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ESTUDO DA CADEIA PRODUTIVA DA AGRICULTURA FAMILIAR A PARTIR DE PRODUTORES DA FEIRA AGROECOLÓGICA DAS GRAÇAS EM RECIFE - PE

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Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO 
CENTRO ACADÊMICO DO AGRESTE 
NÚCLEO DE TECNOLOGIA 
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO 
 
 
 
 
RODRIGO FLÁVIO DOS SANTOS PINHEIRO 
 
 
 
 
ESTUDO DA CADEIA PRODUTIVA DA AGRICULTURA FAMILIAR A PARTIR DE 
PRODUTORES DA FEIRA AGROECOLÓGICA DAS GRAÇAS EM RECIFE - PE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Caruaru 
2021 
 
 
RODRIGO FLÁVIO DOS SANTOS PINHEIRO 
 
 
 
 
 
 
ESTUDO DA CADEIA PRODUTIVA DA AGRICULTURA FAMILIAR A PARTIR DE 
PRODUTORES DA FEIRA AGROECOLÓGICA DAS GRAÇAS EM RECIFE - PE 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado ao Curso de Graduação em 
Engenharia de Produção da Universidade 
Federal de Pernambuco, como requisito 
parcial para a obtenção do título de 
Bacharelado em Engenharia de Produção. 
 
Área de concentração: Gestão da 
Produção. 
 
Orientador: Profº. Dr. Osmar Veras Araujo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Caruaru 
2021 
Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor,
 através do programa de geração automática do SIB/UFPE
 
 
Pinheiro, Rodrigo Flávio dos Santos .
 Estudo da cadeia produtiva da agricultura familiar a partir de produtores da
feira agroecológica das Graças em Recife - PE / Rodrigo Flávio dos Santos 
Pinheiro - 2021.
 86f.: il.;30 cm.
 Orientador(a): Osmar Veras Araújo
 TCC (Graduação) - Universidade Federal de Pernambuco, CAA, Engenharia
de Produção, 2021.
 Inclui referências, apêndices. 
 1. Agricultura Familiar. 2. Cadeias Curtas Agroalimentares. 3.
Agroecologia. 4. Feiras Agroecológicas. I. Araújo, Osmar Veras II. Título. 
 620 CDD (22.ed.)
 
 
RODRIGO FLÁVIO DOS SANTOS PINHEIRO 
 
 
Estudo da Cadeia Produtiva da Agricultura Familiar a partir de 
produtores da Feira Agroecológica das Graças em Recife - PE 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado ao Curso de Engenharia 
Produção do Centro Acadêmico do 
Agreste - CAA da Universidade Federal 
de Pernambuco - UFPE, em 
cumprimento às exigências para 
obtenção do grau de Bacharel em 
Engenharia de Produção. 
 
Área de concentração: Gestão da 
Produção 
 
Após defesa por videoconferência, a banca examinadora considera o(a) 
candidato(a) APROVADO(A). 
 
Caruaru, 20 de dezembro de 2021. 
 
Banca examinadora: 
 
________________________________________________ 
Prof. Dr. Osmar Veras Araujo (Orientador) 
Universidade Federal de Pernambuco – UFPE 
 
________________________________________________ 
Profa. Dra. Renata Maciel Melo (Examinador Interno) 
Universidade Federal de Pernambuco – UFPE 
 
________________________________________________ 
Prof. Dr. Gilson Lima da Silva (Examinador Externo) 
Universidade Federal de Pernambuco – UFPE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico esse trabalho ao meu avô e ao meu tio (in memoriam) 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço primeiramente a meus pais e todo apoio que me deram durante vida. 
Meu pai pela paciência sempre presente. Minha mãe pela garra e alegria diária. 
A minha vó, guardo aqui também muito obrigado pelo suporte e carinho. 
Agradeço a minha companheira Luciana, sem a qual não conseguiria essa 
conquista. Ela se faz presente em todas as etapas deste trabalho. 
Quero agradecer ao professor Osmar Veras, pela dedicação e tamanha 
paciência de me acompanhar nesta jornada. Foi com ele que realizei meu primeiro 
trabalho científico e o qual finalizo os estudos acadêmicos. 
Agradeço a meu amigo Mateus por ser um irmão para mim, e que sempre me 
motivou e inspirou em diversas situações. Sou grato também aos meus amigos do 
Instituto Amapacha: o músico Marquinho, o professor Virgílio e o permacultor 
Bernardo. 
Aqui dedico também agradecimento aos professores e amigos do SERTA, que 
tanto me ensinam e me trazem saberes da terra, do campo, da vida. 
Agradeço também a Rafaela, minha amiga de turma. Ela que foi muito 
importante para mim durante a graduação. 
Sou grato pela amizade de Cecília que me impulsionou até aqui, dando as 
razões filosóficas existenciais para seguir adiante. 
Por fim, deixo registrado aqui minha eterna gratidão aos agricultores que me 
auxiliaram tanto neste trabalho e que nos garante comida saudável, sem venenos, 
todos os dias. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Na vida, somos eternos amadores... 
...pois vivemos pouco para sermos mais do que isso. 
- Charlie Chaplin 
 
 
RESUMO 
 
A ausência de mecanismos de coordenação eficientes, as dificuldades em encontrar 
apoio institucional adequado e a carência de conhecimentos técnicos afetam 
claramente o desempenho produtivo dos agricultores familiares e compromete sua 
sobrevivência em mercados altamente competitivos. Assim, este trabalho busca 
estimular o desenvolvimento local através do estudo da cadeia produtiva da 
Agricultura Familiar a partir de produtores da Feira Agroecológica das Graças em 
Recife – PE. Diante disso, a pesquisa aborda conceitos teóricos sobre agricultura 
familiar, agroecologia e cadeia curtas agroalimentares (Short Food Supply Chain), a 
fim de descrever cada elemento envolvido no processo produtivo e suas inter-
relações. A investigação conta com uma pesquisa de campo, realizada por meio de 
entrevistas semiestruturadas e de visitas aos espaços de trabalho dos produtores que 
comercializam na feira. A natureza da pesquisa tem caráter exploratório, baseando-
se na abordagem qualitativa de coleta e análise de dados. Como instrumento para 
investigar, avaliar e propor estratégias de melhorias no processo produtivo da 
agricultar familiar, utilizou-se a Metodologia de Analise e Solução de Problemas 
(MASP) em conjunto com ferramentas da qualidade. Como resultados, obteve-se a 
descrição detalhada da cadeia dos agricultores entrevistados, a caracterização dos 
elementos e o levantamento dos principais problemas demonstrados. Em conclusão, 
foi fornecido estratégias para a melhoria dos pontos críticos observados. 
 
Palavras-chave: Agricultura Familiar. Cadeias Curtas Agroalimentares. Agroecologia. 
Feiras Agroecológicas. 
 
 
ABSTRACT 
 
The lack of efficient coordination mechanisms, the difficulties in finding adequate 
institutional support, and the lack of technical knowledge clearly affect the productive 
performance of family farmers and compromise their survival in highly competitive 
markets. Thus, this work seeks to stimulate local development through the study of 
the family farming production chain basing on the producers of the Graças 
Agroecological Fair producers, in Recife – PE. Therefore, the research seeks to bring 
theoretical concepts about family farming, agroecology and short food supply chain, in 
order to describe each element involved in the production process and its 
interrelationships. The investigation also includes field research, carried out through 
semi-structured interviews and visits to the work spaces of producers who work at the 
fair. The nature of the research is exploratory, based on the qualitative approach of 
data collection and analysis. As an instrument to investigate, evaluate and propose 
strategies for improvements in the productive process of family farming, the Problem 
Analysis and Solution Methodology (MASP) was used in conjunction with quality tools. 
As a result, a detailed description of the farmers' chain was obtained, the 
characterization of the elements and the survey of the main problems demonstrated. 
In conclusion, strategies for improving the critical points observed were provided. 
 
Keywords: Family Agriculture. Short Food Supply Chain. Agroecology. Agroecological 
Fairs 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 01 – 
Figura 02 – 
Figura 03 – 
Figura 04 – 
Figura 05 – 
Figura 06 – 
Figura 07 – 
 
Figura 08 – 
Figura 09 – 
Figura 10 – 
Figura 11 – 
 
Figura 12 – 
Figura 13– 
Figura 14 – 
 
Figura 15 – 
Figura 16 – 
 
Figura 17 – 
Figura 18 – 
Figura 19 – 
 
 
Esquema comum as cadeias produtivas............................. 
Cadeias Agroalimentares.................................................... 
Cadeia da Agricultura Familiar............................................ 
Espaço Agroecológico das Graças em 1998...................... 
Feira Agroecológica das Graças em 2021........................... 
Feira Agroecológica das Graças em atividade.................... 
Benefícios da aproximação entre produtores e 
consumidores...................................................................... 
Etapas do MASP................................................................. 
Descrição de elementos da cadeia produtiva familiar......... 
Produção de hortaliças do agricultor Regis em Gravatá-PE 
Agricultora Lourdes na Feira Agroecológica das Graças-
PE....................................................................................... 
Canais de comercialização dos entrevistados..................... 
Transporte utilizado pelos agricultores................................ 
Participação em programas institucionais dos 
entrevistados....................................................................... 
Análise SWOT dos agricultores entrevistados..................... 
Análise de Pareto dos problemas citados pelos 
agricultores......................................................................... 
Diagrama de Afinidades dos problemas encontrados......... 
Gráfico de Pareto para os grupos de problemas.................. 
Diagrama Causa-Efeito analisado....................................... 
28 
30 
32 
41 
42 
43 
 
44 
49 
52 
57 
 
62 
65 
65 
 
66 
67 
 
70 
71 
72 
74 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE QUADROS 
 
Quadro 01 – 
Quadro 02 – 
Quadro 03 – 
Quadro 04 – 
Quadro 05 – 
Quadro 06 – 
 
 
Impactos positivos das CCA.................................................. 
Agricultores entrevistados..................................................... 
Ferramentas da qualidade utilizadas na pesquisa................ 
Problemas relatados pelos entrevistados.............................. 
Técnica dos “5 porquês” aplicada nas causas observadas.... 
Estratégias sugeridas pela ferramenta 5W1H....................... 
35 
46 
49 
69 
74 
76 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
AF Agricultura Familiar 
CAA 
CPAF 
FA 
FAO 
FIBL 
IBGE 
Idec 
IFOAM 
MAPA 
MMA 
OCS 
ONG 
ONU 
Oscip 
PAA 
PNAE 
PRONAF 
SEAGRI 
 
SERTA 
SFSC 
UFPE 
 
Cadeias Curtas de Alimento 
Cadeia Produtiva da Agricultura Familiar 
Feira Agroecológica 
Food and Agriculture Organization of the United Nations 
Forschungsinstitut für biologischen Landbau 
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor 
International Federation of Organic Agriculture Movements 
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento 
Ministério do Meio Ambiente 
Organização de Controle Social 
Organização Não Governamental 
Organização das Nações Unidas 
Organização da sociedade civil de interesse público 
Programa de Aquisição de Alimentos 
Programa Nacional de Alimentação Escolar 
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar 
Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e 
Aquicultura 
Serviço de Tecnologia Alternativa 
Short Food Supply Chain 
Universidade Federal de Pernambuco 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO .................................................................................... 14 
1.1 JUSTIFICATIVA .................................................................................. 15 
1.2 OBJETIVOS ........................................................................................ 16 
1.2.1 
1.2.2 
Objetivos Gerais ............................................................................... 
Objetivos Específicos........................................................................ 
16 
16 
2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................. 17 
2.1 
 
2.1.1 
CONHECENDO A AGRICULTURA FAMILIAR, A AGROECOLOGIA 
E AS FEIRAS AGROECOLÓGICAS.................................................... 
Agricultura familiar............................................................................ 
 
17 
17 
2.1.2 
2.1.3 
Mercados da agricultura familiar...................................................... 
A Agroecologia.................................................................................. 
20 
22 
2.1.4 
2.2 
 
2.2.1 
2.2.2 
2.2.3 
 
2.2.4 
3 
3.1 
3.2 
3.2.1 
3.2.2 
3.3 
4 
4.1 
4.2 
4.2.1 
4.2.2 
4.2.3 
Feiras Agroecológicas....................................................................... 
ENTENDENDO A CADEIA PRODUTIVA DA AGRICULTURA 
FAMILIAR............................................................................................ 
Cadeias Produtivas............................................................................ 
Cadeias Agroalimentares................................................................. 
As características da cadeia produtiva da Agricultura 
Familiar............................................................................................... 
Cadeias Curtas de Alimento (Short Food Supply Chain)................ 
METODOLOGIA.................................................................................. 
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS............................................ 
DESCRIÇÃO DO CENÁRIO DE PESQUISA...................................... 
Contextualização............................................................................... 
Organização e caracterização.......................................................... 
COLETA DE DADOS........................................................................... 
ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS................................................ 
RESULTADOS E DISCUSSÕES........................................................ 
DESCRIÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA............................................. 
CARACTERIZAÇÃO DOS ELEMENTOS E SUAS RELAÇÕES......... 
Insumos.............................................................................................. 
Pré-Produção..................................................................................... 
24 
 
26 
27 
29 
 
31 
33 
38 
37 
38 
38 
39 
45
47 
51 
51 
53 
53 
54 
 
 
4.2.4 
4.2.5 
4.2.6 
4.2.7 
4.3 
4.3.1 
4.3.2 
4.3.3 
4.3.4 
5 
6 
7 
 
Produção............................................................................................ 
Colheita.............................................................................................. 
Beneficiamento................................................................................. 
Distribuição........................................................................................ 
Comercializalção................................................................................ 
ANÁLISE E ESTRATÉGIAS................................................................ 
Identificação dos problemas............................................................ 
Observação do problema.................................................................. 
Análise do problema.......................................................................... 
Plano de ação..................................................................................... 
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................. 
REFERÊNCIAS .................................................................................. 
APÊNDICE.......................................................................................... 
56
58 
59 
59 
60 
63 
64 
70 
7376 
77 
79 
85 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Atualmente a industrialização dos mercados de alimentos trouxe como 
consequência o desenvolvimento de uma agricultura baseada na mecanização, no 
uso de agrotóxicos e na dependência de importação de insumos, bem como a 
inevitável desvalorização dos pequenos produtores rurais (MAZOYER E ROUDART, 
2010). 
 Frente ao mercado agrícola mais sustentável, evidencia-se a agricultura 
familiar, a qual mantém os princípios da produção limpa, longe de tecnologias 
industriais ou produtos químicos. Essa agricultura representa a possibilidade do 
desenvolvimento de pequenos produtores, da soberania alimentar e movimento da 
economia local (FAO, 2016). 
Ademais, o verdadeiro destaque para a agricultura familiar continua a ser o seu 
papel fundamental na circulação a nível local de seus produtos e serviços, agregando 
valor as cadeias curtas agroalimentares (Short Food Supply Chain) (SCARABELOT; 
SCHNEIDER, 2000). 
Segundo Nogueira et al (2021), a comercialização da agricultura familiar é 
diretamente relacionada as cadeias curtas de alimentos. Essas cadeias são formas 
de negociação onde não há intermediários entre o agricultor e seu consumidor final. 
São os pequenos mercados, as feiras livres, orgânicas e as demais formas de vendas 
diretas. Esses mercados alternativos fortalecem a economia, incentivam a agricultura 
familiar e promovem os valores tradicionais e culturais do pequeno agricultor. 
Não obstante, a ausência de mecanismos de coordenação eficientes, as 
dificuldades em encontrar apoio institucional adequado e a carência de 
conhecimentos técnicos afetam claramente o desempenho produtivo dos agricultores 
familiares e compromete sua sobrevivência em mercados altamente competitivos 
Neste contexto, fundamentado na oportunidade de contribuir no 
desenvolvimento do pequeno agricultor, este trabalho tem como finalidade analisar a 
cadeia produtiva da Agricultura Familiar a partir de produtores da Feira Agroecológica 
das Graças em Recife – PE. 
Especificamente, buscou-se descrever cada elemento do processo produtivo 
investigado e suas inter-relações. Para ao final, poder propor um portifólio de 
estratégias competitivas para seu desenvolvimento. 
15 
 
Para o estudo da problemática adotou um caráter exploratório, com uma 
abordagem qualitativa na coleta de dados obtidos na pesquisa de campo, que contou 
com visitas as unidades de produção familiar e entrevistas semiestruturadas com 
agricultores. 
Os resultados foram elaborados seguindo as quatro primeiras etapas do MASP, 
alinhado ao uso sequencial de ferramentas da qualidade, onde obteve-se a 
representação gráfica da cadeia produtiva da agricultura familiar, bem como a 
caracterização dos elementos e dos problemas observados. Por fim, foi proposto 
sugestões de estratégias para melhorias. 
Assim foi possível, tanto levantar importantes características dos processos 
produtivos, como sugerir caminhos para o desenvolvimento econômico dos 
agricultores investigados. 
 
1.1 JUSTIFICATIVA 
 
O segmento da Agricultara Familiar, segundo o Censo Agropecuário elaborado 
pelo IBGE (2019), produz mais de 70% do total de todo alimento que chega à mesa 
dos brasileiros todos os dias. Ainda de acordo com os dados, é responsável por 67% 
(10,1 milhões) de todo o pessoal que ocupa postos de trabalhos no campo, além de 
ser a base econômica de 90% dos municípios com até 20 mil habitantes, absorvendo 
40% dessa população economicamente ativa. Ou seja, a agricultura familiar 
apresenta-se como pilar fundamental para a geração de renda e abastecimento de 
alimentos do país. 
Em termos globais, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas 
para Agricultura e Alimentação (FAO), a quantidade de agricultores familiares no 
mundo está estimada em mais de 500 milhões e são responsáveis pela produção de 
mais de 80% de toda a comida do planeta (FAO, 2016) 
Este segmento apresenta ainda mais destaque no cenário pandêmico atual, 
onde observou uma crescente demanda do consumidor urbano por alimentos 
saudáveis (sem agrotóxicos) em busca do aumento de imunidade para combater os 
sintomas da Covid-19. (FIBL; IFOAM, 2020) 
Além disso, o tema da pesquisa colabora com os Objetivos de Desenvolvimento 
Sustentável (ODS), proposto pela Organização das Nações Unidas (ONU). Entre os 
quais, destaca-se o alinhamento deste trabalho com os seguintes: ODS 2, que visa 
16 
 
acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e a melhoria da nutrição e 
promover a agricultura sustentável, de tal maneira, que o abastecimento através da 
agricultura familiar se torna um importante processo para promover a economia local 
e combater a pobreza no campo; ODS 11, que tem como objetivo, tornar as cidades 
e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis, onde as 
feiras agroecológicas causam intervenções que impactam positivamente neste 
objetivo; e a ODS 12, que busca assegurar padrões de produção, tendo como objetivo 
o engajamento da população e empresas com o consumo sustentável. 
Assim, a partir da importância intrínseca da Agricultura Familiar, esse trabalho 
se propõe direcionar os fundamentos da Engenharia de Produção em favor do 
desenvolvimento agrícola local, buscando com essa investigação, contribuir no 
fortalecimento do pequeno agricultor, através da análise da cadeia produtiva, dos 
processos e dos atores envolvidos neste segmento. 
 
1.2 OBJETIVOS 
 
1.2.1 Objetivo Geral 
 
• Analisar as características e potencialidades da cadeia produtiva da agricultura 
familiar a partir de produtores da Feira Agroecológica das Graças em Recife 
 
1.2.2 Objetivo Específico 
 
• Descrever a cadeia produtiva da agricultura familiar; 
• Avaliar a cadeia produtiva dos agricultores familiares que participam da Feira 
Agroecológica das Graças em Recife; 
• Reconhecer as potencialidades e oportunidades da cadeia e propor estratégias 
de melhorias. 
 
 
 
 
 
 
17 
 
2 REFERENCIALTEÓRICO 
 
2.1 CONHECENDO A AGRICULTURA FAMILIAR, A AGROECOLOGIA E AS 
FEIRAS AGROECOLÓGICAS 
 
Neste capítulo, através de levantamento bibliográfico, será introduzido o 
conceito geral da agricultura familiar, bem como sua história e como atua nos dias de 
hoje. Também será conceitualizado o termo “Agroecologia” o qual é o fundamento 
para as “Feiras Agroecológicas” e base importante para a compreensão deste 
trabalho. 
 
2.1.1 Agricultura familiar 
 
Pouco se conhece sobre a formação das primeiras sociedades humanas, 
porém sabe-se que foi há cerca de 10.000 anos, através da agricultura, que houve a 
possiblidade do aumento populacional e da formação de grupos organizados 
socialmente, que através do cultivo de plantas e animais transformaram seus 
ecossistemas naturais (MAZOYER; ROUDART, 2010). 
Apesar de muito tempo ter se passado desde as primeiras práticas de cultivo 
agrícola e de vivermos imersos nas mais avançadas formas de tecnologias digitais e 
industriais, ainda em muitos países em desenvolvimento, a agricultura desempenha o 
papel como a principal atividade e fonte de renda para uma grande parte da população 
(FAO,2020). 
Avaliando assim o universo agrário atual, devido a sua complexidade, com a 
existência de diferentes tipos de agricultores, com diferentes estratégias de 
sobrevivência e de produção, precisa-se estabelecer uma diferença entre os 
estabelecimentos familiares dos patronais. 
Para Chayanov (1974), diferentemente da agroindústria, que tem por alicerce 
o uso do trabalho assalariado, máquinas e por consequente, a maximização do lucro, 
a agricultura familiar é orientada para a satisfação das necessidades básicas e a 
manutenção da família. Nesse sentido, por exemplo, a decisão de aumentar a 
quantidade de trabalho necessária para uma atividade leva em consideração o bem-
estar da família, antes mesmo de obter ointeresse em maiores lucros. 
18 
 
Zonon (2011) também defende o ponto de vista onde a produção familiar se 
organiza através das relações afetivas de parentesco, sem a presença de contratos 
exigidos pelos meios produção capitalistas, e sua remuneração não se pauta através 
de salários, ou benefícios, mas sim da partilha equilibrada entre os membros e 
associados da família. Estes entendimentos são importantes para que se possa ter 
um olhar mais aprofundado entre os aspectos dinâmicos do processo produtivo da 
produção familiar. 
Além disso, percebe-se que esses agricultores gerenciam o estabelecimento 
de forma direta, ou seja, sem funcionário ou administradores, porém deferentemente 
dos camponeses, esses respondem aos sinais de preços do mercado, havendo com 
isso, questões comerciais também integrada a função do núcleo familiar. 
Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa): 
 
Agricultura Familiar é a principal responsável pela produção dos alimentos 
que são disponibilizados para o consumo da população brasileira. É 
constituída de pequenos produtores rurais, povos e comunidades 
tradicionais, assentados da reforma agrária, silvicultores, aquicultores, 
extrativistas e pescadores. O setor se destaca pela produção de milho, raiz 
de mandioca, pecuária leiteira, gado de corte, ovinos, caprinos, olerícolas, 
feijão, cana, arroz, suínos, aves, café, trigo, mamona, fruticulturas e hortaliças 
(MAPA, 2019). 
 
O caráter de importância da sobrevivência dessas práticas tradicionais pode 
ser observado no seu sucesso econômico e social em vários países que precisavam 
garantir comida em grande escala, a preços baixos, para uma crescente população 
urbana (VEIGA, 1991). 
No Brasil, a importância da Agricultura Familiar para a economia é inegável. 
Ela disponibiliza os principais alimentos os quais são disponibilizados para a nutrição 
da população brasileira. O último Censo Agrário, feito em 2017, mostra que os 
agricultores familiares produziram mais de 75% dos alimentos consumidos no território 
nacional, ocupando apenas 23% de terras agrícolas, oferecendo 10 milhões de postos 
de trabalho o que equivale a 67% do total de postos de trabalhos da atividade 
agropecuário (IBGE, 2019). 
A partir desses dados pode-se entender como a Agricultura Familiar é um 
importante sistema de produção para a economia nacional. Porém, mesmo com a 
modernização da agricultura, ainda existem inúmeros desafios para a consolidação 
efetiva e econômica da agricultura familiar. Há, por exemplo, grande concentração de 
19 
 
riqueza na pequena parcela de propriedades rurais de sistemas patronais. Esse 
antagonismo gera exclusão aos pequenos produtores, por quanto normatiza e não 
proporciona condições para sua efetiva atuação. (WILKINSON, 2008) 
O modelo de desenvolvimento rural que aconteceu no Brasil, promove um 
mercado estreitamente competitivo, exigindo suporte aos pequenos agricultores e 
intervenções públicas para poder assegurar preços justos e receitas lucrativas para 
os grupos menores. 
Apesar das práticas agrícolas familiares terem passado, ao longo das décadas, 
por inúmeras transformações, essa desigualdade presente é mostrada pela 
precariedade que tais agricultores têm ao acesso aos meios de trabalho, além de 
sofrer com um alto índice de pobreza entre eles, e em alguns casos, a dependência 
abusiva e ambígua de trabalhos assalariados, sem muitas perspectivas de mudanças 
estruturais. (BRUMER, 1997) 
Além disso, há poucos investimentos aplicados neste setor, principalmente 
sobre o fortalecimento de sua cadeia produtiva. Para Wilkison (1999), os pequenos 
produtores enfrentam como grandes desafios a necessidade de inovação tecnológica 
e autonomia, bem como a integração dinâmica aos mercados, exigindo aos 
acadêmicos o papel de explorador de novas áreas de conhecimento, comportamento 
dos mercados, formas eficientes de organização e gestão de empreendimentos 
familiares agrícolas. 
Desse modo, a produção voltada ao mercado direto se apresenta como uma 
alternativa viável ao acesso econômico na produção familiar. Segundo Altafin (2007), 
em um movimento de sobrevivência, os pequenos agricultores persistem, 
apresentando novas estratégias produtivas e organizacionais, necessitando de apoio 
técnico, institucionais e governamentais. 
Na esfera de governo, o estado possui ainda poucas ferramentas de 
valorização da produção agrícola familiar. Foi somente em 1995 que o Estado 
Brasileiro reconheceu essa classe de trabalhadores, criando o Programa de 
Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), o que estabeleceu um conjunto de 
diretrizes que deveriam nortear as políticas públicas, apropriadas às características 
dos distintos tipos de agricultores. Em 2003, o Programa de Aquisição de Alimento da 
Agricultura Familiar (PAA) foi criado e promoveu a aquisição direta e indireta (através 
de cooperativas ou associações) de alimentos dos pequenos produtores com o 
objetivo de promover a segurança alimentar e nutricional de indivíduos atendidos por 
20 
 
programas sociais locais. Segundo Grisa (2011), só nos primeiros sete anos do 
programa, o governo teria investido R$ 3,5 bilhões. 
Fortalecendo o PAA, em 2009, surge o Programa Nacional de Alimentação 
Escolar (PNAE), o qual estabeleceu que 30% da merenda escolar deveria ser oriunda 
da agricultura familiar, através de chamada pública de compra aberta aos produtores 
locais qualificados. (SEAGRI, 2011) 
Neste sentido, apesar das carências técnicas e institucionais presente na 
agricultura familiar, ela representa a possibilidade de desenvolvimento econômico 
através de um processo produtivo sustentável. Para isso é importante deixar de 
considerar o espaço do pequeno produtor como uma categoria residual, frente ao 
moderno e industrial, permitindo dinâmicas produtivas e comerciais fundamentais para 
o seu desenvolvimento, promovendo uma cadeia de valor mais inclusivas com maior 
participação do setor. 
 
2.1.2 Mercados da agricultura familiar 
 
Considerando o sistema de agricultura familiar (AF) como uma atividade 
econômica, este processo produtivo necessita inerentemente de uma eficiente etapa 
de comercialização para prover de maneira satisfatória os recursos necessários a 
todos os seus elos. Evidenciando assim, a busca por um mercado justo e equânime, 
de maneira a proporcionar uma estabilidade satisfatório tanto para os produtores 
quanto os consumidores. 
Porém, o acesso aos mercados é considerado um dos principais obstáculo para 
o crescimento e manutenção da AF. Uma das questões que se colocam neste 
contexto está relacionado com a viabilidade de articular agricultura familiar com o 
sistema comercial estabelecido atualmente. A alta concentração observada tanto na 
produção quanto na distribuição de alimentos, o papel dos supermercados como 
principais centros de abastecimento para a população e a distância de cada vez maior 
entre a localização física de produção e consumidores (levando ao fato de grande 
parte da população desconhece a origem dos alimentos que consomem), são algumas 
das maiores críticas ao mercado agroalimentar atual. 
Segundo Wilkison (2008) grande parte destes problemas surgiram a partir da 
década de 1980, através das demandas intensificadas por eficiência, competitividade 
e qualidade por parte do mercado nacional e internacional de produtos agrícolas. 
21 
 
Desse modo, a chave para tentar resolver este problema esteja em identificar 
as conquistas e caminhos realizados pelos próprios produtores que desenvolveram 
estratégias alternativas próprias de comercialização e, a partir daí, buscar a forma de 
aprimorá-los e potencializá-los por meio de políticas públicas e novas relações de 
mercado. 
Pensando sobre essas novas possibilidades de desenvolvimento, seria mais 
apropriado buscar consolidar circuitos alternativos de comercialização, mais curtos e 
diretos que não se opõem aosvalores da agricultura familiar e que busca promover 
mais alternativas sustentáveis, como as feiras agroecológicas ou as redes de 
comércio justo. 
A agricultura familiar é potencializada principalmente através de circuitos curtos 
e descentralizados, que ligam a produção e consumidores, ou seja, a agricultura à 
sociedade como um todo (GUZZATTI; SAMPAIO; TURNES, 2014). Isto é gerado 
através do comércio baseada na venda direta de produtos, que minimiza a 
intermediação, aproximando mais os produtores com os consumidores, promovendo 
o tratamento humano e gerando um menor impacto ambiental. 
Os circuitos de proximidade ou circuitos curtos, são uma forma de comércio 
baseada na venda direta de produtos agrícolas frescos ou sazonais. Em quase todos 
os casos, são produções de baixo volume ou produtos obtidos em sistemas artesanais 
que os produtores da região não poderiam comercializar de outra forma. É neste 
contexto que a Agricultura Familiar desenvolve as suas atividades e muitas vezes 
reage aos mercados que questionam a sua forma de produzir, gerando novos tipos 
de trocas onde as feiras livres e camponesas, as redes de comércio justo e de 
agricultores urbanos sejam alternativas de produção e comercialização mais 
equitativas e sustentáveis e onde o estilo de vida da agricultura familiar e sua forma 
de produzir estejam presentes (MAURICIO, 2010). Entretanto, alcançar o nível de 
competitividade exigido pelo mercado atual requer aumentar a capacidade dos 
produtores de se adaptarem às novas e contínuas mudanças. 
A competição acentuou as diferenças entre os agentes produtivos com 
capacidade de competir no mercado e os que não têm condições para tal, como no 
caso dos pequenos produtores, muito devido aos elevados custos de transação, 
acesso à informação, à dificuldade de crédito, acesso a redes comerciais e ausência 
de economias de escala. 
22 
 
A grande dificuldade que a agricultura familiar enfrenta para modificar sua 
situação é a fragilidade dos mercados aos quais tem acesso e recebe informações. 
Os esforços para aumentar a produtividade agrícola têm sido acompanhados, na 
maioria dos casos, por preços baixos, o que limita os investimentos. A maior parte do 
plantio é feita em períodos curtos e as colheitas coincidem no mercado, saturando-as, 
o que reduz os preços ao produtor. Além disso, não são aplicadas técnicas de 
armazenamento na colheita, nem serviços de pós-colheita que permitam que os 
produtos sejam preservados e até mesmo enviados para mercados mais distantes 
sem perdas significativas. 
Por fim, a ausência de mecanismos de coordenação eficientes limita 
claramente o desempenho competitivo dos produtores rurais e compromete sua 
sobrevivência em mercados altamente competitivos. Nos últimos anos, tornou-se cada 
vez mais evidente que o desenvolvimento da AF tem sido dificultado por múltiplas 
lacunas institucionais, e que, ao contrário dos grandes mercados, os circuitos curtos 
e descentralizados fornecem uma estrutura dentro da qual os atores interagem 
estabelecendo laços de cooperação ao invés da competição, o que constitui uma 
ordem econômica diferenciada e deslocada das bases tradicionais do mercado. (FAO, 
2000) 
 
2.1.3 A Agroecologia 
 
O surgimento da agroecologia como modelo alternativo de produção de 
alimentos se dá em resposta à deterioração ambiental, à insuficiência alimentar e aos 
fracassos atribuídos à revolução verde e ao modelo de produção agroindustrial. 
Durante a década de 1970, a modernização das práticas agrícolas começou a gerar 
preocupações quanto às suas consequências na deterioração ambiental e na 
exclusão do campesinato tradicional (WEZEL et al, 2009). 
A revolução verde foi um processo de modernização da produção agrícola que 
promoveu o uso intensivo de tecnologias, tais como: a modificação genética de 
sementes, o uso intensivo de agroquímicos e maquinários. Esse modelo, que nasceu 
nos Estados Unidos, foi exportado para o resto do mundo, causando graves 
consequências ambientais, a exploração de recursos naturais e maiores níveis de 
desigualdade no meio rural (HOLT; ALTIERI, 2013). 
23 
 
O modelo da revolução verde foi promovido por meio de programas de crédito 
barato para agricultores, a fim de expandir o acesso a insumos como sementes, 
agroquímicos e maquinários. O abuso desses insumos não demorou muito para 
destruir a fertilidade de seus solos e erodir sua diversidade. Os rendimentos caíram, 
milhões de pequenos agricultores faliram economicamente e milhões de hectares de 
florestas e terras agrícolas foram perdidos. (HOLT; ALTIERI, 2016) 
Em contraste com os modelos de desenvolvimento rural anteriormente 
promovidos pelo Estado e organismos internacionais, a agroecologia propõe uma 
nova estratégia que visa recuperar os elementos culturais e ecológicos positivos 
associados ao campesinato em diálogo com o conhecimento das diferentes disciplinas 
científicas sociais e naturais (SEVILHA GUZMÁN; SOLER MONTIEL, 2009). Ela surge 
como uma proposta alternativa baseada nos interesses morais e ambientais de 
determinados grupos que acabaram se consolidando na forma de movimentos em 
favor dos métodos de produção em pequena escala e do consumo sustentável, 
geograficamente limitados em redes de produtores e consumidores locais. 
Para as organizações camponesas, a agroecologia foi vital em sua luta pela 
autonomia: permitiu-lhes reduzir sua dependência de insumos externos, créditos e 
endividamento, e também recuperar o controle do território. 
A agroecologia propõe um paradigma alternativo de desenvolvimento, 
alicerçado em iniciativas produtivas, de claro caráter associativo e alto grau de 
pluriatividade. A resistência a esses processos de industrialização na agricultura 
incentivou formas alternativas de produção, principalmente por meio do resgate de 
camponeses tradicionais e povos indígenas para a produção de alimentos. 
A adoção do conceito de sustentabilidade foi útil porque permitiu articular um 
conjunto de preocupações sobre a agricultura e integrá-las em um sistema econômico, 
social e ecológico. O desafio para a agroecologia é manter a flexibilidade de sua 
cadeia para permitir uma reação rápida às mudanças ambientais e socioeconômicas. 
Pois, a viabilidade econômica da produção agroecológica é uma característica 
necessária para o sucesso da disseminação de práticas alternativas ao modelo 
convencional. 
A agroecologia considera os sistemas produtivos como ecossistemas, nos 
quais os processos biológicos e as relações socioeconômicas são objeto de estudo e 
análise para maximizar não só a produção, mas também otimizar o agroecossistema 
como um todo. Este sistema é compatível com o paradigma de desenvolvimento local 
24 
 
que valoriza os efeitos das atividades produtivas no seu meio ambiente e não apenas 
no interior das empresas. Esta abordagem tenta argumentar com a abordagem 
agrícola convencional que não leva em conta as enormes variações na ecologia, 
pressões populacionais, relações econômicas e organizações sociais que existem na 
região. (ALTIERI, 2004) 
 
2.1.4 Feiras agroecológicas 
 
As feiras agroecológicas são espaços em que os produtores oferecem ao 
público diversos produtos como frutas, legumes, verduras, ovos, pastelaria, compotas, 
licores, vinhos, conservas, queijos, plantas, mudas, artesanato, têxteis, entre outros. 
Esse fenômeno representando uma notável oportunidade de comercialização para a 
agricultura familiar (GOLSBERG; DUMRAUF, 2010). 
Essas feiras são um claro exemplo da construção de canais de comercialização 
voltados principalmente para o consumo local e atendem ao abastecimento da 
população. Como o próprio nome indica, os produtores vêm do setor da agricultura 
familiar, sendo eles que geram a oferta dentro dessas experiências. Diferentemente 
de outros mercados, os produtos oferecidos são produzidos - em sua maioria - pelos 
mesmos expositores; ou seja, não há intermediáriosentre produtores e consumidores. 
Assim, a construção dos circuitos curtos entre produtores e consumidores, as 
relações pessoais no âmbito da confiança, da pequena escala, do artesanato e da 
produção a partir da utilização de recursos locais e próprios, são alguns das ações 
que visam a regularização da produção e a geração de renda aos agricultores 
familiares. 
No entanto, as feiras não são apenas um segmento que tenta melhorar a 
posição dos produtores/expositores, mas também representam um espaço público 
que desempenha um papel importante em relação à visibilidade do setor. Constituem 
canais alternativos de comercialização no mercado interno, contribuem para a 
diversificação da comercialização, soberania e segurança alimentar, contribuem para 
o desenvolvimento rural e territorial, promovem melhorias nos sistemas produtivos e 
alternativas de agregação de valor na origem. Além do mais, as trocas geradas 
constituem uma oportunidade para o aprimoramento das produções ao facilitar a 
conjunção de conhecimentos entre os feirantes. (DOS ANJOS et al, 2005). 
25 
 
Essas feiras criaram um espaço alternativo próprio à agricultura familiar para 
responder aos seus problemas de comercialização, cujo objetivo principal é o contato 
direto entre produtores e consumidores, mas acima de tudo, contribuir para a melhoria 
da qualidade de vida dos agricultores. 
Essa forma de comercialização favorece um processo de desenvolvimento 
sustentável, ao fomentar laços de solidariedade entre produtores e consumidores. A 
variedade da oferta e a maior diversidade de produções que têm lugar nas feiras e 
mercados locais, facilita o acesso a uma alimentação de maior qualidade (com maior 
variedade, melhores qualidades nutricionais, mais saudáveis e a preços justos). 
Por tornarem mais curto a cadeia de produção, melhoram as condições de 
identificação das demandas e a possibilidade de readequação da oferta com base nas 
necessidades do consumidor, o que por sua vez possibilita feedbacks rápidos, 
possibilitando a melhor adequação da produção as demandas flutuantes. Além de 
que, à medida que as distâncias são encurtadas, os custos de transporte diminuem e 
à medida que aumentam as oportunidades de agregar valor em nível local, 
aumentando a renda dos produtores e afetando a economia local. Essas feiras 
costumam estar localizadas em territórios onde a relação produtor-consumidor é 
desejada, as famílias frequentemente se conhecem fora do espaço da feira e há 
confiança na qualidade dos produtos que comercializam. (CARACCIOLO, 2016). 
O crescente interesse pelas feiras livres também responde às demandas de 
qualidade e confiabilidade dos consumidores alarmados com as crises de saúde nos 
mercados de alimentos. Do lado dos produtores agrícolas, os circuitos curtos são 
vistos como oportunidades interessantes para diversificar a produção, capturar maior 
valor e garantir uma renda mais estável. Do ponto de vista das comunidades locais, 
as feiras são vistas como uma forma de realocação das cadeias de valor que tenta 
manter valor na comunidade, gerando empregos, capturando valor dos ativos 
intangíveis (reconhecimento do produto/marca do agricultor), melhorando a resiliência 
dos territórios, valorizando o patrimônio e tornando-se, por fim, um importante vetor 
de dinamização e atração dos mercados locais. 
Justamente por esses benefícios que Braudel (1996, p.09) cita em relação a 
sobrevivência das feiras livres em contraste com os modernos mercados atuais de 
varejo: 
 
26 
 
Se este mercado elementar, igual a si próprio, se mantém através dos séculos 
é certamente porque, em sua simplicidade robusta, é imbatível, dado o 
frescor dos gêneros perecíveis que fornece, trazidos diretamente das hortas 
e dos campos das cercanias. Dados também seus preços baixos, pois esse 
mercado elementar, onde se vende sobretudo ‘sem intermediários’, é a forma 
mais direta, mais transparente de troca, a mais bem vigiada, protegida contra 
embustes. (BRAUDEL, 1996, p.09). 
 
As discussões sobre redes curtas agroalimentares estimulam e difundem a 
ideia do consumo de alimentos saudáveis, produzidos de forma sustentável, em 
mercados que aproximam o agricultor e o consumidor. De modo geral, são 
necessárias novas estratégias de abastecimento e mudanças de paradigmas, para 
fortalecer as cadeias curtas de comercialização de alimentos. O poder público, o 
mercado e a sociedade civil são atores importantes nesse processo de reinvenção 
dos modelos de comercialização. 
Cada vez mais, os consumidores querem saber de onde vêm e como são 
produzidos os alimentos consumidos. Isso também valoriza a produção da agricultura 
familiar e fornecem alternativas ao desenvolvimento rural. 
Esses canais de comercialização apresentam como vantagens: o 
fortalecimento das economias locais, uma vez que o dinheiro fica no circuito local; 
incentiva a participação das mulheres como protagonistas de seus negócios; reduzem 
o consumo de energia devido à proximidade dos produtos ao espaço de mercado; A 
variedade da oferta e a maior diversidade de produções que têm lugar nas feiras e 
mercados locais, facilita o acesso a uma alimentação de maior qualidade (com maior 
variedade, melhores qualidades nutricionais, mais saudáveis e a preços justos); à 
medida que as distâncias são encurtadas, os custos de transporte diminuem, à 
medida que aumentam as oportunidades de aumentar a renda dos produtores; a 
generalização dessas experiências repercute na formação e consolidação de laços 
sociais e no sentimento de pertencimento e valorização da comunidade local. Tudo 
isso significa que o desenvolvimento local contribui ao mesmo tempo para o 
desenvolvimento nacional (CARACCIOLO, 2016). 
 
2.2 A CADEIA PRODUTIVA DA AGRICULTURA FAMILIAR 
 
Em todo empreendimento é fundamental a compreensão dos elos que 
compõem sua cadeia produtiva e as interações entre seus atores envolvidos. Através 
do estudo desses componentes é possível identificar os pontos fortes e fracos 
27 
 
existentes, bem como gargalos, além de variadas informações úteis a tomada de 
decisão dos gestores/produtores. 
Neste capítulo o foco será descrever os elementos da cadeia produtiva da 
agricultura familiar bem como destacar cada elo que a compõe. 
 
2.2.1 Cadeias Produtivas 
 
Segundo Moreira (2011) cadeia produtiva é uma rede complexa de atividades 
envolvidas para o fornecimento de um produto ou serviço ao consumidor final. 
Englobando tantos elementos dentro, quanto fora da organização, incluindo as 
matérias-primas, peças, processos, armazenagem, vendas, processamento de 
pedidos, canais de distribuição, controle de estoques e também os sistemas de 
informação para a manutenção de tais atividades. 
Porter (1985) usa o termo "cadeia de valor" para descrever todas as atividades 
que uma organização precisa desenvolver para levar a mercadoria do produtor ao 
comprador em um sistema de negócios. Define-se valor como a quantia que um 
comprador está disposto a pagar pelo que uma empresa pode oferecer (PORTER, 
1985) 
Embora a organização possa desenvolver diversas atividades para transformar 
insumos em produtos, Porter (1985) destaca que essas atividades podem ser 
classificadas em dois grupos: "atividades principais", que compreendem o processo 
de produção, venda e distribuição; e “atividades de apoio”, as encarregadas da 
compra e aquisição de insumos, da gestão interna de recursos humanos e da estrutura 
organizacional, de apoio ao desenvolvimento das atividades primárias. 
Na Figura 01, observa-se as etapas comum as cadeias produtivas. Essas 
etapas estão ligadas entre si para transformar o produto de um estado a outro, da 
produção ao consumo. Havendo também trocas de informação entre atores internos 
e o meio externo da organização. 
Nesse sentido, uma cadeia produtiva é uma série de atividades dentro de um 
fluxo de operação, em que os insumos são adicionados à matéria-prima,transformando esses elementos em um produto final, ao qual foi agregado valor. 
Onde, durante o desenvolvimento dessas atividades, se apresenta a interação entre 
clientes, fornecedores interno e externo e o ambiente externo. (BALLOU, 2004) 
 
28 
 
Figura 01 - Esquema comum as cadeias produtivas 
 
 
 
Fonte: Elaborado pelo autor (2021) 
 
A gestão de cadeias produtivas é fortemente influenciada por conjuntos 
agentes externos, destacando-se: a mudança de mercados; o uso da tecnologia de 
informação; intervenções governamentais; meio ambiente. (MOREIRA, 2011) 
Com isso, para melhor gestão a organização deverá está preparada para as 
mudanças ligadas a surgimento de novos mercados, se antecipando e se adaptando 
através do reconhecimento das novas necessidades dos consumidores. Além disso, 
o avanço da tecnologia da informação permitiu que novos cenários se apresentassem 
cada vez mais rápidos, exigindo respostas rápidas e avanços tecnológicos constantes. 
Outro fator importante é o poder que os governantes podem exercer através das 
regulamentações que possam incidir no processo produtivo como todo. As questões 
referentes a sustentabilidade do negócio nunca foram tão importantes para a 
sobrevivência da organização quanto atualmente, demandando das empresas 
soluções limpas, sustentáveis e recicláveis para melhor aceitação nos mercados pelos 
clientes. 
Para Slack (2009), o objetivo da gestão de cadeia produtiva é basicamente 
atender as exigências dos consumidores finais, fornecendo produtos ou serviços 
satisfatórios e competitivos economicamente. Na prática, isso requer que o sistema 
interno da organização reconheça as potencialidades de cada elo de sua cadeia e 
29 
 
trabalhe de maneira a integrar confiabilidade, qualidade, rapidez, flexibilidade e custo 
de forma a atender as exigências do mercado. 
Uma boa gestão poderá proporcionar a toda cadeia, melhores oportunidades 
de negociações; redução de custos e despesas; maior valor percebido pelo cliente; 
mais velocidade para responder as demandas; um fluxo integral e contínuo da 
informação entre os elos; custos e preços menores; entre outros benefícios. (BALLOU, 
2004) 
Estudar sobre a cadeia produtiva é uma etapa fundamental para entender 
mecanismos, processos e interações, através dos quais, empresas e produtores se 
relacionam entre si, com os agentes externos e seus respectivos consumidores. 
 
2.2.2 Cadeias Produtivas Agroalimentares 
 
Conforme García-Winder, et al (2009), as Cadeias Agroalimentares, se 
caracterizam por representar as relações entre os elementos da cadeia produtiva da 
agricultura, desde seus elementos de insumos até a entrega da mercadoria em seu 
estado final ao consumidor. 
Numa definição analítica, este conceito ajuda a reconhecer os atores presentes 
na agricultura, desde a produção primária até seus clientes. Já numa visão 
operacional, este conceito também se aplica as correlações de interesses, as quais 
visam construir alianças (comerciais, de produção, institucionais, etc), a fim de 
construir vantagens econômicas e sociais, como no caso de cooperativas e 
associações. (POMAREDA; ARIAS, 2007) 
O termo Cadeia Agroalimentar é frequentemente usado para substituir outros 
conceitos usados convencionalmente, pois visa focar na elaboração de diagnóstico 
integral de produtos agrícolas. Esse conceito tem sido usado devido a importância 
intrínseca que esta cadeia representa para população e para poder compreender 
melhor o processo produtivo da agricultura. 
Esta cadeia tem seu início a partir do planejamento da produção, 
compreendendo atores como técnicos, agricultores, consumidores; em seguida há a 
etapa da pré-produção; posteriormente ocorre a execução do processo produtivo, 
representa pelo plantio; em seguida observa-se a colheita para então depois de 
separado, transportado e armazenado, chegar às mãos do consumidor. Há alguns 
casos que ocorre também o processamento dos produtos, não necessariamente em 
30 
 
alguma indústria, pode ser no próprio local do plantio. E por fim também pode haver 
canais de distribuições diversos. Na Figura 02 as etapas da cadeia agroalimentar são 
representadas. 
Figura 02 - Cadeias Agroalimentares 
 
Fonte: adaptado LA GRA et al. (2016) 
 
A capacidade desta cadeia produtiva é medida principalmente pela eficiência 
dos fatores internos e a capacidade de previsão da demanda. Nas fazendas essas 
metas assumem importância fundamental. A capacidade interna é a chave para o 
gerenciamento de insumos e a previsão correta de demanda serve para evitar perdas 
de produção. (LA GRA et al., 2016) 
Principalmente para os pequenos agricultores, estes conhecimentos permitem 
o desenvolvimento de estratégias ou políticas que fornecem suporte eficaz para as 
diversas situação. 
 
 
31 
 
2.2.3 As características da cadeia produtiva da agricultura familiar 
 
Em contraponto aos danos excessivos da agricultura industrial causados 
principalmente pelo uso excessivos de produtos químicos e a intensa exploração dos 
recursos naturais, bem como o modelo competitivo de seus mercados, os modelos de 
produção familiar e agroecológico surgem oferecendo alimentos saudáveis, 
fundamentados na sustentabilidade, na economia solidária e na minimização dos 
impactos ao meio ambiente. (FERNANDES; KARNOPP, 2014) 
Os estudos da cadeia produtiva da agricultura familiar é uma oportunidade de 
desenvolvê-la e inclui-la na cadeia agrícola, obtendo dados qualitativos e quantitativos 
que favorecem a seu desenvolvimento no mercado nacional e internacional. 
Partindo de uma visão adaptada para produção de orgânicos proposto por 
Ormond et al (2002), na Figura 03 descrimina-se as principais etapas da cadeia de 
produção familiar. 
• Insumos – parte da cadeia que visa a produção ou compra de mudas, 
sementes, adubos, fertilizantes, defensivos, controle de pragas e doenças e 
outros itens essenciais ao manejo orgânico dos processos e da propriedade. 
(ORMOND et al, 2002) 
No tocante a agricultura familiar, os processos de produção de insumos têm 
como objetivo utilizar técnicas sustentáveis para minimizar/reduzir custos. 
Utilizam compostagem, esterco de animais cultivados pelos produtores, manejo 
ecológico e natural do solo entre outras tecnologias. (FERNANDES; 
KARNOPP, 2014) 
Com isso, o agricultor familiar, em sua maioria, busca produzir seus próprios 
insumos através de sua força e capacidade de trabalho juntamente com o apoio 
de cooperativas e associações as quais dialogam com política agroecológica 
para o cultivo e manejo adequado de seus produtos. 
• Produção agropecuária – em empresas agroindustriais, esta etapa dedica-se a 
produção de commodities. Já nos pequenos produtores, prevalece a produção 
de hortigranjeiros e são geralmente agregados a associações de produtores, 
cooperativas ou pequenas empresas de processamento artesanais, 
responsáveis pela comercialização. E a partir desta etapa há disposição destes 
produtos diretamente aos consumidores através das feiras livres e 
agroecológicas. (ORMOND et al, 2002) 
32 
 
Figura 03 - Cadeia da Agricultura Familiar
 
Fonte: Adaptado de Ormond et al (2002) 
 
Segundo Fernandes; Karnopp (2014), este segmento da agricultura familiar é 
extremamente importante por fornecer frutas, verduras e legumes a população. 
Na pecuária familiar destaca-se pequenos rebanhos para produção de 
insumos, leite e derivados usados basicamente para suprir as demandas 
familiares. 
• Processamento Primário – engloba as principais atividades dos produtos in 
natura da agricultura familiar, tais como: colheita; coleta; limpeza; separação; 
embalagem; etc. São realizados normalmente pelos membros da família, mão 
de obra temporária ou por cooperativas. 
Para o pequeno produtor é fundamental assumir este segmento da cadeia, visto 
que isto possibilita deter o controle maior de seus produtos. A importante 
característica desta etapa éa exclusão do atravessador, que participa de outros 
tipos de cadeias. (FERNANDES; KARNOPP, 2014) 
33 
 
• Processamento Secundário – é composto por uma variedade de atores, desde 
pequenas e médias indústrias, até pequenas organizações artesanais que se 
dedicam a processar os alimentos orgânicos e agroecológicos em suas linhas 
de produção. (ORMOND et al, 2002) 
Para compor um produto final de característica agroecológica ou orgânica, é 
necessário que todos os elementos processados sejam de origem também 
orgânica ou agroecológica, o que dificulta e eleva os custos deste segmento. 
• Distribuição – esta etapa representa um ponto importante para os produtores, 
pois nela que se desenvolve os conhecimentos sobre as preferências do 
consumidor e a quantidade de demanda do mercado. (ORMOND et al, 2002) 
Para Fernandes e Karnopp (2014), o grau de complexidade atual do mercado 
exigiu que os próprios agentes da agricultura familiar passassem a distribuir 
seus produtos diretamente ao consumidor final, através das feiras, restaurantes 
parceiros, associações, visando menor dependência dos atravessadores e a 
obtenção de maiores lucros. 
• Consumo – frente as mudanças constantes das preferências e necessidades 
dos clientes, a produção familiar busca em sua cadeia melhorar a qualidade, 
ofertar variedade, ampliar produção e disponibilizar seus produtos cada vez 
mais perto de seus principais consumidores. 
 
Dessa forma, evidencia-se as características da cadeia produtiva da AF e a 
necessidade que ela seja compreendida pelos produtores rurais, para que, através da 
identificação de suas etapas, pontos fortes, fraquezas e oportunidades, estes possam 
exercer seus processos de maneira eficiente, proporcionando maior desenvolvimento 
econômico para sua região. 
 
2.2.4 Cadeias Curtas de Alimento (Short Food Supply Chain) 
 
Com o aprimoramento agroindustrial ao longo das décadas, a evolução do 
arranjo social e econômico de muitas nações e as mudanças no comportamento dos 
consumidores, a cadeia agroalimentar passou a requerer inúmeras conexões e assim 
exigir um nível de controle e agilidade as quais o sistema familiar não possui 
ferramentas competitivas adequadas quando comparadas a grandes indústrias 
agrícolas. 
34 
 
Com isso, para obter economias de escala e cortar custos de produção, o 
modelo industrializado de abastecimento de alimentos forçou os pequenos produtores 
a se especializarem em alguns produtos e em apenas algumas fases do processo 
produtivo. 
O elevado número de etapas, as vantagens tecnológicas das agroindústrias e 
a distância física entre a produção e o consumo, foram a base para o desenvolvimento 
das Cadeias Curtas de Alimentos (CCA) ou Short Food Supply Chain (SFSC). 
Segundo Scarabelot e Schneider (2012), as cadeias curtas agroalimentares 
representam formas de comercialização que exploram a dinâmica local, expressa na 
proximidade entre produtores e consumidores. Essa relação está além do aspecto 
meramente espacial, partindo também de princípios e valores significativos que 
interligam e conectam ambas as partes. 
De acordo com Marsden et al (2000), a característica das CCA é que o produto 
chega ao consumidor final junto a informações que permitem ao cliente fazer 
"julgamentos de valor" sobre os alimentos, os métodos de produção e, 
potencialmente, sobre os valores das pessoas envolvidas. 
As CCA estão relacionadas a três elementos: 1) redução da distância física 
entre o produtor e o consumidor; 2) redução do número de etapas que conectam o 
início e o fim da cadeia produtiva da agricultura familiar; 3) maior proximidade social e 
cultura entre os agricultores e seus clientes. 
Nas cadeias curtas, há a eliminação dos intermediários. Provocando assim, que 
os produtores possuam maior autonomia sobre os preços de vendas, retendo para si 
a parcela que seria para custear os atravessadores. 
Os elementos das CCA envolvem a construção de uma relação amigável e 
também favorece a troca de conhecimentos e valores entre urbano e o rural. Isso 
favorece tanto os agricultores quanto os compradores, efetivando assim um sistema 
de benefício mútuo para além de apenas a troca de mercadorias. (MARSDEN et al, 
2000) 
Este compromisso mútuo desenvolvido pela confiança entre produtores e 
consumidores muitas vezes substituem ou reduzem a necessidade de confirmação 
formal de certas qualidades dos produtos, como certificados e rótulos ambientais. 
Para Kawecka e Gębarowski (2015) os benefícios das Cadeias Curtas 
Agroalimentares podem ser descritos e relacionados em cindo grupos: 
35 
 
• Capital Humano – associado a geração de emprego e oportunidade de 
negócios a nível local; 
• Capital Financeiro – representa o apoio a empresas e prestadoras de serviços, 
resultando na retenção de capital financeiro na economia local; 
• Capital Físico – apoio a manutenção de lojas físicas e mercados locais; 
• Capital Social – envolve a alimentação da população com alimentos de alto 
valor nutricional, a maior interação social entre as pessoas da comunidade, a 
melhor compreensão sobre consumo consciente e seus benefícios e o 
envolvimento da comunidade em causas ambientais. 
• Capital Natural – incentivo aos agricultores a conduzirem seus negócios de 
forma mais ecológica, garantindo um cultivo diversificado e sustentável, 
evitando desperdícios, agregando alto valor ambiental, e redução dos níveis de 
poluição. 
Mais efeitos benéficos podem ser observados no Quadro 01 a seguir: 
 
Quadro 01 - Impactos positivos das CCA 
 
Impactos econômicos Impactos Sociais Impactos Ambientais 
Redução das incertezas 
econômicas dos agricultores. 
Promoção de relações mais 
diretas entre produtores e 
consumidores. 
Redução do uso de recursos 
como combustível fóssil ou 
embalagem. 
Apoio a rentabilidade de 
pequenas e médias 
propriedades. 
Aumento da confiança na 
cadeia de valor. 
Redução do desperdício de 
alimentos e economia de 
alimentos. 
Aumento da circulação da 
renda na comunidade. 
Fomento a inclusão social. 
Promoção de métodos de 
produção menos poluentes 
(por exemplo, agricultura 
orgânica). 
Criação de novos empregos no 
meio rural (geração local 
emprego). 
Revitalização das 
comunidades locais. 
Redução das emissões de 
carbono. 
Diminuição dos custos de 
produção e preço de mercado. 
Contribuição para o 
desenvolvimento rural 
(particularmente nas áreas 
marginais). 
Redução do uso de energia. 
36 
 
Melhoria nas sinergias com 
outros setores. 
Desperta o senso de 
comunidade. 
Redução no deslocamento de 
alimentos. 
Aumento da qualidade da 
produção de alimentos. 
Conduzir a educação 
comunitária. 
 
Contribuição para a segurança 
alimentar. 
Empoderamento do 
consumidor. 
 
 
Maior reconhecimento dos 
produtores. 
 
 
 
Promoção de alimentação 
saudável. 
 
 
Fonte: adaptado de Jarzębowski et al (2020) 
 
Além disso, a criação de cadeias curtas resolve algumas dificuldades 
encontradas em outras cadeias de abastecimentos como: assimetria de informação; 
custos de transação; grau de incerteza; oportunismo e falta de confiança; economias 
de escala; efeitos externos; desigualdade social e fluxo de informação 
(conhecimento). (JARZĘBOWSKI et al, 2020) 
 
 
 
 
 
 
 
37 
 
3 METODOLOGIA 
 
O estudo de cadeias complexas requer um caráter metódico, a fim de 
compreendê-las, explica-las e domina-las (KÖCHE, 2011). Diante disso, este trabalho 
busca alcançar os aplicando bases científicas e metodológicas validadas, as quais 
serão discutidas e explicitadas nesta sessão. 
 
3.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 
 
A investigação se propõe a elaborar conhecimentos com relação ao tema da 
Cadeia Produtiva da Agricultura Familiar segundo um modelo sistemático de pesquisa 
científica. Para Gil (2002), esse documento para ser considerado uma pesquisa 
precisa seguir procedimentos racionais e metodológicos, envolvendo inúmerasfases, 
desde a formulação da problemática abordada, até a conclusão e apresentação dos 
resultados. 
Compreendendo que a ciência tem manifestação na dúvida, este trabalho foi 
orientado pelo seguinte questionamento: “Como a análise da cadeia produtiva dos 
produtores rurais da agricultura familiar poderia contribuir para o desenvolvimento 
econômico local da feira agroecológica das Graças em Recife?” 
Essa problemática serve para delimitar e indagar a relação que possa haver 
entre as variáveis estudadas: Cadeia Produtiva, Agricultura Familiar e Feira 
Agroecológica das Graças. 
Uma vez levantado a questão inicial, o trabalho a aborda a seguinte hipótese: 
“A cadeia produtiva dos agricultores familiares possui potencialidades não percebidas 
ou pouco exploradas, o que impacta na falta de perspectivas para prover melhorias 
no desenvolvimento econômico local.” 
Entre as fontes que podem originar hipóteses, essa pesquisa faz uso do 
conhecimento familiar, abordado por Lakatos (2003), onde, perante situações 
vivenciadas e evidenciando correlações entre fenômenos, deseja-se verificar a real 
correspondência entre eles. 
Sobre o tipo de pesquisa, Gil (2002) classifica em três grandes grupos como: 
exploratórias, descritivas e explicativas. As pesquisas exploratórias parte de ideias ou 
intuições, e buscam trazer mais informações sobre o problema a fim de torná-lo mais 
explícito. Nas pesquisas descritivas há foco na descrição de características de algum 
38 
 
grupo ou identificação de relações entre variáveis. Já nas pesquisas explicativas 
partem da ocorrência de um fenômeno para buscar fatores que determinam a 
ocorrência deste fenômeno. 
Dada a natureza da investigação e o intuito de promover informações válidas 
para estudos posteriores, a pesquisa foi feita de caráter exploratório. 
Foi utilizado também os procedimentos do estudo de campo. Para Gil (2002), 
este mecanismo parte da observação direta da interação de uma comunidade, 
juntamente com a coleta de dados através de registros. Nessa técnica o pesquisador 
aborda a maior parte do trabalho de maneira pessoal, pois é ideal que o próprio seja 
familiarizado com a situação estudada. 
 Por fim, aplicou-se a abordagem qualitativa na coleta dos dados. Segundo 
Triviños (1928, p 128-130), a pesquisa qualitativa usa como fonte de dados o próprio 
ambiente natural para descrevê-lo, já o pesquisador se torna agente e instrumento 
chave na pesquisa e tende a analisar seus dados indutivamente, tendo preocupação 
essencial o significado dos dados analisados. 
Dessa forma, o trabalho contou com as seguintes etapas: 1) pesquisa 
bibliográfica e levantamento dos conceitos fundamentais; 2) entrevistas com 
agricultores que possuem experiência prática sobre o problema pesquisado; 3) análise 
e interpretação dos dados obtidas. 
 
3.2 DESCRIÇÃO DO CENÁRIO DE PESQUISA 
 
Seguindo os passos dessa pesquisa, esta sessão traz uma descrição da Feira 
Agroecológica (FA) das Graças em Recife, local foco da pesquisa e onde se encontra 
a principal etapa de comercialização dos produtores. 
 
3.2.1 Contextualização 
 
As mudanças tecnológicas e a globalização dos mercados têm levado a uma 
acentuação das desigualdades sociais e ao aumento da pobreza, causada pela 
exclusão de grandes grupos da população a oportunidades justas e acessíveis para 
se manterem economicamente ativas através de sua própria força de trabalho. 
A própria abordagem capitalista faz com que a competitividade nos mercados 
seja dinamicamente feroz. Esta competição é parte do objetivo para melhorar o 
39 
 
desempenho individual. No modo operante do capitalismo, a competição é 
fundamental, ocorre tanto em empresas gigantes, quanto pequenas, atingindo 
igualmente o consumo doméstico. (SINGER, 2000). Existem questões profundas 
sobre a conveniência e mesmo sobre a possibilidade da continuidade do crescimento 
econômico, nas formas vigentes de mercados. 
Neste contexto, surge a economia solidária, a qual postula um novo tipo de 
desenvolvimento; alternativo, integral à escala humana, sustentável e com ênfase nas 
relações locais. Segundo Singer (2000), ela se estabelece para combater os princípios 
inexistente no modelo atual de comercio e produção. É um modo produtivo e de 
distribuição alternativo ao capitalismo. Ela compreende diferentes atores que buscam 
proporcionar benefícios mútuos. Exercendo seus papeis mais pela solidariedade do 
que pela competição. 
Neste contexto, as organizações de economia solidária, baseiam-se na ajuda 
mútua e na solidariedade, desenvolvendo alternativas a algumas dificuldades 
presentes em mercado competitivo. 
Esse associativismo, baseado na economia solidária, tem sido a forma que 
agricultores familiares e agroecológicos encontraram para construir um ambiente de 
reciprocidade entre os produtores e os consumidores. Neste cenário dissemina-se 
princípios e valores associativos, solidários e se complexificam ao longo de toda 
cadeia. Tornando-se um modo permanente nas relações, que transpassa os 
produtores, intermediários (ONGs, Estado, Cooperativas) e consumidores. (SOUZA, 
2012) 
Desse modo, baseados na economia solidária, os agricultores, agentes 
públicos e cooperativas, lançaram-se na elaboração da Feira Agroecológica nas 
Graças em Recife. (SOUZA, 2012) 
Essa iniciativa representou a possibilidade de oferecer um ambiente mais fértil 
aos negócios da agricultura familiar e resultou na promoção de valores 
agroecológicos, bem como uma vida mais saudável para a comunidade local. 
 
3.2.2 Organização e Caracterização 
 
Funcionando atualmente aos sábados, na Rua Souza de Andrade, a Feira 
Agroecológica situada no bairro das Graças em Recife existe desde 1997 e segundo 
40 
 
Brasileiro (2010) é a mais antiga da cidade, sendo composto em sua maioria por 
agricultores e produtores do interior do estado. 
A criação do espaço foi assessorada e facilitada pelo Centro Sabiá, técnicos e 
originalmente foi fundado por dez agricultores. O Centro Sabiá é uma Organização 
Não Governamental (ONG) sem fins econômicos, que trabalha com agricultores e 
agricultoras familiares na Mata Atlântica, Agreste e Sertão de Pernambuco. (SOUZA, 
2012) 
A feira nas Graças conta com 18 barracas e cerca de 20 famílias. São 
produtores de Bom Jardim, Gravatá, Chã Grande, Abre e Lima, Feira Nova e Lagoa 
de Itaenga. Comercializam desde alimentos em in natura, como verduras, legumes, 
frutas, como também produtos beneficiados e derivados do leite. 
Já nas primeiras experiências, inicialmente no parque da Jaqueira, houve a 
percepção da necessidade de criar-se uma organização dos agricultores 
agroecológicos e da grande potencialidade da comercialização em Recife. (MMA, 
2006) 
No início os consumidores não conheciam sobre as diferenças do produto 
agroecológico, não entendiam muito seu valor. Além disso os próprios produtores 
também não haviam desenvolvido habilidades para dialogar com os clientes e explicar 
do que se tratava a produção familiar, bem como seus benefícios e a importância de 
seu trabalho. 
Foi constatado por Braz (2018) que os principais dificuldade iniciais estava: 1) 
na conscientização do público sobre a qualidade envolvidas na produção familiar; 2) 
no baixo movimento que não cobria os custos totais dos agricultores. 
Para além dos problemas citados, no documento “Sabiá – A Experiência com 
Comercialização Agroecológica” elabora pelo Ministério do Meio Ambiente, relata que 
a própria prefeitura da cidade quis impedir o processo de comercialização. Numa das 
abordagens da polícia, na tentativa de impedir a feira, os próprios consumidores se 
mobilizaram e impediram a ação policial, o que resultou, depois de acordos, na 
transferência da feira para então seu local atual na Rua Souza de Andrade. (MMA, 
2006), 
Essas ações exemplificam a solidariedade que ligam os participantes da feira. 
O espaço da FA das Graças une as forças de seus consumidorese produtores desde 
sua construção para assim criar um ambiente de trocas não apenas de mercadorias, 
mas também laços fraternais. 
41 
 
Assim a feira se tornou, no decorrer de sua história, um espaço de luta e 
resistência do pequeno produtor frente as barreiras econômicas, políticas e sociais 
dos mercados capitalistas. 
Durante todo projeto da Feira os nortes foram sempre a favor da parceria com 
natureza, com as pessoas da comunidade e boa relação comercial pautada na 
solidariedade. Em sua tese, Souza (2012), através de entrevistas com agricultores, 
confirma o intuito da Feira ser um ambiente a favor da produção de alimento sem 
venenos, no qual as pessoas pudessem comprar a preços justos e ter uma vida mais 
saudável. 
Braz (2018) evidenciou que nos três primeiros anos os agricultores 
desenvolveram as suas habilidades pessoais e organizacionais o que resultou numa 
melhora de seus processos comerciais e produtivos, bem como o atendimento aos 
clientes. 
Figura 04 - Espaço Agroecológico das Graças em 1998 
 
 
Fonte: acervo Centro Sabiá,1998 
 
Na Feira os produtos são expostos em barracas e caixas de plástico. Há 
produtos que necessitam ser armazenados em isopores. Durante a feira também há 
produtores que comercializam em carros, e em sua maioria são produtos 
beneficiados. O público circula livre no meio da rua, a qual foi previamente interditada 
42 
 
para o dia da feira. Este ambiente se torna bastante interativo e também gera muitas 
trocas através de conversas sobre a temática da agricultura agroecologia. (SOUZA, 
2012) 
A feira tem como diferencial o caráter transpessoal do ambiente de negócios. 
Desde o processo produtivo dos agricultores que evidenciam a preocupação com o 
bem estar de seus consumidores, até a preocupação dos clientes em conhecer a vida 
pessoal dos produtores para assim criar laços, gerando confiança e parcerias 
salutares. 
Com relação aos preços aplicados, existe uma coesão entre os agricultores que 
buscam preços justos sem muita variação durante o ano. Apresentam também como 
regra uma tabela com preços máximo e mínimos. (SOUZA, 2012) 
 
 
 
Figura 05 - Feira Agroecológica das Graças em 2021 
 
 
Fonte: Acervo Pessoal (2021) 
 
 
 
 
 
 
 
43 
 
Figura 06 - Feira Agroecológica das Graças em atividade 
 
 
Fonte: Acervo Pessoal (2021) 
 
Sobre o controle da qualidade do alimento, Braz (2018), identificou que a 
principal garantia é por meio de uma Declaração de Cadastro em uma Organização 
de Controle Social (OCS). 
A OCS é responsável por garantir a conformidade da produção orgânica ou 
agroecológica de maneira participativa. Ela é formada por grupos de agricultores que 
juntamente ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) expede 
um documento com todos os dados do produtor e da propriedade, incluindo o número 
de cadastro, assegurando que seu processo produtivo é efetuado de maneira 
sustentável e orgânica. Porém esse tipo de “certificação” serve apenas para a 
comercialização através de vendas diretas, não havendo assim a possibilidade de 
expor tais artigos em lojas com a validade do selo orgânico. 
 Este processo faz com que o público possa se sentir mais confiável em relação 
aos produtores, pois, para aquisição do documento que fica exposto nas barracas, 
são feitas vistorias no terreno do agricultor, afim de não apenas verificar, mas também 
incentivar boas práticas produtivas. 
Segunda Darolt (2012), há na população uma percepção de que frutas e 
verduras naturais são alimentos mais saudáveis, porém falta ainda essa mesma 
44 
 
população associar alimentos saudáveis a processos produtivos agroecológicos e 
orgânicos. Outro fator que também impacta na cadeia de consumo, é que os 
consumidores associam alimentos naturais a preços mais elevados. 
Desse modo, evidencia a necessidade de esclarecer a população da 
importância desse tipo de produção alimentícia e de como os preços são equiparáveis 
aos atributos benéficos agregados aos alimentos naturais. 
Para Darolt (2012) os impactos positivos da aproximação entre os 
consumidores e produtores podem ser resumidos pela Figura 09. 
Nessa perspectiva ocorre um alinhamento entre os requisitos do mercado/ 
local/comunidade, com as necessidade dos fornecederos/produtores. Ocorrendo um 
sistema onde prevalece a transparência, os preços justos e o compartilhamento dos 
riscos, pois os clientes recebem esclarecimentos e compreendem as limitações dos 
agricultores. 
 
Figura 07 - Benefícios da aproximação entre produtores e consumidores 
Fonte: Darolt, 2012 
 
A base de consumidores da Feira Agroecológica das Graças é composta por 
cerca de 40% de homens, 60% mulheres. Com uma faixa etária principal entre 41 e 
70 anos, representando cerca de 80% do público. Fato que se evidenciou durante a 
pandemia, pois os principais cliente eram considerados grupo de risco, afetando, 
portanto, diretamente o nível de vendas. Em termo de grau de escolaridade a maioria 
45 
 
dos consumidores apresentam curso superior completo. As profissões mais presentes 
entre os clientes foi de funcionário público, aposentado e professor. A maioria 
apresentando uma renda média de 08 a 19 salários. Os principais motivos para o 
consumo na feira são: alimentos sem agrotóxicos; boa qualidade; amizade. (SOUZA, 
2012; MMA, 2006; BRAZ, 2018). 
Segundo Braz (2018), os produtos que geram mais rentabilidade para os 
agricultores são os beneficiados, chegando a conseguir agregar mais de 70% de seu 
valor natural. Esses produtos ainda ajudam ao produtor a enfrentar melhor as 
intempéries da sazonalidade de seus cultivos in natura. 
A construção da Feira Agroecológica foi uma nova estratégia dos agricultores 
para enfrentar as condições adversas e contrárias aos modos de produção familiar. 
Esse modelo possibilitou acrescentar renda e visibilidade social a classe que em seu 
território muitas vezes vivia em situação de pobreza e carência de oportunidades. 
(SOUZA, 2012) 
O espaço Agroecológico das Graças representa muito mais que um mercado 
alternativo da produção familiar. Ele representa uma mudança de paradigma 
econômico. Nesse sentido o bem estar, as relações fraternas e solidárias são a chave 
do sistema de troca. O desenvolvimento ocorre em níveis sociais, econômicos e 
ambientais. Os processos produtivos se encaixam nessas dimensões. Toda cadeia se 
beneficia e cresce à medida que cada elo supre as necessidades dos demais. 
Assim, o estudo da Feira Agroecológica das Graças, representa um olhar sobre 
um mercado alternativo, originário de uma classe pouco investigada e carente de 
apoios. Isso contextualiza o esforço deste trabalho para alcançar um melhor nível de 
compreensão destes agricultores, a fim de proporcionar novas oportunidades e 
melhores abordagens para sua cadeia. 
 
3.3 COLETA DE DADOS 
 
A fim de abordar característica sui generis e evidenciar a percepção individual 
dos agricultores investigados, esta pesquisa empregou as técnicas da entrevista semi-
estruturada e da observação para a coleta de dados. 
De acordo com Triviños (1928, p. 146): 
 
46 
 
Podemos entender por entrevista semi-estruturada, em geral, aquela que 
parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, 
que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de 
interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se 
recebem as respostas do informante. (TRIVIÑOS, 1928, p. 146) 
 
A população analisada foi composta por 10 agricultores da Feira Agroecológica 
das Graças, em Recife-PE. Para realização desta pesquisa houve ótima interação e 
cooperação dos produtores, os quais me receberam em suas barracas e alguns em 
seus ambientes de trabalho. Também houve momentos que participei das reuniões 
com membros da associação AMA-Terra, representada aqui pela sua atual 
presidenta, Rejane. A AMA-Terra foi criada em 2009 no município de Gravatá pelos

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