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doi: 10.29372/rab202204 1 Avaliação de um sistema de previsão para a ferrugem do alho Leandro Luiz Marcuzzo* Aline Cristina Paulakoski Djonatan Deivid Mariano Instituto Federal Catarinense – IFC/Campus Rio do Sul *Correspondência para: leandro.marcuzzo@ifc.edu.br INTRODUÇÃO Diversas doenças incidem sobre a cultura do alho (Allium sativum L) e entre elas a ferrugem causada por Puccinia porri (Sowerby) G. Winter (sin. Puccinia allii) é uma das principais doenças da cultura e comumente encontrada em todas as regiões produtoras, sendo com mais intensidade em na região sul do Brasil. A doença promove a destruição da parte aérea da cultura e como consequência a redução da produtividade (Marcuzzo, 2020; Pavan et al., 2017; Becker, 2004). Os sintomas são pústulas amarelas devido à produção de uredosporos. Sob condições favoráveis ao desenvolvimento da doença, as pústulas podem ocupar a lâmina foliar, fazendo com que a folha seque. Em um estágio mais avançado da doença, a formação de uredosporos é menor e a produção de teliósporos ocorre, o que confere às pústulas uma cor marrom escura ou preta. Folhas com alta índice de severidade podem-se tornar amareladas e morrer, causando depauperamento das plantas, com formação de bulbos de tamanho reduzido (Marcuzzo e Silva, 2021; Marcuzzo, 2020; Becker 2004; Pavan et al. 2017). Muitas das enfermidades de plantas têm sido controladas por métodos empíricos, ocasionando uso desnecessário de agrotóxicos e aumento dos custos de produção, além de impactar o meio ambiente e do resíduo no fruto. Mediante este contexto, o manejo de controle ideal inclui a previsão de doenças, relacionando-as com a variação micrometeorológica, principalmente durante o processo da infecção. Os sistemas de previsão de doenças de plantas são ferramentas que possibilitam prever o desenvolvimento de uma doença e indicar o momento mais provável de efetuar a pulverização, podendo ser adaptado em patógenos que requerem as mesmas condições (Marcuzzo e Reis, 2021) e no caso do alho existe um modelo da ferrugem (Puccinia triticina) do trigo (Reis e Barcelos, 1988) e como é cultivado na mesma época do alho e o patógeno é do mesmo gênero, requerendo condições ambientais similares para sua ocorrência. Partindo destes princípios, este trabalho teve como objetivo avaliar em condição de campo a adaptação do sistema o sistema de previsão de Reis e Barcelos (1988) para a ferrugem do alho causada por P. Porri com vistas ao manejo da doença. MATERIAL E MÉTODOS A avaliação do sistema de previsão da mancha púrpura foi conduzido no Instituto Federal Catarinense - IFC/Campus Rio do Sul, no município de Rio do Sul – SC, (Latitude: 27º11’07’’ S e Longitude: 49º39’39’’ W, altitude 655 metros) durante 14 de junho a 8 de novembro de 2021. Os dados meteorológicos foram obtidos de uma estação Davis® Vantage Vue 300m localizado ao lado do experimento e os dados médios durante a condução do experimento foram de 14,8ºC para temperatura do ar, de 15,5 horas de umidade relativa do ar ≥90% e a precipitação pluvial acumulada foi de 554,3 mm. http://www.fcav.unesp.br/rab e-ISSN 2594-6781 Volume 6 (2022) Artigo publicado em 04/03/2022 http://dx.doi.org/10.29372/rab202204 http://www.fcav.unesp.br/rab doi: 10.29372/rab202204 2 Bulbilhos de alho do cultivar Chonan foram vernalizados a 4ºC por 50 dias e semeados a campo em quatro repetições constituídas de uma área de 1,5 X 1,25 m utilizando cinco linhas com espaçamento de 0,25 m entre linhas e 10 cm, ficando com um estande final de 75 plantas em cada repetição (equivalente a 400.000 plantas.ha-1) e os tratos culturais seguiram as normas da cultura (Lucini, 2004). Dez plantas em cada repetição foram previamente escolhidas e demarcadas aleatoriamente para a avaliação da doença e da produtividade. Para que houvesse inóculo na área, mudas de cebolinha-verde (Allium fistolusum L.) infectada naturalmente com P. porri e apresentando sintomas nas folhas foram transplantadas entre cada parcela ao redor do experimento no dia do plantio. Para o controle da ferrugem foram comparados os seguintes regimes de pulverização com mancozebe (80%) + oxicloreto de cobre (50%) na dose de 250 g + 200 g pc.hl-1 baseado na adaptação do sistema descrito por Reis e Barcelos (1988) onde o valor de VDS (Valores diários de severidade) foi baseado no sistema expresso na Tabela 1. Tabela 1. Valores diários de severidade (VDS) em função temperatura e da duração do molhamento foliar (h)*. Temperatura (oC) Valores diários de severidade (VDS) 0 1 2 3 10-14 < 6 6-10 10-26 >26 15-19 <4 4-9 9-30 >30 20-24 <2 2-6 6-21 >21 >25 < 3 3-8 8-29 > 29 *Molhamento foliar foi substituído pela umidade relativa do ar ≥90%. Atribuiu-se os tratamentos com valores acumulados de VDS de 8, 12 e 16 comparados com sistema convencional com pulverização a cada 5 dias e 7 dias. A pulverização no sistema de previsão foi realizada quando o somatório diário dos valores de VDS (8; 12; 16) fosse atingida, sendo então zerado o somatório e iniciada nova contagem dos valores de severidade diários. A cada ocorrência de 25 mm de chuva, todos os tratamentos eram pulverizados, zerados e reiniciava-se a contagem do somatório dos valores de severidade. As pulverizações iniciaram-se a partir dos 14 dias após a semeadura e foram efetuadas com um pulverizador costal eletrônico Jetbras® calibrado para 400 L.ha-1. A severidade da doença foi avaliada através de escala diagramática proposta por Azevedo (1997) em cada folha presente na planta. A severidade da doença ao longo do ciclo foi integralizada e calculada a área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD), através da fórmula: AACPD = ∑ [(y1+y2)/2]*(t2-t1), onde y1 e y2 refere-se a duas avaliações sucessivas da intensidade da doença realizadas nos tempos t1 e t2 (7 dias), respectivamente. A colheita das plantas demarcadas foi realizada após 21 semanas do plantio e após 20 dias de cura em galpão de armazenamento foram pesadas e posteriormente convertidas para produtividade total em quilogramas por hectare (Kg.ha-1). As médias da AACPD e produtividade entre os regimes de pulverização foram submetidas à análise de variância pelo teste de F e se fossem significativas seriam comparadas pelo teste de Tukey 5% pelo software estatístico SASM-Agri (Canteri et al., 2001). RESULTADOS E DISCUSSÃO Para os sistemas de previsão VDS 8, 10 e 12 tiveram respectivamente 17, 10 e 7 pulverizações quando comparado as 19 e 13 pulverizações a cada 5 e 7 dias respectivamente (Tabela 2). O sistema VDS 8 ficou http://dx.doi.org/10.29372/rab202204 doi: 10.29372/rab202204 3 intermediário entre o número de pulverizações quando comparado ao sistema de pulverização a cada cinco e sete dias com 17 pulverizações (Tabela 2). No sistema VDS 16 houve uma redução de 46% no número de pulverizações, quando comparado ao sistema de aplicação semanal e de 63% quando comparado ao sistema a cada cinco dias (Tabela 2). Tabela 2. Número de pulverizações, área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD), produtividade (Kg.ha-1) em diferentes sistemas de previsão comparados com o tratamento convencional para controle da ferrugem do alho. IFC/Campus Rio do Sul, 2021. Tratamentos Número de pulverizações AACPD Produtividade (Kg.ha-1) VDS 8 17 702,44 b 2.773ns VDS 12 10 763,70 ab 3.237 VDS 16 7 795,36 a 2.598 Convencional (5 dias) 19 800,03 a 3.173 Convencional (7 dias) 13 803,29 a 3.406 CV(%) 4,29 13,46 Médias seguidas de mesma letra não diferem pelo teste de Tukey 5%. ns: não significativo pelo teste F. Na área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD) os sistemas VDS 12; VDS 16, 5 e 7 dias não diferiram entre si, evidenciando que a redução do número de pulverização do VDS 16 em relação ao sistema convencional (Tabela 2) é possível mesmo com acúmulode AACPD durante o ciclo produtivo. Isso corresponde que nem sempre o número a mais de pulverizações reduz a doença, já que o momento correto da aplicação reflete no acumulado da doença ao longo do ciclo da cultura. Não houve diferença significativa entre os tratamentos para a produtividade (Kg.ha-1) (Tabela 2). Nesse trabalho constatou-se que a produtividade foi reduzida no sistema VDS 16, mas sem diferença estatística na AACPD (Tabela 2). Os valores ficaram abaixo do descrito em Becker (2004) e Garcia et al. (1994), no entanto, os autores não caracterizaram a presença do inóculo no local, algo que no presente trabalho fez com que a doença fosse intensa e um expressivo valor de AACPD (Tabela1) e como consequência refletiu na produtividade. O modelo de Reis e Barcelos, (1988) demonstrou que é possível sua adaptação para uso na ferrugem do alho (Marcuzzo e Reis, 2021), pois sistemas de previsão já foram para previsão da queima das folhas (Alternaria dauci) da cenoura (Bounds et al., 2006; Bounds et al., 2007; Dorman et al., 2009); da mancha púrpura (Alternaria porri) em cebola (Ferreira e Baretto, 2001); da requeima do tomateiro (Becker et al. 2011) e míldio da cebola (Marcuzzo, 2017; Marcuzzo et al., 2017a; Marcuzzo et al., 2017b). O uso do sistema de previsão mostrou ser uma ferramenta viável no manejo da ferrugem do alho e está inserido para uso da cadeia produtiva na plataforma Agroconnect da EPAGRI-CIRAM, disponibilizado em http://www.ciram.sc.gov.br/agroconnect/ no menu atividade agropecuária alho, alerta fitossanitário. CONCLUSÃO O uso do modelo com VDS 16 demonstrou que é possível a redução da doença e do número de pulverizações comparado com o empregado no sistema convencional (5 a 7 dias) com vista ao controle da ferrugem causada por Puccinia porri. Referências AZEVEDO, L.A.S. Manual de quantificação de doenças de plantas. São Paulo: Grupo quattro digital media. 1997. http://dx.doi.org/10.29372/rab202204 doi: 10.29372/rab202204 4 BECKER, W. et al. Viability of a prediction system for tomato late blight in the integrated production of tomato in Caçador, Brazil. Horticultura brasileira, Brasília, v.29, n.4, p.520-525, 2011. DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-05362011000400013 BECKER, W.F. 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