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Daniela Junqueira Gomes Teixeira UNIME 2019.1 Nascimento, crescimento e desenvolvimento Daniela Junqueira Gomes Teixeira Problema 1 – Intermediária 1. Elucidar os fluxogramas de atendimento do RN até 15 dias de vida 2. Explanar as escalas de avaliação de vitalidade do RN 3. Descrever as alterações morfofisiológivas cardiopulmonares perinatais 4. Discorrer a fisiopatologia dos fatores perinatais relacionados ao sofrimento fetal e materno 5. Aclarar o mecanismo de ictericia fisiológica neonatal 6. Explicar as alterações fisiológicas da pele do RN Problema 1 – fechamento 1. Explanar a conduta do RN após o parto (alojamento e transporte) 2. Explicar como ocorrea primeira consulta de puericultura e sua importância 3. Discorrer sobre a triagem neonatal disponível pelo SUS e complementares bem como seus dados epidemiológicos 4. Elucidar a fisiopatologia das causas de cólicas no lactente, seu diagnóstico e tratamento Problema 2 – intermediária 1. Explanar a morfisiologia da mama e a síntese do leite e sua composição bioquímica e imunológica 2. Elucidar a importância do aleitamento materno para o lactente e lactante e sua técnica 3. Discorrer os benefícios e os prejuízos que os diferentes tipos de leite oferece ao lactente 4. Caracterizar os planos nutricionais para crianças de até 1 ano bem como seus distúrbios alimentares 5. Explicar o desenvolvimento do bebê de 1 ano bem como suas escalas de acompanhamento Problema 2 – fechamento 1. Elucidar os recursos humanos e físicos que compõe a creche, bem como sua influência no desenvolvimento infantil 2. Explanar o quadro, diagnóstico e tratamento de dermatite de fralda e de erros nutricionais com enfoque no refluxo 3. Explanar a importância da puericutura no acompanhamento infantil Problema 3 – fechamento 1. Descrever como ocorre o desenvolvimento do sistema imune da criança até sua completa maturação 2. Elucidar a etiologia, fisiopatologia e diagnóstico das principais infecções de VAS em crianças 3. Discorrer as indicações e contraindicações, tipos e efeitos colaterais das vacinas do calendário do MS e complementares (SBP e SBIm) para criança 4. Explanar sobre o desenvolvimento cognitivo e da habilidade socioemocional da criança na pré-escola e suas escalas de acompanhamento Daniela Junqueira Gomes Teixeira Problema 4 – fechamento 1. Elucidar a desnutrição energético-proteica e suas consequências relacionando com as medidas antropométricas bem como a fisiopatologia da anemia ferropriva 2. Discorrer o papel do Bolsa Família no controle da desnutrição 3. Explanar os acidentes domésticos infantins mais recorrentes bem como a correta orientação para sua prevenção 4. Relacionar os direitos maternos frente à situações de agravos de saúde Problema 5 – fechamento 1. Explanar a fisiopatologia, as manifestações clínicas e diagnósticos das principais enteroparasitoses: teníase, ascaridíase, ansilostomíase, gíardíase, amebíase e enterobiose 2. Descrever a profilaxia e o mecanismo de ação e os efeitos colaterais do tratamento para enteroparasitas 3. Elucidar os principais déficiits de aprendizagem em escolares de 5 à 10 anos Problema 6 – fechamento 1. Explanar o desenvolvimento fisiológico da puberdade relacionamento com a escala de Tunner 2. Elucidar os aspectos psicossociais e afetivos na adolescência bem como seus direitos de acordo com o ECA 3. Discorrer os principais transtornos alimentares na adolescência 4. Descrever o consumo de substâncias ilícitas e lícitas na adolescência Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Nascimento, Crescimento e Desenvolvimento - Problema 1 - Intermediária atendimento ao recém-nascido O preparo para atender o RN na sala de parto consiste na realização de anamnese materna, na disponibilidade do material necessário e na presença de equipe treinada em reanimação neonatal. Condições clínicas maternas, intercorrências na gravidez, no trabalho de parto ou parto e problemas com a vitalidade fetal chamam a atenção para a possibilidade de a reanimação ser necessária. Todo material necessário para a reanimação deve ser preparado, testado e estar disponível, em local de fácil acesso, antes do nascimento. Esse material é destinado à manutenção da temperatura, aspiração de vias aéreas, ventilação e administração de medicações e está regulamentado pela portaria do Ministério da Saúde 371/2014. Considerando-se a frequência de RN que precisam de algum procedimento de reanimação e a rapidez com que essas manobras devem ser iniciadas, é fundamental que pelo menos um profissional capaz de iniciar de forma adequada a reanimação neonatal esteja presente em todo parto, de preferência o pediatra. Quando se antecipa o nascimento de um concepto de alto risco, podem ser necessários dois a três profissionais treinados e capacitados a reanimar o RN de maneira plena, rápida e efetiva, pelo menos um deles pediatra. No caso do nascimento de gemelares, é importante dispor de material e equipe próprios para cada criança. Para a recepção do RN, utilizar as precauções-padrão que compreendem a lavagem/higienização correta das mãos e o uso de luvas, aventais, máscaras ou proteção facial para evitar o contato do profissional com material biológico do paciente AVALIAÇÃO DA VITALIDADE AO NASCER A reanimação depende da avaliação simultânea da respiração e da frequência cardíaca (FC). A FC é o principal determinante da decisão de indicar as diversas manobras de reanimação. Logo após o nascimento, o RN deve respirar de maneira regular, suficiente para manter a FC acima de 100 bpm. A FC deve ser avaliada inicialmente por meio da ausculta do precórdio com estetoscópio. Se há necessidade de qualquer procedimento de reanimação, a avaliação da FC é feita por meio do monitor cardíaco com 3 eletrodos. A ausculta precordial, a palpação do cordão e o sinal de pulso na oximetria podem subestimar a FC. Quanto ao boletim de Apgar, este não é indicado para determinar o início da reanimação nem as manobras a serem instituídas no decorrer do procedimento. No entanto, sua aplicação permite avaliar a resposta do RN às manobras realizadas e a eficácia dessas manobras. Se o escore é inferior a 7 no quinto minuto, recomenda-se realizá-lo a cada 5 minutos, até 20 minutos de vida. Boletim de Apgar Consiste na avaliação de 5 sinais no primeiro, no quinto e no décimo minuto após o nascimento, atribuindo-se a cada um dos sinais uma pontuação de 0 a 2. Os sinais avaliados são a frequência cardíaca, a respiração, o tônus muscular, a cor da pele e a presença de reflexos. O somatório da pontuação resultará no Índice de Apgar: Apgar 8 a 10 significa que o bebê nasceu em ótimas condições. Apgar 5 a 7 significa que o bebê apresentou uma dificuldade leve. Apgar 3 a 4 traduz uma dificuldade de grau moderado e Apgar 0 a 2 aponta uma dificuldade de ordem grave. Se estas dificuldades persistirem durante alguns minutos sem tratamento, podem levar a alteraç ões metabólicas no organismo e anóxia. A presença de mecônio é agravante. Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Nascimento, Crescimento e Desenvolvimento - Problema 1 - Intermediária ASSISTÊNCIA AO RECÉM-NASCIDO A TERMO COM BOA VITALIDADE AO NASCER Se, ao nascimento, o RN é de termo, está respirando ou chorando, com tônus muscular em flexão, independentemente do aspecto do líquido amniótico meconial, ele não necessita de qualquer manobra de reanimação. O contato pele a pele com a mãe imediatamente após o nascimento reduz o risco de hipotermia em RN a termo com boa vitalidade, desde que cobertos com campos pré-aquecidos. Nesse momento, pode-se iniciar a amamentação. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o aleitamento materno seja iniciado na primeira hora de vida, pois se associaa um período maior de amamentação, melhor interação mãe‑bebê e menor risco de hemorragia materna. PASSOS INICIAIS DA ESTABILIZAÇÃO/REANIMAÇÃO Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Nascimento, Crescimento e Desenvolvimento - Problema 1 - Intermediária Pacientes com idade gestacional diferente do termo (< 37 semanas ou ≥ 42 semanas) e aqueles de qualquer idade gestacional que não iniciam movimentos respiratórios regulares e/ou aqueles cujo tônus muscular está flácido precisam ser conduzidos à mesa de reanimação, indicando-se os seguintes passos: prover calor, posicionar a cabeça em leve extensão, aspirar boca e narinas, se necessário, e secar o paciente. Esses passos devem ser executados em, no máximo, 30 segundos. Temperatura corporal O primeiro passo consiste em manter a temperatura corporal entre 36,5 e 37,5°C. Para diminuir a perda de calor, é importante pré-aquecer a sala de parto e a sala em que serão realizados os procedimentos de reanimação, mantendo temperatura ambiente de 23 a 26°C. Após o clampeamento do cordão, o RN é recepcionado em campos aquecidos e colocado sob calor radiante. Em pacientes com idade gestacional < 34 semanas, recomenda-se o uso do saco plástico transparente de polietileno de 30 x 50 cm. Assim, logo depois de posicionar o recém-nascido sob fonte de calor radiante e antes de secar, introduz-se o corpo, exceto a face, dentro do saco plástico e, a seguir, realizam-se as manobras necessárias. Essa prática deve ser suplementada pelo emprego de touca dupla (plástico e lã/algodão) para reduzir a perda de calor na região da fontanela. Nos neonatos com idade gestacional ≥ 34 semanas, após a colocação sob fonte de calor radiante e a realização das medidas para manter as vias aéreas permeáveis, secar o corpo e a região da fontanela e desprezar os campos úmidos. Cuidado especial deve ser dirigido no sentido de evitar a hipertermia, pois pode agravar a lesão cerebral em pacientes asfixiados. Extensão da cabeça A fim de manter a permeabilidade das vias aéreas, posiciona-se a cabeça do RN com uma leve extensão do pescoço. Evitar sua hiperextensão ou flexão exagerada. Por vezes, é necessário colocar um coxim sob os ombros do paciente para facilitar o posicionamento adequado da cabeça. Aspiração da boca e narinas Na sequência, se houver excesso de secreções nas vias aéreas, a boca e depois as narinas são aspiradas delicadamente com sonda traqueal conectada ao aspirador a vácuo, sob pressão máxima aproximada de 100 mmHg. A aspiração da hipofaringe deve ser evitada, pois pode causar atelectasia, trauma e prejudicar o estabelecimento de uma respiração efetiva. Uma vez feitos os passos iniciais da reanimação, avaliam-se a respiração e a FC. Se houver vitalidade adequada, com respiração rítmica e regular e FC > 100 bpm, o RN deve receber os cuidados de rotina na sala de parto. Se o paciente, após os passos iniciais, não apresenta melhora, indica-se a ventilação com pressão positiva, a colocação dos eletrodos do monitor cardíaco e do sensor neonatal do oxímetro de pulso. Ventilação com pressão positiva O ponto crítico para o sucesso da reanimação neonatal é a ventilação pulmonar adequada, com a finalidade de inflar os pulmões do recém-nascido e, com isso, levar à dilatação da vasculatura pulmonar e à hematose apropriada. Assim, após os cuidados para manter a temperatura e a permeabilidade dasvias aéreas, a presença de apneia, respiração irregular e/ou FC < 100 bpm indica a VPP, que precisa ser iniciada nos primeiros 60 segundos de vida (“minuto de ouro”). A ventilação pulmonar é o procedimento mais simples, importante e efetivo na reanimação do RN em sala de parto. Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Nascimento, Crescimento e Desenvolvimento - Problema 1 - Intermediária Para discutir a VPP, é necessário entender qual a concentração de oxigênio suplementar a ser utilizada, como controlar a oferta de oxigênio, quais os equipamentos disponíveis para as ventilação efetiva e qual a técnica recomendada. Para ventilar o RN, é necessário decidir a concentração de oxigênio a ser ministrada. Após os passos iniciais, se o RN ≥ 34 semanas apresenta apneia, respiração irregular e/ou FC < 100 bpm, iniciar a ventilação com ar ambiente. Uma vez iniciada a ventilação, monitorar a oferta do oxigênio suplementar pela oximetria de pulso. Aplicar o sensor neonatal na região do pulso radial do membro superior direito e, a seguir, conectá-lo ao cabo do oxímetro. A leitura confiável da saturação de oxigênio (SatO2) demora 1 a 2 minutos após o nascimento, desde que haja débito cardíaco suficiente, com perfusão periférica. Os valores desejáveis de SatO2 variam de acordo com o tempo de vida. A concentração de oxigênio oferecida deve ser ajustada por meio de um blender, de acordo com a SatO2 desejável. Quando o RN ≥ 34 semanas não melhora e/ou não atinge os valores desejáveis de SatO2 com a VPP em ar ambiente, recomenda-se, em primeiro lugar, rever a técnica da ventilação. A necessidade de oxigênio suplementar em RN ≥ 34 semanas é excepcional se a VPP é feita com a técnica adequada. Em relação aos nascidos com idade gestacional abaixo de 34 semanas, as pesquisas ainda não responderam qual a concentração de oxigênio ideal para sua reanimação. Se, por um lado, o uso de ar ambiente na ventilação de prematuros, durante a reanimação em sala de parto, pode não ser suficiente para que esses pacientes atinjam uma oxigenação adequada, o emprego de oxigênio a 100% pode ser excessivo e deletério, contribuindo para lesões inflamatórias em pulmões e sistema nervoso central. Recomenda-se, atualmente, utilizar a concentração inicial de 30%, aumentando-a ou reduzindo-a por meio de um blender, de modo a manter a FC > 100 bpm nos minutos iniciais de vida e a SatO2 nos limites. Só se deve aumentar a oferta de oxigênio depois de certificar-se de que a técnica da ventilação está adequada. A indicação da entubação no processo de reanimação depende da habilidade e da experiência do profissional responsável pelo procedimento. Em mãos menos experientes, existe um elevado risco de complicações como hipoxemia, apneia, bradicardia, pneumotórax, laceração de tecidos moles, perfuração de traqueia ou esôfago, além de maior risco de infecção. Vale lembrar que cada tentativa de entubação deve durar, no máximo, 30 segundos. Em caso de insucesso, o procedimento é interrompido e a VPP com balão e máscara é iniciada, sendo realizada nova tentativa de entubação após estabilizar o paciente. A confirmação da posição da cânula é obrigatória, podendo ser realizada por meio da inspeção do tórax, ausculta das regiões axilares e gástrica e observação da FC. Entretanto, o método preferencial para confirmar a posição da cânula é a detecção de dióxido de carbono (CO2) exalado, por ser objetivo e rápido. A técnica colorimétrica é a mais utilizada, com o detector pediátrico posicionado entre o conector da cânula e o balão/ventilador. A única situação em que essa técnica apresenta resultados falso-negativos ocorre quando há má perfusão pulmonar. Após a entubação, inicia-se a ventilação com balão autoinflável na mesma frequência e pressão descritas para a ventilação com balão e máscara. Considera-se que houve melhora se o RN apresentar FC > 100 bpm e movimentos respiratórios espontâneos e regulares. Nessa situação, a ventilação é suspensa e o RN extubado. Há falha se, após 30 segundos de VPP com balão e cânula traqueal, o RN mantém FC < 100 bpm ou não retoma a respiração espontânea. Nesse caso, verificar a posição da cânula, a permeabilidade das vias aéreas e a pressão no balão, corrigindo o que for necessário. Quando o RN mantém a apneia ou a respiração irregular, a entubação e a ventilação devem ser mantidas e, em seguida, o paciente é levado à unidadede terapia intensiva neonatal em incubadora própria para o transporte. Se o RN mantém a FC < 60 bpm, está indicada aoferta de oxigênio suplementar e a massagem cardíaca. Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Nascimento, Crescimento e Desenvolvimento - Problema 1 - Intermediária Massagem cardíaca A asfixia pode desencadear vasoconstrição periférica, hipoxemia tecidual, diminuição da contratilidade miocárdica, bradicardia e, eventualmente, parada cardíaca. A ventilação adequada reverte esse quadro na maioria dos pacientes. A massagem cardíaca só é iniciada se, após 30 segundos de VPP com técnica adequada e uso de oxigênio 60 a 100%, o RN persistir com FC < 60 bpm. Como a massagem cardíaca diminui a eficácia da ventilação, as compressões só devem ser iniciadas quando a expansão e a ventilação pulmonares estiverem bem estabelecidas. A compressão cardíaca é realizada no terço inferior do esterno por meio da técnica dos dois polegares, com os polegares sobrepostos posicionados logo abaixo da linha intermamilar, poupando-se o apêndice xifoide. As palmas das mãos e os outros dedos devem circundar o tórax do RN. Comprimir 1/3 da dimensão anteroposterior do tórax, de maneira a produzir um pulso palpável. É importante permitir a expansão plena do tórax após a compressão para que ocorra o enchimento das câmaras ventriculares e das coronárias; no entanto, os dedos não devem ser retirados do terço inferior do tórax. As complicações da massagem cardíaca incluem a fratura de costelas, com pneumotórax e hemotórax, e a laceração de fígado. No RN, a ventilação e a massagem cardíaca são realizadas de forma sincrônica, mantendo-se uma relação de 3:1, ou seja, de ventilação, com uma frequência de 120 eventos por minuto (90 compressões e 30 ventilações por minuto). A massagem deve continuar enquanto a FC estiver < 60 bpm. Lembrar que a VPP durante a massagem cardíaca deve ser aplicada por cânula traqueal e oxigênio a 100%. É importante manter a qualidade das compressões cardíacas (localização, profundidade e ritmo), interrompendo a massagem apenas para oferecer a ventilação. Deve-se manter a massagem cardíaca coordenada à ventilação por 60 segundos, antes de reavaliar a FC, pois este é o tempo mínimo para que a massagem cardíaca efetiva possa restabelecer a pressão de perfusão coronariana. A melhora é considerada quando, após a VPP acompanhada de massagem cardíaca, o RN apresenta FC > 60 bpm. Nesse momento, interrompe-se apenas a massagem cardíaca. Caso o paciente apresente respirações espontâneas regulares e a FC atinja valores > 100 bpm, a ventilação também é suspensa. Em geral, quando o paciente recebeu massagem cardíaca na sala de parto, é prudente transportá-lo entubado à UTI neonatal em incubadora de transporte, com concentração de oxigênio suficiente para manter a SatO2 nos limites desejáveis, sendo a extubação decidida de acordo com a avaliação global do RN na unidade. Medicações A bradicardia neonatal é, em geral, resultado da insuflação pulmonar insuficiente e/ou de hipoxemia profunda. A ventilação adequada é o passo mais importante para corrigir a bradicardia. Quando a FC permanece < 60 bpm, a despeito de ventilação efetiva por cânula traqueal com oxigênio a 100% acompanhada de massagem cardíaca adequada por no mínimo 60 segundos, o uso de adrenalina e, eventualmente, do expansor de volume está indicado. Bicarbonato de sódio, naloxone, atropina, albumina e vasopressores não são recomendados na reanimação do RN em sala de parto. A via preferencial para a infusão de medicações na sala de parto é a endovenosa, sendo a veia umbilical de acesso fácil e rápido. O cateter venoso umbilical deve ser inserido apenas 1 ou 2 cm após o ânulo, mantendo-o periférico, de modo a evitar sua localização em nível hepático. Também é preciso cuidado na manipulação do cateter para que não ocorra embolia gasosa. Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Nascimento, Crescimento e Desenvolvimento - Problema 1 - Intermediária A administração de medicações por via traqueal só pode ser usada para a adrenalina, uma única vez, enquanto o cateter venoso está sendo inserido, sabendo-se que a absorção por via pulmonar é lenta e imprevisível e a resposta, em geral, é insatisfatória. A adrenalina está indicada quando a ventilação adequada e a massagem cardíaca efetiva não elevaram a FC acima de 60 bpm. Recomenda-se sua administração por via endovenosa na dose de 0,01 a 0,03 mg/kg. Doses elevadas de adrenalina (> 0,1 mg/kg) não devem ser empregadas, pois levam à hipertensão arterial grave, diminuição da função miocárdica e piora do quadro neurológico. Quando não há reversão da bradicardia com o uso da adrenalina, pode-se repeti-la a cada 3 a 5 minutos (sempre por via endovenosa) e considerar o uso do expansor de volume caso o paciente esteja pálido ou existam evidências de choque. O expansor de volume pode ser necessário em RN com hipovolemia. A suspeita é feita se há perda de sangue e/ou se existem sinais de choque hipovolêmico, como palidez, má perfusão e pulsos débeis, e não houve resposta adequada da FC às outras medidas de reanimação. A expansão de volume é feita com soro fisiológico a 0,9% na dose de 10 mL/kg, que pode ser repetida a critério clínico. Administrar o volume lentamente, em especial nos prematuros, pois a expansão rápida da volemia se associa à hemorragia intracraniana. Com o uso do expansor, espera-se o aumento da pressão arterial e a melhora dos pulsos e da palidez. Se não houver resposta, deve-se verificar a posição da cânula traqueal, a técnica da ventilação e da massagem e a permeabilidade da via de acesso vascular. CUIDADOS DE ROTINA APÓS A ESTABILIZAÇÃO CLÍNICA DO RN NA SALA DE PARTO Quando as condições clínicas do RN forem satisfatórias, os seguintes procedimentos devem ser realizados em sequência: × Laqueadura do cordão umbilical: Fixar o clamp à distância de 2 a 3cm do anel umbilical, envolvendo o coto com gaze embebida em álcool etílico 70% ou clorexidina alcoólica 0,5%. Em RN de extremo baixo peso utiliza-se soro fisiológico. Verificar a presença de duas artérias e de uma veia umbilical, pois a existência de artéria umbilical única pode associar-se a anomalias congênitas. × Prevenção da oftalmia gonocócica pelo método de Credé: Retirar o vérnix da região ocular com gaze seca ou umedecida com água, sendo contraindicado o uso de soro fisiológico ou qualquer outra solução salina. Afastar as pálpebras e instilar uma gota de nitrato de prata a 1% no fundo do saco lacrimal inferior de cada olho. A seguir, massagear suavemente as pálpebras deslizando-as sobre o globo ocular para fazer com que o nitrato de prata banhe toda a conjuntiva. Se o nitrato cair fora do globo ocular ou se houver dúvida, repetir o procedimento. Limpar com gaze seca o excesso que ficar na pele das pálpebras. A profilaxia deve ser realizada na primeira hora após o nascimento, tanto no parto vaginal quanto cesáreo. × Antropometria: Realizar exame físico simplificado, incluindo peso, comprimento e os perímetros cefálico, torácico e abdominal. × Prevenção do sangramento por deficiência de vitamina K: Administrar 1mg de vitamina K1por via intramuscular ou subcutânea ao nascimento. × Detecção de incompatibilidade sanguínea materno-fetal: Coletar sangue da mãe e do cordão umbilical para determinar os antígenos dos sistemas ABO e Rh. Não é necessário realizar o teste de Coombs direto de rotina. No caso de mãe Rh negativo, deve-se realizar pesquisa de anticorpos anti-D por meio do Coombs indireto na mãe e Coombs direto no sangue do cordão umbilical. × Realização da sorologia para sífilis e HIV: Coletar sangue materno para determinar a sorologia para sífilis. Caso a gestante não tenha realizado sorologia para HIV no último trimestre da gravidez ou o resultado não estiver disponível no dia do parto, deve-se fazer o teste rápido paraanti-HIV o mais breve possível, e administrar a zidovudina profilática antes do parto, caso o teste seja positivo Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Nascimento, Crescimento e Desenvolvimento - Problema 1 - Intermediária × Identificação do RN: O Estatuto da Criança e do Adolescente (artigo 10 do capítulo 1) regulamenta a identificação do RN mediante o registro de sua impressão plantar e digital exame físico morfológico e da impressão digital da mãe. Essa identificação é feita no prontuário. Pulseiras devem ser colocadas na mãe e no RN, contendo o nome da mãe, o registro hospitalar, a data e hora do nascimento e o sexo do RN. Os RNs estáveis devem permanecer com suas mães e ser transportados ao alojamento conjunto. Caso haja a necessidade de transporte do RN para outra unidade neonatal, ele sempre deve ser mostrado à mãe novamente, antes do transporte. AVALIAÇÃO DA IDADE GESTACIONAL O melhor método para avaliação da idade gestacional é a regra de Naegelle, que utiliza a data da última menstruação para o cálculo. No primeiro trimestre, o comprimento cabeça-nádega é a medida que melhor se correlaciona com a idade gestacional, e no segundo trimestre costuma- se usar como parâmetro o diâmetro bi parietal ou o comprimento do fêmur. Uma terceira ferramenta para se avaliar a idade gestacional é através do exame físico somático e neurológico do recém-nascido, cujos achados apresentam correspondência com seu grau de maturidade. Características clínicas neonatais e seu período de aparecimento e desaparecimento: × Verniz caseoso – surge entre 20 e 24 semanas. Começa a diminuir em torno de 36 semanas, desaparecendo com 41 semanas. Embora a quantidade presente ao nascimento esteja correlacionada com a idade gestacional, isso pode ser modificado pela nutrição fetal. × Pregas plantares – entre a 32ª e 34ª semanas de gestação uma única prega transversa anterior está presente. Com 37 semanas, dois terços da planta apresentam pregas; e, com 41 semanas, o calcanhar encontra-se enrugado. × Descamação da pele – ocorre mais comumente no pós-termo. × Coloração e textura da pele – com 37 semanas os vasos são visíveis. A deposição de gordura que ocorre entre 36-40 semanas, dá à pele uma aparência arredondada. × Lanugem – surge em torno da 20a semana da gestação. Em torno de 28 semanas, começa a desaparecer na face e na parte superior do tronco e, a termo, ainda costuma estar presente nos ombros. × Cabelos – surgem a partir de 20 semanas. × Olhos – as pálpebras se fundem no terceiro mês de vida e só reabrem entre 28-30 semanas. × Orelhas – antes de 34 semanas são formadas por uma espessa dobra de pele, de pequeno formato sem cartilagem. Com 34 semanas, elas ganham turgor, sendo observada a formação da cartilagem. Nessa fase, as orelhas começam a encurvar pela parte superior. Na 40a semana, o encurvamento é total, do topo ao lobo, com as orelhas apresentando consistência firme, mantendo-se saliente na cabeça. × Desenvolvimento mamário – a aréola começa a fazer relevo em torno da 34ª semana. Na 36ªsemana, um nódulo mamário de 1-2 mm pode ser palpado. Este aumenta semana a semana, até atingir 10-12 mm. × Genitália – Masculina: o início da descida dos testículos ocorre entre 32-36 semanas. Na 37ª semana, encontram-se na parte superior da bolsa escrotal. Com 40 semanas descem completamente. Feminina: no início da gestação, o clitóris é proeminente e os grandes lábios são pequenos. Com 40 semanas, coincidentemente com a deposição de gordura, os grandes lábios aumentam, cobrindo os pequenos lábios e o clitóris. Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Nascimento, Crescimento e Desenvolvimento - Problema 1 - Intermediária Ao longo do tempo diversos escores clínicos foram confeccionados com o objetivo de se avaliar a idade gestacional, sendo os mais utilizados os métodos de Dubowitz, Capurro e New Ballard. O escore de Dubowitz (1970) utiliza 11 critérios físicos externos e 10 critérios neurológicos para estimar a idade gestacional ao nascimento. Pode ser realizado até o 5º dia de vida e tem boa acurácia. Capurro e colaboradores criaram outro método a partir da simplificação do método de Dubowitz, utilizando para isso apenas cinco (Capurro Somático) ou seis características clínicas (Capurro Somatoneurológico) que deveriam ser analisadas idealmente nas 4-6 primeiras horas de vida em neonatos a partir de 29 semanas de vida. Com a mesma intenção de criar uma forma de cálculo mais fácil, Ballard e colaboradores selecionaram apenas seis características somáticas e seis neurológicas do método de Dubowitz para confeccionar outro escore. O Ballard tem boa precisão e apresenta um grau de simplicidade intermediário. Em 1991 propôs-se uma modificação do Ballard original, através da atribuição de pontuação -1 e -2 para que pudesse ser aplicável em bebês prematuros. O New Ballard é bastante preciso quando aplicado até 12-20 horas após o nascimento, pode ser aplicado em prematuro extremo, requer pouca manipulação e sofre pouca influência por depressão neurológica. Atualmente, é o escore de avaliação de idade gestacional mais utilizado em prematuros e neonatos a termo. Método de Capurro Realizado após o nascimento da criança, o método ou escore de Capurro avalia o desenvolvimento de cinco fatores para determinar a idade gestacional do recém-nascido, são eles: textura da pele, pregas plantares, glândulas mamárias, formação do mamilo e formação da orelha. Cada um dos itens possui um nível de desenvolvimento de acordo com a IG. Para determinar a IG com base neste método somático, é necessário avaliar cada um dos itens com cuidado, assinalando a pontuação correspondente a eles. A pontuação (P) somada dos fatores deve ser acrescida de 204. O resultado desse cálculo será dividido por 7, obtendo assim o número de semanas da idade gestacional. O escore de Capurro é utilizado para determinar a IG quando as mães desconhecem a data da última menstruação (DUM) e não realizaram a ultrassonografia gestacional precoce (até 14 semanas). Os métodos citados acima (DUM e USG transvaginal precoce) possuem uma precisão maior, sendo preferíveis para essa análise. New Ballard Para obter um resultado com maior precisão, o exame físico do bebê deve ser realizado entre 12 e 20 horas após o nascimento. Para determinar a idade Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Nascimento, Crescimento e Desenvolvimento - Problema 1 - Intermediária gestacional, o New Ballard avalia seis parâmetros neurológicos e seis físicos. O profissional responsável pelo exame atribui uma nota para cada indicador, conforme a tabela de parâmetros, cuja somatória determina a IG do recém-nascido. Nesse método, o resultado é obtido com a soma simples da pontuação correspondente a todos os parâmetros avaliados. Na tabela abaixo, correlacionamos a idade gestacional (semanas e dias) à somatória encontrada. Dubowitz Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Nascimento, Crescimento e Desenvolvimento - Problema 1 - Intermediária modificações na vida extrauterina FISIOLÓGICAS Antes do nascimento, o feto é absolutamente dependente da mãe para suas funções vitais. Após o nascimento, e com o clampeamento do cordão umbilical, o recém-nascido necessita assumir as funções fisiológicas, antes realizadas pela placenta, passando pelo período de transição, que compreende suas primeiras 24 horas de vida. A maioria dos bebês, tem seu processo de transição cumprido nas primeiras 4 a 6 horas de vida. Para a grande parte dos recém-nascidos, a transição para a vida extrauterina é suave e sem intercorrências, mas para alguns, é retardada ou difícil. O período imediato após o nascimento representa um dos mais difíceis do ciclo da vida humana, evidenciado pelofato de que mais de 50% da mortalidade infantil, acontece no período neonatal. E a metade dos óbitos ocorridos do 28° dia de vida até um ano de idade, são decorrentes de problemas sofridos nesse período. A adaptação do recém-nascido à vida extrauterina é favorecida pelo trabalho de parto, porque este ocasiona modificações nos sistemas e órgãos do feto. A via de parturição influencia no processo de adaptação, principalmente em relação sistema respiratório, onde problemas como doença da membrana hialina, má adaptação pulmonar, infecção, aspiração de mecônio e pneumotórax, ocorrem em maiores porcentagens em bebês nascidos por cesariana do que por via vaginal. O sistema cardiovascular também é afetado, onde a frequência cardíaca e os níveis de pressão sistólica e diastólica são mais elevados no parto vaginal nas primeiras 2 horas de vida. Devido ao estresse do nascimento, observa-se um considerável aumento dos níveis sanguíneos de catecolaminas (epinefrina e norepinefrina), onde se acredita que esse aumento seja responsável por algumas alterações que ocorrem durante o período de transição, como aumento do débito cardíaco e da contractilidade miocárdica, liberação de surfactante pulmonar, inibição da secreção de líquido pulmonar e promoção de sua reabsorção, estimulação da glicogenólise e indução da lipólise. Após o nascimento, ocorrem simultaneamente em todos os sistemas corporais do recém-nascido, ajustes fisiológicos dos sistemas orgânicos, e a viabilidade do concepto dependerá de sua rápida e adequada adaptação à vida extrauterina, onde as principais e imediatas adaptações da transição são a respiratória, a circulatória e a térmica. ADAPTAÇÃO CARDIOVASCULAR O sistema circulatório fetal funciona como se fosse duas bombas interligadas funcionando em paralelo, e após o nascimento, o arranjo dos ventrículos faz com que a circulação neonatal funcione como uma conexão em série. Durante o período de transição, a circulação fetal necessita sofrer modificações para se tornar uma circulação neonatal. Desde o início do desprendimento materno, com o pinçamento do cordão umbilical, as principais modificações são o desaparecimento da circulação placento-fetal, aumento do fluxo sanguíneo pulmonar e fechamento dos shunts fetais. Quando o cordão umbilical é clampeado e o neonato tem sua primeira respiração, a resistência vascular sistêmica aumenta e o fluxo de sangue através do ducto arterioso declina. A maior parte do débito ventricular direito flui através dos pulmões favorecendo o retorno venoso pulmonar para o átrio esquerdo. Em resposta a um volume sanguíneo aumentado no coração e nos pulmões, a pressão atrial esquerda se eleva. Combinada com a resistência sistêmica elevada, essa elevação de pressão resulta em fechamento funcional do forame oval. Dentro de vários meses, o forame oval sofre fechamento anatômico. A instalação do esforço respiratório e os efeitos do aumento da pressão parcial de oxigênio arterial causam uma constrição do ducto arterioso, que fecha funcionalmente 15 a 24 Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Nascimento, Crescimento e Desenvolvimento - Problema 1 - Intermediária horas após o nascimento. Em torno da terceira a quarta semana, esse desvio sofre fechamento anatômico. O clampeamento do cordão umbilical para o fluxo sanguíneo através do ducto venoso, fechando funcionalmente essa estrutura. O ducto venoso se fecha anatomicamente em torno da primeira ou segunda semana. Após o nascimento, a veia e as artérias umbilicais não mais transportam o sangue e se obliteram. O fechamento funcional das estruturas cardíacas fetais (forame oval, canal arterial e ducto venoso), acontece progressivamente, e completa-se em torno de um a dois dias de vida, sendo que o fechamento anatômico pode durar semanas. Devido aos shunts fetais se fecharem funcionalmente antes de se fecharem anatomicamente, podem ocorrer aberturas intermitentes dessas estruturas, ocorrendo passagem de sangue não oxigenado do lado direito para o esquerdo do coração, levando o recém-nascido a apresentar uma cianose transitória e com o choro, aumenta a pressão da veia cava e átrio direito, que leva ao aparecimento de sopros. A simples presença de sopros não significa, necessariamente, a presença de um problema cardíaco, mas quando são acompanhados de cianose e sinais de dificuldade cardíaca e respiratória devem ser investigados. Na gestação, o sangue com O² retorna pela veia cava inferior, sendo ele proveniente dos segmentos inferiores do feto e da placenta, chegando ao feto com 67% de saturação de Hb. Ao átrio esquerdo, 66% do sangue chega pelo forame oval, que fica próximo à veia cava inferior, se misturando com sangue venoso e seguindo ao ventrículo esquerdo, de onde vai para circulação sistêmica pela aorta, que se conecta com artérias braquiocefálicas antes dos demais, favorecendo irrigação cefálica. Ao átrio direito, o terço restante se mistura ao proveniente da veia cava superior, segue ao ventrículo direito e saindo para tronco pulmonar com 58% de saturação. Contudo, como há a RVP, boa parte vai para aorta pelo canal arterial. No neonato, com a primeira respiração, a RVP cai e a resistência sistêmica aumenta, portanto, retorno venoso ao átrio direito diminui e o fluxo esquerdo aumenta. Deste modo, a pressão do lado esquerdo supera o direito, ocluindo o forame oval. Além disso, a pressão sistêmica excede a pulmonar, fazendo com que canal arterial tenha seu fluxo invertido da esquerda à direita, aumentando fluxo pulmonar, o que resulta em contração pela oclusão de canal arterial por aumento de O2 e liberação de prostaglandinas. A entrada da placenta leva à constrição de veia e artéria umbilicais e de canal umbilical. Só haverá dominância de ventrículo esquerdo após 3-6 meses, visto que ele vai se remodelando. Anastomoses broncopulmonares permitem desvio de sangue para a aurícula esquerda e as diferenças fásicas de pressão no canal arterial o desviam a este e forame oval. ADAPTAÇÃO RESPIRATÓRIA Durante a gravidez, o feto tem seu sangue oxigenado e gás carbônico eliminado através da placenta, uma vez que seus pulmões estão inativos. Logo após a expulsão, o recém-nascido deve estabelecer sua respiração através dos alvéolos, substituindo o líquido pulmonar por ar atmosférico de maneira apropriada no primeiro minuto de vida. No decorrer da 24ª e 30ª semana de gestação, é produzido surfactante pelas células alveolares, que diminui a tensão superficial, evitando o colabamento dos alvéolos ao término da expiração. Por esse processo, o surfactante faz com que as trocas gasosas sejam facilitadas, a pressão para a insuflação necessária para abertura das vias respiratórias diminuída, a complacência pulmonar melhorada e o esforço respiratório reduzido (KENNER, 2001). Antes do evento do nascimento, o pulmão permanece repleto de líquido e recebe de 10 a 15% do débito cardíaco total. O início da função respiratória é estabelecido por estímulos químicos, térmicos, físicos e sensoriais, como dor e luminosidade, sendo que a primeira respiração deve ocorrer dentro de 20 segundos após o parto. Após os primeiros minutos de vida, com a expulsão e reabsorção do líquido presente nos pulmões, este enche-se de ar e o fluxo sanguíneo aumenta consideravelmente, cerca de oito a dez vezes. Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Nascimento, Crescimento e Desenvolvimento - Problema 1 - Intermediária Ao passar pelo canal vaginal no trabalho de parto, o tórax é comprimido, variando a pressão de 60 a 100 cmH2O e acarreta em ejeção de 30 a 100ml de fluido presente em vias aéreas menores e em prol da formação de pressão distensora, a qual promove insuflação. Quando o tronco passa, o RN faz respiração passiva pela retração da caixa torácica, seguida de forçamento glossofaríngeo, há redução de hipóxia e inibição de expiração. Também, a entrada dear cria a interface ar-líquido que colabaria vias aéreas se não existisse o surfactante e o reflexo Hering-Breuer (quando o pulmão é distendido pela inspiração, impulsos nervosos chegam ao pulmão e são transmitidos ao cérebro pelo nervo vago, causando a expiração). Deste modo, a primeira respiração tem como estímulo a asfixia (hipóxia, hipercapnia e acidose repiratória), luz, frio, ruídos, dor e gravidade. Ao ar entrar, há aumento de PO² alveolar, redução de RVP, de pressão alveolar, elevação de fluxo linfático. Desta forma, pressão hidrostática alveolar se reduz, causando eclusas nos vasos; oxigenação reduz tônus de arteríolas, logo, a pressão hidrostática capilar se eleva, enquanto a alveolar pericapilar reduz, promovendo transferência de ar dos capilares ao interstício. Com a compressão do tórax ao passar pelo canal vaginal, cerca de um terço do líquido pulmonar, é expelido pela boca e nariz, e os dois terços restantes são absorvidos pela circulação pulmonar e sistema linfático, dentro de 6 a 24 horas após o nascimento. Após o nascimento, com a compressão mecânica do tórax e expulsão do líquido pulmonar, ocorre uma descompressão do tórax, criando-se assim, uma pressão negativa que traz o ar para dentro dos pulmões. A completa expansão pulmonar e distribuição do ar pelos alvéolos ocorre quando o recém-nascido chora, porque o choro cria uma pressão intratorácica positiva, mantendo os alvéolos abertos e forçando o restante do líquido pulmonar para os capilares pulmonares e sistema linfático. Após as primeiras respirações, o recém- nascido assume sua atividade ventilatória e de oxigenação, com a substituição do espaço antes ocupado pelos fluidos pulmonares por ar atmosférico. ICTERÍCIA DO RECÉM-NASCIDO Aproximadamente metade a dois terços do total dos recém-nascidos têm icterícia visível durante os primeiros dias de vida. Entretanto, todas as crianças nessa fase têm bilirrubina plasmática mais alta que a do adulto normal, fato este já observado no sangue do cordão. A bilirrubinemia aumenta durante alguns dias, atinge um ápice e começa a decrescer até que no fim da primeira semana, em recém-nascidos de termo e, um pouco mais tarde, em prematuros, a icterícia clínica desaparece. Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Nascimento, Crescimento e Desenvolvimento - Problema 1 - Intermediária Ciclo da bilirrubina Transporte da bil irrubina no plasma A bilirrubina liberada para a corrente sanguínea é lipossolúvel, desconjugada, denominada "bilirrubina indireta". Para ser transportada na corrente sanguínea, liga-se principalmente à albumina formando complexos bilirrubina-albumina. Albumina tem alta afinidade por bilirrubina. Essa ligação, entretanto, pode sofrer a interferência de alguns fatores, tais como: × pH: em meio ácido a capacidade de ligação da bilirrubina à albumina apresenta-se diminuída; × idade gestacional: o recém-nascido tem capacidade duas a três vezes menor do que o adulto de ligação da bilirrubina à albumina. Essa anormalidade é transitória e parece que chega aos níveis de adulto após o segundo mês de idade; × substâncias presentes no soro: sulfas, salicilatos, cefalosporinas, ceftriaxona, moxalactam, furosemida, ácidos graxos livres e hematina podem competir com ou de alguma outra forma alterar a ligação da bilirrubina à albumina. A bilirrubina desconjugada, quando ligada à albumina, pode ser considerada de maneira geral não-tóxica aos tecidos. A bilirrubina indireta é eliminada da corrente sanguínea por meio da captação e conjugação hepática e excretada por meio da bile. Captação e conjugação da bil irrubina Ligada às proteínas, a bilirrubina é levada ao fígado e aí captada através da membrana do hepatócito. Provavelmente, o complexo bilirrubina-albumina dissocia-se ao nível da membrana do hepatócito, na qual a bilirrubina entra, e no citoplasma hepático liga-se às proteínas Y e Z, também chamadas ligandinas, que transportarão a bilirrubina até o retículo endoplasmático, no qual então será conjugada. Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Nascimento, Crescimento e Desenvolvimento - Problema 1 - Intermediária No retículo endoplasmático, a bilirrubina combina-se enzimaticamente com o açúcar, o ácido uridinodifosfoglicurônico (UDPG), produzindo um novo pigmento, que é hidrossolúvel e suficientemente polar para ser excretado pela bile ou filtrado pelos rins. A esterificação com ácido glicurônico resulta em uma das duas formas de bilirrubina: × monoglicuronide, se houver conjugação com apenas um ácido glicurônico (na posição C8 ou C12), × diglicuronide, se houver conjugação com dois ácidos glicurônicos. A reação de conjugação é realizada na presença da enzima glicuroniltransferase e parece que o figado contém quatro tipos de glicuroniltransferase. A bilirrubina mono ou diglicuronide é hidrossolúvel, denominada bilirrubina direta é facilmente eliminada por meio da bile e quando em circulação sanguínea caminha Iivremente, sendo excretada pelos rins. Recentemente, um novo tipo de bilirrubina tem sido identificado, conjugada com ácido glicurônico, mas que, em circulação sanguínea, liga-se forte e covalentemente à albumina, não sendo excretada pelos rins. Excreção da bil irrubina Após conjugação, a bilirrubina vai rapidamente para os canalículos biliares atravessando a membrana hepatocítica por mecanismo ativo, contra o gradiente de concentração. Com a bile, a bilirrubina direta chega ao intestino delgado onde, no adulto e na criança maior, será reduzida à estercobilina pela presença de bactérias da flora local e uma pequena quantidade será hidrollsada para bilirrubina indireta e reabsorvida pela circulação enteropática. A fração reduzida a estercobilina também pode ser reabsorvida, mas será eliminada como urobilina pelos rins. No RN, a microbita intestinal está ausente até mais ou menos no final da primeira semana de vida, e a estercobilina e a urobilina não são detectáveis. Além disso, nessa fase da vida, a enzima denominada beta- glicuronidase está presente ativamente e hidrolisa a bilirrubina conjugada até bilirrubina indireta, que será reabsorvida, aumentando assim a importância dessa via no período neonatal. Metabolismo fetal da bilirrubina Na vida fetal precoce, a bilirrubina formada é transportada ligada à alfa-fetoproteína, pois a concentração de albumina é muito baixa. O fígado fetal tem capacidade de conjugação muito limitada, aumentando com a idade gestacional; após 40 semanas, a quantidade de UDPG-T é aproximadamente 10 vezes maior em relação a idademais precoces (30 semanas), mas mesmo assim parece totalizar apenas 1 % dos valores de adultos. Valores semelhantes aos do adulto só são atingidos ao redor do terceiro mês de vida. Dessa forma, a bilirrubina indireta é excretada pela placenta, entrando na circulação materna. O líquido amniótico pode conter bilirrubina indireta em casos de hiperbilirrubinemia fetal, e isso é usado no seguimento de doença hemolítlca grave por Rh. Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Nascimento, Crescimento e Desenvolvimento - Problema 1 - Intermediária Como a bilirrubina vai do feto para o líquido amniótico é fato ainda desconhecldo e sugerem-se vias como secreção traqueal e de trato digestivo superior, difusão através de cordão umbilical e pele fetal. Icterícia própria do recém-nascido Trata-se de quadro comum, benigno e autolimitado. O termo tem sofrido restrições, mas ainda é muito utilizado. Reflete uma adaptação neonatal ao metabolismo da bilirrubina. É uma condição clínica em geral benigna e reversível, mas sua acentuação exagerada pode ser danosa ao organismo. Vários mecanismos foram propostos para a instalação da icterícia fisiológica neonatal, e os mais importantes são os seguintes: × Aumento na produção de bilirrubina - por meio de dosagens de monóxido de carbono(que é produzido em razão equimolar à bilirrubina), pode-se demonstrar que o RN produz em média 8,5mg de bilirrubina/kg/dia, quantidade esta duas vezes superior à do adulto. Isso pode ser consequência de maior concentração de hemoglobina e menor sobrevida do eritrócito fetal. × Circulação enteropática - a ausência da flora bacteriana e o aumento da beta-glicuronidase no intestino criam condições para o aumento da reabsorção de bilirrubina desconjugada para a corrente sanguínea. Recentes estudos sugerem que a circulação enteropática da bilirrubina é um significante contribuinte para a icterícia fisiológica e processo que retardam a eliminação de mecônio intensificam e prolongam essa icterícia. × Diminuição da função hepática - no RN, as ligandinas, principalmente a Y, estão deficientes transitoriamente, chegando a níveis de adulto por volta do quinto dia de vida no RN de termo. A atividade da glicuroniltransferase está muito reduzida no período neonatal, chegando a níveis de 0,1 % nos primeiros 10 dias de vida, subindo para 1% em relação ao adulto após essa idade, tanto em RN de termo como em pré- termo. A atividade de UDPG-T atinge níveis de adulto entre a 6ª e 14ª semanas de vida. Pode ser que na fase inicial de hiperbilirrubinemia, fase 1, nos primeiros dias a deficiência de glicuroniltransferase seja fator principal e que posteriormente a deficiência de ligandinas passe a atuar (fase 2). Além disso, a excreção hepática é muito limitada no período neonatal. × Circulação hepática - após o nascimento, o hepatócito deixa de receber sangue bem oxigenado através de veia umbilical, passando a receber sangue pouco oxigenado dos vasos portais, o que pode provocar diminuição da capacidade hepática. Assim, parece que a icterícia fisiológica do recém-nascido é o resultado da capacidade diminuída de conjugação da bilirrubina (fase 1) e da captação hepática (fase 2) na presença de persistente aumento na carga de bilirrubina, em que a circulação enteropática tem importância fundamental. A icterícia fisiológica inicia-se após as primeiras 24 horas de vida, aumenta em distribuição corpórea e em intensidade, faz pico nos RN de termo entre o terceiro e o quinto dias e desaparece até o 10º dia de vida; nos RN pré-termo, o pico é entre o quinto e o sétimo dias de vida, o desaparecimento da icterícia ocorre até o 14º dia de vida. A icterícia fisiológica é mais visível quanto maior for o tecido celular subcutâneo, e isso se deve à maior difusão de bilirrubina em tecidos gordurosos. Na avaliação clínica do RN ictérico, é mais importante a observação constante e detalhada. Os níveis séricos de bilirrubina relacionam-se com a intensidade da coloração amarelada da pele. A icterícia torna-se visível a partir de níveis séricos de bilirrubina ao redor de 5 a6mg/dl. Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Nascimento, Crescimento e Desenvolvimento - Problema 1 - Intermediária No RN, a intensidade da icterícia deve ser verificada e é subdividida em leve, moderada e acentuada. Além da intensidade, os níveis séricos de bilirrubina relacionam-se com a progressão craniocaudal da icterícia, isto é, ela se inicia na face (zona 1), quando os níveis séricos de bilirrubina se encontram pouco elevados. Progride para o tórax até o umbigo (zona 2), para o abdome (zona 3), depois para os membros, excetuando os pés e as mãos (zona 4) e, finalmente, até a palma das mãos e planta dos pés (zona 5), quando os níveis séricos de bilirrubina já se encontram bastante elevados, segundo classificação proposta por Kramer. Dessa maneira, a icterícia mais branda é aquela que se encontra apenas na face de maneira leve, enquanto a mais intensa se encontraria na zona 5, acentuada. Deve-se ressaltar que esse zoneamento da icterícia é um parâmetro subjetivo e não é tão preciso nos RN que não sejam da raça branca ou naqueles que se encontram em fototerapia. Uma série de outros fatores (mais considerados como condições patológicas) está associada a aumento ou diminuição dos níveis séricos da bilirrubina da icterícia fisiológica. Os fatores associados a aumento nos níveis da bilirrubina neonatal são: × Inferência genética - orientais, indígenas norte-americanos e gregos têm níveis mais elevados de bilirrubina que o restante da população. × Fatores maternos - diabetes materno, deficiência de zinco e magnésio, uso provável de ocitocina, de diazepam, de bupivacaína e de betametasona podem elevar os níveis de bllirrubina. × Fatores perinatais - hipóxia, clampeamento tardio do cordão, coleções sangüíneas, jejum e deprivação calórica, presença de estase meconial e uso de detergentes fenólicos relaclonam·se com maiores níveis de bilirrubinemia. Entre os fatores que podem associar-se a menores níveis de bilirrubinemia, destacam-se a alimentação precoce e frequente (por aumentar o tempo de trânsito intestinal, fornecer calorias, evitar perda de peso) e a rápida eliminação de mecônio (por agir na circulação enteropática). No manuseio da icterícia "fisiológica" do RN, sempre que possível devemos evitar os fatores associados aos maiores níveis de bilirrubinemia e também utilizar aqueles que comprovadamente areduzem. Icterícia PRECOCE O diagnóstico de icterícia incidindo nas primeiras 24 horas de vida é o de doença hemolítica do RN até prova em contrário, cuja investigação deve incluir prova de Coombs direta, hemograma com contagem de reticulócitos, com especial referência à alteração da forma das hemácias, além de tipagem sangüínea da mãe e do RN, e bilirrubinemia. Se a prova de Coombs direta for positiva, o diagnóstico de doença hemolítica por Rh ou um dos antígenos raros será provável. Caso a prova seja negativa, não estará excluída a doenca ou a isoimunização por grupo ABO naqueles RN A ou B. filhos de mães O. A prova de Coombs direta é geralmente negativa na incompatibilidade ABO, mas pode ser positiva com técnicas especiais. Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Nascimento, Crescimento e Desenvolvimento - Problema 1 - Intermediária Icterícia tardia A icterícia tardia, ou seja, aquela que se torna visível após as primeiras 24 horas de vida, pode depender de um grande número de etiologias. No entanto, na maioria dos casos em que não há outra sintomatologia associada, o diagnóstico é o de icterícia própria do RN. Nesses casos, se a icterícia for discreta, em geral não há necessidade de se dosar a bilirrubina, do ponto de vista assistencial. Se a icterícia parecer relevante, o primeiro passo para o diagnóstico diferencial é a dosagem de bilirrubinemia total e frações. × Sem sintomatologia associada o Predomínio de bilirrubina indireta o Icterícia própria ou fisiológica do RN. o Insuficiência parcial e benigna da conjugação ou doença de Gilbert (geralmente uma síndrome heterogênea, com outras características que contribuem para a icterícia e não reconhecida no período neonatal). o Icterícia prolongada que tem evolução mais arrastada do que aquela dita própria ou fisiológica do RN. As causas mais prováveis são: icterícia pelo leite materno; hipotireoidismo congênito, que apresenta algumas formas que podem ser inaparentes no período neonatal. Verificar o resultado da função tireoidiana colhido ao nascimento; × Com sintomatologia associada o Anemia o Fácies "anômalo", peso grande para a idade gestacional, presença de diabetes materno e fácies cushingóide o Fenômenos gastrintestinais, vômitos e obstipação intestinal o Predomínio de bilirrubina direta - colestase neonatal É definida pela hiperbilirrubinemia direta (conjugada) persistente de início do 1º ao 14º dia de vida, e decorre da obstrução mecânica ou funcional do sistema de excreção biliar, por causas anatômicas, genéticas, metabólicas ou infecciosas. Define-se hiperbilirrubinemia direta ou colestase neonatal (que sempre tem conotação patológica)quando os níveis de bilirrubina DIRETA são maiores ou iguais a 1,5 mg/dl OU quando sua dosagem representar 20% ou mais da bilirrubina total. As principais manifestações clínicas da icterícia colestática são: a coloração amarelada de pele e mucosas, hepatomegalia, acolia fecal e colúria. Efeitos nocivos da hiperbi l lrrubinemia Definimos encefalopatia bilirrubínica (kernicterus) como uma síndrome neurológica causada pelo depósito de bilirrubina indireta nas células do sistema nervoso central. Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Nascimento, Crescimento e Desenvolvimento - Problema 1 - Intermediária Quando o nível sérico de bilirrubina se eleva de maneira significativa (hemólise maciça, eritroblastose), sua capacidade de ligação à albumina e a outras proteínas plasmáticas fica excedida, resultando em uma maior fração livre lipossolúvel. Esta tem a capacidade de se difundir e impregnar as células nervosas do encéfalo. Encefalopatia bilirrubínica é entendida como o quadro clínico neurológico relativo à impregnação cerebral pela bilirrubina. Esse quadro clínico para RN de termo com doença hemol ítica, é caracterizado por: × Fase 1 - caracterizada por hipotonia, letargia, má sucção, choro agudo durante algumas horas. × Fase 2 - em que se instala hipertonia, com tendência a espasticidade e opistótono e febre. × Fase 3 - de aparente melhora, em que a espasticidade diminui ou cede e que se instala ao fim da primeira semana. × Fase 4 - que incide em geral depois do período neonatal, aos 2 ou 3 meses, e consta dos sinais de paralisia cerebral por encefalopatia bilirrubínica, observando-se predomínio de perda da audição neurossensorial, distúrbios extrapiramidais e, mais raramente, rebaixamento do QI. Fototerapia É o mecanismo pelo qual a bilirrubina, que é uma molécula lipossolúvel, sofre transformações, tornando-se mais hidrossolúvel e sendo eliminada do organismo sem necessidade de conjugação hepática. Basicamente, são dois os mecanismos de transformação da bilirrubina ao absorver um fóton luminoso: a isomerização, processo inicial, em que a molécula de bilirrubina altera uma de suas ligações, por meio de rotação de 180 graus de uma de suas ligações (isomerização configuracional), ou forma novas ligações na sua estrutura original (isomerização estrutural) expondo o lado mais polar para o lado exterior da molécula, ambos de eliminação hepática sem necessidade de conjugação; a oxidação, processo mais tardio, na qual a molécula de bilirrubina se quebra em cinco fragmentos de eliminação renal. A eficácia do tratamento pela fototerapia depende da intensidade de luz emitida pelo aparelho, de ter espectro de emissão próximo ao da absorção da bilirrubina, da idade pós-natal do RN, da idade gestacional, do peso de nascimento, da causa de icterícia e do valor de bilirrubinemia no início do tratamento. Acredita-se que quanto maior for a intensidade da quantidade de luz emitida maior será a eficácia da fototerapia com maior aumento do isômero estrutural. Entretanto, existe um ponto de saturação a partir do qual não se encontra mais essa correlação, que, para muitos autores, é por volta de 23 µWatts/cm²/nanômetro. Exsangüineotransfusão É o mecanismo de troca de sangue no qual se remove parcialmente as hemácias hemolisadas, os anticorpos ligados ou não às hemácias e a bilirrubina plasmática. ALTERAÇÕES DERMATOLÓGICAS A pele do neonato é sensível e frágil, sendo que perde água facilmente e absorve substâncias na mesma intensidade, tornando-o propenso às infecções e intoxicações e dificilmente, realiza homeostase de fluidos. Também, seu Ph é neutro, reduzindo barreira contra proliferação microbiana, e os lipídios epidérmicos estão em menor quantidade pela ação baixa de glândulas sebáceas. Assim, a pele dos RN’s é muito reagente ao suor, sebo, ácaros, bactérias, impurezas da fralda e ar atmosférico. Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Nascimento, Crescimento e Desenvolvimento - Problema 1 - Intermediária Alterações fisiológicas Vernix caseosa A vernix caseosa, presente na superfície cutânea logo ao nascimento, consiste numa mistura de células epiteliais, sebo e por vezes cabelos. A vernix serve de lubrificante e protege contra os efeitos líquido amniótico e parece também exercer funções antibacterianas por conter péptidos e lípidos anti-microbianos. Fenómenos vasculares A pele do RN não tem capacidade de responder rápida e adequadamente a certos estímulos, o que provoca alterações da sua coloração. Ao nascimento a pele das extremidades (mãos e pés) pode ter uma coloração violácea- acrocianose - que desaparece em poucas horas e reaparece apenas quando a criança tem frio ou chora. Esta coloração é devida a uma hipertonia das arteríolas periféricas, com a consequente congestão venosa responsável pela cor cianótica. O diagnóstico diferencial nestes casos deve ser feito com a cianose central de origem cardiovascular ou metabólica. Nos primeiros dias de vida, alguns RN podem apresentar um rubor generalizado resultante do excesso de hemoglobina, que desaparece com a diminuição fisiológica dos níveis de hemoglobina s érica. Cútis marmorata fisiológica Resulta da dilatação dos capilares quando o RN é exposto ao frio. Caracteriza-se clinicamente pela presença de um reticulado eritemato-violáceo no tronco e extremidades. Esta situação não tem signifi cado patológico e normalmente desaparece quando o RN é aquecido. Perante esta situação é necessário estabelecer o diagnóstico diferencial com a cútis marmorata telangiectásica congénita que é uma malformação capilar, onde as lesões são persistentes e, em 50% dos casos, estão associadas a outras malformações, nomeadamente ósseas, oculares e neurológicas. Coloração em “Harlequin” É um fenómeno fisiológico que afecta 15% dos RN nas primeiras 2 a 3 semanas de vida. Resulta da ausência transitória de regulação central do tónus vascular periférico. Traduz-se pelo aparecimento de eritema no hemicorpo (geralmente zona em declive) e palidez no outro hemicorpo, separados pela linha média. A face e os genitais são poupados. Esta situação pode ser difícil de visualizar já que os episódios têm curta duração (de alguns segundos a 20 minutos) e desaparecem rapidamente após aquecimento ou mudança de posição. Manchas salmão (angioma de Unna) Resulta de ectasias capilares na derme e está presente em 70% dos RN caucasianos. Manifesta-se como máculas ou manchas eritematosas/salmão localizadas à zona occipital, pálpebras, glabela, sendo mais rara a localização no nariz e lábio superior. A maioria desaparece nos primeiros anos de vida. O diagnóstico diferencial faz-se sobretudo com malformações vasculares que não desaparecem espo ntaneamente. Alterações da pigmentação Mancha Mongólica Ocorre sobretudo em RN de raça negra e corresponde a agregados de melanócitos na derme, que se manifestam como máculas ou manchas azuis acinzentadas geralmente localizadas nas nádegas ou na região sagrada. Quando se situam em outras localizações são Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Nascimento, Crescimento e Desenvolvimento - Problema 1 - Intermediária denominadas de manchas mongólicas ectópicas. A patogénese é desconhecida embora pareça residir num defeito na migração das células pigmentadas da crista neural. As melanoses dérmicas podem também estar patentes nos nevos de Ito e de Ota, mas nestes casos não têm resolução espontânea. Hiperpigmentação epidérmica transitória Nos RN de raça negra é comum uma hiperpigmentação epidérmica transitória dos órgãos genitais externos, do abdómen inferior (linha nigra), das axilas, das aréolas mamárias, do perioníquio e da face dorsal da terceira falange, resultante da acção da hormona estimuladora dos melanócitos in útero. É importante fazer o diagnóstico diferencial desta alteração cutânea benigna coma hiperpigmentação resultante da hiperplasia adrenal congénita, mas nesta última estão presentes outros sinais de hiperandrogenismo. Alterações das mucosas O exame da cavidade oral no RN é muito importante já que pode conduzir à detecção de muitas patologias. A alteração fisiológica mais comum na mucosa oral é a presença de quistos epidérmicos gengivais e palatinos. Os quistos gengivais podem ser detectados em 64% dos RN e manifestam-se como pequenas pápulas isoladas ou agrupadas, bancoamareladas, com tamanho de 1-2mm. A sua origem deve-se à formação de pequenos quistos córneos na mucosa oral. Quando localizados no palato e na crista alveolar denominam-se respectivamente de pápulas de Epstein e de Bohn. A maioria desaparece nos primeiros 5 meses de vida. Fenómenos hormonais Durante os primeiros meses de vida os RN estão expostos às hormonas androgénicas de origem materna e, em consequência, podem surgir hiperplasias sebáceas. São lesões foliculares punctiformes, de cor amarelada e superfície lisa, agrupadas no nariz, lábio superior e zonas malares. Estas lesões regridem gradualmente durante as primeiras semanas de vida. Acne neonatal Alguns RN sofrem de uma erupção facial acneiforme entre as 2 e 3 semanas de vida. As lesões papulares e pustulosas eritematosas localizam-se sobretudo nas zonas malares. Caracteristicamente não existem comedões. Há autores que consideram esta forma de acne como uma primoinfecção por leveduras do género Malassezia. As lesões resolvem espontaneamente ao fim de 2 a 3 meses. Devido à passagem de estrogénios maternos através da placenta, alguns RN apresentam também ginecomastia transitória, produção de muco vaginal e mesmo hemorragia vaginal. Estas alterações resolvem em poucas semanas. Alterações dos anexos cutâneos As alterações ungueais no RN são raras e podem representar alterações congénitas e genéticas. De entre as alterações fisiológicas e transitórias podem apontar-se a falsa unha encravada, a coiloníquia e as linhas de Beau. Coiloníquia Alguns RN apresentam uma hipertrofia das pregas laterais que cobrem parcialmente as pregas ungueais, simulando deste modo as unhas encravadas. A maioria dos casos tem resolução espontânea, mas por vezes estas pregas hipertrofiadas podem sobreinfectar e causar dor transitória. Linhas de Beau São linhas ungueais transversais. Reflectem uma paragem do metabolismo da matriz ungueal que pode ser atribuído ao stress induzido pelo parto. Contudo, podem também surgir após episódios febris, toxidermias e em situações de Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Nascimento, Crescimento e Desenvolvimento - Problema 1 - Intermediária acrodermatite enteropática. É também possível o aparecimento de coiloníquia, que se trata de uma curvatura côncava das unhas “unha em colher”, principalmente nas unhas dos pés. Lanugo O sistema piloso do RN é caracterizado pelo lanugo que persiste durante as duas primeiras semanas de vida. Pode observar-se no RN uma hipertricose localizada, não lanuginosa, em particular ao nível da helix, que não traduz qualquer fenómeno patológico (antigamente pensava-se erroneamente que estava relacionado com a presença de diabetes materno). Outra das alterações dos anexos é a presença de uma alopécia bem delimitada na região occipital, que empiricamente se atribuía à posição mais comum de decúbito, mas cuja etiologia parece ser devida à entrada mais tardia dos folículos da zona occipital, na fase telogênica. Outras alterações Bolhas por sucção São bolhas tensas com conteúdo seroso, rodeadas por pele normal. Aparecem no dorso das mãos e antebraços e são devidas à vigorosa sucção oral do RN nesse local, durante a vida intra-uterina. Associadas a estas lesões aparecem calos de sucção na mucosa oral. Esta lesão pode muitas vezes ser confundida com herpes simples. Quistos de Milia Os quistos de milia são uma das alterações fisiológicas mais frequentes dos RN. Manifestam-se como pápulas brancas punctiformes únicas ou múltiplas que aparecem em qualquer localização na superfície corporal, mas com mais frequência na face (zonas malares, nariz e mento). Têm origem em rolhões de queratina de etiologia desconhecida ao nível do infundíbulo pilossebáceo. O diagnóstico diferencial mais importante é com a hiperplasia sebácea, mas esta tem uma c oloração mais amarelada. A maioria desaparece sem necessidade de tratamento, nos primeiros meses de vida. Quando persistentes, podem estar associados a casos de epidermólise bolhosa distrófica, juncional ou ao síndroma orofacial-digital tipo I. Alterações idiopáticas transitórias Eritema tóxico do RN O eritema tóxico do RN ocorre em aproximadamente 50% dos casos, sem preponderância de sexo ou etnia. A sua ocorrência parece relacionar-se com o peso ao nascimento e a idade gestacional, sendo raro em prematuros e neonatos com menos de 2500g. A etiologia é desconhecida, mas há autores que consideram que corresponde a uma reacção enxerto-versus-hospedeiro contra linfócitos maternos. Apesar de poderem estar pres entes desde o nascimento, o mais comum é que as lesões apareçam entre as 24 e as 48 horas de vida. As lesões típicas consistem em pápulas ou papulopústulas rodeadas de áreas inflamatórias eritematoedematosas de contornos irregulares, semelhantes a picadas de insecto. Normalmente as lesões iniciam-se na face, expandindo-se depois para o tronco e extremidades - mas podem aparecer em qualquer área corporal com excepção das palmas e plantas. A eosinofilia periférica pode estar presente em 15% dos casos, independentemente da gravidade das lesões. O diagnóstico baseia-se nas características clínicas das lesões e no bom estado geral do RN. Quando houver dúvidas pode realizar- se uma biópsia cutânea, verificando-se a presença de eosinófilos subcórneos localizados à porção superior do infundíbulo folicular. As lesões resolvem espontaneamente em aproximadamente 7 dias. Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Nascimento, Crescimento e Desenvolvimento - Problema 1 - Intermediária Pustulose melânica neonatal transitória A pustulose melânica neonatal transitória é uma erupção frequente das crianças de raça negra. Apesar da etiologia não estar completamente esclarecida, há autores que consideram que a causa seja a hiperestimulação dos melanócitos. A clínica desenvolve-se em três fases e, ao contrário do eritema tóxico, aparece sempre ao nascimento. A primeira fase caracteriza-se pela presença de pústulas superficiais sem inflamação circundante, com tamanho entre 2- 10mm, localizadas preferencialmente à face, região lombar e área pré-tibial. Contudo, as palmas, plantas e região torácica podem estar envolvidas. Muitas vezes estas lesões passam despercebidas pois rompem com muita facilidade (pústulas intra ou subcórneas). Posteriormente aparecem colaretes descamativos ao redor das pústulas e, numa terceira fase, as lesões curam espontaneamente deixando hiperpigmentações residuais que podem demorar meses a desaparecer. O diagnóstico é clínico mas, quando há dúvi das, pode procederse a avaliação histológica a qual revela pústulas com neutrófilos subcórneas ou intracórneas. O eritema tóxico do RN e a pustulose melânica neonatal podem coexistir, havendo autores que consideram que estas duas entidades representem a mesma patologia, mas na primeira o aparecimento é mais tardio e o componente celular é eosinofílico. O diagnóstico diferencial desta entidade deve fazer-se com a acropustulose da infância (localização acral das lesões e o aparecimento geralmente é mais tardio), e com quadros pustulosos de origem infecciosa (candidíases e impétigos). Acropustulose da infância A acropustulose da infância é uma condição de etiologia desconhecida, mais frequente em crianças de raça negra e do sexo masculino. Caracteriza-se pela presença de surtos recorrentes de lesões vesico-pustulosaspruriginosas com distribuição acral (palmas, plantas, dorso das mãos e pés). As lesões duram 5-10 dias e os surtos recorrem a intervalos de 2-4 semanas. As lesões podem estar presen tes ao nascimento, mas normalmente desenvolvem-se nas primeiras semanas ou meses de vida. O exame histológico das lesões revela pústulas intraepidermicas e subcórneas. As lesões sofrem remissão espontânea em 1 a 2 anos, mas durante as fases de actividade é necessário recorrer-se a tratamentos com corticóides tópicos e antihistaminico oral. A escabiose é o diagnóstico diferencial mais importante a colocar com esta entidade, uma vez, que há uma forma de acropustulose que pode ocorrer pós escabiose. Pustulose cefálica transitória A pustulose cefálica transitória é um quadro raro descrito pela primeira vez em 1991, caracterizado por uma erupção pápulo-pustulosa pruriginosa localizada à face e couro cabeludo. As lesões podem aparece r por surtos. O estudo histológico mostra um infiltrado eosinofílico denso na derme e ao redor do folículo piloso. Há autores que consideram que se trata de uma manifestação de primoinfecção pela espécie de Malassezia sympodialis. As lesões resolvem espontaneamente entre os 4 e os 36 meses de vida. Mil iaria O termo miliaria é um termo genérico para descrever a obstrução do ducto écrino. A causa desta obstrução é desconhecida mas há quem defenda que seja causada pela substância polissacarídea extracelular produzida pelo Staphylococcus epidermidis. Ocorre geralmente em climas quentes, em estados de pirexia ou de supra-aquecimento. A manifestação clínica depende do nível de obstrução do ducto. A forma mais frequente no RN (primeiros dias de vida) é a cristalina ou sudamina e surge devido à obstrução superfi cial (subcórnea ou intracórnea) do ducto écrino. Consequentemente, há retenção de suor a este nível, levando à formação de pequenas vesículas cristalinas que lembram gotas de água e que Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Nascimento, Crescimento e Desenvolvimento - Problema 1 - Intermediária rompem com facilidade. Quando a obstrução do ducto é mais profunda, mas ainda epidérmica, a miliaria denomina- se de rubra. Neste caso as lesões são pápulas erite matosas ou papulo-pústulas não foliculares. A miliária profunda é rara no período neonatal e resulta da oclusão do canal ao nível da junção dermoepidérmica, condicionando o aparecimento de pápulas brancas que impedem o normal fenómeno da sudação. Trata-se de uma entidade benigna que desaparece espontaneamente após controlo da febre ou da temperatura ambiental. Necrose do tecido celular subcutâneo A necrose do tecido celular subcutâneo ou citoesteatonecrose é uma hipodermite rara que ocorre em RN nascidos de cesariana ou expostos a stress fetal. A etiologia parece resultar do facto de o tecido adiposo do RN conter grande proporção de ácidos gordos saturados. Fatores como frio, hipotermia, traumatismo, nutrição inadequada e isquemia induziriam a libertação de agentes mediadores de inflamação e necrose que atuariam sobre esses ácidos gordos. Normalmente manifesta-se entre as 1ª e 4ª semanas de vida, mas também pode ser congénito. As lesões consistem em placas ou nódulos assintomáticos, cobertos com pele normal ou eritematosa, localizados à face, nádegas e tronco. As lesões podem ulcerar ou apresentar depósitos de cálcio. O RN normalmente não apresenta qualquer sintoma sistémico associado, mas entre o primeiro e quarto dia de vida pode ocorrer hipercalcemia sintomática, que pode ser fatal. Torna-se portanto necessário monitorizar os níveis de cálcio e evitar a administração exógena de vitamina D. O exame histológico mostra inflamação granulomatosa do panículo adiposo com células histiocitárias. O curso clínico da patologia é benigno, e as lesões regridem espontaneamente em algumas semanas. Nesta circunstância é todavia importante realizar o diagnóstico diferencial com a paniculite infecciosa, com o escleroderma neonatorum ou com causas de calcinose cútis. Dermatite seborreica É um problema frequente nas primeiras semanas de vida. É erupção eritematosa coberta por escamas oleosas (amarelo-acinzentadas). Acredita-se que é devida à colonização por Malassezia spp., e sua melhora após o tratamento com azoles e clioquinol sugere que a fermentação tem papel na etiologia desta dermatose. Acredita-se que os hormônios maternos, ao produzirem aumento na produção sebácea e fatores nutricionais, como a deficiência de biotina, poderiam ter papel na etiopatogenia. Afeta couro cabeludo (crosta láctea), rosto, sobrancelhas, regiões retroauriculares, nariz, pré-esterno e pregas axilares e inguinais. Na área da fralda costuma começar como intertrigo; posteriormente, o processo avança além das pregas inguinais. Não é pruriginosa. As lesões costumam macerar-se e apresentar infecção bacteriana ou candidiásica. Não há evidência de que as crianças com dermatite seborréica tenham maior probabilidade a ter a doença na idade adulta. Dermatite atopica A dermatite atópica (DA) é a dermatose mais frequente na infância e se caracteriza por prurido intenso, xerodermia e hiper-reatividade cutânea. A prevalência aumentou nos últimos anos em decorrência de poluição, infecções e exposição alergênica. Recentes descobertas sobre a fisiopatologia da DA têm apontado para o papel das alterações na barreira cutânea, e novas modalidades terapêuticas têm possibilitado o controle da dermatose. Complexa interação entre fatores genéticos, imunológicos e exógenos. Duas teorias: Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Nascimento, Crescimento e Desenvolvimento - Problema 1 - Intermediária × Inside-Outside: inicia com resposta imunológica a alérgenos e irritantes, desencadeando inflamação, infecção e alteração da barreira cutânea. × Outside-Inside: nesta segunda hipótese, acredita-se que uma disfunção primária da barreira ocasiona entrada de antígenos, infecção e resposta inflamatória, explicando diferentes aspectos da doença em diferentes momentos. O suporte para esta teoria foi a descoberta de duas mutações em genes que codificam a produção da filagrina, que é fundamental para a formação do fator de umidificação natural. Na DA, encontra-se composição anormal de ceramidas (redução em quantidade e alteração da distribuição) e colesterol elevado. Esta alteração nos lipídios não polares (ceramidas, colesterol, etc.) afeta a umidade cutânea, já que formam capa hidrofóbica e, portanto, são determinantes na permeabilidade cutânea. Podem ser leves, moderadas ou graves (menos frequente em crianças). O quadro clínico varia com a idade. Nos lactentes, inicia no rosto, bochechas (respeita a zona centro facial), na superfície de extensão dos membros e na área da fralda. Em pré-escolares e escolares, observa-se em pregas antecubitais e dobras poplíteas, manifestando- se com xerose, placas eritêmato-escamosas e prurido intenso. PATOLÓGICOS SOFRIMENTO FETAL AGUDO Sofrimento fetal agudo é o que ocorre durante o parto, em contraposição ao sofrimento fetal crônico, próprio da gestação complicada por insuficiência placentária. A asfixia é condição resultante do comprometimento da troca de gases que, quando persistente, leva a progressiva hipoxemia/hipercapnia e estado de acidose metabólica. Durante o parto vaginal, as contrações maternas causam redução temporária na troca de gases. Após a contração há recuperação fetal, seguida por perfusão normal até que ocorra nova contração. Se esses mecanismos fisiológicos compensatórios forem sobrepujados, estabelece-se a acidemia hipóxica. Se houver acidemia hipóxica de grau e duração suficientes, espera-se lesão cerebral com consequentes sequelas neurológicas nos bebês sobreviventes, outros danos orgânicos e morte intraparto ou neonatal. Etiologia × Hiperatividade uterina: especialmente a consequente à administração intempestiva
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