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Classes de Bens no Direito Civil


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DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL 
PROFESSOR LAURO ESCOBAR 
Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 11
AULA 03 
DOS BENS: Objeto do Direito 
(arts. 79 a 103, CC) 
 
��� Itens específicos previstos no edital que serão abordados nesta aula: 
Bens: das diferentes classes de bens. 
Subitens: Bens: Diferentes Classes de Bens. Conceito. Espécies. Classificação 
Geral: considerados em si mesmos; reciprocamente considerados; considerados 
em relação ao titular da propriedade; considerados quanto à possibilidade de 
comercialização. Bem de família legal e bem de família convencional. 
INTRODUÇÃO 
Como já sabemos, uma relação jurídica envolve três elementos: as 
pessoas, os bens e o vínculo. Enquanto no tema “pessoas” nós estudamos os 
sujeitos de direito, ou seja, quem pode ser considerado sujeito de direitos e 
deveres na ordem civil, no tema de hoje analisaremos o quê pode ser objeto 
do Direito. Duas palavras são usadas para isso: coisa e bem. E não há na 
doutrina uma unanimidade quanto à distinção entre os seus conceitos. 
Alguns autores conceituam coisa como tudo o que existe objetivamente 
no Universo (com a exclusão da pessoa natural) e que pode satisfazer a uma 
necessidade humana. Já bem é designado para a conceituação de uma coisa 
útil ao homem enquanto economicamente apreciável ou valorável e suscetível 
de apropriação. Desta forma coisa seria o gênero (tudo que existe na 
natureza) e bem a espécie (que proporciona ao homem uma utilidade, sendo 
apreciável e suscetível de apropriação). No entanto outros autores fornecem 
conceitos completamente inversos de bem e coisa. E ainda há os que afirmam 
que ambas as expressões simplesmente são sinônimas. O próprio Código não é 
uniforme, pois utiliza a expressão “bem” na Parte Geral e passa a utilizar 
“coisa” na Parte Especial, quando trata da propriedade. 
���Atenção ��� Mesmo com toda essa discussão doutrinária, a ESAF, na prova 
para MDIC (Analista de Comércio Exterior), realizada em 2012, considerou 
como correta a seguinte afirmação: “Coisas e bens são conceitos que não se 
confundem, embora a coisa represente espécie da qual o bem é gênero. A 
honra, a liberdade, a vida, entre outros, representam bens sem, no entanto, 
serem considerados coisas”. Houve recurso, porém a questão foi mantida... 
���Vamos então ficar com a expressão BENS, conceituando-os 
como sendo valores materiais ou imateriais que podem ser 
objeto de uma relação de direito. 
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CLASSIFICAÇÃO DOS BENS 
Definida a expressão que vamos usar e o seu conceito, vamos agora 
falar sobre sua classificação. A primeira delas não está prevista expressamente 
no Código Civil. Esta importante divisão é feita pela doutrina, classificando os 
bens em: 
 Corpóreos (sinônimos: materiais, tangíveis ou concretos): aqueles que 
possuem existência física; podem ser tocados e são visíveis, percebidos 
pelos sentidos (ex.: terrenos, edificações, joias, veículos, dinheiro, livros, 
etc.). 
 Incorpóreos (sinônimos: imateriais, intangíveis ou abstratos): aqueles 
que não existem fisicamente, pois possuem uma existência abstrata. No 
entanto podem ser traduzidos em dinheiro, sendo objeto de direito. Ex.: no 
caso de um programa de computador (software), o importante não é o CD 
ou o meio que o contém, mas sim a produção intelectual de quem 
elaborou o programa. Outro exemplo: ainda que dois produtos sejam 
idênticos, um consumidor pode decidir comprar de acordo com a marca do 
produto, pois esta lhe transmite maior sensação de confiança no produto. 
Muitas vezes o importante não é a característica material ou física do 
produto, mas sim a própria marca. Por isso é que as empresas investem na 
criação e desenvolvimento de uma marca, que pode ajudá-la a conquistar o 
consumidor e aumentar seus lucros. O mesmo ocorre com o nome de uma 
empresa. Outros exemplos: propriedade literária e/ou científica, direitos 
autorais, propriedade industrial (marcas de propaganda, logotipos, 
patentes de fabricação), concessões obtidas para a exploração de serviços 
públicos, fundo de comércio (ponto comercial), etc. 
Na prática, os bens corpóreos são objetos de contrato de compra e 
venda, enquanto os bens incorpóreos são objetos de contratos de cessão 
(transferência a outrem). Mas ambos podem integrar o patrimônio de uma 
pessoa. 
PATRIMÔNIO 
É o conjunto das relações jurídicas ativas e passivas (abrange bens, 
direitos e obrigações) de uma pessoa (natural ou jurídica), apreciável 
economicamente. Inclui-se a posse, os direitos reais, as obrigações e as ações 
correspondentes. O patrimônio é composto de elementos ativos ou positivos 
(bens e direitos) e passivos ou negativos (obrigações). Patrimônio positivo é 
aquele em que o ativo é maior que passivo (falamos em solvente). O 
patrimônio do devedor responde por suas dívidas e constitui garantia geral 
dos credores. Patrimônio negativo (insolvente) é aquele em que as dívidas 
superam os bens e direitos. 
PATRIMÔNIO 
Bens e Direitos (a receber) Obrigações (a serem pagas) 
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CLASSIFICAÇÃO LEGAL DOS BENS 
• Bens considerados em si mesmos. 
• Bens reciprocamente considerados. 
• Bens considerados em relação ao titular do domínio. 
• Bens considerados quanto à possibilidade de alienação (coisas fora do 
comércio). 
Cada um desses itens possui uma vasta subclassificação. Vejamos 
cada uma delas de forma minuciosa. 
I. BENS CONSIDERADOS EM SI MESMOS 
I.1 – BENS QUANTO À MOBILIDADE (arts. 79/84, CC) 
A) BENS IMÓVEIS (arts. 79/81, CC) 
São aqueles que não podem ser removidos ou transportados de um lugar 
para o outro sem a sua destruição ou alteração em sua substância. Ocorre que 
com avanço da engenharia e da ciência em geral esse conceito perdeu parte de 
sua força. Atualmente há modalidades de imóveis que não se amoldam 
perfeitamente a este conceito (ex.: edificações que, separadas do solo, 
conservam sua unidade, podendo ser removida para outro local – arts. 81, I e 
83, CC). Os bens imóveis também são chamados de “bens de raiz” e podem 
ser divididos em: 
1. Por Natureza (ou por essência)  é o solo (terreno) e tudo quanto 
se lhe incorporar naturalmente (árvores, frutos pendentes, etc.), mais 
adjacências (espaço aéreo e subsolo). Alguns autores entendem que apenas o 
solo seria bem imóvel por natureza. Os acessórios e as adjacências seriam 
bens imóveis por acessão natural. 
O art. 1.229, CC dispõe que a propriedade do solo abrange a do espaço 
aéreo e a do subsolo correspondente em altura e profundidade úteis ao seu 
exercício. Quem compra um sítio é o proprietário do subsolo? Resposta para o 
Direito Civil: SIM!! O proprietário do solo é também proprietário do subsolo (e 
do espaço aéreo), especialmente para construção de passagens, garagens 
subterrâneas, porões, adegas, etc. No entanto esta regra pode sofrer algumas 
limitações. Pelo art. 176, CF/88, as jazidas, os recursos minerais e hídricos, 
embora sejam considerados como bens imóveis, constituem propriedade 
distinta da do solo, para efeito de exploração ou aproveitamento, ficando sob o 
domínio (propriedade) da União. Lógico que é difícil alguém comprar um 
terreno e nele “achar” uma mina de ouro ou de diamantes ou mesmo um 
lençol petrolífero. No entanto se isso ocorrer, esta pessoa não será o “dono” 
deste recurso mineral. 
2. Por Acessão Física, industrial ou artificial (acessão quer dizer 
aumento, acréscimo ou aderência de uma coisa a outra)  trata-se de tudo 
quanto o homem incorporar permanentemente (o que não significa 
eternamente) ao solo, não podendo removê-lo sem destruição, modificação ou 
dano. Abrange os bens móveis que, incorporados ao solo pelo trabalho do 
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homem, passam a ser bens imóveis. Exemplos clássicos genéricos: 
construções e plantações. Ex.: um caminhão de tijolos, cimento, caibros, etc. 
são bens móveis; quando se realiza uma construção, sendo incorporados ao 
solo pela aderência física, passam a ser imóveis, pois não podem ser retirados 
sem causar dano à construção onde estão. Outros exemplos: sementes 
lançadas ao solo ou as plantações (café, cana, etc.), as construções de uma 
forma geral (edifícios, casas, pontes, viadutos, etc.) e seus acessórios (ex.: 
piscina, garagem). Nos termos do art. 81, CC, não perdem o caráter de 
imóvel (ou seja, continuam sendo imóveis): 
a) edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, 
forem removidas para outro local (ex.: “casa pré-fabricada” transportada de 
uma localidade para outra). 
b) materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se 
reempregarem (telhas retiradas de uma casa para reforma do telhado, sendo 
reempregado posteriormente). 
3. Por Acessão Intelectual (ou por destinação do proprietário)  são 
os bens móveis que aderem a um bem imóvel pela vontade do dono, para 
dar maior utilidade ao imóvel (a coisa deve ser colocada a serviço do imóvel e 
não da pessoa). Trata-se de uma ficção jurídica. Ex.: um trator destinado a 
uma melhor exploração de propriedade agrícola, máquinas de uma fábrica 
têxtil, para aumentar a produtividade da empresa, veículos, animais e até 
objetos de decoração de uma residência. O Código Civil atual não acolhe mais 
essa classificação em relação a bens imóveis. Seguindo a doutrina moderna 
sobre o tema, o Código qualifica esses bens como pertenças, onde a coisa 
deve ser colocada a serviço do imóvel e não da pessoa, constituindo, portanto, 
a categoria de bens acessórios (veremos adiante). Vejam que a imobilização 
não é definitiva neste caso; o bem poderá voltar a ser móvel, por mera 
declaração de vontade quando não for mais usá-lo para fim a que se 
destinava. 
4. Por Disposição Legal  são bens que são considerados imóveis 
somente porque o legislador assim resolveu enquadrá-los (ficção jurídica), 
possibilitando, como regra, receber maior segurança e proteção jurídica nas 
relações que os envolve. São eles: 
 Direito à sucessão aberta. Falecendo uma pessoa, mesmo que a 
herança seja formada apenas por bens móveis, o direito à sucessão será 
considerado como um bem imóvel. Ex.: uma pessoa faleceu e deixou um 
carro, uma joia e dez mil reais em uma conta-poupança. É aberto o processo 
de inventário. O conjunto dos bens deixados pelo falecido (de cujus) é 
chamado de espólio. E este tem a natureza de bem imóvel por força de lei. 
Assim, o que se considera imóvel não é o direito aos bens que compõe a 
herança, mas sim o direito à herança como uma unidade. 
 Direitos reais sobre os imóveis (ex.: direito de propriedade, de 
usufruto, uso, superfície, habitação, servidão predial, enfiteuse, etc.). A lei, 
para dar maior segurança às relações jurídicas, trata os direitos reais sobre 
bens imóveis com se imóveis fossem. Encaixam aqui também as ações que 
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asseguram os bens imóveis, como uma ação reivindicatória da propriedade, 
hipotecária, etc. 
 Penhor agrícola e as ações que o asseguram. 
 Jazidas e as quedas d’água com aproveitamento para energia 
hidráulica são consideradas bens distintos do solo onde se encontram (arts. 
20, inciso IX e 176, CF/88). 
B) BENS MÓVEIS (arts. 82/84, CC) 
São aqueles que podem ser removidos, transportados, de um lugar 
para outro, por força própria ou estranha, sem alteração da substância ou da 
destinação econômico-social. Podemos classificá-los em: 
1) Móveis por Natureza  são os bens que podem ser transportados 
de um local para outro sem a sua destruição por força alheia ou que possuem 
movimento próprio. Força alheia: são os bens móveis propriamente ditos 
(carro, cadeira, livro, joias, etc.). Força própria (suscetíveis de movimento 
próprio): são os semoventes, ou seja, os animais de uma forma geral (bois, 
cavalos, carneiros, etc.). 
���Observações ��� 
Os materiais destinados à construção enquanto não forem empregados 
nesta construção, ainda são considerados como bens móveis. Materiais 
provenientes de demolição e que não serão reempregados, perdem a 
qualidade de imóvel e passam a ser bens móveis (art. 84, CC). Ex.: comprei 
um “milheiro de tijolos”; enquanto eu não empregar estes tijolos na obra eles 
são bens móveis. Após a construção passam a ser imóveis. Caso ocorra uma 
demolição e eles não sejam reempregados em outra construção voltam a ser 
móveis. Se a intenção é reempregá-los a seguir em outra construção, não 
perdem o caráter de imóveis. 
2) Móveis por Antecipação  a vontade humana pode mobilizar bens 
imóveis em função da sua finalidade econômica. Ex.: uma árvore é um bem 
imóvel; no entanto ela pode ser plantada especialmente para corte futuro 
(fábrica de papel, transformação em lenha, etc.). Portanto, embora seja 
fisicamente um imóvel ela tem uma finalidade última como bem móvel; ainda 
que temporariamente imóvel isto não lhe retira o seu caráter de bem móvel, 
em razão de sua finalidade. Outros exemplos: Os frutos de um pomar que 
ainda estão no pé, mas destinados à venda (safra futura); pedras e metais 
aderentes ao imóvel, etc. 
3) Móveis por Determinação Legal  O art. 83, CC considera como 
bens móveis para efeitos legais: 
a) as energias que tenham valor econômico – a energia elétrica, 
embora não seja um bem corpóreo, é considerada pela lei como sendo um 
bem móvel. Observem que o art. 155, §3° do Código Penal também a equipara 
com um bem móvel, podendo ser objeto do crime de furto (ex.: desvio do 
medidor, quando a corrente passa do fornecedor ao consumidor – trata-se do 
famoso “gato” ou “gambiarra”). Notem que a lei menciona “energias”, pois não 
existe apenas a energia elétrica. 
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b) direitos reais sobre bens móveis e as ações correspondentes (ex.: 
direito de propriedade e de usufruto sobre bens móveis, etc.). 
c) direitos pessoais de caráter patrimonial e as respectivas ações. 
d) ainda incluem-se: direitos autorais (art. 3° da Lei n° 9.610/98), 
propriedade industrial (direitos oriundos do poder de criação e invenção da 
pessoa), quotas e ações de capital em sociedades, etc. 
���Atenção ��� Os navios e aeronaves são bens móveis ou imóveis? A 
doutrina diz que eles são bens móveis sui generis. Apesar de serem 
fisicamente bens móveis (pois podem ser transportados de um local para 
outro), são tratados pela lei como imóveis, necessitando de registro especial 
e admitindo hipoteca. O navio tem nome e o avião marca, possuindo 
identificação e individualização próprias. Ambos têm nacionalidade. Podem ter 
projeção territorial no mar e no ar (território ficto). Alguns autores os 
consideram como quase pessoa jurídica, no sentido de se constituírem num 
centro de relações e interesses, como se fossem sujeitos de direitos, embora 
não tenham personalidade jurídica. 
 Importância prática na distinção entre Imóveis X Móveis 
Os bens imóveis se distinguem dos móveis pela: forma de aquisição da 
propriedade, necessidade ou não de outorga, prazos de usucapião e os direitos 
reais. Vejamos: 
1) Formas de aquisição da propriedade 
A principal forma de se adquirir a propriedade dos bens móveis é com a 
tradição. Ou seja, em uma compra e venda de bens móveis, somente com a 
entrega destes é que se adquire a sua propriedade. Já os bens imóveis são 
adquiridos com o Registro ou transcrição do título da escritura pública no 
Registro de Imóveis (art. 1.245, CC). Enquanto não houver o registro do título, 
o vendedor continua sendo o proprietário do imóvel. 
2) Outorga 
Os bens imóveis não podem servendidos, doados ou hipotecados por 
pessoa casada sem a outorga do outro cônjuge, exceto se o regime de 
bens escolhido pelo casal for o da separação absoluta de bens (art. 1.647, CC). 
Já os bens móveis não necessitam dessa outorga. A outorga pode ser: 
• Marital  o marido concede à mulher, ou seja, o bem pertence à 
mulher e o marido assina também os documentos anuindo na venda do 
imóvel. 
• Uxória  a mulher concede ao homem, ou seja, a mulher assina a 
documentação para a venda do imóvel, que pertence ao marido (uxor – 
em latim quer dizer mulher casada). 
���Concluindo. Um bem será vendido. Trata-se de um bem imóvel? –Sim! 
Trata-se de proprietário casado em regime de bens que não seja separação 
total de bens? –Sim! Logo essa pessoa irá necessitar da outorga (ou vênia) 
conjugal (uxória ou marital). 
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3) Usucapião 
Tanto os bens imóveis quanto os móveis podem ser objeto de usucapião. 
O que vai diferenciar é o prazo para que isso ocorra. Os prazos para se adquirir 
a propriedade imóvel por usucapião são, em regra, maiores. 
A) Bens Imóveis 
1) Usucapião Extraordinária 
• 15 anos – sem justo título, sem boa-fé. 
• 10 anos – sem justo título, desde que resida no local ou tenha 
realizado obras produtivas. 
2) Usucapião Ordinária 
• 10 anos – com título e boa-fé. 
• 05 anos – com título, boa-fé, adquirido onerosamente, desde 
que resida no local ou tenha realizado investimento de interesse 
social e econômico. 
B) Bens Móveis 
1) Usucapião Extraordinária – sem justo título →→→ 05 anos. 
2) Usucapião Ordinária – com justo título e boa-fé →→→ 03 anos. 
Lembrando que justo título é definido como sendo o ato jurídico 
destinado a habilitar uma pessoa a adquirir o domínio de uma coisa, mas que 
por algum motivo acabou não produzindo efeito. Na boa-fé o possuidor está 
convicto que a sua posse não prejudica ninguém e desconhece eventuais vícios 
que lhe impedem a aquisição do domínio. A Constituição Federal (e o próprio 
Código Civil) estabelecem outras formas de usucapião de bens imóveis. 
Confiram: arts. 183 e 191, CF/88. 
4) Direitos Reais sobre coisa alheia 
• Bens imóveis  regra →→→ hipoteca. 
• Bens móveis  regra →→→ penhor. 
I.2 – BENS QUANTO À FUNGIBILIDADE (art. 85, CC) 
A) INFUNGÍVEIS 
São os bens que possuem alguma característica especial, que os tornam 
distintos dos demais, não podendo ser substituídos por outros, mesmo que 
da mesma espécie, qualidade e quantidade. São bens considerados em sua 
específica individualidade, pois, de alguma forma, estão devidamente 
personalizados. Ex.: imóveis de uma forma geral, veículos, um quadro famoso, 
etc. 
B) FUNGÍVEIS 
São os bens móveis que podem ser substituídos por outros da mesma 
espécie, qualidade e quantidade. São as coisas que se contam, se medem ou 
se pesam e não se consideram objetivamente como individualidades. Ex.: uma 
saca de arroz, uma resma de papel, gêneros alimentícios de uma forma geral, 
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etc. Lembrando que o dinheiro é o bem fungível por excelência. Trata-se do 
mais constante objeto nas obrigações de dar. 
���Atenção ��� 
-Os bens imóveis são infungíveis. 
-Os bens móveis podem ser fungíveis ou infungíveis. 
Explicando. Os bens imóveis são personalizados (há uma escritura, 
possuem um registro, um número, etc.), daí serem eles infungíveis, pois 
estão individualizados. Excepcionalmente é possível que sejam tratados como 
fungíveis. Ex.: devedor se obriga a fazer o pagamento por meio de três lotes 
de terreno, sem que haja a precisa individualização deles; o imóvel nesse caso 
não integra o negócio pela sua essência, mas pelo seu valor econômico. 
Já os bens móveis, como regra, são fungíveis, mas em alguns casos 
podem ser considerados como infungíveis. Ex.: um selo de carta, como regra é 
fungível. Mas um “selo raro” é infungível, pois se destina a colecionadores. 
Outros: uma moeda rara, o cavalo de corrida Furacão, um quadro pintado por 
Renoir, etc. Um veículo automotor é considerado como um bem infungível, 
pois possui número de chassis, número de motor, etc., personalizando e 
diferenciando dos demais. 
A fungibilidade pode ser da própria natureza do bem ou da vontade 
manifestada pelas partes. Ex.: uma cesta de frutas é fungível, mas pode se 
tornar infungível se ela for emprestada apenas para ornamento de uma festa 
(chamamos esta hipótese de: comodatum ad pompam vel ostentationem) para 
ser devolvida posteriormente, intacta. Outro: como regra um livro pode ser um 
bem fungível. Mas se nele contiver uma dedicatória ou estiver autografado 
pelo autor, este fato faz com que ele se torne único. 
Uma obrigação de fazer também pode ser infungível ou fungível. Ex.: 
contrato o famoso pintor “Z”, para pintar um quadro; percebam que a atuação 
de “Z”, neste caso, é personalíssima, pois ele foi contratado tendo-se em vista 
suas habilidades especiais. Portanto trata-se de uma obrigação infungível. Já a 
pintura de um muro que foi pichado, ou a troca da resistência de um chuveiro 
elétrico são exemplos de obrigações fungíveis, pois não requer uma habilidade 
excepcional para o seu cumprimento, podendo ser realizada por qualquer 
pessoa. 
 Consequências práticas da fungibilidade 
• A diferença básica entre a locação, o comodato e o mútuo (que são 
espécies de contratos de empréstimo) está na sua fungibilidade. Enquanto o 
mútuo é um contrato que se refere ao empréstimo apenas de coisas fungíveis, 
ou seja, o devedor pode devolver outra coisa, desde que seja igual, o 
comodato é um contrato de empréstimo (gratuito) de coisas infungíveis. E a 
locação também é um empréstimo de bens infungíveis, só que oneroso. 
Nestes dois últimos contratos a pessoa deve devolver o mesmo bem. 
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• Outra consequência: o credor de coisa infungível não pode ser obrigado 
a receber outra coisa, mesmo que esta seja mais valiosa (art. 313, CC). Isto é 
o credor tem o direito de receber a coisa exata que foi pactuada. 
• Outro efeito: a compensação legal (isto é, “A” deve para “B”, mas “B” 
também deve para “A”) efetua-se entre dívidas líquidas, vencidas e de coisas 
fungíveis entre si. Ou seja, dinheiro se compensa com dinheiro; café se 
compensa com café; feijão se compensa com feijão, etc. 
I.3 – BENS QUANTO À CONSUNTIBILIDADE (art. 86, CC) 
A) CONSUMÍVEIS 
São bens móveis, cujo uso normal importa na destruição imediata da 
própria coisa. Admitem um uso apenas. Ex.: gêneros alimentícios, bebidas, 
lenha, cigarro, giz, dinheiro, gasolina, etc. 
���Observação. Há bens que são consumíveis, conforme a destinação que o 
homem lhes dá. Ex.: os livros, em princípio, são bens inconsumíveis, pois 
permitem usos reiterados. Mas expostos numa livraria são considerados como 
consumíveis, pois a destinação é a venda (e o vendedor não pode vender a 
mesma coisa para duas pessoas). Observem que o art. 86, CC possui a 
seguinte redação: são consumíveis os bens móveis cujo uso importa destruição 
imediata da própria substância, sendo também considerados tais os 
destinados à alienação. 
B) INCONSUMÍVEIS 
São os que proporcionam reiterados usos, permitindo que se retire 
toda a sua utilidade, sem atingir sua integridade. Ex.: roupas de uma forma 
geral, automóvel, casa, etc., ainda que haja possibilidade de sua destruição 
em decorrência do tempo. 
Quando alguém empresta algo (ex.: frutas) para uma exibição, devendo 
restituir o objeto, o bem permanece inconsumível até a sua devolução (a 
doutrina chama isso de ad pompam vel ostentationem). A consuntibilidade não 
decorre propriamente da natureza do bem, mas sim da sua destinação 
econômico-jurídica. Assim, o usufruto somente pode recair sobrebens 
inconsumíveis. Se for instituído sobre bens fungíveis, é chamado pela doutrina 
de quase-usufruto ou usufruto impróprio. 
 Não confundir fungibilidade com consuntibilidade. Em geral um bem 
fungível é também consumível (ex.: gêneros alimentícios). No entanto um bem 
pode ser consumível e ao mesmo tempo infungível (ex.: partitura de um 
compositor famoso colocada à venda; uma garrafa de um vinho famoso e 
raro). Por outro lado, um bem pode ser também inconsumível e fungível (ex.: 
uma ferramenta ou um talher). 
I.4 – BENS QUANTO À SUA DIVISIBILIDADE (arts. 87/88, CC) 
A) DIVISÍVEIS 
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São os bens que podem se fracionar em porções reais e distintas, 
formando cada qual um todo perfeito, sem alteração em sua substância, 
diminuição considerável de valor, ou prejuízo do uso a que se destinam. Ex.: 
uma folha de papel, uma quantidade de arroz, milho, etc. Se repartirmos uma 
saca de arroz, cada metade conservará as mesmas qualidades do produto. 
Quanto à expressão “diminuição considerável de valor” é interessante notar o 
seguinte exemplo: 05 pessoas herdaram um diamante de 50 quilates. Esta 
pedra preciosa pode ser dividida em 05 partes iguais (05 diamantes de 10 
quilates cada). No entanto esta divisão fará com que haja uma diminuição 
considerável no valor do bem, ou seja, o brilhante inteiro terá muito mais valor 
do que os cinco pedaços reunidos. Por isso esse bem é considerado indivisível 
(ao menos em tese). 
B) INDIVISÍVEIS 
São os bens que não podem ser fracionados em porções, pois deixariam 
de formar um todo perfeito. Ex.: uma joia, um anel, um par de sapatos, etc. 
No entanto a indivisibilidade pode ser subclassificada em: 
• por natureza  se o bem for dividido perde a característica do todo. Ex.: 
um cavalo, um relógio, um quadro, etc. 
• por determinação legal  alguns bens podem ser divididos fisicamente. 
No entanto a lei que os torna indivisíveis. O exemplo clássico é o da 
herança. Antes da partilha ela é indivisível por determinação legal. O art. 
1.791, CC determina que a herança defere-se como um todo unitário, ainda 
que vários sejam os herdeiros. E continua o parágrafo único: até a partilha, 
o direito dos coerdeiros, quanto à propriedade e posse da herança, será 
indivisível, e regular-se-á pelas normas relativas ao condomínio. Outros 
exemplos: o módulo rural (art. 65 do Estatuto da Terra), os lotes urbanos, a 
hipoteca, etc. 
• por vontade das partes (convencional)  um bem fisicamente é divisível, 
mas pode se tornar indivisível por força de um contrato. Ex.: entregar 100 
sacas de café. Em tese é uma obrigação divisível (eu poderia entregar 50 
sacas hoje e 50 na semana que vem). Mas pode ser pactuado no contrato a 
indivisibilidade da prestação: ou seja, todas as 100 sacas devem ser 
entregues hoje. 
I.5 – BENS QUANTO À INDIVIDUALIDADE (arts. 89/91, CC) 
A) BENS SINGULARES 
São singulares (ou individuais) os bens que, embora possam estar 
reunidos, são considerados de modo individual, independentemente dos 
demais. Ex.: um cavalo, uma casa, um carro, uma joia, um livro, etc. Os bens 
singulares podem ser classificados em: a) singulares simples formam um 
todo homogêneo, cujas partes componentes estão unidas em virtude da 
própria natureza ou da ação humana, sem que seja necessária qualquer 
regulamentação (pedra, cavalo, árvore, folha de papel, etc.); b) singulares 
compostos são os que as partes heterogêneas estão ligadas artificialmente 
pelo engenho humano; na realidade são vários objetos independentes que se 
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unem em um só todo, sem que desapareça a condição jurídica de cada uma 
das partes. Ex.: materiais de construção. Uma porta ou uma janela, embora 
estejam ligados à edificação de uma casa, continuarão assim a ser chamados. 
Quando vendemos a casa é obvio que está subentendido que a porta e a janela 
acompanharão a venda. Outros exemplos: navio ou avião, carro, relógio, etc. 
B) BENS COLETIVOS OU UNIVERSAIS 
Universalidade é a pluralidade de bens singulares autônomos que, 
embora ainda conservem sua identidade, são consideradas em seu conjunto, 
formando um todo único (universitas rerum), passando a ter individualidade 
própria, distinta da dos seus objetos componentes. Trata-se de um gênero e 
que tem como espécies: 
a) Universalidade de Fato (art. 90, CC)  é a pluralidade de bens 
singulares, corpóreos e homogêneos, ligados entre si pela vontade humana. 
Devem pertencer à mesma pessoa e ter destinação unitária (fim específico). 
Ex.: biblioteca (livros), pinacoteca (quadros), rebanho (bovino, ovino, suíno, 
caprino, etc.), hemeroteca (jornais e revistas), alcateia (lobos), cáfila 
(camelos), panapaná (borboletas), cambada (porção de objetos enfiados; por 
extensão passou a significar o coletivo de caranguejos), etc. 
���Observação. Os bens reunidos para a formação da universalidade de fato 
não perdem a sua autonomia e podem ser objeto de relações jurídicas 
próprias. Ou seja, cada bem pode ser objeto de relação jurídica 
individualizada ou, a critério do proprietário, ser negociado coletivamente. Ex.: 
pode-se vender uma vaca do rebanho ou o rebanho inteiro. 
b) Universalidade de Direito (art. 91, CC)  é a pluralidade de bens 
singulares, corpóreos e heterogêneos ou até incorpóreos, a que a norma 
jurídica, com a intenção de produzir certos efeitos, dá unidade; é o complexo 
de relações jurídicas de uma pessoa, dotadas de valor econômico. Exemplo: o 
patrimônio, que é o conjunto de relações ativas e passivas (bens, direitos, 
obrigações) de uma pessoa (natural ou jurídica), incluindo a posse, os direitos 
reais, as obrigações e as ações correspondentes. Outros exemplos: a herança 
(ou espólio) é uma universalidade de bens que passa do falecido aos seus 
sucessores no exato momento de sua morte, a massa falida, etc. 
 Observações 
01) Na universalidade de fato a destinação é dada pela vontade humana; na 
universalidade de direito a destinação é dada pela norma jurídica. 
02) Nas coisas coletivas, se houver o desaparecimento de todos os indivíduos, 
menos um, ter-se-á a extinção da coletividade, mas não o direito sobre o que 
sobrou. 
��� Atenção ��� ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL 
Trata-se do conjunto de bens corpóreos e/ou incorpóreos organizados 
para exercício da atividade profissional, por empresário, ou por sociedade 
empresária, visando torná-la mais eficiente para a obtenção de lucros (art. 
1.142, CC). Alguns autores também o chamam de fundo de comércio, azienda, 
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negócio empresarial, fundo de empresa, etc. Possui valor patrimonial e pode 
ser realizado em dinheiro. Seus elementos podem ser vendidos em conjunto 
ou isoladamente. Possui as seguintes características: conjunto de bens; 
ligados por força da vontade humana; pertencentes à mesma pessoa; 
destinação unitária, que é o exercício da empresa (atividade empresarial). 
A doutrina majoritária entende que: 
A) Para fins de alienação, o estabelecimento é considerado um bem 
móvel. Isso já caiu em algumas provas (principalmente na FGV)!! Pode ser 
transferido por escritura pública ou particular, não se exigindo outorga 
conjugal (art. 978, CC). O estabelecimento não é sujeito de direitos e não tem 
personalidade jurídica. 
 B) O estabelecimento empresarial é exemplo de universalidade de 
fato (e não de direito), na medida em que sua unidade não decorre da lei 
(como ocorre na massa falida e na herança), mas da vontade do 
empresário para uma finalidade específica, que também teria liberdade para 
reduzir ou aumentar o estabelecimento, alterar o seu destino, etc., não se 
confundindo com o patrimônio pessoal do empresário. Recentementea 
Fundação Carlos Chagas, em um concurso para o ISS/SP elaborou uma 
questão assim: “O estabelecimento é definido como o complexo de bens 
organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade 
empresária. A partir dessa definição, extrai-se que a natureza jurídica do 
estabelecimento é a de: (resposta dada como correta): (A) universalidade de 
fato, entendida como conjunto de bens pertencentes à mesma pessoa, com 
destinação unitária”. No entanto a professora Maria Helena Diniz, muito 
consultada para elaboração de questões concursos, entende que se trata de 
uma universalidade de direito, em face do art. 1.143, CC: “Pode o 
estabelecimento ser objeto unitário de direitos e de negócios jurídicos, 
translativos ou constitutivos, que sejam compatíveis com sua natureza” (Curso 
de Direito Civil Brasileiro, Ed. Saraiva, 26ªª ª edição, 2009, pág. 356). 
II. BENS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS (arts. 92/97, CC) 
Esta forma de classificação é feita a partir de uma comparação entre os 
bens. O que um bem é em relação a outro bem. Segundo esta classificação os 
bens podem ser principais ou acessórios. 
A) PRINCIPAIS 
São os que existem por si, abstrata ou concretamente, 
independentemente de outros; exercem função e finalidades autônomas. Ex.: 
o solo, um crédito, uma joia, etc. 
B) ACESSÓRIOS 
São aqueles cuja existência pressupõe a existência de outro bem; sua 
existência e finalidade dependem de um bem principal. Ex.: um fruto em 
relação à árvore, uma árvore em relação ao solo, um prédio em relação ao 
solo, os juros, etc. Esta regra também se aplica aos contratos. Ex.: a fiança 
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somente existe como forma de garantia se houver outro contrato principal, 
como a locação; a multa contratual em relação ao contrato em si, etc. 
Regra →→→ o bem acessório segue o principal (salvo 
disposição especial em contrário) – acessorium sequitur suum 
principale. 
 Observação. Esta regra não está mais explícita no atual Código Civil. No 
entanto a doutrina é unânime em considerar que tal regra ainda prevalece em 
nosso Direito. Por essa razão, quem for o proprietário do principal, em regra, 
será também o do acessório. Outro efeito: a natureza do principal será 
também a do acessório. Ex.: se o solo é imóvel, a árvore nele plantada 
também o será. Trata-se do princípio da gravitação jurídica (um bem atrai 
o outro para sua órbita, comunicando-lhe seu próprio regime jurídico: o 
principal atrai o acessório; o acessório segue o principal). Isto também se 
aplica aos contratos. Ex.: se um contrato de locação (principal) for considerado 
nulo, nula também será considerada a fiança, posto que ela é acessória em 
relação ao contrato de locação (já o contrário não é verdadeiro – ou seja, se a 
fiança for considerada nula, o contrato principal pode continuar a produzir 
efeitos). 
São Bens Acessórios: 
1) Frutos  são as utilidades que a coisa principal produz periodicamente; 
nascem e renascem da coisa e sua percepção mantém intacta a substância do 
bem que as gera. Os frutos podem ser classificados em: 
a) Naturais: são os que se desenvolvem pela própria força orgânica da 
coisa (ex.: frutas, crias de animais, ovos, etc.). 
b) Industriais: são os que surgem em razão da atividade humana (ex.: 
produção de uma fábrica). 
c) Civis: são os rendimentos produzidos pela coisa, em virtude sua 
utilização por outrem que não o proprietário; é a cessão remunerada da 
coisa (ex.: juros de caderneta de poupança, aluguéis, dividendos ou 
bonificações de ações, etc.). 
Os frutos ainda podem ser classificados, quanto ao seu estado em: 
pendentes (ainda estão ligados fisicamente à coisa que os produziu, mas 
podem ser destacados, sem nenhum risco para a inteireza da coisa); 
percebidos ou colhidos (são os já destacados ou colhidos da coisa principal da 
qual se origina); estantes (colhidos e armazenados em depósitos; 
acondicionados para a venda); percipiendos (podem ser colhidos, mas ainda 
não o foram) e consumidos (já colhidos e não existem mais – utilizados ou 
alienados). 
2) Produtos  são as utilidades que se retiram da coisa, alterando a sua 
substância, com a diminuição da quantidade até o seu esgotamento. E isto é 
assim porque eles não se reproduzem. Ex.: pedras de uma pedreira, minerais 
de uma jazida, carvão mineral, lençol petrolífero, etc. 
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���Atenção ��� Os frutos e os produtos, mesmo que não separados do bem 
principal, já podem ser objeto de negócio jurídico (art. 95, CC). Ex.: posso 
vender uma possível safra de laranjas que ainda estão ligadas ao principal, por 
ser prematura a sua colheita no momento do contrato. 
 Frutos X Produtos 
Os frutos se renovam quando são utilizados ou separados da coisa, 
não alterando a substância da coisa principal. Ex.: colhendo as frutas de um 
pomar, as árvores não diminuem e continuam produzindo nas próximas 
safras. Já os produtos se exaurem com o uso, sendo que a extração do 
produto determina a progressiva diminuição da coisa principal. Ex.: a 
extração do minério de ferro de uma mina faz com que a mesma vá 
diminuindo a produção, até o seu esgotamento. 
3) Rendimentos  na verdade eles são os próprios frutos civis ou 
prestações periódicas em dinheiro, decorrentes da concessão do uso e gozo de 
um bem (ex.: aluguel). 
4) Produtos orgânicos da superfície da terra (ex.: vegetais, animais, etc.). 
5) Obras de aderência  obras que são realizadas acima ou abaixo da 
superfície da terra (ex.: uma casa, um prédio de apartamentos, o metrô, 
pontes, túneis, viadutos, etc.). 
6) Pertenças  segundo o art. 93, CC, são os bens que, não constituindo 
partes integrantes (como os frutos, produtos e benfeitorias), se destinam, de 
modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro. Ex.: a 
moldura de um quadro que ornamenta uma casa de eventos, trator e animais 
destinados a melhor explorar uma propriedade agrícola, máquinas de uma 
fábrica, órgão de uma igreja, ar-condicionado em um escritório, etc. 
���ATENÇÃO!! Esse tema é muito exigido em concursos, dada a sua 
peculiaridade. Vamos então aprofundá-lo. 
Pertença vem do latim pertinere (pertencer, fazer parte de). Trata-se de 
um bem acessório, pois depende economicamente de outra coisa. Mas, 
apesar de ser acessório, conserva sua individualidade e autonomia, tendo com 
a principal apenas uma subordinação econômico-jurídica. É necessário, para 
caracterizá-la, o vínculo intencional duradouro (estável), estabelecido por 
quem faz uso da coisa e colocado a serviço da utilidade do principal. Segundo 
a regra do art. 94, CC os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem 
principal não abrangem as pertenças, salvo se o contrário resultar da lei ou 
da vontade das partes. Assim, em relação às pertenças, nem sempre pode se 
usar o adágio de que “o acessório segue o principal”. Por isso, quando se tratar 
de negócio que envolva transferência de propriedade que contenha uma 
pertença é conveniente que as partes se manifestem expressamente sobre os 
acessórios (se eles acompanham ou não o bem principal), evitando situações 
dúbias posteriores. Ex.: quando se vende um carro deve o vendedor 
mencionar se o equipamento de som está incluso ou não no negócio; quando 
se vende uma casa, os bens móveis não acompanham, salvo disposição em 
contrário. Só são pertenças os bens que não forem partes integrantes, isto é, 
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aqueles que, se forem retirados do principal não afetam a sua estrutura. Ex.: 
uma casa é composta por diversas partes integrantes. Uma porta ou uma 
janela são fundamentais para a existência desta casa, portanto são 
consideradas como partes integrantes.Já o ar-condicionado ou um quadro 
desta casa podem ser considerados como pertenças (eles pertencem a casa, 
mas não são partes integrantes). Quando se vende uma casa, as portas e as 
janelas (partes integrantes) acompanham a venda. Já o ar-condicionado e o 
quadro (pertenças) podem ser vendidos juntos ou podem ser retirados da casa 
pelo vendedor, não fazendo parte do negócio. Tudo vai depender do que for 
estabelecido no contrato. Da mesma forma os instrumentos agrícolas e os 
animais em relação a uma fazenda. 
7) Acessões (de modo implícito)  aumento do valor ou do volume da 
propriedade devido a forças externas (fatos fortuitos, como: formação de ilhas, 
aluvião, avulsão, abandono de álveo, construções e plantações). Em regra não 
são indenizáveis. 
���ATENÇÃO ��� Outro tema muito exigido em concursos!! 
8) BENFEITORIAS  são obras ou despesas que se fazem em um bem 
móvel ou imóvel, para conservá-lo, melhorá-lo ou embelezá-lo. As benfeitorias 
são bens acessórios, introduzidos no principal pelo homem. Se for realizado 
pela natureza não é considerado como benfeitoria. O art. 97, CC prevê que 
não se consideram benfeitorias os melhoramentos ou acréscimos sobrevindo 
ao bem sem a intervenção do proprietário, possuidor ou detentor. Dividem-se 
as benfeitorias em (art. 96, CC): 
a) Necessárias  são as que têm por finalidade conservar ou evitar 
que o bem se deteriore (art. 96, §3°, CC); se não forem feitas a coisa pode 
perecer. Ex.: reforços em alicerces, reforma de telhados, substituição de 
vigamento podre, desinfecção de pomar, etc. 
b) Úteis  são as que aumentam ou facilitam o uso da coisa (art. 96, 
§2°, CC); não são indispensáveis, mas se forem feitas darão um maior 
aproveitamento à coisa. Ex.: construção de uma garagem, de um lavabo 
dentro da casa, instalação de aparelho hidráulico moderno, etc. 
c) Voluptuárias  são as de mero embelezamento, recreio ou deleite, 
que não aumentam o uso habitual do bem, mas o torna mais agradável, 
aumentando o seu valor comercial (art. 96, §1°, CC). Ex.: construção de uma 
piscina, uma churrasqueira, uma pintura artística, um jardim com flores 
exóticas, etc. 
���Atenção��� A classificação acima não é absoluta, pois uma mesma 
benfeitoria pode enquadrar-se em uma ou outra espécie, dependendo de uma 
circunstância concreta. Ex.: uma pintura pode ser necessária em uma casa de 
praia para evitar uma infiltração ou voluptuária se for apenas para embelezá-
la. 
 Relevância jurídica da distinção das benfeitorias 
Se o possuidor estiver de boa-fé (isto é, desconhecia eventuais vícios 
que esta posse tinha) ele tem direito à indenização das benfeitorias 
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necessárias e úteis. Caso elas não sejam indenizadas, o possuidor tem o 
direito de retenção pelo valor das mesmas. Isto é, ele pode reter o bem até 
que seja indenizado pelas benfeitorias feitas. Já as benfeitorias voluptuárias 
não serão indenizadas, mas elas poderão ser levantadas (isto é, retiradas do 
bem – a doutrina chama isso de jus tollendi), desde que não haja danificação 
da coisa. Tais direitos estão previstos no art. 1.219, CC. 
Por outro lado, se o possuidor estiver de má-fé (ele sabia que aquele 
bem não era seu; conhecia os defeitos de sua posse) serão ressarcidas 
somente as benfeitorias necessárias. Este possuidor não será indenizado pelas 
benfeitorias úteis e nem pelas voluptuárias. Além disso, não poderá levantar 
nenhuma das benfeitorias realizadas e também não terá direito de retenção 
sobre nenhuma delas. Nem mesmo sobre as necessárias. Isto está previsto no 
art. 1.220, CC. É o preço que se paga por estar de má-fé. Vejam o quadrinho 
abaixo que retrata bem o que foi dito agora sobre as indenizações das 
benfeitorias. 
Benfeitorias Posse de Boa-fé Posse de Má-fé 
Necessárias Indeniza Indeniza 
Úteis Indeniza Não indeniza 
Voluptuárias Não indeniza, mas podem ser 
levantadas 
Não indeniza 
É interessante acrescentar que a Lei do Inquilinato (Lei n° 8.245/91), 
dispõe de forma um pouco diferente, pois permite disposições contratuais em 
contrário. Vejamos: 
Art. 35. Salvo expressa disposição contratual em contrário, as 
benfeitorias necessárias introduzidas pelo locatário, ainda que não 
autorizadas pelo locador, bem como as úteis, desde que autorizadas, 
serão indenizáveis e permitem o exercício do direito de retenção. 
Art. 36. As benfeitorias voluptuárias não serão indenizáveis, podendo 
ser levantadas pelo locatário, finda a locação, desde que sua retirada não 
afete a estrutura e a substância do imóvel. 
 Acessão artificial X Benfeitoria 
• Acessão artificial: obra que cria uma coisa nova, como as construções 
e plantações (ex.: edificação de uma casa em um terreno). 
• Benfeitoria: obra ou despesa realizada em bem já existente, sem 
modificar a sua substância. 
 Benfeitoria X Pertença 
• Benfeitorias: obras realizadas diretamente no bem para conservá-lo 
(necessária), melhorá-lo (útil) ou embelezá-lo (voluptuária). Assim que 
realizadas, estas obras se tornam parte do próprio bem; elas se 
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incorporam ao principal. Por isso, como regra, elas não possuem 
autonomia e existência própria. Quando se vende uma casa e o contrato 
nada fala, a piscina e a garagem (benfeitorias) acompanham o negócio. 
• Pertenças: bens que se destinam de modo duradouro ao uso, ao serviço 
ou ao aformoseamento de outro bem, sem perder a sua autonomia. O 
bem está a serviço da finalidade econômica de outro bem, não havendo 
incorporação. Quando se vende uma fazenda e o contrato nada fala, o 
trator (pertença) não acompanha o negócio. 
���Atenção��� Alguns bens deixam de ser acessórios e passam a ser 
principais. Estas exceções se justificam para valorizar um trabalho artístico, daí 
a inversão. Ex.: a pintura em relação à tela, a escultura em relação à matéria-
prima, a escritura ou qualquer trabalho gráfico em relação à matéria-prima, 
etc. 
III. BENS CONSIDERADOS EM RELAÇÃO AO TITULAR DO DOMÍNIO 
Na realidade esta classificação é feita não sob o ponto de vista dos 
proprietários, mas sim pelo modo como se exerce o domínio sobre os bens. 
Neste sentido eles podem ser divididos em particulares, públicos ou coisas de 
ninguém. Vejamos: 
A) BENS PARTICULARES (ou privados) 
São os que pertencem às pessoas naturais (físicas) ou às pessoas 
jurídicas de direito privado. Não vemos necessidade de aprofundar o tema. 
B) RES NULLIUS 
São as chamadas “coisas de ninguém”. Existem no Universo, mas não 
são públicas nem particulares, pois não têm dono. Ex.: animais selvagens em 
liberdade, pérolas de ostras que estão no fundo do mar, peixes no mar, 
conchas na praia, etc. As coisas abandonadas (também chamadas de res 
derelictae) são espécies do gênero ‘coisas de ninguém’; já pertenceram a 
alguém, mas foram abandonadas. 
C) BENS PÚBLICOS (res publicae) 
Estabelece o art. 98, CC que são públicos os bens do domínio nacional 
pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno (União, Estados, 
Distrito Federal, Territórios, Municípios, Autarquias e Fundações de Direito 
Público). Os demais bens são particulares, seja qual for a pessoa a que 
pertencerem. No entanto é interessante ressaltar o Enunciado 287 da IV 
Jornada de Direito Civil do STJ: “O critério da classificação de bens indicado no 
art. 98, CC não exaure a enumeração dos bens públicos, podendo ainda ser 
classificado como tal o bem pertencente a pessoa jurídica de direito privado 
que esteja afetado à prestação de serviços públicos”. Os bens públicos, por sua 
vez, possuem uma classificação legal quanto à sua destinação. Vejamos. 
Classificação dos Bens Públicos (art. 99, CC) 
1. Uso Comum (ou Geral) do Povo: são os destinados à utilização do 
público em geral; podem ser usados sem restrições por todos, sem 
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necessidade de permissão especial. O Código Civil fornece uma enumeração 
exemplificativa (art. 99, I, CC): praças, jardins, ruas, estradas, mares, rios 
navegáveis, praias, etc. Não perdem a característica de uso comum se o 
Estado regulamentar seu uso, restringi-lo (ex.: fechamento de uma praça à 
noite por questão de segurança) ou exigir uma contraprestação (ex.: pedágio 
nas rodovias). É franqueado o uso e não a propriedade, pois esta pertence à 
entidade de Direito Público, estando presente o poder de polícia do Estado, 
enquanto o povo é o usuário do bem. 
2. Uso Especial: são bens destinados ao funcionamento e 
aprimoramento dos serviços realizados pelo Estado; em regra são os edifícios 
ou terrenos utilizados pelo próprio poder público para a execução de serviço 
público (federal, estadual, territorial ou municipal). Ex.: Prefeituras, 
Secretarias, Ministérios, prédios onde funcionam Tribunais, Assembleias 
Legislativas, Escolas Públicas, Hospitais Públicos, etc. Incluem-se, também, os 
bens das Autarquias. O Direito Administrativo se refere a todos estes bens 
públicos como sendo afetados. Afetação quer dizer que há a imposição de um 
encargo, um ônus a um bem público. Isto é, indica ou determina que um bem 
está sendo utilizado para uma determinada finalidade pública. 
3. Dominicais (ou dominiais – do latim: dominus  relativo ao domínio, 
senhorio): são os bens que constituem o patrimônio disponível da pessoa 
jurídica de direito público. Abrange os bens imóveis e também os móveis. Na 
verdade são os demais bens públicos, por exclusão (ou residual), pois eles não 
são de uso comum do povo e nem têm uma destinação pública especial 
definida. São eles (apenas exemplificativamente): 
• terrenos de marinha (e acrescidos): terrenos banhados por mar, lagoas 
e rios (públicos) onde se faça sentir a influência das marés. Estão 
compreendidos na faixa de 33 metros para dentro da terra medidos à linha 
de preamar média (mediação realizada em 1831 e até hoje válida). 
Pertencem à União, por questão de segurança nacional (art. 20, VII, CF/88). 
• mar territorial: compreende a faixa de 12 milhas marítimas de largura, 
de propriedade da União. Além disso, há a zona econômica exclusiva (de 
12 a 200 milhas), onde o Brasil tem direitos de soberania exclusivos, para 
fins de exploração econômica, preservação ambiental e investigação 
científica. 
• terras devolutas: são terras que, embora não destinadas a um uso 
público específico, ainda se encontram sob o domínio público. São terras não 
aproveitadas. As terras devolutas se forem indispensáveis à segurança 
nacional (fronteiras, fortificações militares, preservação ambiental) são 
consideradas da União (art. 20, II, CF/88). As demais pertencem aos 
Estados-membros (art. 26, IV, CF/88), sendo que podem ser transferidas 
aos Municípios. 
• outros bens considerados (pela doutrina) como dominicais: prédios 
públicos desativados, móveis inservíveis, estradas de ferro (se forem 
públicas, pois algumas são privadas); títulos da dívida pública; quedas 
d’água, jazidas e minérios; sítios arqueológicos, etc. Quanto às ilhas, há 
uma divisão: em regra as marítimas pertencem à União. Já as fluviais e 
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lacustres pertencem aos Estados-membros, exceto se localizadas na 
fronteira com outro País ou em rios que banham mais de um Estado. Quanto 
às terras indígenas (arts. 231, §1° e 20, XI, CF/88), há quem diga que são 
bens de uso especial e outros que são dominicais. 
 Questão interessante Meio Ambiente. Para alguns autores o art. 
225, CF/88 criou uma nova espécie de bem, que foge da tradicional 
classificação público/particular: “Todos têm direito ao meio ambiente 
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia 
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de 
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. 
O bem ambiental, assim, seria um bem de uso comum do povo, 
essencial à sadia qualidade de vida. No entanto tal bem não é classificado 
como público, propriamente dito e muito menos como particular, posto que 
não se refere a uma pessoa (física ou jurídica, de direito público ou privado), 
mas sim a toda uma coletividade de pessoas. Portanto é chamado de bem 
coletivo. Este direito ganhou definição legal infraconstitucional com o advento 
da Lei n° 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor), que estabeleceu em 
seu art. 81, parágrafo único, inciso I que são interesses difusos os direitos 
transindividuais (isto é, que transcendem, ultrapassam a figura do indivíduo), 
de natureza indivisível, pertencendo a toda uma coletividade simultaneamente 
(pessoas indeterminadas) e não a esta ou aquela pessoa ou um grupo 
específico de pessoas. 
Características dos Bens Públicos 
• Inalienabilidade  os bens públicos não podem ser vendidos, doados 
ou trocados, desde que destinados ao uso comum do povo e uso especial, 
ou seja, enquanto tiverem afetação pública (art. 100, CC). Já os bens 
públicos dominicais podem ser alienados, observadas as exigências legais 
previstas para a alienação de bens da administração (art. 101, CC). 
• Impenhorabilidade  penhora é um instituto de Direito Processual 
Civil; trata-se de um ato judicial pelo qual se apreendem os bens de um 
devedor para saldar uma dívida que não foi paga. O bem penhorado pode ser 
vendido judicialmente e com o produto da venda se paga o credor, 
satisfazendo-se o seu crédito. No entanto ela não é possível em relação aos 
bens públicos, posto que estes não se sujeitam ao regime da penhora. 
Impede-se, assim, que um bem público passe do devedor ao credor, ou seja, 
vendido, mesmo que por força de uma execução judicial. A doutrina costuma 
citar apenas uma exceção prevista na Constituição Federal (art. 100, §6°), 
uma vez que nesta hipótese admite-se o sequestro (ou seja, a apreensão) do 
dinheiro para assegurar o pagamento do precatório em caso de ser preterido o 
seu direito. 
• Imprescritibilidade  trata-se da impossibilidade de aquisição da 
propriedade dos bens públicos por usucapião (também chamada de 
prescrição aquisitiva). A Constituição Federal proíbe a aquisição da 
propriedade, por usucapião de bens públicos (confiram os arts. 183, §3° e 
191, parágrafo único da CF/88 – neste sentido também o próprio art. 102, 
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CC). Prevê a Súmula 340 do Supremo Tribunal Federal: “Desde a vigência do 
Código Civil, os bens dominicais, como os demais bens públicos, não podem 
ser adquiridos por usucapião”. A Constituição somente menciona os bens 
imóveis, mas há unanimidade no sentido de que o dispositivo também se 
aplica aos bens móveis. Até porque o art. 102, CC foi genérico. 
••• Não-onerabilidade  os bens públicos não podem ser objeto de 
direitos reais de garantia como o penhor e a hipoteca em favor de terceiros. 
• Conversão  os bens públicos dominicais podem ser convertidos em 
bens de uso comum ou de uso especial. Por meio da afetação o bem passa da 
categoria de bem do domínio privado do Estado para a categoria de bem do 
domínio público. Já a desafetação permite que um bem de uso comum do 
povo ou de uso especial seja reclassificado como sendo um bem dominical; 
retira-se do bem a função pública à qual ele se liga. Esta classificação 
afetação/desafetação tem vital importância para se possibilitar a alienação do 
bem. Os bens afetados, enquanto permanecerem nesta situação, não podem 
ser alienados. 
IV. BENS CONSIDERADOS EM RELAÇÃO À NEGOCIAÇÃO 
Este item não consta mais no Código Civil. Não que esta categoria de 
bens não exista mais. Ela continua existindo e a doutrina ainda continua a se 
referira ela. É relativa a possibilidade de comercialização dos bens. Comércio 
(em sentido técnico) = possibilidade de compra e venda, doação, ou seja, 
liberdade de circulação e transferência. Vejamos: 
1. Bens que integram o comércio  são os negociáveis, disponíveis; 
podem ser adquiridos e alienados. Estão livres de quaisquer restrições que 
impossibilitem sua apropriação ou transferência, podendo passar, gratuita ou 
onerosamente de um patrimônio para outro. 
2. Bens que estão fora do comércio  são os que não podem ser 
transferidos de um acervo patrimonial a outro. Espécies: 
a) insuscetíveis de apropriação (inalienáveis por natureza): são 
bens de uso inexaurível (ex.: ar, luz solar, água do alto-mar, etc.); como não 
são raros, não despertam interesse econômico. São também chamados de 
“coisas comuns a todos” (res communes omnium). No entanto, se atender a 
determinadas finalidades, pode ser objeto de comércio (captação do ar ou da 
água do mar para a extração de determinados elementos). 
b) personalíssimos: são os preservados em respeito à dignidade 
humana (ex.: vida, honra, liberdade, nome, órgãos do corpo humano, cuja 
comercialização é expressamente proibida pela lei, etc.). 
c) legalmente inalienáveis: apesar de suscetíveis de apropriação, 
têm sua comercialidade excluída pela lei para atender a interesses 
econômicos-sociais, defesa social e proteção de certas pessoas. Só 
excepcionalmente podem ser alienados, exigindo uma lei específica ou uma 
decisão judicial (alvará). Alguns exemplos: 
• bens públicos (uso comum do povo e uso especial: art. 100, CC). 
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• bens das fundações (arts. 62 a 69, CC). 
• terras ocupadas pelos índios (art. 231, §4°, CF). 
• bens de menores (art. 1.691, CC). 
• terreno onde foi construído edifício de condomínio por andares, enquanto 
persistir o regime condominial (art.1.331, §2°, CC). 
• bens de família (veremos melhor adiante). 
• bens gravados com cláusula de inalienabilidade (veremos melhor 
adiante). 
BEM DE FAMÍLIA 
(arts. 1.711 a 1.722, CC) 
CONCEITO 
No Brasil a regra é que o devedor responde, para o cumprimento de suas 
obrigações, com todos os seus bens, presentes ou futuros, salvo as exceções 
previstas em lei (art. 591, CPC). Nosso ordenamento instituiu uma exceção: o 
bem de família (que teve origem no direito norte-americano). Trata-se de um 
instituto pelo qual se vincula o destino de um prédio para ser domicílio ou 
residência de sua família. O bem de família é mais uma forma de se proteger 
a família (considerada em sentido amplo) reforçando o art. 6°, CF/88, que 
determina: “São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o 
lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, 
a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”. Como veremos, 
há duas espécies de bem de família: voluntária e legal. 
���No concurso, se o examinador não se referir expressamente a uma das 
modalidades, o aluno deve optar pela voluntária, pois foi essa a estabelecida 
pelo Código Civil. vejamos 
Nos termos do art. 1.711, CC podem os cônjuges ou a entidade 
familiar, mediante escritura pública ou testamento, destinar parte de seu 
patrimônio (desde que não ultrapasse um terço do patrimônio líquido) 
para instituir o bem de família. Completa o art. 1.712, CC prevendo que o bem 
de família consistirá em prédio residencial urbano ou rural, com suas 
pertenças e acessórios, destinando-se a domicílio familiar. No entanto o 
próprio dispositivo prevê que pode abranger valores mobiliários, cuja renda 
será aplicada na conservação do imóvel e no sustento da família. 
 Como a lei fala em “entidade familiar”, é interessante aprofundar um 
pouco mais o tema. A doutrina a conceitua como “toda e qualquer espécie de 
união capaz de servir de acolhedouro das emoções e das afeições dos seres 
humanos”, estando expressamente prevista no art. 226, §3° e §4°, CF/88. 
Portanto, entende-se como entidade familiar a união estável entre o homem e 
a mulher, bem como a comunidade formada por qualquer dos pais e seus 
descendentes (familia monoparental). E recentemente o Supremo Tribunal 
Federal estendeu a expressão também para as uniões homoafetivas. 
Vale acrescentar que terceiros também podem ser instituidores do bem 
de família, por doação ou testamento, contanto que esse ato seja devidamente 
aceito pela entidade familiar beneficiada (art. 1.711, parágrafo único, CC). 
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CONSEQUÊNCIAS 
Com a instituição do bem de família, o imóvel se torna inalienável e 
impenhorável. Esta situação pode ser oposta em qualquer processo (civil, 
fiscal, previdenciário, trabalhista, etc.), ficando o prédio isento de execuções 
por dívidas posteriores à instituição, salvo (portanto não é um direito 
absoluto) as que provierem de: 
 Tributos relativos ao prédio (ex.: IPTU). 
 Despesas de condomínio (relativas ao próprio prédio). 
Portanto, impostos como o Imposto de Renda, ISS, etc., não autorizam a 
Fazenda Pública solicitar a penhora do bem de família. 
Para se constituir um bem de família, é necessária a escritura pública e o 
registro no Registro de Imóveis, além de publicação na imprensa local, para 
ciência de terceiros. A condição para que se faça esta instituição é que 
inexistam ônus (dívidas) sobre o imóvel bem como dívidas anteriores. Não terá 
validade a instituição se for feita com fraude contra credores (trata-se de um 
vício do negócio jurídico que veremos em aula mais adiante). 
A duração da instituição é até que ambos os cônjuges faleçam, sendo 
que, se restarem filhos menores de 18 anos, mesmo falecendo os pais, a 
instituição perdura até que todos os filhos atinjam a maioridade. Falecendo um 
dos consortes o imóvel não entrará em inventário e nem será partilhado 
enquanto viver o outro. Se este também falecer, deve-se esperar a maioridade 
de todos os filhos. O prédio entrará em inventário para ser partilhado somente 
quando a cláusula for eliminada. Desta forma, a dissolução da sociedade 
conjugal (separação judicial ou divórcio), por si só, não extingue o bem de 
família. No entanto o art. 1.721, CC faz a ressalva de que dissolvida a 
sociedade conjugal pela morte de um dos cônjuges, o sobrevivente poderá 
pedir a extinção do bem de família, se for o único bem do casal. 
Somente haverá a alienação (venda, doação, etc.) do bem de família 
instituído quando houver anuência dos dois consortes e de seus filhos, quando 
houver. Havendo a participação de incapazes o Juiz irá designar um curador 
especial e irá consultar o Ministério Público. A cláusula somente poderá ser 
levantada por mandado judicial (também chamado de mandado de liberação), 
justificado o motivo relevante. Se foi solenemente instituído pela família como 
domicílio desta, não pode ter outro destino. 
Se houver menores impúberes (menores de 16 anos) a situação ainda 
fica mais complicada: a cláusula não poderá ser eliminada, salvo se houver 
sub-rogação (substituição da coisa por outra; transferência das qualidades de 
uma coisa para outra) em outro imóvel para a moradia da família. 
LEI Nº 8.009/90 
Atualmente a Lei n° 8.009/90 dispõe sobre a impenhorabilidade 
(observem que a lei não fala em inalienabilidade) do bem de família, que 
passou a ser o imóvel residencial (rural ou urbano) próprio do casal ou da 
entidade familiar, independentemente de inscrição no Registro de Imóveis. A 
impenhorabilidade compreende, além do imóvel em si, as construções, 
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plantações, benfeitorias de qualquer natureza, equipamentos de uso 
profissional, mas também os bens móveis que guarnecem a casa. Não só 
aqueles indispensáveisà habitabilidade de uma residência, mas também 
aqueles usualmente mantidos em um lar comum (necessários para uma vida 
sem luxos, porém digna). Ressalvam-se os veículos de transporte, obras de 
arte e adornos suntuosos. A jurisprudência vem admitindo que a 
impenhorabilidade pode alcançar um imóvel alugado. Ex.: um casal possui 
uma casa muito grande. No entanto, devido às altas despesas que esta casa 
exige, resolve alugá-la, sendo que com o dinheiro alugam um apartamento 
pequeno e ainda sobra um “dinheirinho”. Para a jurisprudência mesmo não 
morando na casa, a mesma é impenhorável, pois se trata do único bem 
residencial de propriedade familiar. 
No caso da pessoa não ter imóvel próprio (ex.: locação, usufruto), a 
impenhorabilidade recai sobre os bens móveis quitados que guarneçam a 
residência e que sejam da propriedade do locatário (geladeira, fogão, 
televisão, etc.). Se o casal ou entidade familiar for possuidor de vários imóveis, 
a impenhorabilidade recairá sobre o de menor valor (salvo se outro tiver sido 
registrado). 
EXCEÇÕES 
Vimos que o bem de família do Código Civil (voluntário) só pode ser 
penhorado em duas hipóteses: tributos devidos em relação ao próprio bem 
imóvel ou condomínio. Já os bens de que trata a Lei n° 8.009/90 tem um 
número maior de exceções, ou seja, de hipóteses em que o bem será vendido 
para pagar a dívida. Assim esses bens (da lei especial), não responderão por 
dívidas civis, mercantis, fiscais trabalhistas, etc., salvo se o processo de 
execução for movido em razão de (art. 3°): 
• crédito de trabalhadores da própria residência (ex.: empregada 
doméstica, cozinheira, “babá”, jardineiro, etc.). 
• execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia. 
• crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à 
aquisição do imóvel. 
• cobrança de impostos (ex.: IPTU ou ITR) taxas e contribuições devidas 
em função do imóvel. 
• dívidas de condomínio também referente ao próprio imóvel. 
• credor de pensão alimentícia. 
• bem adquirido com produto de crime. 
• obrigação decorrente de fiança nos contratos de locação. 
���Cuidado com o último exemplo ��� Fiança nos contratos de locação. 
Atualmente, tanto a lei, como a jurisprudência assim dispõem: se uma pessoa 
é proprietário de um imóvel e quiser alugá-lo vai desejar que o locatário 
(inquilino) apresente um fiador. Este fiador precisa ser proprietário de um bem 
imóvel, para garantir a fiança. Ou seja, se o locatário (inquilino) não pagar o 
aluguel o proprietário (locador) irá acioná-lo. E se ele não conseguir pagar a 
dívida, o locador acionará o fiador, ficando este responsável pela dívida. 
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Pergunto: pode o fiador alegar que aquele é o único bem de que dispõe e 
alegar a escusa do “bem de família” para não pagar a dívida? Resposta: 
atualmente não (depois de várias idas e vindas de nossos Tribunais). Ou seja, 
se uma pessoa se dispuser a ser fiador, neste momento está abrindo mão do 
chamado bem de família. Não poderá invocar esse benefício para deixar de 
pagar a dívida do inquilino. Nos últimos anos essa posição já foi alterada 
diversas vezes. Atualmente é essa a posição que está vigorando, inclusive com 
decisão do Supremo Tribunal Federal (o direito social à moradia incluído na 
EC 26/2000, não se confunde necessariamente com o direito de propriedade 
imobiliária). Devemos estar bem conscientes de que ao assumirmos o risco de 
sermos fiador de alguém, estaremos abrindo mão do bem de família da Lei n° 
8.009/90. Mas é evidente que esta situação não se aplica àquele bem de 
família previsto no Código Civil, pois neste caso o bem foi registrado e se 
tornou, além de impenhorável, também inalienável. 
 Súmulas do STJ sobre bem de família 
01. Súmula 364: O conceito de impenhorabilidade de bem de família 
abrange também o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e 
viúvas. 
02. Súmula 449: A vaga de garagem que possui matrícula própria no 
registro de imóveis não constitui bem de família para efeito de penhora. 
03. É interessante mencionar que quando se tratar de pessoas casadas, a 
fiança deve ser prestada por ambos, sob pena de anulação. Neste sentido é a 
Súmula 332 (nova redação): A fiança prestada sem autorização de um dos 
cônjuges implica a ineficácia total da garantia. 
Quadro Comparativo 
CÓDIGO CIVIL – VOLUNTÁRIO LEI ESPECIAL – LEGAL 
 1. Arts. 1.711 a 1.722, CC. 1. Lei n° 8.009/90. 
 2. Ato voluntário. Necessita de 
registro. Máximo 1/3 do patrimônio 
líquido. 
 2. Instituído por lei. Não depende de 
qualquer ato. Efeitos automáticos e 
imediatos. Único imóvel para residência 
da família. 
 3. Acarreta inalienabilidade e 
impenhorabilidade. 
 3. Acarreta somente a 
impenhorabilidade. 
 4. Exceções: dívidas decorrentes do 
condomínio e dívidas tributárias que 
recaem sobre o próprio imóvel. 
 4. Exceções previstas no art. 3°. Ex.: 
trabalhistas (empregados do imóvel), 
hipoteca, financiamento, impostos, 
condomínio, pensão alimentícia, produto 
de crime e fiança nos contratos de 
locação. 
 
 
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BENS GRAVADOS COM CLÁUSULA DE INALIENABILIDADE 
São aqueles que se tornam inalienáveis pela vontade humana, por meio 
de uma cláusula temporária ou vitalícia, nos casos previstos em lei, por ato 
inter vivos (ex.: doação) ou causa mortis (ex.: testamento). Ex.: um pai, 
percebendo que seu filho irá dilapidar o patrimônio, faz um testamento, com 
essa cláusula especial, a fim de que os bens não saiam do patrimônio do filho, 
protegendo esses bens do próprio filho, impedindo que os atos de 
irresponsabilidade ou má administração possam levar o filho à insolvência - 
dívidas superiores aos créditos. O art. 1.911, CC determina que “a cláusula de 
inalienabilidade, imposta aos bens por ato de liberalidade, implica 
impenhorabilidade e incomunicabilidade”. Atualmente essa cláusula tem valor 
um pouco mais restrito, pois o testador deve apontar expressamente a justa 
causa para essa sua decisão de tornar o bem inalienável (art. 1.848, CC), ou 
seja, deverá justificar o porquê desta medida. Um caso justificável, como 
vimos, é a prodigalidade do filho. 
RESUMO DA AULA 
BENS: OBJETO DO DIREITO 
(arts. 79 a 103, CC) 
I. CONCEITO. Valores materiais ou imateriais que podem ser objeto de uma relação 
de direito; são as coisas enquanto economicamente valoráveis, satisfazendo a 
necessidade humana. 
II. CLASSIFICAÇÃO 
A doutrina (não há previsão legal expressa) inicialmente classifica os bens em: 
1. Corpóreos (materiais, tangíveis ou concretos): são os que têm existência 
física (ex.: terreno, casa, carro, livro, joia). 
2. Incorpóreos (imateriais, intangíveis ou abstratos): são os que não podem 
ser percebidos pelos sentidos, mas podem ser objeto de direito (ex.: direitos autorais, 
propriedade industrial). 
A) BENS CONSIDERADOS EM SI MESMOS – arts. 79/91, CC 
1. Quanto à Mobilidade 
1.1. Imóveis: são os que não podem ser removidos ou transportados de 
um lugar para o outro sem a sua destruição. Subdividem-se em: a) imóveis 
por natureza (ex.: solo, subsolo e espaço aéreo); b) acessão física ou 
artificial (ex.: plantações e construções); c) acessão intelectual (pertença) d) 
disposição legal (ex.: direito à sucessão aberta, ainda que a herança seja 
formada apenas por bens móveis). Não perdem o caráter de imóvel: as 
edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem 
removidas para outro local; materiais provisoriamente separados de um 
prédio para nele se reempregarem. 
1.2. Móveis: são os que podem ser transportados de um lugar para 
outro, por força própria ou estranha, sem alteração da sua substância ou da 
destinação econômico-social. Subdividem-se em: a) móveis por natureza – 
podem ser transportadospor força própria (semoventes – animais de uma 
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forma geral) ou alheia (carro, joia); b) móveis por antecipação (árvore 
plantada para corte ou frutos de um pomar que ainda estão no pé, mas 
destinados à venda - safra futura); c) móveis por determinação legal 
(energias que tenham valor econômico, direitos autorais). 
1.3. Observações: a) os materiais de construção enquanto não forem 
empregados nesta construção, ainda são considerados como bens móveis; b) 
as árvores, enquanto ligadas ao solo, são bens imóveis por natureza, exceto 
se se destinam ao corte. Quando isso ocorre, elas se convertem em móveis 
por antecipação. 
1.4. Importância prática na distinção entre Imóveis e Móveis: forma de 
aquisição da propriedade (tradição para móveis e registro para os imóveis), 
necessidade de outorga uxória ou marital em casos de bens imóveis (sendo 
dispensada tal providência se for bem móvel), prazos de usucapião 
(geralmente maiores para os bens imóveis) e os direitos reais (como regra 
hipoteca para imóveis e penhor para os móveis). 
1.5. Navios e Aeronaves: fisicamente são bens móveis, mas possuem 
uma disciplina jurídica como se imóveis fossem. 
2. Quanto à Fungibilidade 
2.1. Infungíveis: não podem ser substituídos por outros do mesmo 
gênero, qualidade e quantidade (ex.: um apartamento, um veículo, um 
quadro famoso). Os imóveis só podem ser infungíveis. 
2.2. Fungíveis: podem ser substituídos por outros do mesmo gênero, 
qualidade e quantidade (ex.: gêneros alimentícios, dinheiro, etc.). 
3. Quanto à Consuntibilidade 
3.1. Inconsumíveis: proporcionam reiterados usos, permitindo que se 
retire toda a sua utilidade, sem atingir sua integridade (ex.: imóveis, roupas, 
livros, etc.). 
3.2. Consumíveis: são bens móveis, cujo uso importa na destruição 
imediata da própria coisa. Admitem apenas um uso (gêneros alimentícios, 
bebidas, dinheiro, etc.). 
3.3. Há bens que são consumíveis, conforme a destinação que o homem 
lhe dá. Ex.: os livros, em princípio, são bens inconsumíveis, pois permitem 
usos reiterados. Mas expostos numa livraria são considerados como 
consumíveis, pois a destinação é a venda. 
4. Quanto à divisibilidade 
4.1. Divisíveis: podem ser partidos em porções reais e distintas, 
formando cada qual um todo perfeito. 
4.2. Indivisíveis: não podem ser fracionados em porções, pois deixariam 
de formar um todo perfeito. A indivisibilidade pode ser: por natureza (um 
cavalo), por determinação legal (herança, módulo rural, lotes urbanos) e pela 
vontade das partes (contrato). 
5. Quanto à Individualidade 
5.1. Singulares: são os que, embora reunidos, se consideram de per si, 
independentemente dos demais. 
5.2. Coletivos (ou universais): são as coisas que se encerram agregadas 
em um todo. a) Universalidade de Fato: pluralidade de bens singulares, 
corpóreos e homogêneos, que, pertinentes à mesma pessoa, tenham 
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destinação unitária pela vontade humana (biblioteca, pinacoteca, rebanho, 
etc.). b) Universalidade de Direito: pluralidade de bens singulares, 
corpóreos, dotadas de valor econômico, ligadas pela norma jurídica 
(patrimônio, herança, massa falida, etc.). 
B) BENS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS – arts. 92/97, CC 
1. Principais: existem por si mesmos, exercendo função e finalidade 
independentemente de outro bem (terrenos, joias, etc.). 
2. Acessórios: sua existência depende da existência de outro. Regra → o 
acessório acompanha o principal. 
2.1. Frutos: são as utilidades que a coisa principal produz 
periodicamente; nascem e renascem da coisa e sua percepção mantém 
intacta a substância do bem que as gera (frutas, aluguéis, etc.). 
2.2. Produtos: são as utilidades que se retiram da coisa, alterando a 
substância da coisa, com a diminuição da quantidade até o seu esgotamento. 
2.3. Pertenças: são os bens que, não constituindo partes integrantes 
(como os frutos, produtos e benfeitorias), se destinam, de modo duradouro, 
ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro. Ex.: acessórios de um 
veículo; ornamentos de uma residência, um trator destinado a uma melhor 
exploração de propriedade agrícola, etc. 
2.4. Benfeitorias: são obras ou despesas que se fazem em um bem 
móvel ou imóvel, para conservá-lo, melhorá-lo ou embelezá-lo. Espécies: a) 
necessárias (realizada para a conservação do bem: alicerce da casa), úteis 
(são as que aumentam ou facilitam o uso da coisa: garagem) e voluptuárias 
(mero embelezamento, recreio ou deleite: piscina). 
2.5. Indenização das Benfeitorias: a) possuidor de boa-fé: direito à 
indenização das benfeitorias necessárias e úteis. Caso elas não sejam 
indenizadas, o possuidor tem o direito de retenção pelo valor das mesmas. Já 
as benfeitorias voluptuárias não serão indenizadas, mas elas poderão ser 
levantadas (art. 1.219, CC). b) possuidor de má-fé: são ressarcidas 
somente as benfeitorias necessárias. Não há indenização pelas benfeitorias 
úteis e voluptuárias. Não pode levantar nenhuma das benfeitorias realizadas 
e não tem direito de retenção sobre nenhuma delas (art. 1.220, CC). 
2.6. Deixam de ser bens acessórios e passam a ser principais: a 
pintura em relação à tela, a escultura em relação à matéria-prima, a 
escritura ou qualquer trabalho gráfico em relação à matéria-prima, qualquer 
trabalho gráfico em relação ao papel utilizado. 
C) BENS CONSIDERADOS EM RELAÇÃO AO TITULAR DO DOMÍNIO – arts. 
98/103, CC 
1. Particulares: são os que pertencem às pessoas naturais (físicas) ou às 
pessoas jurídicas de direito privado. 
2. Res Nullius: são as coisas de ninguém (ex.: um peixe no fundo do mar; 
as coisas abandonadas – estas são conhecidas como res derelictae). Não 
confundir coisa abandonada, onde há um ato voluntário, o abandono, com a 
coisa perdida, em que o ato foi involuntário e a coisa continua a pertencer (ao 
menos em tese) ao patrimônio do titular. 
3. Públicos: são os bens de domínio nacional pertencentes às pessoas 
jurídicas de direito público interno. 
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3.1. Uso comum do povo: destinados à utilização do público em geral 
(rios, mares, estradas, ruas, etc.). 
3.2. Uso especial: imóveis utilizados pelo próprio poder público para a 
execução de serviço público (hospitais e escolas públicas, secretarias, 
ministérios, etc.). 
3.3. Dominicais: constituem o patrimônio disponível das pessoas de 
direito público: terras devolutas e terrenos de marinha. 
3.4. Característica dos bens públicos: inalienáveis, impenhoráveis, 
imprescritíveis (não podem ser objeto de usucapião, qualquer que seja a sua 
natureza – Súmula 340 STF). 
3.5. Observação: Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso 
especial são inalienáveis, enquanto conservarem a sua qualificação. Os bens 
públicos dominicais podem ser alienados, observadas as exigências da lei. 
3.6. Conversão: os bens públicos dominicais podem ser convertidos em 
bens de uso comum ou de uso especial (afetação). Já pela desafetação 
permite-se que um bem de uso comum do povo ou de uso especial seja 
reclassificado como sendo um bem dominical. 
D) BENS CONSIDERADOS EM RELAÇÃO À NEGOCIAÇÃO 
1. Bens que integram o comércio: são os negociáveis, disponíveis; 
podem ser apropriados e transferidos, passando, gratuita ou onerosamente, de 
um patrimônio para outro. 
2. Bens que estão fora do comércio: são os que não podem ser 
transferidos de um acervo patrimonial para outro 
2.1. insuscetíveis de apropriação: coisas de uso inexaurível (ar, luz 
solar, água do alto-mar, etc.). 
2.2. personalíssimos: são os preservados em respeito à dignidade 
humana (ex.: vida, honra, liberdade, nome, bens como os órgãos do corpo 
humano, cuja comercialização