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Lavínia Souza Araújo – 2022.1 Objetivos do módulo Nascimento, Crescimento e Desenvolvimento Problema 1 – intermediária 1. Descrever o fluxograma de atendimento na sala do parto 2. Explorar acerca da avaliação da vitalidade neonatal (apgar) e IG (capurro/ new ballard) 3. Elucidar a adaptação fisiológica da circulação cardiopulmonar no nascimento 4. Abordar sobre a fisiopatologia dos fatores que acontecem asfixia no neonato 5. Discorrer sobre alojamento conjunto (princípios e critérios) e exames realizados (olhinho, orelhinha e coração) 6. Detalhar o mecanismo da icterícia neonatal Problema 1 – Fechamento 1. Discorrer sobre a 1ª consulta de puericultura (exame físico, neurológico e variações patológicas) 2. Descrever os exames de triagem neonatal com ênfase no teste do pezinho 3. Elucidar a fisiologia, fisiopatologia, etiologia conduta acerca das cólicas neonatais 4. Explanar sobre as alterações dermatológicas do RN enfatizando medidas preventivas (dermatite de fralda) Problema 2 – Intermediária 1. Abordar a morfofisiologia da mama em lactação 2. Descrever a técnica da amamentação e a sua importância no binômio mãe-filho 3. Elucidar sobre a introdução alimentar até o 1º ano e possíveis distúrbios alimentares 4. Discorrer sobre a composição bioquímica e imunológica dos tipos de leite 5. Aclarar a respeito da maturação morfológica e imunológica do TGI Problema 2 – Fechamento 1. Elucidar acerca do desenvolvimento infantil (DNPM, marcos e curvas), enfatizando escalas 2. Abordar os princípios e recomendações na puericultura de 0 a 5 anos 3. Explanar sobre a equipe multiprofissional que compõe a creche (enfatizando o pediatra) e sua influência no desenvolvimento infantil Problema 3 – Fechamento 1. Elucidar o desenvolvimento do sistema imunológico da criança 2. Descrever o calendário vacinal (princípios, tipos, indicações, contraindicações e reações), diferenciando os órgãos responsáveis pela elaboração (SUS, SBP e SBI) 3. Explanar sobre etiologia, fisiopatologia e quadro clínico das infecções de VAS (sinusite aguda, otite média aguda, resfriado, gripe e faringoamidalite) 4. Discorrer sobre escalas de desenvolvimento psicológico e físico (winnicot) de crianças de 2 a 7 anos Problema 4 – Fechamento 1. Abordar o perfil epidemiológico e clínico, fisiopatologia, abordagem terapêutica e preventiva da desnutrição energético-proteica (importância da alimentação na desnutrição, fatores sociais, culturais e políticas públicas) 2. Elucidar o perfil epidemiológico e clínico, fisiopatologia, abordagem terapêutica e preventiva da anemia ferropriva e deficiência de ferro 3. Explanar sobre a influência nutricional no crescimento dos germes dentários e erupção dentária 4. Explicar os principais acidentes domésticos infantis mais recorrentes, bem como a correta prevenção 5. Correlacionar a fratura óssea com a desnutrição (raquitisimo) 6. Discorrer o papel governamental na garantia dos direitos as relações laborais, com ênfase biopsicossocial Problema 5 – Fechamento 1. Explanar o agente etiológico, fisiopatologia, quadro clínico, diagnóstico, prevenção, e tratamento de enteroparasitoses 2. Descrever o mecanismo de ação e efeitos colaterais das classes medicamentosas anti-parasitárias 3. Elucidar acerca das causas dos distúrbios de aprendizagem na fase escolar 4. Abordar a influência socioeconômica e cultural com a prevalência das enteroparasitoses Problema 6 – Fechamento 1. Explanar o desenvolvimento fisiológico da puberdade relacionando com a maturação sexual (tanner) e os aspectos emocionais (imagem corporal, hormonal) 2. Explicar acerca dos principais distúrbios alimentares na adolescência (anorexia, bulimia, obesidade) 3. Discorrer sobre as causas da dependência química na adolescência Lavínia Araújo PROBLEMA 1 – INTERMEDIÁRIA DESCREVER O FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO NA SALA DO PARTO CUIDADOS NA HORA DO NASCIMENTO – ATENÇÃO À SAÚDE DO RECÉM NASCIDO No Brasil, a maior parte das crianças nascem com boa vitalidade, apesar disso, são essenciais o conhecimento e habilidade em reanimação neonatal para todos os profissionais que atendem RN em sala de parto, mesmo que se espere crianças hígidas sem hipóxia ou asfixia ao nascer. O risco de procedimentos de reanimação aumenta quanto menor for a idade gestacional e/ou o peso ao nascer. O parto cesariano entre 37 e 39 semanas, mesmo sem fatores de risco antenatais para asfixia, também eleva o risco de necessidade de ventilação ao RN. PREPARO DA ASSISTÊNCIA O preparo da assistência inclui a realização da anamnese materna, disponibilidade do material para atendimento e a presença de equipe treinada em reanimação neonatal. ANAMNESE MATERNA Analisar as condições perinatais associadas à necessidade de reanimação neonatal. MATERIAL PARA ATENDIMENTO Todo o material para a reanimação deve ser preparado, testado e estar disponível em local de fácil acesso, antes do nascimento e é destinado à manutenção da temperatura, aspiração de vias aéreas, ventilação e administração de medicações. A temperatura da sala deve se manter em no mínimo 26ºC para que a temperatura corpórea do RN se mantenha normal. Dentre os materiais necessários na sala de parto tem: EQUIPE TREINADA EM REANIMAÇÃO NEONATAL Devido à elevada necessidade de realização de algum procedimento de reanimação no RN e rapidez com que essas manobras devem ser iniciadas, é fundamental a presença do profissional capacitado para a realização adequada da manobra durante todo o parto. Na antecipação do nascimento de um concepto, pode ser necessária a presença de três profissionais capazes de reanimar o RN de maneira rápida e efetiva. Em caso de nascimento de gemelares, deve-se ter acesso a material e equipe para cada criança. Para a recepção do RN deve haver a precaução básica como lavagem das mãos, uso de luvas, máscara, proteção facial para evitar a contaminação do profissional com o material biológico do RN. FLUXOGRAMA DA ASSISTÊNCIA AO RECÉM NASCIDO - SBP LAVÍNIA ARAÚJO @laviarauj Lavínia Araújo Imediatamente após o nascimento, para verificar a necessidade de reanimação, precisa ser feita perguntas a respeito da vitalidade do RN: 1. Gestação foi a termo? 2. Presença de tônus muscular em flexão? 3. Está chorando ou respirando? 4. Existe presença de mecônio? A resposta afirmativa para todas as perguntas garante que o RN está com boa vitalidade e não necessita de manobras de reanimação. Nisso, deve-se manter uma rotina junto à mãe em manter o calor, manter as vias aéreas pérvias e avaliar a vitalidade de maneira contínua (avaliar a FC, respiração e tônus muscular) e amamentação na 1ª hora de vida. Após a confirmação das perguntas, é indicado o clampeamento tardio do cordão, independente do aspecto do líquido amniótico (clampeamento feito entre 1 min a 3 min). Caso alguma dessas perguntas for negativa ou esse bebê apresentar alguma complicação na circulação placentária (rotura de membrana, placenta prévia, descolamento de placenta), o clampeamento deve ser imediato. Caso a resposta for negativa, deve-se fazer os passos iniciais: 1. Prover calor: receber a criança em campo neonatal com o campo aquecido em 36,5 a 37,5º C. Para diminuir a perda de calor, deve pré-aquecer a sala de parto e a sala em que serão realizados os procedimentos de reanimação mantendo o ambiente em 23 a 26ª C. 2. Posicionar a cabeça do RN em leve extensão (cuidado para não hiperextender pois pode tampar as vias aéreas), sendo que alguns necessitam de um apoio na região interescapular para deixar reta 3. Aspirar boca e narinas se necessário apenas delicadamente com a sonda traqueal conectada a um aspirador a vácuo em pressão máxima de 100 mmHg (evitar a aspiração da hipofaringe para reduzir o risco de atelectasia e trauma e prejuízo de uma respiração efetiva)4. Secar o RN e desprezar os campos úmidos 5. Reposicionar a cabeça 6. Avaliar a FC (pela ausculta do precórdio) e respiração (observação da expansão torácica) Se a FC > 100 bpm e a respiração for regular, mantém os cuidados de rotina (contato pele a pele da mãe). Se FC <100 bpm ou a respiração não for regular, faz a VENTILAÇÃO COM PRESSÃO POSITIVA (FAZ NO PRIMEIRO MINUTO DE VIDA → golden minute). Essa VPP é feita com o objetivo de dilatar a vasculatura pulmonar e a hematose apropriada • Feita com dispositivo bola-válvula máscara • Segura a máscara com a técnica do C e E • Essa máscara precisa cobrir de maneira ideal o nariz, boca e queixo do RN • Deve haver a monitoração da saturação de O2 MINUTOS DE VIDA SATO2 ESPERADA Até 5 70 a 80% 5– 10 80 a 90% >10 85 a 95% Nessa etapa é obrigatória a monitoração de oxigênio e a FC não mais pela ausculta, sendo agora necessário o uso de um monitor cardíaco por meio de 3 eletrodos e oxímetro de pulso (na mão direita). Caso a saturação não esteja como o esperado, deve ser ofertado oxigênio, pois, em primeiro momento com ar ambiente (FiO2 de 21%) na VPP. Se iniciar a oferta de oxigênio, é preciso fazer aumentos de 20% da FiO2 progressivos. A GARANTIA DE EFICÁCIA DO PROCEDIMENTO É QUANDO A FC AUMENTA → feita através do monitor cardíaco Se a FC > 100 bpm após isso e a respiração estiver regular, posso parar o procedimento de reanimação e iniciar os cuidados de rotina. Caso a FC < 100 bpm e a respiração não for regular, devemos reavaliar a técnica da VPP: 1. Conferir o ajuste entre a máscara e a face 2. Permeabilidade das vias aéreas (aspirando secreções, posição da cabeça e mantendo a boca do RN aberta) 3. Pressão exercida no balão Caso após 30 segundos a FC <100 bpm e a respiração não esteja espontânea e rítmica, é considerada falha. Se após a correção da técnica VPP não melhorar, está indicado o uso de cânula traqueal como interface para a VPP e em períodos prolongados de ventilação o uso de sonda orogástrica para diminuir a distensão gástrica. Deve-se considerar aqui o uso de O2 (guiada pela saturação de O2) e a intubação orotraqueal. Quando intubar? 1. VPP com máscara não efetiva 2. Com indicação de massagem cardíaca 3. Presença de hérnia diafragmática com necessidade de VPP A indicação da entubação no processo de reanimação depende da habilidade e da experiência do profissional responsável pelo procedimento. Em mãos menos experientes, existe um elevado risco de complicações como hipoxemia, apneia, bradicardia, pneumotórax, laceração de tecidos moles, perfuração de traqueia ou esôfago, além de maior risco de infecção. Vale lembrar que cada Lavínia Araújo tentativa de entubação deve durar, no máximo, 30 segundos. Em caso de insucesso, o procedimento é interrompido e a VPP com balão e máscara é iniciada, sendo realizada nova tentativa de entubação após estabilizar o paciente. Como confirmar se entubou? Inspeção do tórax, ausculta das regiões axilares e gástrica e observação da FC, porém o padrão- ouro é a capnografia (detecção de dióxido de carbono (CO2) exalado, por ser objetivo e rápido). Após a entubação, avaliar a FC. Caso for > 100 bpm e a respiração esteja regular, extubar e manter o oxigênio de acordo ao necessário. Se FC < 100 bpm, reavaliar a técnica: 1. Posição da cânula 2. Permeabilidade da via aérea 3. Pressão inspiratória 4. Aumentar a oferta FiO2 60 a 100% Após isso, deve novamente avaliar a FC e a respiração. Caso a FC > 60 bpm, deve-se manter a intubação. Caso a FC < 60 bpm, INDICAÇÃO DA MASSAGEM CARDÍACA. Massagem cardíaca pode ser feita de duas formas: Deve ser feito com as duas mãos no terço inferior do esterno, comprimindo 1/3 do diâmetro antero-posterior do tórax. Em qual frequência? Sempre 3 massagens e 1 ventilação, contabilizando uma frequência de 120 eventos por minuto (90 compressões e 30 ventilações) A massagem deve continuar enquanto a FC < 60 bpm. A massagem só deve ser interrompida no momento da ventilação. Se a FC atingir valores > 100 bpm, a massagem é suspendida e mantém a intubação, sendo prudente transportá-lo para uma UTI neonatal em incubadora transporte, com concentração de O2 suficiente para manutenção da saturação. A massagem dura 60s e caso não normalize a FC e continue < 60 bpm, é dado como falha, portanto deve ser avaliado: 1. Posição da cânula traqueal 2. Permeabilidade da via aérea 3. Pressão da ventilação 4. Técnica da massagem cardíaca Em caso de não haver melhora com a correção, considera-se o cateterismo venoso umbilical (devido ao menor risco de lesões em vasos do RN e pela maior facilidade de acesso) de urgência com indicação de adrenalina e expansão volêmica (suspeita de hipovolemia). Deve ser feita uma diluição da adrenalina de 1:10000, em 9 ml de soro fisiológico (sendo sua dose de 0,01 a 0,03 mg/kg). Doses maiores levam a hipertensão arterial grave, diminuição da função miocárdica e piora do quadro neurológico. A via traqueal da medicação só pode ser usada para adrenalina uma única vez em caso de não conseguir acesso pela umbilical. Se não houver melhora pelo uso de adrenalina, pode-se repetir a cada 3 a 5 minutos e considerar a expansão volêmica (em caso do paciente pálido e evidências de choque) e é feita com soro fisiológico na dose de 10 ml/kg. Se não houver resposta, deve-se verificar a posição da cânula traqueal, a técnica da ventilação e da massagem e a permeabilidade da via de acesso vascular. ASPECTOS ÉTICOS Quando não reanimar? Em mal formações fetais sendo necessário conversar com a família. Quando interromper a reanimação? Quando há assistolia após 10 minutos de reanimação. EXPLORAR ACERCA DA AVALIAÇÃO DA VITALIDADE NEONATAL (APGAR) E IG (CAPURRO/ NEW BALLARD) Durante o momento em que o bebê está em contato com a mãe, já deve ser feita a mensuração da vitalidade do RN, por meio do boletim de Apgar e deve ser aplicado no 1º e no 5º minuto de vida e, se necessário, repetir a cada 5 minutos para avaliar: 1. Respiração (choro) 2. FC 3. Cor da pele 4. Tônus muscular 5. Resposta reflexa O APGAR não é indicativo de início de manobras e serve apenas como monitoramento de como esteve o RN durante o 1º minuto e 5º minuto, além de ser feito apenas após todas as técnicas, portanto, não é indicativo de nada, apenas avalia sucesso. PONTOS 0 1 2 FC ausente <100bpm >100bpm RESPIRAÇÃO ausente fraca (irregular) Forte (choro) TÔNUS Flácido Flexão de pernas e braços Movimento ativo (boa flexão) COR Cianótico (pálido) Cianose nas extremidades Rosado Lavínia Araújo REFLEXO ausente Algum movimento Espirros/choro O somatório da pontuação resulta no índice de APGAR: 1. 8 a 10 significa que o RN nasceu em ótimas condições 2. 5 a 7 significa que o bebê apresentou uma dificuldade leve 3. 3 a 4 significa uma dificuldade moderada 4. 0 a 2 significa uma dificuldade de ordem grave Se essas dificuldades persistirem durante alguns minutos sem tratamento, isso pode levar a alterações metabólicas no organismo e anóxia. CHECKLIST DA AVALIAÇÃO DO RN – MANUAL DE NEONATOLOGIA Após a avaliação da vitalidade ao nascer, realiza-se o exame físico sumário, que deve ser objetivo e rápido, no intuito de avaliar a perda de calor: 1. Identificação de malformação congênita, traumatismos obstétricos, desconforto respiratório, sopro cardíaco, massas abdominais, fenda palatina, atresia de coanas, esôfago e anomalia anorretal. 2. Descartar as possibilidades de artéria umbilical única, onfalocele, defeitos de fechamento do tubo neural, defeitos dos membros, extrofia vesical. Avalia a temperatura Avalia o peso → ele deve estar sem roupa e em balança previamente tarada. ▪ Alto peso ou macrossômico: > 4 kg ▪ Peso médio do RN ao nascer: 3 – 3,5 kg ▪ Baixo peso ou microssômico: < 2,5 kg ▪ Muito baixo peso: < 1,5 kg e > 1 kg ▪ Extremo baixo peso: < 1 kg Avalia a estatura →uso de uma régua antropométrica ou graduada e evita a métrica pela chance de erro. Deve estar com a cabeça na extremidade fixa e com as pernas bem esticadas. (estatura média de 50 cm) Avalia o perímetro cefálico → uso da fita métrica passando pela região mais proeminente do occipital até a glabela (média de 34 a 36 cm) Avalia o perímetro torácico → uso de fita métrica passando pela linha intermamilar (média de 2 cm a menos que o PC) Avalia o perímetro abdominal → uso de fita métrica logo acima do coto umbilical (média de 2 cm menor que o PT) IDADE GESTACIONAL Termo: 37 a 41 semanas e 6 dias Pré-termo: ≥ 42 semanas Lavínia Araújo Pós-termo: ≤ 36 semanas e 6 dias A idade gestacional é realizada a partir dos métodos de Capurro ou de New Ballard nos casos dos prematuros e deve ser realizada durante a primeira avaliação do RN. Embora se baseie em critérios físicos e neurológicos, na sala de parto, realiza-se o Capurro somático pela praticidade da sua abordagem. CAPURRO SOMÁTICO Avaliação de: 1. Textura da pele → desde muito fina e gelatinosa a grossa, enrugada e com marcas profundas (5 EM 5) 2. Forma da orelha → baseado na curvatura do pavilhão auditivo (ÚNICO QUE PONTUA DE 8 EM 8) 3. Glândula mamária → até quando são palpáveis em diâmetro (5 EM 5) 4. Pregas plantares → desde sem pregas a presença de sulcos em mais da metade anterior (5 EM 5) 5. Mamilos → pela disposição da aréola desde não visível a pontiaguda e bordo levantado e diâmetro (5 EM 5) Para saber a IG soma-se cada item + 204 e os divide por 7 e obtém o resultado em semanas. CAPURRO NEUROLÓGICO Soma dos fatores + 200 e divide por 7 e obtém a IG em semanas NEW BALLARD O New Ballard usa seis parâmetros neurológicos e seis físicos: Lavínia Araújo Deve-se administrar de forma profilática a vitamina K rotineiramente em todos os RN para evitar o sangramento precoce por deficiência dessa vitamina (doença hemorrágica do RN e sangramento posterior, com a administração de 1 mg via IM. Deve ser feita a profilaxia ocular para evitar infecções oculares transmitidas na passagem do RN pelo canal de parto com colírio oftálmico antibiótico em ambos os olhos, dentro da primeira hora após o nascimento, abrindo as pálpebras com os dedos e aplicando as gotas no ângulo interno da pálpebra inferior. Utiliza-se: 1. Tetraciclina 1% 2. Nitrato de prata 1% 3. Iodopovidona 2,5% 4. Eritromicina 0,5% Também deve ser feita a vacina de hepatite B, independente do peso ao nascer, nas primeiras 12 horas de vida. A vacina BCG também pode ser aplicada na maternidade para bebês com peso de nascimento igual ou superior a 2 kg. ELUCIDAR A ADAPTAÇÃO FISIOLÓGICA DA CIRCULAÇÃO CARDIOPULMONAR NO NASCIMENTO RESPIRAÇÃO - GUYTON Com o nascimento, o bebê perde a conexão placentária com a mãe e, portanto, perde seu meio de suporte metabólico e um dos ajustes necessários ao bebê é começar a respirar. A criança começa a respirar dentro de segundos e atinge ritmo respiratório normal em menos de 1 minuto após o nascimento. A prontidão com que o feto começa a respirar indica que a respiração é iniciada pela repentina exposição ao mundo exterior, provavelmente resultante de estado levemente asfixiado, incidente ao processo do nascimento e de impulsos sensoriais que se originam na pele subitamente resfriada. Em bebê que não respira imediatamente, o corpo fica progressivamente mais hipóxico e hipercápnico, o que representa estímulo adicional ao centro respiratório e, geralmente, provoca a respiração dentro de mais 1 minuto depois do nascimento. Quando o bebê nasce, as paredes dos alvéolos estão colapsadas devido à tensão superficial do líquido viscoso no interior deles. Para abrir esses alvéolos colapsados, é necessário mais de 25 mmHg de pressão inspiratória negativa para dilatar esses alvéolos pela primeira vez e, após isso, uma respiração com movimentos respiratórios mais fraco consegue se manter. Apesar disso, as primeiras inspirações do RN normal são muito potentes, geralmente capazes de criar uma pressão negativa de até 60 mmHg no espaço intrapleural. Na primeira respiração, para haver o aumento do volume de ar, é necessário que a pressão muito negativa (-40 centímetros de água) e aumenta até -60 cm de água que faz com que aumente um volume próximo de 40 mL de ar para dentro dos pulmões, e para desinfla-los é preciso que ocorra uma pressão positiva considerável, em cerca de +40 cm de água, devido à resistência viscosa oferecida pelo líquido nos bronquíolos. Após isso, a segunda respiração já necessita de pressões positivas e negativas muito menores que para a primeira respiração. Após 40 min respirando, o esforço para pressão é parecido com o de um adulto normal. AJUSTES CIRCULATÓRIOS – GUYTON Os ajustes circulatórios imediatos ao nascer são muito importantes também para permitir o fluxo sanguíneo adequado aos pulmões. ESTRUTURA ANATÔMICA DA CIRCULAÇÃO FETAL Como durante a vida fetal os pulmões não funcionam e o fígado é apenas parcialmente funcional, o coração não bombeia sangue em grande quantidade para esses dois destinos. O coração fetal bombeia sangue preferencialmente em grande quantidade para a placenta. Para isso, a circulação fetal usa dispositivos especiais para que opere bem: shunts (ducto venoso, canal arterial, forame oval e seio portal). Lavínia Araújo O sangue oxigenado vem pela veia umbilical para feto e atravessa o ducto venoso (isso deixa o fígado de fora do circuito sanguíneo). Esse sangue consegue chegar diretamente por isso na veia cava inferior que caminha até o átrio direito do coração. A maior parte do sangue que entra no átrio direito passa de forma direta para o átrio esquerdo através do forame oval. É dessa forma que o sangue oxigenado entra no lado esquerdo do coração para ser bombeado pelo ventrículo esquerdo par aa cabeça e para os membros anteriores. A volta do sangue (desoxigenado) pela veia cava superior entra no átrio direito e é direcionado para o ventrículo direito pela valva atrioventricular tricúspide. Esse sangue é bombeado então para a artéria pulmonar, que, nela, encontra o ducto arterioso, por onde se conecta à aorta descendente e, se conecta às artérias umbilicais e devolve o sangue para a placenta. MUDANÇAS NA CIRCULAÇÃO FETAL AO NASCIMENTO A valva do forame oval que permite a passagem do sangue do átrio direito para o átrio esquerdo. A pressão no átrio direito é maior que a pressão do átrio esquerdo. Mas porquê? O átrio direito é a região que está diretamente relacionada com os pulmões pela comunicação da circulação. Durante o período fetal, os pulmões estão colapsados, dessa forma, a resistência ao fluxo sanguíneo é muito alta, o que torna a pressão pulmonar no feto. Isso torna a pressão em átrio direito muito alta também. Já o átrio esquerdo está conectado com a circulação sistêmica e consequentemente com a placenta que é uma circulação de baixa resistência e pressão. Isso faz com que o átrio esquerdo também seja. Por meio disso que o sangue flui da direita para a esquerda. Com a saída da placenta e a insuflação pulmonar, as pressões nos átrios se invertem e com isso há o fechamento funcional do forame oval. Com a insuflação de ar pelos pulmões, isso causa a queda da resistência vascular pulmonar e o aumento da PaO2 e com a saída da placenta há a diminuição das prostaglandinas. Dessa forma, a pressão na artéria pulmonar cai, enquanto aumenta na aorta. Isso causa uma contração do canal arterial devido à concentração de oxigênio do sangue aórtico, que passa a fluir por ele, seja cerca de duas vezes maior que a do sangue que flui da artéria pulmonar para o canal arterial durante a vida fetal. Presumivelmente, o oxigênio provoca a contração do músculo na parede do canal arterial. ABORDAR SOBRE A FISIOPATOLOGIA DOS FATORES QUE ACONTECEM ASFIXIA NO NEONATO. RETARDO NA RESPIRAÇÃO -GUYTON O que pode causar? Mães que foram deprimidas com anestésicos gerais durante o trabalho de parto, pois pode anestesiar o feto e, com isso, o surgimento da respiração pode demorar alguns minutos, demostrando assim, a importância de usar mínima anestesia possível. Lavínia Araújo Além disso, trauma cefálico no bebê durante a expulsão dele pode causar uma hemorragia intracraniana ou uma contusão cerebral pode gerar uma concussão que deprime o centro respiratório. Outro motivo é o parto prolongado que, por aumentar o tempo em hipóxia, e esse maior tempo em hipóxia faz com que haja uma depressão no centro respiratório. A hipóxia ocorre com frequência durante o parto devido compressão do cordão umbilical, separação prematura da placenta, contração excessiva do útero (pode cortar o fluxo de sangue da mãe para a placenta e anestesia excessiva da mãe, o que deprime a oxigenação de seu próprio sangue. GRAU DE HIPÓXIA QUE O BEBÊ PODE TOLERAR Um adulto sem respirar por 4 minutos falece, mas um recém- nascido consegue sobreviver por até 10 minutos sem respirar depois de nascer. O comprometimento cerebral grave e permanente ocorre quando a respiração demora entre 8 a 10 minutos. As lesões se desenvolvem no tálamo, nos colículos inferiores e em outras áreas do tronco encefálico, afetando muitas funções motoras corporais. SÍNDROME DA ANGÚSTIA RESPIRATÓRIA Uma parte dos bebês, especialmente os prematuros e filhos de mães diabéticas, desenvolve a síndrome da angústia respiratória grave nas primeiras horas até os primeiros dias do nascimento. Os alvéolos desses bebês contêm grande quantidade de líquido proteináceo. É chamado de doença da membrana hialina porque histologicamente o material que preenche os alvéolos se assemelha a uma membrana hialina. Um achado dessa síndrome é uma falha na produção de surfactante pelo epitélio respiratório em quantidades adequadas. Esse surfactante possui a função de reduzir a tensão superficial dos alvéolos o que permite a expansão fácil durante a inspiração e é produzido pelos pneumócitos tipo II. Os pneumócitos tipo II não começam a secretar surfactante até os últimos 1 a 3 meses de gestação. Assim, muitos bebês prematuros e alguns bebês nascidos a termo nascem sem a capacidade de secretar surfactante suficiente, o que causa tanto tendência a colapso dos alvéolos como desenvolvimento de edema pulmonar. O surfactante é formado de fosfatildilcolina saturada e insaturada, lipídios neutros, proteínas, fosfatidilglicerol e outros fosfolipídeos. CONCEITO – MARCONDES Asfixia perinatal é caracterizada pela deficiência no suprimento de oxigênio tecidual. Ocorre geralmente no período que antecede o parto ou mesmo durante o trabalho de parto. Clinicamente, a asfixia é caracterizada por uma sequência de eventos que dependem da intensidade e da duração dos fatores desencadeantes. 1. Índice de Apgar baixo no primeiro minuto de vida (à custa de uma FC < 100 bpm, frequência respiratória irregular ou ausente com cianose), não responsivo às manobras de reanimação irregular → ≤ 5 2. Exame neurológico alterado nos primeiros dias de vida 3. Acidemia com aumento de lactato sérico 4. Disfunção de múltiplos órgãos FISIOPATOLOGIA O feto depende da placenta para suas trocas gasosas e, embora seus tecidos apresentem baixo conteúdo de oxigênio, seu metabolismo normalmente não chega a ser hipóxico, mantendo-se aeróbio por causa da hemoglobina fetal que tem afinidade elevada por oxigênio, pelo mecanismo adaptativo de velocidade de perfusão nos tecidos fetais (maior do que no adulto) e pelo baixo consumo tecidual de oxigênio (por necessidade de termorregulação e esforço respiratório baixos). Durante o trabalho de parto. em geral. ocorre algum grau de asfixia, ocasionada pela redução da perfusão sanguínea placentária a cada contração, com consequente queda das trocas gasosas, ocasionando hipoxemia e hipercapnia transitórias. Esses efeitos são recuperáveis a cada intervalo entre as contrações, porém são cumulativos: quanto maior a duração do trabalho de parto, maiores serão a hipoxemia, a hipercapnia e a acidemia resultantes. Quando existe queda no suprimento de oxigênio tecidual (asfixia perinatal), mesmo que transitória e leve (depressão neonatal), ocorre resposta imediata e fisiológica para evitar o dano permanente. Essa resposta consiste basicamente de uma alteração circulatória e hemodinâmica. O feto e o recém-nascido respondem com aumento do fluxo direito-esquerdo através do forame oval e redistribuição do fluxo sanguíneo, havendo desvio preferencial para a cabeça e o coração, com redução do fluxo para os órgãos não vitais. O consequente aumento da resistência vascular periférica eleva a pressão sanguínea na fase precoce do período da asfixia, e essa se manterá elevada enquanto o miocárdio puder suportar o débito cardíaco. Com a continuidade desse processo, ocorre aumento da hipóxia e da acidose, e o miocárdio entra em falência, causando queda tanto no débito cardíaco quanto na pressão sanguínea; verifica-se também alteração no padrão respiratório, que se inicia com movimentos respiratórios irregulares (de aparecimento ainda intrauterino), seguidos de apneia de curta duração (30 segundos a 1 minuto), conhecida como apneia primária. Se o processo de asfixia não for corrigido, a respiração continuará irregular e cessará após 3 a 4 minutos, caracterizando a apneia secundária. Nesse momento, o óbito ocorrerá, a menos que sejam instituídas as manobras de reanimação. Lavínia Araújo Na asfixia provocada por diversos processos, observar-se a seguinte sequência de fatos: 1. Hipoxemia inicial. 2. Alterações circulatória e hemodinâmica adaptativas: redistribuição do fluxo sanguíneo para manter as circulações cerebral e miocárdica, por redução na resistência vascular desses órgãos e aumento na resistência vascular periférica 3. Alteração no ritmo respiratório: apneia primária seguida de apneia secundária. 4. piora da hipoxemia, acidose láctica e hipercapnia: a hipóxia persistente impossibilita o metabolismo celular aeróbio, com formação de ácido láctico e consequente redução do pH; a hipercapnia é favorecida por um somatório de efeitos metabólicos e fisiológicos tais como a presença de acidose, o aumento no fluxo sanguíneo cerebral (reperfusão) e a vasoconstrição periférica. 5. Esgotamento dos mecanismos adaptativos: redução da oferta de oxigênio para órgãos vitais. 6. Disfunção de múltiplos órgãos e sistemas: a. Miocárdio – a hipóxia conduz inicialmente à diminuição da atividade metabólica do miocárdio (por redução do metabolismo aeróbio e início do anaeróbio), com queda na frequência cardíaca (observada somente em recém-nascidos de termo) por ativação vagal e estímulo de barorreceptores arteriais periféricos, sendo seguida de ativação transitória do sistema nervoso autônomo simpático, com taquicardia de curta duração; após o esgotamento dessa fase, ocorre redução progressiva do glicogênio cardíaco (para a produção de energia por meio da glicólise), com queda progressiva da frequência cardíaca, liberação de enzimas do músculo cardíaco e repercussões na repolarização; finalmente, o choque cardiogênico sobrevém por esgotamento energético, associado às alterações hemodinâmicas que se repercutem no retorno venoso. b. Pulmão – a hipóxia favorece a persistência do padrão fetal circulatório, mantendo o "shunt" direito-esquerdo através do forame oval e do canal arterial, caracterizando o quadro de hipertensão pulmonar persistente. Além disso, a vasoconstrição pulmonar, decorrente da hipóxia e da hipercapnia, pode resultar em isquemia pulmonar, lesão celular e redução do surfactante alveolar. c. Rim - a vasoconstrição persistente ocasiona isquemia no túbulo proximal que, associada à presença de mioglobina, liberada das fibras musculares, pode causar necrose tubular aguda. d. Trato gastrintestinal – vasoconstrição persistentegera a isquemia mesentérica favorecendo a enterocolite necrosante. e. Alterações hematológicas – coagulação intravascular disseminada ocorre principalmente pela presença de hipotensão, associada à acidose e à hipóxia por estímulo direto do fator antiplaquetário. f. Alterações metabólicas – hipoglicemia ocorre por aumento na glicólise anaeróbia inerente à hipóxia; hipocalcemia ocorre por aumento da calcitonina que é estimulada pelo estresse, o qual libera cortisol, catecolaminas e glucagon, substâncias que atuam no estímulo da calcitonina. g. Sistema nervoso central – os mecanismos de lesão cerebral, embora ainda não muito claros na sequência dos eventos, envolvem múltiplos aspectos, sendo a encefalopatia hipóxico- isquêmica caracterizada por aspectos neuropatológicos e clínicos, que estão descritos separadamente pela importância que apresentam. ENCEFALOPATIA HIPÓXICO-ISQUÊMICA O funcionamento adequado dos neurônios depende da oferta de oxigênio e de glicose, que são substratos para a produção de moléculas ricas em energia, ATP e fosfocreatina. Essas moléculas fornecem energia para a manutenção do funcionamento da bomba de sódio, essencial para a estabilização do potencial elétrico da membrana citoplasmática da célula nervosa. Como as reservas de ATP e fosfocreatina do SNC são limitadas, existe necessidade de reposição contínua dessas moléculas. A produção desses compostos é feita por meio da glicólise, cuja reação possui uma fase anaeróbia e outra aeróbia. Durante a asfixia, hipoxemia e isquemia muitas vezes ocorrem concomitantemente ou em sequência a ela, sendo que, em geral, a hipercapnia está presente. O mecanismo de isquemia para a lesão cerebral no período perinatal parece ser mais importante do que o de hipoxemia, dentre as duas formas de diminuição da oferta de oxigênio. Além disso, o período de reperfusão que se segue provavelmente é mais deletério para o tecido cerebral do que a isquemia. Os possíveis mecanismos bioquímicos para a alteração inicial da função cerebral durante a asfixia são: 1. Alterações regionais da formação de ATP – com hipoxemia, apesar da oferta aumentada inicial de glicose para o cérebro (por aumento do fluxo sanguíneo cerebral inicial), ocorre aumento da glicólise anaeróbia, com redução de ATP; a redução de fosfocreatina e a de fosforilação oxidativa são mais tardias, após a instalação de isquemia, que termina por reduzir o fornecimento de Lavínia Araújo glicose cerebral, aumentando a glicólise anaeróbia e a acidose intracelular (por formação de lactato e de íons hidrogênio). 2. Acúmulo de potássio extracelular – ocorre por alteração na bomba de sódio. 3. Acídose intracelular – durante a glicólise anaeróbia ocorre acidose por formação de lactato e de íons hidrogênio 4. Peroxidação lipídica – ocorre na primeira hora de hipoxemia, sendo o mais tardio dos efeitos deletérios, com consequente alteração na atividade da Na+, K+- ATPase, enzima crucial na regulação do fluxo de íons através das membranas e dependente do fosfolipídeo da membrana celular. Acredita-se que a peroxidação lipídica ocorra por formação de radicais livres formados durante a hipóxia. Esses radicais livres são responsáveis pela peroxidação de ácidos graxos poli-insaturados (PUFA) da membrana citoplasmática e também pelo dano ao DNA e às proteínas que contêm grupos insaturados ou do tipo sulfiril. 5. Fluxo alterado de íons – o aumento do cálcio intracelular desencadeia diversos efeitos deletérios para a célula cerebral, entre eles: hidrólise fosfolipídica, com lesão de membrana celular; ativação do ácido araquidônico, com formação de radicais livres; proteólise dos neurofilamentos, com rotura microtubular; dano nuclear; diminuição da produção de ATP; auto-oxidação das catecolaminas; oxidação das hipoxantinas até ácido úrico, com mais formação de radicais livres; formação de óxido nítrico, com efeito tóxico para os neurônios e ativação de glutamato, que atualmente é reconhecido como o principal fator deletério para o cérebro, causador da morte cerebral. 6. Fluxo alterado de neurotransmissores – mesmo a hipoxemia moderada pode reduzir a síntese de acetilcolina, dopamina, norepinefrina e serotonina. Outros compostos que interferem na neurotransmissão também podem ser afetados, tais como AMP-cíclico, GMP e ácido gama-aminobutírico. FATORES DE RISCO ANTENATAIS INTRAPARTO Diabetes materno Parto cesariano Doença hipertensiva da gestação Trabalho de parto prolongado Hipertensão crônica Trabalho de parto prematuro Sangramento do 2º e 3º trimestre Rotura prolongada de membranas, Descolamento prematuro de placenta e Placenta prévia Infecção materna Fisometria Polidrâmnio e oligodrâmnio Apresentação pélvica Gestação prolongada Segunda fase do trabalho de parto > 2 horas Gestação múltipla Anestesia geral Uso de drogas Narcóticos antes de 4 horas do parto Terapia materna Mecônio Anemia ou isoimunização Prolapso de cordão umbilical O recém-nascido pode ser acometido por problemas intrauterinos, maternos, placentários ou do próprio feto, bem como decorrentes do tipo, intercorrências ou duração do parto, Problemas de origem neonatal são mais raros, mas incluem pneumotórax espontâneo, pneumonia ou obstrução mecânica das vias aéreas, entre outros. Outros fatores podem influenciar o dano causado pela asfixia: 1. Hiperglicemia: a glicose é tóxica para o feto asfixiado, aumentando a acidose. 2. Acidose láctica: leve ou moderada, aparentemente é protetora para o dano cerebral, enquanto a grave piora o desenvolvimento cerebral. 3. Pós-maturidade: pode aumentar o risco de lesão cerebral já existente no recém-nascido asfixiado. 4. Prematuridade: aumenta o risco de necrose periventricular. 5. Crescimento intrauterino retardado: aumenta o risco de lesão pós-asfíxica, por menor habilidade, nesse tipo de recém-nascido, para realizar a fase adaptativa da asfixia. 6. Danos repetidos: episódios repetidos de asfixia atingem também a região do tálamo e do estriado, aumentando o dano cerebral, que é caracterizado como paralisia cerebral coreatetóide. 7. Compressão prolongada do cordão umbilical: a compressão por mais de 10 minutos pode fazer com que o dano cerebral possa atingir a região do hipocampo. DISCORRER SOBRE ALOJAMENTO CONJUNTO (PRINCÍPIOS E CRITÉRIOS) E EXAMES REALIZADOS (OLHINHO, ORELHINHA E CORAÇÃO) O Ministério da Saúde na portaria de nº 2068 de 21 de outubro de 2016 instituiu as diretrizes para a organização da atenção integral à mulher e ao recém-nascido no Alojamento Conjunto. O Alojamento Conjunto é o local destinado às mulheres clinicamente estáveis e sem contraindicações para a permanência junto ao recém-nascido. QUAIS RECÉM-NASCIDOS VÃO PARA O ALOJAMENTO? 1. Apenas os clinicamente estáveis e com boa vitalidade 2. Idade gestacional maior que 35 semanas 3. Peso maior ou igual a 2000 g 4. Capacidade de sucção 5. Capacidade de controle da temperatura 6. Índice de apgar maior que 6 no quinto minuto Lavínia Araújo Nesse período, portanto, o profissional de saúde deve favorecer ao máximo o contato íntimo, pele a pele, entre mãe e bebe, evitando procedimentos desnecessários ou que possam ser realizados mais tarde. A separação da mãe e do bebe e a sedação da mãe privam o binômio desse momento tão especial. Após a finalização dos procedimentos de sala de parto, a mãe e o RN devem ir para um local dentro da maternidade que permita a eles ficarem juntos 24 horas por dia até a alta hospitalar. Para isso, foi implantado o sistema de alojamento conjunto nas maternidades. VANTAGENS – ATENÇÃO À SAÚDE DO RN Humanização do atendimento mãe-filho e sua família; Convivência contínua entre a mãe e o bebê favorece o conhecimento mútuo e a satisfação imediata das necessidades físicas e emocionais do RN. Os bebês no alojamento conjunto dormem mais e choram menos do que os de berçário; Ocorre um maior envolvimento dospais no futuro cuidado com a criança; Promove o vínculo precoce entre mãe e filho → aumenta a ligação afetiva e reduz auso e negligência infantil e de abandono da amamentação; Promoção do aleitamento materno → aumenta a velocidade da descida do leite materno e o tempo mais prolongado de amamentação; Oportunidade para as mães, em especial as primigestas, de aprenderem as noções básicas dos cuidados com o RN; Tranquilidade das mães que ficam inseguras quanto ao atendimento prestado a seus filhos quando não estão perto deles → a ansiedade pode inibir a ocitocina e dificultar a liberação do leite, e enquanto o choro costuma estimular o reflexo de ejeção do leite; Troca de experiência com outras mães quando compartilham o mesmo quarto, em especial com mães mais experientes que também estão cuidando dos seus filhos; Maior interação entre a mãe e a sua família e os profissionais de saúde; Diminuição do risco de infecção hospitalar. ATRIBUIÇÕES DA EQUIPE DE SAÚDE Deve-se encorajar o aleitamento materno sob LIVRE DEMANDA Não dar ao RN NENHUM OUTRO ALIMENTO OU BEBIDA, ALÉM DO LEITE MATERNO (a não ser que seja indicada pelo médico) Não dar bicos artificiais ou chupetas às crianças amamentadas no seio. Durante o estabelecimento da amamentação, esses artefatos podem causar confusão de bicos pelo uso da boca e língua para sugar a mamadeira e chupeta Orientar as mães para que não amamentem outros RNs que não os seus (amamentação cruzada) e não permitir que outras mães amamentem seu filho para prevenção de contaminação de crianças com possíveis patógenos que podem ser encontrados no leite materno (INCLUSIVE O HIV) Realizar visitas diárias para esclarecer e orientar a mãe, dando segurança quanto ao estado de saúde do filho Permanência de no mínimo 48 horas no alojamento conjunto para oportunidade de aprendizado para as mães durante sua permanência e detecção de complicações pós-parto e afecções neonatais. O atendimento do RN deve ser feito na presença da mãe e, sendo o primeiro contato com a família, apresentar-se a eles O acompanhante deve participar do atendimento sempre que for possível e adequado para estímulo do apoio à mãe BOAS PRÁTICAS Deve haver o acolhimento com o atendimento humanizado e seguro às mulheres, aos RNs, aos acompanhantes, aos familiares e aos visitantes. Acolher implica recepcionar o usuário, desde sua chegada, responsabilizando-se integralmente por ele, ouvindo suas queixas, permitindo que ele expresse suas preocupações e angústias, e dando-lhe respostas adequadas. Deve haver a comunicação pois deve haver a competência de saber passar a informação com clareza e eficiência usando a técnica de aconselhamento. Deve-se usar artifícios para o aconselhamento: 1. Linguagem não verbal → sorrir, balançar a cabeça afirmativamente 2. remover as barreiras físicas → mesa, papéis para maior aproximação 3. usar linguagem simples e acessível 4. dar espaço para a mãe se expressar → necessário saber ouvir 5. demonstrar ter empatia 6. evitar palavras que soem como julgamento 7. aceitar e respeitar os sentimentos e as opiniões das mães sem precisar concordar e discordar 8. reconhecer e elogiar as situações em que a mãe e o bebê estão indo bem 9. oferecer poucas informações em cada aconselhamento 10. fazer sugestões ao invés de ordem 11. oferecer ajuda prática 12. conversar com as mães sobre suas condições de saúde e as do bebê, explicando os procedimentos e condutas ORIENTAÇÕES AMAMENTAÇÃO Lavínia Araújo Deve ser abordado a: Importância do aleitamento materno e as desvantagens da introdução alimentar precoce Recomendação quanto à duração da amamentação (dois anos ou mais e exclusividade até os 6 meses) Importância do aleitamento em livre demanda Flexibilidade quanto ao tempo de permanência em cada mamada Prevenção de problemas sobre a amamentação Manutenção de hábitos saudáveis pela mãe Ordenha do leite Checar o posicionamento da amamentação: 1. mãe em posição confortável 2. rosto do bebê de frente para a mama e com o nariz na altura do mamilo 3. bebê com a cabeça e tronco alinhados (pescoço não torcido) 4. corpo do bebê próximo ao da mãe Pega: 1. boca do bebê bem aberta com o lábio inferior virado para fora 2. mais aréola visível acima da boca do bebê 3. queixo tocando a mama USO DE MAMADEIRA Água, chás e outros leites devem ser evitados. USO DE CHUPETA A chupeta tem sido desaconselhada pela possibilidade de interferir negativamente na duração do aleitamento materno, entre outros motivos. O uso de chupeta está associado a uma maior ocorrência de candidíase oral, de otite media e de alterações do palato. COMPORTAMENTO NORMAL DO RN É importante enfatizar para a mãe que cada bebê e único, respondendo de maneiras diferentes as diversas experiencias. Comparações com filhos anteriores ou com outras crianças devem ser evitadas, podendo inclusive interferir na interação entre a mãe e o bebê. Muitas mães se queixam de que seus bebes “trocam o dia pela noite”. As crianças, quando nascem, costumam manter nos primeiros dias o ritmo ao qual estavam acostumadas dentro do útero. INTERAÇÃO COM O BEBÊ A interação entre a mãe e seu bebê nos primeiros dias é muito importante para uma futura relação sadia. A mãe e os futuros cuidadores da criança devem ser orientados a responder prontamente às necessidades do bebê, não temendo que isso vá deixá-lo “manhoso” ou excessivamente dependente mais tarde. Carinho, proteção e pronto atendimento das necessidades do bebê só tendem a aumentar sua confiança, favorecendo sua independência em tempo apropriado. LIMPEZA DO COTO UMBILICAL Sempre após a troca de fralda. POSIÇÃO DO BEBÊ PARA DORMIR Por em decúbito dorsal e orientar de forma clara quanto ao posicionamento recomendado do bebê para dormir. Está bem documentada a associação entre síndrome da morte súbita do lactente e posição prona. Existe temor entre pais e profissionais de saúde quanto à possibilidade de aspiração dos bebês quando colocados em decúbito dorsal. No entanto, estudos mostram que não houve aumento da frequência de aspiração após a recomendação de colocar as crianças para dormir nessa posição. Apesar dessa recomendação, mesmo em hospitais-escola com programas de residência médica em Pediatria, a posição para dormir mais utilizada no alojamento conjunto de maternidades brasileiras é a de decúbito lateral, assim como também a mais recomendada, erroneamente, em orientação verbal, na alta hospitalar. ACOMPANHAMENTO DA CRIANÇA Toda criança deve sair da maternidade com a primeira consulta marcada de preferência na primeira semana de vida. Orientados quanto à importância do teste do pezinho, realizado entre o 3º e 5º dia de vida. A Caderneta da Criança é distribuída gratuitamente a todas as crianças nascidas no território nacional, nas maternidades públicas ou privadas. Antes da alta hospitalar, a caderneta deve ser preenchida com as condições de parto e nascimento pelo profissional que atendeu o RN e explicado o conteúdo aos pais. TRIAGEM NEONATAL Triagem é um método de detecção através de testes aplicados para avaliara a probabilidade elevada de apresentar determinadas patologias. Para triar, deve ser uma doença frequente, sem achados clínicos precoces e de melhora clínica com o tratamento. Lavínia Araújo TESTE DO OLHINHO Teste simples, rápido e indolor. Avalia a leucocoria (pupila branca) através do reflexo da superfície retiniana. Avalia em um ambiente com pouca luz e usando um o oftalmoscópio. Identificar um reflexo vermelho que aparece quando um feixe de luz ilumina o olho do bebê numa sala em penumbra. Numa distância de 50 a 100 cm ao mesmo tempo em ambos os olhos. Pode detectar qualquer alteração que cause obstrução no eixo visual como catarata, glaucoma congênito, retinocoroidite e retinoblastoma (FILHA DE THIAGO LEIFERT). O diagnóstico precoce pode possibilitaro tratamento no tempo certo e garantir o desenvolvimento normal da visão. Deve ser feito nas primeiras 24 horas de vida. Se houver alteração, enviar para o oftalmologista. Encaminhar pelo sistema Hygiaweb. Deve ser feito em toda consulta de puericultura. TESTE DO CORAÇÃOZINHO A cardiopatia congênita é a malformação congênita mais comum e ocorre em 1% dos recém-nascidos vivos e corresponde à 10% dos óbitos infantis e a mortalidade aumenta quando não identificada no nascimento. Faz uma triagem para as cardiopatias críticas → decorrem do fechamento do canal arterial. Deve ser feita a oximetria de pulso de forma rotineira em recém- nascidos aparentemente saudáveis com idade gestacional maior do que maior 34 semanas tem se mostrado um instrumento de rastreamento de elevada especificidade e moderada sensibilidade para detecção de cardiopatias. O Teste do Coraçãozinho consiste em medir a oxigenação do recém-nascido com o auxílio de um oxímetro de pulso no membro superior direito e membro inferior do bebê (esquerdo ou direito) entre 24 e 48h de vida e antes da alta hospitalar. Caso algum problema seja detectado, a criança deverá ser encaminhada para avaliação clínica especializada cardiológica, bem como para realização de exames mais específicos (ecocardiograma) visando ao diagnóstico definitivo. O teste pode ser realizado em recém-nascidos que nasceram fora do ambiente hospitalar, utilizando-se um oxímetro portátil com sensor neonatal adequado e deverá ser interpretado da mesma maneira dos exames realizados intrahospitalar. Caso a SatO2 seja > 95% ou a diferença entre as medidas seja de ≤ 3 %, tem o seguimento neonatal de rotina (NORMAL). Caso a SatO2 seja 90-94% em qualquer medida e a diferença entre as medidas seja de ≥ 4%, deve repetir o teste em até 1 hora (até 2 vezes) pois é um resultado duvidoso. Caso a SatO2 seja ≤ 89% em qualquer medida, deve enviar para a avaliação cardiológica e ecográfica para diagnóstico de cardiopatias dependentes de canal. TESTE DA ORELHINHA Feito preferencialmente entre 24h e 48h Identifica possíveis problemas auditivos no recém-nascido. Gera a produção de um estímulo sonoro e a avaliação da captação do seu retorno por meio de uma sonda introduzida na orelha. Permite um desenvolvimento neuronal correto, melhor rendimento escolar, autoestima e adaptação psicossocial. Desde 2010 é determinado por lei que nenhuma criança saia da maternidade sem ter feito o teste, que é gratuito. As crianças nascidas fora do ambiente hospitalar devem fazê-lo antes de completarem 3 meses de vida. O Teste da Orelhinha é realizado com o bebê dormindo, em sono natural, é indolor e não machuca, não precisa de picadas ou sangue do bebê, não tem contraindicações e dura em torno de 10 minutos. Hygiaweb para encaminhar. Lavínia Araújo DETALHAR O MECANISMO DA ICTERÍCIA NEONATAL ICTERÍCIA NEONATAL- SBP É a coloração amarelada da pele e das conjuntivas definida pela concentração sérica de bilirrubina indireta > 1,5 mg/dL ou de bilirrubina direta > 1,5 mg/dL, desde que mais que 10% do valor da bilirrubina total. Na avaliação clínica é visível quando o nível de BT sérica excede 5 mg/dL. Pelo fato da BI ser lipossolúvel, ela consegue acumular em SNC e levar a um quadro de encefalopatia bilirrubínica, complicação grave. Estima-se que na década de 2000 tenha ocorrido 1 caso de encefalopatia bilirrubínica para cada 40000 a 150000 nascidos vivos. Na prática, 85% dos RN a termo e a maior parte dos prematuros desenvolvem icterícia clínica. METABOLISMO DA BILIRRUBINA A hemoglobina das hemácias é degradada em heme. A heme sofre ação da heme oxigenase e se converte em biliverdina que sofre ação da biliverdina redutase e gera a bilirrubina indireta. A BI circula acoplada à albumina. Ao chegar no hepatócito, a BI é captada e a albumina volta para a circulação. Dentro do hepatócito, a BI se combina ao ácido glucorônico pela enzima UGT1A1 (glucoroniltransferase). A união dessas duas substâncias gera a bilirrubina direta que pode ser excretada. Em geral, a BD sofre ação das bactérias enterócitas e forma o urobilinogênio que pode virar urobilina e é excretado pelos rins ou pode virar estercobilinogênio e depois estercobilina e ser eliminado pelas fezes. FISIOPATOLOGIA - SBP Durante a vida fetal, o feto produzia bilirrubina indireta por ser lipossolúvel e poder eliminar diretamente pela placenta. Ao nascer, o RN precisa agora conjugar essa bilirrubina para eliminá-la pelo sistema biliar e trato gastrointestinal. O RN tem maior suscetibilidade à icterícia por apresentar falhas no metabolismo da bilirrubina. O RN possui uma maior carga de bilirrubina indireta no hepatócito associada a uma menor captação, conjugação e excreção hepática da bilirrubina. Isso decorre do fato do RN ter um trato gastrointestinal estéril (menor flora intestinal) e uma maior quantidade de beta glucoronidase (responsável pela desconjugação da BD em BI e é fornecida pelo leite materno). A sobrecarga de bilirrubina ocorre pela maior quantidade de bilirrubina indireta (o RN produz de 2 a 3 vezes mais que o adulto) decorrente da maior quantidade proporcional de hemoglobina e menor vida média das hemácias do RN. ETIOLOGIA As principais etiologias são as: 1. icterícia fisiológica 2. icterícia pelo aleitamento materno 3. síndrome da icterícia do leite materno Essas são causas de icterícia que levam a icterícia tardia (após às 24h). ICTERÍCIA FISIOLÓGICA No RN à termo começa após as 24h de vida, com pico do 3º ao 4º dia e no máximo de 12 mg/dL e se normaliza em 7 dias. No pré-termo também tem início após 24h, porém com um pico mais tardio (do 4º ao 7º dia), com um máximo de 15 mg/dL e se normaliza entre 10 a 30 dias. Possui fatores de risco definido pela: 1. idade materna 2. descendentes asiáticos 3. DMG 4. Prematuridade 5. Extravasamento de sangue 6. Perda de peso 7. Retardo para evacuar ICTERÍCIA PELO ALEITAMENTO MATERNO Pode ocorrer durante a primeira semana de vida. Devido à dificuldade de sucção ou pela pouca oferta láctea, o RN pode perder peso (>7%) e gerar desidratação. Esse quadro leva a um aumento da circulação entero-hepática, que sobrecarrega a bilirrubina no hepatócito e um aumento da bilirrubina indireta. SÍNDROME DA ICTERÍCIA PELO LEITE MATERNO Predisposição genética à icterícia em que as substâncias presentes no leite materno ativam fenótipos associados a uma menor atividade da enzima UGT1A1 (que une a BI com o ácido glucorônico) → o leite materno age como um modificador ambiental para os fenótipos. Lavínia Araújo Se inicia ainda na primeira semana entre 3 e 5 dias de vida e atinge o pico após 2 semanas, quando começa a declinar. Não é necessária intervenção nesse tipo de icterícia e não deve desaconselhar o aleitamento. Nesse caso eu tenho um bebê com bom estado geral e bom ganho pondero-estatural. É UM DIANGÓSTICO DE EXCLUSÃO. QUADRO CLÍNICO 1. Icterícia a. Progressão cefalocaudal b. Avaliação pelas zonas de kramer COMPLICAÇÕES DA BI A mais temida é a encefalopatia bilirrubínica que gera uma lesão cerebral pela BI nos gânglios da base. Possui duas fases clínicas: 1. Aguda → ocorre nos primeiros dias e perdura por semanas, com letargia, hipotonia e sucção débil com evolução para hipertonia com hipertermia (faz um retroarqueamento do pescoço e tronco com progressão para apneia, coma, convulsões e morte) e choro estridente 2. Crônica → as que sobrevivem apresentam a forma crônica com tétrade paralisia cerebral atetoide grave, neuropatia auditiva, paresia vertical do olhar e displasia dentária (pode haver retardo mental) DIAGNÓSTICO Dosagem de bilirrubina total e frações Hemoglobina e hematócrito Reticulócitos → saber como a medula responde à destruição das hemácias Tipagem sanguínea da mãe e do recém-nascido ZONAS DE RISCO Classifica-se pelo normograma de Buthani. Avalia zonas de riscode icterícia. Deve se preocupar se a dosagem de bilirrubina sérica estiver na zona de risco intermediário alto e de alto risco AVALIAÇÃO DA ICTERÍCIA Deve avaliar os fatores de risco e examinar o RN 8 a 12 horas. Caso seja uma icterícia precoce, deve colher exames e partir para o tratamento com a fototerapia. Caso seja uma icterícia tardia, deve-se: 1. Se for de zona < 2, deve ser feita apenas a observação clínica de 8 a 12 horas 2. Se for zona ≥ 2, deve-se colher os exames para avaliação da zona de risco: a. Se for > p75 Buthani, deve ser feita a fototerapia b. Se for < 75 Buthani, deve ser feita apenas a observação clínica ALTA Icterícia em zona de risco intermediário baixo ou baixo Após 48h sem icterícia ou icterícia zona I SEMPRE DEVE AGENDAR UM RETORNO AMBULATORIAL EM 48 A 72H PARA AVALIAR SE NÃO HOUVE DEPOIS PELA ICTERÍCIA PELA SÍNDROME DO LEITE MATERNO E PELO LEITE MATERNO FOTOTERAPIA Utiliza a tabela guia para com base nos níveis de bilirrubina: Lavínia Araújo A partir de nível maior ou igual aos tabelados, para tantas horas de vida, utiliza a fototerapia. Para fatores de neurotoxicidade, diminui o valor referência em 2 mg/dL. COMO FUNCIONA A FOTOTERAPIA A bilirrubina indireta na pele sofre a ação da luz azul e sofre uma fotoisomerização e se converte na bilirrubina-4Z,15E que pode ser excretado pela bile mais facilmente. Também leva à um isômero geométrico → lumirrubina que leva à excreção pela urina. A eficácia depende do comprimento da onda de luz, da irradiância espectral, da distância entre as luzes e o recém-nascido, superfície de pele exposta. São necessários cuidados: 1. Temperatura do RN devido ao fato de ser feito de fralda 2. Oferta hídrica pelo aumento de perdas insensíveis (estimulação do aleitamento) 3. Proteção ocular radiopaca pela exposição da luz aos olhos correndo risco de lesão nos olhos PROBLEMA 1 – FECHAMENTO DISCORRER SOBRE A 1ª CONSULTA DE PUERICULTURA (EXAME FÍSICO, NEUROLÓGICO E VARIAÇÕES PATOLÓGICAS) ANAMNESE – MANUAL DE NEONATOLOGIA As informações obtidas na anamnese são direcionadas para informar os riscos aos quais o bebê está exposto e preparar a equipe para oferecer a melhor condição de nascimento de cada bebê. O acompanhamento materno deve ser iniciado bem antes do parto para ao final da gestação haver condições e informações suficientes para oferecer a melhor atenção e cuidado ao RN. Portanto, após o parto, haverá informes suficientes para adequado encaminhamento do RN (alojamento conjunto, CTI e UTI neonatal) e quais condutas deverão ser tomadas e quais orientações deverão ser feitas. Tópicos: 1. Identificação do RN Como ainda não foi registrado em cartório, identifica-se como RN de “nome da mãe”. Data e hora de nascimento são importantes para avaliar a evolução do RN e diferenciar alterações que podem ser consideradas fisiológicas ou patológicas a depender do tempo de vida (icterícia) 1. Informações da mãe e Informações do pai Idade, escolaridade, ocupação, estado civil ajudam a levantar informações a respeito de aspectos psicossociais da dinâmica familiar que o RN irá se inserir 2. Antecedentes familiares Avalia presença de alterações genéticas, anomalias congênitas ou patologias cromossômicas. Histórico familiar para DM, HAS, nefropatias, doenças reumáticas, aterosclerose, doenças mentais, hemorragias, distúrbios metabólicos e alergias. Infecções congênitas Grupo sanguíneo dos pais Hábitos maternos e paternos relacionados à bebida, fumo e uso de drogas. Questionar existência de irmãos RN e se todos são saudáveis. 3. Antecedentes maternos Uso de medicamentos, presença de histórico de depressão/tristeza ou violência e condição de saúde 4. História gestacional Informações sobre paridade, abortos, número de gestações, idade materna do último parto (intervalos < 6 meses e ≥ 6 anos são fatores de risco, assim como primigesta < 17 anos ou > 30 anos), peso do maior filho ao nascer (presença de macrossomia em > 4000 g). Indagar se ocorreram mortes perinatais, se teve filhos prematuros, com baixo peso ao nascer ou com malformações. Para aqueles que possam ter apresentado icterícia neonatal, diferenciar entre fisiológica ou patológica e saber se foi necessário fazer alguma terapia. Houve casos de hidropsia? Como se passou o puerpério? Amamentou bem? Por quanto tempo? Suspendeu o aleitamento por algum motivo? São outros pontos relevantes. 5. Informações gestação atual Idade gestacional: I. pré termo precoce: < 34 semanas II. pré-termo tardio: ≥ 34 semanas e < 37 semanas III. a termo precoce: ≥ 37 semanas e < 39 semanas IV. a termo: ≥ 39 semanas e < 42 semanas V. pós-termo: ≥ 42 semanas Pré-natal: mínimo de 6 consultas intercaladas por médico e enfermeiro, iniciado preferencialmente no primeiro trimestre → atendimento mensal até a 28ª semana, quinzenal da 28ª a 36ª e semanal da 36ª a 41ª. Como se passou a higiene bucal → cárie está associada a parto prematuro. Vacinas: difteria e tétano (DT/DTpa), hepatite B e influenza Medicamentos indicados: vitamina B2, ácido fólico e ferro 6. Intercorrências na gestação atual ITU → uma das principais causas de parto prematuro e deve ser tratada mesmo em pacientes assintomáticas quando identificadas pelo sumário de urina Leucorreia materna → relacionada com parto prematuro LAVÍNIA ARAÚJO @laviarauj DM → pode ser gestacional ou crônica e está relacionada com macrossomia, distúrbios metabólicos, prematuridade, tocotraumatismos Estados hipertensivos: hipertensão arterial crônica e pré- eclâmpsia 7. Exames realizados Preconizados pelo MS: investigação de colonização vaginal e retal por estreptococcus do grupo B. 8. Período pré-natal e pós-natal Questionar sobre parto múltiplo e ordem de nascimento Local de parto Profissional responsável pelo parto e o nome do acompanhante Apresentação da criança Se foi parto vaginal ou cesáreo e indicação Duração do trabalho de parto Tempo de rotura de membranas: ≥ 18h está associado a infecções Caracterização do líquido amniótico: normalmente é claro, transparente ou amarelo pálido e inodoro → pesquisar oligodrâmnio e polidrâmnio 9. Sala de parto Saber se a gestação está a termo e a IG. Anotar se a criança chorou ao nascer, se tinha um bom tônus muscular e se houve eliminação de mecônio (caracterizá-lo). Apgar: avaliar o 1º e o 5º minuto e subsequente a ada 5 minutos caso seja necessário. Clampeamento do coto umbilical: se imediato ou tardio Amamentação na 1ª hora de vida: evita hipoglicemia para o RN, reduz riscos de hemorragia materna, estimula o contato inicial mãe-filho, maior sucesso do aleitamento exclusivo até os 6 meses e estimula o sistema imunológico do RN. 10. Manobras de reanimação Documentar informações como o uso de VPP, concentração de FiO2, se necessitou ser intubado ou se fez aspiração das vias aéreas, uso de epinefrina e expansor de volume. 11. Exame físico na sala de parto 12. Orientações Quanto ao aleitamento, posição do RN no berço, cuidados com o coto umbilical, conduta no caso de cólicas e obstrução nasal, higiene do RN e estímulo ao desenvolvimento, além do retorno após 1 semana de vida. EXAME GERAL - AVERY CONDIÇÕES DO EXAME Normalmente de 5 a 10 minutos, rotineiro, deve ocorrer em ambiente aquecido e tranquilo. A iluminação deve ser suficiente para que sejam visíveis marcas cutâneas e a cor da pele → para incentivar a abertura dos olhos, pode-se diminuir a luminosidade. Em caso de enfermidade, o exame deve ser para investigação da patologia e pode ser necessário adiar passos do exame físico até que a condição clínica do RN esteja estável. A realização do exame na presença de um ou ambos pais oferece oportunidade para explicar quaisquer achados relevantes e esclarecer possíveis duvidas que possam ter. O primeiro exame físico deve ser realizado nas primeiras 24 horas de vida, de preferênciaapós 6 horas do nascimento (período que ocorre a transição para a vida extrauterina). Deve-se retirar acessórios, lavar as mãos e antebraço até o cotovelo com água e sabão (para praticidade e eficácia álcool 70 a 90% também pode ser utilizado). Aproveita os momentos de tranquilidade para avaliar aspectos que podem ser comprometidos pelo choro do bebê. Logo, a sequência cefalo-podálica pode ter sua ordem alterada. ANTROPOMETRIA Avalie o comprimento e o perímetro cefálico da criança. Avalie o peso em relação ao peso ideal ao nascer. Consideram-se normais tanto uma perda de peso de até 10% ao nascer quanto a sua recuperação até o 15º dia de vida. O perímetro cefálico com medidas acima ou abaixo de dois desvios-padrão (< -2 ou > +2 escores “z”) pode estar relacionado a doenças neurológicas, como microcefalia (de causa genética ou ambiental) e hidrocefalia, o que exige, portanto, melhor avaliação e encaminhamento. ASPECTO GERAL – MANUAL DE NEONATOLOGIA Avaliar a atitude do RN: semiflexão dos membros com lateralização da cabeça. Estado de hidratação: Deve ser avaliado pela umidade da mucosa oral, temperatura e adequada diurese → lembrar que edema de pálpebra é fisiológico nessa faixa etária. Presença de alterações: Avaliar desconforto respiratório: 1. Batimento das asas nasais 2. Retração da fúrcula esternal 3. Movimentação dos músculos intercostais 4. Cianose central 5. Alterações na FR 6. Presença de gemidos durante a respiração 7. Choro fraco INSPEÇÃO A avaliação imediata do bem-estar provém de simplesmente observar o estado, a cor, o esforço respiratório, a postura e a atividade espontânea. ESTADO Os indicadores importantes de bem-estar são os níveis de vigília que ele atinge durante o exame e ao longo do dia conforme a discrição dos pais ou da equipe de enfermagem. Categorização dos estados: 1. Sono profundo 2. Sono leve 3. Vigília, movimentos periféricos leves 4. Vigília, movimentos amplos, sem choro 5. Vigília com choro Durante o exame, o RN deve apresentar vários níveis de vigília. As condições do exame são ótimas durante o sono leve e estado de vigília → as partes do exame que exigem cooperação do RN (ausculta ex) são melhores durante o sono e vigília e os que exigem manipulação do RN devem ser deixadas para o fim. O choro não estimulado normalmente é limitado nas primeiras 24 horas e deverá ser resolvido com toque suave ou conversa. Um choro excessivo que requer mais do que consolo rotineiro, particularmente se não houver intervalos de estado alerta quieto, indica irritabilidade anormal, mas outras causas incluem uma resposta apropriada à dor ou a um ambiente frio. COR A avaliação da cor inclui a análise da perfusão e a cor da pele para pesquisa de cianose, icterícia, palidez, pletora (coloração bastante avermelhada) e qualquer outra coloração incomum. ESFORÇO RESPIRATÓRIO Observa-se a frequência respiratória, a profundidade das incursões respiratórias, o uso dos músculos acessórios com retrações ou batimentos da asa do nariz, quaisquer ruídos durante o ciclo respiratório (gemidos, sibilos) e o padrão de choro. POSTURA Enquanto observa a posição do pescoço, o examinador analisa a simetria entre os lados e compara os membros superiores e inferiores. Se houver assimetria lateral e a cabeça estiver virada para um lado, pode ser que exista postura assimétrica do reflexo tônico-cervical, com os membros no lado mentoniano em extensão e os do lado occipital em flexão. Neste caso, deve-se girar a cabeça para o lado oposto a fim de verificar se a assimetria reverte. Um reflexo tônico cervical assimétrico fixo (resistente à inversão passiva) indica anormalidade neurológica. ATIVIDADE ESPONTÂNEA Os RNs prematuros despendem mais tempo dormindo, mas devem ter atividade espontânea e posturas em repouso coerentes com a sua IG. É necessário que a inspeção seja feita antes do manejo para evitar estresse e o declínio dos níveis de atividade em resposta. SINAIS VITAIS TEMPERATURA É incomum febre. FREQUÊNCIA RESPIRATÓRIA E CARDÍACA A respiratória é medida pela observação da parte superior do abdome durante um minuto inteiro. Ao tocar o RN, a frequência e a profundidade respiratórias mudam. A FR normal é de 30 a 60 inspirações por minuto no RN à termo → durante o primeiro dia de vida pode-se observar taquipneia intermitente em alguns RNs normais. A FC é de 110 a 160 bpm em RNs a termo sadios, mas varia significativamente durante os estados de sono profundo e vigília ativa. PRESSÃO ARTERIAL Não é rotina nos berçários neonatais, mas é realizada naqueles que precisam de assistência especial e durante a triagem de coarctação de aorta. Valores coerentes com hipertensão devem ter 3 medições repetidas para confirmar a anormalidade. FÁCIES A avaliação das fácies inclui a pesquisa de simetria, tamanho, forma e as relações de todas as partes da face e como o RN as utiliza. Pode ser atípica ou típica. Típica confere uma alteração sindrômica. Ex: síndrome de Down e síndrome de Cornélia de Lange. PELE E ANEXOS Avalia a textura e umidade: Depende da idade gestacional. Bebê pré-termo tem pele fina e gelatinosa e o bebê a termo tem pele lisa, brilhante úmida e fina e o pós-termo tem a pele seca e enrugada, muitas vezes com descamação. Avalia a cor: Normalmente o RN tem a pele rosada, vista mais evidentemente em crianças com a pele mais clara (eritrodermia fisiológica). Essa coloração decorre do maior número de hemácias. A palidez confere a ideia de anemia e deve ser investigada. Avalia cianose: Bem comum em RN quando presente nas extremidades e melhora com o aquecimento. Cianose central é preocupante estando associada a doenças cardiorrespiratórias. ACHADOS FISIOLÓGICOS: Milium sebáceo → são pontos amarelo-esbranquiçados que aparecem com frequência na base do nariz, queixo, pálpebras e região frontal. É decorrente da obstrução de glândulas sebáceas por ação do estrógeno materno. Desaparecem em poucas semanas. Lanugem → são pelos fins, geralmente presentes próximo à área de inserção dos cabelos e no dorso. Achado mais comum em prematuros, desaparecendo em poucos dias Vérnix caseoso → material gorduroso e esbranquiçado, oferece proteção e isolamento térmico ao RN. Mais comum em bebês pré- termo. Manchas ectásicas → mais comuns nas pálpebras. Ocorre devido à dilatação capilar superficial e desaparece com o crescimento. Mancha mongólica → macnha azul-acinzentada, normalmente no dorso e na região lombossacral e mais frequente em RN com tonalidades escuras. Eritema tóxico → lesões caracterizadas como pápula ou mácula, com causa desconhecida que regride sem nenhuma intervenção (fisiológico). Macha vinho do Porto → leão permanente decorrente de malformação dos capilares. Caracteriza-se por mancha de coloração vinhosa intensa e homogênea que não se altera pelo esforço. Localização frequente na face, geralmente de forma isolada e unilateral. Icterícia → coloração amarelada da pele. Fisiológico se ocorrer entre 48 e 120h de vida. Preocupante se ocorrer antes das 24h de vida. GÂNGLIOS Palpar todas as cadeias ganglionares → principalmente cervicais, axilares e inguinais. MUCOSAS Observar cor, umidade e presença de lesões. CABEÇA E PESCOÇO Procurar assimetrias no crânio que, com frequência, são transitórias e variam de acordo com a apresentação fetal na hora do parto. Palpar as suturas. Palpar cavalgamentos (sobreposições das bordas, comuns, principalmente em parto normal e desaparecem em poucos dias). Palpação das fontanelas, procurar: 1. Tensão 2. Tamanho 3. Abaulamentos ou depressões 4. Pulsações A fontanela bragmática tem a extensão de 2 polpas digitais ao nascimento e fecha por volta do 9 ao 18º mês de vida. Quando abaulada, indica aumento da pressão intracraniana e quando retraída, representa desidratação. A fontanela lambdoide tem extensão de 1 polpa digital ao nascimentoe se fecha por volta do 1 o 2º mês de vida. Bossa serossanguinolenta e cefalohematoma → enquanto a bossa é um edema de partes de moles que não respeita os limites ósseos e sua regressão ocorre nos primeiros dias pós-parto, o cefalohematoma é um rompimento de um vaso subperiosteal secundário a um traumatismo do parto, que tem consistência liquida e restringe-se aos limites ósseos, além de demorar mais a regredir do que a bossa. O PC é de cerca de 34 a 36 cm. Em RN a termo, para sexo feminino com PC < 31,5 cm e sexo masculino < 32 cm podem receber diagnóstico de microcefalia. A palpação dos ossos adjacentes à sutura sagital pode revelar uma sensação semelhante à que ocorre quando se comprime com cuidado uma lata de alumínio. Essas áreas mais moles, indicativas de craniotabes, são mais frequentes em RNs prematuros ou a termo se a cabeça fetal foi comprimida contra a pelve óssea materna durante várias semanas (fisiológicas), mas também podem ser um sinal de raquitismo neonatal ou sífilis. O craniotabes fisiológico desaparece em algumas semanas após o nascimento. OLHOS Pálpebras normalmente edemaciadas devido ao uso do colírio de nitrato de prata. O uso de eritromicina pela bula também possui edema como possível ocorrência. Deve avaliar a distância dos olhos, simetria entre as pupilas e reatividade pupilar. Estrabismo e nistagmo horizontal transitório podem ser encontrados. Pseudoestrabismo refere-se a uma falsa aparência de estrabismo causada por uma ilusão de ótica. A dobra de pele no canto interno das pálpebras é chamada de epicanto. Em bebês ela pode ser maior que em adultos e pode estar associada a uma ponte nasal larga e plana. OUVIDOS Forma, consistência e altura de implantação do pavilhão auricular. NARIZ Espirros são frequentes. Notar batimento da asa do nariz ou obstrução nasal. BOCA Inspeção facilitada pelo choro ou ao tracionar a mandíbula para baixo. Observar as mucosas, avaliar o palato (normal ou em ogiva) e sua integralidade (fenda palatina). Notar dentes supranuméricos (devem ser extraídos pelo risco de aspiração). No entanto, a remoção desses dentes nem sempre é indicada. Cerca de 95% dos dentes natais são parte do complemento normal da dentição decídua; o que indica que os dentes natais supranumerários são raros. Assim, os dentes natais normalmente devem ser mantidos se possível quando forem classificados como Hebling grau 3 ou 4. • Hebling 1 – coroa em forma de concha mal fixada ao alvéolo por tecido gengival, com ausência de uma raiz • Hebling 2 – coroa sólida mal fixada ao alvéolo por tecido gengival, com pouca ou nenhuma raiz • Hebling 3 – Erupção da margem incisal da coroa através do tecido gengival • Hebling 4 – Edema do tecido gengival com um dente palpável, mas incluso. Os cistos orais em diversas localizações estão presentes em até 80% dos RNs (81). Um a seis pares de cistos pequenos benignos na linha média, conhecidos como “pérolas de Epstein”, podem estar presentes na junção dos palatos duro e mole. PESCOÇO Curto no RN. Palpar o músculo esternocleidomastoideo para verificar presença de torcicolo congênito TÓRAX Possui forma cilíndrica. Possui PT de 2 cm menos que o PC. Assimetria é indicativo de patologia. Os mamilos podem estar hipertrofiados ao nascimento por influência do estrógeno materno, as vezes ocorrendo galactorreia. Deve-se contraindicar a expressão das mamas (leva à mastite). APARELHO RESPIRATÓRIO Avaliar com o RN calmo A respiração é costoabdominal ou abdominal, sendo as variações de FR e ritmo cardíaco comuns. Pode haver pausas de 5s, normalmente em pré-termos. FR média é de 40 a 60 irpm (diferença de valor em referência). Tiragem intercostal é considerado anormal. AUSCULTA: presença de murmúrio vesicular. Pode ser encontrado estertores finos e crepitantes assim como RONCOS (comum após o nascimento). APARELHO CARDIORRESPIRATÓRIO Auxiliado com o RN calmo. AUSCULTA: sopros e arritmias podem estar presentes ao nascimento e ter caráter transitório, principalmente nas primeiras 48h de vida. Palpar os pulsos periféricos (braquiais, femorais e radiais) → pulso femoral débil pode ser indicativo de coarctação da aorta. ABDOME INSPEÇÃO O abdome é semigloboso, com PA de 2 a 3 cm menor que o PC. Abdome globoso e distendido sugere obstrução enquanto o escavado sugere hérnia diafragmática. Avaliar o coto umbilical: 1. Aspecto: incialmente gelatinoso e seca progressivamente, mumificando entre o 3 e 4º de vida e soltando entre o 6 e o 15º dia. 2. Morfologia: 2 artérias e 1 veia 3. Secreções ou eritema na base do coto umbilical → indica onfalite Higiene do coto deve ser feita com álcool a 70% uma vez ao dia. Excluir a existência de onfalocele e gastrosquise. A eliminação de mecônio ocorre nas primeiras 36 a 48h após o nascimento. Depois disso são eliminadas fezes de transição, que tem caráter esverdeado e liquefeito. → investigar eliminação de mecônio e a diurese. PERCUSSÃO: Som timpânico, exceto no local de presença hepática. PALPAÇÃO: Mais fácil no RN adormecido → realizar superficial e profunda. Não há massas abdominais no RN normal. O fígado pode ser palpado no RN, em média de 1 a 2 cm do rebordo costal. Rins e baço geralmente não palpáveis. AUSCULTA: ruídos hidroaéreos presentes → aumentados: obstrução e ausente: doença grave. GENITAL Primeiro a inspeção e depois a palpação SEXO MASCULINO Pênis: normalmente entre 2 a 3 cm. A glande normalmente não está exposta e o orifício do prepúcio é estreito. Observar epispádia (meato uretral na porção dorsal) e hipospadia (meato uretral na porção ventral). Bolsa escrotal: é rugosa no RN a termo. Na palpação, verifica-se a presença dos testículos (não presentes significa criptorquidia), sua sensibilidade (não deve ser hipersensível), consistência (firme e parenquimatosa) e o tamanho (1 cm). Aumento testicular indica hidrocele. SEXO FEMININO Tamanho dos grandes lábios depende do depósito de gordura no RN e da IG, O sulco entre os pequenos e grandes lábios é recoberto por vérnix caseoso. Observa-se o hímen ao afastar os pequenos lábios. Saída de secreção esbranquiçada ou translúcida é devido a estrógeno materno. No 2 ou 3º dia de vida pode ocorrer sangramento vaginal. A impermeabilidade do hímen leva à hidrocolpos, acúmulo de secreções na vagina, que pode ser manifestado pelo hímen abaulado. Hipertrofia de hímen é comum e sem significado clinico. Observar o orifício da uretra e da vagina. Hipertrofia de clitóris e fusão posterior dos grandes lábios devem ser investigadas. REGIÃO ANAL Obrigatório para detecção de anomalias anorretais e fístulas. DORSO Avaliar a linha média de todo RN na busca de malformações da coluna vertebral, bem como a presença de escoliose. Visualização de alterações no fechamento do tubo neural (espinha bífida mielocele ou mielomeningocele). OSTEOARTICULAR Mão: analisar as pregas palmares (se única, indica Down). Analisar polidactilia, aracnodactilia e clinodactilia. Membros: observar a simetria na movimentação (descartar fraturas de parto). Ossos: pesquisar por agenesia. Fratura de clavícula (crepitação no local e dor no RN). Articulação coxo-femoral: atentar-se à displasia do quadril → avaliado pela manobra de Barlow e Ortolani. BARLOW E ORTOLANI: com o RN em decúbito dorsal, segura os membros inferiores com os dedos na porção interna da coxa e no trocanter maior, dobra os membros a 90º e abduz, depois empurra o trocanter para cima. Depois, empurra a perna para parte interna lateralizando. Em caso de instabilidade na articulação, haverá manifestação de um click. Pés: atentar para pés tortos → pode ser posicional (posição do útero – benigno) ou congênito. SISTEMA NERVOSO Deve ser feito simultaneamente ao exame físico geral. Avalia postura, resposta ao manuseio e choro. Deve ser feito após 12 horas de vida (para não ser influenciadopelo estresse pós-parto). Busca de reflexos primitivos, que são respostas involuntárias presentes nos bebês desde o nascimento, até mais ou menos 6 meses: Sucção Quando algo é posto nos lábios, o RN inicia movimentos de sucção dos lábios e língua Voracidade ou Busca Quando a bochecha próxima à boca é tocada, o RN desloca a face para o estímulo Preensão É plantopalmar, com uma leve pressão na palma da mão ou abaixo dos dedos dos pés Marcha Quando o RN é posto em posição ortostática, quando em contato com superfície, ele estende as pernas que antes estavam fletidas e inicia marcha Fuga à asfixia Quando em decúbito ventral, o RN levanta a cabeça, afastando o mento da superfície, sem virar-se para algum lugar Cutâneo-plantar (babinski) Estímulo contínuo na planta do pé gera uma resposta de contração dos dedos Reflexo de Moro Estímulo brusco gera uma extensão dos membros superiores, com abertura das mãos, com seguida flexão e abdução dos braços, voltando à posição original Reflexo do esgrimista ou Magnus-de-Klejin (tônico- cervical) Em decúbito dorsal, estabiliza-se tórax do RN e lateraliza a cabeça e ocorre a extensão dos membros do lado para qual a face está voltada e a flexão dos contralaterais Reflexo cócleo-palpebral Com estímulo sonoro emitido a 30 cm do RN, deve piscar os olhos, em resposta. Deve realizar nas duas orelhas e é obtido em no máximo 3 tentativas DESCREVER OS EXAMES DE TRIAGEM NEONATAL COM ÊNFASE NO TESTE DO PEZINHO TRIAGEM NEONATAL OBRIGATÓRIA NO BRASIL – NELSON No Brasil, existe o Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN), que consiste em exames realizados nos recém-nascidos nos primeiros 28 dias de vida, com o objetivo de realizar uma triagem para realização de um diagnóstico precoce de condições que possam ser tratadas ou seguidas precocemente. São obrigatórios por lei no Brasil e devem ser realizados nos SUS em todos os recém-nascidos. LEI 14154 DE 2021 Doenças incluídas: 1. Etapa 1: a. Fenilcetonúria e outras hiperfenilalaninemias b. Hipotireoidismo congênito c. Doença falciforme e outras hemoglobinopatias d. Fibrose cística e. Hiperplasia adrenal congênita f. Deficiência de biotinidase g. Toxoplasmose congênita 2. Etapa 2: a. Galactosemias b. Aminoacidopatias c. Distúrbios do ciclo da ureia d. Distúrbios da betaoxidação dos ácidos graxos 3. Etapa 3: a. Doenças lisossômicas 4. Etapa 4: a. Imunodeficiências primárias 5. Etapa 5: a. Atrofia muscular espinhal A delimitação de doenças a serem rastreadas pelo teste do pezinho, no âmbito do PNTN, será revisada periodicamente, com base em evidências científicas, considerados os benefícios do rastreamento, do diagnóstico e do tratamento precoce, priorizando as doenças com maior prevalência no País, com protocolo de tratamento aprovado e com tratamento incorporado no Sistema Único de Saúde. Durante os atendimentos de pré-natal e de puerpério imediato, os profissionais de saúde devem informar a gestante e os acompanhantes sobre a importância do teste do pezinho e sobre as eventuais diferenças existentes entre as modalidades oferecidas no Sistema Único de Saúde e na rede privada de saúde. DEFINIÇÃO – MANUAL DE NEONATOLOGIA Também conhecido como triagem neonatal biológica, procura identificar doenças metabólicas, genéticas, enzimáticas e endocrinológicas, para que possam ser tratadas antes do surgimento dos primeiros sintomas e sequelas, diminuindo a morbimortalidade. Esse teste deve ser realizado entre o 3º e o 5º dia de vida. PROCEDIMENTO DE COLETA Luvas de procedimento: deve lavar as mãos e calcar as luvas de procedimento (repetir a cada novo atendimento) Posicionar a criança: pedir ao responsável para que segure a criança no colo encostada ao ombro e com o calcanhar abaixo do nível do coração. Assepsia: limpar o calcanhar com algodão ou gaze esterilizada e umedecida com álcool 70%, massagear o local para ativar a circulação (verificar se fica com a coloração vermelha) e aguardar a secagem do álcool. OBS: nunca usar álcool iodado pois pode alterar os resultados do exame. Puncionar: as lancetas devem ser autorretrateis, estéreis, descartáveis e com profundidade de 1,8 mm a 2 mm e largura de 1,5 mm a 2 mm. A punção deve ser feita na região lateral da região plantar do calcanhar (pouca possibilidade de atingir um osso). Deve segurar o tornozelo e o pé da criança com cuidado para não obstruir a circulação. Coleta do sangue: após a punção, deve aguardar a formação de uma gota que (por ser a primeira) deve ser descartada com um algodão seco ou gaze esterilizada, pois pode conter fluidos teciduais que interferem no resultado do exame. Após ser formada uma nova gota, com o fundo do papel filtro, deve encostar na região demarcada, fazendo movimentos circulares no cartão, até o preenchimento de todo o círculo. OBS: O sangue deve estar distribuído de forma homogênea pelo papel filtro e é melhor que seja feita pelo verso do papel para observar os limites dos círculos. Afastar o papel do pé do RN apenas ao completar todo o círculo e não retornar ao círculo já preenchido pois sobreposição interfere no resultado. Os limites no papel filtro estipulam a quantidade de sangue necessária para as análises, sendo que excesso de sangue também inviabiliza a amostra (ENTRETANTO É MUITO MELHOR MAIS QUE MENOS). Não pode tocar com os dedos na região de coleta pois compromete a absorção do sangue. O preenchimento dos círculos deve ser sequencial. Em caso de interrupção do sangramento, deve-se massagear a região do calcanhar e retirar o coagulo de fibrina e plaquetas com algodão e gaze. Se não sangrar mais, realiza-se uma nova punção no mesmo local anterior. Se não funcionar, punciona outro pé. Após feito, deve verificar o papel filtro acima da cabeça contra a luz devendo os círculos ficar num aspecto translucido e homogêneo na região molhada com sangue. OBS: em caso de dúvida, deve ser refeito o procedimento em outro papel filtro. A mãe não deve ser liberada sem a certeza do procedimento realizado corretamente. Após a coleta, a criança deve ser posta deitada e deve comprimir levemente o local da punção com algodão ou gaze até que o sangramento cesse. Todos os RN, sendo os a termo ou pré-termo e pós-termo, devem ser triados. RN em uso de nutrição parenteral (NPP) pode ter resultados falso- positivos para triagem de fenilcetonúria pela formulação com vários aminoácidos. RN nascidos com mais de 48 h de vida, prematuros e a termo, que estejam recebendo NPP por no minmo 24h, recomenda-se desligar a NPP por duas a três horas antes da coleta. RN com peso ≤ 1500 g deverão repetir a coleta entre 16º ao 28º dia para análise de hiperplasia adrenal congênita. EM PREMATUROS No RN pré-termo, as punções de calcanhar devem ser evitadas, sendo recomendada a coleta de sangue venoso periférico, evitando linhas venosas de infusão de medicamentos ou nutrição parenteral. É feita em 3 tempos: 1. Do nascimento à admissão na UTI neonatal 2. Entre 48 e 72 horas de vida 3. À alta hospitalar ou com 28 dias de vida TESTE DA LINGUINHA Deve ser realizado no primeiro mês de vida para que dificuldade relacionadas à amamentação sejam evitadas, diminuindo a ocorrência de desmame precoce e introdução desnecessária da mamadeira. Busca detectar a anquiloglossia. É importante para dificuldades com a fala, o que afetaria a comunicação, o relacionamento social e o desenvolvimento profissional dessa criança no futuro. É feito na aplicação do protocolo de avaliação do frênulo lingual com escores para bebês: 1. História clínica 2. Avaliação anatomofuncional 3. Avaliação da sucção não nutritiva e nutritiva TÉCNICA Elevação da língua: deve-se realizar a lavagem das mãos e calçar as luvas de procedimento, após isso, os dedos indicadores são introduzidos embaixo da língua, em suas margens laterais, para que haja elevação.Caso existam dúvidas na pontuação ou não seja possível visualizar o frênulo lingual, o bebê deve ser encaminhado para o reteste após 30 dias de vida, devendo os pais serem orientados sobre as possíveis dificuldades de amamentação. ELUCIDAR A FISIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA, ETIOLOGIA CONDUTA ACERCA DAS CÓLICAS NEONATAIS INTRODUÇÃO – OLIVEIRA, SOUZA E SILVA E ABREU, 2022 A cólica é um distúrbio gastrointestinal funcional e multifatorial, relacionado com a maturidade intestinal do bebê. Os sintomas da cólica infantil são caracterizados pelo choro excessivo e persistente várias vezes na semana a partir da 3ª semana de vida até o terceiro mês de idade. Um dos problemas que conceitua a cólica infantil pode estar relacionado com a sucção à mamadeira ou o bico (fator angustiante) causando algum desconforto relacionado à dor muscular e ingestão excessiva de ar (aerofagia). Ao nascer, o intestino do bebê é imaturo e não consegue digerir bem o leite e, portanto, não atinge o objetivo final da digestão. Isso gera a formação de gases que se movem e causam pressão intestinal, o que causa dor e alterações musculares nos tubos digestivos. Além disso, uma série de fatores contribui para a cólica infantil como: 1. Desenvolvimento intestinal 2. Tipo de alimentação 3. Atividades enzimáticas fecais do lactente 4. Tabagismo 5. Nutrição 6. Fator psicológico familiar CONCEITOS, CAUSAS E FATORES RELACIONADOS À COLICA A cólica é um distúrbio gastrointestinal funcional considerado uma manifestação clínica normal e fisiológica durante os primeiros três meses de vida. Geralmente, a criança tende a apresentar comportamento inquieto, irritável e choroso entre as 18h e meia- noite. SINTOMAS As cólicas são percebidas com choros inesperados, súbito e inconsolável do bebê e são acompanhadas de dores abdominais agudas e espasmódicas. A criança tende a fazer movimentos com os músculos das pernas que podem trazer algum alívio temporário. O principal sintoma é o choro insistente e inconsolável que pode gerar uma sensação de desamparo nos pais. A cólica fisiológica é muito comum e surge no primeiro trimestre de vida, caracterizada por comportamentos irritantes por um longo período de tempo. CAUSAS Vários fatores podem desempenhar um papel na etiologia como imaturidade intestinal, hipertensão congênita, tabagismo, dieta materna, atividade enzimática fecal infantil, alergias, estresse parental e meio ambiente. INTERCORRÊNCIAS A prescrição de medicamentos para os pacientes pediátricos encontra barreiras relacionadas a reduzida disponibilidade de fármacos aprovados, e a indisponibilidade de formas farmacêuticas adequadas para o uso desse público, adotando-se comumente a prática da prescrição de medicamentos de uso off-label ou não licenciados e em geral. TRATAMENTO DA CÓLICA INFANTIL Estudos clínicos apresentam falhas metodológicas que afetam a validade de seus resultados que afetam a validade dos resultados implicando cautela na conduta. Portanto, dado o baixo nível de evidência, não há recomendações terapêuticas práticas ou critérios uniformes para um regime de tratamento específico. A dificuldade em identificar uma terapia eficaz também está ligada a um conhecimento deficiente da cólica infantil. Dadas as soluções terapêuticas disponíveis, há duas abordagens recomendadas: tratamentos não farmacológicos e tratamentos farmacológicos. O tratamento não medicamentoso advém de um fator social e psicológico, que traga tranquilidade tanto para os pais quanto para a criança. O tratamento da cólica baseado na modificação da interação pais e bebês foram estudados. Ensinar aos pais a serem mais eficientes nas respostas a seus bebês pode diminuir o choro da cólica em até 70% dos casos. Modificando a interação pais e bebês (forneceu instruções sobre responder rápido e apropriadamente às necessidades dos bebês), e também constatou uma diminuição de choro. A introdução do tratamento com música e aumento da atenção dos pais diminuiu o choro das crianças com cólica em 75%, embora a amostra tenha sido pouco significativa, resumida a apenas 8 bebês. Apesar de não existir comprovação dos resultados, técnicas comportamentais como música, massagem, aumentar o tempo no colo têm efeito de aproximar o binômio mãe-filho proporcionando momentos de maior contato e prazer. O desespero dos pais com essa situação leva muitas vezes a buscar outras opções de tratamento, incluindo uma cultura de tradição oral de vizinhos, amigos e parentes que já “medicaram” as crianças conforme alguma tradição. Os agentes farmacológicos prescritos, propostos para o tratamento da cólica infantil, têm a finalidade terapêutica de aliviar o desconforto, teoricamente relacionado aos sintomas gastrointestinais associados a essa disfunção neonatal. CLASSES MEDICAMENTOSAS A classe mais usada é a dos antiflatulentos → simeticona. Tem ação emulsificante, capaz de dissolver as bolhas de gás presentes no intestino neonatal e consequentemente reduzir o incômodo e inchaço causado pela formação excessiva de gás. A simeticona não é absorvida e nem metabolizada no intestino (agente de ação local) e, portanto, é excretada pelas fezes na forma inalterada, o que não apresenta risco para o RN. Não há resultados quanto à redução no número de cólicas, mas, por não apresentar efeitos colaterais e ser eficaz na redução dos sintomas, é o mais utilizado. Embora as terapias não convencionais sejam abordadas, nenhuma dessas terapias pode ser recomendada devido à falta de evidências de benefício para a criança. As terapias não convencionais são alternativas utilizadas na ausência de terapias farmacológicas, cuja eficácia tenha sido demonstrada, levando à necessidade de recorrer a este tipo de solução. A Sociedade Portuguesa de Endoscopia Digestiva (SPED) define probióticos como microrganismos vivos que, se administrados em doses adequadamente graduadas, podem exercer um efeito benéfico na saúde do hospedeiro. Por apresentarem um desequilíbrio na microbiota intestinal, as crianças sofrem com o aumento da produção de gases e bactérias coliformes pró- inflamatórias (E. coli) e menos bactérias lácticas. A partir de um estudo de Savino et al (2014) estudos comparando o probiótico L. reuteri com o uso de 28 dias de simeticona em 90 bebês amamentados, pode-se observar que a administração do probiótico isoladamente resultou na redução do tempo de choro desses bebês, ao contrário de outro grupo que recebeu simeticona, a mesma conclusão pode ser observada nos estudos com o grupo placebo. Plantas medicinais como erva-doce (Foeniculum vulgare) e erva- cidreira dentre outros, têm sido demonstrados em estudos, em que o uso dessas substâncias na forma de pó ou em chás de ervas pode reduzir a distensão abdominal e ajudar na cólica infantil aliviando os sintomas, mas alguns efeitos colaterais foram relatados com o uso desse tipo de insumo, como vômitos, sonolência, constipação, perda de apetite e redução da absorção de leite. Qualquer tipo de substâncias derivada de plantas medicinais não deve ser administrada sem indicação médica, pois esses itens apresentam efeitos colaterais e um determinado conjunto de doses ou concentrações específicas não são bem esclarecidas. O tratamento medicamentoso convencional deve ser realizado sob a orientação de um profissional. No caso das cólicas infantis a dimeticona e a simeticona são as drogas mais utilizadas na prática clínica e têm efeitos antiespasmódicos e antiflatulentos no estômago e intestinos, reduzindo a tensão superficial dos fluidos digestivos e rompendo as bolhas que contêm os gases causadores da flatulência e flatulência. É notório que existe uma predileção ao uso da Simeticona, e a mesma tem seu uso consagrado pela prática, mais pela automedicação, mas não apresenta comprovação e seu efeito poderia ser mais pelo sabor doce que é capaz de acalmar o choro do bebê. Algumas condutas, como oferta de chupetas,substâncias adocicadas ou chás de ervas, podem contribuir para o desmame precoce. FATORES ASSOCIADOS – KOSMINSKY E KIMURA, 2004 Estudo comparativo mostrou que bebês que recebeu leite materno exclusivo e bebês que receberam fórmula láctea não determinam na existência ou não de cólica ou um pico de cólica menor ou maior. Bebês amamentados exclusivamente no peito não estão protegidos de desenvolver cólica. Não existe relação entre a fonte alimentar do bebê e o aparecimento de cólica. Entretanto, achados de estudos por alguns autores revelaram uma maior frequência de cólica em bebês que recebiam leite de vaca em relação aos de aleitamento materno exclusivo. O fumo durante a gravidez pode aumentar o risco de o bebê desenvolver cólica. Mulheres que fumaram ininterruptamente desde a gravidez até o período do puerpério apresentaram um risco relativo de 1,5 quando comparadas as que não fumaram durante esse mesmo período. EXPLANAR SOBRE AS ALTERAÇÕES DERMATOLÓGICAS DO RN ENFATIZANDO MEDIDAS PREVENTIVAS (DERMATITE DE FRALDA) DERMATITE DE FRALDA – HORII, 2022 A dermatite de fraldas, conhecida como assadura, é a erupção cutânea mais comum em bebês e crianças pequenas. Geralmente ocorre em superfícies convexas de pele que estão em contato direto com a fralda, incluindo nádegas, parte inferior do abdome, genitália e parte superior das coxas. EPIDEMIOLOGIA Varia em relação ao uso de fraldas, higiene e práticas de criação dos filhos nos diferentes países. De acordo com a Pesquisa Nacional de Assistência Médica Ambulatorial de 1990 a 1997, houve 8,2 milhões de consultas pediátricas para dermatite de fralda, e o risco calculado de desenvolver dermatite de fralda durante a infância foi de um em quatro. PATOGÊNESE Existem vários fatores que geram a dermatite de fralda, como a umidade excessiva, a fricção, aumento do pH e a alta reatividade enzimática. O pH ácido normal da camada córnea da epiderme tem a função de formação e manutenção da barreira de permeabilidade e na defesa antimicrobiana. O aumento da umidade nas regiões e o efeito oclusivo que a presença da fralda causa, além da presença de resíduos fecais e urinários leva à maceração da pele e rompimento da camada córnea. Essa maceração aumenta a suscetibilidade a danos por fricção da fralda com maior comprometimento da função da barreira da pele. Quando a barreira cutânea está alterada, existe uma maior permeação de irritantes químicos (fezes e urina) e microrganismos. As bactérias fecais produzem a enzima urease, que interage com a urina para aumentar o nível do pH baixo da fralda. Os níveis elevados de pH ativam enzimas fecais (protease e lipase) que irritam e danificam a pele, causando a reação inflamatória cutânea. O pH elevado também altera o microbioma cutâneo tornando a pele mais suscetível à colonização por organismos comumente encontrados na superfície da pele e organismos encontrados nas fezes. FATORES DE RISCO Troca de fralda pouco frequente Bebês com diarreia Fatores dietéticos → bebês amamentados tem a menor incidência de dermatite de fralda do que bebês com formula, possivelmente pelo pH das fezes mais baixo Uso de antibióticos CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS Dermatite leve: caracterizada por pápulas eritematosas dispersas ou eritema assintomático leve em áreas limitadas da pele com maceração mínima e irritação friccional. Dermatite moderada: caracterizada por um eritema mais extenso com macerações ou erosões superficiais e com dor e desconforto associados. Dermatite grave: caracterizada por eritema extenso de aspecto lustroso, erosões dolorosas, pápulas e nódulos Algumas apresentações raras são observadas em crianças com mais de 6 meses e em adultos com incontinência urinária ou fecal: Dermatite erosiva de Jacquet: caracterizada por pápulas, nódulos e ulcerações bem demarcadas na região perineal Granuloma glúteo-infantil: caracterizado por nódulos característicos roxo-avermelhados nas pregas inguinais, escroto, nádegas e região medial das coxas e geralmente é observado entre 2 e 9 meses de idade. Pápulas e nódulos pseudoverrucosos: caracterizado por múltiplas pápulas e nódulos de verrugas, branco-acinzentados, brilhantes, sobre o fundo eritematoso na área genital. CURSO CLÍNICO É tipicamente episódico, sendo cada um, tratado com terapias convencionais, tem duração de 2 a 3 dias. A dermatite de fralda que persiste por um tempo maior que esse pode ser secundária à infecção por C. albicans, S. aureus, S. pyogenes ou vírus herpes simples. AVALIAÇÃO A avaliação da criança com inflamação da pele envolvendo a área da fralda é focada em determinar se a erupção é uma dermatite de contato irritativa típica, ou a exacerbação de uma doença de pele mais difusa, ou coincidentemente na área da fralda a manifestação de doenças não relacionadas condições de pele que se manifestam coincidentemente na área da fralda. Aspectos da história clínica ajudam a identificar fatores contribuintes. DIAGNÓSTICO É feito clinicamente, baseado na presença de uma erupção eritematosa que envolve as superfícies conexas das nádegas e da área genital. PREVENÇÃO Com base na experiência clínica, a maneira mais eficaz de prevenir a dermatite de fraldas é minimizar o contato direto da pele com a urina e fezes por meio da troca frequente de fraldas e limpeza suave da área da fralda. TIPO DE FRALDA Apesar do debate sobre o impacto ambiental de fraldas descartáveis x fralda de pano, as fraldas descartáveis foram projetadas especificamente para reduzir os fatores que predispõem à dermatite de fraldas. As fraldas descartáveis têm um núcleo de gel absorvente que pode absorver até 80 vezes o seu peso em água e camadas externas que absorvem líquidos rapidamente e evitam que o líquido vaze da fralda para a pele. Independente a esse fato, a troca frequente das fraldas ajudam a prevenir a dermatite de fraldas. LIMPEZA A limpeza excessiva pode promover irritação e retardar a cicatrização da pele. Uma limpeza suave limitada com água morna e um pano macio geralmente é suficiente. Sabonetes, sabonetes líquidos suaves e sem fragrância podem ser usados. Lenços umedecidos sem perfume e sem álcool podem ser usados como alternativa à água e ao pano, mas devem ser descontinuados se a pele ficar irritada ou danificada. EDUCAÇÃO Educar os pais e cuidadores sobre as formas de prevenir e tratar a dermatite de fralda é de extrema importância, fornecendo materiais e apostilas para que revisem as informações em casa. TERAPIAS TÓPICAS PREPARAÇÕES DE BARREIRA Bloqueiam fisicamente irritantes químicos e a umidade e minimizam o contato através de pastas e pomadas (geralmente melhores que cremes e loções). O uso de pomadas é baseado na experiência clínica de longa data. As mais comuns contêm petrolato, óxido de zinco ou ambos. Sugestão em dermatite de fralda leve. CORTICOIDES TÓPICOS Corticosteróide de baixa potência pode reduzir a inflamação na dermatite de fralda que persiste apesar das medidas de cuidado com a pele e do uso de preparações de barreira. O uso é baseado na experiência clínica. Corticosteróides potentes ou fluorados não devem ser usados na fralda, pois a oclusão na área promove absorção sistêmica e pode causar supressão adrenal e síndrome de Cushing iatrogênica. Sugestão de uso em dermatite de fralda grave. AGENTES ANTIFÚNGICOS Nistatina, clotrimazol, miconazol, cetoconazol e sertaconazol são terapias eficazes para dermatite de fralda secundária à infecção por Candida albicans. OUTRAS ALTERAÇÕES CUTÂNEAS – SBP MILIÁRIA RUBRA (BROTOEJAS) Causada pela obstrução das glândulas sudoríparas que ainda não estão totalmente desenvolvidas na criança principalmente no período neonatal. Ocorre com maior frequência em locais de clima quente, nos estados febris, nos RN colocados em incubadora e com o uso excessivo de agasalhos. Piora em estresse térmico e uso de roupas apertadas.A miliária rubra é a obstrução mais profunda, na derme, resultando em pápulas avermelhadas no processo inflamatório. Tem início na 1ª semana de vida e melhora quando evita o aquecimento excessivo que promove sudorese, utiliza roupas adequadas ao clima e mantém a criança em local fresco. VARICELA CONGÊNITA A varicela-zoster pode determinar 3 situações ao RN: 1. Síndrome varicela fetal Acomete o sistema musculoesquelético, sistema nervoso central e a pele e é determinada pela infecção do vírus varicela-zóster. Estão presentes no nascimentoe caracterizam-se por cicatrizes estreladas e angulares. 2. Varicela neonatal Ocorre quando a mãe desenvolve varicela entre 5 dias antes e 3 dias após o parto e, por isso, o feto tem elevada possibilidade de desenvolver a varicela grave e disseminada. As lesões iniciam entre o 5º e o 10º dia neonatal e são máculas avermelhadas que evoluem para pápulas e vesículas ou pode evoluir para múltiplas lesões que podem se tornar hemorrágicas ou necróticas, com comprometimento do estado geral. 3. Herpes zoster infantil Lesões vesiculares sobre base eritematosa que se localizam no trajeto de um nervo. Ocorre pela reativação do vírus varicela- zóster que fica latente no gânglio sensorial depois da infecção primária. Lactentes podem desenvolver herpes zóster sem que tenham apresentado evidência clínica de varicela quando expostos ao vírus da varicela no período intrauterino. HERPES SIMPLES Pode ser adquirida no período intraútero, durante o parto ou ainda no período pós-natal. O risco aumenta quando a primoinfecção ocorre durante a gestação e é menor nos casos de parto cesariano. A suspeita clínica é baseada na presença de lesões que apresentam vesículas, pápulas eritematosas e pústulas que evoluem para crostas hemáticas. EPIDERMÓLISE BOLHOSA É um grupo de genodermatoses fenotipicamente diferentes, hereditárias ou adquiridas, caracterizadas por fragilidade da pele e sunsequente formação de bolhas em resposta a traumas mecânicos que também pode afetar as mucosas. Existem mais de 30 tipos de EB mas as 4 principais são: EB simples: formação de bolha superficial e não deixa cicatrizes e diminui com a idade; EB juncional: bolhas profundas, acometem a maior parte da superfície corporal e o óbito pode ocorrer antes do primeiro ano de vida. Tende a melhorar com a idade; EB distrófica: bolhas também profundas e se formam entre a derme e a epiderme, o que leva a cicatrizes e muitas vezes a perda da função do membro. É a forma que mais deixa sequelas; Síndrome de Kindler: é uma mistura das outras formas anteriores e a bolha se forma entre a epiderme e a derme. Apresenta bolhas, sensibilidade ao sol, atrofia de pele, inflamação no intestino e estenose de mucosas. MELANOSE PUSTULOSA NEONATAL Dermatose benigna e autolimitada, mais comum em crianças negras retintas. As lesões estão presentes já ao nascimento e são vesicopústulas com milímetros de diâmetro que pode ocorrer em toda região do corpo, inclusive nas palmas e plantas. Na evolução, as vesículas rompem e descamam em colarete que evolui com mancha hipercrômica. DOENÇA DE RITTER É causada predominantemente por estafilococos do grupo II. É uma complicação cutânea que forma uma bolha e descasca, como se tivesse sido queimada (lembra muito queimadura por sol). As bolhas são comumente encontradas em áreas de fricção como tronco e extremidades, do mesmo modo que erosões muito extensas podem servir como porta de entrada para outros agentes invasores. A forma clássica (doença de Ritter) é causada pelo Staphylcoccus aureus e apresenta-se de forma generalizada com pródromos de mal-estar, irritação, febre e eritema cutâneo que evolui de 24 a 48 horas para bolhas flácidas por toda pele. IMPERTIGO É uma forma de piodermite (infecções que ocorrem na pele previamente saudável) superficial que não forma cicatrizes. Apresenta-se em duas formas clínicas: 1. Não bolhoso ou crostosa → mais frequente 2. Bolhoso Ambas as formas têm como etiologia predominante o Staphylococcus aureus, podendo a forma crostosa ser causada pela associação do Staphylococcus aureus com o Streptococcus pyogenes (países desenvolvidos). Predominância de Streptococcus na não bolhosa em países em desenvolvimento. O diagnóstico de ambas as formas é clínico, pelo aspecto típico da lesão, não sendo recomendada a cultura de rotina, a não ser que exista falha com a terapêutica adequada, recorrência das lesões ou em pacientes imunodeprimidos, ou ainda para fins epidemiológicos. CROSTOSO Mais raro em crianças menores de 2 anos. Fatores como higiene precária e desnutrição podem contribuir para a manutenção da doença. A lesão inicia-se com uma vesícula ou pústula sobre uma base eritematosa, que se rompe com facilidade e cujo ressecamento dá origem a uma crosta aderente e amarelada, também descrita como “melicérica”. As lesões medem de 1 a 2 cm de diâmetro e crescem centrifugamente, podendo coalescer. BOLHOSO Agente etiológico principal é o S. aureus, produtor de toxina epidermolítica. Consiste em vesículas que se transformam em bolhas flácidas de paredes finas, com conteúdo inicialmente claro, que depois se torna turvo. As bolhas se rompem facilmente, permanecendo uma erosão rasa rodeada por restos da bolha (colarete) e a confluência de bolhas leva à formação de figuras policíclicas. A face é o local mais afetado, embora qualquer região possa ser atingida. É mais comum em crianças de 2 a 5 anos de idade. PROBLEMA 2 – INTERMEDIÁRIA ABORDAR A MORFOFISIOLOGIA DA MAMA EM LACTAÇÃO ANATOMIA E DESENVOLVIMENTO DAS MAMAS – ZUGAIB A formação das glândulas mamarias segue a memória filogenética dos mamíferos e caracteriza-se pelo surgimento da linha mamária. O desenvolvimento das glândulas mamárias no sexo feminino se inicia no período puberal e só atinge plenitude caso a mulher engravide e amamente, o que confere à gravidez e ao período de amamentação papel imprescindível no crescimento dos componentes glandulares e da tumescência areolar (telarca) como resposta à atividade ovariana. Após aproximadamente 2 anos ocorre a menarca, e o crescimento das mamas se modifica com o aumento do componente de gordura e aplainamento da aréola. Cada mama é uma projeção hemisférica de tamanho variável anterior aos músculos peitoral maior e serrátil anterior, e ligada a eles por uma camada de fáscia composta por tecido conjuntivo denso irregular. A mama adulta é composta por 15 a 20 lobos, unidades funcionalmente independentes entre si, que se subdividem em lóbulos em número variável (de 20 a 40 subunidades), que se subdividem em 100 alvéolos, estruturas acinosas secretoras e saculiformes cujas células são responsáveis pela produção láctea. Os alvéolos desembocam em estruturas ductais (dúctulos) que se reúnem nos ductos maiores que se fundem para formar os ductos principais que drenam as unidades maiores (lobos). Os ductos principais apresentam dilatações na projeção da aréola, denominada seio galactóforo (importante no processo de sucção das mamas) que se exteriorizam na papila mamária em pequenos orifícios. Entre os lóbulos e os ductos, as mamas são preenchidas por tecido gorduroso e conjuntivo. Existe a vascularização mamária que permeia esse tecido extraglandular até as menores unidades alveolares que se revestem de células mioepiteliais que possuem função contrátil, auxiliando na mobilização do leite dos alvéolos para os dúctulos. MAMOGÊNESE E MODIFICAÇÕES GRAVÍDICAS A gestação é um período que ocorre desenvolvimento e diferenciação das glândulas mamárias devido aos altos níveis de esteroides sexuais. Na terceira semana de gravidez, os ductos lactíferos proliferam e isso aumenta e isso leva a um aumento de tecido glandular. Os hormônios que participam da atividade mitótica dessas células é o GH e a insulina. A progesterona age na diferenciação das células terminaisdos dúctulos em células acinosas (alvéolos). A prolactina madura essas células diferenciadas para serem capazes de produzir os componentes do leite. Apesar dos altos níveis de prolactina na gravidez, sua ação é limitada pela ação da progesterona e o hormônio lactogênico placentário pela maior afinidade com receptores alveolares. No segundo trimestre, com o aumento da produção de prolactina, há o estímulo aos processos secretórios dos alvéolos mamários e, aqui, as mamas já possuem capacidade de funcionamento. No terceiro trimestre há a redução dos componentes extraglandulares e o desenvolvimento ainda mais evidente das unidades lóbulo-acinares, isso faz com que as mamas atinjam a capacidade máxima de produção e secreção de proteínas, lactose e lípides, além da atividade exponencial de enzimas como a galactosiltransferase e lactose sintetase. O aumento do volume mamário também é decorrente do aumento da vascularização localizada (rede de Haller) visível na epiderme. ESTRUTURA DAS GLÂNDULAS MAMÁRIAS NA MULHER ADULTA DURATE A PUBERDADE E NA MULHER ADULTA – JUNQUEIRA Antes da puberdade, as glândulas mamárias são compostas de porções dilatadas (seios galactóforos). Seu desenvolvimento em meninas durante faz parte do processo de aquisição de características sexuais secundárias. Nesse período, as mamas crescem e os mamilos ficam mais proeminentes. Nos meninos, as mamas permanecem normalmente planas. O aumento das mamas resulta do acúmulo de tecido adiposo e conjuntivo, além do crescimento e ramificação dos ductos galactóforos. A proliferação desses ductos decorre do aumento de estrógenos. Cada mama é composta por 15 a 25 lóbulos separados por tecido conjuntivo denso e tecido adiposo que drenam até o mamilo que também possui de 15 a 25 aberturas (um para cada lóbulo) com 0,5 mm de diâmetro de largura em média. Essas glândulas são tuboalveolares compostas. Na mulher adulta, o lóbulo se desenvolve a partir das extremidades menores (ductos). Um lóbulo consiste em vários ductos intralobulares que se unem em um ducto interlobular terminal. Cada lóbulo é imerso em tecido conjuntivo frouxo e muito celularizado, sendo que o tecido interlobular que separa os lóbulos é denso e menos celularizado. A mama inativa é quiescente e indiferenciada, ou seja, possui apenas ductos lactíferos. A mama ativa durante a gestação ocorre o desenvolvimento das células alveolares, formando alvéolos mamários ao final do ducto lactífero. A mama ativa em lactação possui as unidades secretoras túbuloalveolares com os alvéolos mamários completamente diferenciados e rodeadas de células mioepiteliais e a secreção de leite é abundante. Quando a lactação é suspensa, a glândula reverte ao estado não gravídico. LAVÍNIA ARAÚJO @laviarauj Próximo à abertura do mamilo, os ductos galactóforos se dilatam e formam os seios galactóforos. As aberturas externas dos ductos são revestidas por epitélio estratificado pavimentoso. Os ductos possuem revestimento de epitélio estratificado colunar ou cuboide e conforme se transformam em ducto terminal, se transforma em epitélio simples cuboide. Esses ductos terminais são envolvidos pelas células mioepiteliais. O tecido conjuntivo em torno dos alvéolos contém muitos linfócitos e plasmócitos que aumenta significativamente no fim da gravidez e secretam as imunoglobulinas (IgA secretora), que conferem imunidade passiva ao recém-nascido. O mamilo tem forma cônica e pode ser rosa, marrom-claro ou marrom-escuro. Externamente, é coberto por epitélio estratificado pavimentoso queratinizado contínuo com o da pele adjacente. O mamilo é provido de abundantes terminações nervosas sensoriais, importantes para produzir o reflexo da ejeção do leite pela secreção de ocitocina. FISIOLOGIA DA PRODUÇÃO E EJEÇÃO DO LEITE – ZUGAIB LACTOGÊNESE A produção e secreção de colostro ocorre a partir do segundo trimestre de gestação, quando as glândulas mamárias atingiram a maturidade para a produção láctea. A lactogênese não ocorre durante a gravidez pela ação inibitória do estriol, progesterona e do hormônio lactogênico placentário sobre os efeitos da prolactina nos alvéolos. Com o parto e dequitação, os níveis circulantes de estrógeno, hormônio lactogênico placentário e progesterona decrescem abruptamente e isso possibilita a ação da prolactina nos receptores mamários. FUNÇÕES DA PROLACTINA Diferenciação celular em fase pré-secretória para a fase secretória; Estímulo da síntese RNA para produção de proteínas especificas no leite (caseína, alfalactoalbumina); Indução de enzimas catalisadoras (galactosiltransferase e lactose sintetase); Modifica a secreção de colostro para leite propriamente dito em 72 horas (apojadura); A prolactina exerce seus efeitos na mama, modificando a secreção de colostro para leite propriamente dito no período de aproximadamente 72 horas. Esse fenômeno também é conhecido como apojadura ou "descida" do leite e coincide com ingurgitamento mamário típico desse período. Os níveis de prolactina sobem em picos induzidos pela sucção do recém-nascido. Os níveis de prolactina sobem em picos induzidos pela sucção do recém-nascido. Quanto menor o intervalo entre as mamadas, menor o tempo para o restabelecimento dos níveis de prolactina, mantendo os níveis séricos desse hormônio e a produção adequada de leite. LACTOPOESE E GALACTOCINESE A lactopoese relaciona-se com o conjunto de eventos que visa à manutenção da produção e da ejeção do leite. A galactocinese, por sua vez, é o mecanismo que descreve a excreção do leite durante a sucção das mamas pelo neonato. A produção e ejeção de leite são controladas por arcos reflexos, iniciando nas terminações nervosas livres no complexo areolopapilar. Esse estímulo leva à informação pelas vias aferentes torácicas (T4 a T6), com liberação de ocitocina pela neuro-hipófise e prolactina pela adeno-hipófise, A ejeção do leite ocorre pelo estímulo da ocitocina nas células mioepiteliais que circundam os alvéolos mamários causando a excreção láctea. A ocitocina age também na musculatura areolar que promove compressão do seio lactóforo e ereção da papila. O reflexo de ejeção do leite é mais complexo que o reflexo liberador de prolactina, uma vez que é mais suscetível a influências de fatores psicoemocionais e ambientais. Assim, situações de desconforto, vergonha, ansiedade e dor provocam inibição imediata desse reflexo, reduzindo a quantidade de leite expelida. Existe um fator inibitório da prolactina que, durante a sucção do neonato, os estímulos torácicos provocam a redução dessa substância permitindo a secreção de prolactina. DESCREVER A TÉCNICA DA AMAMENTAÇÃO E A SUA IMPORTÂNCIA NO BINÔMIO MÃE-FILHO TÉCNICAS DE PREPARO DAS MAMAS – ZUGAIB É iniciada com as orientações pré-natais. O primeiro passo é realizar a anamnese bem detalhada, com especial atenção para dados sociodemográficos que possam classificar a gestante como de risco para o desmame precoce. Durante as consultas pré-natais é possível reconhecer as dificuldades experimentadas em gestações prévias ou inseguranças típicas de primigesta. O exame físico das mamas é importante para a verificação de anormalidades anatômicas, prevendo suas possíveis complicações e corrigindo-as sempre que possível. Na inspeção do mamilo podem ser observadas lesões e oleosidade ou ressecamento da pele areolar e classificar o tipo de papila em normal, plana, pseudoinvertida ou invertida. Para esses casos indicam exercícios de rotação, tração e exteriorização, que irão aumentar a flexibilidade e a capacidade de exposição da papila (exercícios de Hoffman). TÉCNICAS QUE VISAM A PEGA CORRETA A amamentação de forma incorreta leva à insatisfação do RN, com consequente choro do infante e ansiedade materna. A ansiedade materna leva à produção e liberação inadequadas de ocitocina com ingurgitamento mamário que dificulta ainda mais a pega do lactente (círculo vicioso).Para que o controle neuroendócrino seja adequado e o aporte seja suficiente, a lactação deve ser iniciada logo que ocorra o nascimento do concepto e ambos tenham condições para isso. A amamentação em livre demanda é orientada e o tempo das mamadas deverá ser necessário para o esvaziamento mamário (varia de poucos minutos a 1 hora). Deve-se alertar que cada criança possui seu período de aprendizado e adaptação e, por isso, toda paciência é necessária, já que não há regras definidas para se considerar anormal determinado comportamento. Entre 7 a 10 dias, a frequência de mamadas se torna regular (8x diárias). A boa técnica permite que o RN abocanhe toda ou boa parte da aréola e posicione a papila na região do palato duro e que a gengiva fique na projeção do seio galactóforo. Isso faz com que haja pressão negativa pela língua e pelos movimentos de sucção, assim como a compressão dos seios galactóforos. Com dificuldades, a boca do RN apreende apenas a papila, impedindo a pressão negativa e o posicionamento correto da aréola na cavidade oral. Isso gera lesões mamilares, com consequente dor para amamentar, ingurgitamento e maior obstáculo à pega. RECOMENDAÇÕES É necessário que a postura materna e a do RN estejam apropriadas e a posição da boca do RN em relação ao mamilo/mama; Recomenda-se que o ambiente seja agradável e confortável, permitindo a privacidade da lactante; As mamas devem ser alternadas em relação ao lado de início, pois a primeira mama sempre é esvaziada de maneira mais eficiente primeiro pela fome do RN ser maior ao início da mamada; Cuidados com a higiene incluem a lavagem das mãos e das mamas apenas com água para evitar a retirada da oleosidade das aréolas necessária para manter a integridade da pele. ORIENTAÇÕES A posição da lactante deve ser relaxada, confortável, bem apoiada, não-curvada nem para frente e nem para trás. A posição da mão na mama deve ser com o polegar na parte superior da aréola e o indicador na parte inferior, formando um C. Posição do lactente deve ser com o corpo totalmente voltado para a frente, com o cinturão pélvico e escapular, pescoço e coluna vertebral alinhados. As posições da boca e da face do lactente devem centradas em frente ao mamilo, bem aberta, com os lábios evertidos, mento apoiado e o nariz afastado. A sucção é mais rápida no início e diminui a frequência progressivamente, com pausas ocasionais e irregular ao fim. As bochechas não se encovam e a deglutição é possível de ser ouvida. Ao fim da mamada, o RN solta espontaneamente a papila ou a lactante pode retirar o complexo areolopapilar, tracionando suavemente com os dedos, com cuidado de não afastar o neonato para evitar traumas, ou coloca o dedo mínimo entre a boca do neonato e a aréola para desfazer a pressão negativa. Deve colocar o lactente em posição vertical ou sentado para facilitar a eructação e evitar broncoaspiração. POSIÇÕES DE AMAMENTAÇÃO Posição sentada (forma tradicional): o recém-nascido está de frente para a mãe, de tal maneira que seu abdome encosta no da mãe. Posição sentada inversa (bola de futebol americano): o corpo do lactente localiza-se abaixo da axila materna, com o ventre apoiado nas costelas da lactante. Apoia- -se o corpo do recém-nascido no braço materno; e a cabeça, na mão. Posição deitada: a puérpera e o lactente estão deitados de lado, de frente um para o outro. A lactante oferece a mama do lado sobre o qual está deitada. Em ocasiões em que a lactante não é capaz de amamentar momentânea ou permanentemente, recomenda-se a utilização da técnica do "copinho" para nutrir o lactente. Essa técnica consiste em oferecer leite por meio de pequeno recipiente plástico com o RN sentado. A adoção dessa medida evita a ocorrência da chamada "confusão do mamilo", que consiste na dificuldade de adaptação dos neonatos ao utilizar os bicos artificiais de mamadeiras concomitantemente ao aleitamento materno, pois estes exigem movimentos totalmente diferentes da musculatura oral e facial do recém-nascido. BENEFÍCIOS DO ALEITAMENTO MATERNO – CADERNO DE SAÚDE DA CRIANÇA A criança alimentada apenas com leite materno aos 6 meses de vida apresenta menos morbidade. BENEFÍCIOS PARA O BEBÊ Diminuição da morbidade, especificamente relacionadas com infecções como meningite bacteriana, bacteremia, diarreia, infecções no trato respiratório, enterocolite ncrosante, otite média, infecção do trato urinário e sepse de início tardio em RN pré-termo; 1. Há fortes evidências de que o leite materno protege contra diarreia, principalmente em crianças mais pobres. É importante destacar que essa proteção pode diminuir quando o aleitamento materno deixa de ser exclusivo. Oferecer à criança amamentada água ou chás, prática considerada inofensiva até pouco tempo atrás, pode dobrar o risco de diarreia nos primeiros seis meses Diminuição da taxa de morte súbita; Redução das hospitalizações por vírus sincicial respiratório e pneumonia; Redução de alergias: reduz risco de asmas e sibilos recorrentes, protege contra dermatite atópica; 1. A exposição a pequenas doses de leite de vaca nos primeiros dias de vida parece aumentar o risco de alergia ao leite de vaca. Por isso é importante evitar o uso desnecessário de formulas infantis. Redução da obesidade; Diminuição do risco de hipertenso, colesterol alto e diabetes; Melhor nutrição; 1. Por ser da mesma espécie, o leite materno contém todos os nutrientes essenciais para o crescimento e o desenvolvimento ótimos da criança pequena, além de ser mais bem digerido, quando comparado com leites de outras espécies. O leite materno é capaz de suprir sozinho as necessidades nutricionais da criança nos primeiros seis meses, e continua sendo uma importante fonte de nutrientes no segundo ano de vida, especialmente de proteínas, gorduras e vitaminas. Efeito positivo no desenvolvimento intelectual; Melhor desenvolvimento da cavidade bucal; 1. O exercício que a criança faz para retirar o leite da mama é muito importante para desenvolvimento adequado de sua cavidade oral, propiciando uma melhor conformação do palato duro, o que é fundamental para o alinhamento correto dos dentes e uma boa oclusão dentária. 2. Quando o palato é empurrado para cima, o que ocorre com o uso de chupetas e mamadeiras, o assoalho da cavidade nasal se eleva, com diminuição do tamanho do espaço reservado para a passagem do ar, prejudicando a respiração nasal. Assim, o desmame precoce pode levar à ruptura do desenvolvimento motor-oral adequado, podendo prejudicar as funções de mastigação, deglutição, respiração e articulação dos sons da fala, ocasionar má- oclusão dentária, respiração bucal e alteração motora- oral. O início precoce do aleitamento materno sem restrições diminui a perda de peso inicial do recém-nascido, favorece a recuperação mais rápida do peso de nascimento, promove uma “descida do leite” mais rápida, aumenta a duração do aleitamento materno, estabiliza os níveis de glicose do recém-nascido, diminui a incidência de hiperbilirrubinemia e previne ingurgitamento mamário. BENEFÍCIOS PARA A MÃE Involução uterina mais rápido e redução na hemorragia uterina pós- parto decorrente da liberação de ocitocina; Perda mais rápido de peso acumulado na gestação; Auxílio no aumento do intervalo entre as gestações (anticoncepcional natural); 1. A amamentação é um excelente método anticoncepcional nos primeiros seis meses após o parto (98% de eficácia), desde que a mãe esteja amamentando exclusiva ou predominantemente e ainda não tenha menstruado Maior interação mãe-bebê; Benefício relativo aos aspectos econômicos, uma vez que o leite materno não possui custos; Praticidade, pois o leite materno está sempre pronto; Diminui o risco de câncer de mama e ovário. ELUCIDAR SOBRE A INTRODUÇÃO ALIMENTAR ATÉ O 1º ANO E POSSÍVEIS DISTÚRBIOS ALIMENTARES IDADE DE INTRODUÇÃO E FREQUÊNCIA – ALEITAMENTO MATERNO E ALIMENTAÇÃOCOMPLEMENTAR A definição de período adequado para iniciar a introdução dos alimentos deve levar em consideração a maturidade fisiológica e neuromuscular da criança e as necessidades nutricionais. Até os quatro meses, a criança ainda não atingiu o desenvolvimento fisiológico necessário para que possa receber alimentos sólidos. Apesar do reflexo de protusão (expulsar tudo o que põe na boca), ele ainda não senta sem apoio e não obtém o controle neuromuscular da cabeça e pescoço para mostrar saciedade, afastando a cabeça ou jogando-a para trás. Por essas limitações funcionais, a criança está preparada para receber apenas uma dieta liquida, preferencialmente o leite materno. Por volta dos 6 meses, a aceitação à uma dieta pastosa melhora não apenas em função ao desaparecimento do reflexo de protusão da língua, como também a maturação das funções gastrointestinais e renal e o desenvolvimento neuromuscular. As crianças menores de seis meses que recebem com exclusividade o leite materno começam a desenvolver a capacidade de autocontrole da ingestão muito cedo, aprendendo a distinguir as sensações de fome, durante o jejum e de saciedade, após a alimentação. Essa capacidade permite à criança, nos primeiros anos de vida, assumir autocontrole sobre o volume de alimento que consome e os intervalos entre as refeições, segundo suas necessidades. Posteriormente, esse autocontrole sofrerá influência de outros fatores, como o cultural e o social. Na idade de 6 a 12 meses o leite materno pode contribuir com aproximadamente metade da energia requerida nessa faixa etária e 1/3 da energia necessária no período de 12 a 24 meses. Assim, o leite materno continua sendo uma importante fonte de nutrientes após os 6 meses de idade, além dos fatores de proteção que fazem parte da sua composição. Após os seis meses, a criança amamentada deve receber três refeições ao dia (duas papas de fruta e uma papa salgada/comida de panela). Após completar sete meses de vida, respeitando-se a evolução da criança, a segunda papa salgada/comida de panela pode ser introduzida (arroz, feijão, carne, legumes e verduras). Entre os seis aos 12 meses de vida, a criança necessita se adaptar aos novos alimentos, cujos sabores, texturas e consistências são muito diferentes do leite materno. Com 12 meses a criança já deve receber, no mínimo, cinco refeições ao dia. AO COMPLETAR SEIS MESES AO COMPLETAR SETE MESES Leite materno à demanda Leite materno à demanda Fruta (raspada/amassada) + Refeição almoço (amassada) + Fruta Fruta (raspada/amassada) + Refeição almoço (amassada/em pedaços pequenos e bem cozidos) + Fruta (raspada/amassada/em pedaços bem pequenos) + Refeição jantar (amassada/em pedaços pequenos e bem cozidos) Nos primeiros dias da introdução dos alimentos complementares, não é preciso se preocupar com a quantidade de comida ingerida; o mais importante é proporcionar introdução lenta e gradual dos novos alimentos para que a criança se acostume aos poucos. Além disso, como consequência do seu desenvolvimento a criança não se satisfaz mais em apenas olhar e receber passivamente a alimentação. É comum querer colocar as mãos na comida. É importante que se dê liberdade para que ela explore o ambiente e tudo que a cerca, inclusive os alimentos, permitindo que tome iniciativas. Isso aumenta o interesse da criança pela comida. CONSISTÊNCIA E COMPOSIÇÃO O leite materno contém aproximadamente 0,7 calorias por ml. Os alimentos complementares normalmente contêm de 0,6 a 1,0 calorias por grama. Alimentos mais diluídos, como as sopas podem conter 0,3 calorias por ml. Para que os alimentos complementares forneçam 1,0 caloria por grama é importante que a consistência dos alimentos seja do tipo papa ou purê. No início os alimentos devem ser amassados com o garfo, nunca liquidificados ou peneirados. Os alimentos devem apresentar consistência de papas ou purês, pois apresentam maior densidade energética. Os termos sopas ou sopinhas não devem ser utilizados, pois transmitem a ideia de uma preparação mais líquida. É importante que, após a introdução de alimentos complementares, os pais e cuidadores não adotem esquemas rígidos de alimentação, como horários e quantidades fixas, prêmios e ou castigos. IDADE TEXTURA QUANTIDADE >6 meses Alimentos amassados Iniciar com 2 a 3 colheres de sopa e aumentar a quantidade conforme aceitação >7 meses Alimentos amassados 2/3 de uma xícara ou tigela de 250 ml 9 a 11 meses Alimentos cortados ou levemente amassados ¾ de uma xícara ou tigela de 250 ml A primeira papa salgada deve ser oferecida após a criança completar seis meses de vida. Tal refeição deve conter alimentos de todos os grupos: cereais ou tubérculos, leguminosas, carnes e hortaliças (verduras e legumes). Carnes e ovos cozidos devem fazer parte das refeições desde os seis meses de idade. O óleo vegetal deve ser usado em pequena quantidade. As frutas devem ser oferecidas após os seis meses de idade, amassadas ou raspadas, sempre às colheradas. E após o aparecimento da dentição, em pedaços pequenos ou inteira, conforme a idade e o desenvolvimento da criança. O tipo de fruta a ser oferecido deve respeitar as respeitar as características regionais, custo, estação do ano e o hábito alimentar da família e lembrando que nenhuma fruta é contraindicada. Os sucos naturais podem ser usados e não em substituição após as refeições principais, e não em substituição a elas, porém em uma dose pequena. Nos intervalos é preciso oferecer água tratada, filtrada ou fervida para a criança. As refeições de almoço e janta devem conter um alimento de cada grupo, podendo a mãe escolher um alimento de cada. 1. Cereais, raízes e tubérculos: arroz, aipim, milho, batata, batata doce, inhame. 2. Legumes, verduras e frutas: folhas verdes, beterraba, cenoura, abobrinha, abóbora, tomate, repolho, acelga, laranja, banana, abacate... 3. Carne e ovos: frango, peixe, boi, porco, vísceras (miúdos) e ovos. 4. Feijões: feijão, lentilha, ervilha, soja, grão de bico. ALIMENTOS NÃO RECOMENDADOS A criança aprende a gostar de alimentos que lhe são oferecidos com frequência e passam a gostar da maneira com que eles foram introduzidos inicialmente. O ideal é que ela ingira alimentos com baixo teor de açúcar, gorduras e sal, de modo que esse hábito se mantenha na sua fase adulta. Alimentos muito doces e condimentados faz com que a criança perca o interesse em frutas, verduras e legumes na sua forma natural. Açúcar, enlatados, refrigerantes, balas, salgadinhos, biscoitos recheados e outros tipos de alimentos com grandes quantidades de açúcar, gordura e corantes devem ser evitados especialmente no primeiro ano de vida. O consumo desse tipo de alimento está associado a excesso de peso e à obesidade infantil, que pode perdurar até a fase adulta de vida, além de provocarem dislipidemias e alteração na pressão arterial. Também são causas de anemia e alergias. As crianças já nascem com preferência ao doce, portanto, oferecer alimentos adicionados de açúcar ou alimentos com grandes quantidades de energia faz com que a criança se desinteresse pelos cereais, verduras e legumes, alimentos que são fontes de nutrientes importantes. Sucos artificiais não devem ser oferecidos por não oferecerem nada além de açúcar, corante artificial e essência e são extremamente prejudiciais à saúde e podem causar alergias, além do surgimento de cáries precoce. O consumo de mel deve ser evitado no primeiro ano de vida pois pode conter esporos de Clostridium botulinum e pode levar ao botulismo. Alimentos em conserva (palmito, picles, alimentos embutidos) também são fontes potenciais de contaminação por esporos C. botulinum e devem ser evitados. O sal, em virtude da familiaridade com o leite materno, ligeiramente adocicado nesse período, ao passo que, a partir do quarto mês, começa a desenvolver interesse por alimentos salgados,em virtude da modificação da composição do leite humano, gradativamente mais salgado em função de quantidades maiores de cloretos. Assim, como o gosto por alimentos salgados é um aprendizado que se adquire, é recomendável sugerir a quem os prepara que administre quantidade mínima de sal, observando a aceitação da criança. O consumo precoce do sal está associado ao aparecimento de hipertensão arterial, inclusive na infância e, assim, risco cardiovascular na fase adulta. Opções de ervas e temperos naturais que podem ser utilizados para temperar as refeições e estimula a redução do uso do sal e evita a adição de condimentos prontos e industrializados. Ex: alho, tomate, pimentão, limão, laranja, salsa, cebolinha, hortelã, alecrim, orégano, etc. ALEITAMENTO PARA CRIANÇAS NÃO AMAMENTADAS É imprescindível que o profissional de saúde reflita com as famílias as implicações econômicas da opção pela substituição do aleitamento materno e os riscos à saúde da criança pelo uso desnecessário ou inadequado de alimentos artificiais e mamadeiras, favorecendo uma escolha informada. Existem situações em que a amamentação não é indicada ou situações em que foram esgotadas as possibilidades de reverter um desmame precoce. Nesses casos, há o uso de substitutos do leite materno. Como alternativa ao leite materno, deve-se buscar uma alimentação láctea adequada à situação clínica, social e cultural da família. OBS: O Leite humano processado e distribuído pelos Bancos de Leite Humanos apesar de ser a melhor opção de alimentação para crianças menores de 6 meses é, prioritariamente, destinado a crianças de risco internadas em Unidades de Terapia Intensiva. Mães HIV positivo podem receber fórmulas infantis para a alimentação de seus filhos. RECOMENDAÇÕES QUANTO À DURAÇÃO DO AM – SBP A OMS e a SBP recomendam AM por 2 anos ou mais, sendo a forma exclusiva nos primeiros 6 meses. A amamentação por 2 anos ou mais pode ser vantajosa em razão do valor nutritivo do leite materno e da proteção contra doenças infecciosas, que se mantém enquanto a criança for amamentada, independentemente da idade. A duração média da AM no Brasil é de 14 meses, sendo que apenas 25% das mulheres amamentam entre 18 e 23 meses e menos de 10% conseguem manter a amamentação materna exclusiva (AME) até os 6 meses. ORIENTAÇÕES BÁSICAS QUE DEVEM SER REPASSADAS ÀS MÃES/FAMÍLIAS – SBP INÍCIO DA AMAMENTAÇÃO Deve ser iniciada tão logo possível após o parto, com recomendação contato pele a pele na primeira hora de vida, sempre que as condições de saúde sejam boas o suficiente para ambos. A sucção precoce da mama reduz o risco de hemorragia pós-parto, ao liberar ocitocina, e de icterícia no RN, por aumentar a motilidade gastrointestinal. FREQUÊNCIA DAS MAMADAS O RN mama com frequência e sem regularidade de horários. O bebê em AME pode mamar em livre demanda de 8 a 12 vezes ao dia. Muitas mães inseguras e sem informação suficiente interpretam isso como sinal de fome do bebê e introduzem alimentação complementar. DURAÇÃO DAS MAMADAS O tempo de permanência não deve ser estabelecido, pois o tempo de esvaziar a mama varia entre bebês e depende da fome. Independente do tempo de mamada, é importante que a criança esvazie o seio, pois, o final da mamada contém mais calorias e sacia a criança. USO DE SUPLEMENTOS Água, chás e, sobretudo, outros leites devem ser evitados, pois seu uso está associado a desmame precoce. DISTÚRBIOS ALIMENTARES – CHATGPT Distúrbios alimentares em bebês são condições que afetam a alimentação e a nutrição adequada na primeira infância. Aqui estão alguns exemplos de distúrbios alimentares em bebês: Anorexia infantil: A anorexia infantil é uma condição em que o bebê recusa consistentemente a alimentação, seja amamentação ou mamadeira. Pode ser causada por problemas físicos, como refluxo gastroesofágico, alergias alimentares, ou problemas psicológicos. Regurgitação: A regurgitação é o refluxo de alimentos e líquidos do estômago para o esôfago, muitas vezes acompanhada de vômitos. Pode ser causada por imaturidade do sistema digestivo ou por outras condições médicas, como doença do refluxo gastroesofágico. Intolerância à lactose: A intolerância à lactose é a incapacidade de digerir a lactose, o açúcar presente no leite. Pode causar sintomas como diarreia, dor abdominal e inchaço. Alergia alimentar: A alergia alimentar é uma reação imunológica a um alimento específico. Pode causar sintomas como coceira, urticária, inchaço e dificuldade para respirar. Fome emocional: A fome emocional é um distúrbio alimentar em que o bebê busca alívio emocional através da comida. Pode ser causada por problemas emocionais ou estresse. Dificuldades de deglutição: Dificuldades de deglutição são comuns em bebês prematuros ou em bebês com problemas de desenvolvimento. Pode causar engasgos, tosse ou sufocamento durante a alimentação. É importante identificar os sinais e sintomas desses distúrbios alimentares em bebês e procurar ajuda médica. O tratamento pode incluir mudanças na dieta, medicamentos e terapias específicas. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado podem ajudar a garantir a nutrição adequada e o desenvolvimento saudável do bebê. DISCORRER SOBRE A COMPOSIÇÃO BIOQUÍMICA E IMUNOLÓGICA DOS TIPOS DE LEITE LEITE MATERNO – SBP O leite humano, por sua complexidade biológica, é considerado um alimento vivo que desempenha, além da função nutritiva, papéis de proteção, imunomodulação e prevenção de doenças degenerativas do adulto. Nos primeiros dias, a mama produz colostro, líquido rico em proteínas, minerais, fatores de crescimento e imunológicos, em volume médio de 30 mL/dia. Nas duas primeiras semanas, o colostro é substituído pelo leite de transição e posteriormente pelo leite maduro, que supre as necessidades nutricionais do lactente até o sexto mês de vida. O leite humano possui numerosos fatores imunológicos que protegem a criança contra infecções. A IgA secretória é o principal anticorpo, atuando contra microrganismos presentes nas superfícies mucosas. Os anticorpos IgA no leite humano são um reflexo dos antígenos entéricos e respiratórios da mãe, ou seja, ela produz anticorpos contra agentes infecciosos com os quais já teve contato, proporcionando, dessa maneira, proteção à criança contra os germens prevalentes no meio em que a mãe vive. A concentração de IgA no leite materno diminui ao longo do primeiro mês, permanecendo relativamente constante a partir de então. Além de IgA, o leite materno possui outros fators de proteção, como anticorpos IgM e IgG, macrófagos, neutrófilos, linfócitos B e T, lactoferrina, lisozima e fator bífido. O fator bífido favorece o crescimento do Lactobacilus bifidus, bactéria não patogênica que acidifica as fezes e dificulta a instalação de bactérias que causam diarreia, como a salmonella. O colostro é um liquido de densidade variável, de coloração amarelada, devido ao alto teor de betacaroteno. Quando comparado ao leite maduro, é mais viscoso, possuindo concentrações elevadas de proteínas, minerais e vitaminas lipossolúveis, particularmente A, E e carotenoides, bem como menores teores de lactose, gorduras e vitaminas do complexo B. O leite humano possui proteínas, carboidratos, minerais, vitaminas e enzimas, além de imunoglobulinas, fatores anti-inflamatórios e imunoestimuladores. A gordura é o componente de maior variação, em que sua concentração aumenta de forma progressiva do início até o fim da amamentação. A lactose é o principal carboidrato do leite humano e está presente em concentrações mais baixas no colostro que no leite maduro. Fornece cerca de 50% do conteúdo energético total do leite materno enquanto as gorduras constituem a maior fonte de energia do leite, com 3 a 4g/dL, correspondendo a 40 a 50% do total calórico, enquanto o colostro possui concentração lipídica de 1,8 a 2,9 g/dL. Os ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longasão essenciais para o desenvolvimento cognitivo e visual e na mielinização dos neurônios. A água contribui com quase 90% da composição do leite materno, o que garante o suprimento das necessidades hídricas de uma criança em AME, mesmos nos dias quentes e áridos. A principal proteína do leite é a lactoalbumina. Alguns dos fatores de proteção do leite materno são totais ou parcialmente inativados pelo calor, razão pela qual o leite humano pasteurizado (submetido a uma temperatura de 62,5ºC por 30 minutos) não tem o mesmo valor biológico que o leite cru. LEITE DE VACA – ALIMENTO MATERNO E ALIMENTAÇÃO COMPLEMENTAR O leite de vaca é muito diferente do leite humano em quantidade e qualidade de nutrientes. Ele apresenta uma concentração proteica muito elevada, inadequada relação entre a caseína e as proteínas do soro, elevados teores de sódio, de cloretos, de potássio e de fósforo e de quantidades insuficientes de carboidratos, ácidos graxos essenciais, vitaminas e de minerais para essa faixa etária. Além dos seus problemas nutricionais, o leite de vaca é muito alergênico para crianças e seu consumo tem sido associado à atopia. Apesar do leite de vaca, seja fluido ou em pó, não ser a melhor opção de alimentação para menores que 12 meses, esse alimento é o único disponível em função do baixo custo, quando comparado às fórmulas infantis disponíveis no mercado. Por isso, é importante que os profissionais saibam orientar às mães quanto à utilização adequada e segura, quando as possibilidades forem esgotadas. Para crianças menores de quatro meses, deve-se diluir o leite de vaca integral: 1. O leite deve ser diluído em 2/3 ou 10%, até os 4 meses, devido ao excesso de proteína e eletrólitos que fazem sobrecarga renal. 2. A diluição reduz a energia e ácido linoléico, sendo necessário o acréscimo de 3% de óleo (1 colher de chá de óleo) para melhorar sua densidade energética No leite em pó: 1 colher de sobremesa rasa para 100 mL de água fervida. Primeiro dilui o leite em pó em um pouco de água fervida e depois adiciona o resto da água. No leite fluido: 2/3 de leite + 1/3 de água fervida A partir do segundo mês de vida, oferecer suplementação de vitamina C (30 mg/dia). Se a criança não estiver em AME, a suplementação de ferro profilático poderá ser feita a partir dos 4 meses com a introdução de alimentos complementares, até a criança completar 24 meses, na dose de 1 mg/kg de peso/dia. 1. Se a criança não estiver sendo alimentada com leite materno e nem fórmula infantil, a partir dos 4 meses deve-se iniciar a introdução de outros alimentos para suprir suas necessidades nutricionais 2. Duas papas salgadas e duas frutas, além do leite sem adição de açúcar. Deve oferecer água entre as refeições Para crianças maiores que 4 meses, não é mais necessário diluir o leite de vaca integral e deve-se iniciar a introdução de alimentos complementares, oferecendo água entre as refeições. Seu consumo máximo de leite não deve ultrapassar 500 mL por dia. FÓRMULAS INFANTIS – ALEITAMENTO MATERNO E ALIMENTAÇÃO COMPLEMENTAR Apesar de proporcionar o conteúdo nutricional necessário, as fórmulas não são estéreis e estão sujeita às mesmas preocupações de segurança, como cuidados com a higiene na preparação e abastecimento de água potável. Esses cuidados devem ser ainda maiores nos primeiros seis meses de vida. 1. Oferecer água entre as refeições. 2. Quando a formula é oferecida em diluição e quantidade adequada, não é necessário oferecer suplementos vitamínicos, nem suplemento de ferro, pois esses estão presentes na composição das fórmulas. O profissional de saúde deve orientar as mães e cuidadores quanto à importância de seguir as recomendações de diluição do produto. Leites muito concentrados ou muito diluídos podem ser prejudiciais para a saúde da criança, pois pode resultar, respectivamente, em uma sobrecarga renal de sais e proteína ou desnutrição. Se a criança é alimentada com fórmula infantil, a introdução de outros alimentos deve ser feita a partir dos seis meses de vida e deve seguir as mesmas orientações sobre a introdução da alimentação complementar para crianças amamentadas. FÓRMULAS À BASE DE SOJA – NELSON São isentas das proteínas do leite de vaca e de lactose e usam sacralose, xarope de milho sólido e maltodextrina para fornecer energia. A quantidade de gorduras varia de acordo com o fabricante. Entre as indicações para as fórmulas à base de soja, estão a galactosemia e a deficiência hereditária de lactase, porque as fórmulas à base de soja são isentas de lactose, bem como as situações em que a dieta vegetariana é preferida. ACLARAR A RESPEITO DA MATURAÇÃO MORFOLÓGICA E IMUNOLÓGICA DO TGI COLONIZAÇÃO DO TGI – JORNAL DE PEDIATRIA No primeiro dia de vida ocorre uma rápida colonização do intestino do RN com microrganismos provenientes da microbiota materna e do ambiente. Os primeiros colonizadores são do gênero Escherichia e Enterococcus. Após isso, bactérias anaeróbicas facultativas aparecem (primeira classe de colonizadores) que contribuem para o desenvolvimento do ambiente anaeróbico no intestino, que, assim, permite a instalação de anaeróbicos obrigatórios. Com a introdução de alimentos complementares ao leite materno na dieta do lactente, observa-se um importante impacto sobre a microbiota intestinal, com a diminuição de bifidobactérias e pelo aumento das clostridium e bacterioides. A colonização do tubo digestivo do recém-nascido e do lactente depende de alguns fatores, especialmente do tipo de parto e de alimentação. Ao longo dos dois primeiros anos de vida observa-se que o parto por cesárea se associa com maior abundância de firmicutes e menor de bacteriodetes. Ao longo do primeiro semestre de vida constata-se que a instalação dos bacteriodetes ocorre em uma fase mais tardia. No fim dos dois anos de vida a abundância relativa dos constituintes da microbiota é semelhante tanto nos partos cesariano e normal. Observou-se também que os níveis circulantes de citocinas produzidas por linfócitos T auxiliadores são menores nos nascidos por cesárea. Com relação ao tipo de alimentação, é bem conhecido que a microbiota intestinal de lactentes alimentados exclusivamente com leite materno é diferente daqueles alimentados com aleitamento artificial. O leite materno é rico em oligossacarídeos que influenciam na composição da microbiota intestinal. Estudos mostram que a microbiota é um indutor importante e ativo das respostas regulatórias do sistema imune. Ela é capaz de induzir células T Reguladoras (TReg) e macrófagos a atuar contra antígenos patogênicos. A disbiose pode prolongar a imaturidade imunológica e, consequentemente, aumentar o risco para doenças relacionadas com o sistema imunológico. O período neonatal é considerado uma janela crítica para o desenvolvimento do sistema imunológico. A estimulação microbiótica adequada se torna necessária para a maturação apropriada de respostas das células TReg. Os ácidos graxos de cadeia curta, subproduto da fermentação bacteriana, também são conhecidos por modular a homeostase reguladora das células T (Treg). Essas são responsáveis pelas respostas imunomoduladoras ou imunossupressoras, ou seja, exercem um papel de tolerância imunológica no corpo, controlando, assim, as respostas inflamatórias. A desregulação dessas células está diretamente ligada ao desenvolvimento de problemas alérgicos e doenças autoimunes. PROBLEMA 2 – FECHAMENTO ELUCIDAR ACERCA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL (DNPM, MARCOS E CURVAS), ENFATIZANDO ESCALAS VIGILÂNCIA DO DESENVOLVIMENTO – SBP VOL 1 A vigilância do desenvolvimento infantil é parte essencial do acompanhamento médico e o pediatra deve estar habilitado a avaliar e validar quando este estiver adequado, assim como diagnosticar e encaminhar a especialistas quando houver atrasos ou alterações. A avaliação do desenvolvimento deve ser feita em todas as consultas de puericulturaprogramadas. O estudo do desenvolvimento compreende alguns domínios de função interligados, quais sejam: sensorial, motor (geralmente subdividido em habilidades motoras grosseiras e habilidades motoras finas), da linguagem social, adaptativo, emocional e cognitivo. AVALIAÇÃO Essa verificação pode ser realizada de forma sistematizada por meio de algumas escalas, como exemplos: 1. Teste de Gesell 2. Teste de triagem Denver II 3. Escala de desenvolvimento infantil de Bayley 4. Albert Infant Motor Scale No Brasil, a Caderneta de Saúde da Criança, utilizada para o registro dos atendimentos nos serviços de saúde, disponibiliza uma sistematização para a vigilância do desenvolvimento infantil até os 3 anos de idade. MARCOS DO DESENVOLVIMENTO IDADE MARCOS 0 a 2 meses Acalma com a voz da mãe Observa um rosto Segue objetos ultrapassando a linha média Reage a som Vocaliza (emite sons diferentes do choro Sorri 2 a 4 meses Observa sua própria mão Segue o olhar até 180º Grita e tenta conversar Sustenta a cabeça Leva a mão à boca Sustenta a cabeça e ombros quando colocados e bruços 4 a 6 meses Senta sozinho Vira-se sozinho e rola de um lado para o outro Tenta alcançar um objeto e o agarra Procura objetos fora do alcance Volta-se para o som Inicia uma interação 6 a 9 meses Transmite objetos de uma mão para a outra Pinça polegar-dedo Repete sons (sílabas) Senta sem apoio Arrasta e engatinha Estranhamento Brinca de escondeu-achou 9 a 12 meses Bate palmas, acena Fala palavras pequenas Fica em pé com apoio Pinça completa (polpa a polpa) Segura o copo ou a mamadeira Bate palmas, aponta com o dedo 12 a 18 meses Anda sozinha Compreende o que falam Deseja comer sozinha Gosta de escutar pequenas histórias, músicas e dançar Faz birra quando contrariada 18 a 24 meses Junta palavras e inicia frases curtas Testa limites Tem vontade própria Deseja se vestir Pode começar a controlar esfíncteres 2 a 3 anos Corre e sobe escadas com ajuda do corrimão Descobre o nome das coisas Gosta de brincar com outras crianças 3 a 6 anos Veste-se sozinha Fala de forma clara e compreensível Pergunta muito “por quê” 6 a 10 anos Deve frequentar a escola A criança tem interesse por grupos de amigos e por atividades independentes da família SINAIS DE ALERTA Levantam a suspeita de anormalidade em uma área ou etapa específica do desenvolvimento. Surgem numa idade subsequente àquela da aquisição do marco de desenvolvimento relacionado. A exemplo, a criança que não anda sozinha se torna preocupante por volta dos dois anos, pois é um marco dos 9 a 12 meses. O sorriso surge por volta dos 2 meses, caso ausente entre 4 e 6 meses, é sinal de alerta. LAVÍNIA ARAÚJO @laviarauj Na hipótese de alteração, deve ser enviado a um especialista. ESCALAS DE TRIAGEM E AVALIAÇÃO NO DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR – SBP VOL 1 Medidas de vigilância do desenvolvimento e triagem devem ser oferecidas a todas as crianças, independentemente de existirem fatores de risco, pré, peri ou pós-natais para os transtornos do desenvolvimento. Por triagem do desenvolvimento neuropsicomotor entende-se o processo pelo qual ocorre o monitoramento periódico no sentido de como o sistema nervoso central (SNC) está amadurecendo ante à exposição ambiental, experiências de vida e estimulação da criança. As habilidades motoras, da linguagem, cognitivas e socioemocionais devem ser documentadas a partir da tenra idade e devem ser comparadas com a faixa de maturação do desenvolvimento esperado. TESTE DE DENVER II Desenvolvido por Frankeburg e Dodds, em 1967, com o objetivo de direcionar o cuidado dos adultos para as crianças com riscos, e não de diagnosticar atrasos no desenvolvimento. O uso foi difundido em muitos países, sofrendo adaptações, o que inspirou uma revisão e repadronização do teste, resultando no teste Denver II em 1992. Pode ser aplicado por vários profissionais de saúde em crianças de 0 a 6 anos classificando-a dicotomicamente em risco ou normal. É composto por 125 itens, distribuídos na avaliação de quatro áreas distintas do DNPM: motricidade grossa, motricidade fina- adaptativa, comportamento pessoal-social e linguagem. São itens registrados pela observação direta da criança e, para alguns deles, solicita-se que a mãe informe se o filho realiza ou não determinada ou não determinada tarefa. Apresenta bons índices de validade e confiabilidade e, portanto, largamente utilizado tanto em pesquisas quanto na prática. Os itens são apresentados em gráfico com um marco dos limites para cada idade. A aplicação individual e o tempo médio é de 20 a 40 minutos, dependendo da idade da criança e da complexidade do caso. BAYLEY SCALES OF INFANT DEVELOPMENT Avalia o funcionamento do desenvolvimento de bebês e crianças pequenas de 1 a 42 meses de idade, com duração de aplicação de 30 a 90 minutos, dependendo da idade da criança e da habilidade do avaliador. Pode ser aplicado em lactentes pré-termo, crianças com HIV, autistas ou portadores de síndrome de Down. Consiste em identificar atrasos no desenvolvimento e providenciar informações para o planejamento de intervenções. É composta por cinco escalas padronizadas: escala cognitiva (determina o que a criança pensa, reage e aprende sobre o mundo ao redor); escala da linguagem, comunicação receptiva (determina como a criança reorganiza sons e como a criança entende, fala e direciona palavra) e a comunicação expressiva (determina como a criança se comunica usando sons, gestos e palavras). A escala motora está subdividida em escala motora grossa (determina como a criança movimenta o seu corpo em relação à gravidade) e fina (determina como a criança usa as mãos e dedos para fazer algo). Só pode ser aplicado por profissionais especializados. É de alto custo. INVENTÁRIO DIMENSIONAL DE AVALIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL – IDADI É um instrumento multidimensional de avaliação do desenvolvimento infantil. Dividida em sete domínios, assim como a de Bayley. Avalia bebês e crianças entre 4 e 72 meses de idade. Possui um valor muito mais baixo que o Bayley. INVENTÁRIO PORTAGE OPERACIONALIZADO – IPO Recentemente adaptado para a realidade brasileira, é composto por 580 comportamentos distribuídos em cinco áreas, separados por faixa etária de zero a seis anos e uma área específica para bebês de zero a quatro meses. As áreas de Cognição (avalia a linguagem receptiva e o estabelecimento de relações de semelhanças e diferenças), Socialização (avalia habilidades relevantes na interação com as pessoas), Autocuidado (avalia a independência para o alimentar-se, vestir-se, banhar-se etc.), Linguagem (avalia o comportamento verbal expressivo) e Desenvolvimento Motor (avalia os movimentos coordenados por pequenos e grandes músculos) compõem o conjunto de áreas e comportamentos avaliados pelo IPO. Uma vantagem adicional deste instrumento é a possibilidade de avaliar as crianças até seis anos de idade. Vantajosa porque é uma alternativa barata. ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR O A 2 ANOS MOTOR O padrão motor é imaturo, com predominância de tônus flexor dos membros associado a uma hipotonia axial, preensão palmar reflexa e reflexo de sucção. A avaliação do desenvolvimento dos reflexos permite ao pediatra determinar a integridade do sistema nervoso central de acordo com a expectativa relacionada à idade cronológica da criança. Esses reflexos estão presentes em todos os recém-nascidos a termo, sendo considerados fisiológicos nos primeiros meses de vida. Sua ausência inicial ou permanência tardia sugere alterações patológicas que merecem ser investigadas. Lembrar de todos os reflexos já estudados. LINGUAGEM Através de choro alto e repetido no primeiro mês secundário às necessidades dele. No segundo mês, a criança já faz sons que não são choro. SOCIOEMOCIONAL Interage desde os primeiros momentos de vida, com osorriso iniciando entre o primeiro e segundo mês de vida. COGNITIVO Presta atenção em rostos e segue as coisas com os olhos, além de reconhecer rostos. 2 A 4 MESES MOTOR Avanço das habilidades motoras, com desaparecimento de alguns reflexos primitivos. Mantém a cabeça firme ao ser segurado pelo tronco, mãos abertas com mais frequência e a capacidade de agarrar objetos aos 4 meses. Na posição de bruços, por manter a cabeça firme, mantém a cabeça em 45º por um momento breve. Aos 4 meses, mantém elevada por muito tempo a 90º. LINGUAGEM A produção verbal esboça vogais aos 2 meses e brincam com esses sons. Aos 4 meses já reconhecem padrões sonoros, como repreensão ou elogios por parte do cuidador, respondendo com mudança de fisionomia para alegria ou tristeza. SOCIOEMOCIONAL Tem reciprocidade afetiva apesentada pelo sorriso, ao receber estímulos afetuosos. Olha diretamente para a mãe ao ser amamentado e reage positivamente com sorrisos e grunhidos. COGNITIVO Repete comportamentos que pareçam agradáveis: chupar o dedo, colocar objetos na boca, ouvir próprios sons, apertar as próprias mãos. 4 A 6 MESES MOTOR Aos 6 meses apresenta mudança de posição de forma ativa (o bebê já rola com facilidade) e consegue levar objetos sozinha à boca. Consegue sentar, apoiando-se para a frente com as mãos ou um apoio, sustenta o peso com membros inferiores, agarra o cubo com as mãos, tenta pegar objetos pequenos e brinca com os pés. Reflexos de procuram voracidade e de preensão palmar desaparecem aos 4 meses. Moro começa a desaparecer e persiste até no máximo 6 meses. LINGUAGEM Aos 4 meses emite sons como “gugu”,” eee”. Emite sons com consoantes, formando sílabas aos 6 meses. SOCIOEMOCIONAL Aumento da reciprocidade social entre a criança e o cuidador. Antecipam a intenção do cuidador acompanham seus movimentos. Com 6 meses manifestam expectativa do horário de comer, sentem ao afastamento do cuidador. COGNITIVO Demonstra estar triste ou feliz, responde ao afeto de forma mais adequada, observa rostos de perto e reconhece coisas de longe. 6 A 9 MESES MOTOR Consegue se sentar sozinho aos 6 meses e fica um bom tempo sem cair para os lados ou para frente. Percebe forma e textura das coisas e leva pedaços de alimentos à boca. Já é capaz de virar de prono para supino e vice-versa, usando o rolar como forma de locomoção por volta de 8 meses. Alguns lactentes, com 9 meses, conseguem engatinhar ou ficar de pé com apoio e se deslocam de um lado para o outro, por exemplo, apoiando-se no sofá. Nessa fase, a criança rola em todas as direções, inclusive durante o sono, o que requer muita atenção por parte de seus cuidadores. LINGUAGEM Reconhece seu nome aos 6 meses e vira para encontrar a origem de um som mais chamativo. SOCIOEMOCIONAL Aos 6 meses, já iniciam o entendimento de seus próprios sentimentos, como a diferença entre sentir sede e a necessidade de afeto, com indícios de dicas se querem água ou carinho, por exemplo. Sentem o afastamento dos cuidadores, sorriem quando estimulados de forma ativa e intencional. Passa a demonstrar preferência por determinadas pessoas, objetos ou lugares e muitas vezes chora quando outra criança chora. Progressivamente o bebê vai desenvolvendo as preferências entre seus familiares, culminando com a ansiedade de separação, que acontece por volta dos 9 meses. COGNITIVO Passa objetos de uma mão para outra, entende a brincadeira de esconde-esconde, pega coisas pequenas com facilidade entre o polegar e o indicador. 9 A 12 MESES MOTOR Aos nove meses já consegue engatinhar e se arrastar na direção daquilo que tem interesse. Aos 10 meses caminham com apoio de um adulto, sustentando o corpo nas próprias pernas. Aos 11 meses ficam em pé sozinhas. Aos 12 meses andam se conduzidos pela mão. LINGUAGEM Silenciam quando existe um interlocutor e esperam para responder nas vocalizações quando param de conversar. Com 9 meses mostram objetos e movem a cabeça ao negar algo. Com 10 meses buscam objetos e levantam os braços para serem acolhidos. 11 meses usam as mãos como símbolos comunicantes. 12 meses apontam com a mão aberta para objetos. SOCIOEMOCIONAL Preocupam-se com o cuidador principal e tem medo de outras pessoas que não fazem parte de seu convívio. COGNITIVO Explora as coisas de maneiras diferentes, como sacudir, bater e jogar. Olha para as imagens quando é nomeado, imita gestos, começa a usar as coisas corretamente (bebidas num copo, escova de cabelo). 12 A 18 MESES MOTOR Aquisição da marcha é protagonista. A criança adquire postura ereta aos 12 meses e se sustenta sobre os pés. Aos 15 meses já prefere caminhar ereta. LINGUAGEM Aos 12 meses já compreende e reconhece boa parte das situações. A fala se restringe a poucas palavras além de “papá” e “mamá”, mas ela compreende frases. Aos 15 meses já fala 4-6 palavras incluindo nomes, usando um jargão mais rico e elaborado. Aos 18 meses a linguagem se aprimora. SOCIOEMOCIONAL Gosta de entregar coisas aos outros, pode ter acessos de raiva quando frustrada, tem medo de estranhos, demonstra afeto por pessoas conhecidas, pode se apegar aos cuidadores em novas situações. COGNITIVO Interesse em boneca ou bicho de pelúcia fingindo alimentá-los, aponta partes do corpo e rabisca sozinho. Pode seguir comandos verbais de 1 passo. 18 A 24 MESES MOTOR Com 18 meses já conseguem andar com segurança e dar até pequenas corridas, além de conseguir subir degraus baixos e se sentarem em pequenas cadeiras. Aos 2 anos já conseguem ficar na ponta dos pés, chutar e lançar bolas sem ajuda, aprende a correr, subir escadas, pular, abrir maçanetas e tiram sozinhas peças de roupas. LINGUAGEM Com 18 meses reconhecem e apontam pessoas em fotos, partes do corpo. Aos 2 anos já estão usando de 50 a 200 palavras e formam frases com 1 substantivo e 1 verbo, se chama pelo nome, completa frases e começa a diferenciar cores, formas e animais. SOCIOEMOCIONAL Ocorre o aprendizado de posse com conceito de meu e não. Costuma brincar sozinha. Pode demonstrar comportamento desafiador, iniciando comportamentos de birra, demonstram vergonha, culpa ou tristeza após transgressão de regra. COGNITIVO Classificam cores e formas, completam frases e rimas já familiares, brinca de jogos simples de faz de conta. 2 A 3 ANOS MOTOR Corre e bate numa bola sem desequilíbrios, tenta se equilibrar num só pé, sobe escadas alternando movimentos de membros inferiores, consegue se manter em pé sobre uma única perna, salta no mesmo local com ambos os pés e consegue andar de triciclo. LINGUAGEM Amplia a atenção e percepção auditiva e visual. Segue instruções com 2 a 3 comandos. Fala o primeiro nome, sexo, idade, nomeia amigos. Fala bem o suficiente para que estranhos entendam na maior parte do tempo e mantém uma conversa usando 2 a 3 frases. SOCIOEMOCIONAL Imita adultos e amigos, demonstra afeto pelos amigos sem precisar ser estimulado, demonstra preocupação com um amigo chorando. COGNITIVO Consegue usar brinquedos com botões, alavancas e peças móveis, brinca de faz de conta com bonecos, monta quebra-cabeças de 3 a 4 peças, vira páginas de livros uma de cada vez, constrói torres de mais de 6 blocos, parafusa e desparafusa tampas de frascos ou gira maçaneta. 3 A 6 ANOS MOTOR Aos 4 anos sobe e desce escadas alternando os pés, salta sobre um pé, consegue lançar uma bola (igual a antes, mas aqui só aprimora o movimento). Desenha figura humana simples (garatuja nomeada), controle vesical diurno e o anal estão consolidados e o vesical noturno em consolidação. Aos 5 anos pula e pega uma bola arremessada e salta alternadamente sobre cada pé. Copia triangulo, desenha uma pessoa em 6 partes (etapa pré-esquemática) e usa tesoura. Aos 6 anos anda em linha reta usando toda a superfície do pé. Consegue escrever o próprio nome e comer sozinha com colher. LINGUAGEM Contam historinhaspequenas. Entre 4 a 5 anos, a criança adquiriu um vocabulário alargado entre 1500 a 2000 palavras, manifestando um grande interesse pela linguagem, realizam muitos questionamentos com por quês e utiliza o plural corretamente, os pronomes e tempos verbais. SOCIOEMOCIONAL Podem ter amigos imaginários com grande capacidade de imaginar. Consegue seguir bem as instruções e aceita supervisão, além de estarem mais calmas, não são exigentes nas relações e gostam de copiar os adultos. COGNITIVO Reconhece bem todas as cores, números, entende conceitos de antes e depois, em cima e embaixo e conceitos de tempo, como ontem, hoje e amanhã. Conhece as diferenças dos sexos e começa a interessar-se por saber de onde vêm os bebês. Conseguem assegurar sua higiene com autonomia. Podem escrever letras e números, copia um triangulo e outras formas geométricas e entende sobre as coisas usadas no dia a dia, como dinheiro e comida. CURVAS DE CRESCIMENTO – CADERNO 33 O acompanhamento do crescimento e estado nutricional durante a infância e adolescência possibilita um diagnóstico precoce de possíveis problemas, como desnutrição, sobrepeso ou obesidade na vida adulta. Para avaliação da antropometria, é uma importante ferramenta para análise das condições de saúde e nutrição de crianças. Nas últimas três décadas, houve o predomínio da utilização de dois conjuntos de curvas de crescimento: do National Center for Health Statistics (NCHS/1977) e do Centers for Disease Control and Prevention (CDC/2000). O referencial de 1977 apresenta algumas limitações, como amostras compostas de grande proporção de crianças em aleitamento artificial, todas norte-americanas, entre outras. Para tentar minimizar alguns problemas do referencial anterior, o CDC reconstruiu o referencial de 1977 com uma série de modificações, lançando-o no ano 2000. A amostra de crianças foi aumentada, incorporaram-se dados de crianças em aleitamento materno, foram utilizados métodos estatísticos mais modernos, como também o desenvolvimento do índice de massa corporal (IMC), dentre outras modificações. Em 2006, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou o novo padrão de crescimento infantil, construído com base em um estudo multicêntrico envolvendo seis países: Brasil (Pelotas), Ghana (Accra), Índia (Nova Delhi), Noruega (Oslo), Oman (Muscat) e Estados Unidos (Davis). A amostra de crianças avaliadas e suas famílias deveriam possuir diversos critérios de elegibilidade, dentre eles: aleitamento materno exclusivo até os quatro meses de idade; intenção de seguir as recomendações alimentares; situação socioeconômica que não prejudicasse o crescimento da criança; e mãe não fumante antes e após o parto. O conjunto das novas curvas da OMS é um instrumento tecnicamente robusto e representa a melhor descrição existente do crescimento físico para crianças menores de 5 anos de idade. A utilização desse padrão foi recomendada pelo Ministério da Saúde do Brasil em 2007, sendo as curvas de crescimento incluídas na Caderneta de Saúde da Criança. No mesmo ano, esse novo padrão foi estendido para crianças de 5 a 19 anos, após uma análise da amostra original do NCHS/1977, aplicando-se métodos estatísticos avançados, de modo que o padrão das curvas para crianças de 0 a 60 meses se estendesse para essa classe de indivíduos maiores. A Caderneta de Saúde da Criança utiliza como parâmetros para avaliação do crescimento de crianças (menores de 10 anos) os seguintes gráficos: perímetro cefálico (de zero a 2 anos), peso para a idade (de zero a 2 anos, de 2 a 5 anos e de 5 a 10 anos), comprimento/estatura para a idade (de zero a 2 anos, de 2 a 5 anos e de 5 a 10 anos), índice de massa corporal (IMC) para a idade (de zero a 2 anos, de 2 a 5 anos e de 5 a 10 anos). Para que uma criança seja efetivamente classificada dentro de um desses grupos de “desvio nutricional”, é necessária a avaliação das características individuais e do meio onde ela vive, para que possamos atribuir as causas para ela estar fora da curva e agir sobre elas, quando possível. SCORE Z – NESTLÉ Os dados são organizados de maneira hierárquica, do menor para o maior, com base na distância em que os mesmos se situam acima ou abaixo da média. Esta distância é calculada em unidades de desvio padrão. Cada unidade de escore z corresponde ao valor absoluto de um desvio padrão. São apresentados em: z-3, z-2, z-1, z0, z+1, z+2, z+3. PERCENTIS – NESTLÉ Também são dados em ordem hierárquica por seus valores absolutos, do menor para o maior. O percentil atribuído a cada valor correspondente à posição relativa que ocupa na sequência de valores observados. São apresentados em: p3, p5, p10, p 25 p50 (média ou mediana), p 75, p 90, p 95, p 97. ABORDAR OS PRINCÍPIOS E RECOMENDAÇÕES NA PUERICULTURA DE 0 A 5 ANOS DEFINIÇÃO – CADERNO 33 A puericultura efetiva-se pelo acompanhamento periódico e sistemático das crianças para avaliação de seu crescimento e desenvolvimento, vacinação, orientações aos pais e/ou cuidadores sobre a prevenção de acidentes, aleitamento materno e orientação alimentar no período do desmame, higiene individual e ambiental, assim como pela identificação precoce dos agravos, com vistas à intervenção efetiva e apropriada. FREQUÊNCIA DE CONSULTAS POR FAIXA ETÁRIA O MS recomenda no primeiro ano de vida: primeira semana, primeiro mês, segundo mês, quarto mês, sexto mês em subsequência trimestral. No segundo ano de vida, duas consultas: 18º mês e 24º mês e, a partir daí, consultas anuais. ANAMNESE Usar perguntas abertas para facilitar a compreensão dos motivos para a consulta. Exemplos de perguntas: “o que gostaria de me contar hoje?”. É importante avaliar o bem-estar da mãe, pois esse reflete no bem-estar da criança. EXAME FÍSICO A repetição do exame físico completo em todas as consultas não está justificada. Alguns procedimentos devem ser realizados frequentemente no exame físico da criança nos primeiros 10 anos de vida: DADOS ANTROPOMÉTRICOS É uma monitoração rotineira. Os registros de peso, estatura, perímetro cefálico da criança, são recomendáveis em todas as consultas, para crianças de risco ou não, até os 2 anos de idade Entre 2 a 10 anos, deve-se aferir o peso e a altura e anotá-los no gráfico da caderneta da criança. A altura para a idade é o melhor indicador de crescimento da criança. O IMC teve seu uso validado como bom marcador de adiposidade e sobrepeso, além do fato de que seu valor na infância pode ser preditivo do IMC da vida adulta. RASTREAMENTO PARA DISPLASIA EVOLUTIVA DO QUADRIL Mesmo sem evidencia de efetividade da redução dos desfechos clínicos com rastreamento de displasia de quadril, os protocolos recomendam ser feito, pois o diagnóstico precoce é importante na escolha de tratamentos menos invasivos e com menores riscos de complicações. Usa-se Barlow e Ortolani nas primeiras consultas. A observação da limitação da abdução dos quadris e o encurtamento de um dos membros inferiores devem ser os exames de rastreamento nas consultas após os 3 meses de idade, ou seja, nas consultas dos 4, 6, 9 e 12 meses. Quando a criança começa a deambular, a partir da consulta dos 12 ou dos 18 meses, a observação da marcha da criança é o exame de escolha. AUSCULTA CARDÍACA Não há evidências contra ou a favor da ausculta cardíaca e da palpação de pulsos em crianças. Alguns protocolos sugerem a realização da ausculta cardíaca e da palpação de pulsos no mínimo três vezes no primeiro semestre de vida, devendo-se repetir os procedimentos no final do primeiro ano de vida, na idade pré- escolar e na entrada da escola. AVALIAÇÃO DA VISÃO O teste do reflexo vermelho deve ser realizado na primeira consulta do recém-nascido na atenção básica e repetido aos 4, 6 e 12 meses e na consulta dos 2 anos de idade. AVALIAÇÃO DA AUDIÇÃO Se o teste da orelhinha for realizado nos recém-nascidos preferencialmente até o final do primeiro mês, ele possibilitaráum diagnóstico mais definitivo por volta do 4º e 5º mês, bem como o início da reabilitação até os 6 meses de idade. AFERIÇÃO DA PA A HAS é uma doença frequente no adulto e é o fator de risco mais importante para o desenvolvimento de aterosclerose, doença coronariana, insuficiência cardíaca, acidente vascular cerebral e para a progressão de doença renal crônica. A aferição da PA deve ser iniciada a partir dos 3 anos de idade nas consultas de rotina, uma medida aos 3 anos e uma no início da idade escolar (6 anos). Média das 2 últimas aferições Definição PA sistólica e diastólica < p90 Normal PA sistólica e diastólica média entre p90 e p95 Normal alta PA sistólica e diastólica média > p95 Alta ou hipertensão arterial RASTREAMENTO DE CRIPTORQUIDIA É a não descida dos testículos para o saco escrotal. A migração espontânea ocorre geralmente nos primeiros 3 meses de vida e raramente após os 6 a 9 meses. Se os testículos não forem palpáveis na primeira consulta ou forem retráteis, o rastreamento deve ser realizado nas visitas rotineiras de puericultura. Se aos 6 meses não forem encontrados testículos palpáveis no saco escrotal, será necessário encaminhar a criança à cirurgia pediátrica. Se forem retráteis, o caso deve ser monitorado a cada 6 a 12 meses, entre os 4 e 10 anos de idade do menino, pois pode ocorrer de a criança crescer mais rápido do que o cordão espermático nessa faixa de idade e os testículos saírem da bolsa escrotal. ACONSELHAMENTO ANTECIPADO Deve-se abordar 4 itens principais: dar atenção à queixa principal, revisar os problemas já apresentados, enfatizar a prevenção e a promoção oportunas e estimular a mudança de hábito na busca por cuidado. POSIÇÃO PARA DORMIR Pais devem ser alertados quanto ao risco de morte súbita no primeiro ano de vida, sobretudo nos 6 primeiros meses de vida. Os pais devem receber orientação de que a melhor maneira de prevenir é colocando a criança para dormir em posição supina e não de lados ou de bruços. A cama ou o berço deve ser firme e não deve haver lençóis ou cobertores frouxos ou objetos macios em volta da criança (kit berço). PREVENÇÃO DE INFECÇÃO VIRAL RESPIRATÓRIA Lavagem das mãos de todas as pessoas com contato com o bebê deve ser orientada em todas as visitas de puericultura, com o objetivo de evitar a propagação de vírus causadores de doenças. ACONSELHAMENTO PARA REALIZAR ATIVIDADE FÍSICA Para crianças a partir dos 2 anos, deve haver aconselhamento para a realização de 30 a 60 minutos por dia de atividade física moderada ou vigorosa, apropriada para a idade, entre 3 e 5 vezes por semana. A atividade pode ser cumulativa durante o dia. ACONSELHAMENTO PARA NÃO INGESTÃO DE BEBIDAS ALCÓOLICAS, NUTRIÇÃO E ACIDENTES Para crianças acima de 7 anos, é de fundamental importância reforçar a prevenção e a educação para se evitar o uso de bebidas alcoólicas tanto por meio de abordagem no núcleo familiar quanto na escola. Orientar quanto à alimentação saudável e na prevenção de lesões não intencionais. EXPLANAR SOBRE A EQUIPE MULTIPROFISSIONAL QUE COMPÕE A CRECHE (ENFATIZANDO O PEDIATRA) E SUA INFLUÊNCIA NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL ATUAÇÃO DO PEDIATRA – SBP VOL 1 A atenção integral à saúde do escolar envolve um conjunto de ações voltadas para a promoção, a proteção e a recuperação da saúde do aluno, por meio de atividades educativas e assistenciais, que devem sempre considerar sua história de vida e dinâmica familiar, assim como o início da escolarização, com o objetivo de propiciar uma harmoniosa interação com o ambiente físico e emocional da escola e, consequentemente, favorecer seu desempenho escolar. O pediatra é um dos profissionais que, por mais tempo, acompanha seus pacientes, atuando como se fosse o médico de família idealizado nos programas de atenção integral à saúde. Ao longo dos anos, frente às modificações sociais, sua atuação tem se ampliado muito, representando um porto seguro às famílias, desde o pré- natal até o fim da adolescência, em diferentes temas, como o aleitamento materno, a alimentação, o crescimento e o desenvolvimento neuropsicomotor, as vacinas e uma adequada puericultura. Uma criança, num país extenso como o Brasil, é importante considerar o quesito étnico. A criança ao adentrar a escola, traz consigo toda experiência de vida que precisa ser valorizada e começa a interagir com outros alunos de diferentes origens, num ambiente desconhecido e repleto de novas regras e valores definidos pela instituição. O pediatra tem dois importantes eixos de atuação na área de saúde escolar: a assistência prestada no consultório e/ou no ambulatório e as atividades desenvolvidas na escola. A avaliação precisa estar centrada no acompanhamento minucioso do crescimento e do desenvolvimento da criança, com foco na prevenção e no tratamento de problemas orgânicos e/ou psicossociais que possam interferir na aprendizagem e no comportamento do aluno. Além disso, deve-se orientar os pais a uma avaliação periódica pediátrica e da saúde bucal de seus filhos. Na maioria das vezes, os pais levam seus filhos em idade escolar ao pediatra para o atendimento de intercorrências, atualização vacinal e orientação sobre o afastamento ou não da escola em caso de doenças transmissíveis. Isso reforça a necessidade do vínculo com as famílias. OBSERVAÇÃO CLÍNICA DA FASE PRÉ-ESCOLAR – MARCONDES A fase pré-escolar é definida como a criança entre 2 a 6 anos de idade. Essa classificação não condiz com a faixa etária que socio- culturalmente o nome sugere. As consultas ao pediatra nessa idade diferenciam-se da do lactente pela periodicidade (semestral). Na consulta com o pré-escolar, a criança de 4 a 5 anos consegue oferecer algumas informações sobre sua rotina de ida e suas preferências. Aqui, é possível avaliar a linguagem, a relação da família com o paciente, se tem espaço para se colocar, se procura constantemente a ajuda dos familiares ou ainda se necessita de monopolização de atenção para si. PARTICULARIDADES DO PRÉ-ESCOLAR NUTRIÇÃO Nessa fase, o apetite diminui, pela menor velocidade de ganho pondero-estatural. Dos 2 a 6 anos de idade, a criança ganha de 6 a 8 cm por ano, o que significa pouco mais de 0,5 cm por mês. A mãe, geralmente acostumada com o ganho de peso do início, tende a reclamar que houve estabilização. Para o aumento da preocupação, essa fase é caracterizada por um aumento dos ossos longos em relação ao perímetro cefálico e ao tronco, com isso o abdome de retifica e o corpo afina, perdendo o aspecto roliço. Com essas características de emagrecimento, associados à diminuição do apetite, faz com que tenha uma maior insistência para que coma mais e, com isso, uma maior seleção para os alimentos que deseja. Nessa fase, o controle de guloseimas deve ser rígido para não prejudicar as refeições principais. A criança que ainda faz uso de mamadeira deve ser estimulada a usar copo. A alimentação que era de transição, já deve ser estimulada a ser como a dos adultos e deve ser incentivada a comer com as próprias mãos com o uso de talheres. O maior problema nutricional é a anemia ferropriva. SONO O sono nessa fase vai diminuindo e aos 2 anos de idade ela já perdeu o sono da manhã, dormindo em torno de 1 a 2 horas à tarde e 10 a 12 horas à noite. Por volta dos 4 anos, a maioria também perde o sono da tarde. A rotina da hora do deitar auxilia a criança a adormecer. Ele deve ser avisado com antecedência que já está na hora de dormir, para que possa terminar a brincadeira em que estiver envolvido, sem necessidade de interrompê-lo bruscamente. Após isso, deve haver o ritual de, a exemplo, pôr o pijama, escovar os dentes, contar uma história ou cantar uma música, orar e dar um beijo de boa noite e dormir. DNPM Aos 4 anos, o desenvolvimento do SNC está praticamente completo, aumentando mais a autonomia e melhorando a comunicação do pré-escolar. HIGIENE Até o fim desse período,a criança aumenta sua responsabilidade pela higiene. Por volta dos 3 anos, pode começar a tomar banho sob supervisão, sendo ajudada na lavagem dos cabelos e dos genitais. Aos 4 anos, a supervisão já não é mais diária e depois desse período só é necessário. A criança completa a dentição decídua até os 2 a 3 anos. A escovação dos dentes necessita de grande habilidade motora fina, sendo a criança só capaz de realizar ao fim da fase pré-escolar. O adulto é responsável pela escovação e por treinar e incentivar a autonomia da criança. ENCAMINHAMENTO Devem ser feitos encaminhamentos de rotina para especialistas, sendo com 3 anos necessário o encaminhamento ao cirurgião dentista para aplicação de flúor e controles odontológicos semestrais. Aos 4 anos, o controle oftalmológico é importante, sendo necessário o encaminhamento mais precoce, caso seja percebida qualquer anormalidade visual. Crianças com alterações na fala, atraso na linguagem, otites médias crônicas ou recorrentes devem ser encaminhadas para a avaliação fonoaudióloga. Crianças com fimose devem ser encaminhadas ao cirurgião, após adquirirem controle esfincteriano. Outro encaminhamento é o ortopedista, entre 2 a 3 anos, para apresentação de pés planos, valgos e afastados, afim de melhorar o seu equilíbrio. A CRIANÇA E A CRECHE – MARCONDES A creche é uma realidade da vida do pediatra, pois é um local que muitas crianças passam a maior parte do dia e da sua infância. Isso faz ser um espaço de importância na saúde e no desenvolvimento infantil. A creche foi criada por volta de 1700 na França, originalmente para abrigo para os necessitados. Até o fim do início do século XX, recebia filhos e mulheres solteiras que não tinha condições de cria- los e que geralmente eram acusadas pela sociedade como irresponsáveis e desnaturadas, gerando sentimento de culpa. Através da urbanização, a mão-de-obra feminina tornou-se necessária e as creches para filhos de operárias, dentro das empresas, serviu para acalmar parte das reinvindicações gerais dos trabalhadores, na primeira metade desse século. Os sanitaristas e médicos defendiam a creche, preocupados com as condições de higiene e saúde da população carente que habitava e condições insalubres e apresentava índices de infecções. Na segunda metade do século XX, além de resolver problemas de higiene e saúde, a creche foi considerada como meio de resolução para afastar a criança da marginalização e diminuir a criminalidade, ou seja, meio de cuidados paliativos para solução de questões socioeconômicas. Há pouco mais de 30 anos, com o aumento da participação das mulheres de classe média no mercado de trabalho e, baseando-se em estudos sobre a importância do período de 0 a 6 anos de idade no desenvolvimento infantil. Atualmente, todas as creches reconhecem a importância do desenvolvimento nessa faixa etária e, com mais ou menos preparo, condições e interesse, têm considerado seu papel educativo como prioritário. A creche hoje é entendida como uma instituição educativa que tem a função de complementar o papel educativo das famílias A Constituição Brasileira de 1988 definiu a creche como "um direito da criança, um dever do Estado e uma opção da família". O papel do pediatra junto à creche é assessorá-la na prevenção dos agravos à saúde da criança. Junto à família, seu papel é esclarecê-la quanto aos benefícios e riscos de a criança frequentar uma creche, orientando os pais para que atentem a objetivos, segurança, higiene, lazer, proposta pedagógica e organização da creche. BENEFÍCIO DE SAÚDE DA CRECHE A creche oferece várias oportunidades para melhorar a saúde da criança e pode ser um lugar onde as necessidades de saúde das crianças possam ser rapidamente identificadas, onde novas abordagens para promoção de saúde e prevenção de doenças são tentadas. Trabalhando junto com os pais, a creche pode ajudá-los a se tornarem participantes mais ativos nos serviços de saúde disponíveis na região e serem de fato verdadeiros protagonistas de suas vidas e de sua saúde. Para isso basta uma boa e simples capacidade de observação e atenção à realidade das crianças e de suas famílias, e também da creche. Podem ser ofertadas: 1. Prevenção a problemas de visão, audição e fala 2. Imunizações 3. Suporte nutricional 4. Avaliação do desenvolvimento 5. Saúde bucal 6. Promoção à saúde A creche é a porta de entrada desse longo percurso que o indivíduo percorre na educação básica. A creche também se configura, em muitos casos, no primeiro ambiente que as crianças pequenas frequentam em bases regulares, sem a presença de seus familiares ou cuidadores. Ela é um marco na vida da criança, na medida em que exige adaptação a um ambiente totalmente novo e com rotinas e padrões de relacionamento diferentes dos que vigoram na família. Frequentar a creche não é obrigatório no Brasil e os cuidados oferecidos pelas famílias à criança pequena obedecem a diferentes arranjos, conforme a oferta de serviços e as necessidades e desejos dos adultos responsáveis por elas. Ficar em casa, na creche ou na casa de alguém são as opções que predominam, bem como a combinação entre essas diferentes modalidades. PROBLEMA 3 – FECHAMENTO ELUCIDAR O DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA IMUNOLÓGICO DA CRIANÇA ONTOGENIA DO SISTEMA IMUNOLÓGICO – JORNAL DE PEDIATRIA O feto e o recém-nascido enfrentam um conjunto complexo de demandas imunológicas, incluindo proteção contra infecções, prevenção de respostas imunitárias inflamatórias e prejudiciais que podem levar ao parto prematuro e equilibrar a transição de um ambiente intrauterino protegido para um mundo rico e antígenos estranhos. Após o nascimento que o sistema imunológico precisa atuar intensamente frente à exposição aos diferentes microrganismos. A reduzida memória imunológica e o fato de ter um sistema imunológico em desenvolvimento aumenta a vulnerabilidade do neonato a agentes infecciosos. A imunidade inata tem papel primordial nos primeiros anos de vida, pois a resposta adaptativa está em processo de maturação, o que só se completa após a primeira década. EPIGENÉTICA A exposição a alérgenos e patógenos provoca uma alteração no ambiente intrauterino com um impacto tanto na imunidade ao nascimento quanto na maturação imunológica durante o início da vida das crianças. Um desequilíbrio nutricional da mãe, tanto deficiente quanto em excesso, podem também ter um efeito considerável na imunidade neonatal e na maturação imunológica no início da vida. O estresse nutricional nas mães induz elevada estimulação do eixo hipotálamo- hipófise-adrenal, o que resulta em redução do peso do timo fetal, que por sua vez leva a apoptose de timócitos e de células B e T imaturas. Perturbações no desenvolvimento do sistema imunológico em neonatos causadas pelo desequilíbrio nutricional materno podem resultar em suscetibilidade a infecções ao nascimento e/ou risco tardio de doenças imunomediadas ou inflamatórias. IMUNIDADE INATA O sistema imunológico inato consiste em granulócitos (principalmente neutrófilos), células apresentadoras de antígenos, NK. Essas células estão disponíveis imediatamente para atuar de maneira eficiente. Com a exposição limitada a antígenos no ambiente intrauterino e a imatura resposta imunológica adaptativa neonatal, os recém-nascidos dependem fortemente de sua resposta imunológica inata para proteção contra infecções. Os neutrófilos são as células principais do sistema imunológico inato e são responsáveis pela destruição de patógenos durante a infecção. Os neutrófilos são as últimas células a aparecerem no feto e somente são produzidos em grande número após o nascimento A maioria das células do sangue são neutrófilos (70 a 75%), entretanto os neutrófilos neonatais têm defeitos tanto qualitativos quanto quantitativos. Ao nascimento, a concentração de neutrófilos varia entre 1,5 a 2,8 x 109 células/L, enquanto nos adultos varia entre 4,4 x 109 células/L.Além das deficiências quantitativas, os neutrófilos neonatais expressam TLR4 (tipo de receptor TOLL) em níveis mais baixos que os neutrófilos adultos. A sinalização por meio das vias MyD88 é deficiente em neonatos após a estimulação tanto de TLR2 quanto de TLR4. Essa resposta diminuída é atribuída aos altos níveis de adenosina no sangue neonatal, o que aumenta os níveis de AMPc, levando à inibição da secreção de TNF-a estimulada por TLR. Neutrófilos neonatais possuem uma redução na transmigração para os locais da infecção. Essa resposta quimiotáxica prejudicada ocorre devido ao influxo de cálcio intracelular reduzido e à polimerização alterada de actina, limitando a capacidade dos neutrófilos de deformar e penetrar no revestimento endotelial. Além disso, os neutrófilos neonatais não produzem redes neutrofílicas adequadamente, importantes na destruição de bactérias extracelulares. Essas particularidades dos neutrófilos neonatais tornam os bebês suscetíveis à sepse. Ao longo do primeiro ano de vida, essas células sofrem o processo de maturação, essencial para a aquisição da competência imunológica dos bebês. As contagens de células NK são maiores em recém-nascidos do que em adultos, com expressão aumentada do receptor inibitório CD94/NKG2A. Entretanto, de modo geral, as células NK de neonatos apresentam uma reduzida capacidade funcional se comparadas às células NK de indivíduos adultos. A pele neonatal é frágil e pequenas lesões podem afetar sua integridade, tornando-se acessível à invasão por micro-organismos. A pele do recém-nascido é imatura e tem mais permeabilidade, possivelmente em consequência à produção inadequada de ácidos- graxos livres e pH alcalino. Desta forma, há risco aumentado de infecção devido à incapacidade da epiderme em realizar bloqueio adequado de micro-organismos. O completo desenvolvimento funcional da pele ocorre apenas 2 a 3 semanas após o parto. As proteínas do sistema complemento ativam-se em cascata e têm como função a opsonização de antígenos e a lise celular a partir de formação do complexo de ataque à membrana. Elas se encontram reduzidas nos recém-nascidos. Durante a gravidez, há pouca transferência materna de proteínas do complemento. Ao nascimento alcançam níveis próximos de 60-90% dos valores do adulto em recém-nascidos a termo e 47-70% em recém-nascidos pré-termo. Níveis semelhantes aos dos adultos somente são atingidos após um ano de idade IMUNIDADE ADAPTATIVA LAVÍNIA ARAÚJO @laviarauj O déficit na imunidade inata acarreta redução da ativação do sistema adaptativo, já que esses dois componentes estão interligados. IMUNIDADE CELULAR – REVISTA MÉDICA DE MINAS GERAIS Os precursores das células T são identificados no fígado fetal na sétima semana de gravidez, mas ainda não expressam CD3 em sua superfície. Migram para o timo, onde completam sua proliferação. Entre 18 e 24 semanas, os linfócitos T já se encontram em número semelhante ao do adulto. É no timo que ocorre a formação do receptor de célula T, conferindo a essas células especificidade e capacidade de reconhecimento do que lhes é próprio. Embora apresente número maior de células T na circulação ao nascimento que os adultos, a maioria são células imaturas e poucas são células de memória, fato explicado pela pequena exposição intraútero a antígenos. A imunidade celular é exercida pelos linfócitos T com seus subtipos T helper (CD3+ e CD4+) e T citotóxicos (CD3+ e CD8+). Os linfócitos T helper apresentam ainda dois subtipos, conforme seu padrão de produção de citocinas: Th1, que modula a imunidade celular, e Th2, que estimula a imunidade humoral. A produção das citocinas está desviada para o perfil de resposta Th2 até um ano de idade. A produção de IL-12 que ativa linfócitos T CD4 para o perfil Th1 está atrasada no recém-nascido. O déficit na resposta Th1 visto no neonato confere prejuízo na função de citotoxicidade. As citocinas criam um contexto imunoinflamatório que gera amplificação de resposta e recrutamento de células capazes de interferir em toda a resposta imune. Sendo assim, sua deficiência acarreta problemas em toda a imunidade. A menor produção de citocinas (IL-2, IL-4, IL-6 e IL-10) em resposta a antígenos ocorre, em parte, devido à baixa exposição intraútero, mas também devido à função secretória e inibitória da placenta IMUNIDADE HUMORAL – REVISTA MÉDICA DE MINAS GERAIS A imunidade humoral é exercida por linfócitos B, os quais, estimulados por antígenos, diferenciam-se em plasmócitos produtores de anticorpos. Os precursores dos linfócitos B estão no fígado com oito semanas, onde já iniciam sua diferenciação. Após o nascimento, a maturação das células B se verifica na medula óssea. A produção de imunoglobulinas fetais já se inicia desde a 10ª semana de gestação, atingindo pico com 26 semanas. A partir de então, cai drasticamente até o nascimento. Isso ocorre devido à baixa exposição intrauterina a antígenos e aos altos níveis de imunoglobulinas maternas transferidas passivamente ao feto. Dessa forma, ao nascimento a criança apresenta baixos níveis de imunoglobulinas (IgM, IgA e IgE), sendo a grande maioria da IgG de origem materna. Após o nascimento, inicia-se a produção própria de imunoglobulinas em resposta a antígenos alimentares e ambientais (hipogamaglobulinemia transitória ou fisiológica)., ocorre entre o 3º e o 5º mês de vida. Na interação entre o linfócito T CD4 padrão Th2 e o linfócito B, ocorre produção de citocinas e, de acordo com o predomínio de algumas delas, o linfócito B produz uma ou outra classe de imunoglobulina. No recém-nascido essa interação está prejudicada. DESCREVER O CALENDÁRIO VACINAL (PRINCÍPIOS, TIPOS, INDICAÇÕES, CONTRAINDICAÇÕES E REAÇÕES), DIFERENCIANDO OS ÓRGÃOS RESPONSÁVEIS PELA ELABORAÇÃO (SUS, SBP E SBI) Os calendários de vacinação devem ser consultados constantemente, uma vez que sofrem modificações, seja em função a inclusão de novas vacinas ou em decorrência de alteração nos esquemas preconizados para vacina já incorporadas a eles. Os programas fonte de informações dos calendários de vacinação no Brasil: Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde, Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e Associação Brasileira de Imunizações (SBIm). É atribuição do pediatra informar os responsáveis pela criança e adolescente a respeito dos benefícios da vacinação na prevenção de doenças, não somente do ponto de vista individual, como também para a proteção da população como um todo. O ato de vacinar é uma responsabilidade social de proteção coletiva, e sua negativa deve ser considerada como negligência. CONTRAINDICAÇÕES GERAIS – SBP Não é raro muitos pais deixarem de levar seus filhos para vacinar por motivos irrelevantes, como infecções virais leves e lesões de pele discretas ou moderadas. A consequência desse adiamento seria maior período de suscetibilidade da criança ou adolescente às infecções imunopreveníveis e redução da cobertura vacinal, com risco de aumento no número de casos de determinadas doenças infectocontagiosas. Vacinas de vírus atenuados ou bactérias vivas atenuadas não devem ser administradas nas condições médicas: 1. Imunodeficiências congênitas ou adquiridas 2. Neoplasias malignas 3. Gestantes 4. Uso de corticoesteroides em altas doses por mais de 15 dias 5. Terapia imunossupressoras (radioterapia quimioterapia e imunossupressores) A vacinação deve ser adiada temporariamente: 1. Episódios agudos de doenças com febre (principalmente para evitar confusão com os efeitos adversos das vacinas) 2. Até 30 dias após o término de corticoterapia em dose imunossupressora 3. Até 90 dias após o uso de outros medicamentos ou tratamentos que provoquem imunossupressão 4. Até no mínimo 3 meses após transplante de células- tronco hematopoiéticas para vacinas com microrganismos não vivos e 2 anos para vacinas com microrganismos vivos 5. De 3 a 11 meses após transfusão de plasmaou imunoglobulinas, para vacinas com vírus vivos, em razão da possibilidade de neutralização do antígeno vacinal por anticorpos presentes nesses produtos CALENDÁRIO VACINAL – SBP VACINA BCG Produzida com bacilos vivos, atenuados e liofilizados de cepa de Mycobacterium bovis. É feita em dose única, o mais precocemente possível, administrada via intradérmica, na dose de 0,1 mL e, por convenção, aplica-se na inserção inferior do músculo deltoide direito. Uma segunda dose da vacina é recomendada quando, após 6 meses da primeira dose, não se observa a cicatriz no local de aplicação. O tempo de evolução da lesão é de 6 a 12 semanas, embora possa se prolongar por até 24 semanas. Eventualmente pode haver recorrência da lesão, mesmo após a cicatrização. Possui contraindicações: 1. Relativas (temporárias): recém-nascidos com peso < 2000 g e lesões dermatológicas extensas afetando o local de aplicação 2. Absolutas: imunodeficiências congênitas e adquiridas VACINA HEPATITE B É feita de antígeno de superfície do vírus da hepatite B (HbsAg), obtido por engenharia genética, purificado e associado o adjuvante de hidróxido de alumínio. É dada logo nas primeiras 12 horas de vida. A segunda dose é indicada com 1 ou 2 meses de idade e a terceira dose é realizada aos 6 meses. A dose padrão é de 0,5 mL administrada via intramuscular e não deve ser aplicada na região glútea, pois nessa região se associa com menor imunogenicidade. Desde 2012, no PNI, a vacina combinada de DTPa, IPV/Hib/HB (pentavalente), incorporada aos 2, 4 e 6 meses de vida. Pela SBP, também segue o esquema de dose ao nascer e aos 2, 4 e 6 meses. Pela SBIm, deve aplicar a primeira dose nas primeiras 12 horas de vida e o esquema de quatro doses pode ser adotado a depender do tipo de vacina utilizado (vacina combinada que inclua a Hb). Possui contraindicações: 1. Reação anafilática prévia a qualquer componente da vacina e púrpura trombocitopênica pós-vacinal. VACINA ORAL POLIOVÍRUS VIVOS ATENUADOS (VOP) E VACINA INJETÁVEL DE POLIOVÍRUS INATIVADOS (VIP) Constituídas de poliovírus tipo 1, 2 e 3. A partir de 2016, a VOP é composta de poliovírus tipos 1 e 3, porque o tipo 2 tem sido associado a casos de poliomielite vacinal. A vacinação requer 3 doses: 2, 4 e 6 meses, respeitando o intervalo de 60 dias entre as doses e um mínimo de 30 dias. Essas são obrigatoriamente por VIP. Recomenda-se os reforços aos 15 meses e 4 anos de idade, considerando um intervalo mínimo de 6 meses após a última dose. São feitas em VOP. Possui contraindicações: 1. VIP: a. Em caso de reação alérgica grave prévia aos produtos contidos na vacina 2. VOP: a. Não deve ser administrada a indivíduos imunodeprimidos e seus comunicantes b. Em indivíduos que desenvolveram pólio vacinal associada à dose anterior VACINA ROTAVÍRUS São dois tipos de vacina: 1. uma monovalente composta pela cepa humana atenuada, disponível na rede pública, que apesar de usar apenas uma cepa propicia a possibilidade de proteção cruzada contra outros sorotipos do vírus não G1 2. uma pentavalente, humano-bovina, disponível apenas na rede privada O esquema vacinal da monovalente é indicada em 2 doses seguindo os limites de faixa etária: primeira dose aos 2 meses, com limite de 1 mês e 15 dias até 3 meses e 15 dias, e a segunda dose aos 4 meses, com limites de 3 meses e 15 dias até no máximo 7 meses e 29 dias. A vacina pentavalente é indicada em 3 doses, aos 2, 4 e 5 meses, disponível apenas na rede privada. A PNI e a SBP consideram as duas doses de 2 e 4 meses. A SBIm considera se monovalente, 2 doses, se pentavalente, 3 doses (+ 6 meses), sendo que a primeira pode ser feita a partir de 6 semanas de vida. Possui contraindicações: 1. imunodeficiências congênitas e adquiridas 2. alergia a algum componente da vacina 3. doença gastointestinal crônica 4. malformação congênita do trato digestivo 5. história prévia de invaginação intestinal 6. deve ser adiada em casos graves de doença febril aguda e em casos de vômito ou diarreia grave VACINA DIFTERIA, TÉTANO E PERTUSSIS DE CÉLULAS INTEIRAS (DTP), ACELULAR TIPO INFANTIL (DTPa) E ADULTO (dTpa) E VACINA DIFTERIA E TÉTANO TIPO INFANTIL E ADULTO (dT) Vacina composta por toxoides diftérico e tetânico, sendo as que do tipo infantil contêm uma quantidade de toxoide diftérico cerca de 10 vezes maior que as do tipo adulto e igual quantidade do toxoide tetânico. A vacinação básica requer 3 doses, sendo nos 2, 4 e 6 meses. O primeiro reforço é recomendado aos 15 meses e o segundo aos 4 anos de idade. No calendário da PNI, as 3 primeiras são feitas pela pentavalente. No calendário da SBP e da SBIm, é feita pela tríplice bacteriana. As reações locais ou sistêmicas são comuns com a vacina DTP (células inteiras). Edema temporário, aumento da sensibilidade e eritema (vermelhidão) no local da injeção em conjunto com febre ocorrem em uma grande proporção de casos. Ocasionalmente, as reações sistêmicas de febre alta, irritabilidade e choro persistente podem aparecer dentro de 24 horas da administração da vacina. Possui contraindicações: 1. casos de encefalopatia → completa-se o esquema vacinal o a vacina dupla infantil (DT) VACINA HAEMOPHILUS INFLUENZAE TIPO B (HIB) CONJUGADA Polirribosilfosfato purificado do Hib, conjugado a uma proteína. Existem 4 tipos, de acordo com a proteína conjugada. O esquema vacinal varia com o tipo de vacina empregada. O mais utilizado é o de 3 doses administradas aos 2, 4 e 6 meses de idade e um reforço aos 15 meses. Se a vacina for iniciada no segundo semestre de vida, são recomendadas apenas 2 doses da vacina e um reforço entre 6 e 12 meses após a última dose. Caso iniciado após 12 meses, o esquema vacinal prevê 1 dose. No calendário da SBP e SBIm possui a aplicação igual a do PNI, mas com uma dose de reforço nos 15 meses. Possui contraindicações: 1. doenças febris agudas, hipersensibilidade aos componentes vacinais VACINA PNEUMOCÓCICA CONJUGADA Existem duas vacinas disponíveis. O esquema vacinal é indicado a todas as crianças até 5 anos de idade. Recomenda-se 3 doses aos 2, 4 e 6 meses de vida e um reforço entre 12 a 15 meses. O PNI preconiza duas doses aos 2 e 4 meses e o reforço aos 12 meses. A SBP preconiza 3 doses aos 2, 4 e 6 meses e reforço aos 12 meses. A SBIm mantém a recomendação para a VPC13 de três doses aos 2, 4 e 6 meses, com reforço entre 12 e 15 meses. Possui contraindicações: 1. reações anafiláticas com doses anteriores VACINA MENINGOCÓCICA C CONJUGADA E VACINA MENINGOCÓCICA ACWY CONJUGADA Recomenda-se o uso rotineiro da vacina meningocócica conjugada para lactentes maiores de 2 meses de idade, crianças e adolescentes. No primeiro ano de vida, são dosadas nos 3 e 5 meses, com o reforço aos 12 meses para a PNI. A SBP e a SBIm recomendam as duas primeiras doses aos 3 e 5 meses também com 4 reforços aos 12 meses, 5 anos, 11 anos. Para adolescentes de até 15 anos de idade que nunca receberam a vacina meningocócica conjugada ACWY, recomenda-se duas doses com intervalo de cinco anos, idealmente aos 11 e aos 16 anos de idade. Para os adolescentes de 16-18 anos, nunca antes vacinados com vacina MenACWY, administrar somente uma dose da vacina. Possui contraindicações: 1. reações anafiláticas com doses anteriores. VACINA MENINGOCÓCICA B RECOMBINANTE Recomenda-se para lactentes a partir de 2 meses de idade, crianças e adolescentes. A PNI não tem a aplicação dessa. A SBP e a SBIm preconizam a aplicação aos 3 e 5 meses e reforço aos 12 meses. VACINA TRÍPLICE VIRAL (SARAMPO, CAXUMBA E RUBÉOLA), VACINA TETRAVIRAL (SARAMPO, CAXUMBA, RUBÉOLA E VARICELA) E VACINA VARICELA É uma combinação de vírus vivos e atenuados de sarampo caxumba, varicela e rubéola. Também se dispõe da vacina varicela isolada. Aos 12 meses de idade, deve ser feita na mesma visita, a primeira dose das vacinas tríplice viral. Aos 15 meses de idade deve ser feita a segundados, preferencialmente a tetraviral. A varicela possui as doses em 15 meses e 4 anos. Possui contraindicações: 1. uso de sangue e imunoglobulinas anterior ou nos 15 dias seguintes à aplicação da vacina 2. gravidez 3. reação anafilática à neomicina e gelatina 4. doenças imunossupressoras 5. imunodeficiência celular congênita ou adquirida 6. alergia a ovo FEBRE AMARELA Usa vírus inativado. É indicada para pacientes residentes ou viajantes para áreas endêmicas (pelo menos 10 dias antes da data da viagem): todos os estados das regiões Norte e Centro-Oeste, Minas Gerais, Maranhão e alguns municípios de Piauí, Bahia, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Também é indicada para pessoas que se deslocam para países em situação epidemiológica de risco. Para aqueles nas áreas de recomendação, recomenda-se duas doses com 9 meses e 4 anos, sem necessidade de reforço. Em situações de surto, a vacina pode ser administrada aos 6 meses e com reforço aos 4 anos, também sem necessidade de doses adicionais. A OMS recomenda 1 dose a cada 10 anos sem necessidade de reforço. Possui contraindicações: 1. imunodeficiências congênitas ou adquiridas 2. imunossuprimidos 3. reações anafiláticas a ovo e gravidez HEPATITE A Composta de vírus inativado. Possui o esquema vacinal em duas doses. Para a PNI, apenas uma dose aos 15 meses. Para a SBP e SBIm, duas doses, sendo a primeira aos 12 meses e a segunda aos 18 meses. Possui contraindicações: 1. hipersensibilidade aos componentes da vacina INFLUENZA Feita de vírus inativados e fragmentados. Está indicada para todas as crianças a partir dos 6 meses de idade. A primovacinação de crianças com idade inferior a 9 anos deve ser feita com 2 doses, com intervalo de 1 mês entre elas, em dose de 0.25mL dos 6 meses aos 35 meses e de 0,5 mL depois dos 3 anos. Crianças acima de 9 anos devem receber apenas uma dose de 0,5 mL na primovacinação. Deve ser feita anualmente e antes do período de maior prevalência da gripe. Possui contraindicações: 1. reações anafiláticas aos componentes da vacina, incluindo às proteínas do ovo VÍRUS PAPILOMA HUMANO (HPV) Feita de partículas semelhantes ao vírus HPV inativadas. No Brasil existem duas vacinas: A bivalente (tipos 16 e 18) é indicada para meninas acima de 9 anos, em 3 doses, com a segunda dose após 1 mês pós a primeira e a terceira após 6 meses da primeira. A vacina tetravalente (tipos 6, 11, 16 e 18) é indicada para meninas acima de 9 anos até 45 anos e meninos de 9 a 26 anos, em 3 doses, com a segunda após 2 meses após a primeira e a terceira após 6 meses da primeira. Os três calendários vacinais adotaram o esquema de apenas 2 doses com intervalo de 6 meses entre elas, tendo como base estudos que demonstram excelente imunogenicidade com 2 doses da vacina na faixa etária de 9 a 13 anos. Possui contraindicações: 1. hipersensibilidade aos componentes da vacina 2. gravidez DENGUE Recomendada para crianças a partir de 6 anos de idade, soropositivas para dengue. Esquema de três doses com intervalo de seis meses entre elas (0 - 6 - 12 meses). Possui contraindicações: 1. crianças imunodeprimidas. 2. Gestantes 3. lactantes 4. portadores de imunodeficiências. EXPLANAR SOBRE ETIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA E QUADRO CLÍNICO DAS INFECÇÕES DE VAS (SINUSITE AGUDA, OTITE MÉDIA AGUDA, RESFRIADO, GRIPE E FARINGOAMIDALITE) SINUSITE AGUDA Doença comum da infância e adolescência. Existem dois tipos de sinusite aguda: viral e bacteriana, com morbidade aguda e crônica significativa, além do potencial para complicações graves. Normalmente, os seios etmoidal e maxilar estão presentes ao nascimento, mas somente os seios etmoidais são pneumatizados. Os seios maxilares não estão pneumatizados até 4 anos de idade. Os seios esfenoidais estão presentes aos 5 anos de idade, enquanto os seios frontais iniciam o desenvolvimento nos 7 a 8 anos de idade e não estão completamente desenvolvidos até a adolescência. Os óstios de drenagem dos seios são estreitos (1-3 mm) e drenam para o complexo óstio-meatal no meato médio. Os seios paranasais são normalmente estéreis, mantidos pelo sistema de limpeza mucociliar. ETIOLOGIA Os patógenos bacterianos causam sinusite bacteriana aguda em crianças e adolescentes: Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae, Moraxella catarrhalis.. PATOGÊNESE Sinusite bacteriana aguda normalmente acompanha uma infecção viral do trato respiratório superior, que inicialmente produz uma rinossinusite viral. Em uma avaliação com RM dos seios paranasais demonstra espessamento, edema e inflamação da mucosa dos seios paranasais em 68% das crianças saudáveis no curso normal do resfriado comum. Foi demonstrado que o ato de assoar o nariz produz uma força suficiente para impulsionar secreções nasais para as cavidades dos seios. As bactérias da nasofaringe que entram nos seios costumam ser prontamente eliminadas, mas durante uma rinossinusite viral, a inflamação e o edema podem bloquear a drenagem do seio e prejudicar a eliminação mucociliar de bactérias. QUADRO CLÍNICO Crianças e adolescentes com sinusite podem apresentar queixas inespecíficas, incluindo congestão nasal, secreção nasal purulenta (unilateral ou bilateral), febre e tosse. Os sintomas menos comuns abrangem mau hálito (halitose), diminuição do sentido do olfato (hiposmia) e edema periorbital. As queixas de dor de cabeça e dor facial são raras em crianças. Sintomas adicionais incluem desconforto dos dentes maxilares, dor ou pressão exacerbada pela inclinação para frente. O exame físico pode revelar eritema e edema da mucosa nasal com secreção nasal purulenta. OTITE MÉDIA AGUDA – SBP É uma infecção com desenvolvimento rápido de sinais e sintomas de inflamação aguda na cavidade da orelha média. É uma das razões mais frequentes de visitas aos médicos em crianças menores de 15 anos. Mesmo com alta prevalência, é autolimitada e com baixa incidência de complicações e mortalidade. É importante o diagnóstico preciso e acurado para evitar o uso desnecessário de antimicrobianos. É definida como a presença de líquido preenchendo a cavidade da orelha média sob pressão, com início abrupto dos sinais e sintomas causados pela inflamação dessa região. FATORES DE RISCO Estão relacionados ao hospedeiro (própria criança) ou a fatores ambientais. RELACIONADOS AO HOSPEDEIRO A ocorrência antes dos 6 meses é um fator importante de risco para a ocorrência da OMA. Crianças com fenda palatina, síndrome de Down, malformações craniofaciais, imunodeficiência e discinesia ciliar primária também apresentam risco aumentado para OMA. A suscetibilidade genética é importante na otite média, sendo determinada, em parte, pela contribuição de genes em regiões cromossomiais distintas: 10q e 19q. As diferenças raciais na tuba auditiva (TA) tornam a otite média mais prevalente em grupos étnicos como esquimós, aborígenes e índios americanos. FATORES AMBIENTAIS Possuem maior epidemiologia no inverno assim como as infecções de vias aéreas superiores. Creches e berçário são fatores de risco pela alta prevalência de IVAS em crianças. Outro fator de risco de reconhecida importância é o tabagismo passivo. O aleitamento materno é um fator de proteção. O uso de chupetas e de mamadeiras com bico com cápsula tipo “empurra e puxa” também é considerado fator de risco na recorrência das OMA. HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA A maioria das crianças (80%) apresenta evolução favorável durante um episódio de OMA, com resolução espontânea. Essa melhora independe da adesão ao tratamento ou do tipo de medicação, com melhora dos sintomas depois de 24 horas e ausência de sintomas residuais em 80% das crianças após 2 a 3 dias. PATOGÊNESE DA DOENÇA A TA ventila a orelha média. Durante o repouso, encontra‑se fechada. Sua luz é virtual e abre-se de forma intermitente pela contração do músculo tensor do véu palatino durantea deglutição ou o bocejo. Existem diferenças importantes entre a TA da criança e do adulto. As diferenças mais relevantes são a TA mais curta e mais horizontalizada na criança, o que facilita a progressão de microrganismos (vírus e bactérias) da rinofaringe para a orelha média. Como o sistema imunológico da criança é imaturo, o recém-nascido apresenta altos níveis de IgG materna, que diminui progressivamente e se torna pouco efetiva aos 5 a 6 meses de idade. Por outro lado, a criança produz gradualmente mais IgG, IgA e IgM próprias, atingindo um platô quando a criança está maior. Essas fases coincidem com a época de início e desaparecimento dos episódios de OMA na maioria das crianças. A OMA geralmente é desencadeada por um processo infeccioso (IVAS em geral), associado a um determinado grau de disfunção da TA e do sistema imunológico. É comum a OMA ser precedida por IVAS. Os vírus agiriam como copatógenos, predispondo à infecção bacteriana. ETIOLOGIA É causada por vírus respiratórios e/ou infecções bacterianas no espaço da orelha média, como resultado da resposta do hospedeiro à infecção. Ocorre mais frequentemente como consequência de uma IVAS que causa inflamação/disfunção da TA, à pressão negativa da orelha média e ao movimento de secreções, contendo os vírus causadores da IVAS e as bactérias patogênicas, para a cavidade da orelha média. A maioria dos patógenos da orelha média deriva da nasofaringe, porém nem todos os patógenos da nasofaringe são otopatógenos. QUADRO CLÍNICO São sintomas constantes a otalgia (criança que manipula muito a orelha), o choro excessivo, a febre, as alterações de comportamento e do padrão do sono, a irritabilidade, a diminuição do apetite e até a diarreia. A membrana timpânica apresenta hiperemia ou opacidade, abaulamento, diminuição da mobilidade, otorreia aguda. A otorreia define o diagnóstico, pois é necessária a presença de efusão ou líquido na cavidade da orelha média para estabelecer o diagnóstico de OMA. RESFRIADO – NELSON É uma infecção viral aguda do trato respiratório superior, com sintomas de rinorreia e obstrução nasal proeminentes. É corretamente denominado rinossinusite. ETIOLOGIA Os patógenos mais frequentemente associados ao resfriado comum são os mais de 200 tipos de rinovírus humanos. Estão associados a mais de 50% dos resfriados em adultos e crianças. Em crianças pequenas, outras etiologias virais do resfriado comum incluem o vírus sincicial respiratório, metapneumovírus humano, os vírus parainfluenza e os adenovírus. PATOGÊNESE Os vírus são disseminados por mecanismos: 1. contato manual direto através de uma autoinoculação da própria mucosa nasal e conjuntiva depois de tocar uma pessoa ou objetos contaminados 2. inalação de pequenas partículas grandes de aerossóis que são expelidas durante um espirro e atingem a mucosa nasal e conjuntiva Rinovírus são mais eficientes através do contato manual direto e os vírus influenza e o coronavírus são mais eficientes dispersos por partículas pequenas de aerossóis. Os vírus respiratórios desenvolveram diferentes mecanismos para evitar as defesas do hospedeiro, através de uma imunidade protetora sorotipo-específica. As infecções repetidas com estes agentes patogênicos ocorrem porque há um grande número de sorotipos diferentes para cada vírus. Os vírus influenza têm a capacidade de alterar os antígenos presentes na superfície do vírus e, assim, comportam-se como se houvesse múltiplos sorotipos virais. A infecção viral do epitélio nasal pode estar associada à destruição do revestimento epitelial, como acontece com os vírus influenza e adenovírus, ou pode não haver dano histológico aparente, como com rinovírus e VSR. A infecção do epitélio nasal está associada a uma resposta inflamatória aguda caracterizada pela liberação de uma variedade de citocinas inflamatórias e pela infiltração da mucosa por células inflamatórias. Esta resposta inflamatória aguda parece ser parcialmente ou em grande parte responsável por muitos dos sintomas associados ao resfriado comum. A inflamação pode obstruir os óstios dos seios ou a tuba auditiva, predispondo à sinusite bacteriana ou à otite média. O sistema imune do hospedeiro é responsável pela maioria dos sintomas do resfriado, em vez dos danos diretos ao trato respiratório. As células infectadas liberam citocinas, tais como a interleucina-8, que atraem as células polimorfonucleares na submucosa e no epitélio nasal. Os rinovírus também aumentam a permeabilidade vascular na submucosa nasal, liberando bradicinina e albumina, o que pode contribuir para os sintomas. QUADRO CLÍNICO Variam com a idade e o vírus. Em lactentes, febre e rinorreia podem predominar. A febre é incomum em crianças mais velhas e adultos. O aparecimento de sintomas ocorre normalmente de 1 a 3 dias após a infecção viral. Em geral, o primeiro sintoma observado é dor ou sensação de arranhado na garganta, seguido por obstrução nasal e coriza. A tosse se inicia após o início dos sintomas nasais. Outros sintomas de um resfriado podem incluir dor de cabeça, rouquidão, irritabilidade, dificuldade para dormir ou diminuição do apetite. Vômitos e diarreia são incomuns. GRIPE A influenza ou gripe é uma infecção viral do trato respiratório, com distribuição global e alta transmissibilidade. Predomina nos meses de inverno, colocando em risco pacientes idosos e com comorbidades. ETIOLOGIA Os agentes etiológicos são o myxovírus, vírus da família Orthomyxoviridae, grupo de vírus de RNA de fita negativa. Possui 4 gêneros na família: influenza A, B, C e D. Influenza A e B estão associadas com a Influenza sazonal e com muitos surtos e epidemias respiratórias; a Influenza tipo B, porém, não tem causado pandemias. O vírus da Influenza A está presente na natureza, em diversas espécies, incluindo humanos, aves, suínos, cavalos, focas e baleias. O vírus Influenza B tem como reservatório somente seres humanos e focas. A Influenza C é principalmente humana, mas foi detectada em porcos, cachorros e gado, já sendo registrada, porém rara, transmissão de porcos para humanos. O vírus da Influenza D foi detectado no gado e em suínos, mas não se sabe se é capaz de infectar ou causar doenças nas pessoas. Os vírus Influenza A são os que apresentam maior variabilidade, sendo divididos em subtipos, de acordo com as diferenças de suas glicoproteínas de superfície, denominadas hemaglutinina (HA) e neuraminidase (NA). Essas glicoproteínas podem passar por 2 tipos de mutações antigênicas que garantem maior variabilidade ao vírus: as maiores e as menores. FISIOPATOLOGIA Após a infecção viral, o vírus da Influenza irá replicar-se nas vias aéreas superiores e inferiores, causando alterações em células epiteliais, glândulas, interstício e em células ciliadas. A HA se liga às células respiratórias, permitindo a infecção. Em seguida, a resposta imune provocada pela presença do vírus gera uma reação inflamatória exacerbada e, consequentemente, leva à infiltração celular do parênquima pulmonar e ao dano tecidual. O mecanismo básico de lesão é a inflamação. No trato respiratório superior, o acometimento viral leva aos sintomas de faringites, traqueítes e traqueobronquites. Inicialmente, ocorre a destruição do epitélio pseudoestratificado ciliado respiratório, associado a edema e congestão da submucosa. Pode haver presença de sangue ou material mucopurulento. QUADRO CLÍNICO INFLUENZA NÃO COMPLICADA Os sintomas característicos são os da síndrome gripal; desse modo, deve-se considerar o diagnóstico em pacientes com febre de início súbito, acompanhada de tosse ou dor de garganta e, pelo menos, um dos sintomas: mialgia, cefaleia ou artralgia (sem artrite) com duração de dois a oito dias. Outros sintomas inespecíficos também podem estar presentes, como mal-estar, tontura, anorexia e prostração. A tosse pode ser acompanhada de desconforto ou queimação subesternal. Sintomasgerais como a mialgia e a cefaleia comumente são os de maior proeminência. Esses sintomas sistêmicos costumam durar cerca de 3 a 7 dias, acompanhando o surgimento e desaparecimento da febre, importante achado, variando normalmente de 37,8 a 40 ºC, podendo atingir até 41 ºC. Ela é tipicamente contínua, mas pode apresentar-se intermitente, principalmente com o uso de antipiréticos. Influenza e Resfriado são doenças distintas, causadas por vírus diferentes, mas que apresentam vários sintomas em comum, com os agentes etiológicos da gripe são os influenzavirus, enquanto o resfriado é causado por algumas espécies de vírus: Rinovírus (principal causa), Adenovírus, Vírus Sincicial Respiratório, Coronavírus, Echovirus e Paramyxovirus. INFLUENZA COMPLICADA As complicações mais comuns na infecção por Influenza são pneumonias bacterianas secundárias, pneumonia viral primária, miosite, miocardite, pericardite, síndrome de Guillain-Barré, encefalite e mielite transversa. FARINGOAMIDALITE Processo inflamatório que acomete as amígdalas e que se estende pela parede da orofaringe. É um processo inflamatório da região com eritema, exsudato ou ulceração, sendo a dor de garganta um sintoma universal. ETIOLOGIA Pode ter etiologia viral, geralmente em menores de 3 anos, ou bacteriana, em crianças maiores. A diferenciação se faz através de critérios clínicos e exame físico. Agente bacteriano mais comum é o estreptococo ß-hemolítico do grupo A, sendo menos comum outros agentes como estreptococos dos grupos C, G e H. Influenzae, S. pneumoniae, M. catarrhalis, S. aureus, bacteróides anaeróbios em geral. Entre os vírus, os mais comuns são: parainfluenzae, vírus sincicial respiratório, influenzae A e B, adenovírus tipos 1 a 3 e 5, rinovírus e coxsackie. O Epstein Baar vírus causa a mononucleose infecciosa e faringite exsudava em adultos jovens. FISIOPATOLOGIA A fisiopatologia da faringoamidalite envolve a resposta imunológica do corpo à infecção. Quando uma infecção ocorre, o sistema imunológico é ativado e começa a produzir anticorpos e células imunológicas para combater a infecção. Isso resulta em inflamação e inchaço da área afetada, incluindo as amígdalas e a faringe. A faringoamidalite bacteriana é geralmente causada pela bactéria Streptococcus pyogenes, que produz toxinas que irritam as amígdalas e a faringe, causando inflamação. A infecção também pode se espalhar para outras partes do corpo, causando complicações graves, como a febre reumática. A faringoamidalite viral é causada por vários tipos de vírus, como o vírus da gripe, o vírus Epstein-Barr e o adenovírus. Esses vírus se replicam nas células do trato respiratório, causando inflamação e irritação. QUADRO CLÍNICO As manifestações clínicas são variadas, podendo apresentar desde sintomas e sinais clássicos até uma infecção leve ou inaparente. Após período de incubação de 1 a 4 dias, a doença inicia-se de modo abrupto, principalmente em crianças de 5 a 11 anos de idade, com febre, dor de garganta, mal estar geral e cefaléias. Essas queixas acompanham-se de náuseas, vômitos e dor abdominal. Ao exame físico observa-se presença de exsudato sobre as amígdalas, em 50% a 90% dos casos, e gânglios linfáticos cervicais anteriores edemaciados e dolorosos. A diferenciação entre faringoamigdalite viral e bacteriana, através de parâmetros clínicos situa-se ao redor de 50%. O quadro viral apresenta sintomatologia mais leve que a bacteriana e pode se acompanhar de tosse, rinorréia e conjuntivite. A presença de vesículas, ulcerações e pústulas no palato sugere a etiologia viral. Em crianças menores de 3 anos, a faringite exsudava é raramente devida ao estreptococo do grupo A. DISCORRER SOBRE ESCALAS DE DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO E FÍSICO (WINNICOT) DE CRIANÇAS DE 2 A 7 ANOS FREUD, WINNICOTT E PSICANÁLISE – VENTURA, MENDES, 2023 Nem sempre houve, ao longo da história, uma compreensão e valorização da criança como se tem atualmente. Na Idade Média a criança era vista como um pequeno adulto. A mortalidade nessa época era muito grande, tida como algo natural na sociedade e por esse motivo os adultos não se apegavam muito. Com o passar do tempo, a vida passou a ser valorizada e a noção de inocência infantil e a preservação da educação passaram a ser preocupação das famílias. Para Rousseau, “não há perversidade original no coração humano”. A criança nasce inocente, pura, com maneira de pensar e sentir que são próprias à sua idade. Com o advento do capitalismo, a criança começa a ser vista como um investimento lucrativo e a família passa a se preocupar com escola, educação, brincadeiras para que essa criança tenha um futuro bom e produtivo. Assumindo dentro da família um lugar central. E é dentro desse momento histórico que surge a Psicanálise. E a partir da escuta psicanalítica, Freud descobre a importância da infância na constituição do sujeito e as suas neuroses. A criança psicanalítica é a criança do inconsciente, a criança das pulsões. Para Freud, a criança não é um sujeito inerte, mas um indivíduo atravessado por desejos. Freud foi de indiscutível importância para o entendimento do funcionamento e a constituição psíquica das pessoas, porém, o objeto de estudo dele foi a Neurose. Chegou um momento em que outros tipos de pacientes começaram a aparecer nos consultórios e a teoria Freudiana não era suficiente para explicar tudo. Então, foram surgindo outras teorias para complementar o que Freud havia investigado. Winnicott, um dos importantes psicanalistas pós- freudiano, começou a perceber na prática clínica que para algumas pessoas, a demanda analítica devia estar relacionada a algo que havia acontecido nas fases iniciais do desenvolvimento humano anterior ao Complexo de Édipo (base da teoria freudiana). Winnicott descreveu que o desenvolvimento emocional inicial da criança ocorre no período anterior ao complexo de Édipo, que envolve o relacionamento de três pessoas, cada uma sendo percebida como uma pessoa completa pela criança. A mãe e o bebê funcionam como um só nos primeiros meses de vida e a mãe exerce um papel de ambiente, sendo o bebê inserido no ambiente que o sustenta. A mãe possui um papel de ambiente facilitador e o bebê, é dependente completo dos cuidados da mãe. Se tudo ocorrer bem e a mãe começar a falhar, o bebê poderá perceber elementos os elementos que não fazem parte de si mesmo. Isso significa que, “A ‘mãe’ suficientemente boa (não necessariamente a própria mãe do bebê) é aquela que efetua uma adaptação ativa às necessidades do bebê, uma adaptação que vai a diminuir gradativamente”. A mãe suficientemente boa é aquela que consegue se identificar com as necessidades do bebê, é a mãe real e, conforme o bebê se desenvolve, essa mãe vai a tornar-se desnecessária. FASES DE DESENVOLVIMENTO Pois Winnicott origina que existem três processos que acontecem logo cedo no desenvolvimento inicial do bebê, são eles: integração, personalização e realização. Para ele, o bebê nasce desintegrado e com o Holding (sustentação), a mãe suficientemente boa vai oferecendo suporte físico e psíquico, exercendo a função de um ego auxiliar e dessa forma vai ocorrendo a integração do self do bebê, em uma fase de dependência absoluta. Depois, em uma fase de dependência relativa, ocorre o Handling (manejo), onde a mãe suficientemente boa auxilia o bebê dando contorno ao seu corpo e ele vai se diferenciando de quem ele é e quem é o outro. É quando ocorre a personalização. E o último processo é a realização, onde o bebê começa a ser apresentado ao mundo. E onde, na Teoria winnicottiana, tem início as relações objetais. Aqui começa o brincar e a escolha do objeto transicional, que ele chama de fenômenos transicionais. O bebê começa a se diferenciar como um sujeito único e elege um objeto transicional para ajudar na transição entre a dependência absoluta rumo a uma independência relativa. Esse objeto transicional nem sempreé um objeto (pode ser até uma música) e por isso o termo fenômeno é melhor empregado. Eles cumprem uma função de separação gradativa e saudável da mãe suficiente. Esses fenômenos podem ser utilizados em momentos de angústia e para sustentar uma experiência difícil de não fazer mais “parte do ambiente” e as coisas não ocorrerem de forma “mágica” . Isso parte para um momento de transição da ilusão para desilusão. Caso a integração não tenha ocorrido, é necessário vivenciá-la junto a um analista, que funciona como uma mãe suficientemente boa, para que a criança encontre seu verdadeiro self. A psicoterapia ocorre entre duas pessoas que brincam juntas, inclusive com adultos. No brincar, a fantasia se transforma em criatividade, facilitando o crescimento e a saúde. Essa fase ocorre de 2 a 6 meses de idade. A fase de estabelecimento de rotinas, proposta por Winnicott, ocorre aproximadamente dos 6 aos 12 meses de idade da criança. Nessa fase, a criança começa a estabelecer padrões de comportamento e rotinas diárias que ajudam a criar uma sensação de segurança e previsibilidade em sua vida. Segundo Winnicott, é importante que os cuidadores da criança estabeleçam rotinas previsíveis e consistentes, como horários de alimentação, sono e banho, para que a criança possa se sentir segura e confiante em seu ambiente. Ele também enfatiza que essas rotinas devem ser flexíveis o suficiente para acomodar as necessidades individuais da criança. Winnicott acredita que durante essa fase, a criança começa a desenvolver uma sensação de continuidade entre suas experiências internas e externas, o que é fundamental para o desenvolvimento saudável da personalidade. Ao estabelecer rotinas e padrões previsíveis, os cuidadores ajudam a criar uma sensação de ordem e controle na vida da criança, o que é fundamental para o desenvolvimento de uma identidade saudável. Em resumo, a fase de estabelecimento de rotinas é uma etapa importante do desenvolvimento infantil, onde os cuidadores podem ajudar a criança a se sentir segura e confiante em seu ambiente estabelecendo rotinas previsíveis e consistentes. Essas rotinas devem ser flexíveis o suficiente para acomodar as necessidades individuais da criança e ajudá-la a desenvolver uma sensação de ordem e controle em sua vida. A fase de ambivalência de acordo com a teoria de desenvolvimento infantil de Winnicott ocorre entre 1 e 3 anos de idade. Durante essa fase, a criança experimenta emoções contraditórias em relação aos seus pais ou cuidadores. Por exemplo, ela pode querer estar perto de sua mãe e, ao mesmo tempo, querer afastar-se dela, ou pode sentir-se segura e confortável ao lado do pai, mas também ter medo dele. Essas emoções contraditórias são comuns nessa fase, pois a criança está começando a desenvolver uma noção mais clara de si mesma como indivíduo e a testar seus limites e relacionamentos com os outros. Essa fase pode ser desafiadora para os pais, pois eles precisam aprender a lidar com as mudanças constantes de humor da criança e a ajudá-la a lidar com suas emoções contraditórias. É importante que os pais forneçam um ambiente seguro e amoroso para a criança durante essa fase, dando-lhe a liberdade para explorar e experimentar, mas também estabelecendo limites e regras claras. O apoio emocional e a paciência dos pais são fundamentais para ajudar a criança a atravessar essa fase de desenvolvimento de forma saudável. A fase de consolidação do ego, de acordo com a teoria de desenvolvimento infantil de Winnicott, ocorre entre 3 e 5 anos de idade. Durante essa fase, a criança está se tornando mais independente e desenvolvendo uma compreensão mais complexa do mundo ao seu redor. Ela começa a formar amizades e a desenvolver uma noção mais clara de si mesma como indivíduo. Nesta fase, a criança aprende a lidar com a realidade externa e a desenvolver uma identidade mais sólida. Ela começa a se tornar mais autoconfiante e a assumir responsabilidades simples, como vestir-se sozinha ou ajudar com tarefas domésticas. Os pais desempenham um papel importante nessa fase, oferecendo apoio emocional, estabelecendo limites e proporcionando oportunidades para a criança explorar o mundo de forma segura. Eles devem encorajar a autonomia da criança e ajudá-la a lidar com seus sentimentos e emoções. É importante ressaltar que cada criança é única e pode atingir esses marcos em diferentes idades. Além disso, o desenvolvimento infantil é um processo contínuo e gradual, com muitas nuances e complexidades. Portanto, é importante que os pais ou cuidadores tenham paciência, amor e compreensão enquanto ajudam a criança a atravessar essa fase de desenvolvimento. A fase de entrada na sociedade, de acordo com a teoria de desenvolvimento infantil de Winnicott, ocorre entre 5 e 9 anos de idade. Nesta fase, a criança começa a desenvolver um senso mais claro de identidade e a se relacionar com o mundo externo de maneira mais complexa. A criança começa a participar de atividades sociais fora da família, como a escola, clubes ou grupos de interesse. Ela aprende a se comunicar com outras crianças e adultos, a compartilhar e a cooperar com os outros. A criança começa a desenvolver uma noção de pertencimento a grupos sociais e culturais e a aprender regras e normas sociais. Os pais desempenham um papel fundamental nessa fase, ajudando a criança a lidar com os desafios e pressões sociais. Eles podem apoiar a criança ao incentivá-la a explorar seus interesses e paixões, ajudando-a a estabelecer amizades saudáveis e ensinando habilidades sociais importantes, como a comunicação eficaz e a resolução de conflitos. Os pais também devem estar atentos às necessidades emocionais da criança, encorajando-a a expressar seus sentimentos e emoções de maneira saudável. Ajudar a criança a desenvolver uma autoestima saudável e a lidar com as frustrações e desafios sociais é fundamental para um desenvolvimento saudável. É importante lembrar que cada criança é única e pode passar por essa fase em um ritmo diferente. Portanto, é importante que os pais estejam atentos às necessidades e interesses individuais da criança e forneçam um ambiente de apoio e amor enquanto a criança aprende a entrar na sociedade de maneira saudável e positiva. A IMPORTÂNCIA DE BRINCAR COMO LINGUAGEM NATURAL Na Psicanálise com crianças muito pequenas, a brincadeira é empregada no lugar da fala. E nas crianças maiores, inclusive nos adultos, as brincadeiras podem ser a forma de acessar conteúdos inconscientes. Poderá ser através do brincar que a criança irá levar à terapia elementos das suas experiências e realidade. E psicoterapeuta vai a acolher, entrando no seu mundo. Pois além de ser terapêutico, os brinquedos favorecem a comunicação, acessando conteúdos internos. E um olhar para esse brincar, possibilitará a escuta. Mas o brincar não acontece apenas através do tradicional objeto que a nossa cultura nomeia como brinquedo, qualquer objeto pode se transformar em brinquedo para a criança e, podendo servir como conteúdo criativo. Nem sempre sendo fundamental a presença de um objeto, necessário apenas o fantasiar, a criatividade, porque a criatividade é inerente ao brincar. Com a brincadeira a criança vai a aprender a lidar com a agressividade e cria um mundo próprio, situando as coisas do seu mundo numa nova maneira, proporcionando prazer para ela. Mesmo que diferencie o brincar da realidade, não consegue saber o limite entre um e outro, gosta e precisa apoiar os objetos e situações imaginando em objetos tangíveis e visíveis da realidade. É através da brincadeira que a criança processa o mundo externo e projeta os seus conteúdos internos. O brincar ajudará a lidar com essas opiniões controversas, pois a brincadeira, segundo fornece uma organização para a iniciação de relações emocionais e assim propicia o desenvolvimento de contatos sociais e, assim, a criança vai compreendendo como poderá lidar comas crianças que convive e como resolver quando alguma não concordar com ela. Há algumas atividades que proporcionam o desenvolvimento motor, psíquico e cognitivo. Um exemplo disso é o chocalho, sendo esse um dos primeiros brinquedos da criança, onde ele estimula a atenção, motricidade fina e ampla. Quando a criança pega o chocalho ela morde, chupa, sacode e explora, estimulando assim seu desenvolvimento. Outras brincadeiras, é de esconder objetos e também do adulto se esconder da criança para trabalhar a relação de presença e ausência. Trabalha a perda da sua mãe e a volta dela. Isso trabalha a ida à escola ou a ida da mãe ao trabalho por exemplo. No brincar existem etapas: primeiro a criança brinca sozinha, manipulando como ela quer o brinquedo. Depois ela começa a interagir com os adultos e, às vezes, até com outras crianças. Numa etapa seguinte, brinca com um amigo e começa a descobrir as alegrias e as frustrações de brincar em grupo, pois nem sempre a sua opinião será válida, assim ela vai crescendo emocionalmente. É no brincar que a criança elabora hipóteses para resolver seus problemas e tomar atitudes que, muitas vezes, passam do seu comportamento habitual, ela busca alternativas para transformar a realidade, onde através de seus sonhos e desejos a brincadeira a ajude, a criar e recriar situações que a angustiam, fazendo com que assim satisfaça as necessidades presentes em seu interior. É no brincar que a criança coloca toda sua imaginação, onde ela tem o espaço para ser e fazer o que quiser, sem um adulto para dizer que aquilo é impossível. PROBLEMA 4 – FECHAMENTO ABORDAR O PERFIL EPIDEMIOLÓGICO E CLÍNICO, FISIOPATOLOGIA, ABORDAGEM TERAPÊUTICA E PREVENTIVA DA DESNUTRIÇÃO ENERGÉTICO-PROTEICA (IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO NA DESNUTRIÇÃO, FATORES SOCIAIS, CULTURAIS E POLÍTICAS PÚBLICAS) DESNUTRIÇÃO PROTECO-CALÓRICA – REV. PAUL. PEDIATR. A desnutrição proteico-calórica (DEP) pode ser definida como uma doença multifatorial de alta letalidade, capaz de promover diversas alterações fisiológicas na tentativa de adaptar o organismo à escassez de nutrientes. EPIDEMIOLOGIA Apesar de estudos epidemiológicos indicarem a diminuição da prevalência da desnutrição proteico-energética grave no Brasil, a doença continua sendo um considerável problema de saúde pública no país, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, na área rural do Brasil e nos bolsões de pobreza das periferias das grandes metrópoles. Desde 2001, a notificação compulsória (NT) da desnutrição grave é entendida como condição “sine qua non” (essencial; indispensável) para a eliminação da desnutrição infantil por causa primária no país. Para fins de notificação compulsória, é importante a classificação da desnutrição, de acordo com a sua causa básica. Além de gerar o conhecimento da desnutrição grave, a NT pode estabelecer mecanismos para a investigação com o estabelecimento de ações para o controle da doença pelo Sistema Único de Saúde (SUS). ASPECTOS FISIOLÓGICOS DA DEP – REV. PAUL. PEDRIAT. A DEP grave acarreta depleção nutricional global do paciente. A diminuição dos estoques de glicogênio e gorduras promoverá redução da reserva energética, fazendo com que a massa proteica se torne fonte de energia. Além da escassez de macronutrientes, há deficiência de micronutrientes (vitamina A e E, cobre, magnésio, zinco e selênio), contribuindo para a disfunção do sistema imune, maior quantidade de radicais livres produzidos e redução da síntese de enzimas e proteínas. Como os estoques de glicogênio são consumidos rapidamente, o organismo passa a produzir glicose por meio de aminoácidos livres e glicerol proveniente dos ácidos graxos, aumentando a gliconeogênese. Com a intensificação dessas vias alternativas de produção de glicose e a redução crescente dos estoques de macronutrientes, torna-se difícil a manutenção adequada dos níveis séricos de glicose, levando a um quadro de hipoglicemia. A hiperglicemia, com a redução dos estoques de glicose e utilização de outras vias para produção desse suprimento, há diminuição na síntese de insulina e aumento de glucagon, epinefrina e cortisol. A elevação do cortisol promove aumento na liberação de ácidos graxos livres decorrentes da lipólise e da menor atividade da lípase lipoproteica, gerando aumento da resistência à insulina e hiperglicemia. A hipotermia é um distúrbio comum em crianças com DEP e pode se associar a processos infecciosos. Vale lembrar que o desnutrido grave pode não apresentar hipertermia como resposta às infecções. A desidratação é um distúrbio de difícil diagnóstico na DEP grave em virtude da ausência de sinais específicos, o que confunde o profissional de saúde, pois o desnutrido apresenta escassez de tecido subcutâneo e aparência comprometida pela própria doença. Os principais sinais e sintomas encontrados são: sede moderada, olhos encovados, pulso fraco ou ausente, extremidades frias, hipoglicemia, saliva espessa, mucosas secas e letargia. CLASSIFICAÇÃO – BRAZILIAN JOURNAL OF HEALTH REVIEW A DEP pode ser classificada como: Primária infantil 1. Se relaciona à insuficiência qualitativa ou quantitativa de nutrientes na alimentação na primeira infância 2. Origem etiológica na pobreza, baixas condições sanitárias e baixo nível educacional Secundária 1. Quando há doença relacionada e é caracterizada principalmente pela falta de absorção de nutrientes em decorrência de fatores não alimentícios Quanto à gravidade, há as formas leve, moderada e grave. A grave baseia-se em critérios clínicos e laboratoriais e é dividida em: marasmo, Kwashiorkor e Kwashiorkor-marasmático. FISIOPATOLOGIA – ROBBINS E COTRAN Existem dois compartimentos proteicos no corpo: o compartimento somático, representado pelas proteínas dos músculos esqueléticos, e o compartimento visceral, representado pelas reservas proteicas nos órgãos viscerais, principalmente o fígado. Esses dois compartimentos são regulados de formas diferentes, sendo o compartimento somático afetado mais severamente no marasmo, e o compartimento visceral esgotado de forma mais severa no kwashiorkor. MARASMO – ROBBINS E COTRAN A criança é considerada com marasmo quando o peso é reduzido para 60% do normal para o sexo, altura e idade. Uma criança com marasmo sofre retardo de crescimento e perda de massa muscular, como resultado do catabolismo e depleção do compartimento proteico somático. Isso parece ser uma resposta adaptativa que fornece ao corpo aminoácidos como fonte de energia. De forma interessante, o compartimento proteico LAVÍNIA ARAÚJO @laviarauj visceral, que presumivelmente é mais precioso e crítico para a sobrevivência, sofre depleção apenas marginalmente, e por isso os níveis de albumina sérica são normais ou apenas ligeiramente reduzidos. Além das proteínas dos músculos, a gordura subcutânea também é mobilizada e utilizada como combustível. A produção de leptina (discutida posteriormente na seção sobre obesidade) é baixa, o que pode estimular o eixo hipotalâmico-hipofisário-suprarrenal a produzir níveis elevados de cortisol que contribuem para a lipólise. KWASHIORKOR – ROBBINS E COTRAN O kwashiorkor ocorre quando a privação de proteína é relativamente maior do que a redução de calorias totais. Essa é a forma mais comum de DPE observada em crianças africanas que foram desmamadas muito cedo e posteriormente alimentadas, quase exclusivamente, com dieta de carboidratos. No kwashiorkor, ao contrário do marasmo, a privação pronunciada de proteína se associa com a perda grave do compartimento proteico visceral, e a hipoalbuminemia resultante dá origem a um edema generalizado ou dependente. O peso de crianças com kwashiorkor grave é tipicamente 60- 80% do normal. No entanto, a perda real de peso é mascarada pelo aumento na retenção de líquidos (edema). Em contraste com o marasmo, há uma relativa preservação de gordura subcutânea e massa muscular. A perda modestadesses compartimentos também pode ser mascarada pelo edema. As crianças com kwashiorkor apresentam lesões cutâneas características, com zonas alternadas de hiperpigmentação, descamação e hipopigmentação, conferindo aparência de “pintura descascando”. As alterações capilares incluem perda total da cor ou bandas alternadas com cabelos pálidos e mais escuros, alisamento, textura fina e perda de inserção firme ao couro cabeludo. KWASHIORKOR E MARASMO – SAWAYA A presença de edema no kwashiorkor é considerado como diagnóstico crucial para diferenciar as duas síndromes, apesar de na sua forma típica outras diferenças aparecerem. Os pacientes com kwashiorkor edematoso têm frequentemente cabelos finos e dermatose típica, enquanto no marasmo existe uma perda severa de gordura subcutânea e músculo, com marcante perda de crescimento, mas sem edema. Ambas as doenças ocorrem mais frequentemente entre crianças e bebês vivendo em zonas pobres dos países em desenvolvimento. Até a década de 1960, o kwashiorkor foi considerado a forma de desnutrição predominante, talvez por causa das suas características patológicas e metabólicas exóticas, muito diferentes das doenças encontradas na Europa. Hoje, se sabe, porém, que o marasmo é muito mais frequente. Já o marasmo, é uma condição conhecida há milhares de anos e predomina em áreas mais secas onde existe escassez de alimentos. Este tipo de desnutrição está associado à fome aguda e ao jejum, embora seja observado comumente em todos os países pobres onde o consumo energético é inadequado. No Brasil, o marasmo é o tipo de desnutrição predominante. No Nordeste onde a desnutrição é mais grave, a seca provoca fome e perda de crescimento tão marcantes, que foi descrito naquela região um tipo especial de desnutrição chamado nanismo nutricional. DIAGNÓSTICO – SBP Para diagnóstico da desnutrição, é fundamenta considerar os aspectos geográficos, pois existem áreas com aspectos heterogêneos pelo Brasil, como: 1. Locais em que a fome por escassez por recursos econômicos se estabelece que prevalecem o marasmo 2. Locais com riqueza de recursos naturais (flora e fauna), mas com desconhecimento da oferta adequada dos alimentos regionais disponíveis para as crianças prevalecem o Kwashiorkor a. Dieta com oferta de mingaus contendo apenas farinha e água, pobres em proteínas e micronutrientes A avaliação nutricional pode ser realizada por meio de quatro procedimentos básicos: anamnese, exame físico, incluindo a aferição de medidas antropométricas, como medida da circunferência braquial (CB), e exames laboratoriais. Avaliar na anamnese os antecedentes neonatais, nutricionais, aspectos psicossociais, condições de saneamento e moradia, presença ou não de doenças associadas. Na ausência de medidas antropométricas, a desnutrição grave também pode ser diagnosticada com base na avaliação clínica, verificando-se a presença de emagrecimento intenso visível; alterações dos cabelos; dermatoses, hipotrofia muscular e redução do tecido celular subcutâneo. TRATAMENTO – SBP Didaticamente, a terapia nutricional pode ser dividida: 1ª fase: estabilização 1. Tratar as morbidades associadas com risco de morte 2. corrigir as deficiências nutricionais específicas 3. reverter anormalidades 4. iniciar a alimentação a. no máximo 100 kcal/kg/dia b. 130 mL/kg/dia de oferta hídrica c. Em caso de má absorção, usar fórmulas hidrolisadas à base de aminoácidos 2ª fase: reabilitação 1. Progredir a dieta de modo mais intensivo a. 150 kcal/kg/dia b. 150 a 200 mL/kg/dia 2. Estimular física e emocionalmente 3. Orientar a mãe ou cuidador 4. Preparar a alta 3ª fase: acompanhamento 1. Pode ser realizado em hospitais-dia ou ambulatórios 2. Objetiva prosseguir a orientação, monitorização do crescimento e desenvolvimento da criança a. Observar a estatura/idade LEI DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL – CONSEA A segurança alimentar e nutricional consiste na realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras da saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis. A segurança alimentar e nutricional abrange: 1. ampliação das condições de acesso aos alimentos por meio da produção, em especial da agricultura tradicional e familiar, do processamento, da industrialização, da comercialização, incluindo-se os acordos internacionais, do abastecimento e da distribuição dos alimentos, incluindo a água, bem como da geração de emprego e da redistribuição de renda; 2. conservação da biodiversidade e utilização sustentável dos recursos; 3. a promoção da saúde, da nutrição e da alimentação da população, incluindo-se grupos populacionais específicos e populações em situação de vulnerabilidade social; 4. a garantia da qualidade biológica, sanitária, nutricional e tecnológica dos alimentos, bem como seu aproveitamento, estimulando práticas alimentares e estilos de vida saudáveis que respeitem a diversidade étnica e racial e cultural da população; 5. a produção de conhecimento e o acesso à informação; 6. a implementação de políticas públicas e estratégias sustentáveis e participativas de produção, comercialização e consumo de alimentos, respeitando- se as múltiplas características culturais do país ELUCIDAR O PERFIL EPIDEMIOLÓGICO E CLÍNICO, FISIOPATOLOGIA, ABORDAGEM TERAPÊUTICA E PREVENTIVA DA ANEMIA FERROPRIVA E DEFICIÊNCIA DE FERRO ANEMIA FERROPRIVA – MEDCEL A anemia ferropriva é a carência nutricional e a doença hematológica mais prevalente no mundo, provocada pela deficiência de ferro no organismo e acarreta prejuízos a curto e longo prazos no desenvolvimento neuropsicomotor e na aprendizagem, além de comprometimento na resposta do sistema imunológico. EPIDEMIOLOGIA Na faixa pediátrica, acomete, principalmente, os grupos vulneráveis, entre 0 a 2 anos, e os adolescentes. Entre todas as idades, a faixa mais acometida é entre 9 a 24 meses, atingindo aproximadamente 42% das crianças menores de 5 anos em países em desenvolvimento e cerca de 17% nos países industrializados. No Brasil, a prevalência de anemia se mostra superiores a 30%, podendo chegar a 60%. Nas últimas décadas ocorreu aumento gradativo desse número. No estado de São Paulo, houve aumento da prevalência de 25% nas décadas de 1980 e 1990. Na adolescência, a anemia carencial está relacionada, especialmente, à fase do estirão, quando há maior consumo de ferro para o crescimento, associado a aumento na incorporação de massa muscular nos rapazes e perdas menstruais irregulares nas moças, especialmente em meninas entre 12 e 15 anos. DEFINÇÃO A determinação baseia-se nos níveis de hemoglobina (Hb), observando-se os valores variáveis conforme a faixa etária. IDADES VALORES 6 a 59 meses < 11 g/dL 5 a 11 anos < 11,5 g/dL 12 a 14 anos < 12 g/dL Gestantes <11 g/dL Os níveis de Hb são altos ao nascimento e declinam entre 2 e 3 meses no RN a termo e entre 1 e 2 meses no RN pré-termo. Esse declínio é considerado como anemia fisiológica do lactente. Na verdade, o que ocorre é a queda dos níveis de Hb em decorrência de uma adaptação à vida extrauterina. Há queda progressiva até a sexta a oitava semanas de vida nos RNs a termo e até a terceira a sexta semanas dos RNs prematuros, em que os níveis vão de 9 a 11 g/dL e 7 a 9 g/dL, respectivamente. Isso se deve à supressão da eritropoese, uma vez que há redução da síntese da eritropoetina, pelo aumento importante da oxigenação sanguínea e tecidual, com o início da respiração pulmonar, após o nascimento. À medida que as hemácias fetais ficam velhas e são destruídas, o ferro é armazenado no sistema reticuloendotelial. Com isso, as reservas de ferro serão adequadas durante o período que dura até a vigésima semana de vida.Atingindo os valores referidos, parece haver redução inicial da oferta de oxigênio para a demanda tecidual. Os sensores hepáticos e renais são ativados em seguida, fazendo que a eritropoetina seja produzida novamente. Portanto, os valores de Hb reduzidos verificados nos primeiros meses de vida, entre a faixa dos 2 e 3 meses, são considerados apenas resposta fisiológica, não havendo, na verdade, carência de ferro nem anemia. FISIOPATOLOGIA As principais razões que determinam o quadro de anemia ferropriva são: 1. Período de alto metabolismo e crescimento acelerado; 2. Ingestão inadequada de alimentos; 3. Perdas sanguíneas gastrintestinais crônicas, como na presença de ingestão de leite de vaca, parasitoses intestinais, doenças diarreicas agudas e refluxo gastrintestinais. O ferro é obtido pela dieta e por reciclagem eritrocitária e a anemia é entendida como uma queda importante e totalizada do mineral no organismo, de forma que afete e reduza seus estoques. O processo de produção dos eritrócitos é fracionado em dois mecanismos: de proliferação – onde ocorre a mitose – e o de maturação – onde ocorre a adesão da hemoglobina à hemácia, com participação ativa do ferro. Duas proteínas importantes são responsáveis pelo transporte e estoque do ferro: a ferritina – responsável pelo armazenamento – e a transferrina – responsável pelo transporte através do plasma. A transferrina é liberada conforme a demanda às necessidades de ferro o organismo, ou seja, com o aumento da eritropoiese, essa proteína será expressa em maior quantidade. Ao ser consumido, o ferro é absorvido pela porção duodenal do intestino, onde parte dele é excretado nas fezes, parte estocado no fígado, baço e medula óssea como ferritina e parte circula no plasma através da transferrina. O ferro circulante é carreado até a medula óssea e lá ocorre a adesão do mineral à hemoglobina presente nos eritrócitos. Como também, quando maduros, os eritrócitos são fagocitados, a hemoglobina é metabolizada pelo fígado e pelo baço e o ferro liberado novamente na corrente sanguínea Um importante hormônio peptídico regulador homeostático do ferro é a hepcidina, produzida no fígado. A sua função é controlar a quantidade de ferro liberada pelos macrófagos para a medula óssea bem como, conduzir a mobilização e exportação dos estoques de ferro e mediar absorção do mesmo por via entérica. Sendo o principal hormônio responsável pelo controle do ferro circulante no plasma. Quando há deficiência de ferro, a hepcidina é suprimida aumentando a absorção e os níveis de ferro nos enterócitos. Como também, eleva os níveis do mineral nos macrófagos e nos hepatócitos. Esse processo acontece devido a interação do complexo hepcidina-ferroportina na membrana celular. Na ausência de internalização do complexo, a ferroportina libera o canal de exportação do ferro. Toda via, quando o estoque de ferro esplênico e hepático é utilizado e a absorção de ferro gastrointestinal é insuficiente mesmo sendo acionados mecanismos de reparação, o ciclo de reciclagem do ferro é comprometido e depreciado, desencadeando a eritropoiese com restrição de ferro. QUADRO CLÍNICO A ferropenia é um estado lento, e muitos sintomas não são observados pelos familiares, o que dificulta e atrasa o diagnóstico inicial, podendo comprometer o futuro da criança. Sintomas gerais e inespecíficos: anorexia, palidez, perversão do apetite (pica), geofagia, apatia, adinamia, irritabilidade, cansaço, fraqueza muscular e dificuldade na realização e de atividade física. Alterações da pele e mucosas: palidez, glossite, quelite angular, candidíase em orofaringe, coiloniquia ou presença de estrias longitudinais na unha. Alterações gastrointestinais: estomatite e disfagia. Sintomas gerais moderados: fadiga, fraqueza, palpitação, redução da função cognitiva, do crescimento e do desenvolvimento com queda dos percentis de peso e altura. Sintomas severos: insuficiência cardíaca congestiva e dilatação cardíaca. DIAGNÓSTICO O diagnóstico é dado, principalmente, por meio laboratorial em exames. De acordo com cada fase da doença, tem-se algum achado laboratorial. Na abordagem da anemia ferropriva, tendo em vista a Atenção Integrada às Doenças Prevalentes da Infância (AIDPI), deve-se classificar a palidez palmar, pois esse parâmetro demonstrou boa sensibilidade e variou de 60 a 90%, conforme os níveis de Hb. Para verificar se há palidez palmar, deve-se comparar a palma da mão da criança com a coloração palmar da mãe ou do profissional de saúde, não portadores de anemia. Se a palidez palmar for leve, a anemia poderá ser considerada leve, caso contrário, poderá ser considerada grave. A OMS estabelece como ponto de corte para diagnóstico de anemia valores de hemoglobina menores que 11g/dl e 11,5g/dl para crianças de 6 a 60 meses e crianças de 5 a 11 anos de idade, respectivamente. A anemia ferropriva é considerada microcítica, identificada pela redução do Volume Corpuscular Médio (VCM), e hipocrômica, determinada pelos valores baixos de Hemoglobina Corpuscular Média (HCM) e Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média (CHCM), além de elevado índice de anisocitose, observado pelo aumento de Red cell Distribution Width (RDW), formatos não usuais (poiquilocitose), eritrócitos em formato oval (eliptocitose). TRATAMENTO Baseia-se na correção dos fatores desencadeantes, reposição de nutrientes e profilaxia. ALIMENTAR Adaptar as necessidades específicas para cada faixa etária; Respeitar hábitos alimentares da família e disponibilidade de alimentos; Estimular a oferta de carnes vermelhas, pois o ferro dessas (heme) é muito melhor absorvido que o contido em alimentos de origem vegetal; Estimular o aleitamento materno, pois o ferro presente nele é mais bem absorvido que o leite de vaca; Consumir frutas cítricas, feijão e temperos que contém ferro (salsa, coentro, cheiro-verde); Não oferecer leite de vaca após refeições devido ao efeito alcalinizante e à presença de cálcio que dificultam a absorção de ferro. O leite de vaca também pode promover micro hemorragias gastrintestinais; Não oferecer chá preto, mate ou café em horário próximo às refeições, devido aos filatos e tanatos que dificultam a absorção do ferro; Aumentar a oferta de alimentos que possibilitam alta absorção de ferro: frutas cítricas, hortaliças, abóbora e tomate. MEDICAMENTOSO REPOSIÇÃO ORAL DE FERRO O tratamento medicamentoso mais comum é a reposição de ferro via oral. A dose de reposição oral de ferro depende da idade do paciente, do déficit estimado do ferro, da rapidez com que precisa de correção e dos efeitos colaterais. A dose recomendada diária é de 3 a 5 mg/kg/dia, chegando a 150 mg a 200 mg de ferro elementar, dividida em duas a quatro fases tomadas ao dia. Um comprimido de 325 mg de sulfato ferroso possui 65 mg de ferro elementar, então 3 comprimidos fornecem 195 mg de ferro elementar (recomendado). Ferro elementar = sulfato ferroso / 5. A duração é de no mínimo 8 semanas, para que, após a correção dos valores de Hb, seja assegurada a reposição de estoques de ferro elementar/kg/dia até no máximo 200 mg. O sulfato ferroso deve ser administrado uma a duas horas antes das refeições, preferencialmente com uso associado à vitamina C ou a alimentos ácidos. Em casos de efeitos colaterais como pirose, diarreia, constipação, náuseas e vômitos, a administração pode ser feita junto com as refeições, porém é uma exceção. É uma terapia eficaz para a maioria dos pacientes, possui baixo risco de eventos graves, baixos custos iniciais, porém com alguns efeitos colaterais gastrointestinais comuns e é inadequado para perda de sangue grave ou contínua e para administração por longos períodos. Dentre os diversos tipos de sais de ferro disponíveis para a suplementação destacam-se o sulfato ferroso, o fumarato ferroso e o gluconato ferroso. Os sais de ferro são eficazes na correção da hemoglobinae reposição dos estoques de ferro, apresentam baixo custo e a rápida absorção (difusão ativa e passiva, no duodeno). A suplementação com sais de ferro também exige cautela quanto ao excesso de dosagem, uma vez que a oxidação do ferro ferroso gera radicais livres, e a absorção do ferro excessiva eleva a saturação da transferrina e o ferro livre no plasma, tóxico para o metabolismo. Por sofrer influência dos componentes dietéticos, a suplementação com sais de ferro deve ser realizada longe das refeições, recomendando-se a tomada em jejum, 1 hora antes das refeições ou antes de dormir. INDICAÇÕES DE FERRO PARENTERAL É indicado em caso de má absorção do ferro oral por doença celíaca, gastrectomia e síndromes disabsortivas, intolerância ao ferro oral, paciente não colaborativo, IRC em diálise. É eficaz para a maioria dos pacientes, possui uma correção rápida da anemia e resolução dos sintomas, possui uma capacidade de administração de altas doses em uma única infusão, sem efeitos colaterais gastrointestinais. A infusão intravenosa é monitorada, possui risco de ração alérgica e possui altos custos iniciais. PROFILAXIA A profilaxia baseia-se em medidas que visem à promoção de melhorias das condições de saúde da população, desde adequado pré-natal, assistência ao parto e puerpério, até condições socioeconômicas e culturais. De acordo com o Programa Nacional de Suplementação de Ferro do Ministério da Saúde: RN a termo, com peso adequado para a idade gestacional em aleitamento materno exclusivo 1 mg/kg/dia do 6º ao 24º mês RN pré-termo e RN de baixo peso até 1500 g 2 mg/kg/dia a partir do 30º dia de vida até 1 ano e 1 mg/kg/dia até o 24º mês de vida RN pré-termo com peso entre 1000 g a 1500 g 3 mg/kg/dia a partir do 30º dia de vida até 1 ano e 1 mg/kg/dia até o 24º mês de vida RN pré-termo com peso < 1000 g 4 mg/kg/dia a partir do 30º dia de vida até 1 ano e 1 mg/kg/dia até o 24º mês de vida De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, em 2018, houve revisão e publicou um novo consenso para a suplementação: RN a termo, com peso adequado para a idade gestacional em aleitamento materno 1 mg/kg/dia do 3º ao 24º mês RN a termo ou pré-termo de peso adequado para idade gestacional ou peso acima de 2500 g 1 mg/kg/dia do 3º ao 24º mês de vida Prematuros e RN a termo com peso entre 1500 a 2500 g 2 mg/kg/dia a partir do 30º dia de vida até 1 ano e 1 mg/kg/dia até o 24º mês de vida RN pré-termo com peso entre 1000 g a 1500 g 3 mg/kg/dia a partir do 30º dia de vida até 1 ano e 1 mg/kg/dia até o 24º mês de vida RN pré-termo com peso < 1000 g 4 mg/kg/dia a partir do 30º dia de vida até 1 ano e 1 mg/kg/dia até o 24º mês de vida EXPLANAR SOBRE A INFLUÊNCIA NUTRICIONAL NO CRESCIMENTO DOS GERMES DENTÁRIOS E ERUPÇÃO DENTÁRIA ODONTOGÊNESE – KATCHBURIAN Os germes dentários seguem, subsequentemente, as fases de botão, capuz, campânula, coroa e raiz. A formação específica dos diversos tecidos que constituirão o dente e suas estruturas de suporte, entretanto, inicia-se a partir da campânula. Inicia-se como resultado da interação entre o epitélio oral e o ectomesênquima subjacente, originando a banda epitelial primária e, em seguida, a lâmina dentária. FASE DE BOTÃO Após a proliferação inicial, a lâmina dentária passa a apresentar, em alguns locais, atividades mitóticas diferenciadas. A partir da oitava semana de vida intrauterina, em cada arco, originam-se dez pequenas esférulas que invadem o ectomesênquima (início da formação dos germes). Costumam-se observar numerosas imagens de mitose, fato que reflete sua alta atividade proliferativa. Por sua vez, o ectomesênquima subjacente apresenta nesta fase, denominada "botão': uma discreta condensação de suas células em torno da parte mais profunda da esférula epitelial. Nessa região do ectomesênquima condensado, aparecem duas importantes moléculas, a glicoproteína tenascina e o sindecan -1, um proteoglicano rico em sulfato de heparana As duas moléculas interagem tanto com as próprias células ectomesenquimais e com outros elementos da matriz extracelular quanto com fatores de crescimento, especialmente com o fator de crescimento de fibroblastos. FASE DE CAPUZ Com uma continuação da proliferação epitelial, o botão não continua a crescer uniformemente, apresentando um crescimento desigual que faz parecer um chapéu, por isso o nome “capuz”. No centro da sua parte mais profunda, o capuz epitelial apresenta uma concavidade, sob a qual é observada maior concentração de células ectomesenquimais. Provavelmente a razão para o aumento da condensação seja a interação célula-matriz extracelular, na qual a tenascina e o sindecan-1 continuam desempenhando importante papel. Como o botão epitelial está em ativa proliferação, possivelmente a maior condensação ectomesenquimal seja, em parte, fisicamente responsável pela concavidade inferior do capuz: é provável que a resistência criada pela condensação ectomesenquimal localizada na parte central faça com que a proliferação epitelial do botão resulte principalmente no crescimento da sua borda. A porção epitelial, que, a partir desta fase, apresenta várias regiões distintas, denomina-se "órgão do esmalte': pois é responsável pela formação do esmalte dentário. As células localizadas na concavidade adjacente à condensação ectomesenquimal constituem o epitélio interno do órgão do esmalte e as células localizadas na convexidade externa do capuz epitelial constituem o epitélio externo do órgão do esmalte. As células que ficam na região central do órgão do esmalte, entre o epitélio interno e o externo, vão se separando umas das outras, observando-se, entre elas, maior quantidade de substância fundamental rica em proteoglicanos. Desse modo, essas células adotam uma forma estrelada, com vários prolongamentos que estabelecem contatos entre si pelos desmossomos. Em razão da forma das células, essa porção central do órgão do esmalte é chamada de "retículo estrelado''. Ao mesmo tempo, o ectomesênquima aumenta seu grau de condensação de maneira que se observa claramente uma massa de células muito próximas umas das outras. Essa condensação celular, denominada papila dentária a partir desta fase do desenvolvimento, é responsável pela formação da dentina e da polpa. O ectomesênquima que rodeia tanto o órgão do esmalte quanto a papila dentária sofre uma condensação de modo que suas células alinham-se em torno do germe em desenvolvimento, formando uma cápsula que o separa do restante do ectomesênquima da maxila e da mandíbula, é a responsável pela inserção do dente, isto é, do cemento, do ligamento periodontal e do osso alveolar. Ainda nessa fase, capilares penetram o folículo dentário, especialmente na região adjacente ao epitélio externo do órgão do esmalte. Assim, a nutrição da porção epitelial do germe dentário provém da vascularidade do folículo. FASE DA CAMPÂNULA Após a fase de capuz, a proliferação das células epiteliais e, portanto, o crescimento do órgão do esmalte vai diminuindo. Nessa nova fase, a parte epitelial do germe dentário (órgão do esmalte) apresenta o aspecto de um sino com sua concavidade mais acentuada e, consequentemente, com suas margens mais aprofundadas. Isso faz com que a fase seja chamada de campânula. Com a diminuição da atividade mitótica nas células epiteliais e ectomesenquimais, ocorre a diferenciação das células do germe dentário. Na porção epitelial, a região central correspondente ao retículo estrelado continua a crescer em volume por causa do aumento da distância entre as células e seus prolongamentos. Esse fenômeno é provocado pela maior quantidade de água, associada a outras moléculas, como os proteoglicanos. As células do epitélio externo do órgão do esmalte são achatadas, tornando-se pavimentosas; as do epitélio interno, por sua vez, alongam-se, constituindo células cilíndricasbaixas com núcleo central. Por outro lado, na campânula, na região em que os epitélios externo e interno do órgão do esmalte se encontram, ao nível da borda do sino, forma-se um ângulo agudo (alça cervical). A porção da lâmina dentária, entre o órgão do esmalte e o epitélio bucal, desintegra-se. Além disso, em geral, o osso do processo alveolar em formação acaba rodeando completamente o folículo dentário, constituindo a cripta óssea. FASE DE COROA A fase de coroa é denominada também “fase avançada de campânula” e corresponde à deposição de dentina (dentinogênese) e esmalte (amelogênese) da coroa do futuro dente. A dentinogênse ocorre de fora para dentro (centrípeta) e a amelogênese ocorre de dentro para fora (centrífuga). FASE DA RAIZ Inicia quando a dentinogênese e a amelogênese alcançam a região da alça cervical., a qual sofre um dobramento (encontra o osso alveolar abaixo) para região central da polpa formando o Diafragma Epitelial e a Bainha Epitelial de Hertwing, que induzirá as células da papila dentária a se diferenciarem em odontoblastos, e começam a secretar a Dentina Radicular. A formação da dentina radicular no ápice radicular marca o final da odontogênese. Como a continuação da proliferação da bainha coincide com o início do processo de erupção dentária, enquanto vai sendo formada a raiz do dente, o germe dentário movimenta-se no sentido coronário. ERUPÇÃO DENTÁRIA – SBP A sequência eruptiva é a mesma em ambos os sexos, pois começa com os incisivos centrais, incisivos laterais, primeiros molares, caninos e segundos molares. Diferenças entre os gêneros foram observadas nas médias de erupção para os dentes. Comparando os grupos no tocante à erupção dental decídua em meses, verificou-se que a erupção dentária no sexo masculino se inicia mais precocemente, porém o seu período médio de erupção é maior do que o do feminino. MOVIMENTAÇÃO PRÉ-ERUPTIVA O início da formação das raízes juntamente com o crescimento do germe dentário pela deposição de dentina e esmalte faz com que o dente se movimente ocorrendo reabsorção da cripta óssea que circunscreve o germe ERUPÇÃO INTRA ÓSSEA É a fase que corresponde a penetração do germe dentário até a mucosa oral. A formação e reabsorção das paredes da cripta óssea constituem os principais eventos dessa fase. PENETRAÇÃO NA MUCOSA Isto se dá no momento em que as cúspides alcançam a altura da crista alveolar (via eruptiva formada). Logo depois há a fusão do epitélio reduzido do esmalte com o epitelio oral isso faz com que o conjuntivo não seja exposto sem que haja sangramento no ato da erupção dentaria. ERUPÇÃO PRÉ OCLUSAL Ocorre logo após a penetração do dente na cavidade bucal, fatores intra bucais como forças musculares, hábitos e crescimento crânio facial interferem no direcionamento do movimento dental até sua chegada no plano oclusal. ERUPÇÃO PÓS OCLUSAL Este processo continua durante toda a vida. As forças mastigatórias atuam nessa fase e proporcionam movimentos diminutos ao dente essa ação transmite estímulos até as estruturas de inserção dental que proporciona alterações constantes nos tecidos periodontais. A ausência do dente antagonista promove a extrusão do dente irrompido. ANORMALIDADES DENTÁRIAS – SBP Tanto a falta quanto o excesso de dentes podem ocorrer. Essas anomalias numéricas podem ser classificadas em hiperdontia, hipodontia, oligodontia e anodontia. HIPERDONTIA Quando a lâmina dental produz uma quantidade de germes dentários maior que o normal, ocorrem dentes supranumerários (hiperdontia). A região mais frequentemente acometida é entre os incisivos centrais superiores. O supranumerário nessa região é denominado mesiodens ou mesiodente. É confirmado por radiografia quando ainda não há erupção. Frequentemente, supranumerários atrapalham a posição e a erupção dos dentes normais adjacentes. Assim, a assimetria na erupção dentária e a retenção prolongada de dentes decíduos são achados clínicos que podem estar associados à presença de dentes a mais. Uma característica clínica muito comum na ocorrência de mesiodens é a presença de amplos espaços (diastemas) entre os incisivos centrais superiores. HIPODONTIA A hipodontia (ausência de um ou mais dentes) é mais frequente na dentição permanente, mas quando há ausência de dente decíduo, normalmente ocorre ausência do sucessor permanente. Os terceiros molares são os dentes mais afetados e, posteriormente, os segundos pré-molares e os incisivos laterais TAURODONTISMO A taurodontia é consequência de um distúrbio de desenvolvimento em que a bainha epitelial de Hertwig não invagina corretamente em um nível normal, repercutindo em um aumento do corpo e da câmara pulpar de um dente multiradicular, predominantemente molares permanentes, pelo deslocamento do assoalho pulpar no sentido apical AMELOGÊNESE IMPERFEITA Grupo de defeitos hereditários do esmalte, não havendo associação com quaisquer outros defeitos generalizados. Esta patologia pode ser de origem autossômica dominante, autossômica recessiva ou ligada ao cromossomo X. NUTRIÇÃO E DESENVOLVIMENTO DENTÁRIO – MENOLI, ET AL Os fatores nutricionais indubitavelmente exercem um papel crítico no desenvolvimento de dentes decíduos devido ao período relativamente curto de mineralização desses dentes quando comparados aos permanentes. Os principais nutrientes envolvidos com a odontogênese são cálcio, fosfato, vitaminas A, C, D e o balanço proteico-energético. Todas as etapas do crescimento, incluindo a odontogênese, dependem da presença da quantidade de nutrientes apropriada à construção celular e formação de enzimas. O efeito da falta de nutrientes adequados depende da velocidade de instalação, severidade e duração da deficiência. Deficiências no esmalte dentário podem ser ocasionadas pela má nutrição generalizada, deficiência de vitamina A, vitamina D, fósforo, hipocalcemia e doenças que interferem no metabolismo do cálcio, entre elas o hipotireoidismo, o hipoparatireoidismo e o diabetes materno não controlado, estando este associado também ao baixo peso ao nascimento e parto prematuro. As deficiências nutricionais ocorridas nos primeiros períodos de desenvolvimento da maturação dentária podem levar a alterações no esmalte e na sequência eruptiva. Estas alterações podem ser consideradas marcadores de situações adversas ocorridas no período perinatal e nos primeiros anos de vida da criança. O baixo peso ao nascer é considerado o indicador que melhor retrata fatos ocorridos durante o período fetal, pois reflete as condições nutricionais do recém-nascido e da mãe durante a gestação. As alterações em decorrência de interferências durante o crescimento e desenvolvimento dentário tornam-se permanentes, uma vez que o esmalte dentário é o único tecido duro que não é remodelado e de acordo com a localização do defeito no esmalte, é possível identificar o provável período da vida no qual o distúrbio aconteceu, pois existe um período específico para a formação dos grupos dentários. Transtornos ocorridos na fase de odontogênese podem causar defeitos de esmalte, como as hipoplasias e as opacidades, estes tornam-se fatores preditores da cárie nas populações, devido ao esmalte hipoplásico ser mais susceptível à colonização por Streptococosmutans. INFLUÊNCIA DA DIETA – MUNIZ, ET AL Dentre os processos da odontogênese, está a formação do esmalte, conhecida como amelogênese. Esta possui três fases distintas: deposição da matriz do esmalte; calcificação e maturação. Nos casos onde a deficiência nutricional surge logo após o início da formação ou secreção da matriz orgânica,a alteração no elemento dentário resulta em uma hipoplasia do esmalte de aspecto rugoso com diminuição ou ausência na qualidade e quantidade de esmalte. Se esta deficiência ocorrer após o processo de maturação, a aparência será uma hipocalcificação expressa por manchas brancas, circundadas por esmalte normal. CONDIÇÃOBUCAL E EFEITO ERUPTIVO – BATISTA, MOREIRA E CORSO Com relação ao retardo na erupção dos dentes, Alvarez et al. avaliaram, em estudo longitudinal, o efeito do estado nutricional sobre o momento de esfoliação e erupção dentária e na experiência de cárie dentária em crianças, demonstrando que a desnutrição nos primeiros anos de vida atrasa o desenvolvimento dentário e resulta em aumento de cárie na dentição decídua. Ainda em relação ao retardo na erupção, Enwonwu observou que a deficiência de iodo atrasa a cronologia da erupção dental, e alterações nos padrões de crescimento dos dentes podem, consequentemente, acarretar no futuro, má oclusão. De acordo com Gerlach et al.20, os problemas nutricionais estão relacionados com alterações na estrutura e na composição do dente, assim como no retardo da erupção e esfoliação dental. As evidências de que a desnutrição pode conduzir também a um atraso da erupção dos dentes decíduos são contraditórias na literatura. A nutrição desempenha um papel importante no desenvolvimento e crescimento dos germes dentários e na erupção dentária. A formação e desenvolvimento dos dentes ocorrem durante a fase fetal e continuam após o nascimento, durante a infância e adolescência. Uma nutrição adequada durante a gravidez e a infância é essencial para o desenvolvimento normal dos dentes e ossos. A falta de nutrientes como cálcio, fósforo, vitamina D e proteínas pode afetar o desenvolvimento dos dentes e causar atraso na erupção dentária. O cálcio e o fósforo são os principais nutrientes necessários para o desenvolvimento normal dos dentes. A vitamina D é necessária para a absorção adequada do cálcio e fósforo, enquanto as proteínas são importantes para a formação dos tecidos dentários. Além disso, a deficiência de vitaminas do complexo B, especialmente a vitamina B2, pode afetar negativamente o crescimento e desenvolvimento dos dentes. O ferro é outro mineral importante para o desenvolvimento normal dos dentes e ossos. Uma dieta rica em açúcares, alimentos processados e carboidratos refinados pode causar cárie dentária e afetar a erupção dentária normal. Por outro lado, uma dieta equilibrada, com muitas frutas e vegetais, alimentos integrais, proteínas magras e laticínios pode ajudar a promover o desenvolvimento adequado dos dentes e ossos. EXPLICAR OS PRINCIPAIS ACIDENTES DOMÉSTICOS INFANTIS MAIS RECORRENTES, BEM COMO A CORRETA PREVENÇÃO As causas externas de morbidade e mortalidade são compostas por dois grupos de eventos: os acidentes ou traumas não intencionais e as violências ou traumas intencionais. Acidente é um evento não intencional e evitável, causador de lesões físicas e/ou emocionais, decorrente de um trauma, no âmbito doméstico ou outro, bem como em determinadas atividades ou situações, por exemplo, na escola, na prática de esportes e lazer, no trânsito ou no trabalho. EPIDEMIOLOGIA – SBP Os tipos de acidentes aos quais crianças e adolescentes podem ser expostos variam com a faixa etária, a etapa do desenvolvimento, o estilo de vida, o local de moradia e a qualidade da supervisão pelos responsáveis. Podem ocorrer sob a forma de quedas, aspiração ou deglutição de corpo estranho, sufocação, queimaduras, ingestão ou contato externo com substâncias tóxicas, afogamentos, choques elétricos, relacionados ao trânsito, com animais, dentre outros. As principais causas de internação entre crianças e adolescentes por acidentes são as quedas e as queimaduras; Segundo o DATASUS, o número de crianças e adolescentes internados em 2019 em consequência de acidentes foi de 177.108, que representou 17,5% do total em todas as idades. Ao comparar o mesmo período em 2020, cujo total foi de 159.888 registros, verifica-se que, no período de isolamento social por conta da pandemia de Covid-19, a redução do número total de casos de internação hospitalar na faixa etária de 0 a 19 anos por acidentes foi de apenas 9,7%, o que reforça o fato de que a maioria dos traumas não intencionais acontece nas residências e seus entornos. Os principais acidentes que acometem faixa etária de: 0 A 6 MESES – SBP Os recém-nascidos e lactentes até os 6 meses de idade apresentam habilidades motoras ainda muito limitadas, com total dependência dos cuidadores e, consequentemente, vulneráveis a riscos atribuídos ao descuido dos seus responsáveis. O cuidado dessas crianças requer uma atenção contínua e medidas passivas de prevenção, além de cautela com distrações. QUEDAS Nessa faixa etária, podem ser preveníveis com técnicas como: 1. Não deixar o bebê sozinho em lugares de onde ele possa cair a. A partir dos 4 meses, a criança já rola e podem cair de locais como o trocador de fraldas 2. Não deixar que crianças carreguem bebês de colo 3. Baixar o estrado e o colchão do berço assim que a criança se sentar a. Logo ficam em pé com apoio e podem cair b. As grades devem ser resistentes e não permitem que sejam usadas de apoio para subir nelas c. A lateral do berço deve sempre ser mais alta que a altura do bebê até a sua axila 4. Bebês pequenos não devem dormir em redes 5. Cuidado com pisos molhados enquanto carrega a criança 6. Usar trava de segurança em carrinho de bebê e em equipamentos para carrega-lo QUEIMADURA Nessa faixa etária, podem ser preveníveis com técnicas como: 1. Não segurar nem manusear nada quente com um bebê de colo 2. Testar a temperatura da água do banho com o cotovelo antes de pôr o bebê 3. Manter o bebê longe de fontes de fogo ou calor, como aquecedores, lamparinas, lampiões, fogões, ferros de passar, churrasqueira e lareiras 4. Não ter álcool 70% líquido em casa e nem o utilizar para nenhum fim a. É altamente inflamável 5. Nunca usar álcool em gel perto de fontes de fogo 6. Cigarros e similares devem ser proibidos em ambientes com crianças e próximo a elas ASPIRAÇÃO/SUFOCAMENTO Nessa faixa etária, podem ser preveníveis com técnicas como: 1. Não dar alimentos em pedaços duros ou grandes para o bebê pelo risco de engolir inteiro pela falta de dentes 2. Roupas de cama devem ter o tamanho do berço para que a criança não se enrole nelas 3. Não deixar objetos ou brinquedos no berço para não puxar para cima do rosto 4. O berço deve ter grades de material resistente e de intervalos pequenos para evitar que o bebê prenda a cabeça 5. Não colocar correntes na chupeta pata não enrolar em torno do pescoço a. Se usar, prender na roupa e nunca maior que 15 cm 6. Se precisar usar chupeta e mamadeira, não usar nenhuma que solte os componentes 7. Não colocar o bebê para dormir no leite com adultos AFOGAMENTO Nessa faixa etária, podem ser preveníveis com técnicas como: 1. Nunca deixar o bebê sozinho na banheira ou em locais com água, como piscinas, bacias, baldes, mesmo se já sentar sem apoio 2. Baldes e outros utensílios de armazenamento ou uso com água devem ficar vazios, com a boca virada para baixo e em lugares inacessíveis à criança quando em uso INTOXICAÇÃO/ENVENENAMENTO Nessa faixa etária, podem ser preveníveis com técnicas como: 1. Atenção à dose, horário e vias de administração dos medicamentos antes de serem dados ao bebê 2. Nunca dar remédios ao bebê que não tenham sido prescritos por médico, mesmo os considerados naturais 3. Evitar uso de utensílios de guarda de alimentos e brinquedos plásticos que contenham bisfenol e não devem ir ao microondas 4. Garantir que os brinquedos sejam de material atóxico 5. Não ter planta tóxica ou venenosa em casa e evitar ir a lugares que tenham 7 A 12 MESES – SBP O lactente conquista rapidamente novos marcos do desenvolvimento motor, o que propicia deslocamento livre no ambiente, seja através do engatinhar ou da marcha. Por volta dos nove meses passa a dominar a habilidade da pega em pinça com os dedos polegar e indicador, tornando-se capaz de pegar e segurar objetos pequenos, com o risco de levá-los à boca ou ao nariz e causar engasgo e aspiração.Asfixias e quedas são os acidentes mais frequentes no primeiro ano de vida. Os responsáveis devem tomar cuidado com distrações e desatenções, pois essa faixa etária exige vigilância constante, até maior que a anterior. O bebê não faz relação de causa e efeito até cerca de dois anos de idade e, mesmo que se machuque em certa atividade, voltará a fazê-la se não for impedido, pois não entende que aquele ato é que lhe provocou o dano e a dor. QUEDAS Nessa faixa etária, podem ser preveníveis com técnicas como: 1. Deve manter as recomendações anteriores 2. Usar cadeirão de alimentação com cinto de segurança 3. Instalar portões de segurança em escadas na parte superior e inferior, para impossibilitar o acesso 4. Instalar redes, telas e grades de proteção nas janelas nas varandas e vãos de escada 5. Manter cadeiras e sofás longe dos móveis para não servir de degraus para locais mais altos 6. Fixar armários e utensílios mais leves, como televisores, na parede, para que não caiam sobre a criança 7. Proteger quinas dos móveis 8. Tudo da criança deve ter selo do Inmetro 9. Andador é completamente contraindicado EM QUALQUER IDADE QUEIMADURAS Nessa faixa etária, podem ser preveníveis com técnicas como: 1. Manter as recomendações anteriores 2. Alimentos e utensílios quentes devem ser colocados ao centro da mesa e nunca na extremidade a. Evita que eles puxem 3. Usar toalhas que não pendam na lateral da mesa a. Evita que puxem para cima delas o conteúdo junto CHOQUE ELÉTRICO Nessa faixa etária, podem ser preveníveis com técnicas como: 1. Colocar protetores em todas as tomadas que não estão sendo usadas 2. Não usar fios desencapados 3. Usar os móveis para esconder as tomadas e fios 4. Não usar extensões ao alcance de crianças 5. Manter aparelhos elétricos desligados quando sem uso e fora do alcance de crianças SUFOCAMENTO/ASPIRAÇÃO DE CORPOS ESTRANHOS Nessa faixa etária, podem ser preveníveis com técnicas como: 1. Manter as recomendações anteriores 2. Não dar alimento com caroços ou sementes ou grãos 3. Nunca deixar objetos pequenos ou brinquedos com partes pequenas ao alcance de uma criança que já é capaz de fazer a pinça 4. Não deixar ao alcance sacos plásticos, cordões e fios 5. Não usar e não deixar brincar com lata de talco ou outros produtos em pó AFOGAMENTO Nessa faixa etária, podem ser preveníveis com técnicas como: 1. Manter as recomendações anteriores 2. Tampas dos vasos sanitários devem ser mantidas fechadas e com travas de segurança, assim como máquina de lavar roupa, banheiras 3. Visualização fácil ao redor de piscinas e portões na entrada, sempre mantidos fechados 4. Nunca usar boias circulares ou de braço como proteção ao afogamento 5. Brinquedos aquáticos infláveis só podem ser usados com a presença de um adulto ao lado e com seu domínio INTOXICAÇÃO/ENVENAMENTO Nessa faixa etária, podem ser preveníveis com técnicas como: 1. Manter as recomendações anteriores 2. Não ter soda cáustica ou outros produtos cáusticos em casa ou em ambientes que a criança frequente 3. Inseticidas, pesticidas e outras substâncias tóxicas não devem ser deixadas ao chão ou em tomadas baixas, ao alcance da criança a. Ratoeiras devem ser deixadas completamente fora do alcance da criança 1 A 2 ANOS As crianças são muito ativas e curiosas e adquirem maior capacidade de locomoção, podendo se deslocar de forma independente, porém ainda não desenvolveram noção de perigo, o que associado a comportamentos de teimosia e birra, normais e esperados nessa idade, em que procuram expressar suas vontades, se autoafirmar e testar os limites dos pais, podem ampliar os contextos perigosos e torná-las susceptíveis a acidentes. QUEDAS Nessa faixa etária, podem ser preveníveis com técnicas como: 1. Deve manter as recomendações anteriores 2. Não permitir que uma criança carregue outra 3. Quando a criança for para a cama, manter protetores nas laterais e nunca a colocar para dormir em camas altas, como beliches 4. Evitar dormir e brincar em redes 5. Criança em cadeira de alimentação devem sempre estar com cinto de segurança 6. Verificar o peso e estatura da criança para cadeiras de alimentação e assentos 7. Evitar deambulação em pisos molhados enquanto carrega a criança QUEIMADURAS Nessa faixa etária, podem ser preveníveis com técnicas como: 1. Manter as recomendações anteriores CHOQUE ELÉTRICO Nessa faixa etária, podem ser preveníveis com técnicas como: 1. Colocar protetores em todas as tomadas que não estão sendo usadas SUFOCAMENTO/ASPIRAÇÃO DE CORPOS ESTRANHOS Nessa faixa etária, podem ser preveníveis com técnicas como: 1. Manter as recomendações anteriores 2. Não deixar ao alcance sacos plásticos, cordões e fios 3. Atenção às brincadeiras pois podem ficar presas em armários ou lugares com pouca ventilação AFOGAMENTO Nessa faixa etária, podem ser preveníveis com técnicas como: 1. Manter as recomendações anteriores 2. Crianças não podem ficar sozinhas em locais aquáticos 3. Ambientes aquáticos próprios para o lazer, deve ser utilizados coletes de modelo salva-vidas INTOXICAÇÃO/ENVENAMENTO Nessa faixa etária, podem ser preveníveis com técnicas como: 1. Manter as recomendações anteriores 2. Não deixar bolsas e sacolas com remédios, balas e outros produtos não seguros 3. Cuidado com dispersores de álcool gel e hipoclorito de sódio para não serem acessíveis 4. Manter higienizadores, produtos de limpeza e qualquer produto tóxico fora do alcance em lugares altos e trancados a. Preferir produtos com tampa de segurança à prova de abertura de crianças 2 A 5 ANOS As crianças vão conquistando gradualmente habilidades cada vez mais complexas, com aumento da autonomia e ampliação das áreas de exploração. Há aumento da curiosidade e questionamentos – é a idade dos porquês, do pensamento mágico e o estágio de imitação dos adultos. Nesta etapa a criança ainda necessita de supervisão rigorosa e proteção, pois ainda não há o desenvolvimento de julgamento crítico. QUEDAS Nessa faixa etária, podem ser preveníveis com técnicas como: 1. Manter as recomendações anteriores 2. Não delegar a uma criança ou outro adolescente o cuidado de uma criança 3. Evitar que essas crianças brinquem em parquinhos e redes sem supervisão de um adulto 4. Proibir acesso a lajes, escadas e locais altos sem proteção 5. Bicicletas e brinquedos desse porte devem ser usados adequados ao tamanho da criança a. Usar EPIs 6. Verificar sempre o bom estado e funcionamento dos brinquedos, como freios e pneus QUEIMADURAS Nessa faixa etária, podem ser preveníveis com técnicas como: 1. Manter as recomendações anteriores 2. Não permitir a entrada desassistida de crianças na cozinha a. Proibido uso de fogão e micro-ondas 3. Preferência ao preparo de frituras e alimentos fervidos nas bocas de trás do fogão 4. Uso de álcool em gel apenas com a supervisão de um adulto e apenas quando não for possível o acesso a água e sabão 5. Guardar fósforos, isqueiro e substâncias inflamáveis CHOQUE ELÉTRICO Nessa faixa etária, podem ser preveníveis com técnicas como: 1. Manter as recomendações anteriores 2. Não permitir brincadeiras próximo às redes elétricas 3. Não deixar aparelhos eletrônicos acessíveis à criança próximo a banheiras, piscinas e outras coleções de água SUFOCAÇÃO/ASPIRAÇÃO DE CORPOS ESTRANHOS Nessa faixa etária, podem ser preveníveis com técnicas como: 1. Manter as recomendações anteriores 2. Manter a supervisão em festas e reuniões com outras crianças a. Não deixar brincar com pedaços de bexiga de látex AFOGAMENTO Nessa faixa etária, podem ser preveníveis com técnicas como: 1. Manter as recomendações anteriores 2. Não deixar crianças próximas de piscinas, tanques, poços de água, cisternas ou espelhos d’água 3. Usar coletes salva-vidas em ambientes aquáticos, nos banhos de piscina 4. Iniciar aulas de natação a partirdos 4 anos com profissional qualificado INTOXICAÇÃO/ENVENENAMENTO Nessa faixa etária, podem ser preveníveis com técnicas como: 1. Manter as recomendações anteriores 2. Manter remédios fora do alcance e do conhecimento da criança, em lugares altos e trancados 3. Nunca transferir produtos tóxicos para garrafas de outros produtos, como refrigerantes 6 A 10 ANOS Novas habilidades cognitivas emergem e as crianças começam a desenvolver a habilidade de pensar de forma lógica e de entender um pouco as noções de segurança, desde que explicadas suas razões e ensinadas. Por outro lado, estão expostas à influência de sua impetuosidade e impulsividade, bem como dos amigos e da mídia. É fundamental que os pais mantenham uma comunicação saudável com seus filhos, auxiliando-os a reconhecer situações de riscos e estimulando a assumirem alguma responsabilidade com a própria segurança, não podendo ser dispensadas a supervisão e atenção direta do adulto. Crianças não podem permanecer sozinhas nem estar sob suas próprias decisões e escolhas. QUEDAS Nessa faixa etária, podem ser preveníveis com técnicas como: 1. Manter as recomendações anteriores 2. Não deixar as crianças sozinhas, sem supervisão de adulto responsável 3. Orientar e supervisionar de perto o uso de brinquedos ou brincadeiras de atividade intensa, como subir em árvores QUEIMADURAS Nessa faixa etária, podem ser preveníveis com técnicas como: 1. Manter as recomendações anteriores CHOQUE ELÉTRICO Nessa faixa etária, podem ser preveníveis com técnicas como: 1. Manter as recomendações anteriores 2. Não deixar adaptadores de equipamentos elétricos livres plugados na tomada e sem estar conectados com seu aparelho 3. Não permitir brincadeiras com pipas perto de redes elétricas 4. Não permitir o uso de cerol nos fios de pipas ASPIRAÇÃO/SUFOCAÇÃO Nessa faixa etária, podem ser preveníveis com técnicas como: 1. Manter as recomendações anteriores AFOGAMENTO Nessa faixa etária, podem ser preveníveis com técnicas como: 1. Manter as recomendações anteriores 2. Manter atenção ativa em ambientes aquáticos 3. Utilizar coletes salva-vidas para a criança brincar e na prática de esportes em ambiente aquático 4. Não utilizar brinquedos infláveis e vestimentas que impeçam a movimentação livre a. Caudas de sereia 5. Não permitir mergulhos com saltos e trampolim para crianças não aptas e em locais desconhecidos ou de baixa profundidade 6. Contratar serviço salva-vidas em festas domesticas em locais com piscina 7. Estimular aulas de natação feitas com profissionais qualificados e em ambientes seguros INTOXICAÇÃO/ENVENENAMENTO Nessa faixa etária, podem ser preveníveis com técnicas como: 1. Manter as recomendações anteriores 2. Orientar a criança a verificar com ela a necessidade de atenção à dose e via dos medicamentos prescritos por médicos a serem administrados 3. Orientar sobre os riscos e impedir o acesso a substâncias tóxicas e nocivas ao organismo, inclusive as estimuladas pela internet QUEDAS E OUTROS ACIDENTES COMUNS – SBP As quedas se destacam nas crianças devido às características próprias do desenvolvimento, como curiosidade e falta de coordenação motora. O grupo com maior risco de cair é o de lactentes de 0 a 2 anos de móveis, escadas e andadores. Os andadores, por conferirem maior mobilidade, acabam expondo as crianças a situações de risco. A maioria das lesões ocorre quando a criança cai da escada com o andador, entretanto, eles também oferecem acesso a lugares que as crianças não conseguiriam atingir, expondo-as, portanto, a objetos quentes como porta de forno, pontiagudos, piscina, venenos e produtos de limpeza. Dessa forma, lesões provocadas por andadores podem ser graves, incluindo lesões de cabeça e pescoço, queimaduras e afogamentos. Além dos riscos de acidentes, podem atrasar o desenvolvimento motor, sendo totalmente contraindicados. Pré-escolares de 2 a 6 anos apresentam riscos que envolvem altura por estarem em idade de se aventurar. Destacam-se as quedas de janelas, além de quedas de móveis como cama e beliche, equipamentos de recreação, playgrounds, degraus e escadas. Quedas relacionadas a atividades recreativas e esportivas são mais frequentes entre crianças e adolescentes de 5 a 14 anos. É preciso lembrar de alguns detalhes como: ter cuidado com as chaves dos ambientes, para evitar que uma criança se tranque em um cômodo inadvertidamente (por exemplo, no banheiro), verificar periodicamente brinquedos, móveis, telas ou rede de proteção para detectar avarias e garantir a segurança. Os brinquedos devem estar adequados à faixa etária. Toda residência deve ter extintor de incêndio em período de validade, em local acessível. Recomenda-se que a família sempre mantenha os documentos em local de fácil acesso para a necessidade de saída inesperada em busca de atendimento emergencial e tenha anotado os telefones do centro de controle de intoxicações. As condições socioambientais desfavorecidas são um fator de risco significativo para os traumas acidentais na infância. CORRELACIONAR A FRATURA ÓSSEA COM A DESNUTRIÇÃO (RAQUITISIMO) O osso consiste em uma matriz proteica denominada osteóide e em uma fase mineral, composta principalmente de cálcio e fosfato, predominantemente na forma de hidroxiapatita. A osteomalácia ocorre por defeito na mineralização da matriz óssea, se apresenta na vida adulta e é uma das causas de baixa densidade mineral óssea; raquitismo é o defeito de mineralização das cartilagens de crescimento na criança e se apresenta com retardo no crescimento e deformidades esqueléticas. O raquitismo é uma doença caracterizada pela diminuição da mineralização da placa epifisária de crescimento e a osteomalácia é caracterizada pela diminuição da mineralização do osso cortical e trabecular, com acúmulo de tecido osteóide não mineralizado ou pouco mineralizado. São processos que, em geral, ocorrem associados. Após o fechamento da cartilagem epifisária, ao término do crescimento, apenas a osteomalácia permanece O retardo da mineralização óssea, característico do raquitismo, deve-se a anomalias dos mecanismos homeostáticos que controlam as concentrações dos íons cálcio e fósforo, nos fluidos extracelulares, indispensáveis para a mineralização. Como o osteóide e a cartilagem da placa de crescimento continuam a se expandir, embora a mineralização seja inadequada, há espessamento da placa de crescimento. Há também aumento da circunferência da placa de crescimento e metáfise, aumentando a largura do osso no local onde estão as placas de crescimento e causando algumas manifestações clínicas clássicas, como a ampliação dos punhos e tornozelos. Há amolecimento generalizado dos ossos, fazendo-os se curvar facilmente sob a ação de forças como peso ou tração muscular. Este amolecimento acarreta várias deformidades ósseas. O raquitismo é causado principalmente pela deficiência de vitamina D e sua incidência era muito alta no Norte da Europa e nos Estados Unidos nos primeiros anos do século XX. Embora este problema tenha sido amplamente corrigido por meio da adoção de medidas de saúde pública para fornecimento adequado de vitamina D às crianças, o raquitismo continua sendo um problema persistente em países desenvolvidos, com muitos casos sendo ainda secundários à deficiência nutricional evitável de vitamina D. ETIOLOGIA – NELSON Existem muitas causas de raquitismo, incluindo os distúrbios de vitamina D, deficiência de cálcio, deficiência de fósforo e acidose tubular renal distal. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A maioria das manifestações clínicas de raquitismo resulta de alterações esqueléticas. O craniotabes consiste no amolecimento dos ossos cranianos e pode ser detectado por meio da digitopressão sobre o osso occipital ou sobre os ossos parietais. ▪ Em características gerais são encontradas: falhas no crescimento, abdômen saliente, enfraquecimento muscular(especialmente na região proximal), fraturas. ▪ Na cabeça são encontrados: craniotabes, saliência frontal, retardo do fechamento da fontanela, retardo da dentição, cáries, cranissinotose. ▪ No tórax são encontrados: rosário raquítico (conjunto de pequenas saliências palpáveis ao nível das articulações condrocostais). ▪ No dorso são encontrados: escoliose, cifose, lordose. ▪ Nos membros são encontrados: alargamento dos punhos e tornozelos, deformidades em valgo ou varo, dor na perna. Radiologicamente o raquitismo é caracterizado por epífises e metáfises alargadas, “em taça”, com linhas de mineralização irregulares, sem contornos definidos e atraso na maturação. Nas demais regiões observam-se os sinais de osteomalácia, com osteopenia generalizada, encurvamento dos ossos longos, varismo ou valgismo em membros inferiores, pseudofraturas (zonas de Looser) que são mais frequentes em colo de fêmur, omoplata e púbis, fraturas, deformidades na caixa torácica e coluna vertebral: vértebras bicôncavas, cifoescoliose, lordose acentuada. DISCORRER O PAPEL GOVERNAMENTAL NA GARANTIA DOS DIREITOS AS RELAÇÕES LABORAIS, COM ÊNFASE BIOPSICOSSOCIAL ATESTADO MÉDICO VINCULADO AO TRAALHO – CREMESP Atestado ou certificado é um documento que tem objetivo firmar a veracidade de um fato ou a existência de determinado estado, ocorrência ou obrigação. É um instrumento destinado a reproduzir, com idoneidade, uma específica manifestação do pensamento médico. Portanto é uma declaração por escrito de uma dedução médica e suas consequências, que tem a finalidade de resumir, de forma objetiva e singela o resultado do exame de um paciente, sua doença ou sua sanidade, e as consequências mais imediatas. É fornecido por qualquer médico que esteja no exercício regular de sua profissão. Tem como propósito sugerir um estado de sanidade ou doença, anterior ou atual, para fins de licença, dispensa ou justificativa de faltas ao serviço, entre outros. Mesmo tão singelo e desprovido de formalidades o atestado médico admite, estando o médico inscrito regularmente no Conselho Regional de Medicina competente, possuir competência para atestar, independentemente de especialidade, desde que se sinta capacitado para tanto. O atestado vinculado ao trabalho é aquele que são usados pelo trabalhador para garantir que tem condições físicas e mentais para desempenhar uma determinada função ou, ao contrário, para garantir seu benefício empregatício para o afastamento, quando necessário. ATESTADO PARA O AFASTAMENTO DO TRABALHO A recomendação ao afastamento ocorre quando a doença apresentada acarreta na necessidade de paralisação temporária ou definitiva das funções do atendido, resultando em justificativa de falta ao trabalho, licença ou dispensa. Caso a doença tenha sido adquirida pela função que o funcionário exerça, o médico pode sugerir, em atestado, que esta pessoa seja remanejada por motivos de saúde. Caso a finalidade do atestado seja o afastamento do trabalho por motivo de doença, sugere-se ao médico definir no documento o período necessário para o tratamento, recomendações e restrições médicas. QUEM ARCA? Primeiro ponto a ser lembrado: durante o período de afastamento do trabalhador por licença médica, este não poderá ser demitido do emprego. O pagamento dos primeiros quinze dias de afastamento da pessoa com vínculo empregatício (exceto empregados domésticos) é de responsabilidade da empresa, sendo o médico do trabalho ou congênere (por exemplo, “terceirizado”) quem receberá e analisará os atestados apresentados. Permanecendo o afastamento, o trabalhador deve ser encaminhado ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), para ser submetido à perícia médica, que concluirá pela concessão ou não do benefício. Em caso positivo, cabe ao INSS o pagamento do auxílio- doença até que o atendido recupere sua capacidade laboral. A cessação do benefício do INSS corresponde à liberação do INSS para que o funcionário volte ao trabalho. Ao retornar, depois de afastamento por período igual ou superior a 30 dias por motivo de doença, acidente ou parto, deve passar pelo médico do trabalho da empresa, que promoverá exame médico específico, com a consequente expedição do ASO. DECLARAÇÃO PARA ACOMPANHANTE Trata-se de documento em que o médico declara, a pedido do interessado, que determinada pessoa acompanhou o doente durante consulta, exames diversos e internação hospitalar. Até 2016, o médico não era obrigado a fornecer a declaração de comparecimento do acompanhante, pois a legislação trabalhista não disciplinava quanto ao abono de faltas tampouco se manifestava quanto à obrigatoriedade das empresas em recebê- la, salvo se existisse acordo, convenção ou dissídio regulamentado a matéria para categorias diferenciadas. Ainda que não fosse obrigatório, era visto como adequado pelo ponto de vista ético e prático, em especial aos acompanhantes pediátricos, geriátricos ou de pessoas fragilizadas pela doença. Em 2016, foi acrescentado à Lei nº 5.452, no artigo 473, verso XI, que pode acompanhar o filho de até 6 anos em consulta médica, um dia ano. Tal declaração de comparecimento fornecida por médicos norteia- se pelas mesmas normas legais e éticas direcionadas ao atestado médico, referentes à veracidade das informações. INFLUÊNCIA DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA NO ESTADO NUTRICIONAL – JORNAL DE PEDIATRIA No Brasil, a alimentação como direito humano é uma conquista recente. E em 2010, houve inserção na Constituição, por meio da Emenda Constitucional n◦64, de uma determinação legal que assegura a alimentação como um direito de toda a população. O Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA) deve ser garantido por meio de políticas públicas de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN). Nesse contexto está inserido Programa Bolsa Família (PBF), que, além da transferência de renda, visa à garantia de acesso aos direitos sociais básicos. Esse programa foi instituído pela Lei nº10.836 em 2004 e consiste no repasse mensal de benefícios em dinheiro às famílias cadastradas e tem o objetivo de beneficiar aquelas em situação de fome e extrema pobreza. O PBF integra o Plano Brasil Sem Miséria e beneficia aproximadamente 14 milhões de famílias em todos os municípios brasileiros. O acompanhamento dos compromissos assumidos pelas famílias e pelo poder público, se dá em três áreas: educação, assistência social e saúde. A última inclui o acompanhamento do estado nutricional das crianças. Apesar de os programas de transferência de renda abrangerem controvérsias sob a forma pela qual as famílias usamos recursos, há evidências de que os auxílios transferidos são usados prioritariamente para a aquisição de alimentos. As famílias participantes do programa apresentaram menor condição socioeconômica, o que confirmou a alta vulnerabilidade social dos beneficiários do programa. Os problemas vivenciados pelas famílias em situação de pobreza não se resumem à escassez de renda monetária, estão, em sua grande maioria, associados ao reduzido exercício dos seus direitos como cidadãos e às poucas oportunidades a que têm acesso para melhoria de sua qualidade de vida. Quanto ao estado nutricional, os resultados do presente estudo revelam alta taxa de excesso de peso entre os escolares, independentemente de serem ou não beneficiários do programa. VIGILÂNCIA ALIMENTAR E NUTRICIONAL NA AB – MINISTÉRIO DA SAÚDE É parte da vigilância em saúde e foi instituída no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) pela Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, em seu artigo 6º. A Política Nacional de Alimentação e Nutrição (Pnan) tem a VAN como uma de suas diretrizes, apontando-a como essencial para a atenção nutricional no SUS, ou seja, para organização e gestão dos cuidados em alimentação e nutrição na Rede de Atenção à Saúde (RAS). Essa organização deverá ser iniciada pelo reconhecimento da situação alimentar e nutricional da população adstrita aos serviçose às equipes de AB. A desnutrição ainda é um cenário bastante preocupante no País, mesmo com a redução em sua prevalência nos últimos anos. A ocorrência desse agravo na infância, diagnosticado com base no retardo do crescimento infantil, é um dos maiores problemas de saúde pública enfrentados por países em desenvolvimento, estando associado ao maior risco de doenças infecciosas e de mortalidade precoce, ao comprometimento do desenvolvimento psicomotor, ao menor aproveitamento escolar e à menor capacidade produtiva na idade adulta. Apesar da queda nacional da desnutrição infantil, ainda persistem desigualdades regionais, de renda e étnico-raciais., como na Região Norte, grupos indígenas, quilombolas e beneficiárias do PBF. Recomenda-se que na Atenção Básica sejam realizadas as avaliações antropométrica e de consumo alimentar de indivíduos em todas as fases do curso da vida: crianças, adolescentes, adultos, idosos e gestantes para realizar o acompanhamento do estado nutricional. Os principais dados são o peso para a idade, estatura para a idade, peso para estatura, índice de massa corporal para a idade. No contexto do SUS, a agenda do PBF compreende a oferta de serviços para a realização do pré-natal pelas gestantes, o puerpério pelas nutrizes, o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil e as ações de imunização, que devem ser realizadas nos serviços de Atenção Básica. O acompanhamento das condicionalidades de saúde caracteriza o exercício da equidade no SUS, pela garantia do acesso aos serviços pelas populações em situação de vulnerabilidade social. Além de se constituir como condicionalidade de saúde do PBF, o acompanhamento nutricional das crianças e gestantes é imprescindível para a VAN dos beneficiários, especialmente por ser um grupo que convive com dupla carga da má nutrição: desnutrição e excesso de peso. O programa apresenta, entre seus objetivos, a promoção do acesso à rede de serviços públicos, o combate à fome e a promoção da segurança alimentar e nutricional. A coleta e o registro das informações que compõem o acompanhamento das condicionalidades de saúde devem ser realizados pelos municípios duas vezes por ano, nos períodos compreendidos entre janeiro e junho (primeira vigência) e julho e dezembro (segunda vigência). As ações compreendidas no acompanhamento das condicionalidades de saúde do PBF já são parte da rotina de atenção à saúde da mulher e da criança. Dessa forma, nas consultas de pré-natal, no acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil, na suplementação profilática com micronutrientes e nas campanhas de vacinação ou na rotina de imunizações, é importante identificar se as famílias são beneficiárias do PBF e, caso positivo, o momento se torna oportuno para a coleta de dados das condicionalidades do programa. PROGRAMA NACIONAL DE SUPLEMENTAÇÃO DE FERRO – MINISTÉRIO DA SAÚDE A suplementação profilática com sulfato ferroso é uma medida com boa relação de custo efetividade para a prevenção da anemia. No Brasil, são desenvolvidas ações de suplementação profilática com sulfato ferroso desde 2005 – Programa Nacional de Suplementação de Ferro (PNSF). O PNSF consiste na suplementação profilática de ferro para todas as crianças de seis a 24 meses de idade, gestantes ao iniciarem o pré-natal, independentemente da idade gestacional até o terceiro mês pós-parto, e na suplementação de gestantes com ácido fólico. A compra dos suplementos de ferro destinados ao Programa Nacional de Suplementação de Ferro deve ser feita junto ao planejamento do componente básico da assistência farmacêutica. Dessa forma, os municípios, o Distrito Federal e os Estados (onde couber) serão responsáveis pela seleção, programação, aquisição, armazenamento, controle de estoque e prazos de validade, distribuição e dispensação dos suplementos de sulfato ferroso e ácido fólico do Programa Nacional de Suplementação de Ferro (Portaria nº 1.555 de 30 de julho de 2013). PROGRAMA NACIONAL DE SUPLEMENTAÇÃO DE VITAMINA A – MINISTÉRIO DA SAÚDE O Programa Nacional de Suplementação de Vitamina A consiste na suplementação profilática medicamentosa para crianças de 6 a 59 meses de idade e mulheres no pós-parto por não atingir, pela alimentação, a quantidade diária necessária para prevenir a deficiência dessa vitamina no organismo. A composição da megadose de vitamina A distribuída pelo Ministério da Saúde é: vitamina A na forma líquida, diluída em óleo de soja e acrescida de vitamina E. O Programa Nacional de Suplementação de Vitamina A distribui cápsulas em duas dosagens: de 100.000 UI e de 200.000 UI, acondicionadas em frascos, contendo, cada um, 50 cápsulas gelatinosas moles. As cápsulas apresentam cores diferentes, de acordo com a concentração de vitamina A. PROBLEMA 5 – FECHAMENTO EXPLANAR O AGENTE ETIOLÓGICO, FISIOPATOLOGIA, QUADRO CLÍNICO, DIAGNÓSTICO, PREVENÇÃO, E TRATAMENTO DE ENTEROPARASITOSES AMEBÍASE – NELSON ETIOLOGIA Três espécies de Entamoeba morfologicamente idênticas, mas geneticamente distintas, comumente infectam os seres humanos. Entamoeba dispar, a espécie mais prevalente, não causa doença sintomática. Entamoeba moshkovskii, anteriomente designada como não patogênica, já foi demonstrada causando diarreia em lactentes. A E. histolytica é a principal espécie patogênica, causando um espectro de doença e pode se tornar invasiva em 4-10% dos pacientes infectados. Quatro outras espécies de Entamoeba não patogênicas são conhecidas por colonizar o trato gastrointestinal humano: E. coli, E. hartmanni, E. gingivalis, e E. polecki. FISIOPATOLOGIA A infecção é adquirida através da ingestão de cistos do parasito, os quais medem de 10-18 μm de diâmetro e contêm 4 núcleos. Os cistos são resistentes às condições ambientais desfavoráveis, incluindo concentrações de cloro comumente utilizadas no tratamento da água, mas podem ser mortos por meio do aquecimento a 55°C (131°F). Após ingestão, os cistos são resistentes a acidez gástrica e enzimas digestivas, e sofrem desencistamento no intestino delgado, formando trofozoítos. Estes organismos grandes, com mobilidade ativa, colonizam o lúmen do intestino grosso e podem invadir o revestimento mucoso. A infecção normalmente não é transmitida por meio dos trofozoítos, uma vez que estes rapidamente se degeneram no meio externo e são incapazes de sobreviver ao pH baixo do estômago se forem deglutidos. Trofozoítos são responsáveis pela invasão e destruição tecidual. Estes se aderem às células do epitélio colônico por meio de uma lectina específica – galactose e N-acetil-d-galactosamina. Acredita-se que esta lectina também seja responsável pela resistência a lise mediada por complemento. Quando está aderido à mucosa colônica, os trofozoítos liberam proteases que permitem a penetração através da camada epitelial. As células do hospedeiro são destruídas por citólise e apoptose. A citólise é mediada pela liberação, pelos trofozoítos de ameboporos (proteínas formadoras de poros), fosfolipases e hemolisinas. Os ameboporos, os quais causam um influxo massivo de cálcio extracelular, podem também ser parcialmente responsáveis pela indução de apoptose que ocorre na doença hepática amebiana e colite. Uma vez que as células hospedeiras tenham sido parcialmente digeridas pelas proteases amebianas, o material degradado é internalizado através de fagocitose. Uma vez tendo invadido a mucosa intestinal, os trofozoítos de E. histolytica se multiplicam e se disseminam lateralmente abaixo do epitélio intestinal para produzir a úlcera em forma de gargalo de garrafa característica. As amebas produzem lesões líticas semelhantes se alcançarem o fígado. Essas lesões são comumente denominadas de abscessos, apesar de não conterem granulócitos. Úlceras bem definidas e abscessos hepáticos amebianos demonstram pouca resposta inflamatória local. A imunidade à infecção está associada à resposta de IgA secretora na mucosa contraa lectina galactose/N-acetil-d-galactosamina. Os neutrófilos parecem ser importantes na defesa inicial do hospedeiro, mas o dano à célula epitelial induzido por E. histolytica libera quimioatrativos para neutrófilos, e E. histolytica é capaz de matar neutrófilos, os quais então liberam mediadores que posteriormente danificam células epiteliais. A disparidade entre a extensão de destruição tecidual pelas amebas e a ausência de uma resposta inflamatória hospedeira local, na presença de respostas humoral sistêmica (anticorpos) e mediadas por células, pode refletir tanto a apoptose mediada pelo parasito como a habilidade do trofozoíto de matar não apenas as células epiteliais, mas também neutrófilos, monócitos e macrófagos. QUADRO CLÍNICO Varia de eliminação assintomática de cistos a colite amebiana, desinteria amebiana, ameboma e doença extraintestinal. COLITE AMEBIANA Pode ocorrer dentro de 2 semanas da infecção ou pode ser retardada por meses. Tem início gradual, com dores abdominais do tipo cólica e evacuações frequentes (6 a 8 dias). A diarreia pode estar associada a tenesmo. Afeta todas as faixas etárias, mas é muito comum em crianças de 1 a 5 anos de idade. ABSCESSO HEPÁTICO AMEBIANO Manifestação grave da infecção disseminada e incomum em crianças. Pode ocorrer meses a anos após a exposição. A febre é marcante em crianças e está associada a dor abdominal, distensão abdominal e aumento de volume e sensibilidade do fígado. DIAGNÓSTICO É feito a presença de sintomas compatíveis com a detecção de antígenos de E. histolytica nas fezes, com 95% de sensibilidade e especificidade e, acompanhado de um teste sorológico, é a forma mais precisa de diagnóstico em países desenvolvidos. É possível diferenciar as espécies de entamoeba. O exame microscópico das fezes possui uma sensibilidade de 60%. Com o uso de 3 amostras, a sensibilidade aumenta para 85 a 95%, LAVÍNIA ARAÚJO @laviarauj pois a eliminação dos cistos pode ser intermitente. Não diferencia as espécies de entamoebas. Endoscopia e biópsias de áreas suspeitas devem ser realizadas quando os resultados dos exames das amostras de fezes forem negativos e a suspeita de amebíase ainda permanecer grande. O teste sorológico mais sensível, a hemaglutinação indireta, fornece um resultado positivo mesmo anos após uma infecção invasiva. TRATAMENTO A amebíase invasiva é tratada com nitroimidazóis, como o metronidazol ou o tinidazol e então com um amebicida luminal. O tinidazol possui uma eficácia similar ao metronidazol, com dosagem mais curta e simples e efeitos adversos menos frequentes. A terapia com nitroimidazóis deve ser seguida pelo tratamento com um agente luminal, como por exemplo, paromomicina (o qual é preferível) ou iodoquinol. Para casos fulminantes de colite amebiana, alguns especialistas sugerem adicionar deidroemetina (1 mg/kg/dia subcutaneamente ou IM, nunca IV), disponível apenas através do Centro para Controle e Prevenção de Doenças. Os pacientes devem ser hospitalizados para monitoramento se a deidroemetina for administrada. A deidroemetina deve ser descontinuada em caso de desenvolvimento de taquicardia, depressão de onda T, arritmia ou proteinúria. PREVENÇÃO É feita através de um saneamento adequado e evitando-se a transmissão fecal-oral. Nenhum fármaco profilático ou vacina está atualmente disponível para a amebíase. GIARDÍASE – NELSON Giardia lamblia é um protozoário flagelado que infecta o duodeno e o intestino delgado. ETIOLOGIA A giárdia lamblia possui dois estágios no ciclo de vida: trofozoítos e cistos. FISIOPATOLOGIA Giardia infecta seres humanos após estes ingerirem um mínimo de 10-100 cistos. Cada cisto ingerido produz dois trofozoítos no duodeno. Após desencistamento, os trofozoítos colonizam o lúmen do duodeno e jejuno proximal, onde se fixam à borda em escova das células do epitélio intestinal e se multiplicam por fissão binária. O corpo do trofozoíto possui a forma de lágrima. À medida que os trofozoítos não aderidos passam pelo trato intestinal, eles se encistam para formar cistos ovais. Os cistos são eliminados nas fezes de indivíduos infectados e podem permanecer viáveis na água por até 2 meses. Sua viabilidade normalmente não é afetada por concentrações usuais de cloro utilizadas no tratamento de água para consumo. QUADRO CLÍNICO O período de incubação dura de 1 a 2 semanas, com um amplo espectro de manifestações clínicas, que depende da relação hospedeiro com a G. lamblia. Crianças que são expostas a G. lamblia podem apresentar eliminação assintomática deste protozoário parasita, ou diarreia infecciosa aguda, ou diarreia crônica com sinais e sintomas gastrointestinais persistentes, incluindo crescimento insuficiente e dor ou cólica abdominal. Usualmente não ocorre disseminação extraintestinal, mas ocasionalmente trofozoítos podem migrar para os ductos biliares ou pancreáticos. Infecções sintomáticas ocorrem mais frequentemente em crianças do que em adultos. A maioria dos pacientes sintomáticos usualmente apresenta um período limitado de doença diarreica aguda com ou sem febre baixa, náusea e anorexia; em uma pequena proporção de pacientes, se desenvolve um curso intermitente ou mais prolongado caracterizado por diarreia, distensão abdominal e cólicas, meteorismo, mal-estar, flatulência, náusea, anorexia, e perda de peso. As fezes inicialmente podem ser profusas e aquosas e mais tarde se tornarem gordurosas e mal cheirosas e podem boiar no vaso sanitário. DIAGNÓSTICO A giardíase deve ser considerada em crianças que apresentam diarreia aguda não disentérica, diarreia persistente, diarreia e constipação intermitente, má absorção, dor abdominal crônica em cólica e meteorismo, deficiência de crescimento, ou perda de peso. O imunoensaio enzimático fecal (EIA) ou o teste direto para anticorpos fluorescentes contra antígenos de Giardia são os testes de escolha para giardíase na maioria das situações. EIA é menos leitor dependente e mais sensível para detecção de Giardia do que a microscopia. Tradicionalmente, o diagnóstico da giardíase foi estabelecido através da documentação por microscopia de trofozoítos ou cistos em amostras de fezes, mas três amostras de fezes são necessárias para se atingir uma sensibilidade de > 90% utilizando- se esta abordagem. A aspiração ou biópsia do duodeno ou jejuno superior devem ser consideradas em pacientes com sintomas crônicos nos quais se suspeita de giardíase, mas nos quais o teste para Giardia em amostras fecais apresentou resultado negativo. TRATAMENTO Crianças com diarreia aguda nas quais organismos do gênero Giardia são identificados devem receber terapia específica, além das que apresentam deficiência do crescimento ou manifestações de má absorção ou sintomas gastrintestinais. Indivíduos assintomáticos que eliminam cistos geralmente não devem ser tratados, a menos que seja uma situação de controle de surtos ou prevenção de transmissão intradomiciliar por crianças para gestantes, por exemplo. O FDA aprovou tinidazol e nitazoxanida para o tratamento de Giardia nos Estados Unidos. O tinidazol possui a vantagem de tratamento em dose única e eficácia bastante alta (> 90%), enquanto a nitazoxanida possui a vantagem de ser na forma de suspensão, alta eficácia (80-90%), e muito pouco efeito adverso. O metronidazol, apesar de nunca ter sido aprovado pelo FDA para o tratamento de Giardia, também é altamente eficaz (80-90% de taxa de cura), e a forma genérica é consideravelmente mais barata do que o tinidazol ou a nitazoxanida. Alternativas de segunda linha para o tratamento de pacientes com giardíase incluem albendazol, paromomicina e quinacrina. PREVENÇÃO Pessoas infectadas e com risco de infecção devem realizar a lavagem adequada das mãos sempre após entrar em contato com fezes. Métodos para purificar adequadamente a água de reservatórios públicos incluem cloração, sedimentação e filtração.A inativação de cistos de Giardia pelo cloro requer a coordenação de múltiplas variáveis como concentração de cloro, pH da água, turbidez, temperatura, e tempo de contato. Estas variáveis não podem ser apropriadamente controladas em todos os municípios e são difíceis de serem controladas em piscinas. Os indivíduos, especialmente crianças que ainda utilizam fraldas, devem evitar banhar-se em piscinas, se estiverem com diarreia. Os indivíduos devem também evitar ingerir águas de recreação e beber água não tratada proveniente de poços artesianos, lagos, nascentes, lagoas, córregos e rios. Viajantes para áreas endêmicas são aconselhados a evitar alimentos não cozidos que possam ter sido cultivados, lavados ou preparados com água potencialmente contaminada. ENTEROBÍASE – NELSON ETIOLOGIA É causada pela infecção por oxiúro Enterobius vermiculares, nematodo pequeno, branco, semelhante a um fio de linha ou com forma cilíndrica, que normalmente habita o ceco, o apêndice e as áreas adjacentes ao íleo e cólon ascendente. As fêmeas grávidas migram à noite para as regiões perineais e perianais, onde depositam até 15.000 ovos. A infecção humana ocorre pela via fecal-oral normalmente pela ingestão de ovos embrionados que são carreados em unhas, roupas, roupa de cama ou poeira domiciliar. Após a ingestão, as larvas amadurecem para formar vermes adultos em 36-53 dias. PATOGÊNESE A infecção por Enterobius pode provocar sintomas por estimulação mecânica e irritação, reações alérgicas e migração dos vermes para sítios anatômicos onde eles tornam-se patogênicos. A infecção por Enterobius tem sido associada à infecção concomitante por Dientamoeba fragilis, que causa diarreia. QUADRO CLÍNICO É inócua e raramente causa problemas médicos relevantes. As queixas mais comuns incluem prurido e sono inquieto secundário ao prurido noturno perianal ou perineal. Eosinofilia não é observada na maioria dos casos porque não há invasão tecidual. Migração aberrante para locais ectópicos ocasionalmente pode levar a apendicite, salpingite crônica, doença inflamatória pélvica, peritonite, hepatite e lesões ulcerativas no intestino delgado ou grosso. DIAGNÓSTICO Histórico de prurido perianal noturno em crianças sugere fortemente enterobíase. O diagnóstico definitivo é estabelecido pela identificação de ovos ou vermes. O exame microscópico da fita adesiva de celofane pressionada contra a região perianal no início da manhã frequentemente demonstra os ovos. Exames repetidos aumentam a chance de detectar os ovos. O exame retal digital pode também ser usado para a obtenção de amostras para preparações úmidas em lâmina. Exames de fezes de rotina raramente demonstram os ovos de Enterobius. TRATAMENTO Deve ser utilizado anti-helmínticos em pacientes infectados e seus membros familiares. O albendazol é o tratamento de escolha e resulta em taxas de cura que excedem 90%. Outras alternativas incluem o mebendazol e pamoato de pirantel. O banho matinal remove uma grande parte dos ovos. A troca frequente de roupas íntimas e de dormir, assim como de lençóis, diminui a contaminação ambiental com ovos, podendo reduzir o risco de autoinfecção. PREVENÇÃO As pessoas que vivem na casa podem ser tratadas juntamente com o indivíduo infectado. Tratamentos repetidos a cada três a quatro meses podem ser necessários em circunstâncias com exposição repetida, como em crianças institucionalizadas. Uma boa higiene das mãos é o método mais eficaz de prevenção. TENÍASE – NELSON São formas adultas de cestódeos, helmintos parasitas multicelulares, que vivem no intestino humano e causam doenças não fatais. Formas larvares invasivas de cestódeos estão associadas com cistos que levam a doenças humanas graves, como a neurocisticercose e equinococose. ETIOLOGIA A tênia da carne bovina (Taenia saginata), a tênia do porco (T. solium) e a tênia asiática (Taenia asiatica) são longos vermes que recebem essas denominações devido aos seus hospedeiros intermediários. FISIOPATOLOGIA Quando as crianças ingerem carne crua ou mal cozida, contendo cistos das larvas, o ácido gástrico e a bile facilitam a liberação de escólices imaturas que aderem ao lúmen do intestino delgado. Os vermes adultos são encontrados apenas no intestino humano. Como ocorre na fase adulta de todas as tênias, o seu corpo é composto por uma série de centenas ou de milhares de segmentos achatados (proglotes) com um órgão de fixação anterior (escólex) que ancora o parasita à parede do intestino. Novos segmentos surgem a partir da extremidade distal do escólex, com segmentos progressivamente mais maduros anexados distalmente. Os segmentos terminais amadurecem e depois de 2-3 meses produzem ovos que são liberados nas fezes, 50.000-100.000 ovos. A superfície das proglotes serve como um órgão de absorção para sequestrar elementos nutricionais do intestino delgado da criança para uso do parasita. Existe, às vezes, uma eosinofilia transitória, antes que um amadurecimento suficiente do parasita libere os ovos. Os ovos ou proglotes intactos, mesmo destacados, abandonam o corpo da criança através do ânus (na defecação ou separado dela). Esses cestoides diferem de modo mais significativo, uma vez que a fase intermediária da tênia do porco (cisticerco) também pode infectar os humanos e causar acentuada morbidade, enquanto que a fase larvária da T. saginata não provoca doença em humanos. A T. asiatica é semelhante e, muitas vezes, confundida com a tênia da carne bovina. QUADRO CLÍNICO Sintomas abdominais inespecíficos foram relatados nas infecções com as tênias da carne bovina e suína, mas o sintoma mais incômodo é o sofrimento psicológico causado pela visão das proglotes nas fezes ou roupas íntimas. Os segmentos liberados são móveis e podem levar a um prurido anal. DIAGNÓSTICO Pelo fato de que as proglotes geralmente passam intactas, o exame visual das proglotes grávidas nas fezes é um teste sensível; estes segmentos podem ser utilizados para identificar as espécies. Ovos, pelo contrário, são, muitas vezes, ausentes nas fezes e não permitem distinguir entre T. saginata e T. solium. Se o parasita é totalmente expulso, o escólex de cada espécie é diagnóstico. Os testes de detecção de antígeno estão, cada vez, mais disponíveis. TRATAMENTO Infecções com todos os vermes adultos respondem ao praziquantel. Quando disponível, um tratamento alternativo para teníase é a niclosamida. A nitazoxanida é, por vezes, também eficaz. O parasita é, geralmente, expulso no dia da administração. PREVENÇÃO O congelamento prolongado ou o cozimento completo da carne bovina e da suína determina a morte das formas císticas das larvas dos parasitas. Cuidados higiênicos humanos apropriados podem interromper a transmissão pela prevenção da bovinocultura. ASCARIDÍASE – NELSON ETIOLOGIA É causada pelo nematódeo, ou verme cilíndrico, Ascaris lumbricoides. Os vermes adultos de A. lumbricoides habitam a luz do intestino delgado e têm um tempo de vida de 10-24 meses. O potencial reprodutivo do Ascaris é extraordinário e uma fêmea grávida produz 200.000 ovos por dia. Após a passagem nas fezes, os ovos embrionam e tornam-se infectantes em cinco a 10 dias sob condições ambientais favoráveis. Os vermes adultos podem viver por 12 a 18 meses. FISIOPATOLOGIA Os ovos de Ascaris eclodem no intestino delgado após a ingestão pelo hospedeiro humano. As larvas são liberadas, penetram na parede do intestino, e migram para os pulmões através da circulação venosa. Os parasitos causam então a ascaridíase pulmonar à medida que invadem os alvéolos e migram através dos brônquios e traqueia. Causa uma sensação de tosse e são subsequentemente deglutidos e retornam para o intestino, onde amadurecem até vermes adultos. A fêmea de Ascaris começa a depositar ovos em oito a dez semanas. QUADRO CLÍNICO Depende da intensidade da infecção e dos órgãos envolvidos. A maioria dos pacientestem cargas parasitárias leves a moderadas e não apresenta qualquer sinal ou sintoma. Os problemas clínicos mais comuns são decorrentes de doença pulmonar e obstrução do trato intestinal ou biliar. A migração de larvas através destes tecidos pode causar sintomas alérgicos, febre, urticária e doença granulomatosa. Os áscaris ocasionalmente migram para o interior dos ductos biliares e pancreáticos, onde causam colecistite ou pancreatite. A migração do verme através da parede intestinal pode levar à peritonite. Uma complicação mais grave ocorre quando uma grande massa de vermes leva à obstrução intestinal aguda. Crianças com infecções maciças podem apresentar vômitos, distensão abdominal e cólicas. As manifestações pulmonares assemelham-se à síndrome de Loeffler e incluem sintomas respiratórios transitórios, tais como tosse e dispneia, infiltrado pulmonar e eosinofilia. DIAGNÓSTICO O exame microscópico de esfregaços fecais pode ser utilizado para o diagnóstico em razão do elevado número de ovos excretados pelas fêmeas adultas. Um alto índice de suspeita em vigência de um contexto. O exame ultrassonográfico do abdome é capaz de visualizar os vermes adultos intraluminais. TRATAMENTO As opções de tratamento para ascaridíase gastrointestinal incluem albendazol, mebendazol ou ivermectina. O citrato de piperazina causa paralisia neuromuscular no parasito e expulsão rápida dos vermes, é o tratamento de escolha para a obstrução intestinal ou biliar e é administrado na forma de xarope através de uma sonda nasogástrica. A cirurgia pode ser necessária para os casos com obstrução grave. A nitazoxanida produz taxas de cura comparáveis às do albendazol de dose única. PREVENÇÃO Embora a ascaridíase seja a infecção helmíntica mais prevalente no mundo, pouca atenção tem sido dada ao seu controle. Programas de quimioterapia anti-helmíntica podem ser implementadas em 3 maneiras: 1. Tratamento universal pra todos os indivíduos em uma área de alta enfermidade 2. Tratamento direcionado para grupos com alta frequência de infecção (crianças de escola primária) 3. Tratamento individual com base na intensidade da infecção atual ou prévia A melhoria da educação em saúde e das condições sanitárias, assim como das instalações de esgoto, interrompendo a prática da utilização de fezes humanas como fertilizantes, e educação são as medidas preventivas mais eficazes a longo prazo. DESCREVER O MECANISMO DE AÇÃO E EFEITOS COLATERAIS DAS CLASSES MEDICAMENTOSAS ANTI- PARASITÁRIAS METRONIDAZOL – UPTODATE O metronidazol é um dos principais fármacos para o tratamento de infecções anaeróbias e protozoárias, aprovado pela FDA. O metronidazol possui uma atividade especialmente alta in vitro e in vivo contra protozoários anaeróbicos. MECANISMO DE AÇÃO – GOODMAN E UPTODATE O metronidazol é um pró-fármaco: requer ativação redutiva do grupo nitro pelos organismos suscetíveis. O metronidazol é um composto de baixo peso molecular que se difunde através das membranas celulares de microrganismos anaeróbicos e aeróbicos (a atividade antimicrobiana é limitada a anaeróbicos) A toxicidade preferencial por organismos anaeróbicos advém do metabolismo energético dessas células, diferente das aeróbicas, que envolvem no transporte de elétrons elementos como as ferredoxinas, proteínas pequenas Fe-S que possuem o potencial redox suficientemente negativo para que possa doar elétrons ao metronidazol. Quando o elétron é transferido para o metronidazol, dá origem a um nitrorradical aniônico altamente reativo que destrói os organismos suscetíveis mediante a ação do radical sobre o DNA e possivelmente sobre outras biomoléculas vitais. O metronidazol sofre regeneração catalítica com a perda do elétron pelo metabólito ativo; isso recompõe o composto inicial. Níveis crescentes de O2 reduzem a citotoxicidade do metronidazol, pois o O2 é um competidor para o radical livre, assim, diminui a ativação redutiva do metronidazol e aumenta a regeneração do fármaco ativado. Organismos anaeróbicos mais suscetíveis ao metronidazol derivam sua atividade metabólica da fermentação oxidativa de cetoácidos como o piruvato. Sua descarboxilação é catalisada pelo sistema piruvato:ferredoxina oxidutase (PFOR) que produz elétrons que reduzem a ferredoxina, que, por consequência, doa de modo catalítico seus elétrons aos aceptores biológicos de elétrons (íons de hidrogênio nos transportadores de elétrons) ou o metronidazol. A redução do metronidazol cria um gradiente de concentração que impulsiona a absorção de mais drogas e promove a formação de compostos intermediários e radicais livres que são tóxicos para a célula, induzindo a liberação do fosfato de timidina, tendo como consequência a ruptura e destruição da dupla hélice do ácido nucleico. Partículas citotóxicas-intermediárias interagem com o ácido desoxirribonucleico (DNA) da célula hospedeira, resultando em quebra da cadeia de DNA e desestabilização fatal da hélice do DNA. Estudos revelaram a ordem crescente de reatividade do metronidazol: adenina, guanosina, timina, uracila, uridina e timidina. A lesão do DNA não ocorre de forma aleatória, sendo dependente do pH e da composição das bases do DNA. Essa composição é importante porque o metronidazol é mais eficaz contra microrganismos que possuem alta percentagem de adenina e timina (A + T). Posteriormente as partículas tóxicas-intermediárias decaem em produtos finais inativos TOXICIDADE – GOODMAN Apenas raramente os efeitos adversos são graves o suficiente para provocar a interrupção do tratamento. Os mais comuns são a cefaleia, náuseas, boca seca, e um gosto metálico na boca. Vômitos, diarreia e desconforto abdominal são experimentados ocasionalmente. Língua saburrosa, glossite e estomatite durante o tratamento podem ser sinais de exacerbação de candidíase. Tonturas, vertigens, encefalopatia, convulsões falta de coordenação e ataxia são efeitos neurotóxicos que indicam a descontinuação do metronidazol. Urticária, rubores e prurido indicam sensibilidade ao fármaco e podem tornar necessária sua interrupção. IVERMECTINA - GOODMAN É um análogo semissintético da avermectina, utilizada como inseticida para controle de plantações. Atualmente a ivermectina é utilizada no tratamento de uma grande variedade de infecções causadas por nematódeos parasitários e artrópodes que infectam animais silvestres e domésticos. MECANISMO DE AÇÃO A ivermectina imobiliza os parasitos expostos induzindo paralisia tônica na musculatura por meio da ativação de uma família de canais de Cl- ativados por ligandos, principalmente os canais de CL- controlados por glutamato, que estão, que estão presentes apenas nos invertebrados. O influxo de cloro durante uma sinapse gera uma carga na célula pós-sináptica negativa, que caracteriza um potencial inibitório pós-sináptico (PIP). Os canais de Cl- controlados por glutamato estão presentes nas células da musculatura faríngea desses vermes e isto é compatível com o efeito inibitório potente e acentuado das ivermectinas no comportamento alimentar dos parasitos. Provavelmente a ivermectina se liga aos canais de Cl- ativados por glutamato, que estão presente nas células nervosas ou musculares dos nematódeos, causando hiperpolarização em consequência ao aumento da concentração em consequência do aumento da concentração intracelular do cloreto. Isso paralisa o parasito. Os canais de Cl- controlados pelo glutamato provavelmente são um dos vários dos locais de ação das ivermectinas nos invertebrados. Também se ligam com grande afinidade aos canais de Cl- controlados pelo GABA, outro neurotransmissor inibitório, que estão presentes nos nematódeos e nos insetos, mas as consequências fisiológicas desta ligação ainda não estão bem definidas. Outro mecanismo descrito na literatura é a alteração da resposta imune do hospedeiro, combatendo a inflamação, com efeito imunomodulatórioassociado à alteração da resposta de linfócitos T, especialmente os linfócitos T-helper. Ratos tratados com ivermectina mostraram uma maior produção de anticorpos SRBC, que permite visualizar a reação antígeno/anticorpo, sendo a resposta imunológica dependente da atividade dos macrófagos e linfócitos T. TOXICIDADE – GOODMAN E PEDROSO ET. AL., 2020 Nas filarioses, o tratamento com ivermectina geralmente desencadeia uma reação à medida que as microfilárias são destruídas, que aumentam de intensidade conforme a quantidade de microfilárias presentes. Os efeitos colaterais geralmente se limitam a prurido brando e linfadenopatia dolorosa, que ocorrem em 5 a 35% dos pacientes, persistem por alguns dias e são atenuadas com AAS e pelos anti- histamínicos. Em casos raros podem acontecer reações mais graves como febre alta, taquicardia, hipotensão, prostração, tontura, cefaleia, mialgia, artalgia, diarreia e edemas facial e periférico e melhoram com uso de corticoide. PIPERAZINA – GOODMAN É uma amina secundária cíclica, suplantada como primeira opção de anti-helmíntico pelos fármacos mais bem tolerados e mais facilmente administrados como derivado benzimidazólicos. É altamente eficaz contra Ascaris lumbricoides e Enterobius vermicularis. MECANISMO DE AÇÃO Age por meio de uma paralisia flácida, que resulta na expulsão dos vermes por peristalse. Os vermes paralisados são expelidos vivos pelos movimentos peristálticos intestinais normais. É administrada em conjunto com um laxante, como o sene, para facilitar a expulsão dos vermes. A piperazina atua como um agonista, fármaco que possui afinidade por um receptor particular e causa uma modificação no receptor, nos canais de cloro específicos do parasita ligados pelo GABA. Em consequência do aumento da condutância de íons cloreto na membrana dos músculos do verme, a piperazina causa hiperpolarização e reduz a excitabilidade, por um PIP, resultando no relaxamento muscular e na paralisia. A piperazina inibe a produção de succinato, componente de formação durante o ciclo de Krebs, pelo parasita, condição que leva à depleção de energia. TOXICIDADE – RANG & DALE Alterações gastrointestinais, urticária e broncoespasmo. Alguns pacientes apresentam tonturas, parestesias, vertigens e dificuldade de coordenação. ELUCIDAR ACERCA DAS CAUSAS DOS DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM NA FASE ESCOLAR O QUE SÃO DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM ESPECÍFICAS? – HUDSON Em qualquer sala de aula haverá, entre os estudantes, uma variedade de habilidades acadêmicas, de personalidade, de pontos fortes e fracos. Normalmente, os alunos têm desempenho bastante uniforme em todas as matérias, porém pode haver alguns que sejam muito bons em algumas coisas, mas tenham um desempenho surpreendentemente ruim em outras. É essa disparidade que identifica indivíduos com Dificuldades de Aprendizagem Específicas (DAEs). Tais indivíduos não podem ser curados e não “superam” suas dificuldades, mas podem ser ensinados a descobrir uma série de estratégias de enfrentamento alternativas para ajudá-los a assimilar e reter informações, passar nas provas e se tornar adultos bem-sucedidos. Eles geralmente têm muitos talentos e habilidades em outras áreas que podem ter um impacto considerável na carreira escolhida. As DAEs mais comuns que podem ser encontradas nas salas de aula tradicionais são: 1. Dislexia: problemas de leitura, escrita e ortografia 2. Discalculia: problemas com números 3. Disgrafia: problemas físicos com escrita à mão 4. Dispraxia: problemas de movimento e coordenação 5. Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH): baixa capacidade de concentração, comportamento agitado e impulsivo 6. Transtornos do espectro autista (TEA): dificuldades sociais e de comunicação, constrangimento na interação social, discurso factual desprovido de imaginação e preocupação com interesses muito restritos, como a síndrome de Asperger 7. Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC): preocupações e medos infundados (obsessão) que levam a padrões repetitivos de comportamento (compulsão) A informação é recebida através de três canais principais: 1. o que vemos: visual; 2. o que ouvimos: auditivo; 3. o que sentimos: cinestésico. A maioria das pessoas tem um canal ou estilo de aprendizagem preferido. As lições mais bem-sucedidas são o máximo possível multissensoriais. Isso incentiva os alunos a usar os três canais de aprendizagem e o conteúdo da lição é reforçado de várias maneiras. É importante lembrar que alguns alunos com DAEs podem ter problemas para assimilar e recordar o conteúdo apresentado de uma só forma e, portanto, é vital usar uma variedade de abordagens e canais de aprendizagem para interagir com eles DISLEXIA – HUDSON O QUE É A DISLEXIA? Indivíduos com dislexia têm dificuldade com a linguagem escrita e, por isso, têm problemas de leitura, escrita e ortografia. A dislexia ocorre em todos os níveis de capacidade intelectual. Acredita-se que afete até 10% da população, com intensidade variando de leve a grave. A dislexia geralmente é algo de família, o que sugere que pode haver uma ligação genética. Às vezes, ela se manifesta com condições alérgicas, como asma, eczema ou febre do feno. Técnicas de captação de imagens do cérebro mostram que indivíduos com dislexia processam informações de forma diferente dos outros. Eles tendem a pensar mais em imagens do que em palavras e fazem conexões laterais rápidas. Problemas auditivos na primeira infância, como a otite média com efusão, ou deficiências visuais, como as dificuldades de rastreamento ocular, não causam dislexia, mas podem ser fatores contribuintes. Em geral, a dislexia é descoberta devido a uma discrepância entre a boa capacidade oral de um aluno e seu desempenho medíocre ou ruim no papel. Alunos que fazem contribuições sensatas e inteligentes em sala de aula, mas que, constantemente, apresentem resultados de testes e exames abaixo do esperado, apesar da dedicação. Eles também parecem cometer erros “bobos” devido à má interpretação de perguntas ou instruções. Pessoas com dislexia podem apresentar alguns indicadores, mas nem todos eles, o que pode parecer confuso: LEITURA A leitura se mostra com dificuldades, imprecisa e lenta, pois, além de fazer a troca de letras, números, ele também não compreende o que leu, pois ainda se preocupa com o que está escrito. 1. leitura lenta 2. leitura muitas vezes imprecisa 3. aluno nem sempre compreende o que leu, pois está concentrado em decifrar as palavras, resultando na perda do sentido geral 4. imprecisões durante leitura aumenta sob pressão 5. pode substituir uma palavra visualmente semelhante que comece com a mesma letra 6. tem dificuldade de compreensão de textos por escrito, muitas vezes pela leitura errônea das palavras, ou por deixar passar palavras fundamentais 7. grandes blocos de textos e letras pequenas são intimidadoras 8. inverte letras ou algarismos na leitura de palavras ou números ORTOGRAFIA 1. ortografia incongruente da mesma palavra, muitas vezes dentro de um mesmo trabalho escrito 2. dificuldade com a fonologia, podendo não escutar sílabas de palavras 3. pode confundir consoantes, como g e q ou d e b 4. inversão de letras em ortografia semelhante, também ocorre em números, o que causa dificuldades com matemática 5. pode se sair bem em testes ortográficos de palavras predeterminadas, mas a ortografia “desanda” ao redigir um ditado, pois a concentração está no conteúdo e não na ortografia 6. pode aprender uma grafia num dia e esquecer em outro TRABALHO ESCRITO 1. Escrita lenta assim como a leitura 2. má qualidade na ortografia e pontuação 3. trabalhos escritos podem ser mais simples e mais curtos que o esperado 4. uso aleatório de letras maiúsculas MATEMÁTICA Alguns alunos com dislexia podem ser bons em matemática, mas cometem erros ao interpretar as questões, pois o vocabulário matemáticoé bastante extenso e pode ser confuso, como o uso de símbolos, fazendo confusão entre eles (+ com × e ÷ com -). A álgebra pode se tornar mais difícil com o uso de letras como b e d, q e p. Alguns alunos também podem ter a discalculia associada, mas nem sempre é o caso CONCENTRAÇÃO O aluno pode se distrair facilmente e ter baixa capacidade de concentração, fazendo saltos rápidos e conexões mentais laterais, desviando do assunto. Os pensamentos em geral são desconectados e não organizados nem sequenciais. PROCESSAMENTO LENTO Leva mais tempo para responder perguntas verbalmente ou por escrito, pelo fato de ter que transformar a informação mentalmente em imagens antes que ela possa ser decodificada e trabalhada. MEMÓRIA DE CURTO PRAZO RUIM Possui problemas para lembrar de instruções, com dificuldades em reter números para cálculos, dificuldade em lembrar o que escreve. ASSIMILAÇÃO DAS INFORMAÇÕES Incapaz de revisar a matéria rapidamente e de fazer um intensivo para provas por ter uma memória de curto prazo ruim. Isso tudo faz com que leve mais tempo para aprender, já que as coisas precisam estar associadas à memória de longo prazo. Isso leva a uma má performance, ocorrendo uma discrepância entre seu desempenho verbal e o desempenho no teste escrito., fazendo com que extrapole o tempo, entre em pânico e não leia as perguntas corretamente em provas. ORGANIZAÇÃO Esquece instruções e orientações, pois o senso de orientação é muito ruim. Confunde esquerda com direita e vice-versa e costuma perder pertences. INTENSA SENSIBILIDADE EMOCIONAL Pode se sentir chateado e humilhado em sala de aula, levando a sério comentários, sentindo-se pessoalmente atingido e aborrecido com críticas. Pode ser desencorajado facilmente e isso leva a uma baixa autoestima, além de serem sensíveis e poderem carecer de autoconfiança. Durante tarefas complexas, podem se sentir intimidados. Pode decidir virar o “palhaço da turma” para tentar ganhar simpatia dos colegas e ter uma “desculpa” para não se sair tão bem. FADIGA Geralmente, tem que se esforçar mais para acompanhar o trabalho, o que leva a um aumento do cansaço, do estresse e da ansiedade. COMO AJUDAR? Durante o período de aulas dessas pessoas, o local apropriado mais perto da lousa, a oportunidade da leitura quando já teve um contato prévio e o tempo mais estendido, uso das fontes da impressão; são algumas técnicas que facilitam o melhor desenvolvimento dessas crianças. DISCALCULIA – HUDSON A discalculia é como a dislexia, só que com números. Essas pessoas têm dificuldade para contar e com aritmética que não é condizente com seu nível geral de inteligência. Cerca de 5% da população têm discalculia de forma isolada, mas um número maior sofre dessa condição em combinação com outra DAE. A discalculia é observada na mesma proporção entre meninos e meninas. Muitas vezes, é algo de família, por isso, acredita-se que exista um componente genético. Não pode ser curada, mas, com um ensino eficaz, os alunos são capazes de dominar algumas habilidades matemáticas e elaborar estratégias de enfrentamento eficientes para ter sucesso na vida adulta. COMO SÃO IDENTIFICADOS? Aluno que parece ser articulado e inteligente, que tem um bom desempenho verbalmente e em trabalhos escritos, mas é surpreendentemente ruim em tarefas que envolvam números e cálculos. Ele também pode ser impreciso para se recordar de números, inseguro em matemática e tenta evitar trabalhar com números, se possível. Esses alunos possuem falta intuitiva sobre os números, como não saber se um é menor que o outro. Possuem dificuldade ao arredondar números, estimar resultados, frequentemente contará usando os dedos, e pode confundir números parecidos como 3 e 8. Podem inverter números (também presente na dislexia). Possuem dificuldades com zeros, se perdendo em múltiplos de 10. Apresenta uma extrema dificuldade em aprender a tabuada de multiplicação, nem conseguem fazer cálculos de cabeça. É incapaz de enxergar conexões entre conhecidas relações de números. Por exemplo, se 3 + 5 = 8, então 5 + 3 = 8 ou 30 + 50 = 80. Se uma operação foi aprendida, será seguida mecanicamente, com insegurança e sem compreensão, além de não ter certeza se uma operação tomará o resultado maior ou menor. Costuma entrar e pânico e esquecer questões numéricas, especialmente sob pressão, com dificuldade de compreender o que uma questão está pedindo. Confunde símbolos como < e >. O aluno com discalculia também possui problemas de memória a curto prazo, com dificuldade em operações mais complexas e por não consolidar o básico (fórmulas, conversões, cálculos com dinheiro, aumento ou diminuição percentual, valores negativos, equações, estatística, gráficos, escalas). Saber as horas pode ser um verdadeiro problema. Os alunos podem ter dificuldade em ler um relógio analógico, e ler e compreender quadros de horários ou mapas com referências de grade. Eles também podem se perder facilmente. Um aluno com discalculia pode se sentir constrangido na aula, com medo de ser questionado e o foco das atenções dos colegas voltar- se para ele. COMO AJUDAR? Tornar a sala de aula um lugar seguro e descontraído, onde não há problema em cometer erros e fazer perguntas, sem constrangimentos. Permanecer na frente do quadro, com instruções breves e claras. Tentar usar outras cores de papel além da branca. Elas podem ser mais nítidas para alguns alunos. Permitir o uso de calculadora e dos dedos para contar e usar técnicas como a tabuada do 9 nos dedos. DISGRAFIA – HUDSON A disgrafia é uma Dificuldade de Aprendizagem Específica (DAE) menos conhecida que afeta a escrita à mão e a conversão de pensamentos em palavras escritas. Indivíduos com disgrafia estão dentro da faixa normal de inteligência, mas eles lutam para colocar suas ideias no papel de forma clara e coerente. Sua caligrafia pode ser ilegível ou desorganizada apesar do considerável esforço empregado, e há uma disparidade entre ideias e compreensão expressas verbalmente e aquelas apresentadas por escrito. Sua capacidade de leitura é normal, mas a ortografia pode ser afetada, embora este nem sempre seja o caso. Geralmente ocorre junto com outras DAEs, mas nem sempre. Há uma tendência de ser algo de família. Existem 3 tipos de disgrafia: 1. Espacial: processamento visual e compreensão do espaço deficientes. Isso causa dificuldade tanto para escrever em linha reta como no espaçamento das letras. Ortografia permanece normal. 2. Motora: controle motor fino dos músculos da mão e do punho deficiente, o que torna a escrita difícil e cansativa e geralmente resulta em caligrafia desalinhada ou ilegível mesmo ao copiar. A ortografia não é afetada. 3. De processamento: dificuldade em visualizar a aparência das letras em uma palavra, o que resulta em letras malformadas e na ordem errada quando escritas. O trabalho original escrito é ilegível, mas o trabalho copiado é razoavelmente bom. A ortografia é ruim. COMO IDENTIFICAR? O aluno provavelmente é brilhante e eloquente, mas sempre entrega um trabalho que parece desorganizado e está bem abaixo da qualidade que você esperaria. Se você observá-lo escrever, poderá perceber que o processo costuma ser penoso e sua postura e a forma de segurar a caneta parecem desajeitadas. Ele demora para copiar do quadro-negro ou de um livro e pode reclamar de dor na mão. Pode sofrer com desapontamento, pois o trabalho escrito exige muito esforço e sempre parece ruim. Sujeito a ficar para trás academicamente, uma vez que todo trabalho escrito leva muito mais tempo para ser realizado, de forma que pode ser difícil terminar o que é exigido dentro do período estipulado. Possuem fluência ao falar, mas linguagem artificial e ideias limitadas expressas no papel ESPACIAL Na disgrafia espacial, ele não vai escrever nas linhas e não vai seguir margens, tendo problemas em orientação da escritada esquerda para a direita, com espaços incoerentes entre palavras e letras (muito próximas ou distantes). As letras se apresentam em tamanho, formato e inclinação irregulares. A escrita é muito ruim e difícil de ler, além de lenta, ficando cansado ao escrever e sofrer com câimbras dolorosas ao escrever por longos períodos. MOTORA Na disgrafia motora, o aperto da caneta na mão e o seu posicionamento e do pulso, do corpo e do papel são anormais. Possui muito esforço ao usar instrumentos matemáticos (compasso por exemplo), dificuldade em desenhar gráficos e outras habilidades que envolvem o controle fino (como abrir botões). PROCESSAMENTO O ato físico de escrever exige muita concentração, de modo que o aluno é incapaz de processar informações ao mesmo tempo em que escreve, tendo dificuldade em lembrar como formar algumas letras, ficando algumas inacabadas ou ao contrário. Faz-se a mistura de letras maiúsculas e minúsculas na mesma linha, às vezes com mistura de letras de forma e manuscrita na mesma linha. A pontuação e a ortografia são ruins e erráticas por terem dificuldade em organizar logicamente pensamentos no papel, perdendo a linha de raciocínio. COMO AJUDAR? Reduzir a quantidade de trabalho escrito obrigatório: isso permitirá que os alunos com disgrafia acompanhem o conteúdo acadêmico de sua matéria. Isso, somado à distribuição de anotações impressas com espaços para escrever manualmente A posição sentada ereta, com os pés no chão e não muito perto de outros alunos, para maior espaço com os braços. TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE (TDAH) – HUDSON Indivíduos com Tdah geralmente mostram três indicadores comportamentais: desatenção, hiperatividade e impulsividade. O Tdah é um distúrbio neurobiológico. Não tem cura, mas pode responder a medicamentos, terapia comportamental e mudanças de estilo de vida. A intensidade varia de leve a severa. O Tdah geralmente ocorre numa mesma família, sugerindo que exista uma ligação genética, mas também pode ser influenciado por fatores ambientais e de estilo de vida. Ele não afeta o intelecto geral do indivíduo, embora possa prejudicar o seu progresso, a menos que seja cuidadosamente controlado. Os sintomas devem estar presentes antes dos doze anos de idade. Existem três tipos de TDAH com sintomas diferentes entre si: 1. Predominantemente desatento: diagnosticado mais frequentemente em meninas 2. Misto (mais comum) desatento e hiperativo/impulsivo: diagnosticado mais frequentemente em meninos 3. Predominantemente hiperativo: raro O antigo termo Transtorno do Déficit de Atenção (TDA) atualmente tem sido substituído por Tdah predominantemente desatento. A parte frontal do cérebro (lobo frontal) controla o nosso comportamento racional e lógico. Ela nos permite pensar antes de agir e aprender com a experiência. Também nos possibilita inibir certas respostas emocionais, modificar o nosso comportamento e nos impedir de assumir riscos que são imprudentes. As células do cérebro se comunicam usando mediadores químicos chamados neurotransmissores. Tem sido demonstrado que indivíduos com Tdah têm menos atividade neurotransmissora do que o habitual na região do lobo frontal. Isso provoca mais assunção de riscos, espontaneidade e falta de concentração. COMO IDENTIFICAR? É mais fácil identificar alunos que apresentem hiperatividade e impulsividade. São provavelmente aqueles que não conseguem ficar quietos no lugar, gritam em sala de aula e estão constantemente exigindo sua atenção. Eles podem ser brilhantes, espirituosos e inovadores, mas sempre parecem estar buscando atenção e precisam de constante disciplina. O tipo desatento de Tdah, por outro lado, é muito mais difícil de detectar. Os alunos podem parecer um pouco alheios e não ouvir adequadamente quando você fala com eles. Eles são desorganizados e parecem não absorver muito bem informações. Podem evitar tarefas difíceis e sentir que não conseguem lidar com elas. Seu trabalho escrito pode ser inadequado ou incompleto, embora possam ter começado com grandes ideias. A depressão é um problema comum entre esses jovens, pois eles sentem que nunca conseguirão fazer amigos e se sair bem na escola. DESATENÇÃO Eles se distraem facilmente e possuem baixa capacidade de concentração, pulando de uma tarefa para outra. Podem não ouvir corretamente e comer erros por descuido. Apresentam falta de organização em perder objetos, chegar atrasados aos lugares, esquecem de entregar a lição. Possuem memória de curto prazo baixa. Aparentam desinteresse e evitam tarefas que necessitam de esforço mental prolongado, além de falhar em concluir tarefas, apesar do empenho. HIPERATIVIDADE Mantêm as mãos inquietas e as pernas agitadas ao estarem sentados, aparentando estarem inquietos e distraídos, saindo com frequência durante a aula. Falam excessivamente, são incapazes de relaxar e ficar calmos e apresentam uma conduta caótica. Querem chamar atenção e podem fazer palhaçadas para isso. IMPULSIVIDADE Gritam em sala de aula, são impacientes e irritadiços e acham difícil esperar a sua vez. Interrompem e se intrometem nas conversas de outras pessoas, podendo ser ansiosos e agitados e reagir emocionalmente (não racionalmente). Podem ficar com raiva e agressivos, além de assumir riscos, serem rebeldes e estarem buscando pela coisa mais empolgante para fazer. COMO AJUDAR? Analisar se tomam medicação, se há problemas sérios de comportamento. Em sala de aula, podem gritar, ter dificuldade em ficar em silêncio, sair bruscamente de seu assento e atrapalhar as aulas ao exigirem atenção. No entanto, eles também podem ter ideias empolgantes e interessantes, muito entusiasmo e uma abordagem original e incomum. Isso os torna ao mesmo tempo difíceis e recompensadores de ensinar. O ideal é que o aluno com Tdah sente-se na frente da sala de aula ou na extremidade de uma fileira pela qual você possa passar. Alguns alunos terão uma necessidade constante de mexer os braços ou balançar as pernas. Uma boa sugestão, às vezes, é deixá-los ficar manuseando uma bola de estresse ou um pedaço de tecido. Isso pode ajudar na concentração e evita que fiquem batucando com o lápis na carteira, o que incomoda os outros. Trabalhar com computadores pode ser muito gratificante para os alunos com Tdah e eles costumam gostar de tarefas que utilizam computador. Eles são capazes de organizar melhor o trabalho escrito, pois os parágrafos podem ser movidos e as palavras ajustadas sem tornar a apresentação bagunçada. PARASITOSE E APRENDIZAGEM A presença desses parasitas no organismo pode afetar a saúde de diversas formas, incluindo dificuldades de aprendizagem. Isso ocorre porque a presença desses organismos pode levar a sintomas como dor abdominal, diarreia, fadiga e anemia, que podem prejudicar o rendimento escolar e a capacidade de concentração das crianças. Além disso, algumas parasitoses, como a neurocisticercose (infecção pelo cisticerco, uma larva de Taenia solium, no cérebro), podem causar danos neurológicos permanentes e afetar significativamente a aprendizagem e o desenvolvimento cognitivo. ABORDAR A INFLUÊNCIA SOCIOECONÔMICA E CULTURAL COM A PREVALÊNCIA DAS ENTEROPARASITOSES As infecções parasitárias são consideradas um dos maiores problemas do mundo em saúde pública, principalmente em países em desenvolvimento. A ausência ou insuficiência de saneamento básico, de higiene pessoal e doméstica são consideradas as principais causas da transmissão dos parasitas intestinais. Os parasitas se adaptam muito bem em hospedeiros expostos a condições de saneamento básico precárias, baixo grau de escolaridade e hábitos de higiene inadequados. As doenças parasitárias são consequências e causas do subdesenvolvimento, acompanhadas do analfabetismo, alienação do povo e corrupção. As condições de vida precária, higiene inadequada, más condições no abastecimento de água, entre outros,são fatores determinantes para transmissão de parasitas e desenvolvimento da doença. Quanto ao saneamento básico, um estudo realizado no Ceará mostrou que somente 38% das moradias consumiam água tratada, e dos 383 indivíduos avaliados, 233 apresentavam resultado positivo para o exame parasitológico de fezes. Em países em desenvolvimento, aproximadamente um terço da população das cidades vive em condições ambientais propícias à disseminação de infecções parasitárias, atingindo índices de 90%, com significativo aumento, à medida que diminui o nível sócio econômico. Embora apresentem baixas taxas de mortalidade, estas doenças continuam representando problema de saúde pública, ao considerar-se o grande número de indivíduos envolvidos, causando com isso, várias alterações orgânicas que podem influenciar no estado nutricional do indivíduo. No Brasil, os problemas envolvendo as enteroparasitoses adquirem uma grande proporção sob o ponto de vista sanitário: aglomerações urbanas, condições socioeconômicas, falta de saneamento básico, educação sanitária e cultural. A prevalência das enteroparasitoses (parasitas que vivem no intestino) está intimamente ligada a fatores socioeconômicos e culturais. Em geral, essas doenças são mais comuns em países ou regiões com baixo nível socioeconômico, falta de acesso a saneamento básico e educação precária em saúde. A falta de acesso a água potável e a saneamento básico adequado pode levar à contaminação de alimentos e água por parasitas. Além disso, a falta de educação em saúde pode levar a práticas inadequadas de higiene pessoal e alimentar, aumentando o risco de infecção. Outro fator importante é a cultura local. Em algumas comunidades, pode haver práticas alimentares que aumentam o risco de contaminação por parasitas, como o consumo de alimentos crus ou mal cozidos, ou o compartilhamento de utensílios de cozinha e alimentos. Além disso, em algumas culturas, o tratamento de doenças parasitárias pode ser visto como algo desnecessário ou inadequado, o que pode levar a uma falta de busca por tratamento médico. PROBLEMA 6 – FECHAMENTO EXPLANAR O DESENVOLVIMENTO FISIOLÓGICO DA PUBERDADE RELACIONANDO COM A MATURAÇÃO SEXUAL (TANNER) E OS ASPECTOS EMOCIONAIS (IMAGEM CORPORAL, HORMONAL) DESENVOLVIMENTO FÍSICO E SOCIAL DO ADOLESCENTE – NELSON As mudanças fisiológicas impulsionadas pelos hormônios e o desenvolvimento neurológico em curso ocorrem em conjunto com as estruturas sociais que promovem a transição desde a infância até a idade adulta. Este período do desenvolvimento compreende a adolescência, que é dividida em três fases — adolescência inicial, média e final — cada uma marcada por um conjunto característico de marcos biológicos, cognitivos e psicossociais. DESENVOLVIMENTO FÍSICO Puberdade é a transição biológica da infância para a idade adulta, em que ocorrem transformações que incluem o aparecimento de características sexuais secundárias, aumento em altura, mudança na composição corporal e desenvolvimento da capacidade reprodutiva. A maturação do gerador em pulso do hormônio liberador de gonadotrofina está entre as primeiras alterações neuroendócrinas associadas ao início da puberdade, sob a influência do hormônio liberador de gonadotrofina. Ele estimula a glândula hipófise a secretar o hormônio luteinizante e o hormônio folículo-estimulante (inicialmente em forma pulsátil) principalmente durante o sono, mas essa variação diurna diminui ao longo da puberdade. O LH e o FSH estimulam aumentos correspondentes de andrógenos e estrógenos gonadais. Os gatilhos para essas alterações ainda não são compreendidos, mas podem envolver o hormônio leptina, cujas concentrações estão associadas ao aumento da gordura corporal e ao início precoce da puberdade. DESENVOLVIMENTO SEXUAL A progressão do desenvolvimento das características sexuais secundárias pode ser descrita usando a escala de Tanner. A faixa de progresso normal da maturação sexual é ampla e afetada pela genética, pelo ambiente psicossocial, pela nutrição, pelo ambiente e pelo estado geral de saúde. No sexo masculino, o primeiro sinal visível da puberdade e marco do estádio 2 é o aumento testicular, que se inicia por volta dos 9,5 anos, seguido pelo desenvolvimento dos pelos pubianos. No estádio 3, ocorre o aumento do comprimento do pênis. O pico de crescimento estatural ocorre quando o volume testicular alcança 9 a 10 cm³ durante o estádio 4. Sob a influência do hormônio luteinizante e da testosterona ocorrem aumentos dos túbulos seminíferos, do epidídimo, das vesículas seminais e da próstata. O esperma pode ser encontrado na urina no Estádio 3; emissões noturnas podem também ser observadas neste momento. Algum grau de crescimento do tecido da mama, tipicamente bilateral, ocorre em 40-65% dos meninos durante os Estádios 2-3, como consequência de um excesso relativo de estimulação estrogênica. Isto geralmente desaparece ao longo do processo da maturação. No sexo feminino, o primeiro sinal visível é o aparecimento dos brotos mamários (telarca) no estádio 2 entre 8 a 12 anos de idade, sendo que uma minoria significativa de meninas desenvolve os pelos pubianos (pubarca) antes da telarca. Mudanças menos visíveis incluem o aumento dos ovários, do útero, dos lábios vulvares e do clitóris e o espessamento do endométrio e da mucosa vaginal. Um corrimento vaginal transparente pode estar presente antes da menarca (leucorreia fisiológica). A menstruação tipicamente começa 2,5 anos após o início da puberdade, durante os Estádios 3-4. O momento da menarca é determinado em grande parte pela genética, mas provavelmente também pelos seguintes fatores: adiposidade, doenças crônicas, estado nutricional e ambiente psicossocial. Os ciclos menstruais iniciais são anovulatórios e, portanto, um tanto irregulares, mas normalmente ocorrem a cada 21-45 dias e incluem de 3-7 dias de sangramento. CRESCIMENTO SOMÁTICO No sexo feminino, o pico de velocidade crescimento ocorre nos estádios 2-3, aproximadamente 6 meses antes da menarca. No sexo masculino, normalmente o pico de velocidade crescimento ocorre mais tardiamente, ocorrendo posterior no curso da puberdade e continuam mais 2 a 3 anos depois que as meninas pararem seu crescimento. O surto de crescimento se inicia distalmente, com aumento das mãos e dos pés, seguido pelos braços e pernas e, finalmente, o tronco e o tórax. Este padrão de crescimento confere uma aparência característica “desajeitada” para alguns adolescentes iniciais. No sexo masculino observa-se um aumento da massa corporal, enquanto no sexo feminino nota-se adolescentes com maior proporção de gordura corporal. O crescimento ósseo precede aumentos na mineralização e na densidade óssea, o que pode aumentar o risco de fratura em adolescentes durante a fase de crescimento rápido. Dado que o crescimento esquelético precede o crescimento muscular, entorses e luxações também podem ser mais comuns durante este período. Alterações cardiovasculares na adolescência média incluem o aumento do tamanho do coração, elevação da pressão arterial e aumento do volume sanguíneo e do hematócrito, particularmente no sexo masculino. Juntamente com o aumento da capacidade vital pulmonar, estas alterações levam a uma maior capacidade aeróbica. A estimulação androgênica de glândulas sebáceas e apócrinas pode resultar em acne e odor corporal. O rápido aumento da laringe, faringe e pulmões no sexo masculino provoca LAVÍNIA ARAÚJO @laviarauj mudanças na qualidade da voz, geralmente precedida por instabilidade vocal (voz rachada). O alongamento do globo óptico muitas vezes resulta em miopia. Entre as alterações dentárias incluem o crescimento da mandíbula, perda dos dentes decíduos finais e erupção dos permanentes cúspides, pré-molares e, finalmente, os molares, podendo ser necessário o uso de aparelhos ortodônticos, devido à exacerbação do crescimento dos distúrbios de mordida.Alterações fisiológicas nos padrões de sono e necessidades de sono aumentadas ocorrem, causando atraso para o início do sono à noite em muitos adolescentes, com subsequente dificuldade de acordar cedo pela manhã para o horário escolar. DESENVOLVIMENTO NEUROLÓGICO, COGNITIVO E MORAL À medida que as crianças progridem ao longo da adolescência, elas desenvolvem e refinam sua capacidade em usar os processos formais e operacionais de pensamento. O pensamento abstrato, simbólico e hipotético substitui a necessidade de manipular objetos concretos. Os adolescentes na fase média e final desenvolvem a capacidade de considerar opções múltiplas e de avaliar, no longo prazo, as consequências de seus atos. A neuromaturação continua até a terceira década. Esta maturação é caracterizada pela diminuição da matéria cinzenta, aumento da matéria branca e pelo aparente aumento na eficiência da comunicação e conectividade entre as diferentes regiões do cérebro. Estas alterações são primeiro observadas no córtex posterior (regiões sensorial e motora) e progridem anteriormente. Os lóbulos frontais estão entre as últimas áreas do cérebro a amadurecer, incluindo o córtex pré-frontal, região do cérebro associada à função executiva: coordenação dos processos cognitivos complexos, incluindo o controle de impulsos, memória de trabalho, consideração de múltiplas opções e suas possíveis consequências, e avaliação de risco e recompensa, entre outros. Os correlatos comportamentais destas alterações anatômicas são especulativos; os comportamentos dos adolescentes podem ser, em parte, biologicamente determinados e refletir uma relativa imaturidade do córtex pré-frontal e sua comunicação com outras regiões do cérebro. A maturação precoce da amígdala e de outras estruturas límbicas, que estão envolvidas na experiência de medo e emoção, em relação aos sistemas de função executiva frontal, que facilitam a regulação e interpretação destas experiências emocionais, poderia explicar porque os adolescentes são mais propensos a tomar decisões ruins em situações altamente carregadas de emoção, em comparação aos adultos maduros. A adolescência inicial também é caracterizada pelo egocentrismo, a crença de que eles são o centro de atenção de todos. Apesar de ser em grande parte imaginário, esta percepção de estar sempre “no palco” pode ser estressante para o adolescente, que pode sentir que os outros o estão constantemente julgando ou avaliando. Os adolescentes iniciais expressam uma maior necessidade de privacidade do que tinham na infância, e começam a apreciar a privacidade de seus próprios pensamentos. Com o desenvolvimento cognitivo em curso, os adolescentes médios são mais capazes de considerar as necessidades e os sentimentos de outras pessoas. DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL Enquanto que o desenvolvimento cognitivo é mais determinado biologicamente, o desenvolvimento psicossocial está sujeito a uma maior influência ambiental e cultural. Um tema primordial do desenvolvimento psicossocial é o conceito de formação e consolidação de identidade, conforme o adolescente afasta-se da proteção afetiva da família, desenvolve um aumento na filiação com seus pares e, finalmente, define a si mesmo como um indivíduo. Separar-se dos pais é um marco do desenvolvimento do adolescente. Os adolescentes iniciais começam a procurar mais privacidade em casa, ficando menos tempo com os pais. Começam a rejeitar os conselhos e envolvimento dos pais na sua tomada de decisão, ao explorarem os limites de sua dependência e independência destes. Com a evolução das capacidades cognitivas, o adolescente tem a capacidade de conceber pais ideais, e contrasta este ideal com seus próprios pais. Grupos de pares podem surgir de atividades organizadas, como esportes ou clubes, ou podem simplesmente ser baseados na amizade. A participação em gangues é outra forma de aceitação pelos pares. A conformidade com os pares na maneira de se vestir, falar e se comportar é uma parte normal deste processo e não deve ser necessariamente vista de forma negativa. Da mesma forma, a pressão dos pares pode existir, mas essa influência sobre a tomada de decisão do adolescente pode ser positiva, negativa ou negligenciável. A imagem do corpo pode afetar (e ser afetada) também pelo desenvolvimento psicossocial do adolescente. A adolescência inicial e média são, geralmente, as idades nas quais se desenvolvem a imagem do corpo ruim e distorcida e os distúrbios de alimentação. Os adolescentes iniciais sofrem alterações físicas rápidas e podem experimentar incertezas se todas alterações anatômicas e fisiológicas estão progredindo normalmente. À medida que a puberdade chega ao final e estas alterações diminuem, a preocupação dos adolescentes médios pode mudar para a dúvida se ele é atraente para os outros. O momento das mudanças da puberdade também pode afetar o desenvolvimento psicossocial e o bem-estar. A progressão das mudanças da puberdade no sexo masculino está associada, geralmente, a uma autoimagem positiva. No sexo feminino, inicialmente, essas mudanças na aparência física podem ser percebidas de forma mais negativa. Os adolescentes de maturação precoce tendem a ter maior autoconfiança, sucesso social e acadêmico, enquanto que os adolescentes de maturação tardia apresentam maior risco de comportamentos mais internalizados e diminuição da autoestima. PUBERDADE NORMAL – SBP A partir dos 6 meses de idade há uma redução significativa dos níveis de hormônio luteinizante (LH) e hormônio folículo-estimulante (FSH), que permanecem baixos até o início da puberdade. Em dado momento, os fatores chamados permissivos (neuropeptídios, leptina, insulina, IGF-1 e estímulos oriundos de centros cerebrais superiores) atuam sobre o sistema HHO, provocando aumento da frequência e amplitude da produção de hormônio liberador das gonadotrofinas (GnRH) pelos neurônios hipotalâmicos que, via sistema porta hipofisário, ativam receptores específicos localizados na adenoipófise, desencadeando aumento da produção de gonadotrofinas (FSH e LH). A liberação de FSH e LH estimula ovários e testículos a produzirem os esteroides sexuais que induzirão todo o processo de modificações corporais, capacitando o organismo para as funções reprodutivas. A produção de androgênios pelas glândulas adrenais, controlada pelo ACTH, é anterior à produção de esteroides gonadais, ocorrendo entre 6 e 8 anos de idade (adrenarca). É responsável por modificações no odor das secreções, aumento da oleosidade da pele e aparecimento e manutenção da pilificação axilar e púbica durante a puberdade. ESTADIAMENTO DE TANNER – SBP, NELSON E MARCONDES DESENVOLVIMENTO MAMÁRIO – SEXO FEMININO M1: mama infantil, com elevação apenas da papila M2: broto mamário; forma-se a elevação da aréola e da papila, com aumento do diâmetro da aréola e modificação da textura; início do estirão puberal em sua fase de aceleração M3: maior aumento da mama e da aréola, sem separação dos seus contornos; o tecido mamário extrapola os limites da aréola; atinge o máximo da velocidade do crescimento M4: maior crescimento da mama e da aréola, formando uma segunda saliência acima do contorno da mama; menarca; desaceleração do crescimento. M5: mama em aspecto adulto DESENVOLVIMENTO GENITAL – SEXO MASCULINO G1: testículos, escroto e pênis de tamanhos infantis G2: aumento inicial do volume testicular (3 a 4 mL); pele do escroto muda de textura e torna-se avermelhada; pequeno ou ausente aumento do pênis; crescimento estável G3: crescimento do pênis em comprimento; maior aumento dos testículos e escroto; aceleração do crescimento G4: aumento do pênis, principalmente em diâmetro e desenvolvimento da glande; maior crescimento dos testículos e escroto, com pele mais enrugada e pigmentada; pico de velocidade de crescimento G5: desenvolvimento completo da genitália; desaceleração do crescimento DESENVOLVIMENTO DE PELOS – SEXOS FEMININOSE MASCULINO P1: ausência de pelos pubianos; pode haver uma leve penugem como da parede abdominal P2: maior quantidade de pelos longos e finos, levemente pigmentos, lisos ou pouco encaracolados, ao longo dos grandes lábios e na base do pênis P3: maior quantidade de pelos, agora mais grossos, escuros e encaracolados, espalhando-se pela região pubiana P4: pelos do tipo do adulto, cobrindo mais densamente a região pubiana, mas sem atingir a face interna das coxas P5: pilosidade pubiana igual ao do adulto, em quantidade e distribuição, atingindo a região interna das coxas EXPLICAR ACERCA DOS PRINCIPAIS DISTÚRBIOS ALIMENTARES NA ADOLESCÊNCIA (ANOREXIA, BULIMIA, OBESIDADE) IMAGEM CORPORAL EM ADOLESCENTES – SCHERER, ET AL, 2010 A imagem corporal (IC) pode ser definida como a formação multidimensional que envolve a percepção corporal, o desenho que uma pessoa tem em sua mente em relação ao tamanho, imagem e formas corporais, juntamente com os sentimentos que ela possui em relação a isso. Antigamente, o modelo de beleza exaltado era caracterizado por um corpo feminino obeso. Porém, nos últimos anos, a figura humana ideal passou a ser um corpo magro, esguio e atlético. Entretanto, esse padrão de beleza desconsidera os aspectos de saúde e as diferentes constituições físicas da população, acarretando, muitas vezes, uma IC negativa, indicada por altos níveis de insatisfação com o corpo. A insatisfação com a IC tem sido identificada como o principal precursor de transtornos alimentares (TA), como a anorexia e a bulimia. O número de casos desses transtornos na adolescência tem aumentado nos últimos anos, ocorrendo em idades cada vez mais precoces, tornando-se um sério problema de saúde pública. Outro fator que pode estar associado a insatisfação com a IC em adolescentes e a ocorrência da menarca, uma vez que ela provoca aumento nos depósitos de gordura corporal. IMAGEM CORPORAL NOS TRANSTORNOS ALIMENTARES – SAIKALI, 2004 Thompson associa o conceito de imagem corporal envolvendo três componentes: 1. Perceptivo: relaciona-se com precisão da percepção da própria aparência física, envolvendo uma estimativa do tamanho corporal e do peso 2. Subjetivo: envolve aspectos como satisfação com a aparência (nível de preocupação e ansiedade a ela associada) 3. Comportamental: focaliza situações evitadas pelo indivíduo por experimentar desconforto associado à aparência corporal DISTORÇÃO DA IC NA ANOREXIA E BULIMIA NERVOSAS Mais alarmante do que a má nutrição em si na anorexia nervosa é sua associação com a distorção da imagem corporal que, entre outros fatores, apresenta-se como uma ausência de preocupação com a magreza, mesmo quando esta já está em um estágio bem avançado. Nesta distorção, incluem-se os seguintes distúrbios: da consciência cognitiva do próprio corpo, consciência das sensações corporais, senso de controle sobre as funções corporais e razões afetivas para a realidade da configuração corporal. Distorções cognitivas relacionadas à avaliação do corpo, comuns em indivíduos com transtornos alimentares, incluem: pensamento dicotômico – o indivíduo pensa em extremos com relação à sua aparência ou é muito crítico em relação a ela; comparação injusta – quando o indivíduo compara sua aparência com padrões extremos; atenção seletiva – focaliza um aspecto da aparência e erro cognitivo, o indivíduo acredita que os outros pensam como ele em relação à sua aparência. TRANSTORNOS ALIMENTARES E DISTORÇÃO DA IMAGEM CORPORAL – SBP Na sociedade atual, na qual se cultuam corpos delgados e esculpidos com destaque aos músculos, as pessoas cujas silhuetas não correspondem a esse ideal podem apresentar conflitos com a autoimagem. Dentre esses emergem os transtornos alimentares (TA), reconhecidos como doenças complexas, com graves consequências psicossociais e físicas, afetando milhões de indivíduos ao redor do mundo. Nos países ocidentais desenvolvidos, o desejo do corpo “perfeito” se tornou obsessivo, sendo fator de risco para TA. Mídias multiplicam dietas ou exercícios para trabalhar grupos musculares, e as celebridades exibem corpos com padrões inatingíveis naturalmente. Tais mensagens se tornam alvo de intenso desejo para adolescentes, que também postam fotos nas redes sociais, em busca de aprovação. Assim, os transtornos alimentares podem iniciar-se por prescrições inadequadas ou tentativas de se adequar aos padrões a qualquer custo. PATOGENIA Os vários textos consultados sobre os TA indicam não haver consenso sobre a exata etiologia, e inúmeras pesquisas se encontram em andamento. Entretanto, pode-se afiançar que se relacionam a uma combinação de fatores: psicológicos, biológicos, familiares, genéticos, ambientais e sociais. O envolvimento genético se vincula ao fato de que jovens que apresentam familiares de primeiro grau com esses transtornos são 6-10 vezes mais propensas a desenvolver alterações semelhantes. Desordens psiquiátricas são evidenciadas em parentes de pacientes com TA: depressão, transtorno de ansiedade e transtornos obsessivo-compulsivos estão sobrerrepresentados nessas famílias. Entre as próprias pacientes com TA observam-se altas taxas de transtornos de ansiedade, transtornos obsessivo- compulsivos, transtornos dismórficos corporais, transtornos de estresse pós-traumático, transtornos depressivos, desordens de conduta e transtornos de personalidade. Os TA também se associam a desordens do neurodesenvolvimento, por exemplo, o transtorno de compulsão alimentar (binge) associado ao transtorno do déficit de atenção e hiperatividade. Entre as bulímicas, observa-se maior prevalência de uso de drogas lícitas e ilícitas, e o consumo de bebidas alcoólicas por elas é superior ao observado entre anoréxicas do subtipo restritivo. Entre anoréxicas, surge o temor de desenvolver seus caracteres sexuais secundários, em uma tentativa de <controlar= seus corpos a estágios pré-pubertários, ambivalência entre crescer ou retornar à fase anterior, talvez reflexo de um sentimento de não se sentirem tão abandonadas e sós. Algumas atividades artísticas e modalidades esportivas em que a forma esbelta é enfatizada se associam à maior incidência de TA, como bailarinas, ginastas e fisiculturistas. CRITÉRIOS PARA O DIAGNÓSTICO DE ANOREXIA NERVOSA Embora a AN seja caracterizada pela perda do apetite, o apetite existe, mas é restringido de forma punitiva, resultando em sofrimento. São listados 3 critérios essenciais para o diagnóstico da AN: 1. Restrição da ingesta calórica em relação às necessidades: isso leva a um peso corporal significativamente baixo (inferior ao mínimo normal, ou, para adolescentes, menor que o minimamente esperado) 2. Medo intenso de ganhar peso ou de engordar, ou comportamento persistente que interfere no ganho de peso, mesmo estando com peso significativamente baixo 3. Perturbação no modo como o próprio peso ou forma corporal são vivenciados: o peso ou a forma corporal possuem influência negativa na autoavaliação ou uma ausência persistente do reconhecimento da gravidade do baixo peso corporal atual Anteriormente era necessária ao diagnóstico de AN a ausência de ciclos menstruais ou amenorreia (acima de três ciclos), sua remoção contemplou muitas adolescentes que eram anoréxicas, mesmo antes de terem apresentado a menarca. Ressalta-se que algumas adolescentes podem estar com peso abaixo de 15% daquele considerado ideal, em relação à idade e estatura, sem história de perda de peso, apenas não ganhando quantidade suficiente durante a aceleração do crescimento. Há dois subtipos de AN: 1. Restritiva: adolescentes restringem sua ingestão de alimentos com regras restritivas em relação às escolhas dos alimentos e com exercícios físicos de maneira intensa e desproporcional ao que lhe são prescritos 2. de expurgo: utilizam de ingestão compulsiva e/ou expurgação, por meio de vômitos autoinduzidos, laxantes, diuréticos, enemas CRITÉRIOSPARA O DIAGNÓSTICO DE BULIMIA Os sintomas que se associam à bulimia nervosa ainda desencadeiam vergonha e estigmatização em seus portadores, por isso muitos continuam a negá-los, dissimulá-los e minimizá-los. São listados três critérios essenciais para o diagnóstico de bulimia: 1. episódios recorrentes de compulsão alimentar caracterizado por: a. ingestão, em um período determinado de tempo, de uma quantidade de alimento definitivamente maior que a maioria dos indivíduos consumiria no mesmo período em condições semelhantes b. sensação de falta de controle sobre a ingestão durante o episódio c. comportamentos compensatórios inapropriados recorrentes a fim de impedir o ganho de peso, como vômitos induzidos d. uso de laxantes, diuréticos e outros medicamentos e. jejum f. exercício em excesso 2. a compulsão e os comportamentos compensatórios inapropriados ocorrem, em média, no mínimo 1 vez por semana durante 3 meses 3. a autoavaliação é indevidamente influenciada pela forma e pelo peso corporais Anteriormente, os critérios para diagnóstico envolviam os episódios de comportamentos compensatórios no mínimo 2 vezes por semana, em 3 meses. TRATAMENTO Os cuidados são focados, de imediato, nos desequilíbrios hidroeletrolíticos, nas complicações pela desnutrição, recuperação nutricional, equilíbrio de situações psíquicas críticas (depressão, ansiedade, comportamentos suicidas, etc). Pode ser realizado de forma ambulatorial (maioria), formato de hospitalização-dia ou internação, para casos especiais e mais críticos. A reinserção social, escolar e a integração familiar também fazem parte do esquema terapêutico. Equipe de nutrição para restabelecimento de padrões alimentares, reintroduzindo gradativamente três refeições e lanches frequentes ao dia. Um multivitamínico com minerais pode auxiliar na recuperação dos déficits em micronutrientes. PREVENÇÃO – NELSON Dada a complexidade da patogênese dos TAs, é difícil a prevenção. Esforços de prevenção universais para promover regulação do peso saudável e desestimular dietas não saudáveis não têm mostrado efetividade em alunos nos dois anos finais do ensino fundamental. SOBREPESO E OBESIDADE – NELSON A obesidade é um problema de saúde pública pediátrico importante associado ao risco de complicações na infância e aumento da morbidade e mortalidade ao longo da vida adulta. ETIOLOGIA Os seres humanos têm a capacidade de armazenar energia no tecido adiposo, possibilitando um aumento da sobrevida em tempos de fome. Além disso, os seres humanos preferem, de maneira inata, alimentos doces e salgados e rejeitam sabores amargos. Muitos vegetais são amargos. Essas preferências provavelmente refletem adaptações evolutivas para evitar consumir plantas tóxicas. A obesidade resulta de um desequilíbrio da ingestão calórica e do gasto energético. Mesmo o excesso calórico gradual, mas sustentado, resulta em excesso de adiposidade. A adiposidade do indivíduo é resultado de uma interação complexa entre a constituição física geneticamente determinada, o apetite, a ingestão nutricional, a atividade física e o gasto energético. Os fatores ambientais determinam os níveis de alimentos disponíveis, as preferências para tipos de alimentos, níveis de atividade física e preferências para tipos de atividades. IDENTIFICAÇÃO As crianças com sobrepeso e obesas são frequentemente identificadas como parte da rotina de cuidados médicos e a criança e a família podem não estar cientes de que a criança aumentou a adiposidade. Eles podem ficar chateados com o profissional de saúde por ele levantar esta questão e responder com negação ou aparente falta de preocupação. Frequentemente, é necessário começar por ajudar a família a entender a importância do peso saudável para a saúde atual e futura, especialmente porque a intervenção requer considerável esforço pela criança e pela família. ÍNDICE DE MASSA CORPORAL A obesidade ou aumento da adiposidade é definida usando o índice de massa corporal. Durante a infância, os níveis de gordura corporal mudam começando com alta adiposidade durante a infância. Os níveis de gordura corporal diminuem por cerca de 5,5 anos até o período chamado de rebote da adiposidade, quando a gordura corporal está tipicamente no nível mais baixo. A adiposidade, em seguida, aumenta até o início da idade adulta. As crianças > 2 anos de idade com um IMC ≥ percentil 95 atendem ao critério de obesidade e aquelas com um IMC entre os percentis 85 e 95 entram na faixa de sobrepeso. INTERVENÇÃO Há evidências de que algumas intervenções resultam em melhora modesta, mas significativa e sustentada na massa corporal. As mudanças de comportamento associadas à melhora do IMC incluem a ingestão de menores quantidades de bebidas adoçadas com açúcar, consumo de dietas de maior qualidade, aumento do exercício, menos tempo diante da TV e autopesagem. Trabalhar com um nutricionista é muito útil. As refeições devem ser à base de frutas, legumes, grãos integrais, carnes magras, peixes e aves. Os alimentos preparados devem ser escolhidos por o seu valor nutricional, com atenção às calorias e gordura. Os alimentos que fornecem calorias excessivas e baixo valor nutricional devem ser reservados para degustações pouco frequentes. Aumentar a atividade física sem diminuir a ingestão calórica provavelmente não vai resultar na perda de peso. No entanto, pode aumentar o condicionamento físico aeróbico e diminuir a porcentagem de gordura corporal, mesmo sem perda de peso. As ocupações ativas podem substituir atividades mais sedentárias. A American Academy of Pediatrics recomenda que o tempo vendo televisão ou no computador deve ser restrito a não mais do que 2 horas/dia para crianças > 2 anos de idade e que as crianças <2 anos idade não assistam televisão. Assistir televisão é frequentemente associado a comer, e muitos produtos alimentares altamente calóricos são comercializados diretamente para crianças durante programas de televisão voltados para crianças. PREVENÇÃO O National Institutes of Health e os Centers for Disease Control and Prevention recomendam uma variedade de iniciativas para combater o ambiente obesigênico atual, incluindo a promoção do aleitamento materno, acesso a frutas e legumes, comunidades tranquilas e 60 min/dia de atividade para as crianças. A comercialização de alimentos não saudáveis para crianças começou a ser regulamentada. DISCORRER SOBRE AS CAUSAS DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA NA ADOLESCÊNCIA DEPENDÊNCIA QUÍMICA, AMIZADES E DESENVOLVIMENTO HUMANO – DAGNONI E GARCIA, 2014 A dependência química é um tema contemporâneo e relevante devido ao aumento do número de usuários, à diminuição da idade de início de uso e à diversidade de drogas utilizadas nos últimos anos. Ademais, são muitos os impactos deste uso, como, por exemplo, a violência doméstica, acidentes, mortes no trânsito e criminalidade É justamente na adolescência que o jovem se encontra mais vulnerável ao expandir seu círculo de relacionamentos para além dos limites familiares, e neste processo há um grande investimento e esforço a favor da constituição de seu senso de identidade, em busca de autonomia. Na adolescência, os amigos e parceiros são figuras centrais e a satisfação das necessidades neste contexto se torna vital para o bem-estar e funcionamento da relação. Ademais, a satisfação das necessidades fornece uma base para o desenvolvimento da orientação das pessoas, que possibilitará o engajamento em atividades. Pelo convívio com os outros, as pessoas desenvolvem razões para se envolver e manter seus comportamentos. Maior autonomia se traduziria em mais abertura e flexibilidade nas relações e, portanto, os adolescentes podem se colocar em risco caso não consigam traduzir interações comportamentais em representações de amizade mais abertas e flexíveis. A adolescência é uma fase onde o indivíduo se encontra mais vulnerável para assumir