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Relatório individual de Tutoria - TURMA A Camila Arimatéa Anunciação Dias MÓDULO 1 - PROBLEMA 3 Problema: “Era uma tiriça?” Instrução: Quais as causas e tipos de icterícias neonatais e suas relações fisiopatológicas com a incompatibilidade do sistema ABO-Rh e doenças infecciosas? OBJETIVOS: O1: Definir a fisiologia da formação, aproveitamento e eliminação da bilirrubina no organismo humano; O2: Conhecer o conceito e classificação da icterícia neonatal, indicando suas principais etiologias; O3: Descrever o conceito de kernicterus indicando sua fisiopatologia, suas consequências para o RN e formas de tratamento. APRENDIZADO AUTODIRIGIDO – REFERÊNCIAS: 1. BEHRMAN, Richard E.; KLIEGMAN, Robert; JENSON, Hal B. Nelson - Tratado de Pediatria. 19. ed. Rio de Janeiro: Elsevier / Medicina Nacionais, 2013. 2 v. 2. MURAHOVSCHI, Jayme. Pediatria – Diagnóstico + Tratamento. 7. ed. rev. e ampl. São Paulo: Sarvier, 2013. DESENVOLVIMENTO DOS OBJETIVOS DO1: Definir a fisiologia da formação, aproveitamento e eliminação da bilirrubina no organismo humano. Formação, aproveitamento e eliminação da bilirrubina no organismo: metabolismo fisiológico da bilirrubina. O metabolismo da bilirrubina pode ser subdividido em ● captação, ● armazenamento, ● conjugação e ● secreção hepática, na qual se encontram enzimas cujas atividades podem ser alteradas causando processos patogênicos. As hemácias são formadas na medula óssea e se destinam ao sistema circulatório, circulam por 120 dias e são destruídas. No transcorrer desse período, seu sistema metabólico torna-se cada vez menos ativo, a sua membrana fica mais frágil (senescente) e rompe-se durante sua passagem em lugares estreitos. Muitas hemácias se autodestroem no baço, onde os espaços entre as trabéculas estruturais da polpa vermelha pelos quais devem passar a maioria das hemácias medem apenas 3 μm de largura em comparação com o diâmetro de 8 μm das hemácias. A ruptura das hemácias libera a hemoglobina, que é fagocitada de imediato pelos macrófagos em muitas partes do organismo, especialmente pelas células de Kupffer, no fígado, e pelos macrófagos no baço e na medula óssea. É captada pelo sistema retículo-endotelial em que é transformada a sua hemoglobina pela heme-oxigenase em biliverdina, monóxido de carbono e ferro. A biliverdina-redutase converte a biliverdina em bilirrubina livre (NÃO CONJUGADA), sendo gradualmente liberada dos macrófagos para o plasma. A taxa de conversão da biliverdina em bilirrubina livre é de 4 mg/kg/dia. Essa bilirrubina é lipossolúvel e apolar, podendo ligar-se à albumina e sua fração livre atravessar a barreira hematoencefálica. A bilirrubina livre atravessa facilmente a barreira hematoencefálica, sendo potencialmente tóxica para o tecido nervoso. A afinidade da bilirrubina não conjugada pelo tecido nervoso, concomitante às concentrações elevadas no sangue em recém-nascidos pode impregnar os gânglios da base, causando kernicterus (OBJETIVO 3). A bilirrubina sérica (não conjugada) se liga fortemente à albumina plasmática (ou sérica), sendo transportada por todo o sangue e fluido intersticiais. LEMBRETE: Nível sérico é o termo usado para se referir a quantidade de uma determinada substância no sangue. Observa-se que a pequena fração de bilirrubina não ligada ao plasma pode aumentar na doença hemolítica grave ou quando drogas ligadoras de proteínas deslocam a bilirrubina da albumina. A bilirrubina ligada às proteínas plasmáticas é denominada “livre”, a fim de distinguir-se da forma conjugada. A bilirrubina livre, quando chega ao fígado, é recolhida pelos hepatócitos por meio de sistemas proteicos, transportadores de membrana (proteínas X e Y), num processo chamado captação. É a seguir liberada da albumina plasmática e conjugada por ação de enzimas microssomais (UDP glicuroniltransferase) com uma ou duas moléculas de ácido glicurônico, formando um composto mais polar e hidrossolúvel, a “bilirrubina conjugada”. Parte dessa bilirrubina liberada nos hepatócitos pode-se ligar a uma proteína citoplasmática denominada ligandina, etapa posterior à sua conjugação, que impede o efluxo dessa substância do hepatócito para o plasma. A bilirrubina conjugada é excretada através do polo biliar dos hepatócitos que está em íntimo contato com os canalículos biliares e daí para os intestinos. A conjugação da bilirrubina ocorre majoritariamente no fígado, sendo também observada nas células dos túbulos renais e nos enterócitos. A bilirrubina conjugada é transportada como complexo lipídico-micelar até o duodeno através do ducto biliar principal (DUCTO BILIAR COMUM OU DUCTO COLÉDOCO, ver figura ao lado), sendo desconjugada e reduzida no cólon por ação das glicuronidases bacterianas, formando os urobilinogênios. Essas moléculas são excretadas nas fezes, em sua maioria, e pequena parte é reabsorvida através da mucosa intestinal e volta ao fígado pelo sistema porta, constituindo o ciclo entero-hepático da bilirrubina ;e cerca de 5% são excretados na urina pelos rins. A ligação forte da bilirrubina não conjugada com a albumina plasmática e o estabelecimento de interações fracas com os sais biliares, micelas mistas e vesículas lipídicas tornam-se sua excreção renal limitada, razão pela qual é eliminada, sobretudo pelo fígado. fis A bilirrubina não conjugada, quanto aos glucuronídeos de bilirrubina (conjugada), pode acumular-se sistematicamente e depositar-se nos tecidos, dando origem à icterícia. Essa icterícia torna-se evidente quando as concentrações de bilirrubina sérica sobem acima de 2,0 a 3,0 mg/dL, ocorrendo quando o equilíbrio entre a produção e a remoção é perturbado por um ou mais dos seguintes mecanismos: ● produção excessiva de bilirrubinas: pode ocorrer nas anemias hemolíticas, reabsorção de sangue de hemorragias internas e nas síndromes de eritropoese ineficaz. ● captação reduzida pelo hepatócito: nas interferências de drogas com sistemas de transportes na membrana e alguns casos na síndrome de Gilbert. ● conjugação prejudicada: aparece nas icterícias fisiológicas do recém-nascido, nas deficiências genéticas da atividade de UGT1A1 (síndrome de Crigler-Najjar I e II, síndrome de Gilbert) e na doença hepacelular difusa. ● excreção hepatocelular reduzida: pode ocorrer na deficiência de transportadores na membrana canalicular (síndrome de Dubin-Johnson); ● fluxo biliar prejudicado: como nas colestase. Mecanismos - aumento das bilirrubinas no sangue: A icterícia é um sintoma (SINAL) de grande interesse para o médico e o paciente, pois é a manifestação visível de uma doença, seja ela do fígado ou não, quando os níveis de bilirrubina no sangue ultrapassam 2 mg/dL. Ocorre amarelamento da pele e olhos, podendo ser acompanhada por colúria (urina escurecida). A bilirrubina, principal componente dos pigmentos biliares, é o produto final da destruição da porção "heme" da hemoglobina e outras hemoproteínas. Como a icterícia é causada por uma anormalidade no metabolismo da bilirrubina, compreender os passos da sua formação e excreção é fundamental na compreensão da icterícia. O metabolismo do pigmento biliar pode ser alterado em váriospassos e as combinações das alterações frequentemente se sobrepõe. O nível plasmático de bilirrubina desconjugada (ou bilirrubina indireta - BI) depende diretamente da taxa de produção de bilirrubina e inversamente pela captação e conjugação pelo fígado, que a transforma em bilirrubina conjugada (ou direta - BD). A icterícia pode ser dividida em tipos, que são: 1. Aumento predominante de bilirrubina não conjugada (que seria a indireta LIVRE): causada por aumento da produção de bilirrubina, diminuição da captação ou conjugação pelo fígado. 2. Aumento predominante de bilirrubina conjugada (direta): causada por doenças hepáticas ou obstrução de vias biliares, neste caso a gente tem que lembrar que pode haver o aumento em menor intensidade dos níveis de bilirrubina indireta. 3. Algumas doenças também podem apresentar icterícia por mecanismos que envolvem tanto um aumento de bilirrubina direta como a indireta, sendo uma das causas mais comum dos múltiplos mecanismos a anemia falciforme. Pessoas com um quadro de icterícia, por aumento de bilirrubina indireta podem ser de três principais causas para seu aparecimento: 1. Aumento da produção 2. Diminuição da capacidade de captação da bilirrubina 3. Diminuição da capacidade de conjugação da bilirrubina Resumo: A bilirrubina não-conjugada circula ligada à albumina no plasma, o que impede a sua eliminação renal, posteriormente a bilirrubina não conjugada é transportada para os sinusoides hepáticos, onde a bilirrubina é capturada pelo hepatócito através de difusão passiva. Como a bilirrubina não-conjugada é insolúvel na água e neurotóxica, a conversão para uma forma hidrossolúvel é essencial para excreção pelo fígado. Esta conversão é realizada através da conjugação da bilirrubina com o ácido glucurônico. Uma vez formada a bilirrubina direta ou conjugada, a sua excreção é através dos canais biliares canalículos biliares por meio de transporte ativo. A bilirrubina excretada na bile é degradada no colon, se transformando em urobilinogênio e estercobilinogênio. Uma pequena quantidade de urobilinogênio é absorvida, passa pela recirculação entero-hepática e é excretada pelos rins DO2: Conhecer o conceito e classificação da icterícia neonatal, indicando suas principais etiologias. Hiperbilirrubinemia em RN É comum e, na maioria dos casos, é benigno, fisiológico. Durante a primeira semana de vida, observa-se icterícia em: - RN a termo: aproximadamente 60% - RN pré-termo: por volta de 80%. A cor amarelada causada pela icterícia, como vimos no OBJETIVO 1, geralmente resulta do acúmulo do pigmento bilirrubínico não conjugado (indireto), não polar e lipossolúvel na pele. Também pode ser causada, em parte, pela deposição do pigmento bilirrubínico conjugado (bilirrubina direta). A bilirrubina tem um papel fisiológico de ser antioxidante, mas níveis elevados de bilirrubina indireta são potencialmente neurotóxicos. A forma conjugada(DIRETA) não é neurotóxica, mas a hiperbilirrubinemia direta indica distúrbios hepáticos ou doenças sistêmicas potencialmente gves. Durante o período neonatal, o metabolismo da bilirrubina está em transição entre o estágio fetal, durante o qual a placenta é a principal via de eliminação da bilirrubina indireta lipossolúvel, e o estágio adulto, durante o qual a bilirrubina conjugada hidrossolúvel é excretada pelas células hepáticas para o sistema biliar e o trato gastrointestinal. A previsão de quais RNs têm risco de apresentar icterícia fisiológica exagerada pode ser baseada em níveis de bilirrubina específicos para cada hora nas primeiras 24-72h de vida. Os níveis de bilirrubina indireta nos RNs a termo caem para os níveis do adulto (1 mg/dL) com 10-14 dias de vida. A icterícia é um dos problemas mais frequentes no período neonatal e corresponde à expressão clínica da hiperbilirrubinemia, que é definida como concentração sérica de bilirrubina indireta (BI) maior que 1,3 a 1,5 mg/dL ou de bilirrubina direta superior a 1,5 mg/dL, desde que esta represente mais do que 10% do valor de bilirrubina total (BT). Na prática, 98% dos recém-nasci-dos (RN) apresentam níveis séricos de BI acima de 1 mg/dL durante a primeira semana de vida. Na maioria das vezes, a icterícia reflete uma adaptação neonatal ao metabolismo da bilirrubina e é denominada de “fisiológica”. Por outras vezes, decorre de um processo patológico, podendo alcançar concentrações elevadas e ser lesiva ao cérebro, instalando-se o quadro de encefalopatia bilirrubínica que, ao exame anatomopatológico, caracteriza-se por coloração dos gânglios da base, denominada kernicterus. No Brasil, desde o ano 2000, a icterícia, doença hemolítica e/ou kernicterus têm sido notificados a cada ano como causa básica de óbito em cerca de 250 RN. Desses óbitos, entre 100 e 130 neonatos são de termo, dos quais metade são nascidos na região Nordeste e 1/3 na região Norte, ocorrendo 70% das mortes até o 6o dia de vida. Ressalta-se que para cada recém-nascido que evolui a óbito, vários sobrevivem com sequelas neurológicas, desconhecendo-se, portanto, a real magnitude desse problema em nosso país. Quanto à gravidade da hiperbilirrubinemia, várias denominações têm sido empregadas: “significativa”, se níveis séricos de BT ≥ 17 mg/dL, que acomete 1 a 8% dos nascidos vivos; “grave”, se BT ≥ 25 mg/dL (1 caso em 500 a 5.000 nascidos vivos); e “extrema”, quando BT ≥ 30 mg/dL (1 caso em 15.000 nascidos vivos em países de-senvolvidos). Fisiopatologia A maior parte da bilirrubina é produzida da quebra da molécula da Hb, formando a bilirrubina não conjugada (e outras substâncias). A bilirrubina não conjugada liga-se à albumina do soro, sendo então transportada para o fígado, entra nos hepatócitos, onde é conjugada com o ácido glucurônico por ação da enzima uridina difosfogluconurato glucuronosiltransferase (UGT), tornando-se hidrossolúvel. A bilirrubina conjugada é excretada para o duodeno através da bile. Nos adultos, a bilirrubina conjugada é reduzida por bactérias intestinais a urobilina e, então, excretada. Em recém-nascidos, porém, a quantidade de bactérias no trato digestório é menor, de modo que menos bilirrubina é reduzida em urobilina e excretada. Eles também têm a enzima β-glucuronidase, que desconjuga a bilirrubina. A bilirrubina não conjugada pode agora ser reabsorvida e reciclada na circulação. Essa via é chamada de circulação êntero-hepática da bilirubina. Hiperbilirrubinemia pode ser causada por um ou mais dos seguintes processos: ● Produção aumentada ● Redução na captação hepática ● Conjugação diminuída ● Excreção prejudicada ● Fluxo biliar prejudicado (colestase) ● Aumento da circulação êntero-hepática Hiperbilirrubinemia Indireta no RN de Termo Saudável Várias são as limitações do metabolismo da bilirrubina que explicam a icterícia no RN de termo saudável, tais como a: https://www.msdmanuals.com/pt-pt/profissional/pediatria/dist%C3%BArbios-gastrointestinais-em-neonatos-e-beb%C3%AAs/colestase-neonatal ● sobrecarga de bilirrubina ao hepatócito: Decorre da produção e da circulação êntero-hepática aumenta-das de BI. O neonato produz 2 a 3 vezes mais bilirrubina do que o adulto, em razãoda menor vida média das hemácias, que é de 70 a 90 dias, e da maior quantidade de hemoglobina. Uma vez que o catabolismo de 1 g de hemoglobina fornece 34 mg de bilirrubina, a produção diária de bilirrubina no RN é de 8 a 10 mg/kg, sendo 75% derivada do catabolismo dos eritrócitos e 25% do heme livre, das proteínas hepáticas e da destruição de eritrócitos imaturos. A circulação êntero-hepática elevada de bilirrubina decorre da escassa flora intestinal e da maior atividade da enzima beta-glicorunidase na mucosa intestinal. Existe diminuição da conversão de mono e diglicuronídeos de bilirrubina em urobilinogênio por causa da pe-quena quantidade de bactérias intestinais, tornando os glicuronídeos suscetíveis à desconjugação pela beta-glicuronidase. Isso se reflete na entrada da bilirrubina não conjugada pela circulação êntero-hepática e na sobrecarga de bilirrubina ao hepatócito. ● menor capacidade de captação, conjugação e excreção hepática da bilirrubina O RN apresenta captação hepática limitada da bilirrubina nos primeiros 3 a 4 dias em razão da deficiência de ligandina, principal proteína carreadora da bilirrubina dentro do hepatócito. Além disso, a conjugação hepática deficiente decorre da atividade diminuída da glicuronil-transferase. Ao nascimento, a atividade é inferior a 0,1% em relação à do adulto, atingindo seu nível entre 6 e 14 semanas. A excreção hepática de bilirrubina também é limitada, ocorrendo contra o gradiente de concentração, uma vez que o nível biliar é muito superior ao citoplasmático no hepatócito. Assim, o RN apresenta várias limitações no metabolismo da bilirrubina que culminam com a fração indireta aumentada. Investigação no Prematuro ≤ 34 Semanas de Idade Gestacional A hiperbilirrubinemia indireta é encontrada praticamente em todos os pré-termo com idade gestacional abaixo de 35 semanas. Estudos evidenciam que a grande quantidade de glóbulos vermelhos e a deficiência na conjugação hepática da bilirrubina são as condições fisiológicas mais importantes. Entre 17 e 30 semanas de gestação, a atividade da uridina-difosfato-glicuronosil transferase corresponde a 0,1% dos valores de adulto, atingindo 1% entre 30 e 40 semanas. Após o nascimento, aumenta de forma exponencial, independentemente da idade gestacional, e alcança níveis de adulto entre 6 e 14 semanas. Além disso, a maioria dos prematuros metabolicamente estáveis parece ter a capacidade de excretar a bilirrubina plasmática em uma a duas semanas após o nascimento. Assim, a icterícia na primeira semana de vida é mais intensa e tardia do que a do termo, com concentrações de BT entre 10 e 12 mg/dL no quinto dia. Além disso, a bilirrubina pode não atingir valores normais até o final do primeiro mês. Dentre as causas de hemólise, a doença por incompatibilidade materno-fetal pelo antígeno D é a mais frequente em nosso meio, pois esses pacientes podem nascer por indicação de interrupção da gravidez por causa do sofrimento fetal em consequência da anemia grave, por vezes em hidropsia. Ao nascimento são descorados e evoluem com icterícia nos primeiros minutos ou horas, geralmente acompanhada de hepatoesplenomegalia. Nesses casos, o diagnóstico é confirmado conforme descrito no item anterior. Vale ressaltar que tais prematuros podem evoluir com aumento concomitante de BD. Outras doenças hemolíticas que causam icterícia no prematuro são raras. A hemólise por incompatibilidade materno-fetal ABO é eventual, pois a densidade de antígenos A ou B na hemácia fetal se intensifica com a idade gestacional e, portanto, é pequena naqueles com peso inferior a 1.500 g. A deficiência de G-6-PD pode ser uma causa de hemólise no neonato pré-termo, entretanto a anemia raramente é grave e a bilirrubinemia é elevada no terceiro dia de vida, não sendo necessária a presença de agentes oxidantes na história clínica. Pode ocasionar hidropsia fetal, geralmente com referência de ingestão materna de sulfa, ácido ascórbico ou fava. Portanto, em prematuros com hiperbilirrubinemia e anemia é recomendável a dosagem quantitativa dessa enzima juntamente com a pesquisa de reticulócitos. É incomum encontrar neonatos prematuros com esferocitose hereditária. Quando presente a anemia é mais pronunciada do que a icterícia, é considerada causa de hidropsia fetal. A alfatalassemia pode apresentar-se como hidropsia fetal em prematuros. A hemólise adquirida pode ocorrer no prematuro em decorrência de infecções, como sepse bacteriana ou fúngica, sífilis, citomegalovirose, rubéola, toxoplasmose e cursar com aumento de BI e BD. O maior risco dos RN de muito baixo peso, inferior a 1.500 g, a um ou mais episódios de sepse nosocomial aumenta a possibilidade de hemólise. Uma das causas mais frequentes de hiperbilirrubinemia indireta no pré-termo compreende os extravasamentos sanguíneos, seja por hematomas extensos em membros superiores e inferiores em razão de parto traumático ou por hemorragia intraperiventricular, principalmente naqueles com idade gestacional inferior a 34 semanas. Nestes, sempre deve ser realizada a ultrassonografia transfontanelar. Além disso, neonatos que apresentam policitemia podem evoluir com níveis elevados de BI. No RN pré-termo, em especial os de muito baixo peso, a prevenção e tratamento da hiperbilirrubinemia indireta dependem da avaliação periódica da BT, que deve, de preferência, ser feita com micrométodo para evitar a anemia espoliativa. O tempo ideal para a primeira determinação não está bem estabelecido, recomendando-se, em geral, entre as primeiras 12 e 24 horas de vida, seguindo-se a avaliação a cada 12 a 24 horas até a estabilidade da bilirrubina. Apesar da investigação apropriada da hiperbilirrubinemia indireta segundo a história e a evolução, a grande maioria dos RN de muito baixo peso apresenta valores elevados sem etiologia específica. Adicionalmente, os pacientes submetidos a cuidados intensivos podem apresentar a associação de fatores facilitadores da impregnação bilirrubínica em nível cerebral, que incluem asfixia, instabilidade na temperatura, sepse, acidose e hipoalbuminemia < 2,5 g/dL. Classificação resumida: Hiperbilirrubinemia fisiológica ocorre em quase todos os recém-nascidos. A vida média mais curta da hemácia neonatal aumenta a produção de bilirrubina; a conjugação deficiente devido à deficiência da UGT diminui a depuração; e o baixo nível de bactérias intestinais, combinado com o aumento da hidrólise da bilirrubina conjugada, aumenta a circulação êntero-hepática. Os níveis de bilirrubina se elevam para 18 mg/dL, até o 3o ou 4o dia de vida (7 dias nos recém-nascidos asiáticos), e diminuem a seguir. Icterícia da amamentação aparece em um sexto dos lactentes durante a primeira semana de vida. A amamentação aumenta a circulação êntero-hepática da bilirrubina em alguns lactentes que diminuíram a ingestão de leite e que tiveram desidratação ou baixa ingestão calórica. O aumento da circulação êntero-hepática também pode resultar da redução bacteriana intestinal que converte a bilirrubina a metabólitos não reabsorvíveis. Icterícia peloleite do peito é diferente de icterícia pela amamentação. Aparece após os primeiros 5 a 7 dias de vida, com pico por volta de 2 semanas. Admite-se que seja causada pelo aumento da concentração da β-glucuronidase no leite do peito, causando aumento da desconjugação e reabsorção da bilirrubina. Hiperbilirrubinemia patológica nos recém-nascidos a termo é diagnosticada se ● Icterícia aparece nas primeiras 24 h, após a primeira semana de vida, ou demora > 2 semanas ● Bilirrubina total no soro (BTS) aumenta > 5 mg/dL/dia ● BTS é > 18 mg/dL ● O lactente mostra sinais ou sintomas de doença grave Algumas das causas patológicas mais comuns são ● Anemia hemolítica imunitária ou não imunitária ● Deficiência de G6PD ● Reabsorção de hematoma ● Sepse ● Hipotireoidismo Quadro Clínico e Zonas de Kramer A icterícia neonatal geralmente fica visível em progressão cefalocaudal, com início na face e avanço para o abdome e depois até os pés, à medida que os níveis séricos aumentam. A pressão sobre a pele pode revelar a progressão anatômica da icterícia: ● face, = 5 mg/dL ● parte média do abdome, =15 mg/dl; ● plantas dos pés =20mg /dL Mas o exame clínico pode não guardar relação com as estimativas dos níveis séricos. A icterícia até a parte média do abdome, com sinais ou sintomas ou fatores de alto risco que sugiram uma icterícia não - fisiológica ou hemólise precisa ser bem avaliada. Pode-se usar técnicas não invasivas de dosagem transcutânea de bilirrubina total (BTc) que se correlacionam com os níveis séricos para triar os recém-nascidos, mas indica-se a determinação do nível sérico de bilirrubina nos pacientes com dosagem transcutânea elevada para o padrão específico para a idade, com icterícia progressiva ou risco de hemólise ou sepse. Enquanto a icterícia por deposiçaõ de bilirrubina indireta na pele tenda a apre sentar um aspecto amarelo vivo ou alaranjado, a icterícia do tipo obstrutivo (bilirrubina direta) tem um tom esverdeado ou amarelo- acastanhado e opaco. Embora os sinais de kernicterus raramente apareçam no 1° dia, os recém-nascidos afetados podem apresentar letargia e recusa alimentar e , sem tratamento , podem evoluir para encefalopatia bilirrubínica aguda. Diagnóstico laboratorial O diagnóstico laboratorial consiste em: ● Bilirrubina total (BT) e frações; ● Grupo sanguíneo, Rh e triagem de anticorpos maternos (realizados durante pré-natal); ● Esfregaço de sangue periférico, com análise da morfologia eritrocitária e contagem de reticulócitos (detecção de doença hemolítica com Coombs negativo); ● Hematócrito (pode detectar policitemia ou anemia); ● Painel de anticorpos nos eritrócitos do RN (se Coombs direto positivo); ● Dosagem de glicose 6-fosfato desidrogenase (G6PD); ● Na icterícia prolongada, pesquisar doenças hepáticas, infecção congênita, sepse, hipotireoidismo ou defeito metabólico; ● Se colestase presente, outros sinais poderão estar associados como acolia fecal e colúria (nessas situações, outros exames laboratoriais e de imagem deverão ser solicitados). DO3: Descrever o conceito de kernicterus indicando sua fisiopatologia, suas consequências para o RN e formas de tratamento. Lembrando: a hiperbilirrubinemia patológica tem início quando o organismo alcança concentrações elevadas de bilirrubina que podem ser lesivas ao sistema nervoso, instalandose a encefalopatia bilirrubínica aguda. Encefalopatia bilirrubínica aguda: são manifestações agudas da toxicidade da bilirrubina nas primeiras semanas de vida. A ocorrência em adultos ou crianças maiores é excepcional. Sintomas iniciais: dificuldade na sucção, convulsões e recusa alimentar. Kernicterus: refere-se às seqüelas clínicas permanentes, que são causadas pela toxicidade bilirrubínica. A bilirrubina vai impregnar causando causa lesão neuronal em áreas específicas do cérebro com a mais alta utilização de oxigênio, principalmente o globo pálido, núcleos talâmicos, núcleos subtalâmicos, substância negra, hipocampo e hipotálamo. Aproximadamente 50% dos recém-nascidos com kernicterus observados na autópsia também apresentam lesões extraneurais, como, necrose de células tubulares renais, da mucosa intestinal e de células pancreáticas. Na prática clínica, a palavra kernicterus é trocada com o termo encefalopatia bilirrubínica Os RN de termo ictéricos com doença neurológica evoluem inicialmente com hipotonia, debilidade de sucção, recusa alimentar e convulsões, progredindo em 3 a 4 dias para hipertonia, opistótono, hipertermia e choro com tonalidade aguda. Nessa fase, 70% dos pacientes podem evoluir para óbito em decorrência de parada respiratória. Nos sobreviventes, ocorre uma melhora aparente até que, em período variável, aparecem as sequelas neurológicas: paralisia cerebral espástica, movimentos atetóides, distúrbios de deglutição e fonação, deficiência auditiva grave e mental leve a moderada. A encefalopatia bilirrubínica aguda pode ocorrer com níveis plasmáticos de BI variáveis dependentes da idade gestacional, do tempo de vida, em horas, além da associação dos fatores de risco epidemiológicos e patológicos. Nos neonatos a termo as fases clínicas distintas da encefalopatia bilirrubínica aguda são bem aparentes e definidas; no pré-termo inferior a 34 semanas de idade gestacional não exibem um padrão clínico característico, dificultando o diagnóstico. Além disso, apesar de os RN de maior risco para o desenvolvimento da encefalopatia bilirrubínica incluírem os portadores de doença hemolítica, os prematuros e os que apresentam fatores agravantes da impregnação cerebral da bilirrubina, a hiperbilirrubinemia significativa presente na primeira semana de vida é um problema preocupante em RN de termo e prematuros tardios (34 a 36 semanas de idade gestacional) e frequentemente está associada à ● oferta láctea inadequada, ● perda elevada de peso e ● desidratação, muitas vezes decorrente da alta hospitalar antes de 48 horas de vida e da falta do retorno ambulatorial em 1 a 2 dias após a alta hospitalar. Em recém-nascidos pré-termo, o kernicterus pode não apresentar sinais e sintomas clínicos reconhecíveis. Os sintomas iniciais de kernicterus em recém-nascidos a termo são letargia, falta de apetite e vômitos. O resultado pode ser opistótono, crise oculogírica, convulsões e morte. O kernicterus pode ocasionar retardo mental, paralisia cerebral coreoatetótica, perda de audição sensorineural e visão fixa paralítica na infância. Não se sabe se situações menos graves de kernicterus podem levar a distúrbios neurológicos menos graves (p. ex., obstáculos motores perceptuais e distúrbios de aprendizagem). Fisiopatologia: A bilirrubina livre é tóxica às sinapses e lesa os neurônios e as organelas celulares. A necrose neuronal precoce é seguida por perda celular, gliose e desmielinização nas áreas afetadas. A bilirrubina causa lesão neuronal em áreas específicas do cérebro com a mais alta utilização de oxigênio, principalmente o globo pálido, certos núcleos talâmicos, núcleos subtalâmicos, substância negra, https://www.msdmanuals.com/pt-pt/profissional/pediatria/dist%C3%BArbios-de-aprendizagem-e-desenvolvimento/defici%C3%AAncia-intelectual https://www.msdmanuals.com/pt-pt/profissional/pediatria/dist%C3%BArbios-neurol%C3%B3gicos-em-crian%C3%A7as/s%C3%ADndromes-de-paralisia-cerebral-pchttps://www.msdmanuals.com/pt-pt/profissional/pediatria/alguns-dist%C3%BArbios-do-ouvido,-nariz-e-garganta-em-crian%C3%A7as/defici%C3%AAncia-auditiva-em-crian%C3%A7as hipocampo, hipotálamo, núcleos do VIII par craniano. No kernicterus as lesões são mais freqüentes no globo pálido e núcleos subtalâmicos. Os principais fatores que aumentam a incidência de Kernicterus são: ● hipoglicemia; ● hipercapnia; ● acidose; ● hipotermia; ● hipoxia; ● infecção bacteriana; ● hipoalbuminemia; ● hemólise aguda. Na patogênese do Kernicterus, a bilirrubina indireta livre move-se do plasma para o neurônio, movimento este, resultante da quantidade e da qualidade (forte ou fraca) da ligação da bilirrubina com a albumina (a capacidade de ligação da albumina com a bilirrubina é menor no RN pré-termo e no RN a termo doente, além destes pacientes apresentarem menor concentração sérica de albumina). O mecanismo desta morte celular se baseia no nível de cálcio intracelular. A bilirrubina atua prejudicando a homeostase do cálcio intracelular, que é o principal mecanismo da morte celular em modelos de isquemia. Há sempre um receptor que permite a entrada da bilirrubina nas células, mas também ela é bombeada para fora. Se há ruptura deste influxo e fluxo podemos ter a neurotoxicidade. A entrada da bilirrubina no cérebro pode aumentar em condições como: alterações da permeabilidade da barreira hematoencefálica tempo de trânsito prolongado, como no aumento da pressão venosa; aumento do fluxo sanguíneo, como na hipercapnia; aumento da taxa de dissociação (alteração na ligação bilirrubina-albumina), como ocorre nos RN doentes. Outras regiões também vulneráveis ao kernicterus são: núcleo denteado, hipocampo, substância negra, hipotálamo, núcleo do VIII par craniano e oliva inferior. A lesão no globo pálido pela bilirrubina é independente da maturação. Já a lesão talâmica é um marcador proeminente da asfixia global, mesmo no terceiro trimestre do feto. Em contraste ao descanso da atividade neuronal relativamente alta no globo pálido e núcleo subtalâmico torna esta área mais vulnerável ao estresse oxidativo menos intenso das toxinas mitocondriais, tais como a bilirrubina ou de distúrbios genéticos mitocondriais. Hayashi et al dividiram os casos de paralisia cerebral atetóide em dois grupos: 1) Grupo globo pálido e núcleos subtalâmicos (relacionado à severa hiperbilirrubinemia) e 2) grupo tálamo-putame (relacionado à asfixia neonatal). Os pacientes do grupo tálamo-putame mostraram menor habilidade mental e apresentaram mais convulsões intratáveis do que o grupo globo pálido. No grupo globo pálido, a espasticidade rígida foi demonstrada com freqüência, assim como movimentos atetóticos. Quadro Clínico Os sinais e sintomas de kernicterus geralmente aparecem 2-5 dias depois do nascimento em RNs a termo e até no 7º dia em prematuros, mas a hiperbilirrubinemia pode levar à encefalopatia en1 qualquer momento durante o período neonatal. São sinais iniciais comuns a letargia, recusa alimentar e perda do reflexo de Moro. O recém nascido pode parecer gravemente doente e prostrado, com hipoatividade dos reflexos tendíneos e desconforto respiratório. Depois podem ocorrer opistótono (espasmos musculares) com fontanela abaulada, contrações da face ou das extremidades e choro estridente. Nos casos avançados, ocorrem convulsões e espasmos, sendo que os recém-nascidos afetados mantêm os MMSS estendidos em rotação para dentro, com os punhos cerrados. A rigidez é rara neste estágio tardio. Muitos recém-nascidos que evoluem com sinais neurológicos graves morrem; os sobreviventes geralmente ficam gravemente lesados, mas podem parecer se recuperar e, durante 2-3 meses, mostram poucas anormalidades. No 1º ano de vida - tendência à recorrência de opistótono, rigidez muscular, movimentos irregulares e convulsões. No 2º ano de vida, o opistótono e as convulsões diminuem, mas os movimentos involuntários, a rigidez muscular ou, em alguns lactentes, a hipotonia, aumentam constantemente. Aos três anos de idade, a síndrome neurológica completa é frequentemente aparente e consiste de coreoatetose bilateral (Desordem nervosa caracterizada pelos movimentos involuntários e incontroláveis) com espasmos musculares involuntários, sinais extrapiramidais, crises convulsivas, deficiência mental, fala disártrica, perda auditiva para frequências altas, estrabismo e defeito dos movimentos oculares para cima. Ocorrem sinais piramidais, hipotonia e ataxia em alguns recém-nascidos. Nos recém-nascidos levemente afetados, a síndrome pode ser caracterizada apenas por incoordenação neuromuscular leve ou moderada, surdez parcial ou “disfunção cerebral mínima", que ocorrem isoladamente ou de forma combinada; estes problemas podem permanecer ocultos até que a criança entre na escola. Tratamento: fototerapia e exsanguineotransfusão A maioria dos casos de hiperbilirrubinemia indireta é controlada pela fototerapia quando aplicada de maneira adequada, sendo a doença hemolítica grave por incompatibilidade Rh a principal indicação de exsanguineotransfusão (EST). Como a EST acompanha-se de elevada morbidade e mortalidade, deve ser indicada com precisão e praticada exclusivamente por equipe habilitada em cuidados intensivos neonatais. Os níveis séricos de BT para a indicação da fototerapia e EST em recém-nascidos não são considerados de maneira uniforme pelos autores. Com base em evidências limitadas, leva-se em conta a dosagem periódica da BT, a idade gestacional e a idade pós-natal, além das condições agravantes da lesão bilirrubínica neuronal. De maneira simplificada, a tabela abaixo mostra os valores de BT para indicação e suspensão da fototerapia e EST em RN ≥ 35 semanas de idade gestacional. Nível de BT (mg/dL) para indicação de fototerapia e exsanguíneotransfusão (EST) em RN ≥ 35 semanas de idade gestacional ao nascer. Adaptado de AAP (Academia Americana de Pediatria), 2004. Na maioria dos RN ≥ 35 semanas a fototerapia é instituída no alojamento conjunto, ao lado da mãe que amamenta em livre demanda, tomando-se os seguintes cuidados: ● Verificação da temperatura corporal, a cada três horas para detectar hipotermia ou hipertermia, e do peso diariamente; ● Aumento da oferta hídrica, pois a fototerapia com lâmpadas fluorescentes pode provocar elevação da temperatura corporal com aumento do consumo de oxigênio, da frequência respiratória e do fluxo sanguíneo na pele, resultando em maior perda insensível de água; ● Proteção dos olhos com cobertura radiopaca por meio de camadas de veludo negro ou papel carbono negro envolto em gaze; ● Descontinuidade da fototerapia durante a amamentação, inclusive com a retirada da cobertura dos olhos, desde que a bilirrubinemia não esteja muito elevada. Ressalta-se que, no tratamento da icterícia prolongada pela síndrome do leite materno, este só deve ser suspenso por 48 horas nos casos de valores de BT próximos a níveis de EST. Com a aplicação da fototerapia, estima-se ser necessário tratar 6 a 10 RN para prevenir um caso de bilirrubinemia superior a 20 mg/dL em portadores de icterícia não hemolítica. A eficácia da fototerapiadepende em especial dos seguintes fatores: comprimento de onda da luz, sendo ideal as lâmpadas azuis; irradiância espectral e superfície corporal exposta à luz.
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