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PLANEJAMENTO DA PERÍCIA


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As perícias seguem um rito processual que é definido pela legislação. Esse rito 
compreende as fases de: 
•Designação da perícia. 
•Apresentação dos quesitos. 
•Homologação do perito. 
•Planejamento da perícia. 
•Atividade pericial. 
•Elaboração do Laudo. 
•Entrega do Laudo ao Juízo. 
•Manifestação das partes sobre o laudo. 
•Esclarecimentos do perito. 
•Apreciação do juízo. 
•Decisão quanto à conclusão da perícia. 
•Homologação do laudo e fim da atividade pericial 
A etapa pericial propriamente dita é composta de quatro etapas principais: a) Coleta de 
Evidências; b) Exame dos Dados; c) Análise das Informações e; d) o Laudo que 
compreende a fase final de certificação da opinião do perito. 
Coletar evidências é importante para embasar as respostas do perito e nessa fase são 
identificados os equipamentos, instalações e áreas. Também são estabelecidos as 
prioridades segundo a volatilidade (dados que podem ser perdidos devem ser 
priorizados), esforço (deve-se priorizar as coletas de menos esforço) e o valor estimado 
(estimar valor relativo para cada provável fonte de dados). Há necessidade de preservar 
a integridade com a geração de provas de que os dados estão íntegros. Essa fase é 
importante para a admissibilidade das evidências. 
A fase do exame de dados serve para identificar, extrair, filtrar e documentar os dados 
colhidos e muitas vezes com a necessidade de uso de recursos e ferramentas 
específicas como software de tratamento de dados. 
A fase da Análise serve para interpretação dos dados coletados, com a identificação dos 
envolvidos, estabelecimento de ordem cronológica, levantamento de eventos e locais, 
correlacionar pessoas a eventos e o cruzamento de informações que levem a provas 
concretas ou evidências. 
O laudo serve para a elaboração da conclusão imparcial, clara e concisa e de fácil 
interpretação por uma pessoa leiga, com a exposição dos métodos utilizados, com o 
atestado das informações trazidas ao laudo pericial e a organização das evidências 
coletadas (papéis de trabalho). 
O laudo é composto dos seguintes elementos básicos: 
•Preâmbulo: Identificação do Laudo. 
•Histórico: Fatos anteriores e de interesse do laudo com os quesitos. 
•Material: Descrição do exame feito. 
•Objetivo: Principais objetivos da perícia. 
•Embasamento: Aspectos que podem ser úteis para o entendimento do laudo. 
•Exame: Parte descritiva e experimental. 
•Resposta aos Quesitos: Resposta às solicitações. 
O planejamento da perícia é a etapa do trabalho pericial na qual o perito e o assistente 
estabelecem os procedimentos gerais dos exames a serem executados no processo 
judicial, extrajudicial ou arbitral para o qual foi nomeado, indicado ou contratado pelas 
partes, elaborando-o a partir do exame do objeto da perícia, sendo essencial para a 
coordenação de trabalhos entre os peritos, através da uma previsão de tarefas. Essa 
previsão de tarefas, baseada nas questões propostas, constitui o plano de trabalho que é 
o guia a ser seguido, de forma organizada e harmônica, com as reflexões necessárias. 
O foco do planejamento é conhecer o objeto da perícia, a fim de permitir a adoção de 
procedimentos que conduzam à revelação da verdade, a qual subsidiará o juízo, o árbitro 
ou o contratante a tomar a correta decisão a respeito da lide. Também tem como objetivo 
oferecer condições para que o trabalho seja cumprido no prazo estabelecido, prever 
potenciais problemas e riscos que possam vir a ocorrer no andamento da perícia e 
antever fatos que possam vir a ser importantes para a solução do problema de forma que 
não passem despercebidos ou não recebam a atenção necessária ao seu devido 
exame. Serve também para identificar a legislação aplicável ao objeto da perícia, definir a 
natureza, a oportunidade e a extensão dos exames a serem realizados, em consonância 
com os termos constantes na proposta de honorários, estabelecer como se dará a 
divisão das tarefas entre os membros da equipe de trabalho, sempre que o perito-
contador ou o perito-contador assistente necessitar de auxiliares e facilitar a execução e a 
revisão dos trabalhos. 
Uma das primeiras ações do perito é a retirada dos autos do cartório judiciário a fim de 
entender a demanda que determinará a elaboração do laudo. A legislação em seu artigo 
107, §1º, do Código de Processo Civil, determina as regras para esse procedimento. O 
perito retira os autos (carga do perito) e tem cinco dias para se inteirar do processo e 
aceitar a função ou escusar-se (por motivo justificado). 
Os tribunais estão se digitalizando os atos do perito serão via internet, a partir do 
momento em que é nomeado em processo eletrônico, como por exemplo: recebimento 
de intimações; carga do processo, envio de laudo, petição de proposta de honorários e 
outras petições; redação de petições e laudo em editor do próprio sistema ou juntada de 
documentos e laudos no formato PDF. Haverá diversas vantagens: a perda dos autos e 
a busca e apreensão deles não ocorrerão mais, incluindo o fato de que o perito não terá 
que fazer carga dos autos e nem o carregar consigo. Os novos processos eletrônicos 
tem uma interface (layout) por onde o perito e demais usuários navegam e juntam 
documentos. Nele, o perito intervém, utilizando sua certificação digital ou recebe 
um usuário e uma senha para acessar e movimentar o processo eletrônico. Devido aos 
avanços dos tribunais e o fomento do Conselho Nacional de Justiça – CNJ, em breve, os 
sistemas de todas as justiças e tribunais também estarão com a maioria dos processos 
na forma eletrônica, conversando entre si, todos utilizando um mesmo sistema – 
realidade ainda não factível. 
Para a operacionalização do plano da perícia é necessário o entendimento dos seus 
componentes embasadores e com isso trata definir a metodologia a ser empregada. 
Assim o perito precisa ter: 
•Pleno conhecimento da questão. 
•Pleno conhecimento de todos os fatos que motivam a tarefa. 
•Levantamento prévio dos recursos disponíveis para exame. 
•Prazo ou tempo para execução das tarefas e entrega do laudo ou parecer. 
•Acessibilidade aos dados (locais, deslocamentos, burocracias etc.). 
•Pleno conhecimento dos sistemas contábeis adotados. 
•Confiabilidade de documentação. 
•Uso de terceiros (apoios). 
Toda perícia envolve uma questão, ou seja, um pedido de opinião ou informação de 
quem é competente para dar. Por exemplo, uma perícia em instalações e equipamentos 
emerge de dúvidas de natureza funcional ou de desempenho. E os objetivos do trabalho 
do perito e do assistente são diferentes: 
•Perito judicial: atua sob fé pública e seguindo rigorosamente a legislação de forma a 
fornecer uma posição imparcial. 
•Assistente Técnico das Partes: deve usar todos os meios lícitos e éticos, dentro de seus 
conhecimentos, na busca de razões em favor da parte que o constituiu. 
Assim tanto o perito como assistente técnico, para executar seu trabalho, deve entender 
tudo sobre o que motivou a questão, os argumentos de cada um e os documentos 
apresentados. Tudo isto exige pleno conhecimento da questão e das razões e dos 
questionamentos das partes. Como são variados os aspectos, variados são os planos. 
Diferentemente da auditoria, a perícia vai exigir muito mais detalhamento e especificidade 
no plano de trabalho. Para isso é fundamental a completa compreensão do processo ou 
da demanda. 
Os fatos que envolvem a tarefa pericial são muitos e não se confundem com o 
conhecimento da “questão”: a questão nos dá a “razão” para a metodologia e os “fatos” 
nos informam “o que já aconteceu e está para suceder”. Por exemplo, uma empresa 
entra na justiça contra outra, reclamando que o equipamento comprado não opera com o 
desempenho inicialmente especificado: a demanda é para “obter maior produtividade” 
(razão) mas descobre-se que além do pedido de compra, houve um acordo 
determinando mudando as condições da operação e que impactaram o desempenho do 
equipamento (fato). 
Para planejar é preciso conhecer os recursos disponíveis, quer humanos, quer materiais, 
competentespara produzir um laudo de qualidade. Diante dos quesitos, diante das 
questões, nem sempre os elementos que se encontram à disposição do profissional são 
suficientes para realizar a tarefa tal como os quesitos ou questões requerem. 
Também é necessário conhecer-se os prazos definidos pela legislação que devem ser 
rigorosamente cumpridos em todos os processos: 
•O juiz nomeará o perito, fixando de imediato o prazo para a entrega do laudo (Lei nº 
8.455/92). 
•As partes têm 5 (cinco) dias, contados da nomeação do perito para: I - indicar o 
assistente técnico; e II - apresentar quesito (Art. 421, CPC). 
•O juiz pode conceder prorrogação do prazo de entrega do laudo mediante justificativa do 
perito e segundo o seu prudente arbítrio (Art. 432, CPC). 
•O perito deve apresentar o laudo, no prazo fixado pelo juiz, pelo menos 20 (vinte) dias 
antes da audiência de instrução e julgamento (Lei nº 8.455/92). 
•Os assistentes técnicos devem emitir seus pareceres no prazo de 10 (dez) dias após a 
apresentação do laudo (Lei nº 8.455/92). 
•O perito pode ser intimado a prestar esclarecimentos em audiência mediante intimação 
e com antecedência de 5 (cinco) dias (Art. 435, CPC). 
Nem sempre os dados necessários se encontram no mesmo local onde reside o perito e 
às vezes se espalham por regiões até longínquas. Outras vezes, esses mesmos dados 
encontram-se em mau estado de conservação, demandando esforços grandes para 
leitura. Ainda outras vezes dependem de informes de terceiros não implicados na 
questão e que procrastinam ou tendem a procrastinar o fornecimento – às vezes até 
instigados por uma das partes litigantes ou envolvidas no processo pericial). Portanto é 
necessário prever para o plano a questão do acesso aos dados seja do ponto de vista 
geográfico como da forma de obtenção. 
O perito precisa ter um conhecimento razoável de sistemas que não são iguais e 
especialmente em nossos dias (com os significativos avanços e inovações advindos da 
tecnologia da informação), daqueles critérios de informática. Precisa testar a 
confiabilidade dos sistemas e dos arquivos de documentos, de fitas, de discos etc. Para 
planejar, é preciso saber como se chega aos dados e até que ponto é possível ter 
confiança neles. Não havendo confiabilidade, é preciso encontrar o caminho que a ela 
conduza, ou então, declarar a impossibilidade de obtenção de elementos que produzam 
uma opinião de qualidade. Quando a perícia exigir a necessidade de utilização de 
trabalho de terceiros (equipe técnica ou trabalho de especialistas), o planejamento deve 
prever essa orientação. Tipicamente esse apoio é necessário em demandas 
multidisciplinares ou quando a quantidade de transações a serem analisadas é muito 
elevada ou complexa. O trabalho de terceiros obrigatoriamente deverá seguir a 
supervisão do perito, que assumirá total responsabilidade pelos trabalhos a serem 
executados. 
Todos esses aspectos precisam ser considerados no planejamento da perícia e a Figura 
1 retrata um exemplo de um planejamento executado para uma perícia judicial. 
Figura 1: Exemplo de um Planejamento de Perícia 
 
Uma das dificuldades da maioria dos peritos é calcular adequadamente seus honorários, 
de forma justa e coerente. A prática é que possibilitará ao profissional a aproximação de 
tal cálculo à realidade, tendo em vista as várias atividades envolvidas numa perícia. 
Devem ser orçados pelo perito: 
•Retirada e entrega dos autos. 
•Leitura e interpretação do processo. 
•Abertura de papéis de trabalho. 
•Elaboração de petições e/ou correspondências para solicitar informações e documentos. 
•Pesquisa, exame, diligências e exame de documentos. 
•Realização de cálculos, simulações e análises de resultados. 
•Emissão de laudos interprofissionais. 
•Preparação de anexos e montagem do laudo. 
•Reuniões com perito-contadores assistentes, quando for o caso. 
•Reuniões com as partes e/ou com terceiros, quando for o caso. 
•Revisão final. 
Observar que, se a execução dos trabalhos de perícia envolver viagens, deverão ser 
estimados os custos de tais deslocamentos, incluindo alimentação, hospedagem, 
passagens e outros gastos relacionados. Nos casos em que houver necessidade de 
desembolso para despesas supervenientes, tais como viagens e estadas, para a 
realização de outras diligências, o perito requererá ao juízo o pagamento das despesas, 
apresentando o respectivo orçamento, desde que não estejam contempladas na 
proposta inicial de honorários. 
Alguns sindicatos mantêm tabelas com base de honorários mínimos. O perito deverá 
respeitar tais tabelas, de forma a preservar a ética profissional de honorários em relação 
ao custo hora mínimo. Entretanto, pode cobrar honorários superiores, já que o custo hora 
efetivo de sua atividade, por questões específicas (como necessidade de especialização 
e treinamento contínuo) podem ser maiores dos que os indicados em tais tabelas. 
As despesas de perícia fazem parte dos custos processuais e o artigo 33 do Código de 
Processo Civil dispõe que cada parte pagará a remuneração do assistente técnico que 
houver indicado; a do perito será paga pela parte que houver requerido o exame, ou pelo 
autor, quando requerido por ambas as partes ou determinado de ofício pelo juiz. O juiz 
poderá determinar que a parte responsável pelo pagamento dos honorários do perito 
deposite em juízo o valor correspondente a essa remuneração. O numerário, recolhido 
em depósito bancário à ordem do juízo e com correção monetária, será entregue ao 
perito após a apresentação do laudo, facultada a sua liberação parcial, quando 
necessária. 
Durante as várias etapas do processo judicial o perito precisa comunicar às partes e ao 
juízo suas ações e para isso se faz da emissão de petições que são anexas ao processo. 
A Figura 2 sinaliza as principais petições que devem ser preparadas pelo perito e 
anexadas ao processo. São elas: 
•Impedimento e Suspeição do Perito: comunicar ao juízo que o perito está impedido de 
seguir na perícia conforme justificativas previstas na legislação. 
•Honorários Periciais: comunicação das custas da perícia. 
•Comunicação de Início dos Trabalhos: comunicação às partes que a perícia será 
iniciada inclusive definindo a data das diligências de campo. 
•Pedido de Documentos: pedido que as partes anexem documentos para que seja 
iniciada a perícia. 
•Juntada de Laudo: é a juntada do Laudo ao processo. 
 
Figura 2: Petições e o Rito Processual da Perícia 
 
 
 
Atividade Extra 
 
 
 
Para saber mais sobre as tabelas de remuneração do trabalho do perito judicial em 
engenharia, leia o artigo que está no site: 
https://www.manualdepericias.com.br/tabela-de-honorarios-de-perito-calculo-
instantaneo/. 
https://www.manualdepericias.com.br/tabela-de-honorarios-de-perito-calculo-instantaneo/
https://www.manualdepericias.com.br/tabela-de-honorarios-de-perito-calculo-instantaneo/
https://www.manualdepericias.com.br/tabela-de-honorarios-de-perito-calculo-instantaneo/
 
 
Referência Bibliográfica 
 
 
 
LIMA, Fernando Antônio. Teoria Geral do Processo Judicial. Atlas. 1° Ed. 
ISBN: 9788522492824. 2015. 
CORREIA. Marcus Orione. Teoria Geral do Processo. Saraiva. 5° Ed. ISBN: 978-
8502077102.2009. 
DEUTSCH, Simone. Perícias de Engenharia: A Apuração dos Fatos. Leud. 4ª 
Ed.ISBN: 978-8574563756. 2019. 
ALBERTO FILHO, Reinaldo. Da Perícia ao Perito. Impetus. 6ª Ed.ISBN: 978-
8529900278, 2019. 
MEDEIROS JÚNIOR, Joaquim da Rocha. A Perícia Judicial. Como Redigir Laudos E 
Argumentar Dialeticamente. Leud. 1ª Ed. ISBN: 978-8574562896.