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ICTERÍCIA NEONATAL Conceito Caracteriza-se por uma coloração amarelada da pele, escleras e unhas, causada pelo acúmulo excessivo de bilirrubina no sangue. É um achado comum no neonato e, na maioria das vezes é benigna. Entretanto, em casos extremos, pode indicar um estado patológico. Fisiopatologia A bilirrubina é uma substância com coloração amarelada e é gerada pela degradação dos aminoácidos e das hemoproteínas, especialmente da hemoglobina. Os principais locais da formação da bilirrubina são o baço e o fígado. Um recém-nascido a termo sadio produz diariamente uma média de 2,3 mg de bilirrubina/kg. Quando as hemácias são destruídas, os produtos de sua degradação são liberados na circulação, onde a hemoglobina se divide em duas frações: heme e globina. A porção globina é utilizada pelo organismo e a porção heme é fagocitada pelos macrófagos, convertida em bilirrubina não conjugada e liberada dos macrófagos para o plasma. Essa bilirrubina é lipossolúvel e apolar, podendo ligar-se fortemente à albumina plasmática, sendo transportada por todo o sangue e fluidos corporais. Entretanto, sua fração livre tem a capacidade de atravessar facilmente a barreira hematoencefálica, o que a caracteriza como uma substância potencialmente tóxica para o tecido nervoso. A bilirrubina não conjugada é transportada pela albumina para o fígado. Local em que é captada pelas células hepáticas, liberada da albumina plasmática e transformada pela ação de enzimas microssomais em um composto mais polar e hidrossolúvel, a bilirrubina conjugada. A conjugação da bilirrubina ocorre majoritariamente no fígado, sendo também observada nas células dos túbulos renais e nos enterócitos. A bilirrubina conjugada é transportada até o duodeno, sendo desconjugada e reduzida no cólon, formando os urobilinogênios. Essas moléculas são excretadas nas fezes, em sua maioria, e pequena parte é reabsorvida através da mucosa intestinal e volta ao fígado pelo sistema porta e cerca de 5% são excretados na urina pelos rins. A icterícia ocorre quando o equilíbrio entre a destruição das hemácias e a excreção dos subprodutos é afetada e a bilirrubina não conjugada se acumula nos tecidos. Pode ocorrer por conta de um ou mais dos seguintes mecanismos: Produção excessiva de bilirrubinas; Captação reduzida pelo hepatócito; Conjugação prejudicada; Excreção hepatocelular reduzida e Fluxo biliar prejudicado. Causas 1. Fatores Fisiológicos (do desenvolvimento), como prematuridade: Causa mais comum de icterícia no neonato. É um transtorno relativamente leve que não está associado a nenhum processo patológico e sim a processos fisiológicos ainda imaturos na criança. Principais causas da icterícia fisiológica: - Em média, neonatos produzem o dobro da bilirrubina que os adultos, devido a maiores concentrações de eritrócitos circulantes e seu menor tempo de vida (apenas 70 a 90 dias, contra 120 dias em crianças mais velhas e adultos). Além disso, a capacidade do fígado de conjugar a bilirrubina é menor. - O intestino do neonato é estéril e possui menor motilidade, portanto é inicialmente menos efetivo na excreção de bilirrubina - No intestino existe uma enzima capaz de converter a bilirrubina conjugada novamente em bilirrubina não-conjugada, que é novamente absorvida pelo fígado. Este processo, denominado circulação êntero-hepática, é acentuado no neonato e acredita-se que seja um dos mecanismos principais na icterícia fisiológica. - A alimentação aumenta a peristalse e provoca a eliminação mais rápida do mecônio, reduzindo assim a eliminação de bilirrubina. 2. Associação à amamentação (Icterícia de início precoce): Se inicia dos 2 aos 4 dias de idade e está relacionada ao processo de amamentação, o qual provavelmente resulta da menor ingesta calórica e hídrica por neonatos amamentados antes que o suprimento de leite esteja bem estabelecido, porque o jejum está associado a menor eliminação hepática de bilirrubina. 3. Associada ao leite materno (Icterícia de início tardio): Se inicia de 5 a 7 dias de idade. A icterícia pode ser causada por fatores no leite materno que inibem a conjugação ou reduzem a excreção da bilirrubina. 4. Produção excessiva de bilirrubina (ex: doença hemolítica, defeitos bioquímicos, equimnoses, incompatibilidade sanguínea no sistema ABO): Como por exemplo defeitos bioquímicos, equimoses e a doença hemolítica do recém-nascido – que é uma doença causada quando o fator Rh do sangue da mãe é negativo e o do bebê é positivo. O fator Rh positivo indica que a pessoa possui a proteína Rh e o negativo indica que ela não possui esta proteína. Quando a mãe tem fator Rh negativo e o filho tem fator Rh positivo, o organismo da mãe identifica a proteína Rh da criança como invasora e os anticorpos da mãe atacam os da criança. Essa problemática geralmente ocorre durante o parto, visto que, em condições normais, não existe contato do sangue da mãe com o da criança por via placentária. 5. Capacidade alterada do fígado de secretar bilirrubina conjugada: Como por exemplo, uma deficiência enzimática ou uma obstrução do ducto biliar. 6. Combinação de superprodução e baixa secreção: por exemplo em sepses 7. Alguns estados patológicos: A exemplo: hipotireoidismo, galactosemia, filho de mãe diabética. 8. Predisposição genética à produção aumentada de bilirrubina Diagnóstico O diagnóstico depende dos seguintes fatores: Histórico obstétrico da mãe; Histórico e exame físico do neonato e de exames laboratoriais (dosagem de níveis séricos de bilirrubinas totais e frações a cada 4 a 6 horas nas primeiras 24 horas do nascido, hemograma completo e reticulócito, painel metabólico completo, tipagem sanguínea materna e do recém-nascido, teste de Coombs indireto na mãe e direto no neonato). Através do exame físico, a icterícia pode ser visualmente detectada através da observação da cor da pele do neonato da cabeça aos pés, a cor das escleróticas e membranas mucosas. A aplicação de leve compressão direta sobre a pele, especialmente sobre proeminências ósseas como a ponta do nariz ou do esterno, causa o descoramento e permite que a coloração amarela se torne mais pronunciada. Para neonatos de pele escura, a coloração da esclerótica, conjuntiva e mucosa oral são os indicadores mais confiáveis. Além disso, a bilirrubina (especialmente em altos níveis) não é distribuída uniformemente na pele. A enfermeira deve observar o neonato sob luz solar natural para uma avaliação correta da coloração. A digitopressão na pele do RN é percebida com níveis de bilirrubina total (BT) maior que 4-8 mg/dl, porém a impressão visual não guarda relação estreita com o nível sérico de bilirrubina. A icterícia apresenta progressão cefalocaudal e níveis mais elevados de bilirrubina estão associados à icterícia abaixo dos joelhos. Achados Físicos na Icterícia Neonatal Achados Momento da Icterícia Causa Exame geral Febre, taquicardia, desconforto respiratório Primeiras 24 h Acúmulo > 5 mg/dL/dia (>86 μmol/L/dia) Pneumonia, infecção TORCH, sepse Letargia, hipotonia Pode surgir nas primeiras 24 — 48 h Pode ser prolongada (> 2 semanas) Hipotireoidismo, disfunções metabólicas Macrossomia 24 — 48 h Pode haver acúmulo > 5 mg/dL Diabetes materno Petéquias Primeiras 24 h Acúmulo > 5 mg/dL Estados hemolíticos (p. ex., incompatibilidade sanguínea materno-fetal, deficiências de enzimas eritrocitárias, esferocitose hereditária, talassemias e sepse) Pletora Primeiras 24 h Acúmulo > 5 mg/dL Transfusão materno-fetal ou feto-feto, atraso na laqueadura do cordão umbilical Exame da cabeça e do pescoço Inclinação bilateral das fissuras palpebrais, raiz nasal achatada, macroglossia, occipital achatado Primeiros 2 a 3 dias Síndrome de Down (possível atresia duodenal, doença de Hirschsprung, obstrução intestinal, ampla distânciaentre o 1º e o 2º dedo do pé) Cefaloematoma 24 – 48 h Pode haver acúmulo > 5 mg/dL Trauma de parto Macroglossia 24 – 48 h Pode ser prolongada (> 2 semanas) Hipotireoidismo Exame abdominal Distensão abdominal, diminuição dos ruídos intestinais Possibilidade de manifestação tardia (2 – 3 dias ou mais) Obstrução intestinal (p. ex., fibrose cística, doença de Hirschsprung, atresia ou estenose intestinal, estenose do piloro, atresia biliar) TORCH = toxoplasmose, outros patógenos, rubéola, citomegalovírus e herpes simples. Mensuração da bilirrubina transcutânea: Forma não invasiva de estimar os níveis séricos de bilirrubina através do bilirrubinômetro. A avaliação da bilirrubina transcutânea (BTc) deve ser realizada na face e no esterno. O equipamento ainda é considerado uma ferramenta de triagem para definir quais RN terão dosados seus níveis séricos de bilirrubina, mas já é responsável pela diminuição significativa do número de bebês puncionados. A contínua evolução da técnica provavelmente permitirá, em futuro próximo, seu uso como método diagnóstico. Mensuração da bilirrubina sérica: Dosagem de bilirrubina sérica para confirmar o aumento dos níveis de bilirrubina evidenciados através do BTc ou da avaliação visual. A hiperbilirrubinemia pode ser classificada como indireta, diagnosticada com níveis de BI (não conjugada) maiores que 1,5 mg/dl, ou direta, determinada pelo valor da BD (conjugada) maior que 2,0 mg/dl, desde que represente mais que 15% do valor de BT. A mensuração dos níveis plasmáticos de bilirrubina devem ocorrer de hora em hora para identificar neonatos sob risco de uma rápida elevação dos níveis se tornou uma recomendação da American Academy of Pediatrics (2004) para o monitoramento de neonatos saudáveis a partir da 35ª semana de gestação, antes da alta hospitalar. A bilirrubina plasmática pode ser colhida no momento da triagem metabólica, evitando-se assim a necessidade de outras coletas de sangue. O uso de um nomograma (uma espécie de gráfico) com 3 níveis (risco alto, intermediário ou baixo) de elevação dos níveis plasmáticos de bilirrubina auxilia na determinação de quais neonatos podem precisar de maior avaliação após a alta. Diagnóstico etiológico: A investigação etiológica da hiperbilirrubinemia através de exames laboratoriais deve ser feita nos RN que apresentam icterícia nas primeiras 24 horas de vida ou valores de BT maiores que 15 mg/dl, independentemente da idade pós-natal. Complicações Quando ligada à albumina sérica, a bilirrubina é incapaz de atravessar as membranas celulares, porém, quando está em forma livre, ou seja, bilirrubina indireta não ligada à albumina, pode passar ao sistema nervoso central, atravessando facilmente a barreira hematoencefálica, causando a cor amarelada no tecido cerebral conhecida como kernicterus. Um neonato que apresente concentrações plasmáticas a níveis tóxicos, independente da causa pode desenvolver encefalopatia bilirrubínica, uma síndrome com lesão cerebral grave. O nível exato de bilirrubina plasmática necessário para causar lesões ainda não é conhecido. Múltiplos fatores contribuem para a neurotoxicidade da bilirrubina; portanto os níveis plasmáticos de bilirrubina não preveem isoladamente o risco de lesão cerebral. Os fatores que estimulam o desenvolvimento de encefalopatia bilirrubínica incluem: acidose metabólica, redução dos níveis plasmáticos de albumina, infecções intracranianas como meningite e aumentos súbitos na Pressão Arterial. Além disso, qualquer condição que aumente as demandas metabólicas de oxigênio e glicose, como por exemplo, sofrimento fetal, hipóxia, hipotermia, hipoglicemia, etc., também aumenta o risco de lesão cerebral, apesar dos baixos níveis plasmáticos de bilirrubina. Os sinais de encefalopatia bilirrubínica são os de depressão ou excitação do sistema nervoso central, como letargia, irritabilidade, hipotonia e convulsões nos casos mais leves. Nos casos graves, registram-se sequelas neurológicas que envolvem paralisia cerebral atetóide, retardo mental, perda da audição e disfunções motoras. Aqueles que sobrevivem podem eventualmente demonstrar evidências de lesões neurológicas, tais como retardo mental; transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH); retardo ou anormalidades na função motora (especialmente ataxia e atetose); transtornos de comportamento; problemas perceptuais ou perda auditiva neurossensorial. Tratamento 1. Fototerapia: A fototerapia é um tratamento feito com o emprego da luz. As luzes especiais fluorescentes azuis em tubo e certos tipos de luz halogênea especiais são as mais efetivas. Também há colchões feitos de fibra óptica que emitem luz azul. O mecanismo básico de ação da fototerapia é a utilização de energia luminosa para transformar a bilirrubina não conjugada em produtos hidrossolúveis. A molécula de bilirrubina absorve luz no espectro de 400 a 500nm. A luz emitida nessa faixa atinge a epiderme e a derme, sendo assim, apenas a bilirrubina que se encontra a aprximadamente 2 mm da pele será afetada pela luz. Dois mecanismos tem sido ropostos para explicar a ação da fototerapia na redução dos níveis séricos de bilirrubina: fotoisomerização e fotooxidação. Na fotoisomerização ocorre a fragmentação da estrutura da bilirrubina, produzindo dois tipos de isômeros: o isômero geométrico ou configuracional e o isômero estrutural ou lumirrubina. O isômero geométrico forma-se rapidamente e é reversível à molécula de bilirrubina que lhe deu origem e a sua excreção é extremamente lenta em recém-nascidos. A formação de isômeros estruturais é mais lenta do que a do isômero geométrico; porém esta reação, ao contrário daquela, é irreversível. A lumirrubina, por ser solúvel em água, é rapidamente excretada pela bile e, principalmente, pela urina do recém-nascido ictérico em fototerapia, sem a necessidade de conjugação. Na fotooxidação uma pequena parte da molécula ativa de bilirrubina sofre um processo de oxidação, levando à produção de complexos pirólicos, solúveis em água e excretados na urina. A contribuição quantitativa da fotooxidação para a diminuição dos níveis séricos de bilirrubina ainda não está totalmente determinada. Entretanto, parece que sua contribuição é pequena. A fototerapia é indicada para os casos de hiperbilirrubinemia não hemolítica e provoca efeitos colaterais como irritação na pele, aumento da perda de água, diarréia, hipertermia e possível lesão da retina (se for exposta a luz sem proteção adequada), letargia, distenção abdominal, trombocitopenia, desidratação e intolerância à lactose. Se não for indicada exsanguinotransfusão, pode-se dar início à alimentação oral, a intervalos não superiores a 3 horas. É importante que o neonato esteja evacuando, o que contribui para a eliminação da bilirrubina com as fezes. O uso de supositório de glicerina é indicado a cada 24 horas, quando o neonato não estiver evacuando adequadamente. A indicação sobre o início do tratamento fototerápico depende da idade e do peso do recém- nascido. Indicações de fototerapia de acordo com a idade gestacional Idade Gestacional Total da bilirrubina (mg/dl) 24 semanas 4,7 28 semanas 5,8 32 semanas 8,8 36 semanas 14,6 Indicação de fototerapia para neonatos > 35 semanas de gestação em relação às horas de nascido e aos níveis de bilirrubina total. Horas de nascido Nível de bilirrubina total Ao nascer 4 a 5 mg/dl 24 horas 7 mg/dl 48 horas 10 a 11 mg/dl 72 horas 16 a 18 mg/dl Frequência de verificação dos níveis de bilirrubina > 35 semanas gestacionais Valor de bilirrubina total (BT) (mg/dl) Frequência das medidas dos níveis Tratamento Alimentação oral ou liquidos intravenosos (IV) BT > 25 A cada 2 horas Fototerapia ou exsanguinotransfusão IV + alimentação 160 a 200 ml/kg (não interromper a alimentação oral enquanto se aguarda a exsanguinotransfusão) BT 21 a 24 A cada 4 horasFototerapia IV + alimentação oral: 160 a 180 ml/kg (não interromper a fototerapia durante a amamentação oral) BT 18 a 20 A cada 6 horas Fototerapia IV + alimentação oral: 160 ml/kg/dia (Pode-se interromper a alimentação oral por um breve momento) BT 14 a 17 A cada 8 horas Fototerapia IV + alimentação oral: mínimo de 130 ml/kg/dia, parar a infusão IV (Interromper a fototerapia durante a alimentação oral) BT < 14 Interromper a fototerapia Repetir aferição do nível de BT 6 horas após a fototerapia, se nível entre 14 e 17 investigar a existência de outras patologias que possam alterar tal nível Alimentação oral quanto queira o paciente. Interromper a fototerapia. O neonato só poderá receber alta quando estiver recebendo alimentação oral em volume adequado, e tolerando a alimentação e apresentar níveis de bilirrubina < 14 mg/dl. Deverá ser realizado o acompanhamento pelo pediatra 24 horas depois da alta. Cuidados de Enfermagem: · Despir o recém-nascido, mantendo só os genitais cobertos para que a ação da fototerapia alcance uma superfície mais extensa. Cobrir os genitais evita o extravasamento de urina e fezes; · Proteção dos olhos com a venda apropriada pois a intensidade da luz pode lesionar a retina; · Acionamento do aparelho e aferição da intensidade de luz com radiômetro, ou manutenção do registro das horas de uso do aparelho da fototerapia. Quando se utiliza a luz azul, que possuem maior capacidade de irradiação, a molécula de bilirrubina absorve a energia luminosa emitida no comprimento de onda entre 425 e 475 nm. A quantidade de energia luminosa liberada denomina-se irradiância, que deve estar em no mínimo 4 µw/cm²/nm. Abaixo desse valor, a irradiação não tem ação terapêutica, sendo necessária a troca de lâmpadas. A irradiância ideal deve ser superior a 6 µw/cm²/nm. As lãmpadas fluorescentes utilizadas para a fototerapia perdem parte da sua ação terapêutica após cerca de 220 horas de uso, devendo ser trocadas. · Manter distância mínima da luz fluorescente e do recém-nascido de 40 a 50 cm e, se a lâmpada for halógena, de 50 cm; · Verificação dos sinais vitais de 2 em 2 horas. Útil para monitoramento da hemodinâmica. O monitoramento da temperatura é importante em vista da temdência a hipotermia; · Equilíbrio hídrico rigoroso devido à perda insensível de água (cerca de 40%) quando em fototerapia, é importante monitorar a diurese e a hidratação do neonato. Aumento da oferta de líquidos: nos RN < 1.500 g, aumento de 0,5 ml/kg/h; nos RN > 1.500 g, aumento de 1 ml/kg/h; · Mudança de decúbito a cada 4 horas no mínimo. Permite que o RN receba a ação da fototerapia de maneira uniforme; · Interrupção da fototerapia por 15 minutos, a cada 8 horas, removendo-se a venda ocular, para promover a estimulação visual; · Incentivo à visita dos pais. Nesse momento deve-se interromper a fototerapia mesmo que por poucos minutos, removendo-se a venda ocular para promover o contato dos pais com o neonato; · Promoção de motilidade gastrointestinal por meio de alimentação e estimulação de evacuações, já que promove o aumento da eliminação da bilirrubina pelo trato intestinal; · Controle dos níveis de bilirrubina de acordo com a prescrição. Paciente sem hemólise a cada 12 horas e com hemólise a cada 6 horas. 2. Exsanguineotransfusão: Trata-se de uma transfusão sanguinea em que se realizam a troca total ou parcial do volume sanguíneo com finalidade terapêutica. É indicada nos seguintes casos: - Incompatibilidade AB0 ou de Rh, faz-se necessário substituir hemáceas sensibilizadas - Em caso de hiperbilirrubinemia, remove-se a bilirrubina indireta e faz-se correção da anemia - No recém-nascido hidrópico com histórico de sensibilização materna, faz-se a correção da policitemia. Indicações de exsanguineotransfusão de acordo com os níveis de bilirrubina total do cordão umbilical e de hemoglobina Recém-nascido a termo Recém-nascido prematuro Bilirrubina do cordão Bilirrubina sérica total Hgb Bilirrubina do cordão Bilirrubina sérica total Hgb Ao nascer - > 4 mg/dl - > 3,5 mg/dl Dentro da primeira hora após o nascimento > 6 mg/dl < 8 mg/dl > 3,5 mg/dl < 11,5 mg/dl Sem hemólise - >25 mg/dl - > 10 a 18 mg/dl Indicações da exsanguineotransfusão de acordo com os níveis de bilirrubina total no soro em relação ao peso Peso de nascimento (g) Níveis de bilirrubina total no soro (mg/dl) 500 a 750 12 a 15 751 a 1.000 > 15 1.001 a 1.249 15 a 18 1.250 a 1.499 17 a 20 1.500 a 1.999 17 2.000 a 2.500 18 Acima de 2.500 25 Deve-se sempre considerar o peso e o estado geral do paciente antes de se tomar uma decisão sobre a realização da exsanguineotransfusão devido ao procedimento possibilitar a ocorrência das seguintes complicações: · Vasculares: embolia, vasoconstrição, trombose, infarto vascular; · Cardíacas: arritmia, sobrecarga, parada cardíaca; · Sangramento decorrente de trombocitopenia e deficiência de fatores de coagulação · Desequilíbrio eletrolítico: hipocalemia (devido ao anticoagulante citrato utilizado no sangue do doador, que provoca a destruição do cálcio) e hipopotassemia quando se utiliza sangue estocado; · Infecções · Perfuração dos vasos umbilicais; · Aumento da incidência de enterocolite necrosante por diminuição da perfusão intestinal durante o procedimento · Instabilidade térmica: hipotermia ou hipertermia · Acidose metabólica: quando se utiliza sangue com temperatura muito baixa É preciso selecionar o sangue a ser utilizado na exsanguineotransfusão. Ao fazê-lo, deve-se ter em mente que o procedimento deve reduzir e prevenir a hemólise, reduzir os níveis de bilirruina e diminuir a relação entre antígeno e anticorpo. O tipo de sangue a ser utilizado depende da etiologia da hiperbilirrubinemia e hemólise presentes. Em caso de hiperbilirrubinemia causada por outros fatores que não doença hemolítica do recém-nascido por incompatibilidade sanguínea, podem-se utilizar hemácias e plasma do tipo sanguíneo do recém-nascido. Antes de ser utilizado, o sangue para a exsanguineotransfusão deve ser testado com relação aos níveis de sódio, potássio, hemoglobina, hematócito e pH. Contraindica-se a utilização do sangue para a exsanguineotransfusão nas seguintes condições: · Sódio > 170 mEq/l · Potássio > 7 mEq/l · PH < 6,8 · Hemolobina <13 g/dl O recém-nascido deve ser mantido em jejum por pelo menos 3 horas antes do procedimento, em vista do risco de parada cardiorrespiratória e diminuição do fluxo sanguíneo ao sistema gastrointestinal durante o processo. Cuidados de enfermagem: · Limpeza das mãos e preparação do material; · Obtenção do consentimento dos pais para o procedimento e a administração de sangue. É necessário discutir com os pais o prazo para o procedimento, mantendo-os informados, para diminuir o nível de ansiedade e estresse; · Auxílio na coleta de amostras para exames laboratoriais antes do procedimento. Para verificação dos níveis de bilirrubina, cálcio, potássio, sódio, pH, hematócito e hemoglobina, e glicemia; · Requisição de sangue de acordo com a prescrição médica; · Colocação do RN em berço aquecido para a manutenção da temperatura durante o procedimento; · Instalação do monitor cardíaco, oxímetro de pulso e pressão arterial; · Verificação do sangue a ser transfundido, do nome do paciente, do seu tipo sanguíneo e do tipo sanguíneo do doador; · Coleta de amostra de sangue da bolsa que contém o sangue a ser transfundido, de acordo com a prescrição médica para verificação do pH, potássio, hemoglobina, hematócito e sódio; · O sangue a ser transfundido deve vir pronto do banco de sangue, à temperaturade 37ºC para evitar hipotermia e suas consequências metabólicas, que podem comprometer ainda mais o paciente; · O sangue deve ser manuseado com cuidado para evitar a hemólise; · Imobilização das extremidades do paciente para facilitar o procedimento e evitar acidentes; · Auxílio ao médico na cateterização umbilical; · Verificação dos sinais vitais, da pressão arterial, da coloração e da perfusão das extremidades antes de se iniciar o procedimento, a cada 15 minutos durante e ao se finalizar o procedimento; · Registro de cada entrada e saída de sangue na ficha de exsanguineotransfusão; em voz alta relatar ao médico a quantidade de cada entrada e saída de sangue para o cálculo da volemia que se está transfundindo, que deve ser calculado de acordo com o tamanho do RN e varia de 5 a 10 ml/ciclo; · Administração de gliconato de cálcio a cada 100 ml de sangue transfundidos de acordo com a prescrição médica (pelo risco de hipocalemia); · Movimentação delicada da bolsa de sangue do doador a cada 5 minutos para prevenir a separação das células e do plasma; · Obtenção de amostra de sangue para avaliação do procedimento de acordo com a prescrição médica ao final do procedimento (hemograma, eletrólitos, cálcio, bilirrubina total e direta); · Verificação dos SSVV de 30 em 30 minutos por 2 horas e, após esse período fazê-lo de acordo com a rotina; · Nível de glicose imediatamente após o procedimento: 1 hora, 2 horas e 4 horas após transfusão. O sangue do doador contém dextrose, substância que pode ocasiosar hiperglicemia, aumentando a produção de insulina. Após o procedimento, com a diminuição da oferta de glicose, pode ocorrer hipoglicemia; · Obtenção do nível de hematócrito 4 horas após o procedimento e de acordo com a prescrição médica para o monitoramento da hemólise; Observação do estado geral do paciente para monitoramento das alterações metabólicas, como hipocalcemia e acidose, bem como sinais de infecção.
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