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Unidade 1 Livro Didático Digital Lisiane Lucena Bezerra Literaturas Africanas em Língua Portuguesa Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autor LISIANE LUCENA BEZERRA A AUTORA Lisiane Lucena Bezerra Olá. Meu nome é Lisiane Lucena Bezerra. Sou Licenciada em Ciências Agrárias, Mestre em Fitotecnia e Doutora em Agronomia/ Fitotecnia, com experiência técnico-profissional na área de licenciatura de mais de 10 anos. Atualmente leciono disciplinas na área de Educação em curso de licenciatura, na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Sou apaixonado pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: INTRODUÇÃO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Conceitos e cultura da literatura africana ....................................... 10 Conceito: Literatura e cultura ................................................................................................. 10 História da literatura africana de expressão portuguesa ................................... 13 Literatura africana em língua portuguesa ..................................................................... 15 Conceito de arte e cultura africana .................................................... 19 Conceito de arte africana .......................................................................................................... 19 Arte africana no Brasil ..................................................................................................................27 O uso da língua portuguesa e a literatura nos países africanos .........................................................................................................29 A língua portuguesa nos países africanos ....................................................................29 A literatura nos países africanos ..........................................................................................32 A importância do estudo da literatura africana à luz da legislação brasileira ...................................................................................38 A afrodescendência e sua identidade no Brasil ...................................................... 38 A literatura africana na educação Brasileira ................................................................ 41 7 UNIDADE 01 Literaturas Africanas em Língua Portuguesa 8 INTRODUÇÃO Você sabe o que é literatura africana? A literatura africana em língua portuguesa surge como mensageiro da diversidade, da mistura de mitos e história recente, transformando-se, demonstrando que a arte é, a um só tempo, instrumento de construção, de desafio e de transformação da realidade, por mais árdua e cruel que esta seja. A partir da colonização de alguns países africanos pelos portugueses que se introduziu a língua portuguesa na África, esses países até hoje utilizam o português como língua oficial, de forma que sua literatura passou por várias etapas até o reconhecimento das raízes africanas. No Brasil a história e cultura africana tornou-se obrigatória por lei, no entanto pouco é observado sobre a introdução da literatura africana lusófona nas escolas, que por sua vez seriam importantíssimas para que a visão do negro passasse de uma visão deturpada que se construiu durante séculos pela colonização, passando a ter uma visão de como realmente é a cultura e literatura de raízes africanas. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo! Literaturas Africanas em Língua Portuguesa 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso propósito é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o término desta etapa de estudos: 1. Entender os conceitos de cultura africana em língua portuguesa; 2. Conhecer a arte e cultura africana; 3. Compreender sobre a língua portuguesa utilizada nos Países Africanos com Língua Oficial Portuguesa- PALOPs; 4. Identificar a importância da literatura africana de PALOPs no Brasil. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Literaturas Africanas em Língua Portuguesa 10 Literaturas Africanas em Língua Portuguesa Conceitos e cultura da literatura africana INTRODUÇÃO: Ao finalizar este capítulo você será capaz de entender sobre os conceitos da literatura africana de língua portuguesa, sua origem e história. Isto será de fundamental importância para o exercício de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Conceito: Literatura e cultura Antes de falarmos sobre literaturas africanas de expressão portuguesa, vamos conceituar cultura e literatura. DEFINIÇÃO: Conforme o (DICIO, 2020) literatura é: “Arte de escrever trabalhos artísticos em prosa ou verso.” “Conjunto das produções literárias de um país, de uma época.” A literatura, de acordo com (EULALIO & DURAND, 2015, p. 191) apud Terra (2014) tem duas concepções. Uma que considera literária a linguagem especial que se distancia da linguagem ordinária, onde tem-se como literatura apenas os textos clássicos, e outra tem como base para a literariedade do texto os aspectos exteriores a ele como: aspectos sociais, ideológicos, culturais e históricos, configurando uma obra literária quando é reconhecida institucionalmente. Dessa forma, ao se conceituar literatura enfatizando o valor cultural de um texto, observa-se que a literariedade possui suas características imanentes e está além do fato de ser apenas algo escrito ou oral. Assim, conforme (EULALIO & DURAND, 2015, p. 191) Um texto não é literário apenas quando está escrito em versos ou em prosa, sendo assim, o gênero também não é um fator suficiente para classificar um texto como literário ou não. Contudo, tendo em vista esse conceito cultural da literatura, 11Literaturas Africanas em Língua Portuguesa podemos caracterizar um texto literário quando o mesmo retrata a sua cultura de origem. Daí, lembramos dos contos orais que são textos que retratam, de forma fiel, a sua cultura, uma vez que são produzidos e reproduzidos pelo próprio povo. (EULALIO & DURAND, 2015, p. 191) Com relação ao conceito de cultura, existem diversos, dentre eles: DEFINIÇÃO: O (DICIO, 2020) define cultura como: “Conjunto dos hábitos sociais e religiosos, das manifestações intelectuais e artísticas, que caracteriza uma sociedade: cultura inca; a cultura helenística.” “Normas de comportamento, saberes, hábitos ou crenças que diferenciam um grupo de outro: provêm de culturas distintas.”“Conjunto dos conhecimentos adquiridos; instrução: sujeito sem cultura.” Sendo assim, (EULALIO & DURAND, 2015) apud Santos (2006), conceitua cultura como sendo um comportamento implícito que rege hábitos e costumes dentro de uma sociedade, onde esse comportamento conduz as várias áreas das sociedades, sendo elas: quais podemos destacar: saúde, educação, economia, esporte, entre outras. Assim, tem- se diferenças culturais entre estados, regiões e países, pois os hábitos e os costumes mudam, uma vez que cada povo possui a sua cultura. Figura 1 – Mulher africana. Fonte: Pixabay 12 Literaturas Africanas em Língua Portuguesa Diante disso, detalhando melhor esse conceito de cultura, o mesmo passa a ser baseada em duas concepções. Figura 2 – Concepções de cultura. Fonte: a autora. Essas duas concepções se diferenciam um pouco, uma vez que uma é vista como mais geral e a outra é mais específica, porém, observa- se que elas estão interligadas pois não se pode falar da forma como um determinado grupo atua sem pensar na sociedade como um todo. Sendo assim, ao primeiro momento tem-se todos os aspectos de uma realidade social, onde a cultura é idealizada de forma mais ampla, caracterizando determinado povo, tanto na forma como a sociedade se organiza como pelos seus aspectos materiais. Já na segunda concepção articula sobre o conhecimento, às ideias e crenças de um povo, onde a cultura é vista como algo mais específico, considerando a forma de agir de determinado povo, acatando o conhecimento, ideias e crenças do mesmo. Ao se falar sobre cultura, especificamente a portuguesa, conseguimos nos remeter língua portuguesa, a literatura, ao conhecimento filosófico, científico e artístico produzidos na nação portuguesa. Porém, ao falar especificamente em língua portuguesa, o posicionamento já muda, pois é uma língua usada em Portugal, como também em diversos países como Brasil, Moçambique, Angola, dentre outros. A África é um continente com diversos países cada qual com sua cultura e línguas, dessa forma, não se pode referir-se à cultura africana como se fosse uma cultura singular, pois além das características 13Literaturas Africanas em Língua Portuguesa singulares, cada nação possui característica própria, por exemplo da literatura. SAIBA MAIS: Você quer se aprofundar mais nesse tema? Recomendamos o acesso à seguinte fonte de consulta e aprofundamento no artigo:” Literaturas africanas de expressão portuguesa e a oralidade” de (EULALIO & DURAND, 2015). Acessível pelo link: https://bit.ly/3123Wrf Acesso em (08/abr/2020). História da literatura africana de expressão portuguesa O aparecimento das literaturas de língua portuguesa na África resultou, por um lado, de um longo processo histórico de quase quinhentos anos de assimilação de parte a parte e, por outro, de um processo de conscientização que se iniciou nos anos 40 e 50 do século XIX, relacionado com o grau de desenvolvimento cultural nas ex-colônias e com o surgimento de um jornalismo por vezes ativo e polêmico que, destoando do cenário geral, se pautava numa crítica severa à máquina colonial. (FONSECA & MOREIRA, 2007) Assim, em 1940 desenvolveu-se a literatura africana de expressão portuguesa e desde então vêm adquirindo maturidade ao longo desse período. Dessa forma, (EULALIO & DURAND, 2015) cita que A literatura africana de expressão portuguesa surgiu quando os portugueses chegaram à Angola, em 1575, e criaram, posteriormente, nos anos quarenta do século XIX, o ensino oficial além de aumentar a ocorrência do ensino particular ou oficializado, bem como à liberdade de expressão e a instalação do prelo que abre espaço para publicações literárias. (EULALIO & DURAND, 2015, p. 194) A literatura africana em língua portuguesa surge como mensageiro da diversidade, da mistura de mitos e história recente, transformando-se, demonstrando que a arte é, a um só tempo, instrumento de construção, 14 Literaturas Africanas em Língua Portuguesa de desafio e de transformação da realidade, por mais árdua e cruel que esta seja. (SOUZA, 2013) Em 1974 com a Revolução dos Cravos, após o processo de descolonização, testemunha-se a maior abrangência territorial e cultural das literaturas de língua portuguesa, onde atualmente não se restringem apenas a Brasil e Portugal, e sim à África, ganhando muito em riqueza, força e importância internacional. O continente africano já passou por diversos problemas, fazendo com que se tornasse uma terra, em partes, sofrida, devido, principalmente, às maldades provocadas pelos colonizadores às diversas culturas africanas durante os processos de colonização. Assim (FERREIRA, Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa I, 1977, p. 8) define: quando, como surgiu e como se desenvolveu a literatura africana de expressão portuguesa. Os portugueses chegaram à Foz do Zaire em 1482 e, em 1575, fundaram a primeira povoação portuguesa, São Paulo de Assunção de Loanda, hoje capital de Angola. Dos primeiros contatos com o Reino do Congo dá-nos testemunho a correspondência trocada entre os reis do Congo e os reis de Portugal, além de documentos, como os relatórios dos padres jesuítas de Angola. Mas o aparecimento de uma atividade cultural regular na África associa-se intimamente à criação e desenvolvimento do ensino oficial e ao alargamento do ensino particular ou oficializado, à liberdade de expressão e à instalação do prelo, que se registam a partir dos anos quarenta do século XIX. (FERREIRA, Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa I, 1977, p. 8) A partir do século XX as literaturas africanas de língua portuguesa ganharam notoriedade no cenário da literatura universal. Apresentam um panorama muito amplo. Ao estudar as literaturas africanas é uma forma de estabelecer contato com a arte seja ela oral e/ou escrita. Essa arte vem de Angola, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe, Moçambique, Cabo Verde e outros lugares de raiz africana onde a língua portuguesa está presente. 15Literaturas Africanas em Língua Portuguesa Conforme (NASCIMENTO C. M., 2018) a literatura africana de língua portuguesa é formada pelas literaturas produzidas em: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, nos quais a língua portuguesa é idioma oficial e cuja produção literária é vista como autônoma, de expressão particular, única e não-portuguesa, ainda assim, não é qualquer obra produzida nesses países que deverá ser estudada. Figura 3 – Locais onde produzem a literatura africana de língua portuguesa Fonte: a autora. Para (SOUZA, 2013) A literatura pode, assim, se compreendida como um rico e poderoso vetor para contornar os percalços sofridos pelo povo africano no decorrer de seu processo histórico e como instrumento de construção e desconstrução da realidade social a que se vincula, como bem evidencia o papel destacado que teve e tem na construção e consolidação de identidades nacionais nos países africanos de língua portuguesa. (SOUZA, 2013, p. 52) Literatura africana em língua portuguesa Conforme (NASCIMENTO C. M., A literatura africana de expressão portuguesa e a construção da identidade afro-brasileira, 2018) A literatura 16 Literaturas Africanas em Língua Portuguesa africana de língua portuguesa é formada pelas literaturas produzidas em: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, nos quais a língua portuguesa é idioma oficial e cuja produção literária é vista como autônoma, de expressão particular, única e não-portuguesa, ainda assim, não é qualquer obra produzida nesses países que deverá ser estudada. Assim sobre a questão da literatura africana lusófona, (NASCIMENTO C. M., A literatura africana de expressão portuguesa e a construção da identidade afro-brasileira, 2018) traçou um breve histórico para facilitar a sua compreensão com a literatura brasileira, onde essas obras podem servir como instrumentopara o entendimento sobre a história e a cultura dos países africanos lusófonos e como também para a construção de uma nova figura da África e de seus povos, desvinculada do discurso que impera de colonização, escravidão e atraso. Figura 4 – Histórico da literatura lusófona. Fonte: a autora. Inicialmente nos anos de 1850 a 1900 aconteceu a formação da literatura colonial na África lusófona, onde também pode ser chamado de período de alienação. (NASCIMENTO C. M., A literatura africana de expressão portuguesa e a construção da identidade afro-brasileira, 2018, p. 3) apud Manuel Ferreira (1987) cita que nesse estágio da produção literária, “o escritor africano encontra-se em estado quase absoluto de alienação, incapaz de se libertar dos modelos europeus”. 17Literaturas Africanas em Língua Portuguesa Após, entre 1900 e 1930 ocorreu o surgimento do sentimento nacional, desponta a consciência de pertença à África, e surge a ideia de negritude onde os textos passaram a abordar as características do ambiente da colônia, da terra natal e conforme (NASCIMENTO C. M., A literatura africana de expressão portuguesa e a construção da identidade afro-brasileira, 2018, p. 3) apud Ferreira (1987) a alienação é trocada por uma “percepção de um certo regionalismo e o discurso acusa já alguma influência do meio social, geográfico e cultural em que estão inseridos e a enunciação vive já os primeiros sinais de sentimento nacional”. Nos anos de 1930 a 1950, ocorreu o rompimento com a alienação e os autores adquiriram a consciência de sua condição de colonizados e a consciência política surgiu nos textos, expressando o desejo de independência para a nação e de liberdade para os africanos. Conforme (NASCIMENTO C. M., A literatura africana de expressão portuguesa e a construção da identidade afro-brasileira, 2018) apud Ferreira (1987) a literatura africana “cria a sua razão de ser na expressão das raízes profundas da realidade social nacional entendida dialeticamente”. E finalmente nos anos de 1950 a 2000, a literatura do período de independência refletiu o processo de reconstrução da identidade das ex-colônias perante de sua nova realidade. Para (NASCIMENTO C. M., A literatura africana de expressão portuguesa e a construção da identidade afro-brasileira, 2018) apud Ferreira (1987) o nacionalismo aflorou e consolidou uma realidade em que “é de todo eliminada a dependência dos escritores africanos e restituída a sua plena individualidade”. Neste último momento, foi resgatado dos valores tradicionais ancestrais, combinando-os aos valores adquiridos no período colonial, já que é impossível reverter os efeitos da colonização, onde o africano reencontrou com suas raízes, que elaborou uma nova identidade cultural, reconstruindo a sociedade e a cultura africanas incorporando os elementos de diferentes origens que agora a compõem. 18 Literaturas Africanas em Língua Portuguesa EXPLICANDO MELHOR: As primeiras aproximações ao conceito de lusofonia deram- se em meados dos anos 80 do século passado. Terá sido provavelmente Fernando Cristóvão, então presidente do Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, a utilizá-lo pela primeira vez. Seguiram-se outros investigadores que, de alguma forma, se debruçavam sobre realidades decorrentes da relação colonial portuguesa. Eram investigadores de áreas como as dos Estudos Africanos (então, como agora, exageradamente centrados no estudo da África de língua portuguesa), estudiosos e críticos das chamadas literaturas africanas de língua portuguesa ou brasileira, como é, aliás, o caso de Fernando Cristóvão (VENÂNCIO, 2015). RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido sobre o conceito de literatura e cultura como sendo um comportamento implícito que rege hábitos e costumes dentro de uma sociedade, onde esse comportamento conduz as várias áreas das sociedades. Podemos observar também que a literatura africana de língua portuguesa é formada pelas literaturas produzidas em: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe. E que o africano reencontrou com suas raízes, elaborando uma nova identidade cultural, reconstruindo a sociedade e a cultura africanas incorporando os elementos de diferentes origens que agora a compõem. 19Literaturas Africanas em Língua Portuguesa Conceito de arte e cultura africana INTRODUÇÃO: Ao finalizar este capítulo você será capaz de entender sobre o conceito de arte africana e sobre a arte africana no Brasil. Isto será de fundamental importância para o exercício de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Conceito de arte africana Em se tratando da arte africana, não pode se dizer que é um tema simplificado, ao se falar na África estamos nos referindo a uma imensidão de um continente, além de ser multiétnico, de forma que em cada país que faz parte do continente apresentam culturas diferenciadas, uma diversidade de povos e que convivem harmonicamente. DEFINIÇÃO: Conforme (DICIO, 2020) arte é a “aptidão inata para aplicar conhecimentos, usando talento ou habilidade, na demonstração uma ideia, um pensamento” “reunião das expressões artísticas de um povo, sociedade” “talento; expressão particular de inteligência ou sensibilidade observada num artista”. No que se refere a arte africana, podemos considerar como uma forma genérica para denominar a produção da arte das tribos africanas tradicionais. Essa arte ganhou reconhecimento no início do século XX após artistas europeus serem influenciados por ela, porém eles de forma equivocada tinham essas artes como primitivas, com teor de exclusivo a religiosidade e ingênua. 20 Literaturas Africanas em Língua Portuguesa Figura 5 – Arte africana. Fonte: Pixabay Para (AJZENBERG & MUNANGA, 2009) A arte africana é comunitária, as formas que as esculturas adotam são específicas para os povos que as produziram. Esses povos serviram-se de uma linguagem conhecida e entendida pelos artistas e pelos seus destinatários. O escultor não era um indivíduo que exprimia seus sentimentos pessoais e cuja inspiração se manifestava ao acaso, mas a arte que produzia pretendia satisfazer as necessidades de uma comunidade na qual ele estava muito integrado. Contudo, isso não queria dizer que a obra de um artista tivesse de ser repetitiva. Pelo contrário, um artista conservava a sua liberdade para fazer suas próprias adaptações num quadro de referência aceito pela comunidade, e sua obra podia ser aclamada ou rejeitada. (AJZENBERG & MUNANGA, 2009, p. 191) Há muito tempo, trata-se a arte produzida na África como objeto científico, pois trata-se de uma arte que não possui fins direcionados a 21Literaturas Africanas em Língua Portuguesa estética, onde sua produção é realizada por povos ainda primitivos, que por muito tempo foi considerada uma arte tosca para religiosidade e de ignorantes, porém esse preconceito e discriminação através dos pesquisadores que atuam sobre a arte africana vem sendo corrigido. Dentre os artistas da arte africana, podemos citar Pablo Picasso (1881-1973), que, mesmo sem ter ido a África, produzia obras com estátuas e máscaras que ele tinha com ele enquanto trabalhava. Picasso dizia que o “vírus” da arte africana o tinha contagiado. Figura 6 – Arte de Picasso. Fonte: Pixabay VOCÊ SABIA? Outro artista também muito conhecido na arte africana foi Henri Matisse onde a escultura matissiana é especialmente inspirada na estatuária africana. Em 2010 a Escultura de Matisse foi leiloada por quase US$ 49 milhões. Para saber mais, acesse link: https://glo.bo/3eodaBP (Acesso em 13/04/2020) Dessa forma, conforme (AJZENBERG & MUNANGA, 2009) a arte africana 22 Literaturas Africanas em LínguaPortuguesa A arte africana é em certo sentido “fun¬cional” ou adequada a determinada situação. Esculturas encontradas, por exemplo, em templos ou palácios dos iorubás tinham funções muito diferentes: as primeiras pre¬tendiam honrar espíritos e as segundas, o oba ou o rei. Em todos os casos, a importância de uma escultura não dependia dela mesma, mas do lugar onde se encontrava, de quem a possuía e de como era utilizada. Em algumas cidades, quando um escultor terminava uma máscara, tinha que lhe infundir força vital através da pintura, com contínuas oferendas de alimentos ou azeite, obrigação da qual se encarregava o seu proprietário ou o seu guardião e sem as quais teria carecido de valor. Em outros lugares, a importância de uma máscara podia modificar-se ao passar de um proprietário para outro. (AJZENBERG & MUNANGA, 2009, p. 2) Os maiores e mais completos acervos de arte africana do mundo nos dias atuais estão localizados nos museus da Europa, de forma que essa arte desperta a curiosidade de diversos intelectuais que procuram a compreensão relacionada ao processo dessas artes, que por sua vez possuem uma universalidade enorme que se sobrepõe ao termo “Arte Africana”. Um dos fatores que contribui para a dificuldade em definir a cultura material da África é que a história da arte africana está basicamente atrelada à presença dos europeus nesse continente. Assim, as obras que chegaram aos museus europeus foram produzidas por culturas específicas, principalmente aquelas que firmaram contatos com os ocidentais, dando a impressão que todo o resto do continente não produz arte. É possível perceber, portanto, uma predominância, nos museus e coleções, de obras procedentes da África ocidental e central (BEBILACQUA, 2010, p. 2) É de fundamental importância que haja a compreensão sobre o que é chamado de Arte da África, pois, ela é composta por produções de arte de centenas de culturas, pelo decorrer de milhares de anos. 23Literaturas Africanas em Língua Portuguesa Figura 7 – Características da arte africana. Fonte: a autora. Não pode se pensar apenas em mascaras quando se trata da Arte Africana, onde deve-se destacar a diferenciação entre a arte tradicional daquelas que começaram a ser produzidas a partir do século XX, devido ao processo de globalização, com destaque para a segunda metade deste século. Figura 8 – Máscaras africanas Fonte: Pixabay 24 Literaturas Africanas em Língua Portuguesa Essa arte não pode ser observada como se sofresse uma estagnação durante o tempo, pois no Continente Africano também ocorreu uma ruptura em relação ao tradicionalismo, assim como a arte do ocidente. A história dessa arte única do Continente tem uma história de longa data, onde existem registros do século 5 a.C. de algumas peças produzidas. Essa história vem sendo escrita em pedras, ferro e madeiras em momentos muito anteriores a escrita. Uma grande quantidade dessas obras se perderam com o decorrer do tempo, outras, devido a moral do cristianismo durante o período da colonização, foram destruídas, de forma que os locais onde eram produzidas essas artes foram diretamente afetados. Porém ainda há um rico e enorme universo restante. Os elementos que podem ser considerados mais fortes referente a Arte Africana está direcionado a: • Pinturas - a presença da figura humana identifica a preocupação com os valores étnicos, morais e religiosos; Figura 9 – Pintura da arte africana. Fonte: Pixabay 25Literaturas Africanas em Língua Portuguesa • Máscaras – possui significado místico sendo usadas nos rituais e funerais. Representa um disfarce para a incorporação dos espíritos e a possibilidade de adquirir forças mágicas; • Esculturas - figuras que servem de atributo às divindades e podem ser cabeças de animais, figuras alusivas a acontecimentos, fatos circunstanciais; Figura 10 – Escultura da arte africana. Fonte: Pixabay • Tecidos - lisos ou estampados, os bordados são feitos com linhas e com pedras de vidro e servem para confeccionar roupas longas e gorros; Figura 11 – Artesanato com tecido na arte africana. Fonte: Pixabay 26 Literaturas Africanas em Língua Portuguesa • Religião - O Culto de Ifá é o maior responsável pela divulgação da Yoruba Art em todo mundo e são encontradas nos Estados Unidos, Cuba, Alemanha, França, Inglaterra, Espanha. No Brasil, as únicas religiões que tem relação com a arte africana são: Candomblé e Culto aos Egungun; • Música e dança. Na dança africana, cada parte do corpo movimenta- se com um ritmo diferente, onde os pés acompanham a base musical, seguidos pelos braços que equilibram o balanço dos pés. Nesse caso, o corpo pode ser comparado a uma orquestra que, tocando vários instrumentos, harmoniza-os numa única sinfonia. Figura 12 – Música na arte africana. Fonte: Pixabay Outro ponto que merece destaque, é que essas artes não eram produzidas com intuito de contemplação em uma exposição direcionada a artes, e sim para fins religiosos ou para utilização, de forma que existia uma finalidade para cada objeto produzido. 27Literaturas Africanas em Língua Portuguesa SAIBA MAIS: Você quer se aprofundar mais nesse tema? Recomendamos o acesso à seguinte fonte de consulta e aprofundamento no livro: ”África em artes” de (BEVILACQUA & SILVA, 2015) Arte africana no Brasil No Brasil muitos artistas dedicaram-se à temática africana, como Lasar Segall, Tarsila e Portinari, e outros viram nos seus signos fonte para sua linguagem, como Rubem Valentim. Mais recentemente, Franz Krajcberg passou a utilizar essas marcas culturais e signos em suas intervenções retiradas de troncos queimados e paisagens agredidas pelo homem. (AJZENBERG & MUNANGA, 2009, p. 192) O acervo de arte africana do Museu Afro Brasil, Parque Ibirapuera – São Paulo, conta atualmente com obras como máscaras, estatuetas e outros tipos de produções de diferentes povos e países da África, que permitem ao visitante ter um breve contato com a riqueza artística e cultural existente no continente. O Acervo do Museu Afro Brasil conserva mais de 5 mil obras que englobam diferentes áreas de múltiplos universos culturais africanos, indígenas e afro-brasileiro. Dividido por meio de Núcleos temáticos, o acervo procura abranger aspectos da arte, da religião afro-brasileira, do catolicismo popular, do trabalho, da escravidão, das festas populares, registrando assim, a trajetória histórica, artística e as importantes influências africanas na construção da sociedade brasileira (MUSEU AFRO BRASIL, 2020). Na sua coleção possui gravuras, desenhos, pinturas, esculturas, aquarelas, fotografias, documentos históricos, mobiliário, obras têxteis, plumárias, cestarias, cerâmicas, entre outras obras elaboradas desde o séc. XVI até os nossos dias. 28 Literaturas Africanas em Língua Portuguesa Constituído por mais de 300 obras, o núcleo de arte africana tradicional do Museu Afro Brasil abarca obras de dezenas de povos que compõe os principais exemplares desta arte presente em museus. SAIBA MAIS: Você quer se aprofundar mais nesse tema? Recomendamos o acesso à seguinte fonte de consulta e aprofundamento no site: ”Museu Afro Brasil” de (MUSEU AFRO BRASIL, 2020) Acessível pelo link: https://bit.ly/2V9588p Acesso em (08/ abr/2020). RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido sobre o conceito de arte como aptidão inata para aplicar conhecimentos, usando talento ou habilidade, na demonstração de uma ideia, um pensamento; reunião das expressões artísticas de um povo, sociedade. A arte africana representa os usos e costumes das tribos africanas, onde o objeto de arte é funcional e expressam muita sensibilidade. A arte africana é comunitária, uma vez queas esculturas tomam as formas que são características para os povos que as produziram, servindo assim, de uma linguagem conhecida e entendida pelos artistas e pelos seus destinatários. 29Literaturas Africanas em Língua Portuguesa O uso da língua portuguesa e a literatura nos países africanos INTRODUÇÃO: Ao finalizar este capítulo você será capaz de entender sobre a utilização da língua portuguesa por alguns países africanos como também a sua literatura. Isto será de fundamental importância para o exercício de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! A língua portuguesa nos países africanos A língua portuguesa em países africanos convive com incontáveis línguas crioulas, além de uma diversidade de línguas que são nativas da região, que por sua vez representa para a vida da população um importante instrumento para se comunicarem. O português utilizado em alguns países africanos está seguindo a norma europeia, no entanto sua oralidade está muito distante do português que se fala no Brasil. Figura 13 – Países africanos que utilizam a língua portuguesa Fonte: a autora. Esses países compõem o espaço dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) que apresenta um ambiente multilíngue e também uma multicultural. A maneira de falar e recontar a realidade a qual fazem parte são de alguma maneira influenciadas por essa multiculturalidade, pois, 30 Literaturas Africanas em Língua Portuguesa todos os africanos que nascem e crescem inseridos nesse contexto não conseguem ter a expressividades linguísticas idênticas as de Portugal, significando que esses países realizaram a adoção da língua portuguesa e usam de acordo com o local e sua realidade. Os portugueses levaram a língua portuguesa para a África entre os séculos XI e XVI, sendo introduzidos na África nas datas seguintes nos PALOP. Guiné Bissal ano de 1446; Cabo-Verde, entre 1460-1462; São Tomé e Príncipe, entre 1470-1971; Angola, ano de 1482; Moçambique, ano de 1498. Apesar da língua portuguesa ser provinda da Europa, é considerada uma língua nacional correspondendo de forma plena as necessidades exigidas pela comunicação dos PALOP, podendo-se constatar a partir dessa afirmação que a possibilidade de associação as transformações constantes em que o mundo passa, e com isso as línguas também seguem essa mudança assim como a cultura e ambas apresentam uma ligação intrínseca. Com isso pode ser visto por (RODRIGUES, 2019): (...)Conexões linguísticas podem ser definidas como elementares em determinar prioridades na concertação de cooperação entre países, como sem dúvida são também essenciais na concertação diplomática. Traços culturais criam propriedade na língua adquirida por herança colonial, o que se tornou, atualmente, um objeto de promoção no âmbito cooperativo desses países, como é possível destacar em variados eventos e instituições acerca da promoção da língua portuguesa, de âmbito tanto nacional como internacional, como por exemplo o Dia Internacional da Língua Portuguesa, o Instituto Internacional de Língua Portuguesa e etc., sempre 31Literaturas Africanas em Língua Portuguesa promovidos oficialmente pelos PALOP (RODRIGUES, 2019, p. 105). A grande transformação generalizada da cultura dentro do continente africano refletiu a língua portuguesa nos PALOP, dessa forma as línguas coloniais direcionadas a uso administrativo e jurídico passaram a predominar, como também as classes dominantes preferiram para usar na sociedade como também em fins políticos, com isso ocorrendo uma contribuição importante para que que uma cooperação formal entre os PALOP se estabeleça. (BIRMINGHAM, 2009). As novas variedades relacionadas ao português como também a formação de crioulos é resultante dos diferenciados graus ligados a reestruturação, onde a língua não materna passou por uma aquisição dentro de um cenário, que por sua vez são dependentes de fatores. Figura 14- Fatores que são base para aquisição de língua não materna Fonte: a autora. Os fatores sociais e linguísticos específicos podem ser representados em: • Aspectos demográficos; • O grau de acesso à língua alvo no caso o português; • Grau de exposição à língua alvo no caso o português; • A tipologia das línguas em contato. Em se tratando da crioulização, ocorre uma necessidade por parte dos falantes de línguas diferentes que haja a criação de uma plataforma para ocorrer a comunicação comum com isso resulta em uma emergencialidade de um código de língua não nativa que vem a ser nativizado. 32 Literaturas Africanas em Língua Portuguesa Os casos em sua grande maioria esse processo se dá de forma um tanto rápida, onde ocorre o abandono gradual das línguas ancestrais, para a adoção da nova língua. Porém ocorre distinção nas novas variedades, pelo fato de que as línguas consideradas maternas permanecem com sua existência junto ao português, que é a língua que oficialmente tem a promoção pelas políticas linguísticas. Dessa forma podemos observar como a língua portuguesa foi introduzida na África, com isso (FERREIRA, 1995) relata: A língua portuguesa, de um ou de outro modo, embora veladamente, nunca deixou de ser por parte de muitos, objeto de opressão, uma vez que era vista e sentida como um instrumento de dominação. E, no entanto, alcançada a independência nacional, os cinco países terminaram por adotá-la como língua oficial (FERREIRA, 1995, p. 141) A literatura nos países africanos O surgimento de literaturas na África com expressões portuguesa, apresenta-se como um resultado da história que passou por uma assimilação por quase quinhentos anos, partindo-se do século XVI, e seu desenvolvimento tem como base a colonização pela qual passou os países africanos por Portugal, o seu colonizador. Com isso, de acordo com (ALMEIDA, ALMEIDA, & CAETANO, 2009): (...)É conveniente lembrarmos que os portugueses atravessaram, em 1415, o Estreito de Gibraltar, sendo os primeiros europeus a se situarem em África (Ceuta, em Marrocos), estabelecendo, no território africano, devido à presença de comerciantes, marinheiros etc., o chamado pidgin, de base portuguesa, “idioma” usado com o fito de se estabelecerem as relações, sobretudo comerciais. Esse “idioma” evolui, no caso dos PALOP, para o crioulo, especialmente nos países em que o comércio era muito valorizado. Assim, ali conviviam, com as outras línguas de origem autóctone, o pidgin e o crioulo, num imenso mosaico linguístico, o que, como veremos, foi fator 33Literaturas Africanas em Língua Portuguesa importante de desunião dos africanos durante muito tempo, (...) (ALMEIDA, ALMEIDA, & CAETANO, 2009, p. 50) É de extrema importante fazer uma observação sobre as literaturas africanas que tem o português como sua expressão, por conseguinte isso significa um produto resultante de consciencialização que teve de forma mais forte seu delineamento durante os anos de 1940 e 1950, onde nas “elites lusófonas” promoveram seu desenvolvimento e gênese. Ao realizar uma volta ao ano de 1926 pode-se destacar o episódio em que o primeiro ministro ditatorial António Salazar de Portugal, estabelece uma lei em que faz uma diferenciação entre os africanos, separando- os em “bárbaros” e “civilizados”, de forma que para ter consideração de civilidade os africanos tinham que saber falar e com idealização de perspectiva, também teriam que ler e escrever a língua portuguesa (ALMEIDA, ALMEIDA, & CAETANO, 2009) Ainda de acordo com os autores a partir da iniciação dessa lei efetiva-se o ponto inicial sobre o que a consciencialização africana viria a ser e principalmente relacionado ao negro em África e seu aspecto social mediante ao mundo. Com isso a língua portuguesa agiu além de outros fatores como um veículo para que ocorresse uma unificação no que se refere a comunicação. Com isso, até a data onde serealizou a independência, o escritor africano está inserido entre duas realidades que não lhe permitem ficar alheio que são: • A sociedade colonial europeia; • A sociedade africana. E devido a tensão existente entre esses dois mundos completamente diferentes, que apresentam como resultado um escrito “híbrido”, que surge de uma realidade dialética, onde em um momento possui traços de aculturação que por sua vez são inquestionáveis, e em outro momento com traços de ruptura, esses imperceptíveis ou inexistentes inicialmente. 34 Literaturas Africanas em Língua Portuguesa Ao analisar de forma mais aprofundada, naquele momento, poderia se considerar um escrito africano como europeu, devido a algumas características. Figura 15- Características europeias constatadas em escritos africanos Fonte: a autora. Quando se fala em literatura africana que utilizam a língua portuguesa, pode-se observar todo um processo. Tentando a priorização desse processo, É oferecido por (FERREIRA, 1989) a apresentação de um esquema retratando a literatura africana no que se refere ao seu emergir, principalmente no que se refere a poesia, direcionado a “os momentos/etapas do produtor do texto” considerados por ele (ALMEIDA, ALMEIDA, & CAETANO, 2009). Esse processo segundo (FERREIRA, O discurso no percurso africano I, 1989) é descrito da seguinte forma: • Em um momento inicial, o estado de alienação engloba absolutamente o escritor, onde a cultura colonizadora o absorve inteiramente fazendo com que o escritor reproduza seus ideais. • Em um momento secundário indica a fase onde a percepção da realidade é ganhada pelo escritor onde as diferenciações geográficas e sociais, entre outras são apontadas no que se refere a “metrópole”. • O terceiro, é o momento onde o escritor passa a possuir a consciência nacional em que é colonizado, nesse momento ocorre a libertação onde um pensamento dialético passa a existir entre as raízes que são profundas e a resistência a sujeição ligada a colonização. Com isso, a prática da literatura é enraizada no meio social como também no geográfico e cultural: é considerada a desalienação e a revolta em seu discurso. 35Literaturas Africanas em Língua Portuguesa • É correspondente ao quarto momento, uma fase intrinsecamente ligada a história referente a independência nacional, onde a individualidade do escritor africano de forma plena, é reconstituída: nessa fase os textos são produzidos em liberdade, utilizando a criatividade. Ainda segundo o autor o entendimento que permeia a literatura africana resulta em uma compreensão de um cenário dinâmico pelo qual a produção literária é orientada, onde a ausência de rigidez e inflexibilidade fazem parte desses momentos, isso permite muitas vezes ao escritor percorra dois ou três desses momentos: no que diz respeito ao espaço de criatividade poética e ontológica do escritor, são movidos valores absorvidos do colonizador e que por sua vez são reconhecidos com adquiridos, os valores da cultura original funcionam e sempre há a perca de consciência de valores e que se precisa ser ressuscitada. Em uma visão mais historicista o autor (CHABAL, 1994) faz referência ao relacionamento existente entre o escritor africano junto a oralidade onde são propostas onde as literaturas africanas elaboradas em língua portuguesa são abrangidas, são elas: • A fase inicial é intitulada como assimilação, estão incluídos nessa fase aqueles escritores onde seus textos literários são produzidos a partir de imitações, principalmente dos modelos europeus de escritas; • A segunda fase é denominada de resistência, onde a responsabilidade de construtor é assumida pelo escritor africano, torna-se defensor e arauto da cultura africana, nessa fase o homem africano passa a ter uma conscientização definitiva do seu valor rompendo assim com os moldes inseridos pelos europeus. É também a fase onde a africanidade é conscientizada, coincidindo com a influência de Léopold Senghor, Léon Damas e Aimé Césaire. • A terceira fase está relacionada com o tempo que o escritor africano leva para se afirmar como tal coincidindo também com a fase das literaturas africanas de língua portuguesa, que de acordo com o teórico, é ocorre em momento posterior a independência. 36 Literaturas Africanas em Língua Portuguesa Nessa fase é procurado pelo escritor sua marcação diante da sociedade, além da definição de sua posição nas sociedades pós- coloniais a qual faz parte. • No que se refere a quarta fase, correspondente a atualidade, indica que os trabalhos feitos em termos literários se consolidaram, nesse momento são traçados pelos escritores rumos novos para a o futuro que engloba literatura inserida nas coordenadas dos países de forma individual, havendo um esforço ao mesmo tempo para quer o lugar que compete as literaturas nacionais no corpus literário universal possa ser garantido. Com isso, se pretendermos adquirir uma visão direcionada ao conjunto das literaturas provindas da África em língua portuguesa, faz- se ter uma necessidade a consideração dessas fases onde o texto é produzido, como também considerar os momentos onde houve uma ruptura referente aos códigos que foram estabelecidos. Há uma concordância entre os historiadores e os críticos que os fundamentos que representam esses momentos são caracterizados pela aparição de movimentos literários que tiveram grande relevância ou também de importantes obras que contribuíram para que as literaturas se desenvolvessem. Figura 16 – Obras que contribuíram para o desenvolvimento da literatura africana Fonte: a autora. 37Literaturas Africanas em Língua Portuguesa RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido sobre a chegada da língua portuguesas em alguns países africanos através da colonização realizada pelos portugueses, e como esses países passaram a adotar e a se comunicar através dessa língua de forma oficial, assim como ocorreu o desenvolvimento da literatura nesses países e suas fases em relação a transição entre a utilização de modelos de literaturas europeias para o uso da literatura de raízes africanas. 38 Literaturas Africanas em Língua Portuguesa A importância do estudo da literatura africana à luz da legislação brasileira INTRODUÇÃO: Ao finalizar este capítulo você será capaz de entender sobre a importância de se estudar a literatura de origem africana nos Estados Brasileiros. Isto será de fundamental importância para o exercício de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! A afrodescendência e sua identidade no Brasil A obtenção da identidade não significa um atributo permanente que é consolidado para sempre, esse atributo na verdade é construído com o passar do tempo pelos indivíduos, de acordo com o conhecimento entre eles, e a sua compreensão sobre a posição que ele ocupa em meio a sociedade a qual está incluso, como também sobre a atuação das relações de poder presentes mundialmente como também a posição das pessoas que o cercam. O significado da identidade está intrinsecamente ligado à sua identificação com um grupo juntamente com o sentimento sobre o pertencimento e seu posicionamento diante da sociedade e política. Dessa forma ao adquirir conhecimento sobre a produção de literaturas de países lusófonos da África, buscando os conteúdos que apresentam afirmação sobre a africanidade, que demonstrem orgulho no que diz respeito a sua ancestralidade como também o papel que ela exerce como ferramenta para o lugar do negro no mundo seja redefinido, torna-se uma forma para que as matrizes de cultura africanas sejam resgatadas assim como realizar a ressignificação do que é a África e osignificado de ser negro direcionando para o afrodescendente do Brasil. 39Literaturas Africanas em Língua Portuguesa A literatura africana de língua portuguesa é formada pelas literaturas produzidas em: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, nos quais a língua portuguesa é idioma oficial e cuja produção literária é vista como autônoma, de expressão particular, única e não-portuguesa, ainda assim, não é qualquer obra produzida nesses países que deverá ser estudada (NASCIMENTO C. M., A literatura Africana de expressão portuguesa e a construção da identidade afro-brasileira, 2019, p. 2). Com a obtenção desse conhecimento é permitido que a ancestralidade africana seja valorizada resultando na superação relacionada a inferioridade como um complexo estabelecido através do processo em que os negros foram dominados durante muito tempo no país, tendo alguns direitos roubados. Figura 17 – Direitos retirado de negros durante a colonização no Brasil Fonte: a autora Com isso ao estudar a literatura lusófona africana, surge um caminho para que uma nova consciência sobre o significado de ser afrodescendente ou negro no Brasil como também sobre a profunda conexão existente entre os PALOPs e o Brasil como também a África em sua totalidade. A literatura africana de expressão portuguesa oferece uma visão do negro e da África que foge da limitação dos estereótipos 40 Literaturas Africanas em Língua Portuguesa pejorativos, trazendo o negro no papel de protagonista, herói, sábio, fonte de conhecimento e de cultura, guerreiro e guardião da história de seu povo; permitindo, assim, que o leitor brasileiro (re)descubra a diversidade cultural que forma o continente africano e que está entranhada em suas próprias raízes ancestrais (NASCIMENTO C. M., A literatura Africana de expressão portuguesa e a construção da identidade afro- brasileira, 2019, p. 7). O crescimento das pessoas afrodescendentes no Brasil se deu sob uma visão encarada como dominante, em sua normalidade inconscientemente, onde deve-se ser alcançado o ideal da branquitude, enquanto é observado a inferioridade dos negros, e que deve haver afastamento dos indivíduos, onde inclui-se tudo que proporcione o realce das características consideradas de negros. Em muitas vezes o indivíduo nem se reconhece como afrodescendente, geralmente é usada a classificação de pardo ou moreno afastando-se do termo negro para aproximar-se o máximo possível do branco. Dessa forma a miscigenação ocupa um papel para se “elevar” em algumas características. Figura 18 – Características para que ocorra ”elevação” a partir da miscigenação. Fonte: a autora. 41Literaturas Africanas em Língua Portuguesa No entanto pode ser observado na literatura africana que possui expressões portuguesa o oferecimento de uma visão acerca da África e do negro, nela é trazido aos negros o protagonismo, o transformando em herói, em sábio, sendo fonte de cultura e de conhecimentos, onde ele aparece como guardião do seu povo e guerreiro, havendo uma fuga da limitação dos estereótipos direcionados a eles de forma pejorativa. Dessa forma é permitido que a diversidade cultural pela qual o continente africano é formado, seja (re)descoberta pelo leitor brasileiro e de que certa forma que ele adquira o conhecimento de que as suas raízes ancestrais estão entranhadas em seu meio. A literatura africana na educação Brasileira A literatura africana representada pelos seus conteúdos foi introduzida na educação do Brasil com o objetivo de promoção para que políticas de reparação fossem criadas, assim obtendo a valorização e a história sobre a identidade e cultura afrodescendente. No Brasil foi criada uma lei nacional que garante os estudos da cultura africana em todos os Estados do Brasil, aprovada em 09 de janeiro de 2003, onde foi promulgada a Lei nº 10.639, resultante do Projeto de Lei nº 259, que teve sua apresentação em 1999 pela deputada Esther Grossi e Benhur Ferreira, onde tiveram dois artigos apresentados à Lei nº 9.394/96 a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de Ensino Médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena. § 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas 42 Literaturas Africanas em Língua Portuguesa áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil. § 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro- brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o 14 currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras (BRASIL, 1996, p. 09). Na atualidade, observa-se um grande desafio para que se possa elaborar as propostas didáticas em literatura com destaque ao ensino médio direcionadas aos africanos, o estudo da história da África, da cultura negra do Brasil, da luta vivenciada pelos negros no Brasil e da participação dos negros para que a sociedade brasileira seja formada e que que por sua vez tornou-se obrigatório com a aprovação da lei da Lei no 10.639/03. Nesse contexto, deve-se ter uma observação mais profunda sobre as áreas de história, literatura e artes, dessa forma faz-se necessário uma abordagem sobre os aspectos históricos como também das culturas africanas que tanto participaram como ainda participam e constituem de forma enraizada país em que vivemos. Diante do observado torna-se interessante dar uma tenção maior ao breve histórico da literatura africana exposto no capítulo anterior, pois com sua utilização há um melhoramento da compreensão sobre a ligação existente com a literatura do Brasil e também como essas obras podem contribuir como ferramenta para a aprendizagem referente a cultura e a história de países africanos lusófonos, e com isso possa haver um nova construção sobre a imagem da África como também de seus povos, de forma que o discurso imperialista de colonização, atraso e escravidão seja desvinculada a ela. Nesse contexto os autores que fazem parte do PALOPs ou também os países africanos lusófonos realizam um rompimento acerca dos temáticos da metrópole e de padrões estéticos, mesmo escrevendo ainda a língua pertencente ao colonizador, a literatura é utilizada como uma ferramenta onde eles podem se autoconhecer tendo como resultado uma autoestima nacional fortalecida, dessa forma ocorre um rompimento com: 43Literaturas Africanas em Língua Portuguesa • A imagem de servidão; • Submissão; • Da incapacidade de falar; e • Da incapacidade de agir por sua conta. Essas características por muito tempo foram atribuídas aos negros, e que através das literaturas desenvolvidas por esses autores, ocorrendo um fortalecimento no que se refere ao reconhecimento cultural e literário de raízes africanas. Assim, favorecendo para que pudesse ser reconhecido a deturpação das imagens que ocupavam o colonizador como também os colonizados, que durante o período de colonização foram criadas, que por sua vez ocupava o papel de motivação para o sistema responsável pela escravidão e dominação. A partir da literatura o negro passou de objeto para ser o sujeito responsável por sua história, de forma nenhuma por ter ganhado de outros, essa posição, e sim pelo fato dessa posição ter sido conquistada para si. (...) em um momento em que se percebe um movimento de valorização das raízes africanas entre os afrodescendentes brasileiros,descobrir por meio das literaturas africanas de expressão portuguesa a sua ancestralidade, a complexidade do panorama cultural e histórico africano, o processo de resistência e de superação das limitações impostas pela dominação, permitirá ao afro-brasileiro redescobrir suas raízes, entrar em contato com uma realidade nunca imaginada de ricos aspectos culturais e as vias de comunicação entre Brasil e África que ultrapassam o tráfico de negros escravizados, como o diálogo poético existente entre autores africanos e brasileiros (NASCIMENTO C. M., A literatura Africana de expressão portuguesa e a construção da identidade afro- brasileira, 2019, p. 8). Entre os meios literários a literatura lusófona africana é uma das que apresentam mais popularidade, no entanto é pouco evidenciada nos 44 Literaturas Africanas em Língua Portuguesa materiais didáticos utilizados no ensino médio como também nos cursos universitários, em seletos cursos de Comunicação e Letras esse tema é oferecido como uma disciplina optativa. No entanto, ao realizar o estudo da literatura africana, o negro pode ser entendido dentro de suas raízes e de sua cultura. A literatura africana não pode ser falada sem junto a ela destacar a “Negritude”, que de forma inicial e usando a literatura como uma ferramenta, a libertação do negro pode ser firmada, e que em um momento posterior ultrapassou o limite de apenas um movimento literário e sim uma afirmação de independência, de se clamar pelo reconhecimento como também um ato político. Com isso, deve-se haver uma reflexão sobre a negritude nos estudos relacionados aos textos africanos literários aqui no Brasil também, pois mesmo após a publicação da Lei 10.639/03 que por sua vez obriga o ensino da cultura e da história africana nas escolas, no entanto ainda há muitas discussões no que se refere a implementar esses conteúdos acerca de do currículo escolar de forma completa como também a falta de uma postura sobre uma metodologia específica e necessária para que esse objetivo seja alcançado. Porém é de extrema importância que sejam trabalhados pelos educadores tanto a cultura como a história afro-brasileira como também a indígena dentro do espaço escolar, visto que esse tema pode e deve ser discutido pois a influência exercida por esses povos tem efeito direto para que a cultura brasileira seja construída, e assim a visão do negro de forma pejorativa seja destruída no Brasil. Dessa forma observa-se que é de fundamental importância que haja uma abordagem pelo núcleo escolar, da literatura negra introduzindo-a em sua prática pedagógica, e por conseguinte conseguir favorecer o hábito e o prazer da leitura, assim a literatura é vista como uma ferramenta importante para que os indivíduos sejam formados, visto que é despertado alguns aspectos nos educandos no que se refere a diversidade étnico-racial, objetivando um convívio social melhor. 45Literaturas Africanas em Língua Portuguesa Figura 19 – Aspectos despertados nos educandos com a literatura africana Fonte: a autora. Assim, ao realizar estudos sobre a literatura africana significa, o estudo de textos onde expõem relatos do cotidiano e da vida dos negros, sobre a sua influência e a sua luta para que a cultura e história da nação fosse construída. De acordo com Nascimento (2019), na atualidade as obras que são produzidas por autores africanos que utilizam a língua portuguesa são estabelecidas na independência de suas produções, mostrando características próprias marcantes, entre esses autores reconhecidos internacionalmente estão: • Mia Couto; • Pepetela; • José Eduardo Agualusa; • José Luandino Vieira; e • Ondjaki. No Brasil, as produções desses autores ainda apresenta pouco conhecimento pelo público, isso ocorre devido a ínfima abordagem da literatura africana no ensino brasileiro, outro motivo está relacionado ao interesse limitado do mercado editorial para publicar suas obras, como resultado há uma grande dificuldade para que esse material tanto literário como crítico, possa ser obtido, dessa forma fica ainda mais limitado o ensino que por sua vez exerceria contribuição para que essas obras fossem divulgadas (NASCIMENTO C. M., A literatura Africana de expressão portuguesa e a construção da identidade afro-brasileira, 2019) A partir do ensinamento nas escolas da literatura africana lusófona, a valorização da cultura que vem da ancestralidade como também o retorno ás raízes da África são características que são obtidas, para isso deve 46 Literaturas Africanas em Língua Portuguesa ser apresentado a dimensão existente tanto social como culturalmente relacionado ao texto literário que será construído permeando a realidade. Com isso, surge a possibilidade de provocação aos alunos em relação a identificação de padrões considerados negativos que foram propagados secularmente durante o tempo de dominação e que colocaram sobre a população negra, que até nos dias atuais mostram sofrimento em relação ao complexo de inferioridade de forma coletiva até mesmo subconscientemente resultante desses séculos de agressões sofridas. E para se obter uma postura diferente, faz-se necessário uma tomada de consciência voltada para essa realidade de deturpação desses padrões socioculturais, e a partir daí haverá possibilidade de que a identidade afro-brasileira coletiva seja reconstruída, com base em uma realidade histórica, com positividade que tenha capacidade para o resgate da humanidade plena e a autoestima dos afrodescendentes e de negros. Os negros a partir da tomada desse conhecimento finalmente poderão ver e serem vistos como sujeitos que exercem participação do processo onde a cultura é construída e não apenas como objetos que fazem parte da história de forma deturpada. SAIBA MAIS: Você quer se aprofundar mais nesse tema? Recomendamos o acesso à seguinte fonte de consulta e aprofundamento do artigo: ” A literatura africana de expressão portuguesa e a construção da identidade afro-brasileira”. (NASCIMENTO C. M., A literatura Africana de expressão portuguesa e a construção da identidade afro-brasileira, 2019). Acessível pelo link: https://bit.ly/2zSAAQS Acesso em (11/abr/2020). 47Literaturas Africanas em Língua Portuguesa RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido sobre a importância de se estudar as literaturas de países africanos lusófonos no Brasil, juntamente com os desafios encontrados para que esse tipo de literatura seja introduzida nas escolas. Mesmo tendo a obrigatoriedade por lei, a realidade que podemos observar é que a literatura africana no Brasil é muito pouco estudada não tendo o destaque que deveria ter. Os benefícios levados para os leitores dessa literatura são enormes, pois, a visão sobre o ser humano negro é colocada em seu lugar como um ser capaz e protagonista da história real africana, e não apenas uma imagem passada pela visão colonial. 48 REFERÊNCIAS AJZENBERG, E., & MUNANGA, K. 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