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ICTERÍCIA NEONATAL Expressão clínica da hiperbilirrubinemia, em geral indireta. [BI]>1,5mg/dL [BD]>1,5mg/dL* *desde que a concentração dela corresponda a >10% da BT A expressão clínica se dá em concentrações acima de 5mg/dL (BILIRRUBINA TOTAL) A hiperbilirrubinemia significante, presente na primeira semana de vida, é comum em RN a termo e pré-termo tardio. A icterícia pode ser classificada em tardia (>24h) e precoce (<24h). Icterícia precoce fala a favor de doenças hemolíticas (suspeitar!) REVISANDO O METABOLISMO DA BILIRRUBINA/FISIOPATOLOGIA A bilirrubina é formada a partir do metabolismo do grupo heme, advindo da hemólise. O grupo heme libera sua molécula de ferro e o anel protoporfirínico vai ser convertido a biliverdina pela heme- oxigenase. A biliverdina será convertida a bilirrubina indireta pela biliverdina- redutase. A BI se ligará à albumina para ser, então, transportada ao fígado; lá, se desliga da albumina e se liga à ligandina. No REL do hepatócito, receberá um ácido glicurônico através da ação da enzima glucuronosil-transferase, formando a BD, hidrossolúvel. A BD alcançará os canais biliares e será levada à luz intestinal, onde sofrerá ação das bactérias da flora e se transformará em urobilinogênio, que pode ser reabsorvido, excretado na urina ou, ainda, transformado em estercobilinogênio, eliminado nas fezes. Ainda na luz intestinal, pode tomar outro caminho: perder o ácido glicurônico [a beta-glucuronidase vai atuar nessa reação] e voltar a ser BI, que voltará à corrente sanguínea (circulação entero-hepática). HIPERBILIRRUBINEMIA FISIOLÓGICA A BT sérica aumenta após o nascimento, atinge seu pico médio entre 3º e 4º dias (entre 6mg/dL e 12,9mg/dL) e declina em uma semana. Isso para os RNs a termo. Para os pré-termo, pico do 4º ao 7º dia com pico máximo de 15mg/dL e normaliza entre 10 e 30 dias. Obs: se BT>12mg/dL antes das primeiras 24h de nascido, investigar a causa. FISIOPATOLOGIA DA ICTERÍCIA FISIOLÓGICA O feto produzia BI lipossolúvel, que era eliminada pela placenta. Agora, o neonato precisa produzir bilirrubina direta para ser eliminado pelo sistema biliar e TGI. Essa adaptação pode levar à icterícia! O RN tem maior carga de BI para o hepatócito por ter maior volume eritrocitário e hemácias com meia-vida menor. Também tem uma menor capacidade de captação e conjugação hepáticas (menor atividade de glucuronosil-transferase), além de maior circulação entero-hepática (menor flora intestinal, pois o tgi do RN ainda é “estéril” e mais beta-glucuronidase que transforma BD em BI novamente, que cai na circulação entero-hepática) AVALIAÇÃO CLÍNICA Progressão céfalo-caudal. Valores das Zonas de Kramer [Bi] Z1- face: 4-8 mg/dL Z2 – face ao umbigo: 5-12 mg/dL Z3 – face aos joelhos e cotovelos: 8-16mg/dL Z4 face ao tornozelo e antebraço: 10-18mg/dL Z5 até plantas dos pés e palmas das mãos: >15mg/dL Icterícia na zona 3? Investigar! FATORES DE RISCO PARA HIPERBILIRUBINEMIA SIGNIFICATIVA CLINICAMENTE >= 15mg/dL Asiáticos Irmão anterior com história de icterícia Aleitamento materno exclusivo [pelo aleitamento ou do leite] Idade gestacional <= 36 semanas Icterícia precoce Doença hemolítica Cefalohematoma ou equimoses Dosagem de BT pré-alta (normograma de butani) FATORES DE RISCO PARA NEUROTOXICIDADE PELA BILIRRUBINA Ig<36semanas Doença hemolítica Deficiência de G6PD Asfixia Sepse Acidose Albumina <3g/dL Avalie fatores de risco e examine RN a cada 8/12h CAUSAS NÃO HEMOLÍTICAS DE HIPERBILIRRUBINEMIA INDIRETA ICTERÍCIA PELO ALEITAMENTO MATERNO Ocorre, geralmente, na 1ª semana de vida Precoce Normalmente intensidade zona 5 Tratar a causa Déficit de ingestão perda de peso [7 a 10% em duas semanas] desidratação *Aumento de circulação entero-hepática sobrecarga de bilirrubina no hepatócito hiperbilirrubinemia indireta ICTERÍCIA DO LEITE MATERNO Ocorre, geralmente, na 1ª semana de vida por predisposição genética à icterícia: menor atividade da UGT1A1 (glucuronosil transferase), menor capacidade de conjugação hepática. Persiste por 2 a 3 semanas e é tardia Tratamento com fototerapia. Caso BI continue aumentando, suspende-se a amamentação; mas esta medida é tomada apenas em último caso! Considerar [BI] menor ou igual a 20mg/dL para manutenção do aleitamento. Obs: Como diferenciar icterícia do leite materno e icterícia pelo aleitamento materno? Se icterícia do leite materno, ocorre uma icterícia prolongada! Além disso, na icterírica do leite materno, o RN estará em BEG, com bom ganho de peso/estatura. DEFICIÊNCIA OU INIBIÇÃO DA CONJUGAÇÃO DA BILIRRUBINA Hipotireoidismo congênito Síndrome de Gilbert [não hemolítica] Síndrome de Crigler-Najjar tipos 1 e 2 [baixa atividade da glucuronosiltransferase] CAUSAS HEMOLÍTICAS DE HIPERBILIRRUBINEMIA INDIRETA Doenças hemolíticas hereditárias: incompatibilidade ABO/rh; deficiência de g6pd ou piruvato quinase, alterações de membrana eritossitaria, hemoglobinopatias [alfa- talassemia]; Doenças hemolíticas adiquiridas: infecções bacterianas/virais Obs: toda icterícia neonatal precoce alerta para a presença de doença hemolítica Solicitar: BT e frações Hemoglobina [nível período neonatal Hb=17- 19g/dl] Esfregaço sanguíneo periférico Reticulócitos Tipo sanguíneo da mãe e do RN Coombs direto e indireto Eluato Dosagem de g6pd/piruvato-quinase INCOMPATIBILIDADE RH Mãe rh- que deu a luz a RN rh+ A mãe vai produzir anticorpos anti-Rh (anti-D). Assim, coombs direto positivo. Esses anticorpos ligados às hemácias vão fazer o baço entender que é necessária a hemólise anemia, reticulócitos aumentados, pode causar hidropsia fetal. Obs: a mãe precisa ter sido previamente sensibilizada [IgM não passa a barreira placentária; IgG sim!] ** tto: imunoglobulina humana anti-D nas primeiras 72h do contato com o sangue [evitar a sensibilização da mãe] Uso se mãe rh negativo não sensibilizada [coombs indireto negativo] e RN rh positivo não sensibilizado [coombs indireto negativo]. INCOMPATIBILIDADE ABO Mãe O [IgG anti-A e anti-B] e RN A ou B coombs direto pode ser positivo ou negativo, pois essa ligação entre anticorpo e hemácia é fraca e, além disso, Eluato pode ser positivo Hemólise menos intensa; posso encontrar esferocitose. Na primeira gestação o quadro já pode ocorrer. DEFICIÊNCIA DE G6PD É uma doença monossômica associada ao cromossomo X A G6PD reduz radicais livres de dentro da hemácia, o que a protege de uma hemólise antes dos 120 dias de vida útil. Sem esse fator de proteção, a hemácia pode ter sua vida útil reduzida. A deficiência de G6PD pode manifestar-se como doença hemolítica aguda ou leve. A exposição a agentes oxidantes provoca hemólise aguda e consequente elevação rápida de BI. Hemolítica leve : deficiência de g6pd atuando como polimorfismo genético para expressão reduzida da glicuronil transferase [menos conjugação] Fazer dosagem de g6pd OUTRAS CAUSAS DE SOBRECARGA DE BILIRRUBINA AO HEPATÓCITO: Coleções sanguíneas extravasculares (ex: cefalohematona, equimoses – essa aparece em geral após 48h) Policitemia: RN PIG, RN mãe diabética; Transfusão feto-fetal materno-fetal; Clampeamento do cordão após 60s ou ordenha de cordão Aumento da circulação enterro-hepática: anomalias TGI, jejum oral/baixa oferta enteral DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Obs: toda icterícia neonatal precoce alerta para a presença de doença hemolítica Solicitar: BT e frações Hemoglobina [nível período neonatal Hb=17- 19g/dl] Esfregaço sanguíneo periférico Reticulócitos Tipo sanguíneo da mãe e do RN Coombs direto e indireto Eluato Dosagem de g6pd/piruvato-quinase A análise da bilirrubina transcutânea é exame de triagem e deve ser confirmado com a dosagem sérica em casos de suspeita de icterícia patológica TRATAMENTO FOTOTERAPIA Diminuir em 2mg/dL se os fatores de risco para neurotoxicidade estiverem presentes. A fototerapia faz isomerização. Um isômero mais solúvel é excretado pela bile; e lumirrubina – excretada pela urina. A luz azul deve ter seu comprimento de onda entre 420 e 470 nanômetros. Distância de 30 a 40cm RN de frauda, tirado do berço apenas para mamar <3 Complicação: síndrome do bebê bronzeado [impregnação da pele por BD e urina escura] Se a causa da icterícia for por BD, evitar fototerapia! Obs: se, segundo a tabela, o RN não tiver no nível indicado para a fototerapia e a BD estiver mais elevada, não fazer. Se BI estiver em nível de fazer a foto, faça independente da BD [normograma de butani]. IMUNOGLOBULINA Para doenças hemolíticas: rh, abo, antígenos irregulares Combinada com fototerapia Intravenosa (0,5-1g/kg em 2h) com 2ª dose em 12h BLOQUEIA RECEPTORES FC e impede a destruição de hemácias Indicações: elevação da BT apesar da fototerapia BT a 2 -3mg/dL do nível de exsanguíneotransfusão EXSANGUÍNEOTRANSFUSÃO Doença hemolítica grave por incompatibilidade Rh Indicação – elevação BT>=0,5-1mg/dL/hora Conforme nível de BT, considerando: IG, PESO, FATORES DE RISCO PARA NEUROTOXICIDADE (tabela abaixo) Obs: enquanto ocorre a preparação para a exsanguíneotransfusão, colocar na fototerapia de alta intensidade. Reavaliar BT em 2-3horas; pode já estar fora do nível de exsanguíneotransfusão. **imediata se sinais neurológicos [letargia, hipotonia, má sucção, choro agudo] ou quando BT 5mg/dL acima dos níveis de exsanguíneotransfusão Troca o que der em torno de duas volemias. Pode haver várias complicações! Monitorar ssvv ENCEFALOPATIA BILIRRUBÍNICA Grave consequência da icterícia! Lesão cerebral pela bilirrubina indireta – atinge, especialmente, gânglios da base Fase aguda: letargia + hipotonia que evoluem para choro estridente e hipertonia com hipertermia; Forma crônica [Kernicterus]: Paralisia cerebral atetoide grave, neuropatia auditiva, paresia vertical do olhar e displasia dentária. Pode haver retardo mental. ALTA Icterícia em zona de risco intermediário baixo ou baixo Após 48h sem icterícia ou icterícia zona I Sempre retorno ambulatorial em 48-72h
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