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MATERIAL DIDÁTICO 
 
 
 
TEMAS EMERGENTES EM GESTÃO 
PRISIONAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
U N I V E R S I DA D E
CANDIDO MENDES
CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA 
PORTARIA Nº 1.282 DO DIA 26/10/2010 
 
Impressão 
e 
Editoração 
 
0800 283 8380 
 
www.ucamprominas.com.br 
 
 
 
2 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO ................................................................................ 3 
UNIDADE 2 – O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE HUMANA: MÃES E CRIANÇAS 
NO SISTEMA PENITENCIÁRIO ............................................................................ 6 
UNIDADE 3 – AS BOAS PRÁTICAS RECONHECIDAS PELO DEPARTAMENTO 
DE EXECUÇÃO PENAL (DEPEN) – REVISITANDO OS ESTADOS 
BRASILEIROS ..................................................................................................... 18 
UNIDADE 4 – REBELIÕES E GERENCIAMENTO DE CRISES ......................... 25 
UNIDADE 5 – A QUESTÃO DA IMPUTABILIDADE DO DOENTE MENTAL ..... 41 
UNIDADE 6 – POLÍTICA ANTIFACÇÃO CRIMINOSA ....................................... 45 
UNIDADE 7 – A ASSISTÊNCIA JURÍDICA E A DEFENSORIA PÚBLICA NA LEI 
DE EXECUÇÃO PENAL ...................................................................................... 51 
UNIDADE 8 – VIGIAR E PUNIR – A VISÃO DE MICHEL FOUCAULT .............. 55 
GLOSSÁRIO BÁSICO ......................................................................................... 59 
DEFINIÇÕES MÍNIMAS ....................................................................................... 62 
QUESTÕES DE SEMÂNTICA ............................................................................. 65 
RELAÇÃO COM O ESTADO ............................................................................... 69 
REFERÊNCIAS .................................................................................................... 73 
 
 
3 
 
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO 
 
 
Em 1999, Azevedo elaborou um artigo intitulado “As relações de poder no 
sistema prisional”. É com base em suas reflexões que iniciamos este módulo, o 
qual abordará temas que embora denominemos “emergentes”, não são assim tão 
contemporâneos, afinal, desde as mazelas, passando pelas constatações e até 
mesmo as soluções para os problemas do sistema prisional são de longa data do 
nosso conhecimento. 
O sistema prisional está centrado preponderantemente na premissa da 
exclusão social do criminoso, visto como perigoso e insubordinado. O 
confinamento e a vigilância a que está submetido é estrategicamente ordenado 
por mecanismos de opressão. Isto faz com que o Estado coloque nas prisões 
presos, às vezes, nem tão perigosos, mas que no convívio com a massa prisional 
iniciam um curto e eficiente aprendizado de violência, corrupção, promiscuidade e 
marginalidade, manifestada quer no comportamento dos presos, quer no dos 
agentes incumbidos de preservar a ordem interna. 
Neste módulo, trataremos temas como a dignidade da pessoa humana, 
mais especificamente a questão da mulher nas prisões e os direitos à 
amamentação de seus filhos, além de outros problemas que ela carrega consigo. 
Para amenizar a trajetória, lançamos mão de algumas experiências de 
boas práticas ou programas que vem sendo desenvolvidos em presídios das 
várias unidades da Federação, os quais são um alento para essa parcela da 
população que, sem julgamento de valores, sofre pela privação de liberdade. 
Os conflitos sempre existiram na história da humanidade, mesmo porque 
o ser humano é um ser complexo e suas relações passam por modificação de 
comportamento, necessidades, desejos, enfim, situações que na realidade são 
normais em qualquer sistema social e, porque não dizer, uma condição 
fundamental para o desenvolvimento pessoal e do próprio sistema, havendo 
ambos condições para sua resolução. 
 
 
4 
 
Para falarmos sobre os conflitos, as rebeliões e o gerenciamento de 
crises, precisamos entender primeiro que a privação de liberdade leva graves 
efeitos psicológicos e sociológicos sobre o indivíduo preso. Esses entendimentos 
farão parte de uma unidade a qual também tratará da mediação de conflitos. 
A mediação de conflitos constitui um marco nas relações interpessoais 
porque demonstra a fragilidade de soluções impostas e a inutilidade do rancor 
como substituto às decisões temperadas pelo bom-senso (FIORELLI; FIORELLI; 
MALHADAS JUNIOR, 2008). 
Filosoficamente, a mediação representa a substituição da disputa 
adversarial pelo acordo cooperativo. Seria o mesmo que pacificar por meio da 
obtenção da convergência de interesses. 
Daremos algumas pinceladas à questão da imputabilidade do doente 
mental, bem como falaremos de organizações criminosas e as políticas 
antifacção. 
Também dedicamos um momento para a assistência jurídica e a 
defensoria pública na Lei de Execução Penal. 
A visão de Michel Foucault sobre o vigiar e punir – o nascimento da 
prisão, não poderia ficar de fora, portanto, deixamos algumas considerações para 
que vocês reflitam! 
O que no passado era necessário, pois o povo precisava se assustar com 
as formas hediondas de punição, no futuro, não tão distante, foi modificado, 
porque na verdade o que o povo precisa não é de cenas chocantes de violência 
praticadas pelo Estado, que deveria ser a mãe e o pai de todos os cidadãos, mas 
sim de uma educação mais perene, mais justa, mais fraterna e mais frequente. O 
Estado precisa, ainda hoje, beber na fonte profícua de Paulo Freire: “Educação 
não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o 
mundo”. Esse será o grande efeito que teremos para prevenir delinquências e 
outros desajustes sociais (RIBEIRO, 2014). 
Finalizamos este módulo com um glossário ou dicionário de termos 
técnicos, definições mínimas e algumas relações do “preso” com o Estado, que se 
 
 
5 
 
farão úteis ao longo de todo trabalho, lembrando que o vocábulo “prisão” encerra 
em seu sentido mais amplo desde uma simples retenção, detenção e reclusão. 
Ressaltamos em primeiro lugar que embora a escrita acadêmica tenha 
como premissa ser científica, baseada em normas e padrões da academia, 
fugiremos um pouco às regras para nos aproximarmos de vocês e para que os 
temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos 
científicos. Em segundo lugar, deixamos claro que este módulo é uma compilação 
das ideias de vários autores, incluindo aqueles que consideramos clássicos, não 
se tratando, portanto, de uma redação original e tendo em vista o caráter didático 
da obra, não serão expressas opiniões pessoais. 
Ao final do módulo, além da lista de referências básicas, encontram-se 
outras que foram ora utilizadas, ora somente consultadas, mas que, de todo 
modo, podem servir para sanar lacunas que por ventura venham a surgir ao longo 
dos estudos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
 
UNIDADE 2 – O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE HUMANA: 
MÃES E CRIANÇAS NO SISTEMA PENITENCIÁRIO 
 
 
2.1 A dignidade da pessoa humana e a mulher em privação de liberdade 
Falar em dignidade humana nos leva a percorrer brevemente o caminho 
da tutela penal, que tem como objeto “a integridade física ou físio-psíquica do 
indivíduo” (HUNGRIA, 1958, p. 324). 
A mente, a inteligência, bem como as demais atividades cerebrais, 
compõe um dos patrimônios jurídicos mais importantes do corpo humano, pois 
sem elas o ser humano é incapaz de uma vida digna. 
O respeito à proteção da integridade e da dignidade do ser humano 
também é dever do Estado, o qual deverá garantir para a sociedade, seja por 
intermédio do seu poder disciplinador ou disciplinar (KLOCH; MOTTA, 2008). 
A função do Estado como Poder Disciplinador é manter a paz social, 
como bem jurídico fundamental. Mas para tanto, em razão da falta de política 
social adequada,edita leis mais severas (como a Lei Maria da Penha; Lei 
Antidrogas; a Lei do Desarmamento e outras), que apenas servem para aumentar 
a população carcerária, sem qualquer função disciplinadora. 
Nosso ordenamento jurídico garante que devem ser respeitados todos os 
direitos que não são atingidos pela privação da liberdade, resguardando, deste 
modo, a integridade física e moral dos condenados, tanto que a LEP estabelece 
um rol de assistências que devem ser garantidas aos presos, incluindo-se a 
assistência médica, jurídica, educacional, social, religiosa e material como vimos 
esmiuçadamente em módulos anteriores. Além disso, a referida lei dispõe que a 
execução penal busca proporcionar condições para a harmônica integração social 
do condenado ou internado. 
Pois bem, evoluímos e o reconhecimento da necessidade de separação 
dos encarcerados por gênero fez com que fossem incluídos na legislação direitos 
 
 
7 
 
específicos das mulheres presas, e algumas especificidades no período de 
execução da sua pena (SOUSA; MARTINS, 2014). 
Mas isso só veio acontecer na década de 1940! 
Como analisa Santa Rita (2002): 
 
A maioria das teorias do direito penal não faz referência à criminalidade 
sob a situação da delinquência feminina, apresentando, dessa forma, a 
conduta delituosa como um fenômeno do gênero masculino. Neste 
aspecto, entende-se que tal concepção tem escopo em raízes históricas 
do modelo de sociedade “machista”, na qual se reproduz a visão 
pragmática da mulher como sexo frágil e responsável pelo mundo 
doméstico, sendo incapaz de cometer atos delituosos. Dessa forma, 
pode-se pensar que, por consequência os serviços penitenciários são 
geralmente pensados em relação aos homens. 
 
Enfim, com o Código Penal e de Processo Penal de 1940 e Lei das 
Contravenções Penais de 1941, foram tomadas as primeiras deliberações 
efetivas, por parte do Estado, com vistas à acomodação legal de mulheres que 
cometeram crimes. A separação dos presídios femininos e masculinos deu-se 
com a finalidade de criar um ambiente próprio para atender as necessidades 
inerentes às mulheres e pôr fim ao ambiente de promiscuidade gerado no 
convívio de homens e mulheres no mesmo espaço físico. 
A mulher quando inserida no contexto de privação de liberdade apresenta 
uma série de problemas que se relacionam com as suas próprias condições 
biogenéticas: conciliação com ser mãe, cuidados específicos de pré-natal durante 
a gestação, período do aleitamento materno, entre outros. 
Um fator de suma importância que diferencia a mulher presa do homem 
preso é a questão da sensibilidade, das emoções, sendo ela mais vulnerável ao 
cárcere (MAKKI; SANTOS, 2010). 
Nucci (2008, p. 280) define emoção como sendo um estado de ânimo ou 
de consciência caracterizado por uma viva excitação do sentimento. É uma forte e 
transitória perturbação de afetividade, a que estão ligadas certas variações 
somáticas ou modificações particulares das funções da vida orgânica (pulsar 
precipite do coração, alterações térmicas, aumento da irrigação cerebral, 
 
 
8 
 
aceleração do ritmo respiratório, alterações vasomotoras, intensa palidez ou 
intenso rubor, tremores, fenômenos musculares, alterações de secreções, suor, 
lagrimas, entre outros). 
O gênero feminino tende a sofrer mais com a ausência dos filhos e 
familiares, a distância dos filhos ocasionada pela prisão é sentida mais nela 
devido à aproximação decorrente de sua natureza fisiológica materna. 
De acordo com o Relatório Final elaborado pelo Grupo de Trabalho 
Interministerial (2008 apud MAKKI; SANTOS, 2010), as mulheres preferem 
permanecer em estabelecimentos carcerários provisórios insalubres, com 
superlotação, onde não possuem acesso a direitos, para ficarem perto de seus 
familiares do que irem para penitenciárias mais aparelhadas longe do acesso de 
visitas familiares e com possibilidades de trabalho, educação e remição de pena. 
Na mulher, a preocupação com o universo fora das grades é maior, ela tende a 
priorizar o companheiro e a família, enquanto que o homem encarcerado recebe o 
apoio incondicional de sua mulher, sempre não medindo esforços pessoais para 
facilitar a vida de seu homem enquanto preso. 
Evidencia-se frequentemente que a mulher encarcerada sofreu influências 
masculinas diretas ou indiretas que a levaram a sua prisão. Como quando estes 
as induzem ao cometimento ou participação do crime ou então, a assumir a culpa 
sozinha para livrá-lo do cárcere, servindo como escudo contra a ação policial e 
outra vez vítima de sua própria natureza (Grupo de Trabalho Interministerial, 2008 
apud MAKKI; SANTOS, 2010). 
De acordo com Amaral (2005), o indivíduo mulher sofre mais 
discriminação familiar por estar presa, recebe menos visita e tende a perder seu 
relacionamento amoroso por estar longe de seu companheiro, na situação inversa 
ocorre o contrário, pois a mulher não abandona ou esquece de seu homem preso, 
cuida dos filhos, mantém financeiramente a casa e cultiva seu afeto, e de seus 
filhos pelo pai, até a volta da liberdade. 
Novamente é Santa Rita (2002, p. 14) quem nos leva a refletir sobre as 
questões que permeiam a vida da mulher nas prisões: 
 
 
 
9 
 
Compete-nos saber se as diretrizes e regulamentos condizentes com tais 
condições femininas são viabilizados durante o processo da execução 
penal. O fato do nascimento e/ou permanência de crianças no interior da 
prisão já remete a situações que extrapolam a condenação legal, tendo 
em vista que apresentam reflexos sociais na ultrapassagem da pena 
para os familiares. 
O Art. 82 da Lei 7.210 de 11 de julho de 1984 – Lei de Execução Penal – 
dispõe que as prisões de mulheres devem ser separadas daquelas destinadas 
aos homens. Entretanto, apesar da existência desse dispositivo legal, nota-se 
que, em algumas unidades da federação, existe um complexo penitenciário 
polivalente, em que a penitenciária de mulheres é uma de suas unidades, ainda 
que tenha separação por gênero. 
Em 2004, Espinoza apontou que “o crime de maior incidência entre as 
mulheres presas era o tráfico de entorpecentes”, de fato, como uma avalanche 
desenfreada, as drogas tomaram conta de parte da vida dos brasileiros, sejam 
eles usuários ou traficantes, vítimas ou expectadores, policiais ou presidiários. 
De acordo com Soares (2002, p. 2), a prisão de mulheres, devido ao 
tráfico, está ligada ao fato de ficarem em posições de menos importância, mais 
expostas à ação policial. Ou seja, há como agravante o fato delas ocuparem, em 
geral, posições subalternas ou periféricas na estrutura do tráfico, tendo poucos 
recursos para negociar sua liberdade quando capturada pela polícia, e também 
dificilmente as detentas se intitulam como chefes do tráfico. 
O perfil da encarcerada brasileira pode ser descrito como jovem, não 
branca, condenação direta ou indiretamente por tráfico de drogas, e não ocupa 
lugar de liderança na cadeia criminosa do tráfico, conforme Relatório Final da 
Secretaria de Políticas Para as Mulheres do Ministério da Justiça (2008). 
Corroborando com tais informações, Soares (2002) afirma que em sua 
grande maioria, as condenações femininas são por ilicitudes referentes a uso, 
tráfico de drogas ou formação de quadrilha ficando à frente de crimes violentos 
como: homicídio, infanticídio, lesão corporal, roubo, latrocínio, sequestro, 
extorsão, entre outros. 
Oficialmente e bem recentemente, o Departamento penitenciário Nacional 
(DEPEN) apontou, quanto ao número de mulheres em presídios, que últimos 12 
 
 
10 
 
anos, a população carcerária feminina aumentou 256%. O aumento do número de 
homens presos foi de 130%, quase a metade no mesmo período. 
Atualmente, as mulheres representam cerca de 7% da população 
carcerária brasileira, o que corresponde aproximadamente 36 mil presas. A partir 
desse cenário, o DEPEN lançou o Programa Nacional de Apoio ao Sistema 
Prisional, que prevê o repasse de R$ 1,1bilhão aos estados. Uma das metas do 
programa é o fim do déficit de vagas feminino, que é hoje de 14 mil vagas. 
A maioria das prisões de mulheres está relacionada com o tráfico de 
drogas e são poucos os casos de crimes com violência. Dados do Ministério da 
Justiça mostram que o perfil das mulheres presas no Brasil é formado por jovens, 
entre 18 e 34 anos, e 58% são analfabetas, alfabetizadas ou não possuem o 
ensino fundamental completo (BRASIL/MJ, 2015). 
Apesar de estarem expostas aos mesmos fatores sociais que atingem a 
nossa população, as mulheres sofrem, além desses, fatores culturais 
característicos do gênero. Como maus tratos e abuso sexual sofridos durante a 
infância e adolescência, violência doméstica por parte de seus companheiros, 
gravidez precoce, entre outros (MAKKI; SANTOS, 2010). 
De acordo com Soares (2002), mais de 95% das mulheres encarceradas 
foram vítimas de violência em algumas dessas situações: na infância, por parte de 
seus responsáveis; na vida adulta, por parte dos maridos e quando presas por 
parte de policiais civis, militares ou federais. 
 
2.2 Prisões femininas no Brasil: das origens à atualidade 
No que se refere à origem das concepções de criminalidade feminina, 
destacam-se relações com a bruxaria e com a prostituição, comportamentos que 
ameaçavam os papéis socialmente estabelecidos para a mulher. Nos vários 
estudos realizados sobre a origem das prisões femininas no Brasil, observa-se a 
vinculação histórica do discurso moral e religioso nas formas de aprisionamento 
da mulher. 
 
 
11 
 
Segundo Soares e Ilgenfritz (2002), Lemos de Brito1 pode ser considerado 
como o principal ideólogo das prisões femininas no Brasil, sendo encarregado de 
elaborar um projeto de reforma penitenciária no ano de 1923. Naquela época, as 
mulheres presas ficavam juntas com os homens criminosos e com os escravos. 
Lemos de Brito não sugeriu a construção de uma prisão nos moldes tradicionais 
da época, ou seja, não se pautou pelo modelo das prisões masculinas. Ele 
propôs, em vez disso, a construção de um reformatório especial, com o que 
indicava a necessidade de um tratamento específico para a mulher por parte do 
sistema penitenciário, apesar de este ser revestido de uma moralidade religiosa. 
A proposta dessa reforma não se regia, portanto, pela busca da melhoria das 
condições penitenciárias tanto para os homens quanto para as mulheres. 
Nessa concepção, era necessário que as mulheres criminosas fossem 
separadas dos homens criminosos, visto o seu poder deletério, como se 
enfocasse o sentimento genésico dos sentenciados, aumentando-lhes o martírio 
da forçada abstinência. Assim, essa separação teria que acontecer para 
 
garantir a paz e a tranquilidade desejada nas prisões masculinas, do que 
propriamente a dar mais dignidade às acomodações carcerárias, até 
então compartilhadas por homens e mulheres (SOARES; ILGENFRITZ, 
2002, p. 57). 
 
Outro dado importante trazido por Soares e Ilgenfritz refere-se ao teor dos 
relatórios elaborados pelo Conselho Penitenciário do então Distrito Federal 
(Cidade do Rio de Janeiro) de 1929, que enfatizava um “juízo moral” ao distinguir 
as presas comuns condenadas por crimes como o aborto, o infanticídio, entre 
outros, daquelas relacionadas à prostituição, vadiagem e embriaguez. A 
criminalização destas últimas se dava de forma alarmante. 
Dessa forma, nota-se que a ótica central àquela época, no que se refere à 
questão do encarceramento feminino, era permeada por uma atitude moral, na 
qual ensinamentos religiosos se tornaram basilares para o novo estabelecimento 
prisional destinado às mulheres. Veiculava-se a ideia de separação das mulheres 
“criminosas” para um ambiente isolado de “purificação”, numa visão de 
 
1
 Professor, penitenciarista, legislador, deputado, membro do Instituto dos Advogados do Brasil e 
do Chile, Presidente do Conselho Penitenciário do antigo Distrito Federal, autor de uma extensa 
bibliografia sobre questão prisional e de prolixos estudos sobre a questão sexual nas prisões. 
 
 
12 
 
discriminação de gênero assumida pela construção do papel da mulher como 
sexo frágil, dócil e delicada (SANTA RITA, 2006). 
A utilização da pena de prisão deveria servir para a reprodução dos 
papéis femininos socialmente construídos. A intenção era que a prisão feminina 
fosse voltada à domesticação das mulheres criminosas e à vigilância da sua 
sexualidade. Tal condição delimita na história da prisão os tratamentos 
diferenciados para homens e mulheres. 
Segundo Espinoza (2003, p. 39), 
com essa medida, buscava-se que a educação penitenciária restaurasse 
o sentido de legalidade e de trabalho nos homens presos, enquanto, no 
tocante às mulheres, era prioritário reinstalar o sentimento de pudor. 
 
Soares e Ilgenfritz (2002) retratam ainda que na data de 09 de novembro 
de 1942, por meio do Decreto nº 3971, de 02/10/1941, nasce a primeira 
penitenciária feminina brasileira do antigo Distrito Federal, sob a administração 
interna e pedagógica de freiras, e a cargo da Penitenciária Central do Distrito 
Federal (PCDF) ficavam os demais serviços, como a guarda, o transporte, a 
alimentação, a assistência médica, entre outros. 
Fica claro, então, que nos postulados da origem das prisões femininas 
brasileiras, havia a intenção por parte da gestão prisional de domesticação, 
vigilância sexual e transformação das “mulheres pecadoras e criminosas” em 
“mulheres perfeitas”, reproduzindo, assim, a ótica dominante da moral e dos bons 
costumes, com a mulher sendo ligada ao mundo doméstico, caridoso, pacífico e 
dócil (SANTA RITA, 2006). 
Dedicadas às prendas domésticas de todo tipo (bordado, costura, 
cozinha, cuidado da casa e dos filhos e marido), elas estariam aptas a retornar ao 
convívio social e da família, ou, caso fossem solteiras, idosas ou sem vocação 
para o casamento, estariam preparadas para a vida religiosa (SOARES e 
ILGENFRITZ, 2002, p. 58). 
Assim, é importante destacar que com o passar do tempo, o projeto de 
“domesticação” das freiras com relação às mulheres presas entrou em declínio, 
visto a generalização da violência e falta de disciplina nessa unidade prisional. Na 
 
 
13 
 
prática, as mulheres em vez de se tornarem mais dóceis, tornaram-se mais duras 
e ferozes. No ano 1955, houve o retorno da casa prisional à direção da PCDF e, 
em 1966, recebeu o nome de Instituto Penal Talavera Bruce, adquirindo 
autonomia administrativa, e nos dias atuais é denominada Penitenciária Talavera 
Bruce, unidade prisional feminina de segurança máxima do Estado do Rio de 
Janeiro. 
Santa Rita (2006) ressalta que a representação da moralidade e da 
religiosidade presente no percurso histórico das prisões femininas brasileiras, 
reproduz e legitima a discriminação da mulher e as formas de dominação 
existentes no contexto da privação de liberdade até os dias atuais. Sobre sua 
transgressão, recai, além de um sistema punitivo de controle e de poder, uma 
representação social do seu papel feminino, ocasionando, assim, uma dupla 
discriminação: por ser criminosa e por ser mulher. 
Novamente evoluímos! Nem tanto assim, mas houveram “progressos”. 
Lemgruber (1999), no prefácio da segunda edição do livro “Cemitério dos 
vivos: análise sociológica de uma prisão de mulheres”, constatou que as 
mudanças ocorridas nas unidades prisionais não alteraram sua dinâmica 
estrutural. 
Como diz Santa Rita (2006), em relação ao Talavera Bruce, entre 1976 e 
1997, alguma coisa mudou. Espaços físicos sofreram alterações, havia mais 
atividades laborativas e o perfil da população carcerária apresentava um caráter 
distinto. Somente isso, mas não mudanças estruturais, somente conjunturais. 
Segundo dados da Pastoral Carcerária (2010), no Brasil, há 508 unidades 
prisionais com mulheres encarceradas; destas, somente 58 são exclusivamente 
femininas e 450 são compartilhadas entrehomens e mulheres. 
 
2.3 As regras mínimas da ONU, outras legislações e creche no sistema 
penitenciário 
Segundo o § 3º do art. 14 da Lei de Execução Penal, será assegurado 
acompanhamento médico à mulher, principalmente no pré-natal e no pós-parto, 
extensivo ao recém-nascido. 
 
 
14 
 
No § 2º do art. 82 temos que os estabelecimentos penais destinados a 
mulheres serão dotados de berçário, onde as condenadas possam cuidar de seus 
filhos, inclusive amamentá-los, no mínimo, até 6 (seis) meses de idade (Redação 
dada pela Lei nº 11.942, de 2009) 
O art. 89 diz que além dos requisitos referidos no art. 88, a penitenciária 
de mulheres será dotada de seção para gestante e parturiente e de creche para 
abrigar crianças maiores de 6 (seis) meses e menores de 7 (sete) anos, com a 
finalidade de assistir a criança desamparada cuja responsável estiver presa 
(Redação dada pela Lei nº 11.942, de 2009) 
Parágrafo único. São requisitos básicos da seção e da creche referidas 
neste artigo (Incluído pela Lei nº 11.942, de 2009) 
I – atendimento por pessoal qualificado, de acordo com as diretrizes 
adotadas pela legislação educacional e em unidades autônomas; e (Incluído pela 
Lei nº 11.942, de 2009) 
II – horário de funcionamento que garanta a melhor assistência à criança 
e à sua responsável (Incluído pela Lei nº 11.942, de 2009) 
Art. 90. A penitenciária de homens será construída, em local afastado do 
centro urbano, à distância que não restrinja a visitação. 
Observa-se um traço comum tanto na Constituição Federal como na Lei 
de Execução Penal no tocante à proteção do aleitamento materno aos recém-
nascidos, filhos ou filhas de mulheres presas. E nessa proteção legal, está 
prevista a instalação de ambiente prisional específico para mulher, com 
destinação de um berçário, ficando facultativa a instalação de creches (SANTA 
RITA, 2006). 
Em relação a aspecto relacionado à saúde da mulher presa, a LEP, em 
seu Art. 14, menciona apenas as seguintes questões, que por si só, já 
reproduzem uma discriminação da mulher, visto nada expressarem quanto ao 
atendimento ginecológico ou pediátrico, para citar alguns. O que se acrescenta no 
Art. 43 dessa Lei é a garantia do direito da pessoa presa contratar médico de 
confiança pessoal para orientação e acompanhamento do tratamento. 
 
 
15 
 
Vale lembrar que as Regras Mínimas da ONU (1955) recomendam 
cuidados com gestantes, recém-nascidos e crianças que permanecem no 
ambiente prisional, prevendo instalações especiais nos presídios femininos para o 
acompanhamento de mulheres presas grávidas, parturientes e convalescentes 
(Regra nº 23.1) e de creches (Regra nº 23.2). E no ordenamento jurídico 
brasileiro, o que de fato foi acrescido para a proteção de particularidades no 
encarceramento feminino? Parece que muito pouco, diz Santa Rita (2006). 
A realização do encontro íntimo no interior das unidades prisionais e o 
ingresso de mulheres gestantes para cumprimento de pena privativa de liberdade 
já são questões que merecem maiores reflexões no âmbito da gestão dos 
complexos prisionais. São inegáveis as precárias condições de habitabilidade em 
que se encontram as penitenciárias brasileiras, e o problema se agrava na 
medida em que as unidades femininas não dispõem de recursos humanos 
especializados e espaços físicos necessários à saúde da mulher, em especial ao 
tratamento pré-natal e pós-natal. 
Igualmente, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, Lei nº 
8069/90) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB nº 9394/96) 
também caminham juntas no sentido de proteção infanto-juvenil. 
O ECA é norteado pelos artigos 204 e 227 da Carta Magna, produto de 
um amplo processo organizativo da sociedade para a superação da visão 
tradicional – alicerçada no abandono, na carência e na delinquência – para outra, 
que assegura a prioridade absoluta à criança e ao adolescente como dever da 
família, da sociedade e do Estado. Neste ordenamento jurídico brasileiro, meninas 
e meninos são definidos como pessoas, sujeitos de direitos em condição peculiar 
de desenvolvimento. 
Esta legislação é, sem dúvida, uma das mais avançadas no campo da 
política da infância-adolescência, fruto da dinâmica particular que rege os três 
atores fundamentais no Brasil na década de 1980: os movimentos sociais, as 
políticas públicas e o mundo jurídico. 
Os preceitos da LDB, no que se refere à educação infantil, estabelece que 
essa modalidade é 
 
 
16 
 
a primeira etapa da educação básica e tem como finalidade o 
desenvolvimento integral da criança até os seis anos de idade, em seus 
aspectos físico, psíquico, intelectual e social, complementando a ação da 
família e da comunidade (Art. 29). 
 
Assim, prevê a integração de creches e pré-escolas aos sistemas de ensino, 
atuando com quadro de educadores providos de profissionalização específica. 
Nessa sistemática, a modalidade de atenção às crianças de até 6 anos de idade 
corresponde ao quadro da educação infantil, subdividida da seguinte forma: 
- creche, para crianças até três anos de idade; 
- pré-escola, para crianças de quatro a seis anos. 
Nessas subdivisões, as crianças devem ser separadas seguindo uma 
dinâmica de agrupamento, seja por idade, desenvolvimento, entre outros 
indicadores que se impõe com vistas à oferta de um ambiente estimulador e 
saudável ajustados às suas possibilidades físicas e motoras. De acordo com as 
características do grupo de crianças de até 03 anos, deve existir a separação em 
espaços de berçário e maternal. 
Essa mudança de enfoque na esfera infantil representa uma articulação 
política entre as áreas da educação e assistência social, criando um elo de 
ligação entre tais políticas públicas, com a centralidade na educação. Assim, 
torna-se obrigatório que as atividades com crianças de até 3 anos oportunizem 
uma ação de caráter educacional e não apenas de guarda dos menores. 
Nesse sentido, o sistema de creche não pode mais se relacionar com 
antigas funções de depósito ou abrigo. Sua estrutura física deve ter como objetivo 
o alcance do desenvolvimento harmonioso das crianças em seus aspectos 
afetivos, físicos, intelectuais, sociais, biológicos e mentais. Espaços de creche 
devem ser vistos, nessa abordagem, não apenas como lugares de atividades 
lúdicas, mas, sobretudo, como espaços de interação com as mães e com outras 
crianças, influenciando diretamente na construção da personalidade e no 
desenvolvimento das potencialidades futuras da criança (SANTA RITA, 2006). 
A mesma autora afirma desde já que a situação do atendimento infantil 
aos filhos de mulheres encarceradas além de ser assunto polêmico, necessita de 
 
 
17 
 
uma maior visibilidade nas esferas das políticas sociais, criminais e penitenciárias. 
Aqui já se antecipa dizer que não se pode negar que a prisão atinge diretamente 
os filhos(as) das mulheres que estão sob privação de liberdade. Também, torna-
se indispensável a discussão de políticas públicas específicas voltadas para a 
mulher presa e as condições atuais dos estabelecimentos prisionais femininos, e 
neles, a situação da maternidade, dos direitos sexuais e reprodutivos das 
mulheres encarceradas, conforme a seguir se apresenta. 
Fica lançado o desafio: atuarem para que a PNSSP tenha novos olhares 
para a mulher, para a devida atenção à maternidade, à infância em todos os 
aspectos relacionados à saúde e educação, uma vez que esse Plano não 
contempla especificamente essa parcela da população seja frente a questões 
específicas como aleitamento materno e atendimento infantil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 
 
UNIDADE 3 – AS BOAS PRÁTICAS RECONHECIDAS 
PELO DEPARTAMENTO DE EXECUÇÃO PENAL (DEPEN) 
– REVISITANDO OS ESTADOS BRASILEIROS 
 
A título de enriquecimento e sugestão para novas ações, lançamos mão 
de algumas experiências de boas práticas reconhecidas e registradas no SistemaPenitenciário Nacional, que se encontram no manual de mesmo nome, editado 
pelo DEPEN, englobando todas as unidades da federação. 
Essas práticas fazem parte da política nacional e visam à reintegração 
social do preso e presa, de serviços especializados com os cumpridores de penas 
e medidas alternativas e à reabilitação do egresso/as e liberado/as do sistema 
prisional. 
As práticas selecionadas nos sistemas penitenciários estaduais guardam 
identidade com a relação dialógica entre o sistema de justiça criminal e a 
formação de redes sociais de enfrentamento, proteção e atendimento às pessoas 
criminalizadas, visando à humanização da pena (BRASIL, 2009). Retiramos uma 
boa prática de cada Estado devido ao espaço e tempo, mas caso queiram 
conhecer, todas se encontram no referido manual. 
O critério central considerado para seleção das boas práticas esteve na 
identificação de políticas e programas sociais de tratamento, escolarização, 
profissionalização, geração de emprego e renda, envolvendo a prevenção criminal 
e a promoção de segurança. 
Programas esses que devem ser exaltados pelo empenho e dedicação 
dos idealizadores que colocam em prática o tema da ressocialização como pauta 
prioritária de uma política penitenciária que vise Segurança com Cidadania; e 
demonstre, concretamente, resultados que colaborem com a redução da 
reincidência no Sistema Penitenciário de seu estado. 
 
 
 
 
 
19 
 
Acre: 
O curso de Piscicultura contribuiu para o aperfeiçoamento de técnicas e o 
aumento da criação de peixes no açude da Penitenciária. Existem mais de 2.500 
alevinos de curimatá. 
O curso de horticultura possibilitou o aumento da mão de obra de 
detentos e a produção de verduras. São cultivados couve, alface, coentro, 
cebolinha, abóbora, quiabo e maxixe para suprimento interno. 
Alagoas: 
No Complexo Penitenciário, existe um local chamado “Fábrica 
Esperança”, na qual são oferecidos aos detentos do Estado, oficinas 
profissionalizantes de cultivo de alimentos (horta), artesanato, panificação, 
serigrafia, alfaiataria, mecânica, serralharia e tornearia. 
Amazonas: 
Através do Projeto “Oficina de Arte e Literatura”, a Universidade Estadual 
do Amazonas incentiva a arte e a literatura em unidades penitenciárias do Estado. 
Há apresentações de grupos de dança formados por detentos e exposições de 
arte. 
Amapá: 
Com o objetivo de oferecer assistência jurídica aos detentos da 
administração penitenciária do Amapá, está sendo desenvolvido o projeto 
“Assistência Legal” em parceria com a Vara de Execuções Penais, financiado pelo 
Depen – MJ. 
O projeto tem como principal finalidade desencarcerar aqueles que estão 
com excesso de execução. Ao mesmo tempo, busca dar apoio no 
acompanhamento e fiscalização das penas e medidas alternativas; auxiliar o juízo 
na assistência judiciária, proporcionando celeridade nos processos para a 
concessão de benefícios aos detentos, além de contribuir para a avaliação do 
sistema prisional, sugerindo diretrizes para seu funcionamento. 
 
 
20 
 
Em julho de 2009, o impacto jurídico-social do projeto fez o Tribunal de 
Justiça do Amapá criar a Vara de Execução de Penas e Medidas Alternativas, 20ª 
do Brasil, na comarca de Macapá – AP. 
Bahia: projeto voo livre 
Projeto voltado para a capacitação de servidores do Hospital de Custódia 
e Tratamento Penitenciário, para uma nova abordagem da humanização do 
tratamento penal. Esse projeto tem parceria com a Secretaria Estadual de Saúde. 
Ceará: Pintando a Liberdade 
Parceria firmada entre o Governo Federal através do Ministério do 
Esporte, a Secretaria de Esporte e Lazer – SEEL – e o de Administração 
Penitenciária – IAPEN. São confeccionadas bolas. Os detentos selecionados 
passam por um período de capacitação e treinamento realizado por profissionais 
qualificados que trabalham na fábrica de costura de bolas. 
Distrito Federal: 
Na quarta edição do Fest'Arte, 109 presos nas seis unidades do sistema 
penitenciário do Distrito Federal puderam expor suas canções, poesias, danças, 
causos, peças de teatro e artesanatos. 
Esta é uma das iniciativas que fazem parte de um projeto da diretoria de 
educação das cadeias. Na arte, os detentos expõem seu cotidiano, suas 
angústias e suas perspectivas para a vida depois de cumprida a condenação. 
Espírito Santo: Núcleo de Qualificação Profissional 
O Núcleo coordena a qualificação das pessoas em privação de liberdade 
por meio de cursos profissionalizantes e dentro dos arranjos produtivos do 
Estado, de forma a possibilitar a inserção do detento no mercado de trabalho. 
Vários cursos estão sendo oferecidos, tais como: eletricista básico, design 
de artesanato, jardinagem, olericultura e viverista. 
Goiás: projeto renascer 
Visa o atendimento de dependência química dos detentos provisórios e 
dos detentos do regime fechado. 
 
 
21 
 
Maranhão: reciclando vidas 
Este Projeto consiste no exercício da atividade de reciclagem de 
cartuchos para impressoras jato de tinta e laser. Em desenvolvimento na 
Penitenciária de Pedrinhas. 
Mato Grosso: Fundação Nova Chance 
Tem como objetivo proporcionar educação, trabalho, elevação da 
autoestima, desenvolvimento de campanhas de reinserção social e assistência 
aos egressos(as) e às suas famílias, entre outros importantes benefícios. 
Mato Grosso do Sul: Curso de Corew Draw básico 
A parceria com a Escola de Governo de MS possibilita o oferecimento do 
curso de corew draw básico para detentos de diversas unidades penitenciárias. 
O curso tem como finalidade desenvolver a capacidade de criação de 
logotipos, desenhos e layouts profissionais, contribuindo para uma melhor 
formação e possibilidade de geração de renda, com o enriquecimento do currículo 
do detento. 
Minas Gerais: Festipen 
É o Festival de Música do Sistema Penitenciário de Minas Gerais. Nesse 
festival, os detentos apresentam suas versões musicais e concorrem com 
detentos de vários estabelecimentos penais do Estado. Findo concurso, as 
músicas selecionadas são gravadas em CD em estúdio contratado pela 
Secretaria. 
O Festival busca a elevação da autoestima do preso e o desenvolvimento 
de habilidades musicais. 
Pará: Programa de Educação para a Cidadania 
Tem com objetivo promover a valorização e o resgate da dignidade 
humana, bem como do exercício da cidadania aos indivíduos apenados, egressos 
e seus familiares através do acesso à escolarização básica articulada à educação 
profissional, possibilitando a sua reinserção na dinâmica da vida social e no 
mundo do trabalho de forma responsável, consciente e competente. 
 
 
22 
 
Este Projeto Político-Pedagógico está pautado na união da educação 
regular com a educação profissionalizante. 
Paraíba: Pintando a liberdade 
Atua na produção de materiais esportivos (redes e bolas). 
Cada detento envolvido no Programa Pintando a Liberdade, além da 
oportunidade de profissionalização e resgate da autoestima, recebe uma ajuda de 
custo por bola costurada. 
Outro benefício oferecido pelo Programa é a remição da pena, que 
garante aos apenados a redução de um dia da pena por cada 3 dias trabalhados. 
Paraná: Rádio CMP 
Ocorre no Complexo Médico Penal de Pinhais. Projeto desenvolvido com 
o objetivo de aproximar os detentos da cidadania através de informações, dicas 
de cidadania, dicas de saúde, entretenimento e momentos de oração. 
Esse Projeto visa atrair ao detento melhores condições psicológicas, 
descontração e contribui para a melhoria da alta estima. 
Pernambuco: Banco do Povo 
Oferece crédito para os egressos, buscando dar a oportunidade de voltar 
ao mercado de trabalho através de um microempreendimento. 
Piauí: Coral 
A Penitenciária Feminina de Teresina oferece curso de coral às detentas. 
O Coral Dom Celso realiza apresentações dentro e fora do sistema 
penitenciário em datas comemorativas. 
Rio Grande do Norte: Mente livre 
Busca a ressocialização dos detentos através da práticade Yoga. 
Rio Grande do Sul: Mulher presa 
A Susepe firmou convênio com o Instituto Metodista de Porto Alegre, 
oferecendo ensino superior gratuito de Serviço Social para detentas do regime 
 
 
23 
 
fechado e para servidoras da Penitenciária Feminina Madre Pelletier, em Porto 
Alegre. 
Rio de Janeiro: O guardião 
Programa utilizado pela inteligência penitenciária que intercepta ligações 
telefônicas (com autorização judicial) e monta um banco de dados com 
informações cruzadas, que serão utilizadas pelo setor de inteligência, para o 
acompanhamento de situações suspeitas. 
Rondônia: Dia do desafio 
Coordenado anualmente pela Prefeitura, o Dia do Desafio é uma 
atividade promovida pelo Sesc. Uma campanha mundial, criada a 12 anos, com o 
aval da Unesco, e tem como objetivo incentivar a população carcerária à prática 
regular de atividades desportivas como forma de garantir o bem-estar e a 
autoestima. 
Roraima: João de Barros 
Parceria entre a SEJUC e a Universidade Federal de Roraima, o Projeto 
proporciona aos detentos a oportunidade de trabalho dentro da Universidade, a 
qual ofereceu postos de trabalho nas áreas da Gerência de Operações e 
Biblioteca. 
A Universidade Federal de Roraima oferece assistências médica, jurídica, 
odontológica e social às famílias participantes do Programa João de Barro. 
Santa Catarina: Atendimento à saúde dos servidores 
O Estado disponibiliza atendimento à saúde dos servidores que atuam no 
sistema penitenciário, através do Programa de Atendimento ao Servidor – PAS, 
prestando serviços nas áreas jurídica, psicológica e de assistência social. 
O projeto foi desenvolvido pela Secretaria Executiva de Justiça e visa 
proporcionar um espaço que possibilite ao servidor sentir-se amparado sob os 
aspectos de atendimentos psicológico e social, e orientação jurídica, 
considerando suas necessidades de ordem funcional e pessoal. 
 
 
 
24 
 
São Paulo: Dicas 
“Dicas – o que você precisava para ficar livre de vez” é um guia voltado 
para o egresso, elaborado pelo Instituto Amankay, em parceria com a SAP, 
através do Diretoria de Reintegração Social e Cidadania e Funap, no qual são 
abordadas questões de urgência e de necessidade: condições para sobrevivência 
fora das celas. 
Apresenta serviços que possibilitam o novo recomeço, a saúde do corpo e 
da mente, a assistência jurídica e serviços específicos para a mulher. 
Em sua nova versão, será apresentado em dois volumes, um abrangendo 
a Capital e Grande São Paulo e outro abarcando o Interior e Litoral. 
Sergipe: Pintando a liberdade 
Atualmente, 200 detentos estão incluídos no Projeto Pintando a 
Liberdade, através do qual são confeccionadas bolas esportivas. 
Tocantins: Educação a distância 
Em parceria com a Universidade de Tocantins, são realizados cursos de 
pós-graduação, utilizando o sistema EAD – Educação a Distância. 
 
 
 
 
 
 
 
 
25 
 
UNIDADE 4 – REBELIÕES E GERENCIAMENTO DE 
CRISES 
 
Entender o sentido de uma rebelião e saber gerenciar crises requer andar 
por caminhos que passam necessariamente pelos efeitos que a prisão exerce 
sobre o condenado, ou seja, esses sujeitos sofrem efeitos psicológicos e 
sociológicos. Vejamos: 
 
4.1 Os efeitos da prisão sobre o condenado 
O indivíduo, quando condenado a cumprir sua pena privativa de liberdade 
em um estabelecimento de segurança máxima ou média, quer dizer, em regime 
fechado, não fica sujeito apenas à privação da liberdade, havendo certos fatores 
que devem ser relevados (PICKLER, 2003), como os efeitos sociológicos. 
A prisão, por sua natureza, torna o condenado dependente e suas 
vontades ficam agora limitadas pelo Estado no que concerne ao vestuário, lazer, 
entre outros. Na prisão, verifica-se que o homem é obrigado a adequar-se ao 
sistema imposto pela administração prisional, perdendo, com isso, parte de sua 
identidade como sociedade. Como ressocializar o condenado, como devolvê-lo à 
sociedade recuperado, ou seja, sem que ele volte a delinquir, se a prisão tolhe 
qualquer iniciativa do indivíduo, submetendo-o a uma rotina predeterminada pela 
instituição? 
Uma rotina que, seguida durante muitos anos, pode transformá-lo em um 
homem sem capacidade de decisão. Como esse indivíduo pode se adaptar ao 
convívio social, à vida da sociedade moderna, estando habituado a seguir 
determinações alheias a sua vontade? 
Vejamos alguns depoimentos que evidenciam esse efeito da prisão: 
Ao deixar o refeitório fui instruído para retornar à cela a mim designada. 
Quando ali cheguei a porta estava aberta, mas fiquei hesitante entre 
continuar ou esperar que me ordenassem fizesse isso ou outra coisa. 
Esse automatismo, renovado com frequência nas cadeias, é uma tortura; 
as pessoas livres não imaginam a extensão do tormento. Certo, há uma 
razão para nos mexermos desta ou daquela maneira, mas, 
desconhecendo o motivo dos nossos atos, andamos à toa, 
desarvorados. Roubam-nos completamente a iniciativa, os nossos 
 
 
26 
 
desejos, os intuitos mais reservados, estão sujeitos à verificação; e 
forçam-nos a procedimentos desarrazoados (THOMPSON, 1993). 
Ressalta o referido autor: 
Lesionado, de maneira profunda, no senso de autodeterminação, 
hesitante, sempre, entre fazer ou não fazer, o recluso habitua-se a 
esperar que tomem decisões por ele – e isso lhe caracteriza a 
personalidade. 
 
Quando o condenado ingressa na prisão, ergue-se uma barreira, ele é 
totalmente afastado da vida social, não mais importam suas vontades ou 
aspirações, torna-se fruto do meio a que está inserido, sente-se diminuído, 
também, quanto aos pouquíssimos objetos e posses que lhe são permitidos pela 
instituição e, ainda, pelo limite espacial que lhe é imposto. A Lei de Execuções 
Penais determina, no artigo 88, que a cela deva ter no mínimo dois metros por 
três, porém, se milagrosamente, o recém-admitido tiver sorte de encontrar uma 
cela que não esteja superlotada, ainda assim, trata-se de dimensões muito 
reduzidas para uma pessoa viver. 
Outra grave agressão à personalidade do indivíduo, diz respeito a sua 
intimidade. Bitencourt (1993) relata ser ela violada em dois sentidos: 
1º) Durante o processo de admissão, todos os dados relativos ao interno, 
bem como sua conduta passada, especialmente os aspectos desabonatórios são 
recolhidos e registrados em arquivos especiais à disposição da administração 
penitenciária. A instituição total invade todo o universo íntimo do recluso, sejam 
de caráter psíquico, pessoal ou de qualquer natureza, desde que possa significar 
algum descrédito. 
2º) Também se anula a intimidade pela falta de privacidade com que se 
desenvolve a vida diária do interno. Ele nunca está só. Tem que se manter 
obrigatoriamente na companhia de pessoas que nem sempre são suas amigas. A 
obrigatoriedade de estar permanentemente com outras pessoas pode ser tão 
angustiante quanto o isolamento permanente. O mais grave desta situação é a 
impossibilidade de evasão da instituição total, como ocorre na sociedade civil. 
 
 
27 
 
Esse desrespeito à intimidade da pessoa, verifica-se até mesmo nos 
locais reservados a satisfações fisiológicas, como dormitórios coletivos e latrinas 
abertas. 
Sem dúvida, a invasão de privacidade que a prisão provoca na vida do 
condenado, durante todo o cumprimento da pena, é aviltante. 
A prisionalização é outro efeito importante da prisão sobre o condenado. 
Para Bitencourt (1993, p. 86), “é a forma como a cultura carcerária é 
absorvida pelos internos”. E acrescenta: 
Trata-se de uma aprendizagem que implica em um processo de 
‘dessocialização’. Esse processo dessocializador é um poderoso 
estímulo para que o recluso recuse, de forma definitiva, as normas 
admitidas pela sociedade exterior. 
 
A prisionalização constitui-se, então, num entrave ao objetivo 
ressocializador da pena. 
Quanto aos efeitos psicológicos, no âmbito da Psicologia, muito se 
discutiu a respeito da existência da psicosecarcerária, e hoje, não se fala mais 
em psicose carcerária, mas em reações carcerárias. Não se ignora, portanto, que 
o encarceramento pode produzir alguns efeitos no indivíduo. 
Bitencourt (1993) enfatiza que o ambiente penitenciário perturba ou 
impossibilita o funcionamento dos mecanismos compensadores da psique que 
são os que permitem conservar o equilíbrio psíquico e a saúde mental. O 
ambiente penitenciário exerce uma influência tão negativa, que a ineficácia dos 
mecanismos de compensação psíquica, propicia a aparição de desequilíbrios que 
podem ir desde uma simples reação psicopática, momentânea até um intenso e 
duradouro quadro psicótico, segundo a capacidade de adaptação que o sujeito 
tenha. 
Os efeitos da prisão são evidentemente mais intensos e, portanto, mais 
prejudiciais ao condenado quando a pena é de longa duração. 
Os que sofrem a pena privativa de liberdade por um longo período 
apresentam uma série de quadros que evidenciam um claro matiz “paranóide”. 
Entre esses transtornos, pode-se citar o complexo de prisão, patologia 
 
 
28 
 
psicossomática e as depressões reativas. Estas são especialmente importantes, 
já que, por vários motivos, os reclusos podem desenvolver um quadro depressivo 
clássico de indiferença, inibição, desinteresse, perda de memória ou incapacidade 
para usá-la, perda de apetite, bem como uma ideia autodestrutiva, que pode 
chegar ao suicídio. A manifestação do desejo de suicidar-se é um fenômeno 
especial que nunca deve ser subestimado. Quando um indivíduo se isola, deixa 
de ler, perde o apetite, desinteressa-se de tudo e ainda tem algum problema 
imediato, deve ser vigiado com extremo cuidado. O suicídio é relativamente 
frequente entre os condenados a longas penas. Esta é mais uma das tantas 
contradições existentes entre o propósito reabilitador que se atribui à pena 
privativa de liberdade e a imposição de penas muito longas. 
Diante das condições a que o condenado é submetido na prisão, seria 
impossível que esta não acarretasse danos à psique do indivíduo. As prisões que 
atualmente adotam um regime fechado, dito de segurança máxima, com a total 
desvinculação da sociedade, produzem graves perturbações psíquicas aos 
reclusos que não se adaptem ao desumano isolamento. A prisão violenta o 
estado emocional e, apesar das diferenças psicológicas entre as pessoas, pode-
se afirmar que todos os que entram na prisão, em maior ou menor grau, 
encontram-se propensas a algum tipo de reação carcerária (PICKLER, 2003). 
Enfim, a privação de liberdade não é o único castigo imposto ao infrator, 
infelizmente, sua mente, seu espírito ficam igualmente comprometidos e, então, 
podemos fazer uma ponte para as rebeliões! 
 
4.2 Rebeliões 
Quando se fala em rebelião, o primeiro público que nos vem à mente são 
os presidiários. Infelizmente, essa constatação aliada à segurança é uma das 
maiores preocupações do cidadão brasileiro. Não sem razão, já algumas 
décadas, a opinião pública vem cobrando do Estado uma posição mais forte na 
luta contra o crime e atitudes mais efetivas quanto à qualidade de vida da 
sociedade (PRÁ, 2004). 
O que muitas vezes foge ao entendimento deste cidadão comum são as 
especificidades da segurança pública, entre elas a problemática do sistema 
 
 
29 
 
prisional e este, usualmente, só tem contato com os problemas das rebeliões e 
desse sistema, através dos olhos da mídia, quando acontecimentos dramáticos 
vêm à tona. 
Por definição, rebelião pode ser um ato de se rebelar, insurreição, revolta; 
um motim, desordem; uma sublevação contra o governo, revolta interna 
(FERREIRA, 2004; BUENO, 1996). 
No entendimento de Marques (1999), as rebeliões [...] envolvem 
insubordinação por parte dos detentos com relação às autoridades e normas da 
unidade e, independente do número de detentos envolvidos, a rebelião implica no 
uso da violência física ou ameaça, com ou sem reféns. 
Prá (2004) assevera que a rebelião, historicamente, tem caráter 
transformador; mas o que dizer de rebeliões internas a um sistema que existe 
para legitimar a posição coercitiva do estado, administrando a exclusão daqueles 
que não possuem condições de coexistir com a sociedade organizada? Não se 
pode esperar que esta forma de rebelião, semelhante ao amotinamento, possa 
transformar alguma coisa no mundo livre, uma vez que se trata de uma sociedade 
de excluídos. 
Faz-se interessante notar é que os meios de comunicação, durante a 
ocorrência de incidentes prisionais, classificam como rebeliões, as fugas que 
ocorrem nas unidades destinadas aos presos condenados no regime fechado; as 
evasões que ocorrem nas demais unidades; as tentativas de fuga frustradas; os 
movimentos reivindicatórios, que não envolvem violência contra a pessoa, no 
entanto, podem resultar em danos ao patrimônio e outros que ocorrem no sistema 
prisional, como se fossem rebeliões propriamente ditas, causando pânico à 
população, preocupação às autoridades e elevando, consideravelmente, os 
índices estatísticos de incidência deste evento. 
Numa verdade subliminar, as rebeliões são maneiras pela quais uma 
certa sociedade encontrou um objetivo para lutar, além da simples subsistência e 
das reivindicações por melhores condições carcerárias. Que encontrou um meio 
de interagir com o mundo livre e interferir nele de forma efetiva, a despeito do 
sistema restritivo a que esta submetida: a ação do crime organizado. 
 
 
30 
 
Torna-se cada vez mais comum assistirmos a rebeliões em presídios. No 
entanto, tais rebeliões atualmente são motivadas por relações de poder externas 
ao sistema prisional. Relações do poder paralelo que assume muitas vezes 
características de estado e que manipula o estado legítimo ao exigir 
transferências. Que orquestra ações sintonizadas, cuja sincronicidade é 
impossível ignorar (PRÁ, 2004). 
Mais do que motivadas por problemas básicos dos internos, as rebeliões 
que observamos no sistema nos últimos anos, notadamente através da mídia, 
estabelecem-se por razões práticas para o crime organizado. O traficante pode 
precisar estar mais próximo de suas atividades, de seus fornecedores, então, se 
orquestra a rebelião com o objetivo de transferi-lo, e a seus comandados diretos, 
para outra instituição. Outro exemplo é querer eliminar ou abalar a organização de 
uma facção rival que têm integrantes cumprindo pena em um determinado 
presídio. A rebelião se instaura para justificar um grande número de mortes nesta 
instituição. 
Estudos de Prá (2004) mostram que rebeliões no início dos anos 2000 
aconteceram em sintonia e com precisão. No estado de São Paulo, em 2001, 32 
presídios entraram em rebelião simultaneamente, numa ação organizada pelo 
PCC (Primeiro Comando da Capital, criado em 1993, no Centro de Reabilitação 
Penitenciária (CRP), um anexo de segurança máxima da Casa de Custódia de 
Taubaté, com o objetivo de acabar com a unidade) em represália à transferência 
de vários líderes da organização para outros presídios. Mil e duzentas pessoas 
chegaram a ser mantidas reféns no Carandiru nesta ocasião. Exatamente um ano 
depois da chamada megarrebelião, oito instituições entraram em rebelião também 
no Estado de São Paulo. 
Tais ações denotam um profundo conhecimento do sistema e uma 
articulação bastante eficiente funcionando no ambiente externo e interno. No caso 
das rebeliões de 2002, os acontecimentos nos presídios foram concomitantes a 
uma série de atentados à polícia militar e fóruns no estado. 
De todos estes fatos, que representam uma fração da realidade e são 
utilizados para ilustrar uma situação, pode-se concluir uma alteração de objetivos, 
ou melhor, uma realização de objetivos. O sistema prisional pode funcionar de 
 
 
31 
 
forma efetiva como berço e base para organizações criminosas que se estendem 
ao ambiente externo. É a função da prisão, de exclusão e regulação através da 
padronização, e do Estado, como responsável pelarepressão à atividade 
criminosa, subvertida, com organizações paralelas, cujo funcionamento é 
marginal, assumindo o controle do ambiente interno e influindo no externo de 
forma efetiva, condicionando reações por parte da sociedade e do cidadão 
comum, modificando a opinião pública e gerando o descrédito na estabilidade e 
na segurança que o estado deveria ser capaz de manter (PRÁ, 2004). 
 
4.3 Mediação de conflitos 
A causa-raiz de todo conflito é a mudança, real ou apenas percebida, ou a 
perspectiva de que ela venha a ocorrer. 
É um fenômeno incontornável que se origina da percepção diferente dos 
interesses, visões e aspectos, ainda, de preferências opostas, de crenças que os 
interesses e os objetivos das partes não podem ser alcançados simultaneamente. 
(COSTA, MATOS, 2007). 
É a frustação dos intuitos pessoais promovido por outra pessoa. 
Diferencia-se do problema pelo fato de existirem partes em confronto, em 
antagonismo de interesses, caracterizado, inclusive, pela hostilidade. Por outro 
lado, no problema, as pessoas trabalham em conjunto e em aproximação, ou 
seja, as pessoas se ombreiam em torno de um ideal comum a ser superação. Em 
geral, entende-se o conflito como um processo no qual o esforço é 
propositadamente feito por “A” para destruir o esforço de “B”, com recurso a 
qualquer forma de bloqueio que resulte na frustação de “B” no que concerne a 
prossecução das suas metas e ao seu desenvolvimento dos interesses (BILHIM, 
2004, p. 228). 
Segundo o autor acima, o conflito como anulação do outro parece 
conduzir a um fenômeno negativo e irremediável e leciona que a visão tradicional 
do conflito sustenta que este deve ser evitado, por indicar disfunção no grupo ou 
na organização. Outra escola de pensamento – a das Relações Humanas – 
sustenta que o conflito é natural, uma realidade inevitável em qualquer grupo ou 
organização, e que não tem de ser mau. Pode, mesmo, ser uma força positiva 
 
 
32 
 
para o aumento da produtividade. A visão interacionista argumenta, por sua vez, 
que o conflito pode não ser positivo, mas que algum é absolutamente necessário 
para a eficácia do grupo ou organização (BILHIM; 2004, p. 228). 
Mas e no ambiente prisional? Qual a direção ou como são vistos os 
conflitos? 
Nesse ambiente, onde são próximas e acirradas as relações 
interpessoais, percebe-se a necessidade de cuidados com as motivações dos 
conflitos, pois os interesses não se alinham com o esperado para um grupo 
organizacional do tipo empresarial. O grupo, no sistema carcerário, cuida dos 
valores da sobrevivência, liberdade, condições de vida, valores considerados 
básicos para a vida humana. O conflito no sistema prisional, assim como no 
ambiente empresarial, além do penal, escolar, comunitário, por exemplo, também 
pode ter sua funcionalidade, quando visto com outras lentes. O conflito nesse 
ambiente possivelmente poderá ser usado para construir estruturas que valorizem 
os indivíduos presos, como seres humanos dotados de dignidade (RODRIGUES, 
2012). 
Mediação de conflitos é “um tanto emergente”, algo do século XXI, que 
tem na insegurança um dos temas mais complexos e sensíveis, onde as tensões 
sociais são geradoras de conflitos que promovem impactos na sensação de 
insegurança instalada na sociedade. O conflito, no entanto, tem gênese na própria 
qualidade das relações humanas. Desde o início da história da humanidade, já se 
expectava do homem o querer assumir posições que entram em oposição aos 
desejos do outro. Quem não conhece a história de Caim e Abel? 
O conflito é identificado pela concorrência, na qual as partes estão 
conscientes das incompatibilidades de seus interesses. São os conflitos, então, 
originados das relações humanas, e é isso que se tem desde os primeiros 
registros da história da humanidade. 
O homem, como todos os seres vivos, procura manter a estabilidade que 
lhe é cômoda. O equilíbrio está associado, por sua natureza, à integridade 
psicofísica, e abarca todas as posses, como observa Vezzulla (1998, p. 21): “Esse 
status quo, ao qual nos aferramos como a uma tábua de salvação, vê-se em 
perigo quando a proximidade de um conflito nos ameaça”. 
 
 
33 
 
A possibilidade de quebra da estabilidade traduz a possibilidade da 
quebra do equilíbrio, que por sua vez produz a insegurança. O homem, por sua 
natureza, não consegue lidar naturalmente com a insegurança, fruto do 
imponderável que é registro do acaso, pois sequer o conhece. O acaso, no qual 
estão todos metidos, leva às probabilidades, a um campo de possibilidades, e 
este desequilíbrio, pelas incertezas, ameaça retirar o homem da zona de conforto, 
pois isto é o que tanto se procura. 
A evolução do homem está assim, afeita aos desequilíbrios. O próprio 
corpo físico em equilíbrio não anda, não marcha, não progride ou evolui no 
espaço, já que o caminhar existe por conta dos desequilíbrios do corpo no 
espaço. Os desequilíbrios dos homens propendem à busca da estabilidade, isto é, 
o fazem evoluir em busca de soluções. O acaso, o imponderável, desestabiliza o 
ser humano. Este desequilíbrio o faz movimentar-se à mantença do status quo. 
Os conflitos intersubjetivos, que produzem os desequilíbrios, são inevitáveis em 
qualquer segmento social, quando bem gerenciados, são producentes, por outro 
lado, de evoluções. O processo de construção da paz passa pela complexidade 
de fatores envolvidos na mudança social. Há, pois, que se considerar os atrasos e 
os paradigmas montados em torno dos conflitos, que existem também desde os 
primeiros registros da humanidade (RODRIGUES, 2012). 
Para que serve então a mediação? Muito óbvio! Para trabalhar as 
posições nos conflitos, ou seja, o mediador bem formado atenta para a realidade 
dos fatos que leva as partes a compreender que estão apenas se posicionando 
uma em relação à outra. Isto, por sua vez, leva ao conflito aparente. Daí outras 
portas devem ser abertas. Tendemos a presumir que, pelo fato de as posições do 
outro oporem-se às nossas, seus interesses devem também ser contrários. Se 
temos interesses em defender-nos, eles devem querer atacar-nos. Se temos 
interesse em minimizar o aluguel, o interesse deles deve ser maximizá-lo. Em 
muitas negociações, contudo, um exame criterioso dos interesses subjacentes 
revela a existência de um número muito maior de interesses comuns ou 
compatíveis do que de interesses opostos (FISHER; URY; PATTON, 2005, p. 60). 
Por trás das posições opostas há interesses comuns, compatíveis e 
harmônicos. Ainda há a possibilidade de que os conflitos sejam interesses tão 
 
 
34 
 
somente diferentes e não conflitantes. A identificação dessas posições deve ser 
acurada e bem tratada. A mediação cuida desses elementos relacionais. No trato 
dos interesses, subleva a ocorrência de interesses mais poderosos que outros, no 
caso, identifica-se que os interesses dessa magnitude são os que visam às 
necessidades humanas básicas. 
Como nos ensina Fisher (2005): ao buscar os interesses básicos por trás 
de uma posição declarada, procure particularmente os interesses fundamentais 
que motivam todas as pessoas. Se puder cuidar dessas necessidades básicas, 
você estará aumentando a probabilidade tanto de chegar a um acordo quanto, 
caso o acordo seja obtido, de fazer com que o outro lado respeite. 
Os interesses geram os conflitos, mas estes conflitos não têm o fim em si. 
Visto com outras lentes, são aparentes obstáculos que servirão de estruturas para 
palmilhar o empoderamento das pessoas envolvidas na transformação de suas 
estruturas. 
Rodrigues (2012) levanta o seguinte questionamento: 
Será que essas estruturas transformativas conseguiriam superar a 
realidade dos presídios? Surge, pois, o desafio de viabilizá-las à 
realidade das circunstâncias da vida no cárcere. As particularidades 
desse segmento da sociedade são bem diferentes do que até agora fora 
apresentado pelos estudiosos dessa técnica, quandoda abordagem das 
mediações chamadas de medição escolar, comunitária, bancária, 
empresarial ou penal. A pacificação social passa pela rigidez da vida nas 
prisões, para que homens transformados possam sair de lá com nova 
visão do outro. No entanto, o percurso é longo, mas não impossível. 
Assim, fixar num horizonte utópico, embora pareça, no momento, como 
improvável, para inspirar e dar norte às transformações sociais que 
urgem em prol da paz social, é o que se advoga pela desconstrução de 
paradigmas montados na sociedade. 
 
Numa visão mais geral, é certo que qualquer mudança afeta o 
relacionamento entre pessoas e conduz ao conflito. Essa transformação pode ser 
percebida apenas por um dos envolvidos, ainda que sem evidência de que ela, de 
fato, acontece ou possa ocorrer. Assim, por exemplo, o empregado percebe que o 
chefe passou a ignorá-lo; a esposa percebe o marido menos carinhoso; o aluno 
sente que o professor o persegue com perguntas mais difíceis; tais percepções 
podem não corresponder à realidade, porém, produzem conflitos porque, para 
 
 
35 
 
alguns dos envolvidos, elas são reais; constituem o que se denomina “realidade 
psíquica”. 
Mudanças acontecem quando algo ou alguém intervém em um sistema 
(que pode ser desde um indivíduo até uma sociedade completa) e, nele, provoca 
algum tipo de transformação ou perspectiva de que ele aconteça. 
Fiorelli, Fiorelli e Malhadas Junior (2008) elencam alguns fatores que 
levam a conflitos, os quais dependerão da natureza e das pessoas envolvidas: 
 bens, compreendendo patrimônio, direitos, haveres pessoais, entre outros; 
 princípios, valores e crenças de qualquer natureza, inclusive políticas, 
religiosas, científicas, entre outros; 
 poder, em suas diferentes acepções; 
 relacionamentos interpessoais. 
Em geral, esses elementos combinam-se; o exercício do poder, por 
exemplo, inclui a luta pela posse de bens, envolve valores pessoais e coletivos e 
manifesta-se por meio de relacionamentos interpessoais. As situações de conflito 
(especialmente no litígio já instalado) não são simples, nem quanto à condição 
presente, nem quanto aos processos que conduziram a ela, aos quais não se 
pode conhecer totalmente nem predizer, com certeza, sua evolução (SUARES, 
2002, p. 78 apud VENOSA, 2013). 
Alguém tem que mudar e alguém deverá pagar um preço por essa 
mudança: o que terá que ser modificado, qual deve ser o preço, como e quando 
deve ser pago são questões cruciais que precisam ser esclarecidas, 
compreendidas e resolvidas. 
A percepção de que ocorreu ou ocorre uma mudança, entretanto, assinala 
Acland (1993, p. 120 apud FIORELLI; FIORELLI; MALHADAS JUNIOR, 2008), 
origina-se na mente de pessoas e repercute nas mentes de outras. Não se pode 
controlar mentes, mas é possível controlar os processos por meio dos quais as 
pessoas tomam contato com as proposições de mudanças. Gerenciam-se os 
inevitáveis conflitos administrando as mudanças, para que os envolvidos 
assimilem suas consequências de maneira harmoniosa e pacífica. 
 
 
36 
 
Mas para a mediação, o que é um conflito? 
É um processo interacional que se dá entre duas ou mais partes em que 
predominam as relações antagônicas nas quais as pessoas intervêm como seres 
totais com suas ações, pensamentos, afetos e discursos que algumas vezes, mas 
não necessariamente, podem ser processos conflitivos, agressivos que se 
caracteriza por ser um processo coconstruído pelas partes e que pode ser 
conduzido por elas ou por um terceiro (SUARES, 2002 apud VENOSA, 2013). 
O conflito, enquanto processo, evolui por meio de múltiplas interações 
entre as partes; seu agravamento torna-as prisioneiras do conflito por elas 
mesmas engendrado. 
O processo conflitivo constitui uma incompatibilidade que nasce, cresce, 
desenvolve-se e às vezes pode morrer; às vezes pode simplesmente estacionar, 
que se constrói entre as partes, com envolvimento e não necessariamente 
consentimento. A ideia de coconstrução reforça a concepção de gerenciamento 
do conflito e justifica encará-lo como processo. 
Os conflitos também podem ser avaliados quanto às etapas de sua 
evolução, sendo: 
 latência – existe a estrutura de conflito, porém, não manifesta; permanece 
oculto, depende de um desencadeante; 
 início – os envolvidos avaliam-se mutuamente; a disparidade de forças pode 
ser um motivo para evitá-lo, prudentemente, aguardando nova oportunidade. 
Ou, declara-se a diferença; 
 desenvolvimento – as ações sucedem-se. Pode-se apresentar um longo e 
recorrente desenvolvimento, a cada etapa ou, em outra situação; 
 estabilização – o conflito chega ao final, com definição de um acordo; 
dependendo do resultado, inicia-se nova etapa de latência, preparatória de 
novo conflito; 
 equilíbrio instável – o conflito não chega ao final, não há acordo; a situação 
permanece conflituosa sem perspectiva de solução apaziguadora; 
 
 
37 
 
 reformulação – um dos litigantes decide buscar intervenção externa; evita a 
estabilização desfavorável ou o equilíbrio instável, por meio de novo 
desenho para o conflito. A mediação atua nesta etapa, quando uma das 
partes procura o apoio de um terceiro, na tentativa de encontrar saída para o 
dilema. Quanto mais o conflito evolui em direção à etapa de equilíbrio 
instável, tanto mais difícil equacioná-lo e chegar à solução cooperativa; 
torna-se necessário um terceiro para auxiliar os litigantes a reformular suas 
percepções. 
Vimos que a causa-raiz é a mudança, porém, a mesma mudança gera 
conflitos que evoluem de maneira saudável entre algumas pessoas e produzem 
graves litígios entre outras. 
Esse fato aponta para causas acessórias, de natureza psíquica que 
podem ser: 
 esquemas rígidos de pensamento; 
 pensamentos automáticos; 
 crenças inadequadas ao contexto; 
 fenômenos de percepção, entre eles o denominado “efeito de figura e 
fundo”; 
 comportamentos condicionados; 
 experiências anteriores; 
 influência de natureza sociocultural. 
Como causas acessórias funcionais, temos as deficiências de 
comunicação; as fronteiras mal estabelecidas entre os subsistemas que compõem 
o sistema maior e os erros de desempenho de papéis pelos indivíduos envolvidos 
no conflito. 
Quanto aos fatores que influenciam os conflitos, citam-se: 
 expectativas em relação à mudança; 
 expectativas associadas aos relacionamentos; 
 resistência à mudança; 
 
 
38 
 
 consequências para a estabilidade do sistema; 
 aderência à realidade; 
 diferenças de personalidade; 
 efeitos da mudança sobre os valores; 
 modificações na estrutura de poder (FIORELLI; FIORELLI; MALHADAS 
JUNIOR, 2008). 
Se pensarmos nas rebeliões como um conflito, as suas principais causas 
seriam: 
 demora da decisão dos benefícios; 
 deficiência da assistência judiciária; 
 violências ou injustiças praticadas dentro do estabelecimento prisional; 
 problemas ligados a entorpecentes; 
 superlotação carcerária; 
 tentativas de fugas frustradas; 
 falta ou má qualidade da alimentação e de assistência médico-
odontológica; 
 problemas ligados à corrupção; 
 falta de capacitação do pessoal penitenciário, em especial do diretor (daí a 
importância do treinamento nas academias penitenciárias, para que saibam 
lidar com o problema dos motins e rebeliões, que aparecem com alguma 
frequência) (MARQUES, 1999). 
 
4.4 Gerenciamento de crise no sistema prisional 
Diretor, agente penitenciário, Psicólogo, Assistente Social e outros 
profissionais que atuam no sistema prisional, todos eles podem desenvolver 
habilidades para gerenciar crises que venham a surgir. São eles que convivem 
cotidianamente com os “presos”, conhecem seus medos, segredos, inseguranças, 
desejos, necessidades, muitas vezes são a sua escuta, a sua consciência. 
 
 
39 
 
Zonatto (2011) conta que o gerenciamento de crises é recente, e, em 
nível de Brasil, começaram a ser publicadas obras na década de 1990,nas quais 
o Delegado da Polícia Federal, Roberto das Chagas Monteiro, foi o primeiro 
profissional a publicar uma apostila relacionada ao assunto. Posteriormente, o 
Tenente Coronel Wanderley Mascarenhas de Souza, da Polícia Militar do Estado 
de São Paulo, quando Capitão, produziu uma Monografia que aborda tal temática, 
durante seu curso de aperfeiçoamento de Policiais, em 1995. Outro expoente 
sobre o assunto é o Perito da Polícia Federal Ângelo Salignac, grande estudioso 
de técnicas e táticas aplicadas ao gerenciamento de crises. 
Esse mesmo autor assinala alguns exemplos de crises, em que a polícia 
tem que dar uma resposta especial: assalto com tomada de reféns, sequestro de 
pessoas, rebelião em presídios, assalto a banco com reféns, ameaça de bombas, 
atos terroristas, sequestro de aeronaves, capturas de fugitivos em zona rural e 
outras. 
Ele também observa que o Gerenciamento de Crises não é uma ciência 
exata, pois cada crise apresenta características exclusivas, exigindo, soluções 
particulares, que exige uma cuidadosa análise e reflexão. Trata-se, portanto, de 
um saber que deve ser utilizado em um tempo restrito e não calculado, pois vidas 
estão em jogo, diante dos mais diversos problemas sociais, econômicos, políticos 
e ideológicos da humanidade. 
As ocorrências que envolvem crises policiais, por suas características, 
geram e criam, no cenário da segurança pública, sempre situações decisivas, nas 
quais o Gerente de crises deve estar preparado para ser o administrador de todo 
um cenário. 
Em 2006, o estado de São Paulo passou por uma crise, a maior passada 
pela segurança paulista, que trouxe pânico para a população, o crime organizado 
foi mais ágil e eficiente do que os órgãos policiais. Podemos claramente identificar 
que o principal motivo disso foi a falta de um sistema de inteligência confiável, 
logo, investir em inteligência policial é mais uma das formas, se não a melhor 
forma, de se conter uma crise que está por vir (ZONATTO, 2011). 
Quando uma crise aparece sem que a Inteligência Policial tenha evitado, 
é a habilidade do aplicador da lei que vai entrar em ação, ai percebemos que 
 
 
40 
 
estes profissionais necessitam de profundo conhecimento de técnicas e métodos. 
Alguns dos métodos e técnicas aplicados também chamadas de alternativas 
táticas. 
Frise-se que o objetivo do gerenciamento de crises é a preservação da 
vida e a aplicação da lei, essa ordem deve ser rigorosamente obedecida: “A 
aplicação da lei pode esperar pôr alguns meses até que sejam presos os 
desencadeadores da crise, enquanto que as perdas de vidas são irreversíveis” 
(DE SOUZA, RIANI, 1995, p.17). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
41 
 
UNIDADE 5 – A QUESTÃO DA IMPUTABILIDADE DO 
DOENTE MENTAL 
 
Conforme a “teoria finalista” de Hans Welzel, os elementos formais do 
delito são o fato típico e a antijuridicidade, ficando a culpa excluída, por tratar-se 
do pressuposto da pena, diferente da doutrina tradicional, onde esta integra os 
elementos formais (VELLOSO, 2004). 
A culpa finalista está dividida em três elementos: imputabilidade, 
exigibilidade de conduta diversa e possibilidade de conhecimento do injusto. 
O fato do agente não compreender plenamente que sua conduta é 
criminosa, o exclui de sofrer as punições previstas no Código Penal, isto é, 
mesmo que o ato praticado, seja típico e antijurídico, é como tal um delito, 
conforme a teoria finalista. Segundo Tourinho Filho (2001), se ao agente “falta 
discernimento ético para entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se 
com esse entendimento, o juiz proferirá sentença absolutória, com fulcro no art. 
26 do Código Penal e art. 386, V do Código de Processo Penal, impondo-lhe, 
contudo, medida de segurança, tal como dispõe os arts. 97 do Código Penal, e 
art. 386, parágrafo único, III do Código de Processo Penal”. 
Velloso (2004) verifica uma preocupação do legislador em prever 
situações nas quais, mesmo estando presentes os elementos formais do delito, o 
agente não sofreria o peso da sanção, por sua conduta. Desse modo, o legislador 
trata da imputabilidade subjetivamente, preferindo elencar quem são os 
inimputáveis, ao invés de explicar quem seriam os imputáveis. 
O Código Penal traz em seus arts. 26 “caput”, 27 e 28, § 1, os 
inimputáveis, que são os doentes mentais, menores de 18 anos e em casos onde 
o agente está sob estado de embriaguez acidental. 
Pois bem, para que alguém seja considerado culpável por um crime, uma 
das condições é que o tenha praticado em condições normais e em situação não-
adversa, na qual era possível exigir do autor conduta diversa da criminosa, isto é, 
o agente criminoso teve a chance de praticar comportamento diverso do adotado, 
todavia, optou pelo caminho do crime (MALCHER, 2009). 
 
 
42 
 
Por imputabilidade define-se como a capacidade do agente em entender 
o caráter ilícito do fato praticado e de determinar-se de acordo com isso. O autor 
de um crime, para ser considerado culpável, deve reunir condições físicas, 
psicológicas, morais e mentais que lhe confiram capacidade plena para entender 
o ilícito. Não basta, para isso, somente a consciência de sua ação, mas também a 
livre vontade de praticá-la, ou seja, o controle do agente sobre a sua própria 
vontade. 
Essa capacidade está relacionada à existência de fatores biológicos 
(maioridade penal), psiquiátricos (sanidade mental), psicológicos (discernimento 
pleno e voluntariedade) e até antropológicos (entendimento dos padrões 
socioculturais que predominam num meio social determinado). 
Vamos à legislação! 
Ao Código Penal vigente (de 1940), foram feitas algumas alterações 
através da Lei de Execuções Penais nº 7.209/84, no entanto, permanecendo a 
mesma diretriz no que se refere à atuação frente ao doente mental delinquente, 
ou seja, a inimputabilidade e irresponsabilidade do doente mental e a 
semirresponsabilidade dos que apresentam “perturbação da saúde mental”, 
encontram-se nos mesmos termos, agora no artigo 26. Algumas modificações, no 
entanto, foram feitas com relação às medidas de segurança: 
Art. 96 As medidas de segurança são: 
I — Internação em hospital de custódia e tratamento ou, à falta, em outro 
estabelecimento adequado. 
II — Sujeição a tratamento ambulatorial. 
Art. 97 Se o agente for inimputável, o juiz determinará a sua internação. 
Se, todavia, o fato previsto como crime for punível com detenção, poderá o juiz 
submetê-lo a tratamento ambulatorial. 
§ 1 A internação, ou o tratamento ambulatorial, será por tempo 
indeterminado, perdurando enquanto não for averiguada, mediante perícia 
médica, a cessação de periculosidade. O prazo mínimo fixado deverá ser de um a 
três anos. 
 
 
43 
 
§ 2º A perícia médica realizar-se-á ao termo do prazo mínimo fixado e 
deverá ser repetida de ano em ano, ou a qualquer tempo, se o determinar o juiz 
da execução. 
§ 3º A desinternação, ou a liberação, será sempre condicional, devendo 
ser restabelecida a situação anterior se o agente, antes do decurso de um ano, 
pratica fato indicativo de sua periculosidade. 
§ 4 Em qualquer fase do tratamento ambulatorial, poderá o juiz determinar 
a internação do agente, se essa providência for necessária para fins curativos. 
A medida de segurança se apresenta, agora, sob a forma de 
internamento em hospital de custódia e tratamento ou similar e o tratamento 
ambulatorial. Além disso, o prazo mínimo de duração deve ser determinado pelo 
juiz, no limite mais estreito de um a três anos, mantendo-se, no entanto, o seu 
caráter indeterminado e a liberdade condicional que a segue. Os limites 
continuam elásticos, a lógica mantém-se: o doente mental delinquente é 
englobado por uma estratégia que se centra na periculosidade – futuro, risco, 
probabilidade –, à qual cabe uma sanção indeterminada. 
Segundo Peres e Nery Filho (2002), o louco-criminoso e o seu lugar

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