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Julia Dominoni Facchin TXXV Fisiologia do amadurecimento sexual e os ciclos sexuais INTRODUÇÃO Os testículos e os ovários produzem hormônios e gametas e compartilham outras similaridades, porem os gametas masculino e feminino são muito diferentes um do outro. • Ovocitos: maior, imóvel e se transportam através da contração da musculatura lisa ou batimento de cílios. • Espermatozoides: menor, extremamente moveis e flagelados. Durante os anos reprodutivos, os ovócitos amadurecem em um padrão cíclico e são liberados dos ovários aproximadamente uma vez por mês. Após os 40 anos de idade, aproximadamente, os ciclos reprodutivos femininos cessam (menopausa). Os homens, por outro lado, produzem espermatozoides continuamente a partir do momento que alcançam a maturidade reprodutiva. A GAMETOGÊNESE Em ambos os sexos, as células germinativas das gônadas embrionárias primeiro sofrem uma série de divisões mitóticas que aumentam o seu número. Após, as células germinativas estão prontas para sofrer meiose, o processo de divisão celular que forma os gametas. No primeiro passo da meiose, o DNA das células germinativas (2n) é replicado até que cada cromossomo seja duplicado (46 cromossomos duplicados 92 cromossomos). A célula, agora chamada de espermatócito primário ou ovócito primário, contém duas vezes a quantidade normal de DNA (4n). Entretanto, a divisão da célula e dos cromossomos não ocorre como na mitose. Em vez disso, cada cromossomo duplicado forma duas cromátides-irmãs idênticas, unidas em uma região conhecida como centrômero. Os gametas primários, então, estão prontos para sofrer divisões meióticas e dar origem às células haploides. Na primeira divisão meiótica, um gameta primário divide- se em dois gametas secundários (espermatócito secundário ou ovócito secundário). Cada gameta secundário recebe uma cópia de cada autossomo duplicado mais um cromossomo sexual (2n). Na segunda divisão meiótica, as cromátides-irmãs separam-se. • Nos homens, as células dividem-se durante a segunda divisão meiótica, originando dois espermatozoides haploides (1n) a partir de cada espermatócito secundário. • Nas mulheres, a segunda divisão meiótica dá origem a um ovócito e a uma pequena célula, chamada de corpúsculo polar. Gônadas embrionárias → células germinativas → mitoses → maior numero → meiose Gametogênese masculina Ao nascimento, os testículos de um menino recém- nascido não progrediram além da mitose e contêm somente células germinativas imaturas. Após o nascimento, as gônadas tornam-se quiescentes (relativamente inativas) até a puberdade, o período nos primeiros anos da adolescência quando as gônadas amadurecem. Na puberdade, a mitose das células germinativas é retomada. Deste ponto em diante, as células germinativas, conhecidas como espermatogônias, possuem dois diferentes destinos. Algumas continuam a sofrer mitose ao longo de toda a vida reprodutiva do homem. Outras são destinadas a iniciar a meiose e dar origem aos espermatócitos primários. Cada espermatócito primário dá origem a quatro espermatozoides. Na primeira divisão meiótica, um Julia Dominoni Facchin TXXV problema 1 Julia Dominoni Facchin TXXV espermatócito primário (4n) divide-se em dois espermatócitos secundários (2n). Na segunda divisão meiótica, cada espermatócito secundário divide-se em duas espermátides. Cada espermátide possui 23 cromossomos simples (não duplicados), o número haploide (1n) característico de um gameta. As espermátides, então, amadurecem, formando espermatozoides. Gametogênese feminina No ovário embrionário, as células germinativas são chamadas de ovogônias. A ovogônia completa a mitose e o estágio de duplicação do DNA da meiose no quinto mês de desenvolvimento fetal, dando origem aos ovócitos primários (4n). Ao nascimento, cada ovário contém cerca de meio milhão de ovócitos primários. As melhores evidências indicam que, neste momento, a mitose das células germinativas cessa e nenhum ovócito adicional pode ser formado. No ovário, a meiose não é retomada até a puberdade. Se um ovócito primário se desenvolve, ele divide-se em duas células, um grande ovo (ovócito secundário) e um pequeno primeiro corpúsculo polar. Apesar da diferença de tamanho, tanto o ovócito secundário como o corpúsculo polar contêm 23 cromossomos duplicados (2n). O primeiro corpúsculo polar degenera. Se o ovócito secundário é selecionado para a ovulação, a segunda divisão meiótica ocorre imediatamente antes de o ovócito ser liberado do ovário. As cromátides-irmãs separam- -se, mas a meiose é interrompida mais uma vez. A etapa final da meiose, na qual cada cromátide- irmã vai para células separadas, não ocorre se o ovócito não for fertilizado. O ovário libera o ovócito maduro durante um processo chamado de ovulação. Se o ovócito não for fertilizado, a meiose nunca será completada, e o ovócito degenera. Se houver a fertilização por um espermatozoide, o passo final da meiose ocorre. Metade das cromátides-irmãs permanece no ovo fetilizado (zigoto), ao passo que a outra metade é liberada no segundo corpúsculo polar (1n). O segundo corpúsculo polar, assim como o primeiro, degenera. Como resultado da meiose, cada ovócito primário dá origem a somente um ovo. Julia Dominoni Facchin TXXV EIXO HIPOTÁLAMO-HIPOFISE NA REPRODUÇÃO A gametogênese em homens e em mulheres está sob o controle de hormônios provenientes do encéfalo e das células endócrinas das gônadas. Alguns desses hormônios são idênticos em homens e em mulheres, mas outros são diferentes. As vias que regulam a reprodução começam com a secreção de hormônios peptídicos pelo hipotálamo e pela adeno-hipófise. Esses hormônios tróficos controlam a secreção gonadal de hormônios esteroides sexuais, incluindo androgênios, e os chamados hormônios sexuais femininos, estrogênio e progesterona. Esses hormônios sexuais são intimamente relacionados entre si e são provenientes dos mesmos precursores esteroides. Ambos os sexos produzem os três grupos de hormônios, porém os androgênios predominam nos homens, e os estrogênios e a progesterona são predominantes nas mulheres. Homem: a maior parte da testosterona é secretada pelos testículos, mas cerca de 5% vem do córtex da glândula suprarrenal. A testosterona é convertida nos tecidos periféricos no seu derivado mais potente, DHT. Alguns dos efeitos fisiológicos atribuídos à testosterona são, na verdade, resultado da atividade da DHT. Os homens sintetizam alguns estrogênios, mas os efeitos feminilizantes desses compostos, em geral, não são evidentes nos homens. Testículos e ovários possuem a enzima aromatase, que converte androgênios em estrogênios, os hormônios sexuais femininos. Uma pequena quantidade de estrogênio também é formada nos tecidos periféricos. Mulher: o ovário produz estrogênios (especialmente estradiol e estrona) e progestogênios, particularmente progesterona. O ovário e o córtex da glândula suprarrenal produzem pequenas quantidades de androgênios. Vias de controle O controle hormonal da reprodução em ambos os sexos segue o padrão básico hipotálamo-hipófise anterior (adeno-hipófise)-glândula periférica. O hormônio liberador de gonadotrofinas1 (GnRH, do inglês, gonadotropin- -releasing hormone) liberado pelo hipotálamo controla a secreção de duas gonadotrofinas da adeno-hipófise: hormônio folículo -estimulante (FSH, do inglês, follicle-stimulating hormone) e hormônio luteinizante (LH, do inglês, luteinizing hormone). Por sua vez, FSH e LH atuam nas gônadas. O FSH, junto com os hormônios esteroides gonadais, é necessário para iniciar e manter a gametogênese. O LH atua principalmente sobre células endócrinas, estimulando a produção dos hormônios esteroides gonadais. Apesar de o principal controle da função gonadal se originar no encéfalo, as gônadas também influenciam a sua própria função. Ovários e testículos secretamhormônios peptídicos que exercem retroalimentação diretamente sobre a hipófise. As inibinas inibem a secreção do FSH, e os peptídeos relacionados, chamados de ativinas, estimulam a secreção do FSH. As ativinas também promovem a espermatogênese, a maturação do ovócito e o desenvolvimento do sistema nervoso do embrião. Vias de retroalimentação As vias de retroalimentação dos hormônios tróficos seguem os padrões gerais da retroalimentação negativa. Os hormônios gonadais atuam sobre a secreção de GnRH, de FSH e de LH em uma retroalimentação de alça longa. Quando os níveis circulantes dos esteroides gonadais estão baixos, a adeno-hipófise secreta FSH e LH (Fig. 26.6b). Conforme a secreção de esteroides aumenta, a retroalimentações negativa geralmente inibe a liberação das gonadotrofinas. Os androgênios sempre mantêm uma retroalimentação negativa sobre a liberação de gonadotrofinas: quando os níveis de androgênios aumentam, a secreção de FSH e de LH diminui. Entretanto, em um mecanismo incomum, altas concentrações de estrogênios podem exercer retroalimentação negativa ou positiva. Baixos níveis de estrogênio não exercem retroalimentação. Julia Dominoni Facchin TXXV Concentrações moderadas de estrogênio possuem efeito de retroalimentação negativa. Contudo, se os níveis de estrogênio sobem rapidamente até um nível limiar e permanecem altos por pelo menos 36 horas, a retroalimentação muda de negativa para positiva, e a secreção de gonadotrofinas (particularmente LH) é estimulada. O efeito paradoxal do estrogênio sobre a liberação das gonadotrofinas tem um papel importante no ciclo reprodutivo feminino. Liberação pulsátil do GnRH A liberação tônica do GnRH pelo hipotálamo ocorre em pequenos pulsos a cada 1 a 3 horas, tanto nos homens quanto nas mulheres. A região do hipotálamo que contém os corpos celulares dos neurônios GnRH tem sido chamada de gerador do pulso de GnRH, pois aparentemente coordena a secreção pulsátil periódica do GnRH. REPRODUÇÃO MASCULINA Introdução O trato genital masculino é constituído de testículos, genitália interna (glândulas acessórias e ductos) e genitália externa. A genitália externa consiste no pênis e no escroto, uma estrutura em forma de saco que contém os testículos. A uretra atua como uma via comum de passagem para o esperma e a urina, embora isso não ocorra simultaneamente. A uretra está situada ao longo da parte ventral do eixo do pênis e é circundada por uma coluna de tecido esponjoso, chamada de corpo esponjoso. O corpo esponjoso e duas colunas de tecido, denominadas corpos cavernosos, constituem o tecido erétil do pênis. A ponta do pênis é alargada em uma região chamada de glande que, ao nascimento, é coberta por uma camada de pele, chamada de prepúcio. O escroto é um saco externo para dentro do qual os testículos migram durante o desenvolvimento fetal. A sua localização externa à cavidade abdominal é necessária, pois o desenvolvimento normal dos espermatozoides requer uma temperatura de 2 a 3°C inferior à temperatura corporal. As glândulas acessórias masculinas incluem a glândula prostática, as vesículas seminais e as glândulas bulbouretrais (glândula de Cowper). As glândulas bulbouretrais e as vesículas seminais liberam as suas secreções na uretra através de ductos. As glândulas individuais da próstata abrem-se diretamente no lúmen da uretra. Os testículos produzem espermatozoides e hormônios Os testículos possuem uma cápsula externa fibrosa resistente que envolve uma massa de túbulos seminíferos enrolados. Entre os túbulos seminíferos existe um tecido intersticial, onde ficam os vasos sanguíneos e as células intersticiais de Leydig produtoras de testosterona Os túbulos seminíferos deixam os testículos e se unem, formando o epidídimo, um ducto único que forma um cordão firmemente enovelado na superfície da cápsula testicular. O epidídimo origina o vaso deferente, também conhecido como ducto deferente. Esse ducto passa para dentro do abdome, onde finalmente desemboca na uretra, a passagem da bexiga urinária para o meio externo. Túbulos seminíferos → Os túbulos seminíferos são o local de produção de espermatozoides e contêm dois tipos de células: espermatogônias, em diversos estágios de desenvolvimento de espermatozoides e as células de Sertoli, que são células de suporte. O desenvolvimento dos espermatócitos ocorre em colunas, da borda externa do túbulo em direção ao lúmen. Entre cada coluna existe uma única célula de Sertoli que se estende da borda externa até o lúmen do túbulo. Circundando o lado de fora do túbulo existe uma lâmina basal que atua como uma barreira, impedindo que certas moléculas grandes do líquido intersticial entrem no túbulo, mas permitindo que a testosterona entre facilmente As células de Sertoli adjacentes de um túbulo são unidas umas às outras por junções oclusivas que formam uma barreira adicional entre o lúmen do túbulo e o líquido intersticial que fica do lado de fora da lâmina basal. A lâmina basal e as juncões oclusivas criam três compartimentos funcionais: o lúmen tubular, o compartimento basal na face basolateral da célula de Sertoli e o líquido intersticial externo à lâmina basal. Devido às barreiras entre esses compartimentos, o líquido luminal tem uma composição diferente do líquido intersticial, com baixas concentrações de glicose e altas concentrações de Ke de hormônios esteroides. Células de Sertoli → A função das células de Sertoli é regular o desenvolvimento dos espermatozoides. Outro nome das células de Sertoli é células sustentaculares, pois elas dão sustento, ou nutrição, às espermatogônias em desenvolvimento. As células de Sertoli produzem e secretam proteínas que vão desde hormônios, como a inibina e a ativina, a fatores de crescimento, enzimas e a proteína ligadora de androgênios (ABP). A ABP é secretada no lúmen dos túbulos seminíferos, onde se liga à testosterona (FIG. 26.8). A testosterona ligada à proteína é menos lipofílica e não pode se difundir para fora do lúmen tubular. Julia Dominoni Facchin TXXV Células intersticiais → ou células de Leydig, localizadas no tecido intersticial entre os túbulos seminíferos, secretam testosterona. Elas tornam-se ativas inicialmente no feto, quando a testosterona é necessária para determinar o desenvolvimento das características masculinas. Após o nascimento, as células tornam-se inativas. Na puberdade, elas retomam a produção de testosterona. As células intersticiais também convertem parte da testosterona em estradiol. Produção de espermatozoides As espermatogônias, células germinativas que sofrem divisão meiótica para dar origem ao espermatozoide, são encontradas agrupadas próximo à extremidade basal das células de Sertoli, no lado interno da lâmina basal os túbulos seminíferos). Neste compartimento basal, elas sofrem mitose para dar origem a células germinativas adicionais. Algumas espermatogônias permanecem aqui para dar origem a futuras espermatogônias. Outras espermatogônias inciam a meiose e se diferenciam em espermatócitos. À medida que os espermatócitos se diferenciam em espermatozoides, eles movem-se em direção ao lúmen do túbulo seminífero, sendo continuamente circundados pelas células de Sertoli. As junções oclusivas da barreira hematotesticular se rompem e se formam novamente ao redor das células que estão migrando, assegurando que a barreira permaneça intacta. Quando os espermatócitos alcançam a extremidade luminal das células de Sertoli, eles sofrem duas divisões e se tornam espermátides. Julia Dominoni Facchin TXXV As espermátides permanecem inseridas na membrana apical das células de Sertoli enquanto completam a sua transformação em espermatozoides, o que envolve a perda de grande parte do seu citoplasma e o desenvolvimento de uma cauda flagelada. A cromatina nuclear se condensa em uma estrutura densa que preenche grande parte da cabeça,ao passo que uma vesícula semelhante ao lisossomo, chamada de acrossomo, achata-se para formar uma capa que cobre a ponta do núcleo. O acrossomo contém enzimas essenciais à fertilização. As mitocôndrias produzem energia para o movimento do espermatozoide e se concentram na peça intermediária do corpo do espermatozoide, junto com os microtúbulos que se estendem para dentro do flagelo. O resultado é a formação de um gameta pequeno e móvel que tem pouca semelhança com a espermátide que o originou. Os espermatozoides são liberados dentro do lúmen dos túbulos seminíferos, junto ao líquido secretado. A partir daí, estão livres para se mover para fora dos testículos. O processo todo de desenvolvimento – da divisão da espermatogônia até a liberação do espermatozoide – ocorre em cerca de 64 dias. Obs Os espermatozoides recém-liberados a partir das células de Sertoli ainda não estão maduros e são incapazes de nadar. Eles são empurrados para fora do lúmen tubular por outros espermatozoides e pelo fluxo de massa do líquido secretado pelas células de Sertoli. Os espermatozoides completam a sua maturação durante os cerca de 12 dias de transporte no epidídimo, auxiliados por secreções proteicas das células epididimais. Hormônios na espermatogênese O controle hormonal da espermatogênese segue o padrão geral descrito previamente: o hormônio hipotalâmico GnRH promove a liberação de LH e FSH da adeno-hipófise. O FSH e o LH, por sua vez, estimulam o testículo. As gonadotrofinas foram originalmente denominadas por seus efeitos nos ovários, porém os mesmos nomes foram mantidos nos homens. Julia Dominoni Facchin TXXV A liberação do GnRH é pulsátil, com picos a cada 1,5 hora, e a liberação do LH segue o mesmo padrão. Os níveis de FSH não são tão obviamente relacionados à secreção do GnRH, uma vez que a secreção do FSH também é influenciada pela inibina e pela ativina. O FSH tem como alvo as células de Sertoli. Diferentemente dos ovócitos, as células germinativas masculinas não possuem receptores de FSH. Em vez disso, o FSH estimula nas células de Sertoli a síntese de moléculas parácrinas, que são necessárias à mitose das espermatogônias e à espermatogênese. Além disso, o FSH estimula a produção da proteína ligadora de androgênios e da inibina. O alvo principal do LH é a célula intersticial (célula de Leydig), que produz testosterona. Por sua vez, a testosterona faz retroalimentação e inibe a liberação de LH e de GnRH. A testosterona é essencial para a espermatogênese, porém as suas ações parecem ser mediadas pelas células de Sertoli, que possuem receptores de androgênios. Os espermatócitos não possuem receptores de androgênios e não podem responder diretamente à testosterona. Glândulas acessórias e o sêmen O trato genital masculino possui três glândulas acessórias – glândulas bulbouretrais, vesículas seminais e próstata – cuja função primária é secretar diversos líquidos. Quando os espermatozoides saem do ducto deferente durante a ejaculação, eles juntam-se a essas secreções, resultando em uma mistura de líquido e espermatozoides, denominada sêmen. O sêmen fornece um meio líquido para o transporte dos espermatozoides. As glândulas bulbouretrais contribuem com muco para a lubrificação e tampões para neutralizar o meio geralmente ácido da vagina. As vesículas seminais contribuem com prostaglandinas que parecem influenciar a motilidade e o transporte dos espermatozoides tanto no trato genital masculino quanto no feminino. A próstata e as vesículas seminais contribuem com nutrientes para o metabolismo dos espermatozoides. Além de fornecer um meio de transporte para os espermatozoides, as secreções das glândulas acessórias ajudam a proteger o trato genital masculino de patógenos do meio externo que podem subir pela uretra. As secreções lavam fisicamente a uretra e fornecem imunoglobulinas, lisozima e outros compostos com ação antibacteriana. Os androgênios e as características sexuais secundárias As características sexuais primárias são os órgãos sexuais internos e a genitália externa, que distinguem os homens das mulheres. As características sexuais secundárias são outras características que distinguem os homens das mulheres. A forma do corpo do homem é algumas vezes descrita como um triângulo invertido, com ombros largos e quadris estreitos. O corpo da mulher, em geral, tem forma de pera, com quadris largos e ombros estreitos. Os androgênios são responsáveis por traços masculinos típicos, como o crescimento de barba e de pelos corporais, desenvolvimento muscular, espessamento das pregas vocais tornando a voz mais grave e efeitos comportamentais, como o desejo ou impulso sexual, também chamado de libido. Julia Dominoni Facchin TXXV REPRODUÇÃO FEMININA A reprodução feminina é um exemplo de processo fisiológico cíclico, em vez de contínuo. Os ciclos da produção de gametas no ovário e as interações dos hormônios reprodutivos e as vias de retroalimentação são parte de um dos sistemas de controle mais complexos do corpo humano. Introdução A genitália externa feminina é coletivamente conhecida como vulva ou pudendo. Lateralmente, estão os lábios maiores do pudendo, dobras de pele que se originam do mesmo tecido embrionário que o escroto. Medial e internamente aos lábios maiores, estão os lábios menores do pudendo, derivados dos tecidos embrionários que, nos homens, dão origem ao corpo do pênis. O clitóris é uma pequena saliência de tecido sensorial erétil, situado na extremidade anterior da vulva, envolto pelos lábios menores e por uma dobra adicional de tecido equivalente ao prepúcio do pênis. Nas mulheres, a uretra abre-se para o ambiente externo entre o clitóris e a vagina, cavidade que recebe o pênis durante as relações sexuais. Ao nascimento, a abertura externa da vagina está parcialmente fechada por um anel fino de tecido, chamado de hímen, ou “virgindade” Para continuar pelo trato genital feminino, o espermatozoide deve passar pela estreita abertura do colo do útero (ou cérvice uterino), que se projeta ligeiramente para dentro da extremidade superior da vagina. O canal cervical é revestido com glândulas mucosas, cujas secreções criam uma barreira entre a vagina e o útero. O espermatozoide que passa através do canal cervical entra no lúmen do útero, um órgão muscular oco levemente menor que o tamanho de um punho fechado da mulher. O útero é a estrutura onde o ovócito fertilizado se implanta e se desenvolve durante a gestação. Ele é composto por três camadas de tecido: uma fina camada externa de tecido conectivo, uma camada intermédia espessa de músculo liso, denominada miométrio, e uma camada interna, denominada endométrio. Os espermatozoides nadam em direção ascendente e deixam a cavidade do útero pelas aberturas das duas tubas uterina. Suas paredes têm duas camadas de músculo liso, uma longitudinal e uma circular, similar às paredes do intestino. Um epitélio ciliado reveste o interior das tubas. O movimento de líquido criado pelos cílios e ajudado pelas contrações musculares transporta o ovócito ao longo das tubas uterinas até o útero. Se o espermatozoide se movendo para cima na tuba uterina encontra um ovócito, que se move para baixo na tuba uterina, a fertilização pode ocorrer. As extremidades alargadas abertas das tubas uterinas formam projeções digitiformes, chamadas de fímbrias. As fímbrias são mantidas próximas ao ovário adjacente por tecido conectivo, o qual ajuda a assegurar que o ovócito liberado na superfície do ovário será capturado para dentro da tuba e não cairá na cavidade abdominal. O ovário produz ovócitos e hormônios O ovário é uma estrutura elíptica, com cerca de 2 a 4 cm de comprimento. Ele possui uma camada externa de tecido conectivo e uma estrutura de tecido conectivo interior, chamada de estroma. Grande parte do ovário é constituído por um espessocórtex externo preenchido por folículos ovarianos em diversos estágios de desenvolvimento ou de degradação. A pequena medula central contém nervos e vasos sanguíneos. O ovário, assim como os testículos, produz gametas e hormônios., cerca de 7 milhões de ovogônias no ovário embrionário se desenvolvem, formando meio milhão de ovócitos primários. Cada ovócito primário é circundado por uma única camada de precursores das células da granulosa e envolvido por uma lâmina basal, formando um folículo primordial. A maior parte dos folículos primordiais nunca se desenvolverá, degradando-se ao longo dos anos por um processo semelhante à apoptose, chamado de atresia (morte celular regulada hormonalmente). Alguns folículos primordiais se desenvolvem lentamente, originando folículos primários. O ovócito aumenta, e as células da granulosa dividem-se, mas permanecem em uma única camada. Na puberdade, sinais químicos fazem grupos de folículos primários deixarem o seu estado de repouso e entrarem em um período de crescimento ativo que pode levar alguns meses. Conforme os folículos em crescimento aumentam de tamanho, uma camada de células, conhecida como teca, desenvolve-se na parte externa da lâmina basal. Julia Dominoni Facchin TXXV Neste ponto, os folículos são conhecidos como pré- antrais ou folículos secundários. Alguns folículos primários nunca completam a transição para folículos secundários e são perdidos por atresia. Conforme os folículos secundários crescem, as células da granulosa começam a secretar o líquido que se acumula na cavidade central do folículo, denominada antro. O líquido antral contém hormônios e enzimas necessários para a ovulação. Neste ponto, o folículo torna-se um folículo terciário. A partir do pool de folículos terciários iniciais, somente alguns folículos sobrevivem até alcançar os estágios finais de crescimento, e geralmente um único folículo, chamado de folículo dominante, desenvolve-se-á até o momento em que libera seu ovócito Ciclo menstrual As mulheres produzem gametas em ciclos mensais (em média de 28 dias, com variação normal de 24-35 dias). Esses ciclos são comumente denominados ciclos menstruais, uma vez que apresentam um período de 3 a 7 dias de sangramento uterino, conhecido como menstruação. O ciclo menstrual pode ser descrito de acordo com as mudanças que ocorrem nos folículos ovarianos, o ciclo ovariano, ou pelas mudanças que ocorrem no revestimento endometrial do útero, o ciclo uterino. Observe que o ciclo ovariano é dividido em três fases: 1. Fase folicular. A primeira parte do ciclo ovariano, conhecida como fase folicular, é um período de crescimento folicular no ovário. Essa fase é a que tem duração mais variável, de 10 a 21 dias. 2. Ovulação. Quando um ou mais folículos amadurecem, o ovário libera o(s) ovócito(s) durante a ovulação. 3. Fase lútea. A fase do ciclo ovariano que segue a ovulação é conhecida como pós-ovulatória ou fase lútea. O segundo nome tem origem na transformação do folículo rompido em um corpo lúteo, assim denominado devido ao pigmento amarelo e aos depósitos de lipídeos. O corpo lúteo secreta hormônios que continuam a preparação para a gestação. Se a gestação não ocorre, o corpo lúteo para de funcionar após cerca de duas semanas, e o ciclo ovariano é reiniciado. O revestimento endometrial do útero também segue um ciclo – o ciclo uterino – regulado por hormônios ovarianos: 1. Menstruação. O começo da fase folicular no ovário corresponde ao sangramento menstrual do útero. 2. Fase proliferativa. A parte final da fase folicular do ovário corresponde à fase proliferativa no útero, durante a qual o endométrio produz uma nova camada de células em antecipação à gestação. 3. Fase secretora. Após a ovulação, os hormônios liberados pelo corpo lúteo convertem o endométrio espessado em uma estrutura secretora. Assim, a fase lútea do ciclo ovariano corresponde à fase secretora do ciclo uterino. Se não ocorrer gravidez, as camadas superficiais do endométrio secretor são perdidas durante a menstruação, quando o ciclo uterino inicia novamente. Controle hormonal do ciclo menstrual Os ciclos ovariano e uterino estão sob o controle primário de vários hormônios: GnRH do hipotálamo. FSH e LH da adeno-hipófise. Estrogênio, progesterona, inibina e AMH do ovário. Durante a fase folicular do ciclo, o estrogênio é o hormônio esteroide dominante. A ovulação é desencadeada pelo pico de LH e de FSH. Na fase lútea, a progesterona é dominante, embora o estrogênio ainda esteja presente. O AMH aparentemente atua como um regulador para evitar que muitos folículos ovarianos se desenvolvam ao mesmo tempo. Fase folicular inicial O primeiro dia da menstruação é o dia 1 do ciclo. Este ponto foi escolhido como o início do ciclo porque o sangramento menstrual é um sinal físico facilmente observável. Pouco antes do início de cada ciclo, a secreção de gonadotrofinas pela adeno-hipófise aumenta. Sob a influência do FSH, um grupo de folículos ovarianos terciários começa a crescer Conforme os folículos crescem, as suas células da granulosa (sob a influência do FSH) e suas células da teca (sob a influência do LH) começam a produzir hormônios esteroides. As células da granulosa também começam a secretar AMH. Julia Dominoni Facchin TXXV Esse AMH diminui a sensibilidade do folículo ao FSH, o que aparentemente impede o recrutamento de folículos primários adicionais após um grupo ter iniciado o desenvolvimento. As células da teca sintetizam androgênios que se difundem para as células vizinhas da granulosa, onde a aromatase os converte em estrogênios. Gradualmente, os níveis crescentes de estrogênio na circulação têm diversos efeitos. Os estrogênios exercem retroalimentação negativa na secreção de FSH e de LH pela adeno-hipófise, o que impede o desenvolvimento adicional de folículos no mesmo ciclo. Ao mesmo tempo, o estrogênio estimula a produção de mais estrogênio pelas células da granulosa. Esta alça de retroalimentação positiva permite que os folículos continuem sua produção de estrogênio mesmo que os níveis de FSH e de LH diminuam. No útero, a menstruação termina durante a fase folicular inicial. Sob a influência do estrogênio proveniente dos folículos que estão se desenvolvendo, o endométrio começa a crescer, ou proliferar. Este período é caracterizado por aumento no número de células e aumento do suprimento sanguíneo para levar nutrientes e oxigênio para o endométrio espessado. O estrogênio também estimula as glândulas mucosas do colo do útero a produzirem um muco claro e aquoso. Fase folicular tardia Conforme a fase folicular se aproxima do final, a secreção de estrogênio ovariano atinge o seu ponto máximo. Neste ponto do ciclo, somente um folículo ainda está se desenvolvendo. Assim que a fase folicular está completa, as células da granulosa do folículo dominante começam a secretar inibina e progesterona, além do estrogênio. O estrogênio, que até então tinha exercido um efeito de retroalimentação negativa sobre a secreção de GnRH na fase folicular inicial, muda para uma retroalimentação positiva, levando ao pico pré-ovulatório de GnRH. Imediatamente antes da ovulação, os níveis persistentemente altos de estrogênio, auxiliados pelos níveis crescentes de progesterona, aumentam a responsividade da adeno-hipófise ao GnRH. Como resultado, a secreção de LH aumenta significativamente, um fenômeno conhecido como pico de LH. O FSH também aumenta, mas em menor grau, presumivelmente por estar sendo suprimido pela inibina e pelo estrogênio. O pico de LH é parte essencial da ovulação, pois ele desencadeia a secreção de inúmeros sinais químicos necessários para os passos finais da maturação do ovócito. A meiose é retomada no folículo em desenvolvimento com a primeira divisão meiótica. Esta etapa divide o ovócito primário em ovócito secundário (2n DNA) e em um primeiro corpúsculo polar(2n), que se degenera. Enquanto essa divisão ocorre, o líquido antral acumula-se, e o folículo cresce, atingindo seu maior tamanho, preparando-se para liberar o ovócito. Os altos níveis de estrogênio na fase folicular tardia preparam o útero para uma possível gestação. Imediatamente antes da ovulação, as glândulas cervicais produzem grandes quantidades de muco fino e filante (elástico) para facilitar a entrada do espermatozoide. Ovulação Cerca de 16 a 24 horas após o pico de LH, a ovulação ocorre. O folículo maduro secreta prostaglandinas e enzimas proteolíticas, como metaloproteinases de matriz (MMPs) que dissolvem o colágeno e outros componentes do tecido conectivo que mantêm as células foliculares unidas. As prostaglandinas podem contribuir para a ruptura da parede folicular em seu ponto mais fraco. O líquido antral jorra do ovário junto com o ovócito, o qual é circundado por duas ou três camadas de células da granulosa. O óvocito é arrastado para dentro da tuba uterina para ser fertilizado ou para morrer. Fase lútea inicial Após a ovulação, as células foliculares da teca migram para o espaço antral, misturando-se com as células da granulosa e preenchendo a cavidade. Ambos os tipos celulares, então, transformam-se em células lúteas do corpo lúteo. Esse processo, conhecido como luteinização, envolve mudanças bioquímicas e morfológicas. As células lúteas recém-formadas acumulam gotículas de lipídeos e grânulos de glicogênio em seu citoplasma e começam a secretar hormônios. Conforme a fase lútea progride, o corpo lúteo produz continuamente quantidades crescentes de progesterona, estrogênio e inibina. A progesterona é o hormônio dominante na fase lútea. A síntese de estrogênio diminui inicialmente e depois aumenta. Entretanto, os níveis de estrogênio nunca atingem o pico observado antes da ovulação. A combinação de estrogênio e progesterona exerce retroalimentação negativa sobre o hipotálamo e a adeno-hipófise. A secreção de gonadotrofinas, adicionalmente inibidas pela produção de inibina lútea, permanece baixa ao longo da maior parte da fase lútea. Sob influência da progesterona, o endométrio continua sua preparação para a gestação e se torna uma estrutura secretora. As glândulas endometriais enrolam-se e crescem vasos sanguíneos adicionais na camada de tecido conectivo. Julia Dominoni Facchin TXXV As células endometriais depositam lipídeos e glicogênio no seu citoplasma. Esses depósitos fornecerão a nutrição para o embrião em desenvolvimento enquanto a placenta, a conexão materno-fetal, está se desenvolvendo. A progesterona também causa o espessamento do muco cervical. O muco mais espesso cria um tampão que bloqueia a abertura do colo uterino, impedindo que bactérias e espermatozoides entrem no útero. Fase lútea tardia e menstruação O corpo lúteo tem uma duração intrínseca de aproximadamente 12 dias. Se a gestação não ocorrer, o corpo lúteo sofre apoptose espontânea. Conforme as células lúteas degeneram, a produção de progesterona e de estrogênio diminui. Essa queda retira o sinal de retroalimentação negativa sobre a hipófise e o hipotálamo, e, assim, a secreção de FSH e de LH aumenta. Os remanescentes do corpo lúteo formam uma estrutura inativa, chamada de corpo albicante. A manutenção de um endométrio secretor depende da presença de progesterona. Quando o corpo lúteo degenera e a produção hormonal diminui, os vasos sanguíneos da camada superficial do endométrio contraem. Sem oxigênio e nutrientes, as células superficiais morrem. Cerca de dois dias após o corpo lúteo parar de funcionar, ou 14 dias após a ovulação, o endométrio começa a descamar a sua camada superficial, e a menstruação inicia. Julia Dominoni Facchin TXXV Hormônios e as características sexuais secundárias femininas O estrogênio controla o desenvolvimento das características sexuais primárias das mulheres, assim como os androgênios as controlam nos homens. Os estrogênios também controlam a mais proeminente característica sexual secundária da mulher: o desenvolvimento das mamas e o padrão de distribuição da gordura corporal (nos quadris e na parte superior das coxas). Entretanto, outras características sexuais secundárias são determinadas por androgênios produzidos no córtex da glândula suprarrenal. O crescimento de pelos pubianos e axilares e a libido (desejo sexual) estão sob o controle dos androgênios da glândula suprarrenal. A puberdade marca o início do período reprodutivo Nas mulheres, o início da puberdade é marcado pelo crescimento das mamas e pela primeira menstruação, conhecida como menarca, um momento com significado ritual em muitas culturas. Nos Estados Unidos, a idade média da menarca é 12 anos (a faixa considerada normal é entre 8-13 anos). Nos meninos, o início da puberdade é mais sutil. Os sinais incluem crescimento e maturação da genitália externa; desenvolvimento das características sexuais secundárias, como pelos pubianos e faciais, engrossamento da voz; mudança na forma corporal e aumento da estatura. A idade do início da puberdade masculina varia entre 9 e 14 anos. A puberdade requer a maturação das vias de controle hipotálamo-hipófise. Antes da puberdade, a criança apresenta baixos níveis de hormônios esteroides sexuais e de gonadotrofinas. Como os baixos níveis de hormônios sexuais normalmente aumentam a liberação das gonadotrofinas, a combinação de baixos níveis de esteroides e de gonadotrofinas indica que o hipotálamo e a hipófise ainda não estão sensíveis aos níveis de esteroides no sangue. Na puberdade, os neurônios hipotalâmicos secretores de GnRH aumentam a sua secreção pulsátil de GnRH, o que, por sua vez, aumenta a liberação de gonadotrofinas. O hormônio do tecido adiposo leptina (p. 694) também contribui para o início da puberdade. Em mulheres desnutridas com pouco tecido adiposo e níveis baixos de leptina, frequentemente existe interrupção da menstruação (amenorreia), e camundongos nocaute* para leptina são inférteis. CONTRACEPTIVOS Medicamento, tratamento ou técnica que, por impedir a fecundação, evita ou impossibilita uma gravidez. As práticas contraceptivas podem ser incluídas em diversos grupos. A abstinência, a abstenção total de relações sexuais, é o método mais seguro de evitar a gestação (e as doenças sexualmente transmissíveis). Alguns casais praticam a abstinência somente durante os períodos em que a fertilidade está aumentada, calculados pela utilização de métodos de controle de natalidade baseados na conscientização da fertilidade. A esterilização é o método contraceptivo mais eficaz para pessoas sexualmente ativas, porém é um procedimento cirúrgico e não é facilmente revertido. A esterilização feminina é chamada de ligação tubária. Ela consiste na ligação e secção das tubas uterinas. Uma mulher com uma ligação tubária ainda ovula, mas os ovócitos permanecem no abdome. A esterilização masculina é a vasectomia, em que os ductos deferentes são ligados e seccionados ou clampeados. Os espermatozoides ainda são produzidos nos túbulos seminíferos, mas, como não podem sair do trato genital, são reabsorvidos. Os métodos de intervenção da contracepção incluem: (1) métodos de barreira, que impedem a união do espermatozoide com o ovócito; (2) métodos que impedem a implantação do ovócito fertilizado; e (3) tratamentos hormonais que diminuem ou interrompem a produção de gametas. A eficácia da intervenção contraceptiva depende em parte de quão constante e corretamente ela é usada. Julia Dominoni Facchin TXXV 1. Métodos de barreira Após ter sido feita a associação entre a gestação e o esperma, foram inventadas diversas barreiras físicas e espermicidas para matar os espermatozoides. Um papiro do Egito antigo, com a primeira referência conhecida ao controle de natalidade, descreve o uso de uma barreira vaginal feita com folhas, penas, figos e alume, misturados com estercode crocodilo e de elefante. • Diafragma: membrana de borracha em forma de cúpula e uma versão menor, denominada capuz cervical, são geralmente preenchidos com creme espermicida e depois inseridos no topo da vagina para cobrir o colo do útero. • Esponja contraceptiva: é basicamente um pedaço de espuma em forma de disco pequeno com uma cavidade e uma alça que começa a funcionar depois de colocada no colo uterino. É feita de poliuretano e libera espermicida o tempo todo. (diário) • Preservativos: masculino - uma capa que se encaixa sobre o pênis e coleta o sêmen ejaculado. Entretanto, preservativos de látex podem causar reações alérgicas, e existem evidências de que o HIV pode passar através dos poros de alguns preservativos que são hoje produzidos. Uma versão feminina do preservativo também está disponível comercialmente. Ela recobre o colo do útero e reveste completamente a vagina, fornecendo mais proteção contra as doenças sexualmente transmissíveis. (unitário) 2. Prevenção da implantação Alguns métodos contraceptivos não impedem a fertilização, mas impedem que o ovócito fertilizado se implante no endométrio. Eles incluem tanto os dispositivos intrauterinos (DIUs) quanto o uso de compostos químicos que mudam as propriedades do endométrio. • DIU Hormonal: O DIU Hormonal (SIU) atua por meio da liberação contínua de uma dose baixa de progesterona no útero. Ele torna espesso o muco do colo uterino, o que dificulta a motilidade do esperma para alcançar o óvulo, e também afina a parede do útero. (5 anos) • O DIU de Cobre libera íons de cobre que imobilizam o esperma e dificultam bastante a sua motilidade em torno do útero, mas não impedem os ovários de liberarem um óvulo por mês. (5-10 anos) Tratamentos hormonais Técnicas que diminuem a produção de gametas dependem da alteração do ambiente hormonal do corpo. • Contraceptivos orais: também chamados de pílulas de controle da natalidade, tornaram-se disponíveis pela primeira vez em 1960. Eles baseiam-se em várias combinações de estrogênio e progesterona, que inibem a secreção de gonadotrofinas pela hipófise. Sem níveis adequados de FSH e de LH, a ovulação é suprimida, a progesterona presente nas pílulas contraceptivas torna o muco cervical espesso e ajuda a impedir a penetração dos espermatozoides. (mensal) Obs: O desenvolvimento de um contraceptivo hormonal masculino tem sido lento devido aos efeitos colaterais indesejáveis. • Implante anticoncepcional: Quase do mesmo tamanho que um palito, o implante é colocado logo abaixo da pele na parte superior do braço, onde, a partir de um reservatório, libera continuamente na corrente sanguínea o hormônio progesterona em pequenas doses. O hormônio impede os ovários de liberarem óvulos, mas também torna o muco cervical mais espesso, dificultando a motilidade do esperma ao redor do útero e a fertilização dos óvulos. (3 anos) • Contraceptivo adesivo: é simplesmente um material aderente que parece um esparadrapo brilhante para ser fixado na pele, sendo bastante eficaz na prevenção da gravidez, por meio da liberação de hormônios. Julia Dominoni Facchin TXXV Os hormônios estrógeno e progesterona são continuamente liberados, entrando na corrente sanguínea através da pele, onde impedem a liberação de óvulos pelos ovários e também tornam o muco cervical espesso, impossibilitando o esperma de atingir o óvulo. (semanal) • Anel vaginal: É um anel transparente e flexível de polietileno vinil acetato que, depois de inserido na vagina, vai aos poucos liberando os hormônios progesterona e estrogênio no corpo para evitar que os ovários liberem óvulos. Ele também torna o muco cervical espesso, o que impede o esperma de chegar até o óvulo. • O anticoncepcional injetável: injeção que contém hormônios, seja apenas progesterona, seja progesterona e estrógeno juntos, que impedem o corpo de liberar óvulos e tornam espesso o muco no colo uterino. (mensal ou trimestral) • Outras formas de contracepção (mas menos eficazes e/ou perigos): coito interrompido, percepção da fertilidade e contraceptivos de emergência. Indice de pearl Eicácia de um método contraceptivo: é a capacidade desse método de proteger contra a gravidez não desejada e não programada. É expressa pela taxa de falhas própria do método, em um período de tempo, geralmente um ano. O índice mais utilizado é o índice de Pearl, que é assim calculado: Julia Dominoni Facchin TXXV ESTADIAMENTO DE TANNER Puberdade Período de intenso desenvolvimento: • Crescimento esquelético linear (20% da altura final); • Alteração da forma e composição corporal (50% do peso adulto) • Desenvolvimento de órgãos e sistemas; • Desenvolvimento das gônadas e dis caracteres sexuais secundários. Puberdade normal: • Em meninas: Entre 8 e 12 anos – Telarca • Em meninos: Entre 9 e 14 anos – Aumento do volume testicular (4mL) Estadiamento • Estadiamento de Tanner ou estadiamento puberal: criada em 1962, por um médico inglês: J.M. Tanner. • Método visual. • Ferramenta utilizada diariamente durante a descrição do exame físico de crianças e adolescentes. • Descreve a MATURAÇÃO SEXUAL em meninos e meninas. • Padroniza e simplifica a descrição do exame físico. • Pode permitir diagnósticos de patologias como: puberdade precoce, rapidamente progressiva ou retardada. CLASSIFICAÇÃO: Meninas: • Mamas - M1 a M5 • Pêlos - P1 a P5 • Exemplo: M2P3 Meninos • Genitais - G1 a G5 • Pêlos - P1 a P5 • Exemplo: G1P2 Julia Dominoni Facchin TXXV Volume testicular Velocidade de crescimento: VIOLENCIA SEXUAL A violência sexual é fenômeno universal que atinge indistintamente mulheres de todas as classes sociais, etnias, religiões e culturas. Ocorre em populações de diferentes níveis de desenvolvimento econômico e social, em espaços públicos ou privados, e em qualquer etapa da vida da mulher. Segundo Drezett, 2002, apesar de desconhecida a verdadeira incidência dos crimes sexuais, estima-se que afetem 12 milhões de pessoas em todo o mundo. Apenas nos EUA, calcula-se que cerca de 680 mil mulheres são estupradas e que 200 mil crianças são sexualmente abusadas, a cada ano. Todos os estudos consistentes desnudam proporções assustadoras, remetendo o abuso sexual à condição de complexo problema de saúde pública. Considera-se Violência o uso intencional de força física ou do poder, real ou ameaçador, contra si próprio, contra outra pessoa ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação (OMS, 2002). O abuso sexual pode ocorrer com contacto físico (estupro, AVP) ou sem contacto físico (assedio sexual, abuso sexual verbal, exibicionismo, “voyeurismo” e pornografia). Essa forma de violência pode ser intrafamiliar, extrafamiliar ou institucional. O abuso sexual ocorre geralmente dentro de casa, local onde a vítima deveria sentir-se protegida, e o incesto é uma das manifestações mais perversas deste tipo de violência, em especial quando acompanhado de gravidez precoce. A maior concentração de casos ocorre entre sete e 14 anos, mas também pode envolver crianças de cinco anos ou menos. Entre 25 a 50% das sobreviventes da violência sexual são infectadas por uma DST, somando severas conseqüências físicas e emocionais. Ainda que reconheçam todas essas repercussões, cerca de 80% das vítimas de violência sexual refere ter como principal preocupação a possibilidade de se infectar com o HIV (Drezett J, 2002). Definições em termos legais, presentes no Código Penal: ESTUPRO: 7/8/2009 - Lei 12.015 • Art. 213: Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: Pena - reclusão, de 6 a 10 anos. – § 1o Se resultar lesãocorporal de natureza grave ou se a vítima for menor de 18 ou maior de 14 anos: pena de reclusão, de 8 a 12 anos – § 2o Se resultar morte: pena de reclusão, de 12 a 30 anos 3 Julia Dominoni Facchin TXXV • Art. 217-A: Estupro de Vulnerável - é a conjunção carnal ou o ato libidinoso com o menor de 14 anos: Pena de reclusão, de 8 a 15 anos. Responsabilidade do atendimento O atendimento inicial é emergencial, sem regulação ou agendamentos e realizado na Unidade de Emergência (UE) do HCFMRP-USP e o seguimento posterior será realizado no Campus do HCFMRP-USP. Qualquer paciente que chegar à UE menor de 18 anos, independente do sexo, deve ter o Boletim de Ocorrência (BO) realizado, assim como os pacientes maiores de 18 anos que assim o desejarem. A notificação policial do crime sexual é opcional para maiores de 18 anos, porém obrigatória para os menores de idade. Faz parte do acolhimento dessas vítimas a possibilidade do BO ser realizada dentro da UE por Policial Civil que tiver disponibilidade de se dirigir até o referido Hospital ou via fax símile redigido pelo funcionário do Controle de Leitos da UEHCFMRP-USP. Esse documento deve ser encaminhado à Delegacia Policial de Plantão ou à Delegacia de Defesa da Mulher (DDM). Essa prática via fax símile foi legitimada pelo Delegado Seccional de Ribeirão Preto em exercício no ano de 2005. Toda vez que um documento policial registrando um crime sexual é gerado, por lei haverá solicitação de exame pericial pelo Delegado que assinou o BO. Sendo assim, quando o BO chega à UE, via fax símile, também chegará uma requisição do Delegado para o exame do Médico Legista. Graças a um acordo do HCFMRP-USP com o Instituto Médico Legal (IML), o médico legista que estiver de plantão no IML deve dirigir-se até a UE para realizar na vítima o exame pericial solicitado antes das 9:00h e após às 17:00h. Caso a convocação aconteça entre 9 e 17h a vítima de violência deve dirigir-se ao IML para o exame pericial e a coleta de provas contra o agressor. Sabe-se que proporcionar a realização de todo processo legal na UE faz parte do verdadeiro acolhimento à vítima de violência sexual, tentando evitar a revitimização desse paciente que não precisaria assim, repetir sua história de violência em outras instituições além de ser submetido a um único exame num mesmo momento: o clínico e o pericial. O atendimento: unidade de emergência • Contactar assistente social, médico legista e psicologia/psiquiatria. • Verificar se a paciente trouxe o Boletim de Ocorrência Policial (BO), ou não pretende prestar queixa à polícia. • Providenciar BO e requisição para exame do médico legista (Instituto Médico Legal) via controle de leitos do HCFMRP-USP. • Lembrar que para menores de 18 anos o BO é obrigatório, assim como o relatório para o Conselho Tutelar/ Juizado de menores. • História, exame físico e ginecológico minuciosos, anotando na ficha todos os detalhes. • Tratamento médico-cirúrgico necessário. Objetivos Assistenciais • Acolhimento • Registro da história • Exames clínicos e ginecológicos • Coleta de vestígios • Contracepção de emergência - Profilaxias para HIV, infecções sexualmente transmissíveis (IST) e Hepatite B • Notificação compulsória dentro de 24 horas • Exames complementares; sorologias, tipagem sanguínea e betah-HCG • Acompanhamento social e psicológico • Seguimento ambulatorial Julia Dominoni Facchin TXXV Quimioprofilaxias 1. Profilaxia contra a Sífilis/Gonorréia: Ceftriaxona (Rocefin) 0,5g – intramuscular. 2. Profilaxia contra a Hepatite por vírus B: Aplicar no músculo deltóide contra lateral ao utilizado para a vacina, até 14 dias da violência. • Vacina (Engerix-B): intramuscular, utilizando o músculo deltóide; e • Gamaglobulina: Imunoglobulina hiperimune: 0,06 ml/Kg de peso (intramuscular); ou Gamaglobulina hiperimune normal: IM (uma ampola 320 mg/20 kg). • Seguir esquema vacinal: 2ª e 3ª doses (1º e 6º mês respectivamente) 3. Profilaxia contra tétano: quando há contaminação com terra das lesões durante a agressão ou no caso de lesões provocadas por objetos contendo poeira e ou terra, principalmente de solos agriculturados com fezes de animais. Prescrever segundo a situação da vítima. • Imunização Ativa e Passiva • Limpeza e Remoção de Corpos Estranhos Após a remoção de corpos estranhos fazer a limpeza e desinfecção com água oxigenada 10 volumes ou solução de permanganato de potássio 1:5000. No caso de lesão na área genital, aguardar deliberação pelo médico legista para fazer o procedimento acima; nesta eventualidade completar o procedimento com o tratamento local. 4. Profilaxia contra a infecção pelo HIV-1: Antirretrovirais (ARV): se lesões e traumatismos genitais, penetração vaginal e/ou sexo anal ou oral com ejaculação na boca. Deve-se utilizar a associação de inibidores das enzimas Transcriptase Reversa e Protease respectivamente: 1º. AZT + Lamivudina (Biovir ): um comprimido de 12/12 horas com ou sem alimentos 2º. Lopinavir/Ritonavir (Kaletra ): dois comprimidos de 12/12horas com alimentos *Fornecer receita por 7 dias. Essa profilaxia deverá ser realizada até 72 horas da ocorrência. 5. Profilaxia para Chlamydia, Mycoplasma e Ureaplasma: 1,0 g de azitromicina VO. • Colheita de conteúdo vaginal: Colher amostras para identificação de espermatozóides e exame de DNA: presença do médico legista. • Tratamento local (após avaliação ginecológica, se possível com o legista): lavagem com SF 0,9% ou clorehedine. A embrocação vaginal faz parte da primeira proteção contra gravidez e DST/HIV, a profilaxia mecânica. Quando a paciente chegar ao atendimento na UE entre 9 e 17h, período no qual o perito não se desloca do IML, a paciente deve ser examinada pelo plantonista da GO, porém não se faz a lavagem da vagina antes da coleta de provas. Sendo assim, a paciente deve ir até o IML para o exame pericial exigido por lei, e retornar à UE para a embrocação vaginal (tentar transporte através do Serviço Social). Importante salientar que nenhuma paciente deve ser liberada da UE sem exame físico e ginecológico, nem sem a realização de todas as medicações quimioprofiláticas bem com a contracepção de emergência. • Colher amostras sanguíneas para testes bioquímicos de função renal e hepática além de sorologias contra: a) Vírus da imunodeficiência humana b) Vírus da hepatite B (HBsAg, HBeAg, Anti-HBcAg, Anti-HbsAg, e AntiHBeAg) c) Vírus da hepatite C (anti-HCV) d) VDRL 6. Anticoncepção de Emergência (AE) A AE está indicada para todas as mulheres em idade reprodutiva que tenham sofrido violência sexual, através de contato certo ou duvidoso com sêmen, independente do período do ciclo menstrual em que se encontrem. A AE é desnecessária se a mulher estiver usando de forma regular e consistente um método anticonceptivo de elevada eficácia no momento da violência, com DIU, injetável, implante. A AE é segura e a única contraindicação é a gravidez confirmada. A primeira escolha deve ser pelo uso de 1,5 mg de levonorgestrel o mais precocemente possível, dentro dos primeiros 5 dias após o abuso. A pessoa vítima de abuso sexual deve ser orientada quanto ao uso de preservativos nas relações sexuais subseqüentes à violência. Essa profilaxia poderá ser realizada até 100 horas da relação sexual desprotegida (5° dia). Julia Dominoni Facchin TXXV • PROGESTAGÊNIO: 1,5 mg de levonorgestrel em 24 horas. Verificar a posologia de acordo com a apresentação do levonorgestrel: 0,75 mg por cp (usar dois cp dose única VO) ou 1,5 mg por cp. OU • MÉTODO YUSPE: Anticoncepcional oral de alta dosagem (associação de 1mg levonorgestrel + 200mcg de etinilestradiol: Evanor : dois cp de 12/12 horas) Proceder a alta da Unidade de Emergência e encaminhar paciente Sequência do atendimento • Completar preenchimento de ficha específica no primeiro retorno• Exame colpocitológico e colposcópico. • Verificar resultados sorológicos da paciente. • Repetir a coleta de exames bioquímicos (TGO, TGP, bilirrubinas, hemograma, uréia e creatinina) para avaliação da eventual hepatotoxicidade dos ARV em uso pela paciente. • Fornecer receitas de ARV por mais três semanas, de acordo com os resultados sorológicos. • Profilaxia para vaginites: metronidazol, secnidazol ou tinidazol: 2,0 gramas via oral, dose única. • Datar próximas vacinas para Hepatite B: 1oe 6o mês, de acordo com as sorologias. Retornos seqüenciais: - Três e seis meses para seguimento sorológico. • 1° Atendimento Psicológico- haverá um seguimento psicológico no ambulatório, conforme orientação específica do profissional da saúde mental responsável pelo caso durante seis meses. OBSERVAÇÕES 1. Caso na vítima seja detectada sorologia positiva para anti-HIV ou HBsAg suspender as profilaxias com ARV e doses subseqüentes da vacina. Contactar o agressor para atendimento médico. 2. Cuidados recomendados à vítima durante o período de observação para HIV, de pelo menos seis meses iniciais após a violência, mesmo quando na vigência de uso de profilaxia com ARV: • Usar ou solicitar o uso de preservativo em qualquer tipo de relacionamento sexual (anal e/ou vaginal e/ou oral); • Não doar sangue ou qualquer outro material orgânico; • Não amamentar; • Não compartilhar seringas e agulhas. 3. Notificação Compulsória de Violência Sexual e/ou Doméstica Contra pessoas de Qualquer Idade e Qualquer Sexo. Este preenchimento é feito através da ficha de NOTIFICAÇÃO/ INVESTIGAÇÃO Individual de Violência Doméstica, Sexual e OUTRAS VIOLÊNCIAS Segundo as Seguintes Leis do Ministério da Saúde do Brasil: • Lei 10.778/2003: Notificação Compulsória de casos de violência contra mulheres adultas (por extensão a homens adultos). • Lei 10.741/2003 – Artigo 19: Notificação Compulsória de casos de suspeita ou confirmação de violência contra crianças e adolescentes. NOTA: o preenchimento da Ficha de Notificação Compulsória geralmente é feito por quem atende a vítima de agressão. Se necessário ela será complementada no atendimento seqüencial durante as semanas seguintes à agressão pela equipe do SEAVIDAS (Serviço de Atendimento à Violência Doméstica e Agressão Sexual). 4. Gravidez decorrente da violência sexual Entre as consequências da violência sexual, a gravidez se destaca pela complexidade das reações psicológicas, sociais e biológicas que determina. A gestação indesejada ou forçada é encarada como uma segunda violência, intolerável para muitas mulheres. O Código Penal não exige qualquer documento para a prática do abortamento nesse caso, a não ser o consentimento, por escrito, da mulher. A mulher em situação de gravidez decorrente de violência sexual, bem como a adolescente e seus representantes legais, devem ser esclarecidos sobre as alternativas legais quanto ao destino da gestação e sobre as possibilidades de atenção nos serviços de saúde. É direito dessas mulheres e adolescentes serem informadas da possibilidade de interrupção da gravidez, conforme Decreto de Lei 2848, de 7 de dezembro de 1940, artigo 128, inciso II do Código Penal brasileiro. Da mesma forma e com mesma ênfase, devem ser esclarecidas do direito e da possibilidade de manterem a gestação até o seu término, garantindo-se os cuidados pré-natais apropriados para a situação. Nesse caso, também devem receber informações completas e precisas sobre as alternativas após o nascimento, que incluem a escolha entre permanecer com a futura criança e inseri-la na família, ou proceder com os mecanismos legais de doação. Julia Dominoni Facchin TXXV Nessa última hipótese, os serviços de saúde devem providenciar as medidas necessárias junto às autoridades que compõem a rede de atendimento para garantir o processo regular de adoção. Determinar a idade gestacional é importante para a escolha do método do abortamento e para estabelecer a concordância entre a idade gestacional e o período da violência sexual. Além disso, o exame clínico e a ultrassonografia são necessários para afastar a ocorrência de gravidez ectópica ou de gestação molar. É garantido ao médico(a) a objeção de consciência e o direito de recusa em realizar o abortamento em casos de gravidez resultante de violência sexual. No entanto, é dever do(a) médico(a) informar à mulher sobre seus direitos e, no caso de objeção de consciência, deve garantir a atenção ao abortamento por outro(a) profissional da instituição ou de outro serviço. • Métodos de interrupção até 12 semanas de idade gestacional - Método de escolha: Aspiração a vácuo intrauterina (AMIU) - Maturação do colo com 400mcg de misoprostol via vaginal 3-4h antes do procedimento - Outros: curetagem, misoprostol (800mcg via vaginal) • Métodos de interrupção entre 12 e 22 semanas de idade gestacional - Método de escolha: abortamento medicamentoso com misoprostol (200mcg via vaginal de 6/6h) seguida de curetagem em caso de abortamento incompleto. • Gestações com mais de 22 semanas Não há indicação para interrupção da gravidez após 22 semanas de idade gestacional. A mulher deve ser informada da impossibilidade de atender a solicitação do abortamento e aconselhada ao acompanhamento pré-natal de alto risco, facilitando-se o acesso aos procedimentos de adoção, se assim o desejar. Julia Dominoni Facchin TXXV O caminho dos gametas e a fecundação MATURAÇÃO E FERTILIZAÇÃO DO ÓVULO Enquanto ainda no ovário, no folículo primário o ovulo se encontra no estagio oocito primário, pouco antes de ser liberado do folículo secundário ele sofre a meiose 1 e se torna oocito secundário e libera o primeiro corpo polar. É nesse momento que o óvulo, ainda no estágio de oócito secundário, é expelido para a cavidade abdominal. Fases: • Saída e transporte do oócito • Inseminação • Ascenção dos espermatozoides • Fecundação Transporte do óvulo Quando ocorre a ovulação, o óvulo, em conjunto com centena ou mais de células anexas da granulosa que constituem a coroa radiada, é expelido diretamente para a cavidade peritoneal e deve, então, entrar em uma das trompas de Falópio (também denominadas tubas uterinas) para chegar à cavidade uterina. As terminações fimbriadas de cada trompa de Falópio repousam naturalmente ao redor dos ovários. As superfícies internas dos tentáculos fimbriados são revestidas de epitélio ciliado, e os cílios são ativados pelo estrogênio ovariano, que faz com que eles batam na direção da abertura, ou óstio, da trompa de Falópio envolvida. Na verdade, é possível ver uma corrente de líquido fluindo lentamente na direção do óstio. Assim, o óvulo entra em uma das trompas de Falópio. O transporte ulterior do óvulo para a ampola ocorre em minutos ou horas, e o fator responsável por isso é a contração da musculatura tubária, cabendo ao aparelho ciliar o papel menor. Inseminação Deposição do sêmen na vagina. Os gametas masculinos assim liberados já alcançaram plena maturidade, são espermatozoides. Ascensão dos espermatozoides pelo aparelho genital feminino Cerca de 300 milhões de espermatozoides são depositados no fundo de saco posterior da vagina, durante o coito, próximo ao orifício externo do útero. Impulsionados por movimentos das próprias caudas, transitam através do canal cervical, embora o percurso pelo útero e pelas tubas se faça principalmente pela contração da musculatura desses órgãos. Espermatozoides podem ser encontrados no muco cervical 90 s depois da ejaculação e no local da fecundação, a ampola tubária, 5 min após a inseminação. Acredita-se que os primeiros espermatozoides a penetrarem na tuba não sejam capazes de fecundar, papel desempenhado por aqueles que, guardados no muco cervical, seriam liberados posteriormente. Em consequência da ação letal da secreção vaginal, ácida, e da insuficiênciados mecanismos de transporte, menos de 200 espermatozoides conseguem chegar às tubas. Fecundação É a fusão dos gametas, células haploides, restabelecendo o número diploide de cromossomos e constituindo o ovo ou zigoto. A fusão de espermatozoide 22 + Y com óvulo, esse sempre 22 + X, resulta em um ovo 44 + XY, cuja evolução natural será a formação de indivíduo masculino. Se o espermatozoide for 22 + X, o zigoto será 44 + XX, e o indivíduo, feminino. Julia Dominoni Facchin TXXV Os principais tempos de fecundação são: • O espermatozoide atravessa a coroa radiada e penetra na zona pelúcida, auxiliado pela ação das enzimas liberadas no acrossoma. Embora diversos espermatozoides possam atravessar a zona pelúcida, em condições normais apenas um atinge o óvulo e o fertiliza. • A cabeça do espermatozoide liga-se à superfície do óvulo; a união da membrana celular é de tal ordem que as duas células ficam conjugadas dentro de envoltório único. • A célula sexual feminina reage ao contato do espermatozoide de duas maneiras: (1) ocorrem alterações na zona pelúcida e na membrana celular que inibem a entrada de outros espermatozoides (liberação de grânulos pelo citoplasma ovular); (2) o oócito II completa a segunda divisão de maturação e expele o segundo corpúsculo polar. O óvulo está, então, maduro, e seu núcleo é conhecido como pronúcleo feminino. • Uma vez no interior do citoplasma ovular, o espermatozoide rapidamente perde a cauda e sua cabeça aumenta de tamanho para formar o pronúcleo masculino. O oócito contendo dois pronúcleos haploides é chamado de oótide. • Os pronúcleos feminino e masculino se aproximam no centro do óvulo, onde ficam em contato, perdem as membranas nucleares e fusionam seus cromossomos, constituindo o ovo. Obs: sexo da criança - Depois da formação do espermatozoide maduro, metade deles carrega em seu genoma o cromossomo X (o cromossomo feminino) e metade carrega o cromossomo Y (o cromossomo masculino). Portanto, se um cromossomo X de um espermatozoide combinar-se com o cromossomo X de um óvulo, gerando a combinação XX, nascerá uma criança do sexo feminino. Se o cromossomo Y do espermatozoide se combinar com o cromossomo X do óvulo, gerando a combinação XY, nascerá uma criança do sexo masculino. O transporte do ovo fertilizado na trompa de falópio Depois de ocorrida a fertilização, normalmente são necessários outros 3 a 5 dias para o transporte do ovo fertilizado pelo restante da trompa de Falópio até a cavidade uterina. Esse transporte é feito, basicamente, pela fraca corrente de líquido na trompa, decorrente da secreção epitelial mais a ação do epitélio ciliado que reveste a trompa; os cílios sempre batem na direção do útero. Contrações fracas da trompa de Falópio também podem ajudar a passagem do ovo. As trompas de Falópio são revestidas de superfície criptoide rugosa, que impede a passagem do óvulo a despeito da corrente de líquido. Além disso, o istmo da trompa de Falópio permanece espasticamente contraído por cerca dos primeiros três dias após a ovulação. Depois desse tempo, a progesterona secretada cada vez mais rapidamente pelo corpo lúteo ovariano primeiro promove mais receptores de progesterona nas células do músculo liso da trompa de Falópio; em seguida, a progesterona ativa os receptores, exercendo um efeito de relaxamento tubular que permite a entrada do ovo no útero. Esse transporte lento do ovo fertilizado pela trompa de Falópio permite a ocorrência de diversos estágios de divisão celular antes que ele — agora denominado blastocisto, com cerca de 100 células — entre no útero. Durante esse tempo, as células secretoras da trompa de Falópio produzem grande quantidade de secreções usadas para nutrir o blastocisto em desenvolvimento. Julia Dominoni Facchin TXXV CLIVAGEM DO ZIGOTO A clivagem consiste em divisões mitóticas repetidas do zigoto, resultando em um aumento rápido do número de células (blastômeros). Essas células embrionárias tornam-se menores a cada divisão. A clivagem ocorre conforme o zigoto passa pela tuba uterina em direção ao útero. Durante a clivagem, o zigoto continua dentro da zona pelúcida. A divisão do zigoto em blastômeros se inicia aproximadamente 30 horas após a fecundação. As divisões subsequentes seguem-se uma após a outra, formando, progressivamente, blastômeros menores. Após o estágio de nove células, os blastômeros mudam sua forma e se agrupam firmemente uns com os outros para formar uma bola compacta de células. Esse fenômeno, a compactação, é provavelmente mediado por glicoproteínas de adesão de superfície celular. A compactação possibilita uma maior interação célula-célula e é um pré-requisito para a separação das células internas que formam o embrioblasto (massa celular interna) do blastocisto. A via de sinalização hippo desempenha um papel essencial na separação do embrioblasto do trofoblasto. Quando existem 12 a 32 blastômeros, o ser humano em desenvolvimento é chamado de mórula. As células internas da mórula são circundadas pelas células trofoblásticas. A mórula se forma aproximadamente 3 dias após a fecundação e chega ao útero Nutrição inicial do embrião A progesterona secretada pelo corpo lúteo ovariano durante a última metade de cada ciclo sexual mensal tem efeito no endométrio uterino, convertendo as células do estroma endometrial em grandes células inchadas contendo quantidades extras de glicogênio, proteínas, lipídios e mesmo de alguns minerais necessários ao desenvolvimento do concepto (o embrião e suas partes adjacentes ou membranas associadas). Então, quando o concepto se implanta no endométrio, a secreção contínua de progesterona faz com que as células endometriais inchem ainda mais e armazenem mais nutrientes. Essas células são agora chamadas células decíduas, e a massa total de células é denominada decídua. À medida que as células trofoblásticas invadem a decídua, digerindo-a e embebendo-a, os nutrientes armazenados na decídua são usados pelo embrião para crescimento e desenvolvimento. Na primeira semana após a implantação, esse é o único meio pelo qual o embrião consegue obter nutrientes; ele continua a obter pelo menos parte da sua nutrição, dessa forma, por até oito semanas, embora a placenta também comece a prover nutrição depois do 16º dia após a fertilização (pouco mais de uma semana depois da implantação). O DESENVOLVIMENTO O desenvolvimento inicia-se com a fecundação, quando o espermatozoide se funde com o óvulo para dar origem ao ovo, célula que representa o surgimento do novo ser. Os 23 estágios Carnegie do desenvolvimento embrionário humano refletem as alterações na aparência externa do embrião durante as primeiras 8 semanas do desenvolvimento. Primeira semana À medida que o ovo passa pela tuba uterina, em direção ao útero, sofre rápidas divisões mitóticas – segmentação – responsáveis pela formação de blastômeros. No 3 o dia após a fertilização, o ovo com 16 ou mais blastômeros é denominado mórula e penetra na cavidade uterina. Logo após a mórula ter alcançado o útero (cerca de 4 dias após a fecundação), surge no interior da mórula u espaço preenchido por líquido, a cavidade blastocística. O líquido passa da cavidade uterina através da zona pelúcida para formar esse espaço. Julia Dominoni Facchin TXXV Conforme o líquido aumenta na cavidade blastocística, ele separa os blastômeros em duas partes: • Uma delgada camada celular externa, o trofoblasto (Grego trophe, nutrição), que formará a parte embrionária da placenta • Um grupo de blastômeros localizados centralmente, o embrioblasto (massa celular interna), que formará o embrião Uma proteína imunossupressora, o fator de gestação inicial, é secretada pelas células trofoblásticas e aparece no soro materno cerca de 24 a 48 horas após a fecundação. O fator de gestação inicial é a base do teste de gravidez durante os primeiros10 dias de desenvolvimento. Durante esse estágio de desenvolvimento, ou blastogênese, o concepto (embrião e suas membranas) é chamado de blastocisto. O embrioblasto agora se projeta para a cavidade blastocística e o trofoblasto forma a parede do blastocisto. Depois que o blastocisto flutuou pelas secreções uterinas por aproximadamente 2 dias, a zona pelúcida gradualmente se degenera e desaparece. A degeneração da zona pelúcida permite o rápido crescimento do blastocisto. Enquanto está flutuando no útero, o blastocisto obtém nutrição das secreções das glândulas uterinas. Aproximadamente 6 dias após a fecundação (dia 20 de um ciclo menstrual de 28 dias), o blastocisto adere ao epitélio endometrial, normalmente adjacente ao polo embrionário. Assim: Logo que o blastocisto adere ao epitélio endometrial, o trofoblasto se prolifera rapidamente e se diferencia em duas camadas: • Uma camada interna, o citotrofoblasto. • Uma camada externa, o sinciciotrofoblasto Julia Dominoni Facchin TXXV Fatores intrínsecos e da matriz extracelular modulam em sequências cuidadosamente programadas a diferenciação do trofoblasto. O fator de crescimento transformador β (TGF-β) regula a proliferação e a diferenciação do trofoblasto por interação de ligantes com receptores dos tipos I e II das quinases proteicas serina/treonina. Em torno de 6 dias, os prolongamentos digitiformes do sinciciotrofoblasto se estendem pelo epitélio endometrial e invadem o tecido conjuntivo. No final da primeira semana, o blastocisto está superficialmente implantado na camada compacta do endométrio e obtém a sua nutrição dos tecidos maternos erodidos. O sinciciotrofoblasto, altamente invasivo, se expande rapidamente em uma área conhecida como polo embrionário, adjacente ao embrioblasto. O sinciciotrofoblasto produz enzimas que erodem os tecidos maternos, possibilitando ao blastocisto se “entocar”, ou seja, se implantar, no endométrio. As células endometriais também participam controlando a profundidade da penetração do sinciciotrofoblasto. Por volta de 7 dias, uma camada de células, o hipoblasto (endoderma primário), aparece na superfície do embrioblasto voltada para a cavidade blastocística. Dados embriológicos comparativos sugerem que o hipoblasto surge por delaminação dos blastômeros do embrioblasto. Segunda semana À medida que a implantação do blastocisto ocorre, mudanças morfológicas no embrioblasto produzem um disco embrionário bilaminar formado pelo epiblasto e pelo hipoblasto. O disco embrionário origina as camadas germinativas que formam todos os tecidos e órgãos do embrião. As estruturas extraembrionárias que se formam durante a segunda semana são a cavidade amniótica, o âmnio, a vesícula umbilical conectada ao pedículo e o saco coriônico. • Lacunas se desenvolvem no sinciciotrofoblasto e, logo, fusionam-se para formar a rede lacunar (9-10 dias) Julia Dominoni Facchin TXXV Término da implantação do blastocisto A implantação do blastocisto termina durante a segunda semana. Ela ocorre durante um período restrito entre 6 e 10 dias após a ovulação e a fecundação. Conforme o blastocisto se implanta, mais o trofoblasto entra em contato com o endométrio e se diferencia em duas camadas: • Uma camada interna, o citotrofoblasto, que é mitoticamente ativa e forma novas células que migram para a massa crescente de sinciciotrofoblasto, onde se fundem e perdem as membranas celulares. • O sinciciotrofoblasto, uma massa multinucleada que se expande rapidamente, na qual nenhum limite celular é visível. O sinciciotrofoblasto é erosivo e invade o tecido conjuntivo endometrial enquanto o blastocisto vagarosamente vai se incorporando ao endométrio. As células sinciciotrofoblásticas deslocam as células endometriais no local de implantação. As células endometriais sofrem apoptose (morte celular programada), o que facilita a invasão. • O trofoblasto erode os sinusoides maternos • O sangue flui para o interior da rede lacunar e forma a circulação uteroplacentária primitiva (Blastocisto implantado de 12 dias) Os mecanismos moleculares da implantação envolvem a sincronização entre o blastocisto invasor e um endométrio receptivo. As microvilosidades das células endometriais, as moléculas de adesão celular (integrinas), citocinas, protaglandinas, hormônios (gonadotrofina coriônica humana [hCG] e progesterona), fatores de crescimento, enzimas de matriz extracelular e outras enzimas (metaloproteinases de matriz e proteína quinase A) têm o papel de tornar o endométrio mais receptivo. Além disso, as células endometriais ajudam a controlar a profundidade de penetração do blastocisto. As células do tecido conjuntivo ao redor do local da implantação acumulam glicogênio e lipídios e assumem um aspecto poliédrico (muitos lados). Algumas dessas células, as células deciduais, se degeneram nas proximidades do sinciciotrofoblasto invasor. O sinciciotrofoblasto engolfa essas células que servem como uma rica fonte de nutrientes para o embrião. O sinciciotrofoblasto produz um hormônio glicoproteico, o hCG, que entra na circulação sanguínea materna através de cavidades isoladas (lacunas) no sinciciotrofoblasto; o hCG mantém a atividade hormonal do corpo lúteo no ovário, durante a gestação. O corpo lúteo é uma estrutura glandular endócrina que secreta estrogênio e progesterona para manter a gestação. Radioimunoensaios altamente sensíveis são usados para detectar o hCG e formam a base dos testes de gravidez. Uma quantidade suficiente de hCG é produzida pelo sinciociotrofoblasto no final da segunda semana para resultar em um teste de gravidez positivo, mesmo que a mulher não saiba que possa estar grávida. Resumo da implantação A implantação do blastocisto no endométrio uterino inicia- se no fim da primeira semana e é completada no final da segunda semana. Os eventos moleculares e celulares relacionados com a implantação são complexos. A implantação pode ser resumida como se segue: • A zona pelúcida se degenera (dia 5). O desaparecimento dela resulta do crescimento do blastocisto e da degeneração causada por lise enzimática. As enzimas líticas são liberadas pelo acrossoma dos espermatozoides que rodeiam e parcialmente penetram a zona pelúcida. • O blastocisto adere ao epitélio endometrial (dia 6). • O trofoblasto se diferencia em duas camadas, o sinciciotrofoblasto e o citotrofoblasto (dia 7). • O sinciciotrofoblasto provoca a erosão do tecido endometrial e o blastocisto começa a se implantar ao endométrio (dia 8). • Surgem lacunas cheias de sangue no sinciciotrofoblasto (dia 9). • O blastocisto penetra o epitélio endometrial e a falha é preenchida por um tampão (dia 10). • Ocorre a formação da rede lacunar pela fusão de lacunas adjacentes (dias 10 e 11). • O sinciciotrofoblasto provoca a erosão dos vasos sanguíneos endometriais, permitindo que o sangue materno entre nas redes lacunares e saia delas, estabelecendo, assim, a circulação uteroplacentária (dias 11 e 12). • A falha do epitélio endometrial é reparada (dias 12 e 13). • As vilosidades coriônicas primárias se desenvolvem (dias 13 e 14). Julia Dominoni Facchin TXXV APROFUNDANDO Sistema hipotálamo-hipofisário No controle neuroendócrino da ovulação é determinante o papel desempenhado pelo eixo central – sistema hipotálamo-hipofisário – que se conecta por feedback com as gônadas, enquanto se liga ao sistema sensorial, recebendo estímulos do meio ambiente e conexões do próprio cérebro. Embora não haja conexão nervosa direta entre o hipotálamo e a hipófise anterior (adeno-hipófise), a comunicação vascular (sistema porta-hipofisário) liga essas duas estruturas. Os vasos sanguíneos do sistema porta-hipofisário carreiam neurotransmissores – fatores de liberação (releasing factors) – segregados pelas células nervosas dos centros hipotalâmicos para a adeno-hipófise. O neurotransmissor
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