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Anderson Guilherme do trato urinário infecção CONCEITO Infecção do trato urinário (ITU) é um termo que se aplica a uma variedade de condições clínicas, desde a presença assintomática de bactérias na urina, até infecção grave do rim com sepse resultante. Infecção urinária pode ser definida como colonização bacteriana da urina, que resulta em infecção das estruturas do aparelho urinário – do rim ao meato uretral. Infecção em estruturas adjacentes, como próstata, vesículas seminais e epidídimos, pode ser incluída nessa definição por estar em intimamente ligadas. Excluem-se do tema as doenças sexualmente transmissíveis por constituírem grupo de patologias com características próprias, diferentes das infecções do trato urinário. Outra afecção de caráter infeccioso não englobada é a tuberculose urinária, que pelos mesmos motivos é tratada em capítulo à parte. A ITU representa uma resposta inflamatória do urotélio a uma invasão bacteriana, que habitualmente está associada a bacteriúria e piúria. A bacteriúria refere-se à presença de bactérias na urina que, em condições normais, não contém esses microrganismos. A sua presença é considerada um indicador válido de colonização ou infecção bacteriana das vias urinárias A piúria, que se refere à presença de leucócitos na urina, indica geralmente uma infecção e/ou uma resposta inflamatória do urotélio à presença de bactérias, cálculos ou outro corpo estranho residente. A bacteriúria sem piúria em geral indica uma colonização bacteriana sem infecção das vias urinárias. A piúria sem bacteriúria justifica uma avaliação quanto à possibilidade de tuberculose, cálculos ou câncer. As infecções são clinicamente definidas pelo seu suposto local de origem: • A cistite descreve uma síndrome clínica de disúria, polaciúria, urgência e, em certas ocasiões, dor suprapúbica. Esses sintomas, embora geralmente sejam indicativos de cistite bacteriana, também podem estar associados à infecção da uretra ou da vagina ou a condições não infecciosas, como cistite intersticial, câncer de bexiga ou cálculos. Por outro lado, os pacientes podem ser assintomáticos e apresentar infecção da bexiga e, possivelmente, das vias urinárias superiores. • A pielonefrite aguda, uma síndrome clínica de calafrios, febre e dor no flanco, é acompanhada de bacteriúria e piúria, uma associação razoavelmente específica de infecção bacteriana aguda do rim. Esse termo não deve ser utilizado na ausência de dor no flanco. Pode não haver um componente morfológico ou funcional detectável pelas modalidades clínicas de rotina. Pode ser difícil estabelecer o diagnóstico em pacientes com lesão da medula espinal e idosos, que podem ser incapazes de identificar a localização do desconforto. • A pielonefrite crônica descreve um rim contraído e cicatricial, cujo diagnóstico se baseia em evidências morfológicas, radiológicas ou funcionais de doença renal, que pode ser pós-infecciosa, mas que frequentemente não está associada a ITU. A infecção bacteriana do rim pode causar uma cicatriz grosseira e focal no córtex renal sobre um cálice, quase sempre acompanhada de alguma distorção caliceal, que pode ser detectada radiograficamente ou por exame macroscópico do rim. • Com menos frequência, a cicatriz renal de uma infecção pode resultar em pielonefrite atrófica ou adelgaçamento generalizado do córtex renal, com pequeno rim que parece radiograficamente semelhante a um rim com atrofia pós-obstrutiva. As ITUs também podem ser descritas em termos de sua localização anatômica ou estado funcional das vias urinárias e saúde do hospedeiro. • Não complicada descreve uma infecção em um paciente saudável com via urinária normal dos pontos de vista estrutural e funcional. A maioria desses pacientes consiste em mulheres com cistite bacteriana isolada ou recorrente ou com pielonefrite aguda, e os patógenos infecciosos são habitualmente sensíveis e erradicados por um ciclo curto de antibioticoterapia oral de baixo custo. infecção Anderson Guilherme • Uma infecção complicada está associada a fatores que aumentam a probabilidade de adquirir bactérias e à diminuição da eficácia da terapia. A estrutura e a função das vias urinárias estão anormais, o hospedeiro está comprometido e/ou as bactérias apresentam virulência aumentada ou resistência aos agentes antimicrobianos. Esses pacientes são, em sua maioria, homens. EPIDEMIOLOGIA A epidemiologia da ITU agrupada por idade e sexo é mostrada no. Em recém-nascidos até 1 ano de idade, a bacteriúria está presente em 2,7% dos meninos e 0,7% das meninas. A incidência de ITU em meninos não circuncisados é mais alta que em meninos circuncisados (1,12% em comparação com 0,11 %) durante os primeiros 6 meses de vida. Em crianças entre 1 e 5 anos de idade, a incidência de bacteriúria em meninas aumenta para 4,5%, ao passo que em meninos diminui para 0,5%. A maioria das ITUs, em crianças com menos de 5 anos está associada a anomalias congênitas do trato urinário, como refluxo vesicoureteral ou obstrução. A incidência de bacteriúria permanece relativamente constante em crianças de 6 a 15 anos. Entretanto, as ITUs nessas crianças têm maior probabilidade de estar associadas a anormalidades funcionais do trato urinário, como disfunção miccional. Durante a adolescência, a incidência de ITU aumenta significativamente (até 20%) em mulheres, e permanece constante nos homens. Aproximadamente 7 milhões de casos de cistite aguda são diagnosticados anualmente em mulheres jovens; isso, provavelmente, é uma subestimativa da incidência real de ITU, porque pelo menos 50% de todas as ITUs não chegam à atenção médica. Os principais fatores de risco para mulheres de 16 a 35 anos de idade estão relacionados com relação sexual e uso de diafragma. Mais tarde na vida, a incidência de ITU aumenta significativamente tanto para o sexo masculino como para o feminino. Para mulheres entre 36 e 65 anos, cirurgia ginecológica e prolapso da bexiga parecem ser fatores de risco importantes. Em homens do mesmo grupo etário, hipertrofia/ obstrução da próstata, cateterismo e cirurgia são fatores de risco relevantes. Para pacientes com mais de 65 anos, a incidência de ITU continua a aumentar em ambos os sexos. Incontinência e uso crônico de sondas urinárias são fatores de risco importantes nesses pacientes. Naqueles com menos de 1 ano e mais de 65 anos, a morbidade e a mortalidade por ITU são as mais altas. Com base em dados do Urologic Diseases in North America Project, a prevalência em geral de ITU durante a vida foi estimada em 14 mil por 100 mil homens e 53 mil por 100 mil mulheres. Os gastos médicos em geral para o tratamento de ITU nos EUA foram estimados em 1 bilhão de dólares para homens e 2,5 bilhões de dólares para mulheres. O aumento do custo no tratamento de ITU para mulheres é devido principalmente à tendência ao uso de fluoroquinolonas como terapia de primeira linha. As ITUs ocorreram em 2,4 a 2,8% das crianças. Nessa população de pacientes, elas resultaram em mais de 1,1 milhão de consultas médicas anualmente, sendo responsáveis por 0,7% das visitas a médicos. FATORES DE RISCO Idade avançada | Anomalias anatômicas | Estado nutricional inadequado | Tabagismo | Uso crônico de corticosteroides | Imunodeficiência | Dispositivos de uso crônico | Material endógeno/exógeno infectado | Infecção coexistente a distância | Internação prolongada. ETIOLOGIA PATÓGENOS CAUSADORES A maior parte das ITUs é causada por uma espécie bacteriana isolada. Pelo menos 80% das cistites e pielonefrites não complicadas devem-se a E. coli, com a maioria das cepas patogênicas pertencendo aos sorogrupos O. Outros uropatógenos menos comuns incluem Klebsiella, Proteus e Enterobacter spp. e enterococos. Nas ITUs adquiridas em hospital, uma variedade mais ampla de microrganismos causadores é encontrada, incluindo Pseudomonas e Staphylococcus spp.; as ITUs causadas por S. aureus frequentementeresultam de disseminação hematogênica Estreptococos beta- hemolíticos do grupo B podem causar ITU em mulheres grávidas. Staphylococcus saprophyticus, o qual se pensava frequentemente ser um contaminante urinário, pode causar ITUs não complicada em mulheres jovens. Em crianças, o espectro bacteriano causal é levemente diferente daquele dos adultos, com Klebsiella e Enterobacter spp. sendo as causas mais comuns de ITU. Bactérias anaeróbias, lactobacilos, corinebactérias, estreptococos (não incluindo enterococos) e Staphylococcus epidermidis são encontrados na flora periuretral normal. Em geral, eles não causam ITU em indivíduos sadios e são considerados contaminantes urinários comuns. MICRORGANISMOS EXIGENTES ANAERÓBIOS NAS VIAS URINÁRIAS A ocorrência de infecções sintomáticas das vias urinárias por anaeróbios é pouco frequente. Entretanto, a parte distal da uretra, o períneo e a vagina são normalmente colonizados por anaeróbios. Enquanto 1% a 10% das amostras de urina obtidas por micção são positivas para microrganismos anaeróbios, os microrganismos anaeróbios encontrados em aspirados suprapúbicos são muito mais incomuns. As ITUs clinicamente sintomáticas, nas quais são cultivados apenas microrganismos anaeróbicos, são raras; todavia, deve-se suspeitar desses microrganismos quando um paciente com sintomas vesicais irritativos apresenta cocos ou bacilos Gram-negativos no Anderson Guilherme exame microscópico da urina centrifugada (obtida por cateterismo, aspiração suprapúbica ou urina do jato médio), e as culturas quantitativas habituais para aeróbios não resultam em proliferação de microrganismos. Com frequência, são encontrados microrganismos anaeróbicos nas infecções supurativas do trato geniturinário. Em um estudo de infecções geniturinárias supurativas em homens, 88% dos abscessos escrotais, prostáticos e perinéfricos apresentaram anaeróbios entre os microrganismos infecciosos. Os microrganismos encontrados consistem habitualmente em espécies de Bacteroides, incluindo B. fragilis, espécies de Fusobacterium, cocos anaeróbicos e Clostridiumperfringens. O crescimento de clostrídios pode estar associado a cistite enfisematosa. MYCOBACTERIUM TUBERCULOSIS E OUTRAS MICOBACTÉRIAS NÃO TUBERCULOSAS O Mycobacteriumtuberculosis e outras micobactérias não tuberculosas podem ser identificados quando se solicita a realização de culturas para bactérias álcool-acidorresistentes; esses microrganismos não se proliferam em condições aeróbicas de rotina e podem ser encontrados durante a avaliação de paciente para piúria estéril. Foi ressaltado que a mera presença de micobactérias pode não indicar a ocorrência de invasão tecidual. Por conseguinte, devem-se considerar certos fatores, como sintomas, evidências endoscópicas ou radiológicas de infecção, sedimento urinário anormal, ausência de outros patógenos, demonstração repetida do microrganismo e presença de granulomas, antes de instituir a terapia. CHLAMYDIA As clamídias não se proliferam habitualmente em culturas aeróbicas, porém foram implicadas em infecções geniturinárias. FATORES DE VIRULÊNCIA BACTERIANOS As características da virulência desempenham um papel na determinação tanto da capacidade de invasão das vias urinárias pelo microrganismo quanto do nível subsequente de infecção dentro do trato. Em geral, acredita-se que as cepas uropatogênicas residentes na flora intestinal, como UPEC, possam infectar as vias urinárias não apenas de modo casual, mas também por meio da expressão de fatores de virulência que lhes permitem aderir e colonizar o períneo e a uretra e migrar até as vias urinárias, onde desencadeiam uma resposta inflamatória no urotélio. Os mesmos fatores de virulência podem ser encontrados em cepas bacterianas que provocam ITUs recorrentes em pacientes. Alguns desses determinantes de virulência estão localizados em uma de aproximadamente 20 ilhas específicas associadas à patogenicidade da UPEC, cujo tamanho varia de 30 a 170 kb. Essas ilhas de patogenicidade em conjunto aumentam o tamanho do genoma do patógeno em cerca de 20% em comparação com uma cepa comensal. Uma análise recente do genoma de uma cepa de UPEC revelou a presença de genes para supostos sistemas de condutores-chaperonas, bem como de proteínas autotransportadoras que podem atuar como adesinas, toxinas, proteases, invasinas, fatores de resistência séricos ou mediadores da motilidade. Um autotransportador específico de UPEC, Sat, parece tóxico para as células das vias urinárias in vitro e pode causar vacuolização citoplasmática e lesão histológica grave em rins de camundongo. Outra toxina, a hemolisina (HlyA), forma poros em uma variedade de membranas celulares do hospedeiro. Além das proteases e toxinas, a UPEC produz vários sistemas de aquisição de ferro, incluindo aerobactina e o sistema IroN, mais recentemente descrito. Por fim, a maioria das cepas de UPEC produz uma cápsula de polissacarídeo ácido, que protege a bactéria da fagocitose pelos leucócitos polimorfonucleares humanos e inibe a ativação do complemento. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS SINAI S E SINTOMAS A cistite está habitualmente associada a disúria, polaciúria e/ou urgência. A dor suprapúbica e a hematúria são menos comuns. Os sintomas das vias urinárias inferiores estão comumente presentes e, em geral, precedem em vários dias o aparecimento dos sintomas das vias urinárias superiores. A pielonefrite está classicamente associada a febre, calafrios e dor lombar. Pode-se observar a presença de náusea e vômitos. O abscesso renal ou perirrenal pode causar febre indolente e massa com hipersensibilidade na região lombar. No indivíduo idoso, os sintomas podem ser muito mais sutis (p. ex., desconforto epigástrico ou abdominal), ou o paciente pode ser assintomático. Os pacientes com cateteres de demora frequentemente apresentam bacteriúria assintomática, porém a febre associada à bacteriemia pode ocorrer com rapidez e comportar risco de vida. DIAGNÓSTICO O diagnóstico de ITU às vezes é difícil de se estabelecer e baseia-se em sumário de urina e urocultura. Ocasionalmente, estudos de localização são necessários para identificar a fonte da infecção. Com maior frequência, a urina é obtida de uma amostra obtida por micção. Em crianças sem treinamento para uso da toalete, um dispositivo para coleta de urina, como um saquinho plástico, é colocado sobre a genitália, e a urina é cultivada do espécime assim coletado. Esses dois métodos de coleta de urina são fáceis de se obterem, mas pode ocorrer contaminação a partir da vagina e da área perirretal. Há uma taxa alta de falso-positivos, especialmente em espécimes de sacos coletores. A aspiração suprapúbica evita a contaminação potencial; contudo, devido a seu caráter invasivo, é usada raramente, exceto em crianças e em pacientes selecionados. A coleta de urina obtida por um cateter urinário é menos invasiva que uma aspiração suprapúbica e tem menor probabilidade de contaminação do que um espécime obtido por micção. Se um paciente tem uma sonda de permanência, um espécime de urina deve ser coletado do portal de coleta do cateter. SUMÁRIO DE URINA A urina pode ser avaliada imediatamente para esterase leucocitária, um composto produzido pela fragmentação de leucócitos na urina. O nitrito urinário é produzido pela redução dos nitratos da dieta por muitas bactérias gram-negativas. Esterase e nitrito podem ser detectados por um teste de fita na urina, e são mais confiáveis quando a contagem bacteriana é > 100.000 unidades formadoras de colônias (UFC) por mililitro. O exame microscópico da urina para leucócitos e bactérias é feito após centrifugação. Quando as contagens de bactérias são > 100.000 UFC/mL, as bactérias podem ser detectadas à microscopia. Mais de três leucócitos por campo de grande aumento sugerem uma possível infecção. O teste do nitrito urinário é altamente específico, mas não sensível, ao passo que os outros três exames têm uma sensibilidadee especificidade de aproximadamente 80%. Uma combinação desses exames pode ajudar a identificar aqueles pacientes nos quais a urocultura será positiva. Inversamente, quando esterase, nitrito, sangue e proteína Anderson Guilherme estão ausentes em uma amostra urinária, < 2% das amostras de urina serão positivas por cultura, fornecendo um valor preditivo negativo> 98% e uma sensibilidade de 98%. Uma revisão sistemática recente da literatura indica que o sumário de urina é mais efetivo no diagnóstico de ITU, como determinado por urocultura, em crianças com mais de 2 anos do que em crianças mais jovens. UROCULTURA O padrão-ouro para a identificação de ITU é a cultura de urina quantitativa para bactérias específicas. A urina deve ser coletada em um recipiente estéril e cultivada imediatamente após a coleta. Quando isso não é possível, a urina pode ser guardada no refrigerador por até 24 horas. A amostra então é diluída e semeada em placas de cultura. Cada bactéria formará uma única colônia nas placas. O número de colônias é contado e ajustado por mililitro de urina (UFC/mL). Definir a quantidade de UFC/mL que representa infecção clinicamente significativa pode ser difícil. Depende do método de coleta, do sexo do paciente e do tipo de bactéria isolado. Tradicionalmente,> 100.000 UFC/mL é usado para excluir contaminação. Entretanto, estudos têm demonstrado claramente que ITU clinicamente significativa pode ocorrer com< 100.000 UFC/mL de bactérias na urina. ESTUDOS DE LOCALIZACÃO Ocasionalmente, é necessário identificar o local da infecção. Para localização no trato urinário superior, a bexiga é irrigada com água estéril e um cateter ureteral é colocado em cada ureter. Um espécime da pelve renal é coletado. A cultura desse espécime indicará se há infecção no trato urinário superior. Em homens, a infecção no trato urinário inferior pode ser diferenciada. Um espécime é coletado no início da micção e representa possível infecção na uretra. Em seguida, é coletado um espécime de jato médio que representa possível infecção na bexiga. A próstata é, então, massageada, e pede-se ao paciente que urine novamente. Esse espécime representa possível infecção da próstata. TRATAMENTO Atualmente, as quinolonas destacam-se como agentes de primeira escolha para tratamento de ITU e existem sete derivados quinolônicos: ciprofloxacina, norfloxacina, enoxacina, gatifloxacina, levofloxacina, lomefloxacina e ofloxacina. ANTIBIÓTICOS O tratamento com agentes antimicrobianos tem diminuído a morbidade e a mortalidade associadas a ITUs. A meta do tratamento é erradicar a infecção pela seleção dos antibióticos apropriados, com alvo na suscetibilidade bacteriana específica. Entretanto, escolher os agentes antimicrobianos apropriados geralmente é difícil. Muitos antibióticos estão disponíveis, e a dose mais baixa e a duração mais curta da terapia não estão bem definidas. Muitas convenções para o tratamento de ITU são arbitrárias. Os princípios gerais para seleção dos antibióticos apropriados incluem a consideração do patógeno infectante (suscetibilidade a antibióticos, infecção por microrganismo único vs. polimicrorganismos, flora patogênica vs. flora normal, infecção comunitária vs. infecção hospitalar); do paciente (alergias, doenças subjacentes, idade, terapia antibiótica prévia, outros medicamentos em uso, paciente ambulatorial vs. internado, gravidez); e do local da infecção (rim vs. bexiga vs. próstata). Como a maioria dos antibióticos é depurada do corpo pelo fígado ou rim, certos agentes antimicrobianos precisam ser ajustados na presença de doenças nesses órgãos. Em pacientes com ITU Anderson Guilherme recorrente ou aqueles que estão em risco para ITU (como crianças com refluxo vesicoureteral), podem ser usados antibióticos proftláticos. Anderson Guilherme CISTITES AGUDAS É o grupo mais frequente de ITU. Tradicionalmente, os tratamentos sempre foram de 7 a 10 dias. Com o advento das quinolonas difluoradas e de outros agentes, novos esquemas, como dose única ou três dias, têm sido introduzidos entretanto, é questionado por outros. Como exemplo, podemos citar o uso de lomefloxacina, quinolona difluorada, com rápida absorção e meia-vida prolongada, associada à boa erradicação bacteriológica. A utilização de esquema terapêutico em dose única também tem sido proposto (fosfomicina, trometamol, amoxicilina). As grandes vantagens desses novos esquemas seriam diminuição dos efeitos colaterais, maior aderência, menor influência sobre a flora bacteriana vaginal e custo menor. Com o advento de novos agentes antimicrobianos, são úteis também em procedimentos urológicos invasivos, como cistoscopias, dilatação uretrais e exames urodinâmicos. PIELONEFRITES AGUDAS Representam quadros infecciosos de maior gravidade, requerendo, em algumas circunstâncias, internação hospitalar. Atualmente, o arsenal farmacológico é suficiente para total erradicação da infecção, devendose empregar esquemas terapêuticos com duração mais prolongada (7 a 14 dias). Nesses casos, também têm importância as quinolonas difluoradas, principalmente as que podem ser administradas por via parenteral, pois podem simplificar o tratamento, com ótima aceitação e bons resultados. Situações que potencialmente podem agravar o quadro infeccioso não devem ser esquecidas, como gestação, crianças até dois anos, diabetes e idosos, em que a necessidade de tratamento mais agressivo se impõe, às vezes com necessidade de hidratação parenteral, e eventuais tratamentos cirúrgicos para tratamento de complicações infecciosas como abcessos. BACTERIÚRIA ASSINTOMÁTICA Sua terapêutica ainda é controversa. Estudos prospectivos e randomizados não mostraram queda nos índices de morbidade ou de mortalidade entre pacientes que receberam tratamento. A norma é o acompanhamento dos pacientes e eventual uso de medicação em situações de maior risco, como obstruções do aparelho urinário, disfunções neurológicas (Parkinson e AVE), doenças metabólicas (diabetes) ou instrumentação urológica. Em recente estudo, a prevalência de bacteriúria assintomática foi de 2 a 5% em mulher adulta, 11% em grávidas, 9% em diabéticas e de até 50% em idosas internadas. Outras causas de bacteriúria assintomática foram traumas raquimedulares e sondagem vesical com prevalências de 50% e 100%, respectivamente. Anderson Guilherme PROFILAXIA ANTIMICROBIANA Em inúmeras situações, a ITU passa a apresentar incidência de caráter repetitivo por eventual manutenção de determinados fatores predisponentes, associada à exposição constante de contaminação, como também em momentos em que algum ato médico represente maior prevalência da infecção urinária. Nessas condições, podemos utilizar agentes antimicrobianos com doses e períodos de manutenção variáveis, como também agentes variados que atuem na prevenção do episódio infeccioso. Antimicrobianos são utilizados para anomalias geniturinárias congênitas ou adquiridas associadas à infecção e para procedimentos urológicos para diagnóstico e tratamento, como biópsia transretal de próstata, próteses urinárias, procedimentos endoscópicos do trato urinário inferior, litotripsia, período gestacional com histórico infeccioso, ITU de repetição na mulher (três ou mais episódios ao ano), bacteriúria assintomática no período de gestação e procedimentos urológicos. Nos últimos anos, alguns outros agentes mostraram efetividade na eventual prevenção na recidiva de infecção urinária não complicada na mulher. Atualmente, o mais importante é o suco da substância cranberry (vaccinium macrospore), que tem como mecanismos de ação diminuição da aderência bacteriana às células uroepiteliais e acidificação urinária. Tem como inconveniente o fato de não ser bem tolerada pelas pacientes. Eventuais vacinas, ainda em fase experimental, como Lactobacillus crispatus (CTU-05), em forma de supositório vaginal, e em nosso meio o lisado bacterianode Escherichia coli (Uro-vaxom®), propõem-se a aumentar a resposta imunológica humoral e celular. Por último, devemos ter em mente a possibilidade da existência de biofilmes, frequentes no aparelho urinário como consequência da utilização de inúmeras formas de cateter para drenagem urinária. REFERÊNCIAS WEIN, Alan J. et al. (Ed.). Campbell-Walsh Urologia/Campbell-Walsh Urology. Ed. Médica Panamericana, 2008. JÚNIOR, Archimedes Nardozza; ZERATTI FILHO, A.; REIS, B. R. Urologia fundamental. São Paulo: Planmark Editora Ltda, 2010. CHENOWETH, Carol E. Urinary Tract Infections: 2021 Update. Infectious Disease Clinics, v. 35, n. 4, p. 857-870, 2021. MCANINCH, Jack W.; LUE, Tom F. Urologia geral de Smith e Tanagho-18. AMGH Editora, 2014.
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