
2.2 Emile Durkheim (1858-1917) 
 
Como Durkheim responde à principal questão sociológica, isto é, a relação entre 
indivíduo e sociedade? 
 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 21 
De acordo com Atisiano (2006), encontramo-nos diante do determinismo em 
Durkheim. No entanto, este diferencia-se do encontrado em Marx, pois, em Durkheim, a 
sociedade determina o indivíduo por meio das normas, das regras sociais, que são 
produzidas coletivamente, enquanto que, em Marx isso acontece pelo critério econômico. 
Neste sentido, nossas formas de pensar, de sentir e de agir encontram-se 
determinadas pela sociedade. Para Durkheim, a educação constitui-se como a principal 
fonte de socialização, na medida em que ela (a educação) permite a internalização das 
normas e das regras presentes na sociedade. 
Encontramos, nesse aspecto, a concepção de que o processo de socialização é o 
mesmo que o processo de educação, pois é pelo ato de educar que os indivíduos e os 
grupos interiorizam todos os elementos da moral presentes no meio social. 
Conforme Durkheim, essa socialização compõe o processo de aprendizagem social 
que permite a absorção das formas de viver da sociedade, sejam pensamentos, atitudes, 
símbolos e regras. No cerne dessa socialização, está a moral da sociedade, a qual é 
constituída por alguns tipos de regras, direitos e deveres, sistema de recompensa e 
castigo etc. Esta mesma moral também faz parte da linha-mestre de ensino nas escolas, 
ou seja, as práticas pedagógicas adotadas na educação (DURKHEIM, 2005). 
Nessa teoria, podemos verificar que a escola, enquanto instituição social, reflete os 
elementos presentes na sociedade e que o processo de ensino-aprendizagem permite 
também estabelecer formas de regulação social, adequando indivíduos e grupos 
submetidos e sujeitos à própria estrutura da sociedade. 
É importante considerar que a instituição do Estado é reguladora da ordem social, 
estabelecendo-a no contexto das sociedades complexas. A educação, que é uma das 
funções do Estado, também é reguladora da moral vigente na sociedade (ATISIANO, 
2006). 
Durkheim focaliza, em sua concepção sociológica, as estruturas e as instituições 
sociais, considerando as novas relações de poder que se instauravam em sua época, 
uma vez que estava preocupado com elementos de desagregação e desordem social os 
quais identificava em sua sociedade. 
A educação, para ele, constitui um processo contínuo que permite a ordem e a 
estabilidade social, uma vez que, pela via educacional, determinados valores éticos são 
passados e internalizados por indivíduos e grupos. 
Considerando que a educação, enquanto instituição social, reflete elementos da 
sociedade na qual se inserem os indivíduos e os grupos; podemos entender que, para 
Durkheim, a educação representa o principal elemento de socialização, pois permite a 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 22 
adequação de normas e regras sociais dos indivíduos e grupos ao contexto social mais 
amplo, por meio da internalização de seus valores. 
 
2.2.1 O fato social na concepção de Durkheim 
 
Na abordagem de Durkheim, encontramos como objeto de investigação sociológica 
o fato social, o qual define como as formas de pensar, agir e sentir que exercem coerção 
exterior sobre indivíduos e grupos, independentemente de concepções e vontades 
individuais. 
 
Que relação existe entre o fato social e a educação? 
 
Para Durkheim, a educação exerce poder coercitivo sobre indivíduos e grupos, 
fazendo com que estes estejam adequados às normas, aos costumes e aos hábitos 
estabelecidos na sociedade. Neste sentido, fazer parte da sociedade é agir de acordo 
com o que está socialmente determinado, como consequência enquanto instituição social, 
a escola é força motriz da absorção do que se encontra presente no próprio contexto 
social: 
 
Para Durkheim, a educação exerce coerção sobre os indivíduos, 
obrigando-os a se conformarem aos seus conteúdos, costumes e hábitos, 
desenvolvidos na escola e presentes na sociedade, isto é, para que 
sejamos aceitos na coletividade em que vivemos, é preciso que nos 
adaptemos às posturas por ela determinadas. A educação também se 
apresenta de forma exterior ao indivíduo, ou seja, não cabe a ele decidir ou 
desejar ser educado conforme os padrões estipulados pela sociedade, isso 
já é definido antes mesmo do seu nascimento, tem existência própria. E, 
por fim, a educação tem um aspecto geral, não se trata de um caso 
isolado, e sim de um mecanismo adotado da maior parte dessa sociedade. 
[...] Ele definiu as três características citadas acima para que entendamos 
que um fato social só é explicado por meio de outro fato social a partir da 
investigação das instituições e a explicação do seu funcionamento. A 
educação – fato social e instituição, apresenta-se independente dos 
indivíduos, ela é uma força maior do que eles, que lhes dita 
comportamentos exigidos pela sociedade (ATISIANO, 2006, p. 33). 
 
Durkheim estabelece a própria definição das características dos fatos sociais: a 
coercibilidade, a exterioridade e a generalidade, sendo que esta última é a mais 
sociológica das características, se assim podemos dizer, porque é a partir da 
generalidade que os indivíduos e os grupos reproduzem em si as regras, as normas, os 
costumes, as crenças etc., presentes na sociedade, os quais estabelecem padrões 
comportamentais e repertórios de ações coletivas, permitindo a ordem e a coesão social. 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 23 
Atisiano (2006) salienta também que, em Durkheim, a preocupação fundamental não 
se encontra na priorização dos indivíduos, mas das instituições sociais e suas 
determinações, pois, a manutenção da ordem, da coesão e do consenso sociais era 
importante para o referido sociólogo. 
Verificamos que a tônica no pensamento de Durkheim encontra-se no fato de que, 
no contexto das sociedades complexas e mais desenvolvidas, caracterizadas por uma 
divisão do trabalho (especialização), as várias instituições presentes na sociedade 
exercem suas funções determinadas, com a finalidade de integrar os indivíduos. 
Para Durkheim, a educação envolve a ação que as gerações adultas exercem sobre 
as gerações mais jovens, os quais ainda não se encontram preparadas para a vida social; 
por conseguinte a educação tem por objetivo fazer com que se desenvolvam, na criança e 
nos jovens, características especialmente morais, em estrita consonância com os valores 
exigidos socialmente. 
Durkheim não estava preocupado com a transformação da sociedade capitalista, 
mas, sim, com a sua regulação, uma vez que o sociólogo concebe a educação enquanto 
elemento que integra a sociedade, uma vez que deve existir para manter a ordem social. 
Neste sentido, não é tarefa da educação a transformação da ordem social, notadamente 
da ordem social capitalista, mas, sim, reproduzir os valores morais e éticos dessa 
sociedade. 
Durkheim instituiu a pedagogia como disciplina autônoma, sem dependência 
obrigatória com outras áreas do conhecimento, rompendo com o processo vigente em sua 
época, ou seja, a pedagogia atrelada à filosofia, à moral e à teologia. No campo 
educacional foi o primeiro sociólogo a colocar a escola como instituição de fundamental 
importância na formação do indivíduo. Porém, é fundamental saber que, para Durkheim, 
pedagogia e educação eram diferentes: 
 
A educação é a ação exercida, junto às crianças, pelos paise mestres. É 
permanente, de todos os instantes, geral. Não há período na vida social, 
não há mesmo, por assim dizer, momento no dia em que as novas 
gerações não estejam em contato com seus maiores e, em que, por 
conseguinte, não recebam deles influência educativa (DURKHEIM, 1978, 
p.57). 
 
Refletindo sobre os apontamentos deste autor, um dos pilares da Sociologia, é 
possível perceber que a educação ocorre por meio de ações exercidas cotidianamente, 
tanto de maneira formal, por mestres e nas escolas, como informalmente, pela atuação da 
família; entretanto, a Pedagogia, por sua vez, corresponde a uma área de conhecimento 
teórico, como você pode ler a seguir: 
 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
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 24 
As teorias chamadas pedagógicas são especulações de gênero muito 
diverso. Seu objetivo não é o de descrever ou explicar o que é ou o que 
tem sido, mas, de determinar o que deve ser. Não estão orientadas nem 
para o presente nem para o passado, mas para o futuro. Não se propõem 
a exprimir fielmente certas realidades, mas a expor preceitos de condutas. 
Elas não nos dizem: “eis o que existe e por que existe”. Mas, sim: “eis o 
que será preciso fazer” (DURKHEIM, 1978, p. 64). 
 
Apesar de diferenciar pedagogia e educação, podemos perceber que Durkheim 
aponta, de certa forma, a existência de uma relação e dependência entre ambas. Indo 
além, no que diz respeito a seu entendimento sobre a função da educação e da escola, 
podemos perceber, sobretudo, que Durkheim atrela a educação às necessidades sociais. 
Sendo o fim último da educação socializar e renovar as condições da existência 
social, a escola e a sociedade são vistas como duas “instituições” que se complementam 
e interagem. Desta forma, a escola torna-se fundamental à formação moral do indivíduo 
cuja função consiste em adaptar estas mesmas pessoas às regras sociais. Tal processo 
ocorre por meio da reprodução de hábitos e valores transmitidos pelos adultos às 
crianças, e nesse sentido, a educação, da concepção durkheimiana, não tem a função de 
mudar, mas, sim, de reproduzir. 
 
Para compreender melhor a definição de fato social, concebida por Durkheim, assista o 
vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=k8F3_u5QVKw 
 
2.3 Max Weber (1864-1920) 
 
Anteriormente, vimos a concepção de Durkheim acerca da significação da educação 
no contexto social. Agora, vamos enfocar as concepções de Weber sobre educação, 
abordando alguns aspectos importantes da teoria deste que também representa mais um 
dos fundamentos da Sociologia. 
 
Como Weber concebe a relação entre indivíduo e sociedade? 
 
Em Weber, não estamos diante de determinismos, pois ele traz para “dentro” da 
sociologia o indivíduo enquanto “construtor” do próprio universo social; para Weber, o 
indivíduo em interação, trocando sentidos e significados, compartilhando esses mesmos 
sentidos e significados, constrói a sociedade. Este constitui o primeiro momento na 
concepção da relação entre indivíduo e sociedade; somente, num segundo momento, 
teremos a determinação do social sobre o individual, apontada por Weber 
http://www.youtube.com/watch?v=k8F3_u5QVKw
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
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 25 
Esse sociólogo recusa a concepção determinista, pois, no ato de nomear as coisas, 
o ser humano dá a elas existência, vida, porque atribui significados e assim institui sua 
existência. No estar no mundo, o homem constrói o próprio universo – o universo social, 
exercendo sobre ele uma determinação. 
A compreensão da ação do homem constitui o ponto de partida desse pensador 
para compreender a sociedade. Do ponto de vista de Weber, é necessário investigar, 
interpretar e analisar a ação do homem em seu estar no mundo, bem como os sentidos e 
os significados que seriam a força motriz dessa mesma ação. Weber também considera 
os aspectos de caráter econômico a partir da ação social e da concepção de que a 
sociologia é uma ciência compreensiva. 
Weber dialoga com a teoria marxista, mas afasta-se de Marx ao explicar que a 
sociedade parte das relações estabelecidas pelos homens no contexto da sociedade 
capitalista, que centraliza sua análise em determinantes econômicos. Weber considera a 
existência de inúmeros grupos sociais em sociedades diferentes, que envolvem culturas 
diferentes e que, portanto, devem ser consideradas também na ação educativa. 
Weber não nega taxativamente a luta de classes, mas considera que, nas classes 
sociais, não se encontram exclusivamente todas as causas e as consequências das 
transformações sociais. Além disso, para o referido autor, a formação da sociedade 
resulta de processos interativos entre diferentes indivíduos e grupos: 
 
A sociologia do alemão Max Weber (1864-1920) tem como premissa a 
idéia de que a sociedade não é apenas uma “coisa” exterior e coercitiva 
que determina o comportamento dos indivíduos, mas sim o resultado de 
uma enorme e inesgotável nuvem de interações interindividuais. A 
sociedade para Weber não é aquilo que pesa sobre o indivíduo, mas aquilo 
que se veicula entre eles. As conseqüências dessa visão para a sociologia 
da educação, é claro, serão bastante significativas (RODRIGUES, 2002, 
p.59). 
 
Rodrigues (2002) não produziu uma teoria sociológica sobre a educação, mas 
chamou a atenção para a concepção diferenciada que Weber propõe, considerando-se os 
determinismos de Marx e Durkheim. 
Para Weber, segundo Rodrigues (2002), os homens veem o mundo no qual se 
encontram inseridos a partir dos próprios valores, compartilhados e internalizados pelos 
indivíduos, ou seja, estes são subjetivados de formas distintas, de acordo com o processo 
de interação do qual os indivíduos fazem parte. 
O mesmo meio social pode ter significados diferenciados para os indivíduos e, 
portanto, dele podem se originar diferentes formas de agir, visto que as pessoas agem 
conforme assimilam os elementos culturais e também de acordo com os diferentes tipos 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 26 
de racionalidade empregados: “A realidade é concebida por Weber, então, como o 
encontro entre os homens e os valores aos quais eles se vinculam e os quais articulam de 
modos distintos no plano subjetivo” (Rodrigues, 2002, p.61). Assim, a sociedade não 
constitui um bloco, mas corresponde a uma rede de inter-relações. 
Podemos verificar, portanto, que, em Weber, os valores que internalizamos são a 
força motriz de nosso agir; logo, agimos em função dos valores que internalizamos em 
nossa interação com o outro (RODRIGUES, 2002). 
Segundo Rodrigues (2002), agir em sociedade envolve sempre algum grau de 
racionalidade por parte de quem age, e esta mesma racionalidade envolve a interação 
com outro indivíduo, já que sociedade é sinônimo de interação. 
 
2.3.1 Tipos de ação social 
 
Em Weber, segundo Rodrigues (2002), observamos que a concretude das normas e 
das regras sociais se realiza somente quando tais normas e regras se encontram 
presentes em cada indivíduo pelo processo de interação e internalização e se manifestam 
em cada um na forma de motivação. Cada pessoa age em sociedade, tendo como ponto 
de referência um motivo, que pode ser determinado pela tradição, pelo afeto ou pela 
racionalidade. 
Nesse ponto da teoria weberiana, o sociólogo estabelece os tipos de ação social que 
se realizam na vida em sociedade, visto que o objetivo que se expressa na ação social 
permite desvendar o próprio sentido da ação, uma vez que cada indivíduo considera, no 
seu agir, a resposta ou a reação de outros indivíduos. Desta forma, Weber estabelece 
quatro os tipos de ação social, conforme destaca Rodrigues (2002): 
Ação social tradicional – determinada por um costume, por um hábito, no qual o ator 
social obedece a reflexos enraizados de longa prática. É determinada por hábitos, 
costumes e crenças, sendo transformada em uma segunda natureza. Neste tipo de ação 
social, reproduzem-se padrõessociais que são consagrados pelos costumes e pelas 
tradições observadas na convivência social. 
Ação social afetiva – tem como característica fundamental a emoção, a 
determinação por afetos ou até mesmo por estados sentimentais. Pode ser uma ação 
reativa de caráter emocional do ator social em determinada circunstância e em diferente 
instante da vida, não sendo caracterizada por um objetivo ou por um sistema de valores. 
Ação social racional com relação a valores – tem como característica fundamental 
ser determinada pela crença consciente em um dado valor, considerado significativo por 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 27 
parte do ator social. De certa forma, o ator social age em conformidade com seus 
princípios morais e éticos “racionaliza” o agir, em conformidade com esses princípios. 
Ação social com relação a fins – tem como característica básica ser a ação que o 
homem realiza enquanto ator social, tendo como referência ou motivação seus objetivos e 
considerando os meios de que dispõe para atingi-los. Em nosso viver em sociedade, 
enquanto atores sociais, no exercício de nossos papéis, encontramo-nos diante dessas 
formas de agir, ou seja, tais ações funcionam como forças motivacionais de nosso 
cotidiano. 
Weber é reconhecido como um autor que procurou investigar, interpretar e analisar a 
sociedade moderna, complexa e capitalista; uma sociedade que se pauta pela 
racionalidade. Sendo assim, a educação para Weber, no contexto de uma sociedade 
marcadamente racionalizada, estaria em estreita relação com a estratificação social, com 
meios de distinção e de obtenção de certas honras que envolvem o poder e o dinheiro: 
“[...] no modelo ideal weberiano a educação é, conforme o caso, socialmente dirigida a 
três tipos de finalidades: despertar do carisma, preparar o aluno para uma conduta de 
vida e transmitir conhecimento especializado” (RODRIGUES, 2002, p.78). 
O primeiro tipo de educação – do carisma – não se aplicaria às pessoas normais, 
não constituindo, portanto, uma pedagogia, pois não se pode ensinar o carisma, não se 
pode preparar para o carisma, que pode ser concebido como um “dom” pessoal. 
Ao segundo tipo – conduta de vida – Weber denomina pedagogia do cultivo, voltada 
a formar o homem culto. Ela procura formar um tipo de homem que seja culto, onde o 
ideal de cultura depende da camada social para a qual o indivíduo está sendo preparado. 
O que implica em prepará-lo para certos tipos de comportamento interior, ou seja, para a 
reflexividade; e exterior, ou seja, para um determinado tipo de comportamento social. 
Quanto ao terceiro tipo de educação, denominado por Weber de pedagogia do 
treinamento, em conformidade com Rodrigues (2002), envolve uma racionalização da vida 
social e a própria burocratização do aparato público de dominação de caráter político. 
Este tipo de educação supõe um preparo especializado, no sentido de transformar o 
indivíduo num técnico, num perito. Entendemos que a pedagogia do treinamento é 
predominante no contexto da Modernidade, ao mesmo tempo em que é uma pedagogia 
que envolve a ascensão social e a obtenção de status privado. 
Nesse sentido, encontramos em Weber, certo pessimismo com relação à sociedade 
moderna. Também é possível perceber que, na visão desse pensador, é imprescindível o 
enfrentamento do mundo burocrático, no qual se encontra a racionalidade, para que a 
vida e o mundo social não deixem de ser uma possibilidade. Para Weber, esta deveria ser 
a responsabilidade da ação educativa (RODRIGUES, 2007). 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
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Resumidamente, podemos apontar como os autores pensavam os aspectos 
educacionais: Marx defende uma transformação na educação daquele momento; via-a, 
como estava organizada, a serviço das classes dominantes; Weber, por sua vez, 
preocupa-se em compreender as formas de dominação e relações de poder presentes 
nas instituições educativas; e, por fim, Durkheim considera que a educação tem o papel 
de perpetuar as normas e regras sociais para os indivíduos. 
 
 
2.4 Pierre Bourdieu (1930-2002) 
 
Bourdieu foi um sociólogo francês cuja contribuição foi fundamental principalmente 
no campo da teoria sociológica de caráter mais geral e da interação entre educação e 
cultura. Sua formação envolve a Sociologia, a Filosofia, a Antropologia e a Estatística. A 
percepção da relação dialética entre estruturas sociais e estruturas mentais, identificada 
no processo de dominação, representa sua principal contribuição no campo da Sociologia. 
Neste sentido, Bourdieu procurou trabalhar profundamente com os elementos de 
mediação entre o agente social e a sociedade. Podemos afirmar que ele procurou analisar 
a relação entre ator social e estrutura social, dando significativa contribuição à sociologia 
contemporânea. 
Salientamos que, em Bourdieu, os conceitos de habitus, de campo e de reprodução 
são significativos, compreendermos a educação. Primeiramente, vamos ver esses três 
conceitos, para depois estabelecer relação dos mesmos com a educação. 
 
Conceito de habitus em Bourdieu 
 
O conceito de habitus determinado por Bourdieu, permite analisarmos as formas 
como indivíduos e grupos orientam sua ação no contexto das sociedades enquanto 
resultado das relações sociais, ao mesmo tempo em que envolve a reprodução das 
relações objetivas que causam a orientação das ações destes mesmos indivíduos e 
grupos. Bourdieu, assim define habitus: 
 
 
Sistema de disposições duráveis, estruturas estruturadas predispostas a 
funcionarem como estruturas estruturantes, isto é, como princípio que gera 
e estrutura as práticas e as representações que podem ser objetivamente 
“regulamentadas” e “reguladas” sem que por isso sejam o produto de 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
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obediência de regras, objetivamente adaptadas a um fim, sem que se 
tenha necessidade da projeção consciente deste fim ou do domínio das 
operações para atingi-lo, mas sendo, ao mesmo tempo, coletivamente 
orquestradas sem serem o produto da ação organizadora de um maestro 
(BOURDIEU, citado por Ortiz, 1983, p. 15). 
 
Infere-se, portanto, que o conceito de habitus representa a relação de reciprocidade 
que se percebe entre o mundo objetivo da estrutura social e o mundo subjetivo das 
individualidades. O habitus constitui, pois, um sistema de esquemas individuais que se 
forma por meio do contexto social, sendo internalizado, entretanto, por indivíduos e 
grupos; esta constituição se manifesta como estruturante das mentes, uma vez que é 
adquirida e formada pela experiência prática, no contexto da realidade cotidiana. 
Nesse sentido, o habitus é social e individual, expressando a relação de 
interdependência presente entre o ator social e a sua realidade social mais ampla. Para 
este sociólogo, a realidade social tem como força estruturante a mente de indivíduos e 
grupos, uma vez que estes internalizam esta mesma realidade que irá culminar em suas 
ações. 
Portanto, para Bourdieu, subjetividade e objetividade encontram-se em relação de 
interdependência, pois os indivíduos expressam socialmente seu habitus de classe e 
refletem em seu comportamento elementos da estrutura social; podemos dizer que até 
mesmo reproduzem em suas práticas sociais os determinantes estruturais mais 
abrangentes. Assim, podemos afirmar que as visões de homem e de mundo não se 
encontram imunes às determinações da realidade objetiva: 
 
As disposições tratadas por Bourdieu, na sua definição de habitus, devem 
ser entendidas como competências, atitudes, tendências e formas de 
perceber, pensar e sentir adquiridas e interiorizadas pelos indivíduos em 
virtude de suas condições objetivas de existência. É profundamente 
interiorizado e não implica consciência dos agentes para ser eficaz, sendo 
capaz de inventar outros meios de desempenhar as antigas funções diante 
de situações novas e, assim,ele permite aos agentes se orientarem em 
seu espaço social e adotarem práticas que estão de acordo com sua 
vinculação social. Possibilita ao agente a elaboração de estratégias 
antecipadoras que são conduzidas por esquemas inconscientes, ou seja, 
esquemas de percepção, de apreciação e de ação resultantes do trabalho 
pedagógico e de socialização, ao qual o agente é submetido, e de 
“experiências primitivas” (como a primeira educação familiar), que estão 
ligadas ao agente e têm um peso desmesurado em relação às 
experiências posteriores (BUSETTO, 2006, p.119-120). 
 
De acordo com a citação anterior, observa-se que Busetto (2006) destaca alguns 
aspectos significativos do conceito de habitus em Bourdieu, ressaltando a relação 
existente entre interiorização e exterioridade, sendo esta a estrutura social mais ampla. 
Deste modo, interiorizamos as estruturas sociais envolventes, adquirimos nossas 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 30 
competências e formulamos nossas estratégias a partir desse processo de interiorização 
ou internalização. Por isso podemos até mesmo dizer que a estrutura educacional é 
também produtora de um habitus. 
 
Conceito de campo 
 
O conceito de campo é um elemento importante na obra de Bourdieu e pode ser 
entendido como espaço de luta, no qual se travam as relações sociais, considerando-se 
os interesses específicos de indivíduos e grupos. A relação existente entre ação de 
caráter subjetivo e de cunho objetivo que envolve a estrutura social é equacionada 
quando se considera que os atores sociais agem em um campo determinado socialmente. 
Na sociologia de Bourdieu, como o campo não se refere ao que é determinado pelas 
ações individuais, é possível identificar o que está objetivamente estruturado. Podemos 
dizer, assim, que é no contexto do campo que o habitus se estrutura, relação que 
podemos verificar entre campo e habitus, segundo Busetto (2006). 
 
A reprodução 
 
Para Bourdieu, é de fundamental importância a dimensão social na qual se 
constituem as relações entre os atores sociais e as estruturas de poder, que se 
reproduzem, ou reproduzem o próprio sistema objetivo de dominação, o qual é 
interiorizado como subjetividade. Neste sentido, a sociedade deve ser apreendida como 
estratificação de poder. Quando Bourdieu escreve sua obra, A reprodução, define a 
escola como o espaço onde encontramos formas de se legitimar as desigualdades sociais 
presentes na estrutura mais ampla, tendo em vista que esta mesma escola deve ser 
entendida de acordo com as dimensões das classes sociais, uma vez que corresponde a 
um espaço social que, segundo o autor, encontra-se relacionado à reprodução das 
relações de dominação, presentes na sociedade. 
Na obra em destaque, Bourdieu contesta a concepção de que a escola seria a 
promotora de ascensão social e de liberdade para o indivíduo. Em sua pesquisa sobre a 
estrutura da escola francesa, constata que, na realidade, esta não promovia a liberdade 
individual, nem favorecia a ascensão social, uma vez que nela se reproduziam 
fundamentalmente as relações de classe. Portando, como espaço de reprodução, 
favoreceria a própria legitimação das desigualdades sociais: 
 
Do ponto de vista da análise, deixa claro que a escola e sua prática 
somente podem ser entendidas e compreendidas quando relacionadas ao 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 31 
conjunto das relações entre as classes sociais. E, mais ainda, a caracteriza 
como um campo que, mais do que qualquer outro, está orientado para a 
sua própria reprodução, dado que, entre outras razões, ela tem o domínio 
da sua própria reprodução, embora submetida às pressões externas, 
geralmente advindas das estratégias dos diferentes grupos e/ou classes 
sociais na obtenção ou ampliação de capital cultural (BUSETTO, 2006, p. 
119-120). 
 
Podemos depreender dessas palavras a significação da escola na concepção 
sociológica de Bourdieu, tendo em vista que ela não se manifesta como uma instituição 
neutra, mas como uma instituição que produz e reproduz as relações de classes 
pertencentes à estrutura social. 
Dessa forma, a escola não minimiza as desigualdades sociais; ao contrário as 
reproduz, pois é concebida como espaço que transmite cultura. Lança-se, aqui, uma 
questão: Mas que cultura ela transmite? À qual respondemos: A cultura da classe 
dominante no contexto das sociedades. 
A estratégia com que essa transmissão se manifesta consiste em apresentar a 
cultura e o próprio conhecimento como neutros e legítimos, como detentores de um 
caráter de universalidade, escondendo-se o fato de que a cultura transmitida pela escola 
é produto do denominado arbitrário cultural, uma vez que esta mesma cultura é 
socialmente interessada ou atende socialmente aos interesses dos segmentos 
dominantes da sociedade. Nesta direção, destacam-se as palavras de Busetto (2006, p. 
128): 
Então, não é por acidente que os filhos das classes dominantes têm mais 
sucesso na obtenção da cultura escolar e, consequentemente, ingressam 
mais ampla e facilmente na universidade. Como membros de famílias 
portadoras de considerável capital cultural, tanto intelectual quanto 
material, eles adquirem um habitus social bastante concordante com o 
habitus escolar. Daí a facilidade deles na aquisição dos procedimentos, 
esquemas operatórios de pensamento e linguagem mais enfaticamente 
exigidos pela escola, uma vez que, para eles, ao contrário dos filhos 
pertencentes a segmentos sociais culturalmente desfavorecidos, a 
experiência escolar é um prolongamento da vida familiar e do seu grupo 
social. Enquanto, para os filhos das classes dominantes, a cultura escolar 
é a sua própria cultura – porém, reelaborada e sistematizada – para os 
filhos das classes dominadas, a cultura da escola é experimentada como 
uma “cultura estrangeira”. Na transmissão de conhecimentos, a escola se 
orienta, segundo Bourdieu, pela “pedagogia do implícito”, isto é, o sucesso 
do aluno na aquisição da cultura escolar supõe, de forma implícita, a posse 
de um capital cultural herdado pelos alunos oriundos das famílias das 
classes dominantes. A escola, assim, contribui com a reprodução social, 
ou seja, a garantia da dominação pelos setores sociais dominantes. 
 
Analisando Bourdieu, Busetto (2006) esclarece a forma como a escola reproduz a 
dominação de classes, presente no contexto da sociedade. Indivíduos e grupos da classe 
dominante concebem a escola e nela encontram a própria extensão de sua visão de 
mundo; e os indivíduos e os grupos da classe dominada, de certa forma, devem se 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 32 
submeter à concepção, tendo em vista que a escola transmite a compreensão de uma 
cultura “estrangeira”, a qual não se coaduna com a visão de mundo que a classe 
dominada possui. Este aspecto é de suma importância, se objetivamos compreender a 
diferença no tocante à aquisição de conhecimentos, entre os segmentos dominantes e os 
dominados. 
No contexto da sociedade, considerando o processo de “democratização” do ensino, 
podemos verificar uma forte elevação no número de pessoas diplomadas. Neste sentido, 
de acordo com Busetto (2006), a instituição escolar, na função social de reprodutora da 
cultura dominante, substitui, paulatinamente, as desigualdades de acesso ao ensino pelas 
desigualdades, no que se refere aos currículos apresentados pelos indivíduos, 
alicerçados nas escolhas de cursos e unidades de ensino que possuem um determinado 
poder simbólico. 
 Os alunos pertencentes aos segmentos dominantes da sociedade podem escolher 
o que se costuma denominar “as melhores e mais eficientes instituições escolares”, as 
que possuem maior capital cultural; enquanto os alunos pertencentes aos segmentos 
dominados da sociedade circulam num espaço de escolha reduzido e somente podem 
escolher instituições que se coadunam com as condições de baixo capital cultural ematerial que eles possuem. 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 33 
 
UNIDADE 3 
SSOOCCIIOOLLOOGGIIAA DDAA 
EEDDUUCCAAÇÇÃÃOO NNOO BBRRAASSIILL 
 
 
3.1 Contexto histórico 
 
No Brasil, a Sociologia da Educação institucionalizou-se enquanto disciplina 
científica somente a partir da segunda metade da década de 60 do século XX e foi 
influenciada fortemente por duas correntes do pensamento sociológico: a funcionalista e 
a conflitualista. 
Como estudamos na unidade anterior, pode-se dizer que Durkheim desenvolveu a 
fundamentação da corrente funcionalista, tanto no que diz respeito à estrutura social 
quanto à evolução sócio-histórica, visto que, para o sociólogo, a educação é 
eminentemente social. 
A corrente funcionalista preocupa-se principalmente com a questão da 
escolarização; sobretudo, como ocorre a integração entre os indivíduos, por meio da 
educação e o modo como se organizam os espaços escolares. Esta corrente nega 
aspectos como a transformação social e os conflitos sociais, também percebia-os como 
doença. 
Com o intuito de manter a ordem social, um dos principais objetivos da escola era 
interiorizar a hierarquia social nos indivíduos, com base no modelo capitalista. O clima de 
diferenças e hierarquias era mantido também dentro das próprias escolas, local onde a 
obediência às regras sociais e à disciplina era indispensável e fundamental à manutenção 
de uma boa educação. 
 
As características anteriormente apontadas são familiares a você? A escola em que 
você estudou apresentava aspectos semelhantes a estes na forma de se organizar? 
 
Esses aspectos que você presenciou e talvez tenha até identificado nas suas 
experiências escolares foram, praticamente, os únicos a nortear os projetos pedagógicos 
 
 
Estude esta 
unidade 
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SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 34 
brasileiros até a década de 60. Somente a partir de diversas mudanças políticas surgidas 
no Brasil no referido período, outros ventos começaram a soprar para a educação e novas 
influências estariam a se anunciar. 
Ao contrário da corrente funcionalista, que via o conflito como um axioma da 
sociedade que precisava ser tratado, a corrente conflitualista percebia o conflito como 
parte integrante da sociedade e responsável por transformações sociais. 
Para a primeira corrente estudada aqui, a funcionalista, a sociedade era vista como 
um sistema integrado; enquanto que, para a conflitualista, a sociedade era composta por 
elementos contraditórios cuja estabilidade ocorria de acordo com as relações de 
dominação. 
Os cientistas sociais adeptos dessa corrente acreditavam que os conflitos de classe 
entre a burguesia e o proletariado seriam permanentes, até que se dissolvessem para dar 
lugar a uma nova sociedade. Para eles, a burguesia só se mantinha no poder por meio da 
doutrinação ideológica que a mesma exercia, principalmente por meio de instituições 
como a escola, a qual reproduzia a ideologia desta mesma sociedade e, 
consequentemente, assegurava dominação desta. 
Apesar de inspirada em pensamentos filosóficos como o marxismo e no pensamento 
socialista do século XIX, essa corrente surgiu no Brasil a partir dos anos 50 do século XX 
como uma grande novidade no âmbito educacional. 
 
O foco da corrente funcionalista era a análise dos fundamentos da sociedade com o 
objetivo de identificar as raízes dos problemas sociais. Por meio desta análise, a 
sociedade capitalista poderia fazer a sua crítica. 
 
Pesquisas influenciadas pela corrente funcionalista constataram que a educação, no 
Brasil daquele período, não vinha atendendo a seu principal objetivo de tornar a 
sociedade mais justa e humana. 
As ciências sociais ofereceram conteúdo intelectual e legitimidade acadêmica aos 
apelos populares, tanto pela intervenção de intelectuais na política, quanto pela criação 
de instituições especializadas de pesquisa. Neste aspecto, como ressalta Poyer (2007), 
com a criação do Centro Brasileiro de Pesquisa Educacional, na década de 1950, 
efetivou-se finalmente o encontro entre Ciências Sociais e Educação. Expoentes como 
Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro, Florestan Fernandes e Oracy Nogueira conduziram 
pesquisas sociológicas sobre os problemas brasileiros, entre eles, a ineficiência do Brasil 
em oferecer a educação básica. 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 35 
As pesquisas também mostraram que, da forma como estava organizada, a escola 
acentuava ainda mais as diferenças sociais, pois os alunos que obtinham sucesso eram, 
em maioria, provenientes de classes sociais favorecidas. 
Entre os pensadores que se dedicaram a compreender o papel da educação na 
construção de uma nova realidade social, destaca-se Florestan Fernandes, com sua 
inegável contribuição para a educação e capacidade de produção teórica e crítica sobre a 
realidade brasileira (POYER, 2007). Influenciado pelas ideias marxistas, suas 
contribuições projetaram-se além da teoria. A sociologia defendida por Florestan 
Fernandes resgata a realidade histórica do Brasil, analisando a forma de pensar dos 
grupos e classes sociais brasileiras. 
Em seus estudos, havia inclusive, além de discussões sobre as relações e a 
organização da sociedade, questionamentos a respeito do modelo de capitalismo 
dependente que se instalara no Brasil e a função do intelectual na sociedade. Estudos 
mais específicos sobre a cultura brasileira também era alvo das pesquisas de Florestan 
Fernandes, como os que discutiam e questionavam “o mito da democracia racial”. 
Florestan Fernandes sustentava que existia no Brasil muita discriminação e exclusão 
social em relação aos afrodescendentes, diferentemente de Gilberto Freyre, o qual 
afirmava haver uma suposta “harmonia entre as raças”. 
A partir da influência da referida corrente, a escola passou a ser compreendida 
apenas como uma das partes que compõe o processo social, pois não podemos estudar a 
escola de forma isolada e deslocada, sem relação com o contexto político, econômico e 
cultural no qual ela está inserida. Assim, a educação vai além dos muros da escola, para 
o mundo dos que se educam. 
Nessa atmosfera, surgiram diversos movimentos de educação popular, com 
diferentes concepções ideológicas e de influência tanto marxista quanto cristã, atuando de 
formas variadas. A fim de se promover o acesso à educação, favoreceu-se o acesso a 
peças de teatro, atividades nos sindicatos e nas universidades, cursos, exposições, 
publicações, exibição de filmes e documentários. Ocorreu também a alfabetização para 
população rural ou urbana marginalizada; e treinavam líderes locais, propondo uma maior 
participação política nas comunidades. Segundo Poyer (2007), os principais movimentos 
nessa época foram: 
 Movimento de Educação de Base (MEB): criado em 1961 pela CNBB 
(Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e mantido pelo Governo Federal, dirigia-se às 
classes trabalhadoras, com o objetivo de ampliar o universo cultural e educacional de 
setores da população brasileira. 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 36 
 Centros Populares de Cultura (CPC): surgiu em 1961, por iniciativa da UNE 
(União Nacional dos Estudantes), caracterizando-se, também, pelo caráter pedagógico-
cultural de conscientização política e de mobilização social. Levavam teatro, cinema, artes 
plásticas, literatura e outros bens culturais ao povo; 
 Movimentos de Cultura Popular (MCP): o primeiro ligado à prefeitura de Recife, 
iniciou suas ações em 1960 e tinha como objetivo ampliar o universo cultural dos 
segmentos populares brasileiros. Paulo Freire integrou este movimento. 
Podemos dizer que o movimento pela educação andava de mãos dadas com os 
movimentos de cultura popular, e que “a pedagogia do oprimido”, de Paulo Freire, 
encontrava sua base de apelo social na defesa da educação pública. 
 
3.2 Paulo FreireAs ideias e propostas de Paulo Freire tornaram-se grandes referenciais da educação 
popular no Brasil e no mundo, devido principalmente à sua forma peculiar de conceber a 
sociedade e a educação, influenciada por experiências e práticas religiosas. 
Segundo Poyer (2007), Paulo Freire era cristão, e no cristianismo inspirava-se para 
teorizar e agir como educador. Pautadas em princípios cristãos, especialmente na 
teologia da libertação1, suas práticas ancoravam-se na reflexão sobre as desigualdades 
sociais, por isso evidenciava sua preocupação com a disparidade entre ricos e pobres; 
riqueza esta que resultava em privilégios sociais para as classes dominantes e em 
opressão para a população empobrecida. 
Conforme Poyer (2007), suas obras nos impelem a repensar constantemente a 
educação e a sociedade brasileira, pois consideram a relação entre a teoria e a prática 
como premissas da atuação pedagógica, a qual deve sempre ponderar a realidade do 
aluno como ponto de partida. Nesta perspectiva, a orientação teórico-metodológica das 
produções freirianas ancoram-se na prática reflexiva que, por sua vez, ampara-se na 
relação entre o contexto do educando e o conteúdo a ser trabalhado. 
 
1
A Teologia da Libertação desponta no cenário latino-americano na década de 1960, período marcado por 
governos autoritários e pela intensificação das desigualdades sociais, que expunham a fragilidade e as 
contradições do desenvolvimentismo propalado no processo de industrialização tardia que experimentaram 
os países do terceiro mundo. É gestada, portanto, em meio ao fortalecimento dos movimentos de cunho 
socialista, inspirados pela teoria marxista. Para os teólogos latino-americanos, fé e política são elementos 
indissociáveis, na medida em que ressignificam a consciência de classes e o compromisso cristão em favor 
dos pobres e oprimidos, seguindo o exemplo de Jesus, que demonstrou, no curso de sua vida pública, 
atenção especial aos marginalizados. A libertação é entendida, assim, como a condição da vida em 
plenitude, propagada no Novo Testamento da Bíblia cristã, sendo alcançada pela emancipação do 
indivíduo, que se configura pela consciência livre e ativa sobre as estruturas políticas, econômicas e sociais 
que regem a humanidade. 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 37 
De acordo com Aranha (1996), a obra Educação como prática da liberdade (1965), 
evidencia a percepção idealista de Freire, influenciada fortemente pelo pensamento 
católico. Já em Pedagogia do Oprimido (1970), Freire expõe uma análise dialética da 
realidade social brasileira, enfatizando a influência dos fatores econômicos, políticos e 
sociais sobre o processo educativo. 
Poyer (2007) destaca, ainda, outras obras de Paulo Freire que se constituem 
referência nacional e internacional: 
 
[...] Carta à Guiné Bissau; Vivendo e aprendendo; A importância do ato de 
ler; e À sombra desta mangueira. Esta última apresenta a ótica política do 
autor com a abordagem de temas polêmicos, a saber, a sua experiência no 
exílio e a sua visão sobre o neoliberalismo e organismos internacionais, 
como o FMI e o Banco Mundial (POYER, 2007, p. 35). 
 
Vale ressaltar que o fio condutor das obras produzidas por Paulo Freire é a 
conscientização de que vivemos em uma sociedade desigual, na qual os interesses das 
classes dominantes sobressaem em relação às necessidades dos pobres. 
Neste prisma, Freire defende que a emancipação do indivíduo se consubstancia 
quando ele é capaz de viver em plenitude e isso só ocorre quando nos apropriamos dos 
bens culturais produzidos pela humanidade, pois são eles que nos caracterizam como 
seres humanos. Entre tais bens, destaca-se a educação que, no contexto de Paulo Freire, 
constituía-se um direito assegurado somente aos mais ricos, especialmente quando se 
compara a qualidade da educação ofertada em países de primeiro mundo e países 
periféricos (denominados também de países de terceiro mundo). 
Aranha (1996) assinala que, para Freire, haveria dois tipos de pedagogia: “a 
pedagogia dos dominantes, na qual a educação existe como prática da dominação, e a 
pedagogia do oprimido – tarefa a ser realizada -, na qual a educação surge como prática 
da liberdade” (ARANHA, 1996, p. 207). 
Já a pedagogia problematizadora, cunhada por Freire, estava direcionada à 
alfabetização de adultos, ou seja, à massa populacional excluída durante longo período 
do processo educativo. Freire acreditava no poder libertador que a conscientização e a 
apropriação do conhecimento podia operar na vida de indivíduos e comunidades mais 
carentes. Firmava-se na crença de que assumir a vocação humana significava tornar-se 
um sujeito ativo e participativo, capaz de transformar os rumos da história: 
 
 
 
O movimento de libertação deve partir dos próprios oprimidos, cuja 
pedagogia será “aquela que tem de ser forjada com ele e não para ele, 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 38 
enquanto homens ou povos, na luta incessante de recuperação de sua 
humanidade”. Trata-se de um trabalho de conscientização e politização. 
Não basta que o oprimido tenha consciência crítica da opressão, mas que 
se disponha a transformar essa realidade. “A práxis é reflexão e ação dos 
homens sobre o mundo para transformá-lo. Sem ela, é impossível a 
superação da contradição opressor-oprimidos” (ARANHA, 1996, p. 207, 
grifos da autora). 
 
 Considerando tais aspectos, fica evidente que o método freiriano não se restringe a 
técnicas de alfabetização, pois seu posicionamento filosófico implica em ação e 
transformação da realidade social. Compreende-se, assim, que a educação 
problematizadora freiriana não supunha um rigor de conteúdos, instrumentos e métodos 
de ensino-aprendizagem; antes, pautava-se no contexto político, social, econômico e 
cultural dos discentes e se configurava em ato de amor e solidariedade, tanto de 
educadores quanto de educandos. 
Poyer (2007) destaca que, embora tenha contribuído decisivamente para modificar 
as concepções sobre as metodologias aplicadas à educação, Paulo Freire enfrentou 
inúmeras críticas: 
 
[...] dos católicos conservadores, por se utilizar dos pensamentos 
marxistas para orientar suas ações; de intelectuais esquerdistas, que o 
acusavam de sucumbir ao nacional-desenvolvimentismo; e, por fim, dos 
que diziam ser sua “pedagogia” demasiado espontaneísta, e não, diretiva 
(POYER, 2007, p. 39). 
 
Outrossim, a contribuição de Freire para a educação é inquestionável, 
especialmente no tocante à mudança de paradigmas pedagógicos que redefiniram o 
papel de professores e alunos no processo educativo. Se antes o aprendizado ocorria 
mediante a assimilação passiva de conteúdos prontos e acabados, com Paulo Freire, a 
realidade do aluno ganha significado, assim como o contexto político, econômico e social, 
que passa a nortear a atuação do educando, visando o engajamento social e a 
transformação de uma sociedade desigual e excludente. 
 
3.3 As instituições sociais e a educação 
 
Uma questão se faz importante: em que medida as instituições sociais são 
significativas para o processo de socialização? 
 
Estamos inseridos em uma realidade social e, por assim ser, estamos a ela 
adequados, sob pena de nos sentirmos “desadequados” ao nosso meio social, 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 39 
acarretando, como consequência, sofrimentos psíquicos. Com efeito, o fato de nos 
sentirmos não enquadrados em nosso meio social envolve sofrimentos de ordem psíquica 
que fazem com que nossa personalidade possa, em certos momentos, desintegrar-se e 
encontrar-se num “ego esburacado”, como fundamenta a psicanálise. 
Portanto, a educação, em sua concepção mais ampla, de certa forma, protege-nos 
contra a desfragmentação do ego. Vamos ver, agora, alguns elementos que contribuem 
para a manutenção de nossa estrutura psíquica em sociedade.Segundo Oliveira (1998), desde que nascemos, somos colocados no mundo e, 
enquanto indivíduos, iniciamos o aprendizado das regras presentes no contexto da 
sociedade, assimilando os procedimentos mais adequados para nela vivermos e 
convivermos adequadamente. À medida que nos desenvolvemos pelo processo de 
interação com o outro e com o meio, vamos aprendendo as regras significativas que nos 
permitem circular no espaço social de forma adequada, construindo padrões de 
comportamento fundamentais a nossa vivência em sociedade. 
Nesse sentido, a educação é um processo contínuo, que não se encerra no contexto 
de nossa existência. Durkheim, em sua teoria sociológica, afirma que recebemos a 
sociedade por herança, com todos os seus valores, hábitos, crenças, normas de trato 
social, normas jurídicas, religião e assim por diante. 
Pensar nas instituições sociais é pensar, segundo Oliveira (1998), em todo um 
conjunto de regras e procedimentos que se encontram padronizados, que são aceitos 
pela sociedade e que, de certa forma, garantem a própria sobrevivência desta mesma 
sociedade. O mesmo autor acrescenta ainda que instituição social pode ser definida 
como: 
 
[...] um conjunto de regras e procedimentos padronizados, reconhecidos, 
aceitos e sancionados pela sociedade e que têm grande valor social. São 
os modos de pensar, de sentir e de agir que a pessoa encontra 
preestabelecida e cuja mudança se faz muito lentamente, com dificuldade 
(OLIVEIRA, 1998, p. 62). 
 
Podemos depreender, dessas palavras, a significação das instituições sociais para 
indivíduos e grupos, pois não nos encontramos distantes de todo um universo envolvente, 
que construímos e constitui que é a sociedade. 
Em toda e qualquer instituição social, seja ela a família, a Igreja, a escola ou os 
próprios meios de comunicação de massa, encontramos a presença de regras e de certos 
procedimentos padronizados os quais contribuem para que a organização de um grupo e 
a própria “satisfação das necessidades dos indivíduos que dele participam sejam 
mantidas” (MEKSENAS, 2005, p. 87). Portanto, compreender as instituições sociais é de 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 40 
fundamental importância até mesmo para compreendermos a nós mesmos e nossas 
circunstâncias. 
Quando trabalhamos com as instituições sociais, dois elementos merecem 
destaque: a presença do grupo social e da instituição social, conceitos distintos, mas 
fundamentalmente interdependentes. 
O grupo social diz respeito à reunião de indivíduos que interagem, atendendo às 
suas necessidades. Já, quando trabalhamos com as instituições sociais, estamos lidando 
com todo um conjunto de regras e de normas padronizados no contexto social, que 
permitem a indivíduos e aos grupos construir repertórios específicos de ações individuais 
e coletivas, que possibilitem às pessoas circular adequadamente em um contexto social 
mais amplo. 
Os grupos sociais ”[...] referem-se a indivíduos com objetivos comuns, em um 
processo de interação mais ou menos contínuo. Já as instituições sociais referem-se às 
regras e procedimentos padronizados dos diversos grupos.” (MEKSENAS, 2005, p. 87). 
Esta diferenciação é extremamente significativa, por que permite clarificar os aspectos 
específicos do grupo social e das instituições sociais. 
 
 
3.4 As primeiras instituições socializadoras: a família e a educação 
 
Devemos compreender que a família é a principal instituição socializadora com a 
qual temos efetivo contato; é instância socializadora de caráter informal. Pela educação, 
socializamo-nos; pela educação, perdemos nosso caráter eminentemente biológico e 
internalizamos todos os elementos de nosso caráter social. O homem é, pois, sempre 
tridimensional, ou seja, é um ser biológico, psíquico e social. Assim, pela educação, 
vamos perdendo paulatinamente elementos puramente biológicos de nosso ser e 
adquirindo elementos sociais que nos permitem estar no mundo de forma mais integrada. 
Podemos afirmar que até mesmo nossa personalidade individual vai se configurando 
em função da interação que estabelecemos com o outro e com nosso ambiente. A partir 
da inserção em contextos sócio-históricos, temos a própria constituição da família. 
Entendemos que família e educação, em muitos momentos de nossa vivência social, 
possuem objetivos comuns. 
Qual ou quais as funções específicas da família? 
 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 41 
Segundo Oliveira (2005), podemos compreender que a família possui funções 
específicas no universo da formação dos indivíduos, dentre elas, as junções: sexual, 
reprodutiva, econômica e educacional. 
A função sexual e a função reprodutiva garantem a satisfação sexual do homem e 
da mulher e também garantem a própria reprodução da espécie. A função de caráter 
econômico assegura todos os meios de sobrevivência, garante as condições materiais 
necessárias ao desenvolvimento dos indivíduos. A função educadora envolve a 
transmissão dos valores, dos hábitos, das crenças, dos ritos e dos mitos que são padrões 
culturais presentes na sociedade, e é por essa razão que a família é sempre concebida 
como a primeira instituição socializadora. 
Oliveira (2005) destaca a função socializadora da família com a primeira fase de 
socialização na constituição da personalidade dos indivíduos em sua fase inicial, 
notadamente na infância. Conforme o autor, no processo de socialização, considerando-
se a família, encontramos duas fases distintas: 
 
[...] a socialização primária: aquela que o indivíduo sofre na infância, 
convertendo-o em um novo membro da sociedade; na socialização 
primária, como já dissemos, destaca-se principalmente o papel da família 
que transmite conteúdos cognitivos que variam de uma sociedade para 
outra; a socialização secundária: aquela que ocorre posteriormente e que 
leva a interiorizar setores particulares do mundo objetivo da sua sociedade 
(OLIVEIRA, 2005, p. 35). 
 
O referido autor salienta que a socialização primária e a socialização secundária se 
constituem em instâncias que se imbricam com a função da família no contexto das 
sociedades. Na atualidade, podemos afirmar que a instituição da família, conforme 
Oliveira (2005), vem perdendo suas próprias funções pedagógicas, embora esteja a 
exercer forte influência na formação das gerações mais jovens e das crianças, enquanto 
instituição de socialização. 
A família, mantendo-se enquanto instituição fundamental de socialização, está se 
reconfigurando: homem e mulher, nos papéis sociais de pai e de mãe, estão 
experienciando novas formas de exercício destes mesmos papéis. O fato de a mulher, 
agora, ser integrante do mercado de trabalho e atuar neste de forma mais ativa, além de 
ser mantenedora do lar, favorece tal reconfiguração. As atribuições familiares estão, cada 
vez mais, divididas entre homem e mulher. O homem não tem mais o papel de exclusivo 
ordenador e mantenedor do lar, mas o de “companheiro” e de administrador conjunto, se 
assim podemos dizer. 
Também, por esses aspectos, concebemos que há certa crise no contexto da 
família, sem que ela perca seu papel significativo de primeira instância de socialização: 
 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 42 
A família é a primeira agência de controle social da qual a criança 
participa, ocorrendo aí uma socialização baseada em contatos primários, 
mais afetivos, diretos e emocionais. Ela é uma instituição basicamente 
conservadora e, como tal, no mundo de hoje, não tem encontrado 
condições de rápida adequação à nova realidade social em que está 
inserida. E é justamente aí que se encontra um dos principais aspectos da 
crise sociais e a educação que abala a família nas sociedades modernas, 
em vertiginoso processo de mudança social. Dessa forma encontramos 
famílias que têm normas rígidas, hierarquia bem definida e pouca 
flexibilidade quanto à educação dos filhos, comotambém encontramos 
famílias com poucas regras, onde os pais não se envolvem muito com o 
estabelecimento de limites para os filhos – pode ser, por exemplo, que não 
haja horários para comer ou dormir. Encontramos, ainda, famílias cuja 
característica é o relacionamento íntimo entre os seus membros; passam 
muito tempo juntos e os papéis de cada um nem sempre são muito bem 
definidos. Há muito carinho e assistência entre os familiares, bem como 
espírito de lealdade (OLIVEIRA, 2005, p. 50-51). 
 
Oliveira (2005) aponta, portanto, para aspectos presentes na estrutura familiar de 
hoje, no contexto das sociedades contemporâneas, que exigem novas configurações da 
instituição família. Há uma crise instalada por causa das variadas formas que a família 
assume no contexto social envolvente. A família nuclear não é mais predominante, 
acrescentado-se que é cada vez mais intenso o conflito de gerações, nas sociedades 
atuais e no cerne da instituição familiar. 
 
3.5 A instituição religiosa e a educação 
 
Para pensarmos a instituição religiosa e a educação, devemos também pensar a 
respeito da própria função social da religião no contexto das sociedades; tal função pode 
ser compreendida como socializadora, visto que, enquanto grupo social, a instituição 
religiosa adapta indivíduos e grupos ao contexto social vigente, pois se coloca como força 
constituinte da coesão e do ordenamento social. 
Portanto, quando fazemos referência à função social da religião, é de fundamental 
importância compreendermos que a religião é vivenciada coletivamente, por meio de 
crenças expressas, ritos visíveis, culto exterior e cerimônias públicas. Trata-se, assim, de 
uma construção humana que se manifesta coletivamente, pois é parte integrante da 
sociedade, que influencia e é influenciada por ela. 
A sociedade, por sua vez, resulta das relações que se estabelecem entre os grupos 
humanos, que buscam sobreviver em seu sentido imediato e histórico, constituindo 
universos de representações coletivas. 
No caso da religião, agregam-se indivíduos que possuem uma mesma fé e que se 
encontram ligados por regras comuns e por possuírem um mesmo líder espiritual 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 43 
(OLIVEIRA, 2005). Neste sentido, toda e qualquer Igreja, enquanto grupo social 
específico, tem como função a formação e orientação religiosa de indivíduos e grupos. 
É sempre necessário que o indivíduo possua um referencial no qual possa se apoiar 
e com o qual possa estabelecer a lógica de seus procedimentos e agir dentro dos 
espaços de interlocução facultados no interior do contexto por ele vivenciado. Ele 
necessita de um discurso que, uma vez internalizado, permita a construção do referencial 
que, para a pessoa, funcionará como guia e fará com que ela possa se situar dentro dos 
parâmetros aceitos pela sociedade. 
Os valores morais, éticos e culturais, as regras e as normas presentes no universo 
social possuem essa função, permitindo aos indivíduos interagir e organizar seus padrões 
comportamentais dentro do estabelecido, do permitido, entre os limites do aceito e do não 
aceito, o que demonstra também a característica normativa da Igreja em sua função 
social. 
Devemos compreender, assim, que toda e qualquer Igreja se consubstancia a partir 
das determinações da realidade social, pois a religião é “coisa” social, conforme afirmam 
os funcionalistas. No contexto religioso brasileiro, estão ocorrendo rupturas com relação 
às concepções das Igrejas tradicionais e históricas, ocorridas pela pluralidade das 
relações presentes nos campos social, político, econômico e cultural. A partir desta 
pluralidade, marca da secularização, as referidas Igrejas distanciaram-se das 
necessidades objetivas e subjetivas de seu público-alvo, ocasionando a busca de 
espaços alternativos de discurso fácil, que, internalizados por indivíduos e grupos, 
constituem-nos subjetivamente. 
Pelos aspectos mencionados, podemos verificar a própria função educativa da 
religião, no sentido de que ela reproduz todos os elementos presentes no contexto social 
mais amplo, constituindo personalidades, à medida que é internalizada por indivíduos e 
grupos e, por sua vez, também a construção de repertórios de ações individuais e 
coletivas, fazendo com que os indivíduos possam circular adequadamente na sociedade. 
 
3.6 A instituição do Estado e a educação 
 
Devemos entender que a instituição do Estado possui o poder de coerção, no 
sentido de que é a única instituição no contexto das sociedades complexas que tem para 
si o atributo de recorrer à violência física a fim de cumprir com todos os seus objetivos 
(OLIVEIRA, 2005). 
Assim, podemos compreender que o Estado é a instituição capaz de exercer 
legalmente o controle social sobre os indivíduos, pois tem, na lei, o elemento fundamental 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 44 
de execução de suas funções. Observamos, assim, que determinadas normas de 
conduta, quando passam para a esfera da lei, constituem-se obrigatórios. 
Encontra-se presente, desta forma, um processo de coercibilidade que se sobrepõe 
à vontade individual, isto é, ninguém pode optar por não cumprir determinada lei sem 
sofrer sanções; esta exerce um poder coercitivo sobre nós, pois somos obrigados a 
cumpri-la. 
No contexto do século XX, temos o crescente desenvolvimento nas sociedades 
modernas do compromisso do Estado para com a educação. Cada vez mais o Estado, 
teve a seu cargo o compromisso com as funções da educação, o que envolve o 
planejamento da educação e sua integração ao contexto da sociedade envolvente 
(OLIVEIRA, 2005). 
O mesmo autor define política educacional como medida de caráter político imposta 
no campo da educação e que inclui a ampliação do número de escolas e salas de aula e 
a manutenção de condições para que um significativo contingente populacional tenha 
acesso à educação. Podemos depreender, portanto, que a educação, de certa forma, 
deve estar subordinada às próprias condições do país e de sua época. Vejamos, agora, 
os Arts. 205 e 206 de nossa Constituição Federal, que rege sobre a educação, para que 
se evidenciem as atribuições do Estado acerca da política educacional: 
 
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada 
com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o 
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. 
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: 
I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; 
II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; 
III – pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e 
privadas de ensino; 
IV – gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; 
V – valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, 
com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das 
 redes públicas; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) 
VI – gestão democrática do ensino público, na forma da lei; 
VII – garantia de padrão de qualidade. 
VIII – piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos 
de lei federal. 
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) 
 
Observa-se, assim, que o Estado, em sua política educacional, estabeleceu 
instrumentos que demonstram que a educação está adequada à nova realidade política, 
social e econômica da sociedade. A própria sociedade deve fornecer à educação todos os 
recursos necessários, porque a educação não é refratária às alterações presentes no 
contexto social mais amplo. 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 45 
Entendemos que, ao Estado, cabe estabelecer as diretrizes à educação obrigatória.No caso brasileiro, porém, apesar de a Constituição ser demasiadamente evidente, 
encontra-se instalado um verdadeiro caos na educação, o que reflete o descaso por parte 
do poder público para com a educação, notadamente caracterizado pelo nível do ensino 
escolar, pela má remuneração dos professores e pelo péssimo estado de conservação 
das escolas públicas. 
A educação, portanto, deveria ser repensada, no contexto de nossa sociedade, por 
parte dos segmentos administrativos do Estado, elaboradores das políticas educacionais. 
 
3.7 Os meios de comunicação social e a educação 
 
No contexto da atualidade, não podemos negar a forte influência dos meios de 
comunicação de massa nas sociedades. Estes fornecem informações que não se 
encontram mais restritas a regiões ou partes determinadas do mundo. 
Podemos dizer que o mundo não possui mais espaços desconhecidos, pois 
encontra-se interligado e, de dentro de casa, podemos chegar ao absurdo de assistir a 
uma guerra em andamento em qualquer lugar do mundo como, por exemplo, pudemos 
ver na ocasião da guerra dos Estados Unidos contra o Iraque. 
No campo das comunicações, dos meios de comunicação de massa, podemos 
afirmar que o mundo é uma “aldeia global”, em que a maioria dos segmentos sociais tem 
acesso a informações sobre os lugares remotos. Este fato altera drasticamente até 
mesmo o processo educativo, ou seja, o fortalecimento das informações e dos meios de 
comunicação de massa perpassa o processo educativo, fazendo com que, em muitos 
momentos, tenhamos que repensar nossas próprias práticas educativas: 
 
Até algum tempo atrás, a família e a escola eram, sem dúvida, as grandes 
instituições encarregadas da educação assistemática e sistemática. Com o 
surgimento e desenvolvimento dos poderosos veículos de comunicação de 
massa [...] essa situação alterou-se substancialmente (OLIVEIRA, 2005, p. 
78). 
 
Esse aspecto exige, como dissemos anteriormente, atitudes questionadoras com 
relação à educação e ao processo educativo. As informações transmitidas pelos meios de 
comunicação de massa constituem uma forma de lazer, permitindo que as pessoas 
entrem em contato com assuntos da atualidade, pois são veiculados de maneira mais 
simples e imediata. 
Essa facilidade e certa ausência de elaborações mais aprimoradas no contato com 
os meios de comunicação fazem com que, no contexto das sociedades, estes mesmos 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 46 
instrumentos gozem de forte prestígio entre os membros da população (OLIVEIRA, 2005). 
Como consequência, temos o painel apontado pelo autor em destaque: 
 
As instituições sociais básicas, no processo de socialização (família, igreja 
e escola), estão perdendo a influência sobre as gerações mais jovens, já 
que os conhecimentos transmitidos por elas não coincidem, muitas vezes, 
com o interesse dos jovens. Assim é que o ensino transmitido pela escola 
vem sendo afetado pelos meios de comunicação de massa, principalmente 
a televisão (OLIVEIRA, 2005, p. 78). 
 
Principalmente entre os integrantes da geração mais jovem, são criadas novas 
necessidades pela influência adquirida principalmente da televisão: novas formas de ver o 
mundo, novas maneiras de pensar, de sentir e de agir são veiculadas, fazendo com que 
diferentes necessidades sejam criadas. 
Nesse sentido, a escola precisa acompanhar tal processo, razão pela qual deve ser 
repensada diante da influência dos meios de comunicação de massa. Observemos que 
hoje a criança leva para a escola uma série de informações sobre os mais variados 
temas, e a escola não pode deixar de acompanhar todo esse processo. 
Os professores devem estar constantemente atualizados para fazer frente ao 
acúmulo de informações que seus alunos trazem de seu lar graças aos meios de 
comunicação de massa. Se assim não procederem, estarão, de certa forma, alicerçados 
numa ilusão. O mesmo se aplica à instituição escolar. Caso contrário, pode-se vivenciar a 
ilusão que envolve pensar que todo o conhecimento é adquirido por meio do ensino, 
apesar de a realidade nos dizer que muito do que as novas gerações conhecem foi 
adquirido fora e para além da escola. 
 
3.8 A educação no Brasil 
 
Nesse momento de nossos estudos, entendemos que convém dirigir um olhar sobre 
a educação em nossa sociedade. Durante todos os capítulos do presente material, 
discutimos vários aspectos que fazem parte da sociologia e da sociologia da educação. É 
o momento, portanto, de salientar que, no contexto do século XXI, a educação figura 
como um significativo componente de crescimento econômico. Segundo Meksenas 
(2005), faz-se necessário pensar também a educação como fator de diminuição das 
desigualdades, sociais tão presentes e agudas em nossa sociedade. 
 
A desigualdade social presente no contexto de nossa sociedade leva à instauração 
de formas profundas de desqualificação de indivíduos e grupos, por tanto devemos nos 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 47 
questionar: como o Estado brasileiro poderia minimizar as consequências da 
desigualdade social para significativo contingente populacional da sociedade brasileira? 
 
No que tange à educação, são muitos brasileiros, dentre eles, o que se apresenta de 
forma mais aguda é, sem sombra de dúvidas, o fracasso escolar. No contexto da 
sociedade da informação, da denominada “era digital”, em que recursos tecnológicos 
estão sendo cada vez mais usados, ainda nos deparamos com o fantasma do fracasso 
escolar. Podemos até mesmo dizer que estamos diante de um problema social de ordem 
estrutural, visto que o fracasso escolar reproduz todo um processo de desigualdade social 
presente em nossa realidade. 
Esse fracasso deve ser pensado sociologicamente, e a sociologia da educação pode 
contribuir para entendermos e modificarmos essa realidade. Pensar o fracasso escolar do 
ponto de vista sociológico remete-nos ao conceito de estrutura familiar e, assim, ao 
próprio capital cultural familiar. Há, sim, um elemento familiar que contribui para o 
fracasso escolar, nesse sentido o capital cultural familiar, de algum modo, tem força 
determinante na forma como os pais percebem a educação de seus filhos. Ao mesmo 
tempo, em que se encontra em estreita relação com as condições materiais de existência 
das famílias, e aqui encontramos outro determinante, a desigualdade social, presente em 
nossa realidade. 
Segundo Meksenas (2005), 93% das crianças ricas concluem os estudos 
fundamentais e, posteriormente, dão sequência a sua formação, enquanto apenas 63% 
das crianças das classes trabalhadoras conseguem concluir as séries fundamentais e 
nem sempre prosseguem com os estudos. Este fato demonstra a marca da desigualdade 
social, que a escola irá reproduzir, pois reproduz o que se encontra presente na estrutura 
na qual se insere, como já destacava Pierre Bourdieu. 
No contexto da sociedade brasileira, os filhos dos trabalhadores, muito cedo, deixam 
os estudos para se integrar ao mercado de trabalho; por esta razão foram criados os 
denominados ensinos supletivos, cujo objetivo consistia em atender às necessidades dos 
segmentos sociais subalternos da população, já que os dominantes não tinham e não têm 
essa necessidade específica. 
Resgatando as ideias de Pierre Bourdieu, entendemos ser a escola uma das 
estratégias de manutenção do status social ou de ascensão social, tendo em vista que o 
investimento feito pelas famílias na escolarização de seus filhos se encontra diretamente 
relacionado às condições de possibilidade que os fazem perceber a escola enquanto forte 
instrumento de mobilidade social. Podemos perceber, então, que para as classes sociais 
o papel da escola não se restringe somente à transmissão de conhecimentos, entendendo 
que ela contribui inclusive para a manutenção de um determinado status social. 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 48 
Não podemos esquecer queo capital cultural familiar está diretamente relacionado à 
condição de classe e, se nos encontramos em uma sociedade marcadamente desigual e 
excludente, o capital cultural familiar no que concerne aos investimentos na educação dos 
filhos obedecerá a essa mesma determinação de classe. Assim, de acordo com o 
pensamento bourdieusiano, na escola encontramos o domínio da reprodução social e a 
legitimação das desigualdades sociais, perspectiva pela qual podemos refletir 
sociologicamente sobre os índices apresentados por Meksenas (2005). 
Outro aspecto significativo relacionado-se à própria instituição do Estado. Como são 
os investimentos do Estado brasileiro no campo da educação? Não são os índices ainda 
adequados às necessidades da maioria da população; o Brasil ainda é um dos países que 
menos investe no setor, se considerarmos o que outros países latino-americanos 
investem. 
No contexto da atualidade, as escolas públicas não têm investimentos suficientes, 
funcionando em condições precárias. Se associarmos educação ao desenvolvimento, 
podemos verificar que, levando em consideração os investimentos feitos em educação no 
Brasil, ainda estamos carecendo de melhor aproveitamento dos recursos produzidos 
socialmente, de políticas públicas que priorizem o universo educacional e que permitam o 
acesso à instituição escolar por grande parte da população brasileira. 
Os problemas da desigualdade social refletem-se no contexto da sala de aula. 
Podemos perceber, como afirma Oliveira (2005), que encontramos uma inadequação 
entre a escola e o aluno, em especial, o aluno mais carente, principalmente em termos 
econômicos: 
Com base em pesquisas e estudos realizados recentemente, sabemos que 
muitos dos fracassos dependem do preparo das crianças. As crianças 
culturalmente marginalizadas, que provêm de lares economicamente 
desfavorecidos, nascem e crescem em ambientes que não lhes 
proporcionam a estimulação e o treinamento que seriam necessários para 
seu bom desenvolvimento social e intelectual (OLIVEIRA, 2005, p. 63). 
 
De acordo com Oliveira (2005), a ausência de condições materiais de existência 
satisfatória por parte das famílias dos segmentos subalternos da sociedade brasileira faz 
com que não seja possível, e isso é natural e quase óbvio, a construção de um 
significativo capital cultural, uma vez que fundamentalmente não existe um significativo 
capital econômico. 
Outro aspecto importante diz respeito à mobilidade social. Há na sociedade 
brasileira uma prática discursiva que atribui também à escola, ao ensino formal, portanto, 
papel relevante no que concerne à mobilidade social. Porém, o que estamos vendo em 
nossa realidade? Que a educação não cumpre com os objetivos vinculados à ideia de 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 49 
mobilidade social e neutralização das desigualdades sociais. Não há como termos 
dúvidas quanto ao que atesta Oliveira (2005): 
“[...] o efeito direto da educação sobre a mobilidade social e os ganhos é 
muito baixo. A origem social de classe, isto é, a classe social de onde as 
crianças provêm, é uma variável que explica com bastante clareza a 
trajetória educacional e ocupacional das pessoas” (OLIVEIRA, 2005, p. 
125). 
 
Assim, para que tenhamos uma boa educação e consequentemente o fim do 
fracasso escolar, os investimentos na melhoria da condição de vida da população devem 
ser mais substanciais por parte do Estado, pois o rendimento escolar e a própria 
concepção da importância dos estudos encontram-se diretamente relacionados às 
condições materiais de existência (OLIVEIRA, 2005). 
No contexto de uma sociedade marcadamente excludente como a nossa, as 
determinações da estrutura socioeconômica da população são fatores contribuintes para 
certo grau de declínio da educação, em especial no Ensino Fundamental, basicamente 
pelas razões que mencionamos anteriormente, mas também porque parece não haver 
vontade política de melhorar substancialmente o sistema educacional brasileiro, fato 
contraditório no contexto de um mundo globalizado em que a qualificação é essencial. 
 
Como teremos profissionais adequadamente qualificados na sociedade, se o Ensino 
Fundamental não é atendido em suas necessidades mais básicas pelo Estado? 
 
No contexto da realidade brasileira, persiste ainda o analfabetismo. Este fator 
notadamente demonstra uma situação de atraso e marginaliza considerável contingente 
da população. 
Devemos destacar, ainda, a existência do analfabetismo funcional, que se 
caracteriza pelo fato de uma pessoa não possuir os recursos mínimos para operar um 
computador e seus programas básicos, principalmente quando verificamos que a maioria 
da população brasileira não tem condições materiais para adquirir o próprio computador. 
Pensar a educação no Brasil hoje é pensar e refletir de forma crítica sobre 
determinantes evidentes em nossa realidade social. Podemos verificar, ainda, seguindo 
vários autores que versam sobre a sociologia da educação, que outro problema que 
temos presente em nossa sociedade é o preconceito vivenciado dentro da escola, o que 
nos revela um problema da educação brasileira, que assume graves proporções na 
realidade vivenciada por milhões de alunos que são segregados, em função de sua 
condição racial, social ou educacional. 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 50 
A escola, de certa forma, reproduz o que se encontra presente no contexto da 
estrutura social. Há preconceitos fortes em nossa sociedade com relação à pobreza e 
parece que temos, no imaginário coletivo, uma associação entre miséria e criminalidade. 
Esse tipo de preconceito perpassa as paredes das salas de aula. Da mesma forma, 
podemos falar do preconceito racial, presente no Brasil de forma oculta, mas que se 
manifesta em muitas formas de expressão, como em piadas relacionadas aos negros, por 
exemplo. 
Em suma, não vivemos uma democracia racial, e esta realidade, apontada pelos 
autores da sociologia da educação, expressa-se fundamentalmente nos indicadores 
sociais do País, em especial naqueles que dizem respeito à educação e à remuneração 
salarial. 
Há também profundas diferenças de gênero, principalmente no que se refere à 
remuneração pelo trabalho, e que são fatores, repetimos, que perpassam as paredes das 
salas de aula. Estamos novamente no palco da desigualdade social, que também diz 
respeito à educação. As consequências da desigualdade social, pelo que podemos 
constatar, são enormes: 
 
As consequências dizem respeito a modelos de vida, nos quais a maior 
parte da população trabalhadora perdeu o direito de sonhar e de projetar 
uma vida digna. A ausência de perspectivas econômicas, políticas, sociais 
e culturais produz o aumento brutal da violência e do desrespeito às leis 
(OLIVEIRA, 2005, p. 127). 
 
Meksenas (2005) alerta para o que se pode produzir no contexto da desigualdade 
social, salientando que esta não se constitui enquanto sinônimo de pobreza, mas, sim, 
sinônimo de concentração de renda, isto é, da produção de riqueza sem, a exata 
distribuição desta. 
O autor conclui que, “[...] assim, o combate à desigualdade social requer que os 
governantes de um país tenham a coragem de priorizar as políticas públicas de 
redistribuição da riqueza acumulada” (MEKSENAS, 2005, p.131). 
As políticas públicas devem envolver educação, saúde, alimentação, habitação, 
lazer, transporte etc., conforme consta na Constituição Federal. O mesmo autor chama a 
atenção, ainda, para outro aspecto da educação no Brasil, fruto da desigualdade social: 
no Brasil, uma criança leva em média nove anos para concluir a sexta série do Ensino 
Fundamental (o que hoje seria o sétimo ano do ensino de nove anos). Trata-se de uma 
realidade que indica a presença da desigualdade no campo educacional brasileiro. 
Gostaríamos de, no capítulo que discorre sobre a educação no Brasil, poder falar de 
progressos, mas a realidadeobjetiva, que constitui nossas subjetividades, não nos 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 51 
permite. Vivemos em uma sociedade marcadamente desigual e excludente, 
características que também se aplicam aos processos educativos e aos investimentos 
estatais em educação. 
 
Pensar a educação no Brasil hoje é pensar diretamente na desigualdade social que 
faz parte da estrutura de nossa sociedade. Avançamos, sim, mas precisamos avançar 
mais no que concerne à educação. Deste modo, uma questão fundamental fica para 
nossa reflexão: pode a educação superar as desigualdades sociais? 
 
Pelo que vimos, no contexto da sociedade brasileira, há um problema mais 
premente a ser atacado – o problema de uma estrutura social desigual, que remete seus 
tentáculos a todos os outros campos da sociedade, educacional, cultural, social e 
econômico. Pensemos a esse respeito. 
 
3.9 Ser professor 
 
Caro aluno, este é um subitem diferente, porque ele se traduz como reflexão que 
devemos fazer sobre o nosso futuro ou presente “fazer”, ou seja, ele propõe uma reflexão 
acerca do “ser professor”. 
 
O que é ser professor no contexto de uma realidade social, política, econômica e 
cultural como a brasileira? O que é ser professor num contexto em que, pelo emprego de 
novas tecnologias, a própria escola está se tornando uma empresa ou microempresa? 
Cremos que devemos pensar a esse respeito. 
 
Certamente, não temos respostas prontas, talvez tenhamos mais perguntas do que 
respostas, mas as perguntas adequadas à realidade se traduzem como conhecimento 
mais eficaz acerca da realidade que queremos compreender, que queremos, enfim, 
questionar. 
As palavras de Gudsdorf (1987, p. 26) são lapidares, quando pensamos o “ser 
professor”: 
 
O teórico considera a educação como um trabalho em larga escala; o 
professor sabe, por experiência, que essa perspectiva técnica e industrial 
não passa de uma longínqua aproximação do fenômeno. A realidade 
fundamental continua sendo esse diálogo aventuroso, durante o qual dois 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 52 
homens de maturidade desigual confrontam-se, mas onde cada um, a seu 
modo, dá testemunho perante outro das possibilidades humanas. 
 
Para pensar o “ser professor”, o próprio Gudsdorf (1978), escreve uma obra em que 
aborda duas questões fundamentais: professor para quê? e professor para quem? Estas 
são duas questões de caráter fundamental, tendo em vista que nos fazem refletir de forma 
mais pontual sobre nossa prática, sobre o ato de ser professor. Para que somos 
professores? Para garantirmos nossa sobrevivência? 
No contexto da realidade brasileira, a situação do professor não é muito privilegiada, 
então este tipo de resposta a essa pergunta não nos permite chegar à abrangência do 
que ela efetivamente representa. Ela exige de nós maior profundidade, de certa forma 
reclama estar na frente do espelho de nós mesmos e nos perguntar: professor para quê? 
No contexto de nossa realidade, como é a situação dos professores? Andando de escola 
em escola para exercer o seu ofício e, também, por que não dizer, garantir sua 
sobrevivência. 
Há muito tempo que ser professor, em nossa sociedade, deixou de ser um sinal de 
status. Hoje, o professor é um trabalhador como outro qualquer, é apenas um trabalhador 
que lida com elementos da produção de conhecimento e com elementos que permitem a 
formação intelectual e, por que não dizer, moral de outro ser humano. 
Há uma forma de nomear o professor hoje por alguns sindicatos vinculados à classe 
dos professores – o operário da educação. Somos operários, sim, porque estamos 
sempre construindo, imaginando recursos para que nossos alunos tenham a posse de um 
saber e possam atuar de forma mais livre e coerente no contexto das realidades sociais 
vivenciadas. 
Operários, porque estamos sempre construindo novas formas nos processos de 
ensino-aprendizagem que possibilitem, aos nossos alunos, a compreensão do mundo e, 
assim, o desenvolvimento da capacidade de relacionar conhecimentos, de associar a 
estrutura e o sujeito social. 
Operários, porque estamos buscando construir sujeitos que estão no mundo em 
interação, trocando sentidos, significados e construindo o que denominamos universo 
social, que terá influência sobre nossa constituição. 
Operários, porque trabalhamos com o único sentido da construção, o nosso aluno, 
este ser em formação que necessita de nosso auxílio e de nossa mão firme para lhe dizer 
a diretriz, o caminho a seguir, com toda a segurança, sem sombra da dúvida na alma, 
mas com a permanência da dúvida metódica que produz a ciência: 
 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 53 
Toda aprendizagem de um saber é uma evocação do ser. O aluno, aquele 
que não sabe, e no entanto, o sujeito e o objeto de uma vocação para o 
saber, que é também um apelo do ser. O desenvolvimento intelectual é a 
contrapartida, talvez o reverso, talvez a expressão ou o símbolo de uma 
odisseia da consciência pessoal. Cada homem é assim, o herói de seu 
próprio romance de formação, cujas peripécias situam-se entre 
afirmações-limite, idênticas para todos e que se impõem, sem discussão 
ao consenso universal (GUDSDORF, 1987, p. 13). 
 
Professor, para quê? Para que possamos auxiliar na construção de sujeitos, de 
seres capazes de transformar o mundo, compreendendo suas fragilidades; 
compreendendo a fragilidade e as múltiplas determinações da estrutura social; construção 
de sujeitos que sabem que é coletivamente que se transforma a realidade. E nós, 
professores, enquanto operários, temos sobre nós a incumbência de levar nossos alunos 
a perceber a própria significação do coletivo no contexto de uma sociedade globalizada e 
marcadamente excludente. 
Professores, para quem? Esta é outra questão de importância fundamental. A quem 
destinaremos todo o nosso trabalho, toda a nossa busca? Quem, efetivamente, em nossa 
realidade desigual, necessita de nosso poder-saber? 
A chamada elite dominante, no contexto das sociedades desiguais, tem seus 
próprios intelectuais e os próprios professores, se assim podemos dizer. Quem 
acompanhará os segmentos subalternos da população brasileira? 
Quem a eles se vinculará, no sentido de, aos poucos, ser o elemento facilitador para 
descobertas enquanto sujeitos capazes de modificar toda uma estrutura? Quem com eles 
trabalhará as questões dos processos sociais, em que temos a real relação de 
interdependência entre estrutura social e sujeito? 
A resposta depende de uma profunda análise de nosso efetivo papel social no 
contexto de nossa sociedade. Nunca é uma resposta pronta, mas sempre em construção. 
Paulo Freire inclusive refere-se a uma pedagogia da autonomia, uma pedagogia em 
que teríamos, então, sujeitos capazes de não ser ambivalentes e, em sentido sociológico, 
de traduzir adequadamente toda a realidade social vivenciada por eles. 
Ser professor, no contexto de uma realidade social como a nossa, uma dura 
realidade, envolve questionar-se acerca do desempenho do próprio trabalho e sobre a 
própria realidade social vivenciada. Ser professor exige ser um observador do espírito 
humano, ao mesmo tempo em que exige ser um questionador. Ser professor envolve 
saber que a realidade é infinita e que nossa capacidade humana de compreendê-la é 
finita. 
Gudsdorf (1987) demonstra-nos que ser professor é lidar com a própria descoberta 
de capacidades humanas também infinitas. Questionar “professor para quê?” e “professor 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 54 
para quem?” envolve estarmos comprometidos até mesmo com um projeto de sociedade 
própria que priorize, repetimos, a construção de sujeitos, de atores sociais aptos na 
capacidade de compreensão do real. 
Ser professor, hoje, fatalmente, não é fácil, nem poderia ser, pois trata-se de um 
constante desafio à nossa postura, em nosso estar no mundo. Mas,voltemos para as 
questões iniciais: professor para quê? e professor para quem? Pense em respondê-las. 
Novamente recorremos a Gudsdorf (1987), para que possamos compreender a dimensão 
da educação para o espírito humano: 
 
Cada homem tem uma história, ou ainda, cada homem é uma história. 
Cada vida se apresenta como uma linha de vida. O ensino seria um 
aspecto do período ascendente dessa história: assinala o crescimento 
mental, intrinsecamente ligado ao crescimento orgânico. Sua função é 
permitir uma tomada de consciência pessoal no ajustamento do indivíduo 
com o mundo e com os outros. Vemos, aqui, que o sistema escolar não se 
basta; as lições do professor compõem-se com outras influências, 
impossíveis de enumerar, na mesma obra e aperfeiçoamento progressivo 
e aleatório. A formação de um homem, se for exatamente compreendida 
como a vinda ao mundo de uma personalidade, como o estabelecimento 
dessa personalidade no mundo e na humanidade, torna-se um fenômeno 
de uma amplitude cósmica (GUDSDORF, 1987, p.13). 
 
Depreendemos da palavra desse escritor que ser professor é ter como fonte de 
trabalho toda uma descoberta das múltiplas dimensões do humano, é encontrar, sim, “um 
fenômeno de amplitude cósmica”. Isto é importante, uma vez que nos deparamos também 
com a dimensão da nossa própria responsabilidade social envolvida no ato de ensinar. 
 
 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 55 
 
 
Analise as imagens e reflita, pautando-se no conteúdo dessa unidade: 
O que você entende por ensinar? O que significa ser professor? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: http://aveiro35.wordpress.com/6-avaliacao-formativa-do-eportefolio/7-imagens-sobre-ensinar-e-e-ser-professor-e/ 
 
 
http://aveiro35.wordpress.com/6-avaliacao-formativa-do-eportefolio/7-imagens-sobre-ensinar-e-e-ser-professor-e/
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UNIDADE 4 
AA EEDDUUCCAAÇÇÃÃOO NNAASS 
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A educação é, por sua origem, objetivos e funções, um fenômeno social, estando 
relacionada ao contexto político, econômico, científico e cultural de uma sociedade 
historicamente determinada. 
Pinto (1987, p.29) afirma que “[...] a educação é o processo pelo qual a sociedade 
forma seus membros à sua imagem e em função de seus interesses”. De tal conceito, 
pode-se deduzir que, não obstante a educação seja um processo constante na história de 
todas as sociedades, ela não é a mesma em todos os tempos e em todos os lugares e se 
acha vinculada ao projeto de homem e de sociedade que se quer ver emergir por meio do 
processo educativo. 
Conforme Kruppa (1993), o capitalismo coloca em situação diferenciada os 
indivíduos que detêm o capital e os que trabalham para produzi-lo. Nos países 
desenvolvidos como, por exemplo, a Bélgica, as diferenças entre as classes sociais 
parecem diminuir. Entretanto, o mesmo não ocorre nos países subdesenvolvidos, 
marcados pela extrema desigualdade social. 
Nas sociedades capitalistas periféricas, a educação tem sido um benefício do qual 
nem todas as pessoas podem usufruir. A ideologia liberal, que dá sustentação ao sistema 
capitalista, coloca essa questão em termos de diferenças individuais, atribuindo ao próprio 
indivíduo a culpa pelo seu sucesso ou fracasso escolar e social. Neste sentido, Dowbor 
afirma que a educação: 
 
Evidencia-se, assim, o caráter político da educação, comumente 
considerada como prática essencialmente neutra, que visa a formação 
integral da personalidade do aluno e o desenvolvimento de suas 
potencialidades, desvinculando o processo educativo das relações (...) 
responde assim às necessidades de reprodução econômica e política da 
sociedade capitalista, constituindo-se num sistema de mediação de 
contradições de classe, ao transferir para o próprio indivíduo a 
responsabilidade da sua situação na escala social de poder dominantes 
em dada sociedade e considerando-a inclusive como instrumento de 
equalização social (DOWBOR apud CARNOY, 1986, p. 5-6). 
 
 
 
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 57 
Charlot (1986) destaca a importância da dimensão política da educação, no sentido 
de que ela transmite modelos sociais, forma a personalidade, difunde ideias políticas e 
está a encargo da escola, uma instituição social. 
Assim entendida, a educação forma personalidades de acordo com regras que 
refletem as realidades sociais e políticas, podendo ser interiorizadas as bases 
psicológicas, responsáveis inclusive pela aceitação das injustiças, da desigualdade e da 
própria dominação entre as classes sociais. 
A difusão das ideias políticas ocorre por meio da inculcação de modelos de 
comportamentos ideais, vinculados às ideias políticas das classes dominantes, refletindo 
as divisões sociais e as relações de força na sociedade. 
Estando a educação formal a encargo da escola, esta tenderá a transmitir também a 
visão de mundo das classes hegemônicas, formando indivíduos para aceitar a sociedade 
que aí está e reproduzir a desigualdade e a própria dominação de classes. 
A educação como mecanismo de reprodução de ideias executa, pela ação 
pedagógica, a massificação de informações e normas de conduta que levam os indivíduos 
à adaptação e a um convívio social desprovido de questionamentos e reflexões críticas 
sobre a realidade. 
Segundo Buarque (1992), em um país com a disponibilidade de recursos técnicos, 
de capital e de organização administrativa do Estado, a existência de analfabetismo 
crônico é fruto de uma deliberada omissão ou opção dos governos, com a conivência das 
elites, em usar os recursos públicos para outras finalidades, negligenciando os 
investimentos na educação. 
As atuais condições do ensino, em nosso país; o baixo desempenho dos estudantes 
brasileiros nos testes de escolaridade nacionais e internacionais; e a presença de 
analfabetos revelam dados preocupantes e exigem o repensar das práticas educativas 
dominantes nesse contexto. 
Lamentavelmente, a escola no Brasil não tem instrumentalizado seus usuários para 
poder participar ativa e criticamente dos destinos da sociedade, apesar das crescentes 
exigências que o contexto sociocultural impõe para a educação. 
 
4.1 O contexto político-econômico e a educação 
 
As dinâmicas da sociedade contemporânea solicitam que a prática educativa guarde 
relações com as transformações e exigências do contexto atual, em que a educação e a 
aquisição de conhecimentos constituem pontos estratégicos para o desenvolvimento 
econômico e social. A partir dessas condições, impõem-se novas solicitações à educação, 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 58 
em conformidade com os significativos avanços das forças produtivas, que geraram uma 
nova cultura, centrada no conhecimento científico e tecnológico, aspectos indispensáveis 
à produção no mundo capitalista. 
Ainda que a Educação constitua um dos temas favoritos das autoridades políticas, 
nos mais variados países, poucas vezes os debates sobre as questões educacionais 
conseguem ultrapassar o âmbito de sua dimensão econômica, limitando-se a uma 
parafernália de indicadores numéricos de diferentes tipos. E enquanto a economia sufoca 
a Filosofia, a escola permanece reduzida a uma cultura utilitarista no sentido mais 
mesquinho, de preparação para exames, cujos resultados expressam algo cada vez mais 
difícil de interpretar. 
Do ponto de vista do capitalismo globalizado, educação e conhecimento são as 
forças motrizes e os eixos da transformação produtiva e do desenvolvimento econômico. 
Para Gentili (1994), os debates do início da década de 90 sobre as mudanças na base 
técnica de produção, em que as novas tecnologias se apresentam como configuradoras 
da Terceira Revolução Industrial têm como consequência, no plano político e ideológico,as teses da sociedade pós-industrial, pós-capitalista, sociedade global sem classes, e 
outras denominações. 
No plano econômico, esse modelo exige um novo tipo de organização industrial, 
baseado na tecnologia flexível (microeletrônica associada à informática, à microbiologia e 
a outras formas de energia), em contraposição à tecnologia rígida do sistema taylorista e 
fordista, trazendo como consequência, a necessidade de formar um trabalhador flexível, 
inovador e pragmático. 
Nesse contexto, as políticas de inserção da educação à lógica do capital são 
legitimadas por um discurso que enfatiza a modernização educativa, a competitividade, a 
produtividade, o desempenho, a eficiência e a qualidade, que expressam o ideário 
neoliberal, e sinalizam a efetivação de um novo parâmetro político-pedagógico, tendo por 
base a pedagogia da produtividade e da eficiência, vinculada à lógica de mercado. 
Durante todo o século XX, pôde-se constatar que os sistemas educacionais não 
permaneceram imunes às mudanças nos modos de produção e de gestão empresarial, 
sendo que também as soluções propugnadas pelo toyotismo se refletem sobre a 
educação, visto que cada modelo de produção e distribuição requer pessoas com 
determinadas capacidades, conhecimentos, habilidades e valores. 
Nessa perspectiva, a educação passa a ser vista apenas em seu objetivo imediato 
de servir ao capital, encontrando-se atrelada ao setor produtivo, que, em nome da 
“qualidade total”, está levando as instituições educativas a uma descaracterização de sua 
função primordial, que é o comprometimento com a formação integral dos indivíduos, para 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 59 
assumir a necessidade do mercado capitalista industrial de formar mão-de-obra para 
atender às novas necessidades do mercado industrial, que requer trabalhadores com 
conhecimentos mínimos, além de habilidades como a capacidade de empreender, inovar 
e superar dificuldades. 
Além disso, no atual discurso sobre a “qualidade” na educação, Machado (2000) 
afirma que a formação do cidadão é frequentemente confundida com a satisfação do 
cliente; ou o projeto educacional, com seu amplo espectro de valores, encontra-se 
reduzido ao estatuto de mero projeto empresarial, sobrelevando o valor econômico. 
É fato notório, portanto, que as mudanças do sistema de organização social, como 
um todo, têm recebido críticas quanto às estratégias e aos propósitos aos quais se 
destinam; e que, ao mesmo tempo, as mudanças nos sistemas de ensino não têm sido 
satisfatórias no sentido de responder às necessidades de formação integral do homem, 
mantendo compromissos apenas com a transmissão de informações e de conhecimentos 
úteis às exigências do mercado para atender aos interesses do poder. 
Como consequência dessa maneira de enfocar a educação, pode-se observar que, 
muitas vezes, a formação profissional fundamenta-se apenas em certas habilidades 
necessárias à continuidade do sistema, em detrimento de uma ampla formação científica, 
cultural e crítica. Nesse processo, merece destaque o fato de que, principalmente nos 
países considerados de Terceiro Mundo, as próprias condições estruturais não 
possibilitam a todos o acesso às novas tecnologias de informação e de telecomunicação 
como recursos para ampliar seu universo de informações, e para criar ambientes de 
aprendizado que enfatizem a construção do conhecimento. 
Assim, as instituições escolares defrontam-se com vários desafios, em face das 
mudanças e exigências da sociedade, recebendo críticas constantes quanto aos 
resultados concretos de suas atividades e à eficácia do seu funcionamento, e também no 
que tange às suas relações com as estruturas sociais, levando-se em consideração, 
essencialmente, a possibilidade de democratização do conhecimento, do ensino e da 
própria sociedade: 
Os cidadãos que sonhamos formar não devem ter unicamente qualidades 
técnicas e práticas, mas também devem ser solidários, responsáveis e 
criativos, saber se expressar com clareza, interpretar e produzir textos, 
compreender situações usando conhecimentos humanísticos e científicos, 
assim como precisam ser capazes de aprender sempre (MENEZES, 2006, 
p.20). 
 
Todavia, o mesmo autor alerta para o fato de que esse ideal exige significativa 
ampliação dos recursos para a educação; e demonstra isso, citando o posicionamento de 
países como o Chile e os Estados Unidos, em que o investimento em ensino básico é 
muito superior ao brasileiro. Segundo ele, estamos pagando um alto preço por não aplicar 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 60 
mais recursos em uma educação de qualidade. Por conseguinte, investir em educação de 
qualidade é condição essencial para a concretização do ideal de cidadania plena. 
 
4.2 Educação e construção da cidadania 
 
Analisando a história do Brasil, pode-se verificar que o modelo dominante em nossa 
sociedade sempre esteve vinculado a uma tradição cultural e política autoritária, excluindo 
grande parcela da população da participação nos destinos da nação e impedindo, 
portanto, o exercício pleno de cidadania de muitos. 
Infelizmente, no contexto da sociedade brasileira, criou-se um contingente de 
súditos, atrelados à obtenção de favores e ao não saber fazer valer seus direitos, 
prevalecendo, no espaço público, a cultura do “jeitinho brasileiro”, que rejeita as normas e 
contratos que garantem direitos, em defesa da manutenção dos privilégios e do 
favoritismo. Esta constatação traz para a educação uma grande responsabilidade, uma 
vez que o conhecimento é capaz de levar as pessoas a uma leitura crítica da realidade e 
a uma tomada de posição diante dela. 
Assim, além de ser um direito social básico e elementar, a educação representa 
também o caminho – ou a condição necessária – que vai permitir o exercício e a 
conquista do conjunto dos direitos e deveres da cidadania, os quais se ampliam a cada 
dia, em contrapartida às necessidades do homem e da dignidade humana. 
Conforme Severino (1994, p.100), “[...] a educação deve ser vista como mediação 
para a construção da cidadania, contribuindo para a integração dos homens no tríplice 
universo do trabalho, da simbolização subjetiva e das mediações institucionais da vida 
social”. A educação política do povo, ou educação para a cidadania, deve, pois, 
possibilitar, primeiro, o igual acesso ao Direito – isto é, o conhecimento do ordenamento 
jurídico das liberdades públicas por parte de todas as pessoas – e, consequentemente, a 
formação das consciências dos sujeitos sociais para a necessidade de sua afirmação no 
nível dos fatos, no nível da vida real. E daí a luta por sua extensão. 
Tomazi (1997) afirma que, embora os direitos dos brasileiros estejam muito bem 
delineados na Constituição de 1988, existem forças conservadoras e reacionárias dentro 
do Congresso Nacional, no Judiciário e mesmo no Executivo, que procuram evitar que 
esses mesmos direitos se concretizem, além de o poder econômico torná-los, muitas 
vezes, letra morta. 
Também Chauí (1994) considera a sociedade brasileira autoritária e a cidadania 
mantida como “privilégio de classe”. Nesta sociedade, as diferenças e assimetrias sociais 
e pessoais são transformadas em desigualdades; e estas, em relações de “hierarquia, 
mando e obediência”. Assim, as relações tornam-se uma forma de dependência, tutela, 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 61 
concessão, autoridade e favor, “[...] fazendo da violência simbólica a regra de vida social e 
cultural. Violência tanto maior porque invisível sob o paternalismo e o clientelismo, 
considerados naturais e por vezes, exaltados como qualidades positivas do “caráter 
nacional.” (CHAUÍ, 1994, p. 54). 
Apesar dos avanços das teorias educacionais, ocorre ainda hoje, nas escolas, o 
predomínio de um ensino elitista, que privilegia a cultura erudita e a formação das classes 
dominantes. Pode-seafirmar que a política educacional brasileira tem exercido um papel 
de “tutela e favor”. O espaço público (mais especificamente a escola pública), deixando de 
ser o que deveria (um bem público), tem sido um espaço oferecido como favor da classe 
política ao povo. 
 Além disso, a qualidade de ensino vem sendo associada apenas à condição de não 
repetência, e diminuição da evasão, desconsiderando-se os aspectos culturais, 
pedagógicos e políticos presentes no ato de ensinar e a preocupação com a formação 
integral do futuro cidadão. 
Kruppa (1993) afirma que, nas cidades brasileiras, é comum a construção de 
escolas pelo poder público, vinculadas a ações eleitoreiras e descomprometidas com um 
atendimento à demanda escolar. Nessas escolas, ocorre a falta de material de apoio, 
além de seu quadro funcional (professores e serventes) revelar-se insuficiente. 
A Constituição Federal de 1988, no Art. 205, estabelece que a educação – direito de 
todos e dever do Estado e da família – deve visar ao pleno desenvolvimento da pessoa 
humana, a seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho, 
que é também uma das várias dimensões da ideia-força da cidadania, que se amplia na 
medida em que se afirma como prática social, para além dos textos legais: 
 
De todo modo, queremos lembrar mais uma vez que o exercício da 
cidadania é algo que envolve uma prática cotidiana constante, pois, afinal, 
cidadania é ter direitos: todos os mencionados anteriormente e mais um, 
que é o direito a ter uma educação para saber quais são os nossos direitos 
e exercitá-los (TOMAZI, 1997, p.131). 
 
Embora a educação escolar sempre esteja a serviço de determinados interesses, 
podendo significar conformismo e obediência, entende-se que ela também pode significar 
a formação de um indivíduo reflexivo, apto a fazer uma leitura consciente da realidade 
social, buscando fazer valer seus direitos e exercendo responsavelmente seus deveres, 
que se iniciam pelo respeito aos direitos dos outros, pelo respeito ao espaço e ao 
patrimônio público, ou seja, aquilo que é de todos – e que envolve desde as paredes e 
carteiras da escola até o telefone público, os meios de transporte e o respeito às normas 
legais e de convivência social. 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 62 
Portanto, o exercício pleno da cidadania não pode ser simplesmente outorgado por 
lei, mas cumpre ao indivíduo conquistá-lo e exercitá-lo constantemente, nos diferentes 
momentos e situações vivenciadas no cotidiano, desenvolvendo o sentido de sua 
responsabilidade pessoal e social. Deste modo, embora a escola seja a instituição formal 
responsável pela formação das novas gerações, a educação para a cidadania ocorre em 
todas as instâncias da vida social, envolvendo a família, a comunidade, as associações, 
os sindicatos e os partidos políticos. 
Por sua vez, as instituições escolares, ao garantir à sociedade a prestação de uma 
educação democrática, pluralista e de qualidade, estarão contribuindo para a efetivação 
de uma importante tarefa face à justiça social. Assim sendo, entre as atribuições da 
educação escolar destaca-se a formação da consciência reflexiva que possibilita ao 
sujeito compreender a realidade que o circunda, rumo ao exercício livre, consciente e 
responsável da cidadania. 
O primeiro passo a ser dado nesse sentido é o de tornar a educação efetivamente 
um direito universal, permitindo a todas as pessoas, independentemente de seu grupo 
étnico, religioso, de classe etc., a apropriação dos conteúdos da cultura universal e dos 
conhecimentos produzidos pela sociedade. A educação deve estar fundamentalmente 
comprometida com a dimensão humanizadora da cultura, possibilitando, a cada pessoa, 
desenvolver suas potencialidades latentes, de modo a produzir benefícios a si mesma e à 
sociedade em que vive. 
Libâneo (2002) afirma que a escola de hoje precisa propor respostas educativas e 
metodológicas em relação às novas exigências de formação postas pelas realidades 
contemporâneas, tais como a capacitação tecnológica, a diversidade cultural, a 
alfabetização tecnológica, a superinformação, o relativismo ético e a consciência 
ecológica. 
Assim, o espaço escolar deve possibilitar a livre circulação das ideias e a liberdade 
de expressão, o que contribuirá para que o indivíduo não tenha medo de se posicionar e 
de agir diante das diferentes situações que terá que enfrentar em sua existência. 
Ocorre, pois, a emergência de se criar nas escolas um ambiente propício para discutir e 
evidenciar, de modo positivo, a cultura dos alunos pertencentes às minorias, procurando 
eliminar os preconceitos e a indiferença diante das desigualdades e das injustiças sociais. 
É preciso fazer das escolas um lugar democrático, onde a convivência com as diferenças, 
com o pluralismo, com as inovações científicas e tecnológicas esteja sempre presente. 
 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 63 
Destaca-se, ainda, a necessidade de as escolas serem democraticamente geridas, 
respeitando as vozes de seus atores e usuários, mantendo-se numa situação de diálogo 
constante com a comunidade na qual se acham inseridas. 
Evidencia-se, portanto, que, embora vinculada ao Estado, a educação em seu 
sentido mais amplo não pode ser vista apenas como um plano de governo, mas, sim, 
como um projeto que envolve o engajamento de todos os brasileiros em ações concretas 
em prol de uma sociedade mais justa e da efetivação da cidadania para todos. 
 
4.3 Currículo e sujeitos da escola 
 
Observando a produção científica do campo educacional, nota-se que a atenção dos 
cientistas sociais tem favorecido a consolidação de uma atitude crítica em face da 
escolarização, a compreensão das particularidades dos sistemas de ensino e a 
elaboração de novas noções e procedimentos de investigação, fundamentais num 
contexto de redefinição das políticas públicas de educação nacional. 
Constatamos, no entanto, que a educação escolar ainda é pouco estudada pelos 
sociólogos brasileiros, particularmente no que concerne à ligação entre os saberes 
escolares e as desigualdades sociais. O sistema educacional está enraizado numa 
sociedade estruturada por relações sociais desiguais, com consequências profundas no 
rendimento escolar. 
Assim, a luta por uma “democratização do acesso” não é mais suficiente. É 
necessário construir uma “democratização pelas finalidades e pelo funcionamento”: os 
percursos escolares podem se tornar menos desiguais socialmente se as condições de 
acesso forem modificadas, se a seleção de certos grupos sociais for eliminada, se os 
conteúdos curriculares dotarem as novas gerações de instrumentos de análise e de ação, 
indispensáveis à sua emancipação e à transformação social: 
 
Partimos do pressuposto que, a exemplo – ou sob a influência – de 
algumas experiências internacionais, os estudos educacionais brasileiros 
também deslocaram seus focos de interesse do “macro” para o “micro” isto 
é, de um olhar funcionalista, que vê o indivíduo como relativamente 
passivo ou mesmo inexistente face às imposições estruturais, a uma 
perspectiva centrada no ator/agente/sujeito (VALLE, 2011, p.7). 
 
A origem do pensamento curricular brasileiro pode ser encontrada nos anos 20 e 30 
do século XX. Influenciados por autores norte-americanos, associados ao pragmatismo e 
a teorias elaboradas por pensadores europeus, os pioneiros (que formavam um grupo 
eclético, variando de uma postura liberal conservadora a uma posição mais radical) 
provocaram uma ruptura com a escola tradicional, mudando o significado do debate sobre 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 64 
o processo escolar; provocando a modernização de métodos e estratégias de ensino e de 
avaliação, a democratização da sala de aula e da relação pedagógica (MOREIRA 2003). 
A necessidade de constituir um sistema de educação nacional favoreceu,evidentemente, a importação de ideias ou teorias e também de modelos pedagógicos. 
Segundo Moreira (2003), a transferência educacional para o Brasil passou por diferentes 
etapas, que se intercalaram: de uma adesão ingênua (implicando uma adequação 
rudimentar ao contexto receptor), passando por uma adaptação instrumental (que requer 
um acentuado grau de aceitação e de acomodação de interesses) e uma adaptação 
crítica (preocupada com a autonomia cultural e o compromisso com as camadas mais 
desfavorecidas), até chegar a uma rejeição ingênua (caracterizada por um significativo 
fechamento à influência estrangeira e pela supervalorização do que se cria no contexto 
receptor). 
A estruturação do campo do currículo ocorreu efetivamente na década de 1970, com 
a introdução da disciplina “currículos e programas” nos cursos de formação docente, 
consistindo numa espécie de transferência centrada na assimilação de modelos para a 
elaboração curricular, em sua maioria de viés funcionalista, e viabilizada por acordos 
bilaterais entre os governos brasileiro e norte-americano, dentro do programa de ajuda à 
América Latina 
Esse tipo de transferência não respondeu às múltiplas singularidades do sistema de 
ensino (receptor) e teve implicação na transmissão de um saber escolar 
descontextualizado das condições originais de sua produção. Segundo Lopes e Macedo 
(2002) o currículo trata atualmente de um campo intelectual consolidado, subdividido em 
três grandes tendências. 
Primeira tendência: apresenta uma perspectiva pós-estruturalista, fundamentada 
nas reflexões de Foucault e nas teorias pós-modernas/pós-estruturalistas; dedica-se às 
produções discursivas diversas, aos processos de mudança e de reforma educacional, 
bem como ao exame do potencial dessas teorias na ampliação dos referenciais de análise 
e de crítica das propostas neoliberais para a educação; 
Segunda tendência: centra-se no currículo e no conhecimento em rede, motivada 
pelas discussões sobre o cotidiano e a formação de professores, e visa superar o enfoque 
disciplinar no espaço escolar, que deve ceder lugar aos outros saberes relacionados à 
ação cotidiana. Considera-se que “[...] a noção de conhecimento em rede introduz um 
novo referencial básico, a prática social, na qual o conhecimento praticado é tecido por 
contatos múltiplos” (LOPES e MACEDO 2002, p. 37); 
Terceira tendência: concerne à história do currículo e à constituição do 
conhecimento escolar, abrangendo o estudo do pensamento curricular brasileiro (que 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 65 
analisa as produções teóricas da área, as políticas curriculares, os currículos vigentes e a 
função do professor e do intelectual na constituição do campo e das práticas vivenciadas) 
e a problemática das disciplinas escolares (que supõe uma ampliação conceitual e 
metodológica da história, com ênfase para a etno-história e a compreensão do cotidiano 
das instituições): 
 
Para os sociólogos das disciplinas escolares, a história do currículo tem 
por meta explicar por que certo conhecimento é ensinado nas escolas em 
determinado momento e local e por que ele é conservado, excluído ou 
alterado (Moreira, 2003, p. 35). 
 
A reflexão sobre os saberes escolares coloca em dúvida o projeto de socialização 
que a escola vem efetivando depois de séculos. Dois aspectos parecem de grande 
importância. A socialização não pode mais ser vista unicamente como um processo de 
interiorização (nos termos da concepção durkheimiana), pois as crianças e os jovens 
tornaram-se atores de sua própria socialização, diminuindo a força das instituições 
sociais. É necessário, portanto, que a socialização escolar considere o sentido do 
conhecimento e as relações que se estabelecem com o saber, a fim de reorientar a 
seleção dos conteúdos curriculares dentre os inúmeros saberes culturais. 
Que saberes ensinar? Quanto mais nossos sistemas de ensino se democratizam, 
mais crescem e se diversificam as oportunidades de aceso à escola; quanto mais 
aumentam as chances de prolongar a escolarização, maiores são as dúvidas em relação 
aos saberes a serem transmitidos pela escola, aos seus processos de socialização e aos 
recursos didáticos mais adequados à ação pedagógica. A legitimidade e a validade dos 
conteúdos escolares, assim como sua distribuição em diferentes disciplinas, sua 
pertinência em relação às mudanças sociais, culturais e tecnológicas, seus mecanismos 
de transmissão e de avaliação têm sido amplamente questionados pelos estudos 
educacionais. 
Como mostra Chervel (1998, apud VALLE, 2011), os conteúdos escolares – frutos 
de uma criação da escola para a escola – são concebidos como entidades do seu próprio 
gênero, estando adequados a cada ano escolar, independentemente da realidade cultural 
externa à escola, inclusive em relação aos diferentes níveis de desenvolvimento dos 
alunos. Eles gozam, portanto, de uma determinada organização, de uma economia íntima 
e de uma eficácia que parecem naturais. 
O estudo sociológico dos saberes escolares aponta, de forma bastante incisiva, para 
a necessidade de focalizar os determinantes culturais, econômicos e sociais das 
diferentes políticas educacionais, o que supõe revisar as finalidades dos livros didáticos e 
examinar a seleção em termos de conteúdos que eles, historicamente, vêm operando. 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 66 
Não se pode ignorar o fato de que esses dispositivos pedagógicos figuram 
geralmente como mecanismos essenciais e indispensáveis, como verdadeiros guias da 
ação dos professores. Segundo Sacristán (1998, p. 157), “[...] os livros didáticos traduzem 
as prescrições curriculares gerais, pois são construtores de seus verdadeiros significados 
para professores e alunos”. 
Eles se apresentam como difusores de códigos pedagógicos, ao mesmo tempo em 
que selecionam os conteúdos e planejam a própria prática docente. Eles agem, portanto, 
como “depositários de competências profissionais”, tornando-se recursos muito seguros 
para a manutenção da atividade escolar por um tempo mais prolongado, o que oferece ao 
professor uma grande segurança pedagógica. 
Parece evidente que os cientistas sociais e os cientistas da educação enfrentam, 
atualmente, um importante desafio: explicitar com fidedignidade o fato de que as 
desigualdades de escolarização são produzidas fora da escola, no seu interior e por que 
processos pedagógicos. Entende-se, assim, que uma “sociologia dos saberes escolares” 
tem o mérito de declinar a tendência – ainda muito presente no magistério – a aceitar 
como normais – se não naturais – os resultados indesejáveis das práticas pedagógicas, 
sobretudo aquelas concretizadas em contextos desiguais, multiculturais, atravessados por 
interesses contraditórios (VALLE, 2011). 
Além disso, uma “sociologia dos saberes escolares” pode estimular a vontade dos 
estudiosos e dos futuros professores, provocando uma discussão crítica e atiçando sua 
imaginação, a fim de que possam inovar em termos de pesquisa educacional e retirar 
definitivamente da opacidade os saberes escolares, seus dispositivos de difusão, seus 
processos de transmissão, de apropriação e de avaliação. 
Enfim, ainda que o poder crítico e sugestivo da Sociologia da Educação possa 
permanecer pouco explorado, uma “sociologia dos saberes escolares” permite lançar um 
novo olhar sobre a reprodução cultural, denunciando não apenas o fato de estar 
enraizada nas estruturas dos sistemas educacionais, mas também a constatação de que 
a dominação não se efetua em sua totalidade. Ao contrário, deve-se reconhecer o 
extraordinário poder da escola na transformação social, em razão de suas características 
singulares. Ela é uma, talvez a única, instituição social que ainda se mantém acessível à 
discussão, ao debate, à negociação e à participação. 
 
 
 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 67UNIDADE 5 
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5.1 Tendências na educação 
Argemiro Aluísio Karling 
 
As tendências sociais determinam novas tendências para a educação. A sociedade 
atual e o mercado vêm exigindo uma educação diferente; que desenvolva competências, 
habilidades e valores; que forme um homem integral, social, intelectual, profissional e 
solidário, que saiba aprender e o faça continuamente, que saiba fazer, que saiba ser, que 
saiba conviver; enfim, que tenha acesso à educação básica e saiba lidar com as 
incertezas do mundo hodierno, como propagou Jacques Delors (1998), economista 
convidado pela UNESCO para sistematizar as ideias propaladas na Conferência 
Educacional de Jomtien (Tailândia), realizada em 1990. 
Espera-se, hoje, que a escola tenha um currículo interdisciplinar e contextualizado, 
que se preocupe e tenha objetivos, que propicie aprendizagens duráveis e favoreça a 
construção de novos conhecimentos pelos próprios interessados. Hoje, ela precisa formar 
o aprendiz empreendedor, visando o profissional e o cidadão empreendedor do futuro. 
Além disso, há tendência social de enxugamento do Estado e de terceirização dos 
serviços públicos e, como conseqüência, há necessidade de pessoas competentes e 
empreendedoras para realizar os serviços que hoje são de competência do Estado. 
Primeiramente, imagine o que você esperaria, em termos de competência, ou ao 
menos de habilidades, atitudes e comportamento, de qualquer pessoa que fosse lhe 
prestar um serviço. Agora, pense em como a escola está desenvolvendo essas 
qualidades, começando pela Educação Infantil. Esse assunto será tratado com destaque 
em outros módulos do curso de pedagogia. Aqui, vamos nos limitar apenas a alguns 
tópicos, mais relevantes para a contextualização do conteúdo de sociologia da educação. 
Para cumprir funções sociais, é necessário que a sociedade tenha pessoas com 
iniciativa, com responsabilidade, éticas e empreendedoras. A grande maioria da 
população brasileira aprendeu a obedecer, a cumprir ordens. E dentro dessa população, 
 
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Graduação em Pedagogia 
 68 
uma das categorias que mais aprendeu a obedecer e a baixar a cabeça é a dos 
professores. O professor aprendeu a ser obrigado a seguir e a cumprir um programa, uma 
tendência teórica ou linha ideológica. Aprendeu a obedecer às regras impostas pela 
direção e pelo sistema de ensino. Agora, aprendeu a obedecer ao projeto pedagógico, 
feito por outros, quando ele próprio deveria participar ativamente da elaboração deste, 
conforme determina a legislação. 
Para solucionar parte desse problema, é necessário formar profissionais diferentes 
para a educação. Não especificamente rebeldes, mas conhecedores de seus direitos, 
corajosos, autônomos, solidários e competentes. Profissionais que denunciem as coisas 
erradas, enfrentem os obstáculos e tenham competência e coragem de montar uma 
empresa própria: centro de educação infantil, escola para os anos iniciais do ensino 
fundamental e até faculdade - por que não?! 
Várias personalidades de renome afirmam que a educação será uma das mais 
importantes indústrias dos próximos anos. Qual é a razão disso? É fácil entender. Se 
quem possuir mais conhecimento terá mais capital, todos vão à procura de conhecimento. 
E não é só na escola, nem apenas até terminar o curso. Seria busca e competição a vida 
toda. É o que se chama de educação continuada. 
Mas, onde e como a pessoa vai obter essa educação continuada? Na escola, em 
cursos de pós-graduação? Isso não seria possível para a grande maioria das pessoas. Se 
assim fosse, não sobraria tempo para trabalhar. A própria pessoa tem que procurar o 
conhecimento, saber onde o encontrar e como aproveitá-lo. 
Essa será umas das novas funções da escola: orientar e deixar liberdade para que o 
aluno busque o conhecimento de que necessita, saiba encontrá-lo e tenha gosto em estar 
se atualizando sempre. Assim, ele desenvolve autonomia, iniciativa, abertura mental e 
cultura geral. 
Outra questão é que, mesmo estudando horas e horas todos os dias, será possível 
aprender apenas uma parcela muito pequena dos conhecimentos produzidos nos últimos 
tempos. Daí a necessidade de as pessoas aprenderem a trabalhar em equipe, para que 
sejam somados os conhecimentos de várias pessoas para solução de problemas e 
tomada de decisões no dia-a-dia. Esta é outra função da escola. 
E tem mais! Quem vai selecionar, organizar e tornar disponíveis os conhecimentos 
de que cada categoria profissional vai precisar? Em que suporte eles serão 
documentados? Por que meios serão veiculados? Para realizar tais tarefas, o profissional 
precisa ser profundo conhecedor da área e também de psicologia da aprendizagem e de 
didática. Não basta produzir um texto e colocá-lo na Internet, é necessário um conjunto de 
elementos para que a aprendizagem se torne fácil, agradável e significativa. 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 69 
Hoje - e no futuro mais ainda - precisamos ter uma grande escola, que é o mundo 
inteiro, sem paredes, sem distância, onde todos são aprendizes para a vida toda. Nesta 
escola, serão professores somente os melhores, os de mente mais aberta, os que melhor 
escrevem e se comunicam. Nela, o diploma tem pouquíssimo valor. Tem peso estar bem 
atualizado, e – é lógico - dominar bem a tecnologia educacional e a tecnologia aplicada à 
educação. 
Outrossim, na perspectiva das tendências educacionais, também é importante 
considerar a efetivação das ideias de Pierre Lévy (1998), segundo o qual o professor deve 
ser arquiteto cognitivo e engenheiro do conhecimento. Isto significa atualizar-se 
constantemente. O professor ruim será descartado e acabará o espaço para o professor 
“teoricão”, ou ele é competente e se conscientiza de que precisa aprender ao longo de 
toda a vida ou será descartado. 
Na educação, serão valorizados a autoconfiança, a cooperação, a criatividade, a 
flexibilidade e o autodidatismo. Bem diferente do que acontece hoje nas escolas. 
A aprendizagem visará à qualidade. Os conteúdos serão relevantes e significativos. 
E para selecionar e produzir conteúdos, serão escolhidos e aproveitados os melhores 
especialistas. Este conteúdo será bem diferente daqueles que predominam na maioria 
dos livros didáticos de hoje. Será mais denso, envolvendo conteúdos conceituais, 
procedimentais e atitudinais. 
Não haverá mais currículo oficial. Neste sentido, o Brasil já está no futuro, pois o 
currículo oficial foi extinto pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996. 
Hoje, o Ministério da Educação (MEC) e o Conselho Nacional de Educação (CNE) fixam 
diretrizes curriculares para os diversos níveis e modalidades escolares. Quem elabora o 
currículo e o projeto pedagógico são as escolas, ou seja, os professores e a comunidade 
de cada escola. Será conferida às escolas a autonomia de que necessitam. 
Entre as tendências que já se efetivaram, destacam-se a contribuição da eletrônica 
na formação continuada de docentes e discentes, bem como o crescimento da educação 
a distância, que tem atendido, com reconhecida qualidade, uma parcela significativa da 
população até então excluída, principalmente, do ensino superior. 
Diante dessas mudanças, pode-se dizer que uma das tendências educacionais do 
futuro é a extinção da profissão de professor? Para fazer o que os professores fazem 
hoje, certamente sim. Os do futuro vão produzir livros didáticos que estimulem o aluno a 
ler, a pensar, a criar, a trabalhar em equipe e a tomar decisões. Vão orientar o processo 
de busca e de autoaprendizagem. Vão produzir material para educação a distância: 
material impresso, vídeos, jogos etc. 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 70 
Os professores do futuro vão alfabetizar utilizando a internet,as redes sociais e a 
diversidade de mídias e tecnologias que aumentam consideravelmente a cada ano; 
adequar-se-ão, portanto, à nova realidade, caracterizada pela inserção tecnológica das 
crianças desde a mais tenra idade. Há, ainda, muito trabalho a ser desenvolvido pelos 
professores nesta era do conhecimento. 
Segundo Alvin e Heidi Toffler (1998), são necessários cinco elementos para que a 
educação se prepare para o século XXI. 
O primeiro seria a informática, mas, para isso, não bastaria haver computadores 
nas classes, seria necessário mudar a própria escola, reorganizá-la e reestruturá-la em 
seus currículos, na administração e nos métodos pedagógicos. 
O segundo elemento seria a mídia, que tem enorme poder de sedução sobre as 
crianças. Deveriam ser entregues câmaras de vídeo a elas para que produzissem seus 
próprios filmes. Assim, aprenderiam também a fazer leitura das imagens e críticas da 
mídia. 
O terceiro elemento seriam os pais, cujos conhecimentos e experiências poderiam 
ser somados aos conteúdos escolares; deveriam, também, se envolver com a escola e 
comprometer-se com a educação dos filhos, fazendo uso de seus computadores e da 
conexão com a Internet. 
Quarto, a comunidade: profissionais de todas as áreas poderiam trazer sua 
contribuição para a escola ou a escola levar os alunos até os locais em que trabalham. E 
acentuam os autores: “Na medida em que o trabalho sai do escritório e da fábrica, a 
educação tem de sair mais e mais da escola” (TOFLER, A; TOFLER, H., 1998, s/p). 
Quinto elemento: professores. Em vez de lições-padrão, os professores deveriam 
“contribuir no re-projeto do processo educacional como um todo, do começo ao fim”. 
(TOFLER, A; TOFLER, H., 1998, s/p). 
Se a escola brasileira não considerar esses cinco elementos, terá ela outras formas 
de preparar as crianças para o mundo, para a vida e para o trabalho? O que a nossa 
escola está fazendo neste sentido? 
Se o Brasil precisa hoje de dois milhões de professores para atender à educação 
básica, que vai até os 17 anos de idade, em breve necessitará de mais seis milhões para 
oferecer educação continuada nas mais diferentes tecnologias. 
A produção de conhecimentos no mundo é tão rápida que é preciso muita gente 
para aprendê-los, muita gente para reelaborá-los e adaptá-los às suas especialidades. 
Todos buscarão o conhecimento como condição vital de sobrevivência, assim como a 
água e a comida. 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 71 
O conhecimento hoje é muito instável. Como afirmado, novos conhecimentos são 
produzidos numa velocidade incrível. Isso faz com que sejam modificados os 
conhecimentos anteriores. Assim, de que adianta o aluno aprender “conteúdo”, se em 
pouco tempo este pode estar ultrapassado, obsoleto? 
A pedagogia já encontrou uma saída para isso. Classificou os conteúdos em 
conceituais, procedimentais e atitudinais. 
Os conteúdos mais instáveis são os conceituais; os que são tratados 
tradicionalmente por “matérias”. São importantíssimos, pois sem eles não conseguiríamos 
nem sequer pensar. Eles nos fornecem as informações científicas, técnicas e os saberes 
sociais. 
Os conteúdos procedimentais referem-se à maneira de fazer as coisas, de 
aprender, de pesquisar, localizar, pensar e construir. Estes são mais estáveis, mais 
duradouros. Se estes forem bem aprendidos, será mais fácil atualizar os conteúdos 
conceituais, que estão mudando rapidamente. Daí a necessidade de a escola dar ênfase 
a que os alunos desenvolvam a competência em aprender a aprender. 
Os conteúdos atitudinais referem-se a atitudes, comportamentos, interesses, 
desejos, sentimentos, emoções, vontade, propósitos e valores. Envolvem justiça, 
solidariedade, participação; ou querer agir, fazer, ter mente aberta e flexível, por exemplo. 
Assim, se a escola e o professor conseguirem fazer com que o estudante goste de 
estudar, de aprender, de ler, de se atualizar e que seja flexível e aberto às mudanças, 
estará cumprindo outra de suas importantes funções. Dessa forma, mais do que nunca, o 
espaço para você ser professor vai se ampliando. A questão é você conhecer as 
mudanças, adaptar-se a elas, ser competente, ousado, persistente e empreendedor. 
Você achou interessante o que leu, ou se assustou? Um fator é certo. Não há mais 
lugar para pessoas acomodadas. Assim, não há outra saída, a pessoa deve ser otimista, 
ter garra, pensar grande e estudar sempre. 
Não aprendemos para a escola, mas para a vida. Os conhecimentos não estão na 
escola, mas no mundo, inclusive na escola. É na realidade do mundo que devemos 
buscar os conhecimentos. Estes são divulgados pela mídia, por revistas científicas e pela 
Internet. 
Por isso, não preciso escrever muito. Vamos, juntos, procurar os conhecimentos 
onde eles estiverem. 
 
 
5.2 Os avanços tecnológicos colaborando para uma educação de qualidade 
Márcia Helena Leonel 
 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 72 
Houve época em que era necessário justificar a introdução da informática na escola. 
Em meados da década de 1980, Bork (1985) escreveu que o uso do computador era 
quase certo, mas que a relação entre o seu uso na escola e agravamento ou melhoria do 
sistema educacional era uma incógnita. 
Já se passaram vinte e quatro anos e a informática vem adquirindo cada vez mais 
espaço e relevância no cenário educacional. Sua utilização como instrumento de 
aprendizagem vem aumentando de forma rápida e, neste sentido, a educação vem 
passando por mudanças estruturais e funcionais frente a essa 
nova tecnologia. 
Hoje, existe consenso quanto à importância da tecnologia na 
área educacional, entretanto, o que se questiona é a forma com 
que essa introdução vem ocorrendo. De acordo com Valente 
(1999), o foco da informática educativa não é o computador como objeto de estudo e, sim, 
como instrumento para a construção ou propagação de conhecimentos. Compreende-se, 
assim, que o ensino pelo computador propicia ao aluno apropriar-se de conceitos das 
mais variadas áreas do conhecimento. 
Na contemporaneidade, a introdução da informática na educação é vista como 
instrumento de aprendizagem e sua ação no meio social está aumentando de forma 
rápida entre as pessoas. Quando se aprende a lidar com o computador, novos horizontes 
se abrem na vida do usuário e este começa a perceber um novo jeito de aprender e ver o 
mundo. 
O computador veio para inovar e facilitar a vida das pessoas. A tecnologia está 
adentrando em todas as áreas e com a educação não poderia ser diferente. A escola não 
pode vislumbrar uma aprendizagem significativa por meios obsoletos, precisa sofrer 
transformações frente a essa “nova tecnologia”. Toda aprendizagem precisa ser 
inovadora e conduzir o indivíduo a se sentir como um ser globalizado, capaz de interagir e 
competir com igualdade na busca de seu sonho profissional. 
 
5.2.1 A escola sofre pressões por mudanças 
 
A escola de hoje ainda apresenta um currículo engessado, com disciplinas 
fragmentadas, com conteúdos apresentados de tal forma que não estimulam o aluno a 
pensar. Na maioria das escolas, as aulas são expositivas, ministradas por professores 
que falam durante horas, sem se preocupar se o aluno está realmente aprendendo. O 
computador chegou à escola, mas a utilização dele nem tanto. Alguns professores se 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 73 
autointitulam “analfabetos digitais”, porém conformam-se com esta condição e não 
buscam novos conhecimentos, necessários ao mundo moderno. 
Segundo o Relatório de Desenvolvimento (2012), divulgado pelo PNUD (Programa das 
Nações Unidas para o Desenvolvimento), um em cada quatro estudantes que ingressam no 
ensino fundamental abandona a escola antes de concluir o último ano. Com taxa de 24,3%, o 
Brasil apresenta o terceiro pior índice de evasão escolar entre os 100 países com maior IDH 
(Índice de Desenvolvimento Humano).Estes dados são dramáticos, especialmente quando 
nos deparamos com o rápido avanço rumo à “sociedade do conhecimento”. 
O que está acontecendo com nossas escolas? Onde estamos errando? 
Ensinar não depende só do professor, depende também do aluno querer aprender, e 
quase metade de nossos alunos do Ensino Médio e Superior não quer aprender. A 
questão é: por que este aluno não se interessa pela escola? Onde estará o problema? 
Será a metodologia do professor que está ultrapassada? Serão os conteúdos que não são 
significativos? 
Fala-se muito em ensino de qualidade, mas, no geral, as escolas estão muito 
distantes dos conceitos de qualidade. Os dados estatísticos e as avaliações nacionais 
mostram a defasagem na qualidade do ensino. 
Se tantos jovens não se sentem motivados para permanecer na escola, é um forte 
indício de que esta necessita urgentemente de um tratamento de choque. O primeiro 
passo é tentar detectar as causas desses “fracassos”. Alguns já nos parecem bem claros: 
 Professores desmotivados, mal preparados e mal remunerados; 
 Infraestrutura normalmente bem comprometida; 
 Acesso insatisfatório dos alunos à tecnologia, em algumas regiões; e inexistente, 
em outras; 
 Alunos não gostam de pesquisar e não sabem se expressar de forma correta. 
O perfil de muitos alunos que concluem um curso superior é de pessoas que não 
desenvolveram gosto pela leitura, não conseguem interpretar certos textos, não percebem 
as mudanças que estão ocorrendo à sua volta, não conseguem analisar presente e 
passado para tentar identificar as tendências para o futuro. 
O homem contemporâneo está vivendo na era digital, da Internet banda larga, 4G, 
dos smartphones, tablets, entre outros equipamentos de multimídia, TV digital e alta 
tecnologia. Estes fatores vêm modificando todas as áreas da vida. 
O conceito de tempo e espaço modificam-se em consequência da tecnologia de 
redes eletrônicas. Uma nova sociedade está sendo construída, e saber pesquisar, fazer 
escolhas certas, comparar resultados obtidos, produzir novos materiais, trabalhar bem, 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 74 
tanto individualmente como em grupo, são fatores fundamentais para 
que o indivíduo tenha chance de disputar seu espaço no atual 
mercado de trabalho. 
Assim como as demais organizações, a educação passa também 
por um momento de pressão por mudanças. Muitos professores não estão encontrando o 
caminho de ensinar e aprender, em uma sociedade interconectada. 
A maioria das escolas, como instituição, resiste a mudanças, entretanto se faz 
necessária uma urgente e significativa revisão no sistema educacional, pois a escola não 
pode se isolar desse processo transformador. Ao contrário, a escola precisa se inserir 
nestas mudanças, repensando o uso de novas tecnologias e entendendo qual seu 
verdadeiro significado. 
A escola do futuro deverá integrar os vários segmentos da vida do indivíduo, ou seja, 
não só o intelectual e profissional, mas também a questão emocional e ética, auxiliando 
na construção de uma identidade e possibilitando o encontro de seu espaço na vida 
pessoal, social e profissional. 
 
5.2.2 O uso do computador na prática educativa 
 
No Brasil, cerca de 94 milhões de pessoas têm computador e acessam a internet, 
representando quase metade da população nacional. 
Com relação à utilização do computador na área educacional, o potencial 
pedagógico do computador mal começou a ser explorado. Suas possibilidades são quase 
ilimitadas. A cada dia se ouve falar de uma nova modalidade de utilização no aprendizado 
da arte, da música, de línguas (materna e estrangeira) etc. Todavia, o mais importante é 
que a criança, dominando o computador, tem à sua disposição um instrumento poderoso 
com o qual pode instigar o pensamento e efetivamente aprender (CHAVES, 1988). 
A apropriação e o uso de equipamentos tecnológicos no processo educativo geram 
expectativas de alterações no cotidiano escolar. O computador rompe com o tradicional, 
ao trazer novos cenários e novos atores para dentro da escola, possibilitando dialogar 
com a realidade exterior aos muros da instituição, permitindo a interação entre diferentes 
sujeitos e objetos de aprendizagem, recursos de som, imagens e movimentos. 
Ao introduzirmos o computador como ferramenta de apoio ao processo de ensino-
aprendizagem, o principal objetivo deve ser o de propiciar um ensino inovador; e, na 
informática aplicada à educação, a apropriação das ferramentas tecnológicas deve 
acontecer de acordo com a necessidade de recursos envolvidos no trabalho a ser 
executado. 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 75 
O uso do computador na educação tem como objetivo promover a aprendizagem do 
aluno e ajudar na construção do processo de estabelecer habilidades importantes, para 
que ele participe da sociedade do conhecimento. Não se trata simplesmente de facilitar o 
seu processo de aprendizagem. 
A informática, se bem utilizada dentro de um projeto educacional, pode dar 
condições aos alunos de trabalhar a partir de temas, projetos ou atividades, que surgem 
naturalmente no contexto da sala de aula. Assim, o professor, além de se preocupar com 
os conteúdos, deverá também participar do desenvolvimento de valores para formar 
indivíduos com cultura, flexíveis, críticos e criativos. 
Os recursos computacionais são ferramentas importantes, mas é importante analisar 
e propor o uso adequado dos recursos tecnológicos no processo educacional, 
vislumbrando-o como mecanismo de superação de práticas pedagógicas alicerçadas nas 
concepções tradicionais que, geralmente, imperam nas escolas. Se o professor estiver 
alinhado às transformações da sociedade compreenderá que a tecnologia pode ser 
colocada a serviço da educação; neste prisma, fará uso de tais instrumentos para 
potencializar o processo de ensino-aprendizagem e não para esquivar-se de suas 
atribuições (PENATI, 2005). 
A tecnologia tem possibilitado melhora na qualidade da educação brasileira, com a 
criação de ambientes de aprendizagem, auxiliando na resolução de problemas, na 
produção de textos, na manipulação de banco de dados e controle de processos em 
tempo real. 
O êxito dessa ferramenta só não é maior porque faltam equipamentos nas escolas, 
falta empenho na introdução da informática na educação, o treinamento dos professores é 
frágil e lento, culminando na resistência da introdução da tecnologia na área educacional. 
Em outras palavras, “[...] os avanços tecnológicos têm desequilibrado e atropelado o 
processo de formação fazendo com que o professor sinta-se eternamente no estado de 
"principiante" em relação ao uso do computador na educação [...]” (VALENTE E 
ALMEIDA, 1997, p. 12). 
Não se pode negar que o computador, de fato, exerce grande atração sobre a 
criança, assim devemos explorar essa atração em direções positivas e desejáveis. Tajra 
(2001), no entanto, orienta: 
 
 
[...] o professor precisa conhecer os recursos disponíveis dos programas 
escolhidos para suas atividades de ensino, somente assim ele estará apto 
a realizar uma aula dinâmica, criativa e segura. Ir para um ambiente de 
informática sem ter o programa a ser utilizado é o mesmo que ir dar uma 
aula sem planejamento e sem ideia do que fazer. (p.116) 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 76 
 
A escola deve promover a autonomia intelectual do aluno. Isso significa que as 
crianças precisam se apropriar do conhecimento: observar, experimentar, construir e só 
depois abstrair. E o computador tem tudo a ver com isso, pois proporciona novos modos 
de significar o mundo. 
 
5.2.3 Questionando a informática na escola 
 
O ensino, por meio da tecnologia, ainda é bastante questionado. Muitas escolas 
introduzem, em seu currículo, o ensino da informática com o pretexto da modernidade, 
mas, no ambiente escolar, surgem algumas dúvidas. Quais professores poderiam 
ministraressas aulas? Seria necessário contratar técnicos para ensinar informática? O 
que ensinar nas aulas de informática? 
Algumas escolas, percebendo o potencial dessa ferramenta, introduziram a 
informática educativa em seus currículos, que, além de promover o contato com o 
computador, tem como objetivo a utilização dessa ferramenta como instrumento de apoio 
às matérias e aos conteúdos lecionados. 
Essa nova realidade requer dos profissionais que atuam na escola, de um modo 
geral, uma revisão de suas formas de atuação: 
 
Novas maneiras de pensar e de conviver estão sendo elaboradas no 
mundo das comunicações e da Informática. As relações entre os homens, 
o trabalho, a própria inteligência dependem, na verdade, da metamorfose 
incessante de dispositivos informacionais de todos os tipos. Escrita, leitura, 
visão, audição, criação e aprendizagem são capturados por uma 
Informática cada vez mais avançada (LEVY, 1994, p. 7). 
 
Para Valente (1999, p. 5), embora o Brasil tenha buscado referências do uso da 
informática no contexto internacional, “[...] a nossa caminhada é muito peculiar e difere 
daquilo que se faz em outros países”. 
Valente (1999) menciona, ainda, que, nos Estados Unidos e na França, países com 
grande proliferação de computadores nas escolas e grande avanço tecnológico, do ponto 
de vista pedagógico, não ocorreram mudanças significativas. A tão esperada 
transformação na qual o aluno constrói o conhecimento e tem o controle do processo 
dessa construção não aconteceu. Segundo o autor, “[...] ainda é o professor quem 
controla o ensino e transmite a informação ao aluno” (VALENTE, 1999, p. 13). 
Na França e nos Estados Unidos, a introdução da informática na educação provocou 
um grande avanço na disseminação dos computadores nas escolas, porém: 
 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
Graduação em Pedagogia 
 77 
[...] esse avanço não correspondeu às mudanças de ordem pedagógicas 
que essas máquinas poderiam causar na educação. As escolas nesses 
países têm mais recursos do que as escolas brasileiras e estão, 
praticamente, todas informatizadas. Mas, a abordagem educacional ainda 
é, na sua maioria, a tradicional (VALENTE, 1999, p.18). 
 
Para o autor, “[...] as práticas pedagógicas inovadoras acontecem quando as 
instituições se propõem a repensar e a transformar a sua estrutura cristalizada em uma 
estrutura flexível, dinâmica e articulada” (VALENTE, 1999, p. 26). 
No Brasil, a influência exercida principalmente pela França e pelos Estados Unidos 
foi mais no sentido de minimizar os pontos negativos e enfatizar os positivos, ao invés de 
reproduzir o modelo de forma acrítica. Os centros de pesquisa universitária têm assumido 
um papel importante no sentido de adotar políticas de ensino, sustentadas na experiência 
obtida no âmbito escolar, fato que, segundo o autor, não ocorreu em outros países, pois 
“[...] em outros países o que se buscou com a informática não passou, muitas vezes, de 
tentativas de automatização do ensino sem maiores inovações no processo educacional” 
(VALENTE, 1999, p. 9). 
 
5.2.4 Formar o cidadão do futuro é papel da escola 
 
É interessante ressaltar que a maior parte dos empregos que surgirão neste século 
ainda não existe e, com certeza, eles, de alguma forma, utilizarão as novas tecnologias da 
informação e comunicação; portanto cabe à escola prestar a sua grande contribuição na 
formação de indivíduos capacitados para atuar na economia do futuro. Estamos vivendo 
um período revolucionário que vai além dos computadores e das inovações na área de 
telecomunicações. As mudanças estão ocorrendo nas áreas econômica, social, cultural, 
política, religiosa, institucional e até mesmo filosófica. Uma nova civilização está nascendo, o 
que envolve, consequentemente, uma nova maneira de viver. 
É importante modificar o sistema educacional, de forma que se esteja preparado 
para promover a aquisição das habilidades e a construção dos modos de pensar neste 
novo contexto mundial. A nova sociedade que surge aponta para a necessidade de 
pensamento livre e integrado, indutivo e criativo, com menos ênfase na memória e mais 
no presente e no futuro. Saber aprender será mais importante do que o próprio ato de 
aprender. Saber onde e como encontrar o conhecimento será mais importante do que ter 
na cabeça o conhecimento. 
De acordo com Valente (1997), o aluno pode adquirir conceitos sobre qualquer 
domínio, mediante a máquina, mas a abordagem pedagógica de como isso acontece 
pode variar, oscilando entre dois grandes polos, conforme demonstra a figura a seguir. 
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Ainda, de acordo com o mesmo autor, esses polos são caracterizados pelos 
mesmos ingredientes: computador (hardware), software (o programa de computador que 
permite a interação homem-computador) e o aluno. A polaridade é estabelecida de acordo 
com a maneira como esses ingredientes são usados. De um lado, o computador, pelo 
software, ensina o aluno; enquanto, no outro, o aluno, pelo software, “ensina” o 
computador: 
 
Quando o computador ensina o aluno, o computador assume o papel de máquina de 
ensinar, e a abordagem educacional é a instrução auxiliada pelo computador. Nesta 
abordagem, apenas ocorre a substituição de cadernos e livros pelo computador; 
corresponde ao método de instrução programada tradicional, utilizando os softwares 
“Tutoriais” e “Exercício e Prática”. Os “Jogos Educacionais” e a “Simulação” também são 
softwares que ensinam. Nestas situações, a pedagogia utilizada é a exploração 
autodirigida (VALENTE, 1999). 
No outro polo, para o aluno “ensinar” o computador, o software é uma linguagem 
computacional (Basic, Logo, Pascal), um banco de dados (DBase) ou um processador de 
texto, que permite ao aluno representar suas ideias, mediante o software. Neste caso, o 
computador é apenas uma ferramenta. 
O computador, na educação, não deve ser utilizado como uma “máquina de 
ensinar”, mas como nova mídia educacional. Ao invés de memorizar informações, os 
alunos devem ser ensinados a buscar e a usar as informações. Assim, a presença do 
computador deve propiciar as condições para os alunos exercitarem a capacidade de 
procurar e selecionar as informações, resolver problemas e aprender independentemente. 
O professor deve deixar de repassar informações aos alunos, pois isso o computador faz 
com mais eficiência, e passar a ser o criador de ambientes de aprendizagem e o 
facilitador do processo de desenvolvimento intelectual do aluno. Um professor transmissor 
de informação estará descartado em pouco tempo. O que se necessita é de um mediador 
do conhecimento; alguém que ensine o aluno a pensar, a decidir, a escolher e a ter 
autonomia em suas ações. 
Ensino-Aprendizagem 
através do computador 
 
 
Direção do ensino Direção do ensino 
Computador 
Software 
Aluno 
Computador 
Software 
Aluno 
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Vivemos em um mundo tecnológico, onde a Informática não pode 
ser vista meramente como “mais uma tecnologia”. É uma “nova 
tecnologia” que oferece transformação pessoal. Desta forma, devemos 
entender a Informática não como uma ferramenta neutra que usamos 
simplesmente para apresentar um conteúdo. Devemos ter a percepção 
de que, quando a usamos como conhecimento, buscando bons conteúdos, estamos 
sendo modificados por ela e nos transformando em pessoas melhores. 
Logo, não basta colocar o aluno na frente do computador, pois a interação aluno-
computador precisa ser mediada por um profissional que entenda a aprendizagem como 
processo de construção do conhecimento. Ele tem que interagir com o aluno, procurando 
compreender suas ideias para saber intervir apropriadamente na situação, de modo a 
contribuir no processo de construção de conhecimento, por parte do aluno. 
A possibilidade que o computador oferece para o aluno aprender, em vez de ser 
ensinado, constitui a verdadeiratransformação do processo educacional. O ensino 
tradicional ou a informatização do ensino tradicional é baseado na transmissão de 
informação por um proprietário do saber (professor ou computador), com o aluno como 
um recipiente que deve ser preenchido. O resultado desta abordagem é o aluno passivo, 
sem capacidade crítica e com uma visão de mundo de acordo com a que lhe foi 
transmitida. Esse aluno, quando formado, terá pouca chance de sobreviver na sociedade 
do conhecimento. Na verdade, tanto o ensino tradicional quanto a informatização desse 
ensino prepara um “profissional obsoleto”. 
A sociedade do conhecimento exigirá um profissional crítico, criativo, com 
capacidade de pensar, de aprender a aprender, trabalhar em grupo e de conhecer o seu 
potencial intelectual. Este profissional deverá ter uma visão geral sobre os diferentes 
problemas que afligem a humanidade, além de profundo conhecimento sobre domínios 
específicos. Em outras palavras, um sujeito atento e sensível às mudanças da sociedade, 
com uma visão inter e transdisciplinar e com capacidade de constante aprimoramento e 
depuração de ideias e ações. 
Certamente, essa nova atitude é fruto de um processo educacional, cujo objetivo é a 
criação de ambientes de aprendizagem onde o aluno possa vivenciar e desenvolver tais 
habilidades. Elas não são passíveis de serem transmitidas, mas devem ser construídas e 
desenvolvidas pelo aluno. 
 
 
 
 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
 
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