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Linguagem, mente e sociedade: o lugar da intencionalidade coletiva na filosofia de John Searle Language, mind and society: the place of collective intentionality in John Searle’s philosophy Caio Motta1 Resumo: Neste artigo, analisamos a maneira como o filósofo americano John Searle desenvolve o conceito de intencionalidade coletiva, examinando seus trabalhos anteriores em filosofia da linguagem, filosofia da mente e sua "ontologia social". Nosso objetivo é mostrar que, ao entendermos alguns dos aspectos mais importantes do trabalho de Searle nesses campos, podemos ver como Searle utilizou alguns de seus conceitos anteriores na construção de sua teoria da intencionalidade coletiva, e também como o conhecimento desses conceitos anteriores pode nos ajudar a compreender melhor o conceito de intencionalidade coletiva. Palavras-chave: John Searle; Intencionalidade Coletiva; Intencionalidade; Realidade Social. Abstract: In this paper, we analyze the way in which the American philosopher John Searle develops the concept of collective intentionality, by looking at his previous works in philosophy of language, philosophy of mind, and his “social ontology”. Our main objective is to show that, by understanding some of the most important aspects of Searle’s work in these fields, we can see how Searle made use of some of his previous concepts in the development of his theory of collective intentionality, and can also see how the knowledge of these previous concepts can help us in better understanding the concept of collective intentionality. Keywords: John Searle; Collective Intentionality; Intentionality; Social Reality. * * * Neste artigo, propomos a compreensão do conceito de intencionalidade coletiva, desenvolvida pelo filósofo americano John Searle em sua obra The Construction of Social Reality (1995), através de uma reconstrução teórica que trará suas principais conclusões e conceitos elaborados nos âmbitos da filosofia da linguagem, filosofia da mente, e sua investigação ontológica da realidade social. Esta reconstrução é importante, pois cada obra do autor tem uma ligação intrínseca com as anteriores, transformando sua obra em um edifício cujas partes não podem ser analisadas sem uma boa compreensão do todo. Desenvolvimentos iniciais na filosofia da linguagem, por exemplo, continuarão sendo 1 Graduando em Ciências Sociais pela Faculdade de Ciências e Letras (FCL) da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), campus Araraquara. Bolsista de iniciação científica da FAPESP sob a orientação do Prof. Dr. Antonio Ianni Segatto. E-mail: caiomotta36@yahoo.com. mailto:caiomotta36@yahoo.com Linguagem, mente e sociedade Vol. 12, 2019 21 www.marilia.unesp.br/filogenese importantes em sua filosofia da mente e sua ontologia social. Portanto, seguiremos o seguinte caminho: primeiro, introduziremos rapidamente o conceito de intencionalidade coletiva; em seguida, partiremos para nossa reconstrução teórica, respeitando a ordem cronológica das obras do autor. Consequentemente, começaremos com a filosofia da linguagem; depois partiremos para a filosofia da mente; e por último concluiremos com a intencionalidade coletiva e algumas críticas direcionadas a ela. 1. Introdução: o que é a intencionalidade coletiva? A intencionalidade coletiva, desenvolvida por Searle em The Construction of Social Reality, envolve todos os fatos sociais, sendo eles institucionais ou não; de fato, Searle acredita que a sua compreensão é essencial para a compreensão dos fatos sociais (SEARLE, 1995, p. 24). Mais especificamente, ela faz referência aos casos em que fazemos algo somente como parte do nosso fazer algo. Isto é: “Se eu sou um violinista numa orquestra, eu toco minha parte com relação à nossa performance da sinfonia” (idem). A relação entre este tipo de intencionalidade, com a forma “Nós intencionamos” (we intend), e a intencionalidade singular, com a forma “Eu intenciono” (I Intend), foi concebida na filosofia analítica a partir da redução da primeira à mera soma da segunda, em que a adição de “eu intenciono” gera, além da união de crenças mútuas, a forma “nós intencionamos”. Portanto, aparentemente, há duas posições que fazem sentido: o reducionismo, ou a admissão de uma entidade que flutua sobre as cabeças individuais, uma espécie de super mente. O imbróglio reside nesta falsa antinomia. De fato, toda minha vida mental ocorre dentro de um cérebro, mas disto não se segue que toda minha vida mental deve ser expressa na forma nominal se referindo a mim. A forma da intencionalidade coletiva é “Nós Intencionamos” (We Intend), ou “Nós Estamos fazendo tal e tal coisa” (we are doing so-and-so). Deste modo, “eu Intenciono somente como parte de nossa intenção. A intencionalidade que existe em cada cabeça individual tem a forma ‘nós intencionamos’” (idem). 2. Desenvolvimento 2. 1. Filosofia da Linguagem: A filosofia da linguagem, entendida conforme Searle, tem como objetivo analisar como as palavras se relacionam com o mundo, descobrir como meras marcas no papel ou atos fisiológicos podem fazer referências a estados de coisas ou objetos do Linguagem, mente e sociedade Vol. 12, 2019 22 www.marilia.unesp.br/filogenese mundo real. As perguntas iniciais que guiaram seu projeto foram colocadas da seguinte maneira: Como é possível que, estando um falante diante de um ouvinte e emitindo uma sequência acústica, se produzam factos tão interessantes como os seguintes: o locutor quer dizer alguma coisa; os sons que emitem querem dizer alguma coisa; o ouvinte compreende o que é dito; o locutor faz um enunciado, faz uma pergunta, ou dá uma ordem? Como é possível, por exemplo, que, quando dizemos “João foi para casa”, que, de um certo modo, não é senão uma sequência de ruídos, o que queremos dizer seja: João foi para casa? Qual a diferença entre dizer alguma coisa, querer dizê-la e dizê-la sem querer dizer alguma coisa? (grifo meu, SEARLE, 1981, p. 09). Tais perguntas, que aparentemente têm importância somente para a filosofia da linguagem, mostrar-se-ão, na obra do autor, essenciais devido ao caminho que abrem ao serem colocadas e compreendidas. As perguntas que guiarão o autor em torno de toda sua carreira filosófica já podem ser identificadas em suas obras iniciais, influenciando posteriormente seu trabalho na filosofia da mente e em sua “ontologia social”. Pode-se discernir uma forma lógica presente em tais perguntas, abstraindo seu conteúdo relacionado à linguagem e dotando-as de generalidade de determinado modo: Como ϕ, de natureza específica N, pode influenciar Ω, de natureza M? Aplicando esta forma para cada etapa do pensamento do autor, podemos colocá-las, respectivamente, da seguinte maneira: Como os atos de fala, com sua natureza primordialmente fisiológica, podem atuar no mundo físico e representar, alterar, ou até mesmo criar estados de coisas? Como a intencionalidade, de natureza mental, pode representar objetos ou estados de coisas no mundo físico? E, por último, como a intencionalidade e os atos de fala podem atuar na realidade social, tendo esta uma forma lógica que é, para o autor, essencialmente linguística? Os atos de fala desempenharão um importante papel em sua filosofia devido ao fato de vê-los como unidade básica ou mínima da comunicação linguística (SEARLE, 1981, p. 26). Dá-se um lugar privilegiado aos atos de fala, ao invés de símbolos, palavras, ou frases, pelas seguintes razões: um ruído ou uma marca no papel, em princípio, são apenas manifestaçõesnaturais desprovidas de uma significação que as incluam como fenômenos da comunicação linguística. Para supô-los como aspectos relevantes da Linguagem, mente e sociedade Vol. 12, 2019 23 www.marilia.unesp.br/filogenese comunicação social, deve-se adotar como pressuposto o fato desses ruídos ou marcas no papel terem sido feitos por seres humanos racionais mais ou menos semelhantes a nós e capazes, portanto, de comportamento intencional. Neste primeiro momento, Searle acredita que o comportamento intencional é marca distintiva e particular aos atos de fala; posteriormente, quando se envereda pela filosofia da mente e principalmente em seu estudo sobre a intencionalidade, descobrirá que a intencionalidade não é algo restrito aos atos de fala, sendo uma capacidade mental mais fundamental que a linguagem. Enfim, além deste comportamento intencional, é necessário supor o fato que falar uma língua é adotar um tipo de comportamento regido por regras, possibilitando assim a execução de atos de fala. De acordo com Searle, tais atos de fala como fazer afirmações, dar ordens, fazer promessas, etc, só são realizáveis devido a determinadas regras que regulam o uso dos elementos linguísticos. A junção entre um estudo formal preocupado com regras e um estudo dos atos de fala que são função da significação darão origem a uma análise preocupada com as regras e condições necessárias e suficientes pelas quais obedecemos e satisfazemos quando executamos um ato de fala. Já que falar uma língua é adotar um sistema de regras que condicionará o comportamento, retirar-se-á de tais regras, a partir da extração dessas condições suficientes e necessárias que regulam os atos de fala, regras semânticas que orientam toda utilização dos processos linguísticos, demonstrando a correspondência entre um certo tipo de fala e uma certa enunciação. A título de clareza e sistematização, podemos organizar este empreendimento da seguinte forma: 1, falar é realizar atos de fala segundo regras e condições suficientes e necessárias; 2, para provar tal hipótese, deve-se mostrar quais são essas condições que orientam os atos para então, 3, extrair conjuntos de regras semânticas. Será útil analisar como Searle distingue os diferentes tipos de ato fala. Para elucidar esta distinção, tomemos estes casos, providenciados por Searle: (01) – João fuma muito; (02) – João fuma muito? (03) – Fuma muito, João! (04) – Oxalá João fumasse muito. Seguindo Austin (1962) (que é o criador dos “atos locucionários”, “atos ilocucionários”, e “ator perlocucionários”), Searle afirma que, além de se proferir ou escrever tais palavras, sempre se está fazendo algo expresso por certo tipo de ato de fala. Antes de delimitar aquilo que há de diferente entre as enunciações, podemos notar duas semelhanças: os proferimentos compartilham da mesma referência (João) e da mesma predicação (“fuma muito”). No entanto, essa mesma referência e mesma predicação pertencem a um ato de fala que é distinto em cada enunciado. Linguagem, mente e sociedade Vol. 12, 2019 24 www.marilia.unesp.br/filogenese Respectivamente, podemos separar cada ato de fala deste modo: (01). Asserção; (02). Pergunta; (03). Ordem; (04). Desejo ou vontade. Seguindo a nomenclatura utilizada por Austin, Searle nomeia tais atos de fala com o nome de “atos ilocucionários”. Fazendo uma pequena digressão e retomando alguns pontos da análise de Austin, os atos ilocucionários estão presentes quando se realiza um ato locucionário. De acordo com Austin, quando se realiza um ato locucionário também estamos: perguntando ou respondendo uma questão; dando alguma informação, um aviso, ou quando se assegura; anunciando um veredito ou intenção; fazendo uma descrição; etc. A introdução dos atos ilocucionários por Austin serve para identificar as diversas formas pelas quais nós nos expressamos, analisando as múltiplas formas pelas quais nós usamos a fala a partir da observação da forma precisa que estamos utilizando quando falamos algo. Neste caso, faz sentido perguntar se certas palavras têm a força de uma questão, de uma ordem, ou de uma promessa, por exemplo, ou se deveríamos tomá-las como se tivessem uma dessas forças. Por conseguinte, os atos ilocucionários são definidos por uma diferença sutil entre a performance de um ato quando dizemos algo (in saying something), ao contrário da performance de um ato de dizer algo (an act of saying something). A primeira descrição se refere a um ato ilocucionário, e as forças ilocucionárias correspondentes se referem aos diferentes tipos de função que a linguagem pode tomar. Voltando a Searle, ele identifica, junto com os atos ilocucionários, três atos distintos em cada enunciação: (01) atos de enunciação, realizados quando se enuncia palavras (morfemas, frases); (02) atos proposicionais, realizados quando se refere e predica; (03) atos ilocucionários, quando se afirma, dá uma ordem, faz uma promessa, faz uma pergunta, etc. Adiciona-se aqui, ademais, os chamados atos perlocucionários que, desde Austin, fazem referência aos sentimentos, crenças, ou ações da audiência ou pessoa que está ouvindo. Adiciona-se a força perlocucionária quando se admite os efeitos dos atos locucionários (e, com eles, sua força ilocucionária) na audiência, e esses efeitos fazem parte da intenção de quem faz o ato de fala (ato locucionário + ato ilocucionário); isto é, tem-se uma intenção ao causar tais efeitos Por questão de espaço, não poderemos entrar na estrutura específica dos atos de fala elaborada por Searle, mas podemos terminar essa parte com uma importante contribuição de Searle: a distinção entre níveis semânticos e sintáticos simbolizada da seguinte forma: F(p), em que “F” representa a força ilocucionária, e “p” representa aquilo Linguagem, mente e sociedade Vol. 12, 2019 25 www.marilia.unesp.br/filogenese que é expresso pelas proposições, seu conteúdo proposicional. Isto é, há uma distinção entre marcadores, o primeiro relativo à força ilocucionária e o segundo como marcador proposicional. Desta forma, vemos que os atos de fala, com sua natureza meramente fisiológica, podem atuar na realidade através de atos ilocucionários. Continuaremos vendo as repercussões dessas conclusões a seguir, em nossa investigação da intencionalidade na filosofia da mente. 2. 2. Filosofia da mente: Apesar de Searle iniciar suas reflexões filosóficas analisando os atos de fala, chegou-se, posteriormente - quando circunspecionou a questão da intencionalidade e adentrou a filosofia da mente -, à crença de que a linguagem é mais do que meros acontecimentos fisiológicos ou simbólicos quando a vemos como dentro de uma reflexão mais profunda sobre a mente e suas capacidades. Esta reflexão não é só mais profunda como também necessária se quisermos resolver certos problemas colocados pela filosofia da linguagem, problemas estes postos por certos erros da doutrina externalista da linguagem, que crê que os significados das palavras e o conteúdo de nossas mentes são relações causais entre o que está em nossa mente e no mundo, não ficando restritos, portanto, apenas ao âmbito mental. A intencionalidade surge, então, como uma capacidade mental de representar objetos e estados de coisas no mundo, expressando-se através de relações causais entre esses dois níveis: o mental e o físico, pertencente ao mundo externo. Deste modo, podemos assinalar dois objetivos centrais em sua filosofia quando se discute a mente: o primeirodiz respeito à capacidade da filosofia providenciar uma formulação de nós mesmos em nossa totalidade, ou seja, como seres cônscios, racionais, livres, falantes, sociais, e políticos, ao mesmo tempo em que não se contrapõe à visão científica predominante, que coloca o mundo externo como composto inteiramente de partículas físicas. O segundo objetivo é formular uma teoria da consciência que a compreenda como pertencente, também, ao mundo físico, sendo produto de processos neuronais e sinapses de baixo nível; eliminando, assim, qualquer resquício de cartesianismo ou dualismo presente na filosofia da mente. Tal objetivo se relaciona com sua principal tese neste âmbito filosófico, chamada de “Naturalismo Biológico” e, neste primeiro momento, podemos dizer que ela surgiu como uma forma de entender a consciência como característica biológica e de sistema da mesma forma que a digestão ou secreção da bile são sistemas e, logo, características biológicas. Coloca-se, então, a consciência como um Linguagem, mente e sociedade Vol. 12, 2019 26 www.marilia.unesp.br/filogenese aparato do cérebro que pertence ao mundo real. Esses dois objetivos, com suas reflexões particulares, se entrelaçarão e formarão uma teoria geral sobre a mente. Em suma, a filosofia da linguagem e os atos de fala dão lugar àquilo que ele compreende como mais elementar. De novo, sentenças e sons emitidos pela boca são apenas sinais gráficos e atos fisiológicos que pertencem ao mundo real como qualquer outro objeto, mas sua capacidade de representar não é intrínseca e sim originária da intencionalidade da mente. A intencionalidade, então, como propriedade de estados e eventos mentais, dirige-se a - ou acerca de - objetos e estados de coisas no mundo. Deve- se compreender que a intencionalidade não está restrita à intenção; esta última é apenas um estado mental possível da primeira. Para saber quais estados mentais que contêm intencionalidade, faz sentido perguntar: “Em que, exatamente, você acredita?”, ou “O que você deseja?”, visto que não se pode responder essas perguntas dizendo que não se acredita em nada ou nada se deseja. Deve-se acreditar ou desejar algo. Logo, se eu tiver uma crença, deve ser uma crença de que determinada coisa é desse ou daquele modo; se tiver um desejo, deve ser um desejo de fazer alguma coisa ou de que algo aconteça; se tiver uma intenção, deve ser uma intenção de fazer alguma coisa; etc. Finalmente, coloca- se a indispensabilidade de se colocar e responder três perguntas: “Primeiro, como a intencionalidade é possível; segundo, dado que estados intencionais são possíveis, como seu conteúdo é determinado; e terceiro, como todo o sistema da intencionalidade funciona?” (SEARLE, 2004, p. 161). Tentaremos a seguir abordar estas questões. Começando pela relação entre a intencionalidade e os atos de fala, dever-se-á colocar uma questão importante: “Qual a relação entre os estados intencionais e os objetos e estados de coisas aos quais estão de algum modo direcionados?” (SEARLE, 2002, p. 06). Searle rapidamente responde esta questão afirmando que estados intencionais representam no mesmo sentido de “representar” no qual os atos de fala representam objetos e estados de coisas no mundo (idem). A diferença está no fato dos atos de fala terem uma forma derivada de intencionalidade, representando, portanto, de um modo diferente dos estados intencionais, pois esses têm uma forma intrínseca de intencionalidade. Ademais, apesar da intencionalidade ser explicada sob o ponto de vista dos atos de fala, não se deve inferir que a primeira seja essencialmente linguística. Como prova disto, apresenta-se o argumento de que seres sem linguagem (ou com uma linguagem muito rudimentar) ainda assim são capazes de formular estados intencionais. A dependência lógica, deste modo, não é entre intencionalidade e atos de fala, em que a Linguagem, mente e sociedade Vol. 12, 2019 27 www.marilia.unesp.br/filogenese primeira depende da última, mas sim, como já foi dito, entre atos de fala e intencionalidade: a linguagem é derivada da intencionalidade. Uma semelhança importante entre intencionalidade e atos de fala diz respeito à distinção semelhante entre conteúdo proposicional e a força ilocucionária nos atos de fala, mas agora nos estados intencionais: Da mesma forma que foi derivada uma fórmula “F(p)” nos atos de fala, representando esta distinção entre força ilocucionária (“F”) e conteúdo proposicional (“(p)”); nos estados intencionais podemos distinguir uma fórmula “S(r)”, com um estado psicológico (“S”) e um conteúdo representacional (“(r)”). Tomemos este exemplo dado por Searle: posso ordenar que você saia da sala e querer que você saia da sala (Searle também dá outras expressões, mas estas duas já são suficientes para nosso objetivo), assim: Na primeira classe de casos, a dos atos de fala, há uma distinção óbvia entre o conteúdo que você saia da sala e a força ilocucionária com que tal conteúdo é apresentado no ato de fala. Mas igualmente na segunda classe de casos, a dos estados intencionais, há uma distinção entre os conteúdo representativos que você saia da sala (grifo do autor) e o modo psicológico, seja este crença, medo, esperança ou qualquer outro, em que se tenha esse conteúdo representativo (SEARLE, 2002, p. 08). Em outros locais (SEARLE, 2001), Searle postula a fórmula S(p), sendo “p” o conteúdo proposicional e “S” o estado psicológico. Apesar desta diferença, o conteúdo continua o mesmo, sendo esta distinção essencial para reforçar o fato que podemos ter o mesmo conteúdo proposicional em estados psicológicos diferentes. Todavia, apesar desta distinção, há estados intencionais que não contêm proposições inteiras como seu conteúdo. Na tradição filosófica, estados intencionais que contêm proposições inteiras como conteúdo proposicional foram chamadas de “atitudes proposicionais”, mas Searle nega tal terminologia. Sua principal razão para tal se deve à crença, implícita a este termo, que uma crença ou desejo são atitudes referentes à proposição, não ao objeto da proposição. Em suas palavras, “se acredito que Clinton é presidente, minha atitude é com relação a Clinton, não à proposição” (idem, p. 36). Como estava sendo dito, dois dos estados que não contêm proposições inteiras como seu conteúdo são amor e ódio. Podemos, desta forma, simplesmente amar ou odiar X. Assim sendo, sua forma será a seguinte: Odeio (x); Amo (x). Ao contrário de uma crença, por exemplo, que é representada da seguinte forma: Acredito (Clinton é presidente). Retomando a questão que fizemos no início da sessão sobre filosofia da linguagem (“Como ϕ, de natureza específica N, pode influenciar Ω, de natureza M?”), Linguagem, mente e sociedade Vol. 12, 2019 28 www.marilia.unesp.br/filogenese podemos ver como Searle, em sua análise da intencionalidade, mostra como estados intencionais, de natureza mental, podem influenciar a realidade, de natureza primordialmente física. Vimos também que é a própria intencionalidade, como capacidade da mente, que permite que atos de fala não sejam meros atos fisiológicos e atuem no mundo exterior. Com essa compreensão da intencionalidade, veremos, a seguir, como estados intencionais, de natureza singular, individual (isto é, restritos a atos de indivíduos engajados em ações individuais, ao contrário da intencionalidade coletiva que investiga ações coletivas), pode atuar na realidade social, transformando-se em intencionalidade coletiva.2. 3. Intencionalidade coletiva e realidade social: Ao passar para a última etapa do pensamento de John Searle, concernente àquilo que ele denomina “ontologia social”, podemos perceber a interligação entre conclusões referentes à linguagem alcançadas na primeira fase de sua carreira filosófica e referentes à intencionalidade e outros aspectos da filosofia da mente em sua fase posterior com um interesse inédito e pouco analisado na filosofia analítica como um todo: a estrutura lógica da realidade social, onde a pergunta metafísica sobre o aquilo que existe (ou há) é analisada junto com a procura por sua estrutura básica, que permite o surgimento e manutenção de arranjos sociais cujo arcabouço deve ser descoberto pelo filósofo. Será neste contexto que o conceito de intencionalidade coletiva será desenvolvido. Seu papel será significativo: é a partir dela que podemos atribuir novo status a algum fenômeno, sendo que este status tem uma função que não pode ser desempenhada fazendo referência exclusiva às características físicas de tal fenômeno. Logo, esta atribuição de uma nova função cria um fato institucional, que depende de acordos humanos. Antes de partirmos para a análise deste conceito, precisaremos expor os aspectos mais fundamentais de sua teoria. A pergunta que guiará seu projeto não dirá mais respeito a como a consciência e fenômenos mentais podem exercer influência num mundo permeado inteiramente por partículas físicas em campos de força, mas sim às especificidades do mundo social: Como pode existir um mundo de dinheiro, propriedade, casamento, governos, eleições, jogos de futebol, festas de coquetéis e cortes num mundo que consiste inteiramente de partículas físicas em campos de força, e no qual algumas dessas partículas estão organizadas em sistemas que são animais biológicos e conscientes, como nós mesmos? (SEARLE, 1995, p. XI). Linguagem, mente e sociedade Vol. 12, 2019 29 www.marilia.unesp.br/filogenese Adicionemos, também, esses questionamentos: qual a razão de adicionar um novo tipo de intencionalidade, com a natureza da intencionalidade individual? Se a razão é a melhor compreensão dos fatos sociais, então significa dizer que a intencionalidade coletiva é a mera soma da intencionalidade individual? Ela tem os mesmos pressupostos ontológicos que a intencionalidade? E em quais casos encontramos intencionalidade coletiva? Primeiramente, a respeito da função da IC (intencionalidade coletiva), ela foi elaborada por Searle com o intuito de compreender um aspecto da nossa vida e prática social tanto quanto a intencionalidade foi criada com o objetivo de analisar a relação mente/mundo. Ela não se restringe a indivíduos, podendo ser observada no reino animal quando se vê animais caçando ou construindo algo juntos. É uma das pressuposições preliminares de Searle que não só seres humanos são capazes de intencionar coletivamente, mas também várias espécies de animais também têm esta capacidade. O que há de comum entre nossa IC e a dos animais é sua própria característica central, verificada quando eu faço algo (ou um animal faz algo) somente como parte do nosso fazer algo. Numa ação coletiva, ao ter a intenção de fazer minha parte também devo ter a intenção de fazer algo que faça parte do nosso fazer algo. Exemplos podem ser facilmente produzidos: numa sinfonia, o meu tocar o violino faz parte da nossa performance na sinfonia; se sou um goleiro num jogo de futebol, o meu defender o gol faz parte do nosso jogar (e, provavelmente, vencer o jogo); se sou um pintor e estou construindo uma casa com outros amigos, o meu pintar faz parte do nosso construir; etc. Searle não se restringe aos casos de cooperação, afirmando que a IC também está presente em casos de conflito, e.g. quando dois homens estão numa luta de boxe, sua luta não é uma mera luta, desordenada e sem regras. Eles devem estar engajados num comportamento coletivo de nível maior que aquele da simples cooperação. Apesar de um querer vencer o outro, seu comportamento ainda assim deve estar guiado pela cooperação e pelas regras do jogo. Ou seja, a IC é um tipo de intencionalidade com a forma “nós temos a intenção”, “nós acreditamos”, “nós esperamos”, etc, em que faço estas coisas somente como parte do nosso fazer essas coisas (intencionar, acreditar, esperar, etc). No entanto, esta formulação pode levar à crença que a IC é uma mera soma das intencionalidades individuais, afinal, o que é “nós temos a intenção?” a não ser a adição de várias “eu intenciono”? Esta, de acordo com Searle, é a visão filosófica tradicional, que entendeu a IC como sendo redutível à soma de intencionalidades. A justificativa disso é Linguagem, mente e sociedade Vol. 12, 2019 30 www.marilia.unesp.br/filogenese principalmente ontológica: o que existe são indivíduos com suas intencionalidades; portanto, ao engajarem num ato cooperativo, o que se deve obter são intencionalidades individuais, não intencionalidades coletivas. Por que isto? Será esta uma inferência razoável? Searle acreditaria na premissa, não na conclusão. De fato, a sociedade é composta por indivíduos e são eles que têm intencionalidade. Não há nenhum tipo de entidade metafísica coletiva que a tem, não existe nenhum espírito universal ou algum “nós” que acredita, intenciona, deseja, etc. Todavia, disto não se justifica acreditar que a IC possa ser reduzida. Na verdade, devemos acreditar, de acordo com Searle, numa forma primitiva e irredutível para IC, forma esta que esteja presente em mentes individuais. Assim, ele afirmará que a intencionalidade contida em mentes individuais quando engajadas em ações coletivas é “nós intencionamos”, “nós estamos fazendo tal e tal coisa”. Mesmo, assim, duas perguntas ainda podem ser feitas: qual a contradição em entender a IC como redutível; e “(...) como pode existir algo como a intencionalidade irredutível, coletiva?” (itálico do autor) (SEARLE, 1998, p. 111). Sobre a primeira pergunta, Searle apontará dois problemas: o primeiro diz respeito à impossibilidade lógica da redução, em que a soma de intencionalidades singulares produz uma hierarquia infinita de crenças. Isto é, mesmo que aceitemos que a IC seja redutível a intencionalidades singulares mais crenças mútuas, ainda assim o que se produzirá é um imbróglio interminável de crenças, onde eu intenciono fazer algo com a crença que você intenciona fazer algo, e você intencione com a crença de que eu intencione; e cada um acredita que o outro tem crenças sobre o outro, e crenças sobre as crenças dos outros, produzindo uma hierarquia de crenças. Assim, Searle dirá que “intencionalidade coletiva é um fenômeno biologicamente primitivo que não pode ser reduzido ou eliminado em favor de outra coisa” (SEARLE, 1995, p. 24). Acerca da segunda questão, afirma-se que a IC é possível por ela estar na mente de indivíduos. Como vimos, de acordo com Searle, não há mentes ou consciências coletivas, o que existe são mentes e consciências individuais; isto é, indivíduos existem. Esta exigência, chamada “individualismo metodológico”, não nos compromete com a ideia de que não possamos ter intenções da forma “nós intencionamos”, “nós desejamos”, “nós temos a intenção”, entre outras. Isto é, a IC é concebível porque não pressupõe ontologicamente entidades coletivas. Ela se adequa às exigências do individualismo metodológico. Em Searle (1990), o autor reitera como a IC pode ser um fenômeno primitivo: Linguagem, mente e sociedade Vol. 12, 2019 31www.marilia.unesp.br/filogenese Comportamento coletivo intencional é um fenômeno primitivo que não pode ser analisado como a soma de comportamento intencional individual; e intenções coletivas expressas na forma “nós intencionamos fazer tal e tal coisa” ou “nós estamos fazendo tal e tal coisa” também são fenômenos primitivos que não podem ser analisados em termos de intenções individuais expressas na forma “Eu intenciono fazer tal e tal coisa” ou “Estou fazendo tal e tal coisa”. A notação é S(p). O “S” representa o tipo de estado psicológico; o “p” representa o conteúdo proposicional, o conteúdo que determina as condições de satisfação (...). A pressuposição é: Toda intencionalidade, seja coletiva ou individual, requer um Background pré-intencional de capacidades mentais que não são representacionais (SEARLE, 1990, p. 401). Nesta intuição, vemos duas coisas: a preocupação com o estabelecimento da IC como fenômeno biológico primitivo, e em até que medida ela se ajusta ou se diferencia com relação à intencionalidade individual. O primeiro aspecto já foi demonstrado e um dos argumentos utilizados por Searle neste artigo é o mesmo que será utilizado posteriormente, isto é, que a redutibilidade da IC criará uma hierarquia infinita de crenças. Esta conclusão o levou a formular a primeira tese sobre a IC: “Há algo como o comportamento coletivo intencional que não é o mesmo que a soma do comportamento intencional individual” (idem, p. 402). Um argumento somente presente neste artigo, não verificado em outras obras, diz respeito aos efeitos de se tentar derivar uma intenção individual de intenções coletivas. Seguindo o exemplo de Searle, imaginemos que somos jogadores de um time de futebol americano e estamos tentando executar certa jogada. A intenção do time inteiro deve ser expressa por “Nós estamos executando tal jogada”. Tomemos esta jogada como sendo possível de ser executada somente quando o time todo está envolvido, isto é, quando o time a executa. Se tentarmos derivar esta intenção de membros individuais da equipe, o que encontraremos serão intenções individuais em fazer coisas distintas. O jogador na posição x intenciona fazer a jogada A; o jogador na posição y intenciona fazer B; e o jogador na posição z intenciona fazer C. Por conseguinte, se a tese da redutibilidade da IC estiver correta, a soma dessas intenções produzirá, no final, a intenção do time em executar a jogada? Searle alega que não: esta soma não resultará na intenção do time. A partir disso, Searle formula a segunda tese: “Nós-intenções não podem ser analisadas em termos de coleções de Eu-intenções, mesmo Eu-intenções suplementadas com crenças, incluindo crenças mútuas, sobre as intenções dos outros membros do grupo” (idem, p. 404). Linguagem, mente e sociedade Vol. 12, 2019 32 www.marilia.unesp.br/filogenese 2. 4 Críticas: Aproveitaremos este espaço para abordarmos, mesmo que de maneira rápida, algumas críticas à teoria de Searle. Com Fitzpatrick (2003), temos a crítica à premissa de Searle de que as “nós intenções” que os indivíduos têm devem estar limitadas às mentes individuais e devem existir independentemente da existência de outros indivíduos. Esta é, justamente, a premissa do internalismo searleano. Adicionada a ela, tem-se a premissa do individualismo metodológico, que afirma que a intencionalidade coletiva deve ser condizente com o fato de na sociedade só existirem indivíduos com suas mentes individuais. Com isso, segundo Fitzpatrick, o problema da teoria de Searle será o seguinte: Este internalismo com relação aos fatos sociais dá origem à conclusão que, mesmo que um indivíduo tenha uma “nós intenção”, aquele indivíduo nunca está certo se outros no coletivo putativo compartilham da mesma “nós intenção”, pois ele não tem como garantir se um dos outros também tem esta “nós intenção” (idem, p. 57). Além do mais, seguindo esta crítica, Fitzpatrick afirma que a teoria de Searle nos compromete com a ideia de que, se fatos relacionados à intencionalidade coletiva estão contidos na mente de cada sujeito individual, elimina-se a possibilidade “ (...) de alguma vez se estabelecer se algum fato social particular foi obtido ou não” (idem, p. 58), justamente por não fazermos referência a qualquer tipo de mente além do próprio indivíduo concernente. Se tal crítica estiver correta, devemos encontrar uma teoria que aceite uma maior coletividade sem se comprometer com uma mente coletiva hegeliana, como em Velleman (1997) ou em Stoutland (2008), que chega a conferir aos grupos sociais status de agentes genuínos com atitudes sociais que lhe são inscritas, e não aos indivíduos que compõem esses grupos. Um outro problema encontrado na teoria de Searle diz respeito à falta de explicação sobre como a intencionalidade coletiva pode conter certa propriedade C, que diz respeito à sua forma primitiva “nós intenções”, mas que não está contida no conceito de intencionalidade individual. Dizer que a IC se adequa à intencionalidade não é suficiente para explicar como essa propriedade pode surgir nas mentes de indivíduos empenhados em ações coletivas, ainda mais com a explicação de que a IC não é a soma de intenções individuais. Searle poderia recorrer ao conceito de emergência, segundo o qual, em sua formulação mais elementar: (...) há certos conjuntos compostos pelos constituintes A, B, C que permanecem em uma relação R entre si. Tais conjuntos compostos pelos Linguagem, mente e sociedade Vol. 12, 2019 33 www.marilia.unesp.br/filogenese tipos A, B, C com relação a R terão certas propriedades características; e que A, B, C são capazes de existir em outros tipos de conjunto em que a relação não é a do mesmo tipo que R; e que as propriedades características do conjunto R(A, B, C) não podem, mesmo na teoria, ser deduzidas do mais completo conhecimento das propriedades de A, B, e C isoladamente ou em relação com outros conjuntos que não são da forma R(A, B, C) (BROAD, 2002, p. 109). Ou seja, o emergentismo pretende providenciar uma formulação sobre como propriedades emergentes surgem a partir de outras entidades mais fundamentais, e que essas propriedades que surgem são, de alguma forma, novas e irredutíveis às entidades mais fundamentais. Searle poderia fazer uso dessa teoria – ou conjunto de teorias – para explicar como a IC surge sem ser a soma de intenções individuais, mas aqui, devido ao espaço, só podemos fazer referência ao aparente problema da teoria de Searle. 3. Conclusão Nesta seção, resgataremos as conclusões das etapas anteriores do trabalho para, no final, apresentarmos um desfecho apropriado para o trabalho. Primeiro, nosso intuito com esse trabalho foi de, através do conceito de IC, mostrar como Searle angariou analiticamente seus trabalhos na filosofia da linguagem, filosofia da mente e, por último, sua ontologia social. Começamos, portanto, antes de entrar na filosofia da linguagem, definindo a IC como uma forma primitiva mental “Nós intencionamos” localizada nas mentes individuais de pessoas engajadas em ações coletivas. Assim, quando indivíduo A se engaja numa ação coletiva X num conjunto n de indivíduos (desde que n≥2), ele não tem a crença individual “Eu intenciono X” que é somada às outras crenças individuais dos outros agentes presentes na ação coletiva, mas sim tem a crença “Nós intencionamos X”. A seguir, abordamos algumas de suas contribuições à filosofia da linguagem. Nesse ponto, vimos como a linguagem, através de atos de fala, não é somente um ato fisiológico, mas também pode atuar no mundo externo e físico, seja se adequando a eleou o alterando. Depois disso, vimos que sua teoria da intencionalidade postula que estados intencionais, de natureza mental, podem atuar no mundo externo, de natureza primordialmente física. Além disso, vimos que é a partir da intencionalidade que os atos de fala presentes em sua filosofia da linguagem podem fazer referência a objetos ou estados de coisa do mundo externo. Desse modo, temos dois aspectos a serem considerados: primeiro, observamos como Searle, seja no âmbito da linguagem ou da Linguagem, mente e sociedade Vol. 12, 2019 34 www.marilia.unesp.br/filogenese mente, postula, como vimos no início, como ϕ, de natureza específica N, pode influenciar Ω, de natureza M. No caso da linguagem, atos de fala, de natureza específica física ou fisiológica, podem, através da capacidade mental de intencionalidade, influenciar ou representar o mundo real, de natureza física. Ou seja, quebra-se o vácuo entre linguagem e mente. Segundo, vimos também como o mental, representado pela intencionalidade, pode atuar no físico. No entanto, sua teoria da intencionalidade, no momento, diz respeito somente a estados intencionais individuais, isto é, localizados em mentes individuais. Como, então, dar conta de explicar um mundo que não é mental nem físico, mas sim social, permeado por intencionalidade coletiva e coletividades? A solução adotada por Searle é utilizar sua teoria da intencionalidade e transportá-la para o mundo social. Estados intencionais têm forma primitiva coletiva “Nós p” (em que “p” é um estado intencional, por exemplo, intencionamos) e estão localizadas em mentes individuais. Ou seja, disso retira-se duas conclusões: a IC não é a soma de intenções individuais e nem está presente em mentes ou consciências coletivas. À vista disso, vemos como Searle integra a linguagem, a mente, e o social em sua teoria da intencionalidade coletiva. No geral, a teoria de Searle se preocupou, desde o início, em mostrar como X, de natureza M, influencia em Y, de natureza N. Com sua teoria dos atos de fala podemos ver como a linguagem atua na realidade; com sua filosofia da mente vemos como a intencionalidade permite com que a linguagem e a mente atuem na realidade; e com sua intencionalidade coletiva vemos como a mente e a linguagem - com sua intencionalidade subentendida – podem criar uma realidade social num mundo a princípio físico. Por fim, abordamos e identificamos alguns dos problemas da teoria de Searle relacionados à sua teoria da intencionalidade coletiva. Referências Bibliográficas AUSTIN, J. L. How to Do Things with Words: The William James Lectures delivered at Harvard University in 1955, (Eds. J. O. Urmson and Marina Sbisà), Oxford: Clarendon Press, 1962. BROAD, C. D. Mechanism and its alternatives. In: CHALMERS, David J (ORG.). Philosophy of mind: classical and contemporary readings. Oxford: Oxford University Press, 2002. 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The Ontology of Social Agency. Analyse & Kritik, V. 30, no. 2, 2008, pp. 533-551.