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Ictericia Neonatal 11

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ICTERÍCIA NEONATAL 
Conceito 
Caracteriza-se por uma coloração amarelada da pele, escleras e unhas, causada pelo acúmulo 
excessivo de bilirrubina no sangue. É um achado comum no neonato e, na maioria das vezes é 
benigna. Entretanto, em casos extremos, pode indicar um estado patológico. 
 
Fisiopatologia 
A bilirrubina é uma substância com coloração amarelada e é gerada pela degradação dos 
aminoácidos e das hemoproteínas, especialmente da hemoglobina. Os principais locais da 
formação da bilirrubina são o baço e o fígado. Um recém-nascido a termo sadio produz 
diariamente uma média de 2,3 mg de bilirrubina/kg. 
Quando as hemácias são destruídas, os produtos de sua degradação são liberados na circulação, 
onde a hemoglobina se divide em duas frações: heme e globina. A porção globina é utilizada 
pelo organismo e a porção heme é fagocitada pelos macrófagos, convertida em bilirrubina não 
conjugada e liberada dos macrófagos para o plasma. Essa bilirrubina é lipossolúvel e apolar, 
podendo ligar-se fortemente à albumina plasmática, sendo transportada por todo o sangue e 
fluidos corporais. Entretanto, sua fração livre tem a capacidade de atravessar facilmente a 
barreira hematoencefálica, o que a caracteriza como uma substância potencialmente tóxica para 
o tecido nervoso. 
A bilirrubina não conjugada é transportada pela albumina para o fígado. Local em que é captada 
pelas células hepáticas, liberada da albumina plasmática e transformada pela ação de enzimas 
microssomais em um composto mais polar e hidrossolúvel, a bilirrubina conjugada. A 
conjugação da bilirrubina ocorre majoritariamente no fígado, sendo também observada nas 
células dos túbulos renais e nos enterócitos. A bilirrubina conjugada é transportada até o 
duodeno, sendo desconjugada e reduzida no cólon, formando os urobilinogênios. Essas 
moléculas são excretadas nas fezes, em sua maioria, e pequena parte é reabsorvida através da 
mucosa intestinal e volta ao fígado pelo sistema porta e cerca de 5% são excretados na urina 
pelos rins. 
A icterícia ocorre quando o equilíbrio entre a destruição das hemácias e a excreção dos 
subprodutos é afetada e a bilirrubina não conjugada se acumula nos tecidos. Pode ocorrer por 
conta de um ou mais dos seguintes mecanismos: Produção excessiva de bilirrubinas; Captação 
reduzida pelo hepatócito; Conjugação prejudicada; Excreção hepatocelular reduzida e Fluxo 
biliar prejudicado. 
 
Causas 
1. Fatores Fisiológicos (do desenvolvimento), como prematuridade: Causa mais 
comum de icterícia no neonato. É um transtorno relativamente leve que não está associado 
a nenhum processo patológico e sim a processos fisiológicos ainda imaturos na criança. 
Principais causas da icterícia fisiológica: 
- Em média, neonatos produzem o dobro da bilirrubina que os adultos, devido a maiores 
concentrações de eritrócitos circulantes e seu menor tempo de vida (apenas 70 a 90 dias, contra 
120 dias em crianças mais velhas e adultos). Além disso, a capacidade do fígado de conjugar a 
bilirrubina é menor. 
- O intestino do neonato é estéril e possui menor motilidade, portanto é inicialmente menos 
efetivo na excreção de bilirrubina 
- No intestino existe uma enzima capaz de converter a bilirrubina conjugada novamente em 
bilirrubina não-conjugada, que é novamente absorvida pelo fígado. Este processo, denominado 
circulação êntero-hepática, é acentuado no neonato e acredita-se que seja um dos mecanismos 
principais na icterícia fisiológica. 
- A alimentação aumenta a peristalse e provoca a eliminação mais rápida do mecônio, 
reduzindo assim a eliminação de bilirrubina. 
 
2. Associação à amamentação (Icterícia de início precoce): Se inicia dos 2 aos 4 dias 
de idade e está relacionada ao processo de amamentação, o qual provavelmente resulta da 
menor ingesta calórica e hídrica por neonatos amamentados antes que o suprimento de leite 
esteja bem estabelecido, porque o jejum está associado a menor eliminação hepática de 
bilirrubina. 
 
3. Associada ao leite materno (Icterícia de início tardio): Se inicia de 5 a 7 dias de 
idade. A icterícia pode ser causada por fatores no leite materno que inibem a conjugação 
ou reduzem a excreção da bilirrubina. 
 
4. Produção excessiva de bilirrubina (ex: doença hemolítica, defeitos bioquímicos, 
equimnoses, incompatibilidade sanguínea no sistema ABO): Como por exemplo 
defeitos bioquímicos, equimoses e a doença hemolítica do recém-nascido – que é uma 
doença causada quando o fator Rh do sangue da mãe é negativo e o do bebê é positivo. O 
fator Rh positivo indica que a pessoa possui a proteína Rh e o negativo indica que ela não 
possui esta proteína. Quando a mãe tem fator Rh negativo e o filho tem fator Rh positivo, 
o organismo da mãe identifica a proteína Rh da criança como invasora e os anticorpos da 
mãe atacam os da criança. Essa problemática geralmente ocorre durante o parto, visto que, 
em condições normais, não existe contato do sangue da mãe com o da criança por via 
placentária. 
 
5. Capacidade alterada do fígado de secretar bilirrubina conjugada: Como por 
exemplo, uma deficiência enzimática ou uma obstrução do ducto biliar. 
 
6. Combinação de superprodução e baixa secreção: por exemplo em sepses 
 
7. Alguns estados patológicos: A exemplo: hipotireoidismo, galactosemia, filho de mãe 
diabética. 
 
8. Predisposição genética à produção aumentada de bilirrubina 
 
Diagnóstico 
O diagnóstico depende dos seguintes fatores: Histórico obstétrico da mãe; Histórico e exame 
físico do neonato e de exames laboratoriais (dosagem de níveis séricos de bilirrubinas totais e 
frações a cada 4 a 6 horas nas primeiras 24 horas do nascido, hemograma completo e 
reticulócito, painel metabólico completo, tipagem sanguínea materna e do recém-nascido, teste 
de Coombs indireto na mãe e direto no neonato). 
Através do exame físico, a icterícia pode ser visualmente detectada através da observação da 
cor da pele do neonato da cabeça aos pés, a cor das escleróticas e membranas mucosas. A 
aplicação de leve compressão direta sobre a pele, especialmente sobre proeminências ósseas 
como a ponta do nariz ou do esterno, causa o descoramento e permite que a coloração amarela 
se torne mais pronunciada. Para neonatos de pele escura, a coloração da esclerótica, conjuntiva 
e mucosa oral são os indicadores mais confiáveis. Além disso, a bilirrubina (especialmente em 
altos níveis) não é distribuída uniformemente na pele. A enfermeira deve observar o neonato 
sob luz solar natural para uma avaliação correta da coloração. A digitopressão na pele do RN 
é percebida com níveis de bilirrubina total (BT) maior que 4-8 mg/dl, porém a impressão visual 
não guarda relação estreita com o nível sérico de bilirrubina. A icterícia apresenta progressão 
cefalocaudal e níveis mais elevados de bilirrubina estão associados à icterícia abaixo dos 
joelhos. 
 
Achados Físicos na Icterícia Neonatal 
Achados Momento da Icterícia Causa 
Exame geral 
Febre, taquicardia, 
desconforto 
respiratório 
Primeiras 24 h 
Acúmulo > 5 mg/dL/dia 
(>86 μmol/L/dia) 
Pneumonia, infecção TORCH, 
sepse 
Letargia, hipotonia Pode surgir nas 
primeiras 24 — 48 h 
Pode ser prolongada (> 
2 semanas) 
Hipotireoidismo, disfunções 
metabólicas 
Macrossomia 24 — 48 h 
Pode haver acúmulo > 
5 mg/dL 
Diabetes materno 
Petéquias Primeiras 24 h 
Acúmulo > 5 mg/dL 
Estados hemolíticos (p. ex., 
incompatibilidade sanguínea 
materno-fetal, deficiências de 
enzimas eritrocitárias, 
esferocitose hereditária, 
talassemias e sepse) 
Pletora Primeiras 24 h 
Acúmulo > 5 mg/dL 
Transfusão materno-fetal ou 
feto-feto, atraso na laqueadura 
do cordão umbilical 
Exame da cabeça e 
do pescoço 
 
Inclinação bilateral 
das fissuras 
palpebrais, raiz 
nasal achatada, 
macroglossia, 
occipital achatado 
Primeiros 2 a 3 dias Síndrome de Down (possível 
atresia duodenal, doença de 
Hirschsprung, obstrução 
intestinal, ampla distânciaentre 
o 1º e o 2º dedo do pé) 
 
Cefaloematoma 24 – 48 h 
Pode haver acúmulo > 
5 mg/dL 
Trauma de parto 
Macroglossia 
 
24 – 48 h 
Pode ser prolongada (> 
2 semanas) 
Hipotireoidismo 
Exame abdominal 
Distensão 
abdominal, 
diminuição dos 
ruídos intestinais 
Possibilidade de 
manifestação tardia (2 
– 3 dias ou mais) 
Obstrução intestinal (p. ex., 
fibrose cística, doença de 
Hirschsprung, atresia ou 
estenose intestinal, estenose do 
piloro, atresia biliar) 
TORCH = toxoplasmose, outros patógenos, rubéola, citomegalovírus e herpes simples. 
 
Mensuração da bilirrubina transcutânea: Forma não invasiva de estimar os níveis séricos 
de bilirrubina através do bilirrubinômetro. A avaliação da bilirrubina transcutânea (BTc) deve 
ser realizada na face e no esterno. O equipamento ainda é considerado uma ferramenta de 
triagem para definir quais RN terão dosados seus níveis séricos de bilirrubina, mas já é 
responsável pela diminuição significativa do número de bebês puncionados. A contínua 
evolução da técnica provavelmente permitirá, em futuro próximo, seu uso como método 
diagnóstico. 
Mensuração da bilirrubina sérica: Dosagem de bilirrubina sérica para confirmar o aumento 
dos níveis de bilirrubina evidenciados através do BTc ou da avaliação visual. A 
hiperbilirrubinemia pode ser classificada como indireta, diagnosticada com níveis de BI (não 
conjugada) maiores que 1,5 mg/dl, ou direta, determinada pelo valor da BD (conjugada) maior 
que 2,0 mg/dl, desde que represente mais que 15% do valor de BT. 
A mensuração dos níveis plasmáticos de bilirrubina devem ocorrer de hora em hora para 
identificar neonatos sob risco de uma rápida elevação dos níveis se tornou uma recomendação 
da American Academy of Pediatrics (2004) para o monitoramento de neonatos saudáveis a 
partir da 35ª semana de gestação, antes da alta hospitalar. A bilirrubina plasmática pode ser 
colhida no momento da triagem metabólica, evitando-se assim a necessidade de outras coletas 
de sangue. 
O uso de um nomograma (uma espécie de gráfico) com 3 níveis (risco alto, intermediário ou 
baixo) de elevação dos níveis plasmáticos de bilirrubina auxilia na determinação de quais 
neonatos podem precisar de maior avaliação após a alta. 
Diagnóstico etiológico: A investigação etiológica da hiperbilirrubinemia através de exames 
laboratoriais deve ser feita nos RN que apresentam icterícia nas primeiras 24 horas de vida ou 
valores de BT maiores que 15 mg/dl, independentemente da idade pós-natal. 
 
Complicações 
Quando ligada à albumina sérica, a bilirrubina é incapaz de atravessar as membranas celulares, 
porém, quando está em forma livre, ou seja, bilirrubina indireta não ligada à albumina, pode 
passar ao sistema nervoso central, atravessando facilmente a barreira hematoencefálica, 
causando a cor amarelada no tecido cerebral conhecida como kernicterus. Um neonato que 
apresente concentrações plasmáticas a níveis tóxicos, independente da causa pode desenvolver 
encefalopatia bilirrubínica, uma síndrome com lesão cerebral grave. O nível exato de 
bilirrubina plasmática necessário para causar lesões ainda não é conhecido. 
Múltiplos fatores contribuem para a neurotoxicidade da bilirrubina; portanto os níveis 
plasmáticos de bilirrubina não preveem isoladamente o risco de lesão cerebral. Os fatores que 
estimulam o desenvolvimento de encefalopatia bilirrubínica incluem: acidose metabólica, 
redução dos níveis plasmáticos de albumina, infecções intracranianas como meningite e 
aumentos súbitos na Pressão Arterial. 
Além disso, qualquer condição que aumente as demandas metabólicas de oxigênio e glicose, 
como por exemplo, sofrimento fetal, hipóxia, hipotermia, hipoglicemia, etc., também aumenta 
o risco de lesão cerebral, apesar dos baixos níveis plasmáticos de bilirrubina. 
Os sinais de encefalopatia bilirrubínica são os de depressão ou excitação do sistema nervoso 
central, como letargia, irritabilidade, hipotonia e convulsões nos casos mais leves. Nos casos 
graves, registram-se sequelas neurológicas que envolvem paralisia cerebral atetóide, retardo 
mental, perda da audição e disfunções motoras. Aqueles que sobrevivem podem eventualmente 
demonstrar evidências de lesões neurológicas, tais como retardo mental; transtorno do déficit 
de atenção e hiperatividade (TDAH); retardo ou anormalidades na função motora 
(especialmente ataxia e atetose); transtornos de comportamento; problemas perceptuais ou 
perda auditiva neurossensorial. 
 
Tratamento 
1. Fototerapia: 
A fototerapia é um tratamento feito com o emprego da luz. As luzes especiais fluorescentes 
azuis em tubo e certos tipos de luz halogênea especiais são as mais efetivas. Também há 
colchões feitos de fibra óptica que emitem luz azul. 
O mecanismo básico de ação da fototerapia é a utilização de energia luminosa para transformar 
a bilirrubina não conjugada em produtos hidrossolúveis. A molécula de bilirrubina absorve luz 
no espectro de 400 a 500nm. A luz emitida nessa faixa atinge a epiderme e a derme, sendo 
assim, apenas a bilirrubina que se encontra a aprximadamente 2 mm da pele será afetada pela 
luz. Dois mecanismos tem sido ropostos para explicar a ação da fototerapia na redução dos 
níveis séricos de bilirrubina: fotoisomerização e fotooxidação. 
Na fotoisomerização ocorre a fragmentação da estrutura da bilirrubina, produzindo dois tipos 
de isômeros: o isômero geométrico ou configuracional e o isômero estrutural ou lumirrubina. 
O isômero geométrico forma-se rapidamente e é reversível à molécula de bilirrubina que lhe 
deu origem e a sua excreção é extremamente lenta em recém-nascidos. A formação de isômeros 
estruturais é mais lenta do que a do isômero geométrico; porém esta reação, ao contrário 
daquela, é irreversível. A lumirrubina, por ser solúvel em água, é rapidamente excretada pela 
bile e, principalmente, pela urina do recém-nascido ictérico em fototerapia, sem a necessidade 
de conjugação. 
Na fotooxidação uma pequena parte da molécula ativa de bilirrubina sofre um processo de 
oxidação, levando à produção de complexos pirólicos, solúveis em água e excretados na urina. 
A contribuição quantitativa da fotooxidação para a diminuição dos níveis séricos de bilirrubina 
ainda não está totalmente determinada. Entretanto, parece que sua contribuição é pequena. 
A fototerapia é indicada para os casos de hiperbilirrubinemia não hemolítica e provoca efeitos 
colaterais como irritação na pele, aumento da perda de água, diarréia, hipertermia e possível 
lesão da retina (se for exposta a luz sem proteção adequada), letargia, distenção abdominal, 
trombocitopenia, desidratação e intolerância à lactose. 
Se não for indicada exsanguinotransfusão, pode-se dar início à alimentação oral, a intervalos 
não superiores a 3 horas. É importante que o neonato esteja evacuando, o que contribui para a 
eliminação da bilirrubina com as fezes. O uso de supositório de glicerina é indicado a cada 24 
horas, quando o neonato não estiver evacuando adequadamente. 
A indicação sobre o início do tratamento fototerápico depende da idade e do peso do recém-
nascido. 
 
Indicações de fototerapia de acordo com a idade gestacional 
Idade Gestacional Total da bilirrubina (mg/dl) 
24 semanas 4,7 
28 semanas 5,8 
32 semanas 8,8 
36 semanas 14,6 
 
Indicação de fototerapia para neonatos > 35 semanas de gestação em relação às horas de 
nascido e aos níveis de bilirrubina total. 
Horas de nascido Nível de bilirrubina total 
Ao nascer 4 a 5 mg/dl 
24 horas 7 mg/dl 
48 horas 10 a 11 mg/dl 
72 horas 16 a 18 mg/dl 
 
Frequência de verificação dos níveis de bilirrubina > 35 semanas gestacionais 
Valor de 
bilirrubina 
total (BT) 
(mg/dl) 
Frequência 
das medidas 
dos níveis 
Tratamento Alimentação oral ou 
liquidos intravenosos (IV) 
BT > 25 A cada 2 
horas 
Fototerapia ou 
exsanguinotransfusão 
IV + alimentação 160 a 200 
ml/kg (não interromper a 
alimentação oral enquanto 
se aguarda a 
exsanguinotransfusão) 
BT 21 a 24 A cada 4 
horasFototerapia IV + alimentação oral: 160 
a 180 ml/kg (não 
interromper a fototerapia 
durante a amamentação 
oral) 
BT 18 a 20 A cada 6 
horas 
Fototerapia IV + alimentação oral: 160 
ml/kg/dia (Pode-se 
interromper a alimentação 
oral por um breve 
momento) 
BT 14 a 17 A cada 8 
horas 
Fototerapia IV + alimentação oral: 
mínimo de 130 ml/kg/dia, 
parar a infusão IV 
(Interromper a fototerapia 
durante a alimentação oral) 
BT < 14 Interromper a 
fototerapia 
Repetir aferição do nível de 
BT 6 horas após a 
fototerapia, se nível entre 
14 e 17 investigar a 
existência de outras 
patologias que possam 
alterar tal nível 
Alimentação oral quanto 
queira o paciente. 
Interromper a fototerapia. 
 
O neonato só poderá receber alta quando estiver recebendo alimentação oral em volume 
adequado, e tolerando a alimentação e apresentar níveis de bilirrubina < 14 mg/dl. Deverá ser 
realizado o acompanhamento pelo pediatra 24 horas depois da alta. 
 
Cuidados de Enfermagem: 
· Despir o recém-nascido, mantendo só os genitais cobertos para que a ação da fototerapia 
alcance uma superfície mais extensa. Cobrir os genitais evita o extravasamento de urina e 
fezes; 
· Proteção dos olhos com a venda apropriada pois a intensidade da luz pode lesionar a 
retina; 
· Acionamento do aparelho e aferição da intensidade de luz com radiômetro, ou 
manutenção do registro das horas de uso do aparelho da fototerapia. Quando se utiliza a luz 
azul, que possuem maior capacidade de irradiação, a molécula de bilirrubina absorve a 
energia luminosa emitida no comprimento de onda entre 425 e 475 nm. A quantidade de 
energia luminosa liberada denomina-se irradiância, que deve estar em no mínimo 4 
µw/cm²/nm. Abaixo desse valor, a irradiação não tem ação terapêutica, sendo necessária 
a troca de lâmpadas. A irradiância ideal deve ser superior a 6 µw/cm²/nm. As lãmpadas 
fluorescentes utilizadas para a fototerapia perdem parte da sua ação terapêutica após 
cerca de 220 horas de uso, devendo ser trocadas. 
· Manter distância mínima da luz fluorescente e do recém-nascido de 40 a 50 cm e, se 
a lâmpada for halógena, de 50 cm; 
· Verificação dos sinais vitais de 2 em 2 horas. Útil para monitoramento da 
hemodinâmica. O monitoramento da temperatura é importante em vista da temdência a 
hipotermia; 
· Equilíbrio hídrico rigoroso devido à perda insensível de água (cerca de 40%) quando 
em fototerapia, é importante monitorar a diurese e a hidratação do neonato. Aumento da 
oferta de líquidos: nos RN < 1.500 g, aumento de 0,5 ml/kg/h; nos RN > 1.500 g, aumento 
de 1 ml/kg/h; 
· Mudança de decúbito a cada 4 horas no mínimo. Permite que o RN receba a ação da 
fototerapia de maneira uniforme; 
· Interrupção da fototerapia por 15 minutos, a cada 8 horas, removendo-se a venda 
ocular, para promover a estimulação visual; 
· Incentivo à visita dos pais. Nesse momento deve-se interromper a fototerapia mesmo 
que por poucos minutos, removendo-se a venda ocular para promover o contato dos pais 
com o neonato; 
· Promoção de motilidade gastrointestinal por meio de alimentação e estimulação de 
evacuações, já que promove o aumento da eliminação da bilirrubina pelo trato intestinal; 
· Controle dos níveis de bilirrubina de acordo com a prescrição. Paciente sem hemólise 
a cada 12 horas e com hemólise a cada 6 horas. 
 
2. Exsanguineotransfusão: 
Trata-se de uma transfusão sanguinea em que se realizam a troca total ou parcial do volume 
sanguíneo com finalidade terapêutica. É indicada nos seguintes casos: 
- Incompatibilidade AB0 ou de Rh, faz-se necessário substituir hemáceas sensibilizadas 
- Em caso de hiperbilirrubinemia, remove-se a bilirrubina indireta e faz-se correção da anemia 
- No recém-nascido hidrópico com histórico de sensibilização materna, faz-se a correção da 
policitemia. 
 
Indicações de exsanguineotransfusão de acordo com os níveis de bilirrubina total do cordão 
umbilical e de hemoglobina 
 Recém-nascido a termo Recém-nascido prematuro 
Bilirrubina do 
cordão 
Bilirrubina 
sérica total Hgb 
Bilirrubina do 
cordão 
 
Bilirrubina sérica 
total Hgb 
Ao nascer - > 4 mg/dl - > 3,5 mg/dl 
Dentro da 
primeira hora 
após o 
nascimento 
> 6 mg/dl < 8 mg/dl > 3,5 mg/dl < 11,5 mg/dl 
Sem hemólise - >25 mg/dl - > 10 a 18 mg/dl 
 
Indicações da exsanguineotransfusão de acordo com os níveis de bilirrubina total no soro em 
relação ao peso 
Peso de nascimento (g) Níveis de bilirrubina total no soro (mg/dl) 
500 a 750 12 a 15 
751 a 1.000 > 15 
1.001 a 1.249 15 a 18 
1.250 a 1.499 17 a 20 
1.500 a 1.999 17 
2.000 a 2.500 18 
Acima de 2.500 25 
 
Deve-se sempre considerar o peso e o estado geral do paciente antes de se tomar uma decisão 
sobre a realização da exsanguineotransfusão devido ao procedimento possibilitar a ocorrência 
das seguintes complicações: 
· Vasculares: embolia, vasoconstrição, trombose, infarto vascular; 
· Cardíacas: arritmia, sobrecarga, parada cardíaca; 
· Sangramento decorrente de trombocitopenia e deficiência de fatores de coagulação 
· Desequilíbrio eletrolítico: hipocalemia (devido ao anticoagulante citrato utilizado no 
sangue do doador, que provoca a destruição do cálcio) e hipopotassemia quando se utiliza 
sangue estocado; 
· Infecções 
· Perfuração dos vasos umbilicais; 
· Aumento da incidência de enterocolite necrosante por diminuição da perfusão intestinal 
durante o procedimento 
· Instabilidade térmica: hipotermia ou hipertermia 
· Acidose metabólica: quando se utiliza sangue com temperatura muito baixa 
É preciso selecionar o sangue a ser utilizado na exsanguineotransfusão. Ao fazê-lo, deve-se ter 
em mente que o procedimento deve reduzir e prevenir a hemólise, reduzir os níveis de bilirruina 
e diminuir a relação entre antígeno e anticorpo. 
O tipo de sangue a ser utilizado depende da etiologia da hiperbilirrubinemia e hemólise 
presentes. Em caso de hiperbilirrubinemia causada por outros fatores que não doença 
hemolítica do recém-nascido por incompatibilidade sanguínea, podem-se utilizar hemácias e 
plasma do tipo sanguíneo do recém-nascido. 
Antes de ser utilizado, o sangue para a exsanguineotransfusão deve ser testado com relação aos 
níveis de sódio, potássio, hemoglobina, hematócito e pH. 
Contraindica-se a utilização do sangue para a exsanguineotransfusão nas seguintes condições: 
· Sódio > 170 mEq/l 
· Potássio > 7 mEq/l 
· PH < 6,8 
· Hemolobina <13 g/dl 
 
O recém-nascido deve ser mantido em jejum por pelo menos 3 horas antes do procedimento, 
em vista do risco de parada cardiorrespiratória e diminuição do fluxo sanguíneo ao sistema 
gastrointestinal durante o processo. 
 
Cuidados de enfermagem: 
· Limpeza das mãos e preparação do material; 
· Obtenção do consentimento dos pais para o procedimento e a administração de sangue. 
É necessário discutir com os pais o prazo para o procedimento, mantendo-os informados, 
para diminuir o nível de ansiedade e estresse; 
· Auxílio na coleta de amostras para exames laboratoriais antes do procedimento. Para 
verificação dos níveis de bilirrubina, cálcio, potássio, sódio, pH, hematócito e hemoglobina, 
e glicemia; 
· Requisição de sangue de acordo com a prescrição médica; 
· Colocação do RN em berço aquecido para a manutenção da temperatura durante o 
procedimento; 
· Instalação do monitor cardíaco, oxímetro de pulso e pressão arterial; 
· Verificação do sangue a ser transfundido, do nome do paciente, do seu tipo sanguíneo 
e do tipo sanguíneo do doador; 
· Coleta de amostra de sangue da bolsa que contém o sangue a ser transfundido, de acordo 
com a prescrição médica para verificação do pH, potássio, hemoglobina, hematócito e 
sódio; 
· O sangue a ser transfundido deve vir pronto do banco de sangue, à temperaturade 37ºC 
para evitar hipotermia e suas consequências metabólicas, que podem comprometer ainda 
mais o paciente; 
· O sangue deve ser manuseado com cuidado para evitar a hemólise; 
· Imobilização das extremidades do paciente para facilitar o procedimento e evitar 
acidentes; 
· Auxílio ao médico na cateterização umbilical; 
· Verificação dos sinais vitais, da pressão arterial, da coloração e da perfusão das 
extremidades antes de se iniciar o procedimento, a cada 15 minutos durante e ao se finalizar 
o procedimento; 
· Registro de cada entrada e saída de sangue na ficha de exsanguineotransfusão; em voz 
alta relatar ao médico a quantidade de cada entrada e saída de sangue para o cálculo da 
volemia que se está transfundindo, que deve ser calculado de acordo com o tamanho do RN 
e varia de 5 a 10 ml/ciclo; 
· Administração de gliconato de cálcio a cada 100 ml de sangue transfundidos de acordo 
com a prescrição médica (pelo risco de hipocalemia); 
· Movimentação delicada da bolsa de sangue do doador a cada 5 minutos para prevenir 
a separação das células e do plasma; 
· Obtenção de amostra de sangue para avaliação do procedimento de acordo com a 
prescrição médica ao final do procedimento (hemograma, eletrólitos, cálcio, bilirrubina 
total e direta); 
· Verificação dos SSVV de 30 em 30 minutos por 2 horas e, após esse período fazê-lo 
de acordo com a rotina; 
· Nível de glicose imediatamente após o procedimento: 1 hora, 2 horas e 4 horas após 
transfusão. O sangue do doador contém dextrose, substância que pode ocasiosar 
hiperglicemia, aumentando a produção de insulina. Após o procedimento, com a 
diminuição da oferta de glicose, pode ocorrer hipoglicemia; 
· Obtenção do nível de hematócrito 4 horas após o procedimento e de acordo com a 
prescrição médica para o monitoramento da hemólise; 
Observação do estado geral do paciente para monitoramento das alterações metabólicas, 
como hipocalcemia e acidose, bem como sinais de infecção.

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