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203 Habilidades Seções de estudo Capítulo 5 Empresas de transporte aéreo Seção 1: Traços normativos gerais Seção 2: História das companhias aéreas tradicionais brasileiras Identificar o regime jurídico estabelecido entre empresas aéreas e a prestação do serviço público de transporte aéreo. Compreender o processo de criação, homologação e funcionamento das empresas aéreas, bem como as suas modalidades de operação. Conhecer a história das empresas aéreas tradicionais brasileiras, seu nascimento, desenvolvimento e extinção. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 204 Capítulo 5 Seção 1 Traços normativos gerais As empresas aéreas brasileiras são as responsáveis pelo transporte aéreo público de passageiros e cargas, mas não são titulares dessa obrigação que, por força constitucional, é da União. Neste capítulo, vamos entender um pouco sobre a estrutura jurídica das empresas de transporte aéreo, bem como o aparato normativo que envolve a relação jurídica criada pelo comando constitucional de se prestar o serviço público de transporte de passageiros. Isso será demonstrado inicialmente, seguido por um estudo das normas que regem a organização e o funcionamento das empresas aéreas. As operações, regulares e não regulares, também serão objetos de estudo, esquematizando seus desdobramentos para perfeita assimilação. Por fim, será disponibilizado um estudo histórico da criação, evolução e extinção das companhias aéreas tradicionais brasileiras, VARIG, VASP e TRANSBRASIL, a par de uma breve explanação acerca do desenvolvimento da aviação comercial brasileira em sentido largo. As empresas aéreas e o poder público Para uma análise, a mais abrangente possível da legislação brasileira acerca das empresas de transporte aéreo, deve-se, em primeiro plano, buscar na Constituição Federal de 1988 a orientação geral para esse modal de transporte, qual a política do governo brasileiro em relação à aviação civil e quem poderá explorá-la. Assim, de acordo com a Constituição: “Art. 21. Compete à União: XII – explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão: c) a navegação aérea, aeroespacial e a infraestrutura aeroportuária.” (BRASIL, 1988). Para a consecução dessa diretriz social da maneira que está prevista na Constituição, a União criou o processo de concessão ou autorização da prestação de serviços aéreos públicos 1 às empresas de transporte aéreo, vez que a União não explora diretamente a navegação aérea Esses institutos também são comandos constitucionais, estando insertos na seguinte passagem: Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob o regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos. Parágrafo único. A lei disporá sobre: 1 Concessão para operações regulares de transporte aéreo e autorização para operações não regulares. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 205 Direito Aeronáutico I – o regime das empresas concessionárias e permissionárias de serviços públicos, o caráter especial de seu contrato e de sua prorrogação, bem como as condições de caducidade, fiscalização e rescisão da concessão ou permissão; II – os direitos dos usuários; III – política tarifária; IV – a obrigação de manter o serviço adequado. (BRASIL, 1988). Conforme dito, o poder público não explora diretamente 2 o serviço de transporte aéreo e assim, após regular processo licitatório, concede ou autoriza a empresas particulares a prestação desse serviço, que pode auferir lucro com a atividade. Isso acontece porque o poder público não possui a especialização nesse segmento econômico, em face da impossibilidade de dedicação exclusiva a um serviço público apenas. De fato, proporcionar o transporte público aéreo de passageiros é somente uma das obrigações do poder público, que tem ainda que envidar esforços na área da saúde, educação, segurança pública, além de outros. Se o poder público avocasse para si a prestação de todos os serviços, não permitindo a participação da iniciativa privada, o Estado seria imenso e sem a garantia de que a prestação de serviços públicos seria eficiente. Assim, em determinadas áreas, o Estado permite que particulares prestem o serviço à população, cobrando tarifas por esse serviço. É claro que não há a transferência da titularidade da obrigação de prestar serviços públicos ao particular, vez que a Constituição não permite que isso seja feito, ou seja, as empresas aéreas civis estão trabalhando sob regime jurídico de concessão ou autorização, mas a responsabilidade final pelo serviço, em última instância, é do Estado. É por isso que o poder público criou um aparato para fiscalizar a atividade aérea, pois é do interesse público que o serviço seja prestado com eficiência e segurança. O órgão responsável pela fiscalização das empresas aéreas, conforme já estudado, é uma autarquia federal, a ANAC, mas essa autarquia se responsabiliza precipuamente pelos aspectos técnicos e normativos aeronáuticos das empresas aéreas. Outros órgãos governamentais podem interferir na relação jurídica estabelecida pela concessão ou autorização, como o Tribunal de Contas da União, o Ministério Público e os demais agentes responsáveis pela fiscalização por parte do Estado. 2 Na década de 60 do século XX, houve a intenção de se criar uma empresa aérea governamental para exploração (e monopólio) dos serviços aéreos públicos, a Aerobrás, mas a tentativa foi suprimida durante a primeira Conferência de Petrópolis. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 206 Capítulo 5 A lei brasileira exige que, para explorar o serviço público, as empresas particulares observem todos os princípios constitucionais e infraconstitucionais previstos para esses serviços, pelo que criou um sistema normativo próprio para criação e funcionamento das companhias aéreas, composto por leis específicas para cada aspecto. Assim, para funcionar a empresa deve: • Ser regularmente constituída; • Ter pessoal técnico capacitado à sua atividade-fim (no caso de empresas aéreas, pilotos e mecânicos, por exemplo) e pessoal técnico capacitado para sua atividade-meio (gerentes de pessoal e contabilidade, por exemplo); • Possuir capital para se manter sem depender de subsídios públicos, e assim em diante. Cada um desses aspectos é regido por leis especiais de observância obrigatória por parte das empresas de transporte aéreo. Na sequência do estudo, será demonstrado como uma empresa aérea deve ser organizada, quais as modalidades de transporte e as normas aplicáveis aos aspectos principais de organização de seu funcionamento. Explanando especificamente sobre empresas aéreas, apesar da incorreção técnica desse termo, “empresa”, utilizado para designar companhia, o seu uso, por estar consagrado, remete ao que se pretende para este estudo, a saber, uma organização voltada ao transporte aéreo público de passageiros, carga ou, em menor vulto, de mala postal em sentido estrito. O RBAC 119 – Certificação: Operadores Regulares e Não Regulares, de 20 de outubro de 2009, também define empresa aérea com os seguintes termos: “Empresa de transporte aéreo, ou simplesmente empresa aérea significa uma entidade jurídica engajada no serviço de transporte aéreo público como operador aéreo regular ou operador aéreo não regular.” Conforme já informado, a exploração dos serviços aéreos no Brasil é uma prerrogativa da União, mas essa pode conceder ou autorizar essa exploração à pessoa jurídica brasileira: conceder, quando se tratar de transporte aéreo regular, autorizar no caso de transporte aéreo-não regular ou de serviços especializados, satisfeitas certas exigências. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 207 Direito AeronáuticoLembrando: transporte Aéreo Regular é uma modalidade de transporte que se caracteriza pelo planejamento disponibilizado ao público dos horários e dias dos pousos e decolagens, bem como das localidades que serão atendidas naqueles dias e horários. O transporte aéreo não regular não possui um planejamento prévio de suas operações, sendo que o horário e dia do pouso e decolagem, bem como as localidades atendidas são negociados quando da contratação do dito transporte, tendo como exemplo clássico as empresas de táxi aéreo. Serviços aéreos especializados são aqueles que promovem a utilização de aeronaves para fins próprios de atividades específicas. De acordo com o art. 201 do CBAER, são serviços especializados a aerofotografia, a prospecção, publicidade, pulverização agrícola, e qualquer modalidade remunerada diferente do transporte público de passageiros, carga e mala postal. As operações aéreas regulares ou não regulares referem-se a serviços de transporte aéreo público, mas, somente para constar, há a figura do serviço aéreo privado, que são realizados para proveito do próprio operador, sem remuneração, tais como atividades aéreas de recreio, ou desportivas, de transporte reservado ao operador ou proprietário da aeronave ou de qualquer serviço especializado em benefício exclusivo do proprietário ou explorador da aeronave. Esses não serão tratados com minúcias no presente trabalho. Voltando aos serviços aéreos públicos, de acordo com o art. 181 do Código Brasileiro de Aeronáutica (1986), a concessão (de serviços aéreos regulares, portanto) somente será dada à pessoa jurídica brasileira que tiver: a) sede no Brasil; b) pelo menos 4/5 (quatro quintos) do capital com direito a voto, pertencente a brasileiros, prevalecendo essa limitação nos eventuais aumentos de capital social; c) Direção confiada exclusivamente a brasileiros. Doutrinariamente, a concessão de serviço publico “é o instituto pelo qual o Estado atribui o exercício de um serviço público a alguém que aceita prestá-lo em nome próprio” (DE MELLO, 2008, p. 690). Assim, as empresas aéreas podem ser concessionárias do serviço público de transporte aéreo regular, desde que satisfaçam as exigências contidas no artigo 181 do CBAER, conforme indicado acima, e na legislação específica. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 208 Capítulo 5 A concessão tem disposição constitucional expressa, conforme se lê no artigo 175 CF/88, aqui citado novamente: “Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre por meio de licitação, a prestação de serviços públicos”. Quanto ao serviço aéreo público não regular, a autorização disso é outorgada segundo o art. 182 do CBAER, sendo essa autorização um instituto de direito administrativo diferente da concessão. De acordo com Bandeira de Mello (2008, p. 431), “autorização é o ato unilateral pelo qual a Administração, discricionariamente, faculta o exercício de atividade material, tendo, como regra, o caráter precário”. Dessa forma, as empresas aéreas podem ser autorizadas a prestar serviço de transporte aéreo não regular, se obedecidos os requisitos indicados no artigo 182 do CBAER e dos regulamentos próprios editados pela Autoridade Aeronáutica civil que, como sabido, desde 2005 é a Agência Nacional de Aviação Civil. Essa precariedade da autorização significa o seguinte: a empresa autorizada vai operando segundo sua demanda, mas se, em algum momento, sair das margens dos regulamentos, poderá ser impedida unilateralmente de voar, até sanar o problema. Homologação de empresa de transporte aéreo É a diretoria da ANAC, com base em parecer da SAS, Superintendência de Acompanhamento de Serviços Aéreos, quem outorga a permissão para uma empresa aérea operar segundo sua intenção, desde que preencha todos os requisitos legais para esse exercício e ainda exista a necessidade da prestação de tal serviço. A homologação pressupõe a constituição regular da empresa de transporte aéreo segundo o trâmite legal para qualquer atividade empresarial, mas, depois de regularmente fundada, as exigências específicas são apresentadas e devem todas ser satisfeitas. Essas exigências estão descritas com minúcias nos Regulamentos Brasileiros de Aviação Civil, RBAC, (sucedâneo do Regulamento Brasileiro de Homologação Aeronáutica) e nas Instruções Suplementares, IS (antigas IAC). Para as empresas aéreas, a base normativa está contida, principalmente, em quatro RBAC/RBHA: 1. RBAC 119 – Certificação: Operadores Regulares e Não regulares; 2. RBAC 121 – Requisitos Operacionais: Operações Domésticas, de Bandeira e Suplementares; SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 209 Direito Aeronáutico 3. RBAC 135 – Requisitos operacionais: Operações Complementares e por Demanda; 4. RBAC 137 – Certificação e Requisitos Operacionais: Operações Aeroagrícolas. As regras existentes para se criar uma empresa de transporte aéreo e operar comercialmente são muito rigorosas e esse rigor existente no processo de homologação de uma empresa aérea se justifica por dois motivos: primeiro porque as companhias aéreas não são empreendimentos comuns, pois além de explorar uma atividade sui generis, no que tange ao elemento em que atua operacionalmente (espaço aéreo), ainda promove a expansão do prestígio da nação que representa no exterior, pelo que deve demonstrar segurança nas operações, como um reflexo da solidez institucional do país. Em segundo lugar, e mais importante, as empresas aéreas, por atuar em ambiente pródigo de riscos, têm que se especializar em sua área de atuação, por se responsabilizarem pela vida de milhares de passageiros que utilizam suas aeronaves todos os anos. Somente esse último motivo já seria suficiente para que o Estado criasse um aparato de exigências para cumprimento das empresas aéreas visando à sua própria segurança: não se pode esquecer que a função de prestar o serviço de transporte aéreo é do próprio Estado e que a empresa aérea, apesar de exercer essa prerrogativa em seu próprio nome, na sua atuação, sempre vai produzir reflexos no governo e na sociedade se uma de suas aeronaves se envolver em um acidente. Em termos financeiros, para a empresa aérea, o acidente também é um quadro terrível, pois acarreta grandes prejuízos diretos e indiretos: • os primeiros estão relacionados ao evento em si e se traduzem na perda do equipamento e nos danos causados à propriedade; • os indiretos são reposição da aeronave e tripulação, indenizações de toda sorte, perda de produtividade, custos de investigação, aumento do valor do seguro, e a perda da confiança por parte dos usuários. De acordo com a Flight Safety Foundation, os custos indiretos podem exceder em mais de vinte vezes o custo direto. “A PanAm, empresa aérea tradicional, decretou falência após o acidente com o voo 103 sobre Lockerbee, Escócia, em 1998.” (BASTOS apud MENDONÇA et al, 2010, p. 10). SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 210 Capítulo 5 Assim, uma empresa deve se preparar para a atividade aérea cumprindo as determinações dos especialistas que hoje compõem os quadros da Agência Nacional de Aviação Civil e observar os regulamentos que envolvem o aparato legal da atividade aérea civil. Para este capítulo não serão observados os requisitos pessoais para homologação pessoal dos aeronautas e aeroviários que formam o arcabouço operacional entre os colaboradores das empresas aéreas, mas sim as exigências formais à própria empresa, para que ela faça jus ao CHETA, ou Certificado de Homologação de Empresa de Transporte Aéreo, cuja obtenção é o último passo antes de se iniciar as operações. É necessário também esclarecer que, para os serviços privados, o certificado chama-se COAP, Certificado de Operador Aéreo Privado. A baselegal ordinária para obtenção desse certificado é Código Brasileiro de Aeronáutica, que consignou todo um Título para disciplinar os serviços aéreos, englobando serviços aéreos públicos e privados; concessão e autorização; constituição das empresas; controle e fiscalização delas; o transporte aéreo regular, não regular e especializado; a designação de empresas brasileiras para operar no exterior e as regras para empresas estrangeiras operarem no Brasil, entre outros. Para regulamentar parte desses artigos do CBAER, foram elaborados alguns RBAC, como o RBAC 119 – Certificação: Operadores Aéreos Regulares e Não regulares, aprovado pela Resolução ANAC 117/09, ao que se deve estudar neste momento. De acordo com o RBAC 119, para a emissão de um Certificado é necessário que a empresa requerente demonstre: a) Que dispõe de uma organização adequada. Essa exigência é extremamente ampla, pois significa que a empresa deve apresentar a estrutura administrativa própria da atividade empresarial em primeiro lugar, com setores responsáveis pela admissão, capacitação e orientação aos colaboradores, com a sua burocracia trabalhista, previdenciária e contábil em ordem; setor comercial, que tratará do manuseio dos contratos de transporte de passageiros ou de carga; um setor jurídico que representará a empresa em demandas judiciais de toda sorte; um setor responsável pela segurança do trabalho e medicina laboral; um setor de transporte de superfície; enfim, de todos os aspectos funcionais que envolvem qualquer atividade empresarial. Da maior importância é o preparo das operações na forma da contratação dos seguros obrigatórios, vez que esse é um dos requisitos para a emissão do Certificado de Homologação, como se verá mais adiante, no item “f”. Em segundo plano - e ainda dentro da exigência da organização adequada, estão os setores afetos à sua finalidade precípua, que é a operação aérea, constando, entre outros de: SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 211 Direito Aeronáutico • setor de conservação das aeronaves; • setor de manutenção de aeronaves (tanto em sua sede, onde são feitas as inspeções programadas e grandes reparos e substituições, quanto nas equipes de rampa nos aeroportos, nas localidades por onde opera a empresa aérea); • setor de EAS, (equipamento de apoio no solo, como escadas, bancadas, fontes de força, macacos, carrinhos de ferramentas e de manuais etc.); • setor de reabastecimento, tratoramento, cheques estáticos e dinâmicos e limpeza; • setor de despacho de voo; • setor de publicações técnicas; • setor de prevenção de acidentes aeronáuticos; • setor de inspetoria técnica; • setor de medicina aeroespacial; • setor de suprimento técnico; • setor de controle de escala de aeronautas e planejamento das viagens (operações); • setor de acompanhamento das despesas remotas, tais como abastecimento fora de sede, taxas por pouso e decolagem devida aos administradores dos aeroportos e empresas de catering nas escalas, hospedagem e transporte dos tripulantes que necessitem pernoitar fora de sede, atendimento aos passageiros nos aeroportos, desembaraço de carga nos terminais etc. Enfim, a empresa deve dispor de todos os meios necessários ao apoio fundamental à atividade aérea desenvolvida pela empresa. Destaca-se, neste plano, a prática de manutenção da empresa de transporte aéreo, que deve ser homologado de acordo com a IS 120-001A – Programa de Manutenção de Empresa de Transporte Aéreo. Em terceiro plano (ainda dentro da “organização adequada”) está o aparato gerencial da empresa, formada por especialistas em aviação e em administração de empresas aéreas, todos orientados por uma diretoria que se responsabiliza pela política da empresa. Esse grupo de profissionais será indicado mais adiante, assim como a capacitação técnica exigida para assumir a titularidade dos postos gerenciais. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 212 Capítulo 5 b) Um método de controle e supervisão das suas operações de voo. A decolagem de uma aeronave é precedida de numerosos procedimentos, tais como definir a escala dos tripulantes, o reabastecimento de combustível e de mantimentos a galley (armários dentro do avião onde são estocados e preparados os alimentos a serem consumidos durante a etapa de voo), pré-voo, cálculos de peso de balanceamento, emissão do plano de voo, conferência da lista de passageiros e da própria aeronave, verificação de suprimentos a bordo, limpeza, controle de bagagens, verificação da rota e das condições do destino, aerovias a serem cruzadas, bem como pontos fixos de navegação e aeródromos, horários de acionamento e táxi. Após a decolagem, as tarefas se diversificam em serviço de bordo, verificação constante dos instrumentos da aeronave, navegação, tendências e gerenciamento da aeronave, controle do consumo de combustível, cálculos esporádicos de long range, maximum endurance (regimes do motor para máximo alcance ou máxima autonomia) ou operação normal. No destino há o cuidado com o horário de chegada, de acordo com o slot da companhia, a consulta aos procedimentos, o contato bilateral constante com os órgãos de controle de tráfego aéreo, a descida sob os instrumentos, o pouso, o táxi, o corte dos motores e o desembarque dos passageiros, e demais ações. Essa rotina é dos tripulantes, mas os procedimentos devem estar sob a supervisão e controle de uma seção especializada, apta, inclusive, a resolver quaisquer problemas que surjam no decorrer do voo. E tudo isso para operação normal; em caso de emergência, o setor de controle e supervisão das operações deve estar preparado para auxiliar os tripulantes no gerenciamento da pane, para trazer a aeronave com segurança ao solo. Se somarmos a isso o fato de que as aeronaves modernas prescindem de mecânico de voo a bordo, a responsabilidade do setor de controle e supervisão aumenta exponencialmente. Como se pode perceber, a operação de uma aeronave é extremamente complexa e demanda o trabalho dedicado de uma equipe de profissionais para manter tudo em andamento. Imagine uma companhia que possua vários aviões e atende várias localidades, pode-se formar uma ideia do aparato técnico e pessoal necessário para se cumprir a exigência desse item, que possui a rubrica simples de “método de controle e supervisão das suas operações de voo”. c) Um programa de treinamento. Essa exigência não se refere somente ao treinamento inicial dos novos colaboradores ao equipamento da empresa, mas sim a todas as readaptações, reciclagens de sistema, aulas, cursos, adestramento, ensaios e familiarizações nos equipamentos em uso e em novos. No setor aeronáutico, a evolução tecnológica é rápida e novos componentes são desenvolvidos para auxílio à manobrabilidade e navegação das aeronaves, o que SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 213 Direito Aeronáutico demanda novo programa de treinamento e adaptação ao equipamento recém- instalado ou mesmo em novas aeronaves. As empresas aéreas podem possuir o próprio centro de treinamento ou terceirizar esse serviço aos centros privados de adestramento de aeronautas disponíveis. O mesmo se aplica ao pessoal de solo, pois com a emergência de novos equipamentos, não é somente a operação que muda, mas sim a prática e os métodos de manutenção e as ferramentas necessárias, sendo que, para os aeroviários, o curso é feito na oficina do fabricante ou nas dependências da própria empresa aérea. Recentemente, uma declaração dos órgãos de investigação de acidentes aeronáuticos da França sugeriu como fator contribuinte do acidente do Air France, que caiu perto de Fernando de Noronha, a possível falha da tripulação em controlar a aeronave. Tal falha teria advindo da mecanização dos procedimentos, ou seja, os tripulantes fazem tantasvezes a mesma operação que acabam deixando de lado as listas de verificação, o que, por sua vez faz o piloto pular etapas fundamentais. A falta de treinamento em simuladores também pode ter feito a diferença nesse referido acidente. d) Acordo de serviço de solo e de manutenção nos aeródromos onde opera, de acordo com a escala e a amplitude de suas operações. Conforme dito no item “b”, é altamente complexa a operação de aeronaves nos aeroportos, sendo necessária uma equipe coordenada para que tudo seja feito a contento e no pouco tempo disponibilizado para o avião permanecer no solo. Esses acordos de serviço se referem a abastecimento das aeronaves com combustível e mantimentos, bem como serviço de limpeza. A manutenção a que se refere esse item é baseada no pós e pré-voo, por uma equipe treinada para aquela aeronave, responsável por detectar quaisquer anomalias mais evidentes na fuselagem, trem de pouso, motores, antenas e superfícies de voo. Os reparos feitos por esses profissionais geralmente são de pequena monta e mesmo as trocas de componentes somente são feitas quando rápidas, ou seja, há a retirada de um componente por meio de desengates rápidos e prontamente substituído por outros em condições de operar. Se a aeronave apresentar alguma pane que a impeça de voar, essa deve ser trocada por outra, permanecendo à disposição da equipe de manutenção vinda da sede da empresa ou mesmo de empresas de manutenção locais, a depender do nível do reparo. Mesmo esses procedimentos são objeto de fiscalização por parte da autoridade aeronáutica: uma IAC especial informa acerca das inspeções de rampa feitas por essa autoridade para fiscalizar se os procedimentos efetuados em aeródromos permitem a operação continuada daquele equipamento; trata-se da IAC 3002-91-0198 – Procedimentos Relativos à Realização de Inspeção de Rampa em Aeronaves Operando Segundo o RBHA 121, 129 ou 135. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 214 Capítulo 5 e) Dispõe de uma aeronave ou mais aeronaves das quais seja explorador. A aeronave ou as aeronaves que a empresa pretende operar é o ponto de partida para a construção da própria empresa, sendo precedida apenas pela definição de sua finalidade social, pelo que a escolha deve obedecer a critérios objetivos. O planejamento do que se pretende transportar é o primeiro ponto a ser considerado, se carga ou passageiros. Depois, a capacidade desejada, em número de passageiro ou de carga paga e as localidades onde se pretende operar (neste ponto, normalmente é escolhido o tipo de aeronave, se movido a hélice ou a jato puro). Por fim, há a escolha da aeronave entre os vários modelos que são disponibilizados pela indústria aeronáutica, o que, normalmente, segue o tipo de operação que a empresa aérea pretende manter. f) Tenha contratado seguros que cubram sua responsabilidade em casos de acidente com os passageiros, bagagens, carga e terceiros. Esse é um ponto importante para as empresas aéreas, principalmente àquelas que pretendem operar no exterior, pois a contratação do seguro é uma das exigências da OACI estabelecida na Convenção de Varsóvia e confirmada pela Convenção de Chicago, a qual o Brasil é signatário. Inobstante essa obrigação legal, o seguro promove uma ajuda financeira valiosa à companhia aérea, em caso de acidente de uma de suas aeronaves, pois, conforme já citado, os custos diretos e indiretos de tal ocorrência costumam ser devastadores para as empresas. Essas são as condições gerais para uma companhia aérea conseguir o Certificado de Homologação de Empresa de Transporte Aéreo, mas a companhia detentora desse Certificado ainda não pode iniciar suas atividades se não dispuser da permissão por parte do governo que, como dito, pode vir na forma de concessão ou autorização, dependendo se pretende ingressar na atividade aérea como operador regular ou não regular. A validade do Certificado de Homologação de Empresa de Transporte Aéreo é efetiva até que o detentor do Certificado o devolva para a ANAC ou seja suspensa, revogue ou o casse de alguma maneira. Obtida a concessão ou a autorização e o CHETA, a companhia aérea agora pode iniciar suas operações regulares ou não regulares, com a ressalva de que uma companhia aérea que possui concessão pode fazer operações não regulares, mas uma companhia que possua autorização não pode operar de forma regular. Nesse ponto, é necessário saber quais são os tipos de operação existentes. Operação, no jargão aeronáutico civil tomado em sentido amplo, refere-se à destinação da aeronave para determinada missão a que foi fabricada, ou mesmo o conjunto de missões a que está engajada a empresa aérea. Em um sentido restrito, refere-se à disponibilidade ao público do planejamento por etapa das missões: se essa disponibilidade for antecipada de tal forma que permita a SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 215 Direito Aeronáutico programação dos interessados (passageiros ou despachantes de carga aérea) será regular, mas se a programação não for disponibilizada ao público em geral e visa a atender apenas ao contratante da operação, então, será não regular. Mas esse é apenas um critério de classificação. Os outros se referem à amplitude do voo, se dentro das fronteiras do país ou fora, e ainda quanto ao tamanho de aeronave. Em número de cinco, o resumo das definições dessas operações pode ser conferido na sequência. Operações regulares Operações regulares são aquelas que possuem planejamento antecipado do dia e do local de pouso e decolagem, sendo esses dados disponibilizados previamente ao público. Essas operações se dividem em três: 1) Operação de bandeira é caracterizada pelo tipo de avião e pelas localidades atendidas. Tipos de aviões: • propelidos a jato; • propelidos a hélice: com capacidade de carga paga superior a 3.400 kg (7.500 libras), ou com mais de 9 assentos para passageiros. Localidades: • entre aeródromo brasileiro e aeródromo estrangeiro; • entre aeródromo estrangeiro e outro aeródromo estrangeiro. Como se pode perceber, essa é a operação mais ampla que existe. É feita com vários tipos de aviões e em qualquer localidade e se traduz na própria essência do avião de transporte de passageiros e carga. Esse nome, “de bandeira”, tem origem controversa, mas provavelmente se refere ao início das operações aéreas comerciais, em que as empresas eram praticamente públicas, nacionalizadas, de “bandeira”, portanto. 2) Operação doméstica é também caracterizada pelo tipo de avião e pelas localidades atendidas. Tipos de aviões: • propelidos a jato; • propelidos a hélice: com capacidade de carga paga superior a 3.400 kg (7.500 libras) ou com mais de 9 assentos para passageiros. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 216 Capítulo 5 Localidades: • entre quaisquer aeródromos dentro do Brasil. Esse tipo de operação também pode ter pousos intermediários fora do território nacional, se a necessidade operacional assim o determinar, como utilização de aeródromo de alternativa em território estrangeiro por condições meteorológicas adversas, sem descaracterizar a operação doméstica. Um ponto importante é a proibição, pelo Código Brasileiro de Aeronáutica, em seu artigo 216, da consecução da operação doméstica por empresas estrangeiras. De fato, apenas empresas aéreas nacionais podem realizar operações domésticas em território brasileiro. 3) Operação complementar é caracterizada pelo tipo de avião e por sua frequência de operação. Tipos de aviões: • de asa rotativa; • propelidos a hélice: com capacidade de carga paga menor que 3.400 kg (7.500 libras), ou com menos de 9 assentos para passageiros. Frequência: • total semanal de 2 circuitos fechados 3 em pelo menos uma rota, entre dois ou mais aeródromos regulares, de acordo com horáriode voo tornado público. A operação complementar justifica seu nome na medida em que é utilizada para pequenas cargas e poucos passageiros. Dessa forma, para se classificar a operação regular, deve-se observar a quantidade de assentos: se maior que 9, a operação será de bandeira; se menor, a operação será complementar. O mesmo raciocínio para a carga, tomando-se o peso de 3.400 kg como referência. Operações não regulares São operações que não têm programação de horário e dia, nem de localidades previamente indicadas, mas dependem da necessidade do usuário e da disponibilidade da empresa aérea em atender àquela solicitação. Essas operações se desdobram em duas: 3 Circuito fechado é uma operação em que a etapa inicia e termina no mesmo aeródromo, não importando em quantas localidades a aeronave pouse e decole. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 217 Direito Aeronáutico 1) Operação por demanda é conduzida por meio de oferta pública de vagas (charter) ou qualquer outra operação na qual o horário, o local de partida, o local de destino e o preço são negociados entre o usuário e o operador. Também são caracterizadas pelo tipo de avião. • de asas rotativas; • propelidos a jato, com capacidade de carga de menos de 3.400 kg (7.500 libras) ou com menos de 30 assentos para passageiros; • propelidos a hélice, em operações cargueiras de capacidade de carga paga menor que 3.400 kg (7.500 libras); • em qualquer aeronave com menos de 20 assentos para passageiros ou capacidade de carga paga inferior a 2.720 kg (6.000 libras). Essa operação é a mais característica e comum das não regulares. São pequenos aviões que se caracterizam por preparo e deslocamento rápido para atender aos passageiros que têm pressa e a pequenas, mas valiosas, cargas que justifiquem o preço do transporte. 2) Operação suplementar diz respeito ao horário de partida, local de partida e destino, especificamente negociados com o usuário, assim como operações de fretamento (charter) e operações cargueiras, nos seguintes tipos de aviões: • propelidos a jato, com mais de 1 e menos de 31 assentos para passageiros (e que seja também utilizado em operações domésticas e de bandeira, conforme listado nas especificações operativas); • propelidos a hélice, com mais de 9 e menos de 31 assentos ( e que seja também utilizado em operações domésticas e de bandeira, conforme listado nas especificações operativas); • com capacidade de carga paga superior a 3.400 kg (7.500 libras); • com mais de 30 assentos. As operações suplementares são típicas de grandes aviões. Apenas como exemplo, quando o avião A-380 é montado, seus grandes componentes são fabricados em várias localidades e transportados por enormes aviões cargueiros; essas operações são suplementares. Todas as operações cargueiras devem ser classificadas como demanda ou suplementares, mas isso somente quando a operação é cargueira, sem o acréscimo de passageiros. As operações de aeronaves transportando carga e passageiros são classificadas de acordo com suas características, ou seja, se SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 218 Capítulo 5 o horário e o preço forem disponibilizados previamente, serão regulares, e se o preço e o horário forem combinados antes da contratação, serão não regulares. O seguinte esquema possibilita uma ideia abrangente de como estão organizados os tipos de operações aéreas: Figura 5.1 - Tipos de Operações Transporte aéreo Prer. União, C. F., Art. 21, XII, letra “c” Concede – op. regulares Doméstica Por demanda Suplementar De bandeira Complementar Autoriza – op. não regulares Fonte: Brasil, 1986. Retornando à descrição das características das empresas aéreas, agora à luz dessas informações sobre operações, uma vez iniciadas as atividades, a companhia deve manter a operacionalidade para continuar prestando o serviço público de transporte, tanto da parte administrativa quanto da manutenção dos equipamentos, ao que será fiscalizada frequentemente pela autoridade aeronáutica, ANAC, por meio de suas superintendências, notadamente a SAS e SPO. A empresa aérea regular ou não regular não pode ficar inoperante por muito tempo, ou seja, não pode manter suas aeronaves no solo por certo tempo, sendo esse tempo proporcional ao tipo de operação, conforme o parágrafo 119.63 do RBAC 119, que dispõe sobre a chamada operação recente. Segundo esse parágrafo, nenhum detentor do certificado de homologação pode conduzir uma espécie de operação para a qual ele está autorizado, a menos que tenha se passado um determinado número de dias consecutivos desde a última saída: • para operações domésticas, de bandeira e complementares, regulares, portanto: 60 dias; • para operações suplementares e sob demanda, ou seja, não regulares: 90 dias, exceto se o operador tiver efetuado alguma operação regular nos últimos 30 dias. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 219 Direito Aeronáutico No caso da empresa aérea permanecer com suas aeronaves no solo pelo período indicado, isso deve ser avisado à ANAC com antecedência mínima de 15 dias, antes de retomar aquela espécie de operação, para que a autoridade aeronáutica decida acerca da necessidade de inspeções ou reexames para verificar a segurança da operação. Administração das empresas aéreas As empresas aéreas devem possuir pessoal qualificado para conduzir os seus setores administrativos de acordo com o RBAC 119. Mas aqui o termo “administrativo” não se refere apenas àquelas modalidades de gerenciamento afetas às empresas em geral, mas sim todos os aspectos envolvendo a aeronave no solo e no gerenciamento das operações aéreas, pelo que a presença de elementos especialistas em aviação nos quadros de chefia de pessoa da empresa tem caráter obrigatório, sem os quais as operações não podem ser conduzidas. Esses devem ser profissionais qualificados, e essa qualificação deve ser reconhecida pela Autoridade Aeronáutica como adequada a sua área de atuação, dispondo dos cursos acadêmicos, técnicos ou de capacitação exigidos por elas. Esses profissionais e suas qualificações são: • Diretor ou Gerente de Segurança Operacional; • Diretor ou Gerente de Operações; • Piloto Chefe; • Diretor ou Gerente de manutenção; • Inspetor Chefe. O Diretor ou Gerente de Segurança Operacional deve possuir curso de gerenciamento de segurança operacional reconhecido pela ANAC, ter pelo menos um ano de experiência de trabalho no setor de segurança operacional ou na prevenção de acidentes aeronáuticos em empresa do setor de transporte aéreo ou na própria ANAC. Esse profissional deve conhecer os manuais de operação das aeronaves, bem como suas limitações e restrições como um pressuposto ao gerenciamento da segurança operacional. Se caso a pessoa não possuir a experiência necessária, pode ser enviado o currículo do postulante ao cargo, com a solicitação fundamentada à autoridade aeronáutica que apreciará e decidirá sobre a solicitação. Essa função pode ser exercida por militares das Forças Armadas da reserva que tenham exercido funções de controle operacional em unidades aéreas, operando aeronaves militares de qualquer porte ou que exerceram atividade de INSPAC OPS (inspetores da aviação civil – Operações, cargo do antigo DAC) por 3 anos nos últimos 9 anos. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 220 Capítulo 5 O Diretor ou Gerente de Operações deve ser detentor de licença de Piloto de Linha Aérea ou Piloto Comercial, se a empresa demandar apenas profissionais desse nível, mais 3 anos de experiência como gerente ou supervisor em uma função, exercendo controle operacional sobre qualquer operação e ainda 3 anos de experiência como piloto em comando de um avião. O Piloto Chefe deve possuiruma licença de PLA com o apropriado CHT para o avião mais complexo usado pelo detentor do certificado em suas operações. Além disso, deve ter pelo menos 3 anos de experiência como piloto em comando de aviões. O Diretor ou Gerente de manutenção deve ser engenheiro aeronáutico ou engenheiro mecânico registrado junto ao CREA/CONFEA. O engenheiro mecânico deve estar registrado e autorizado para exercer atividade de direção de serviços técnicos referentes a aeronaves, seus sistemas, seus equipamentos e seus serviços correlatos. Deve conhecer os manuais de manutenção e as especificidades operativas do detentor do certificado e das provisões aplicáveis. O Inspetor Chefe deve ser habilitado pela ANAC como mecânico de manutenção aeronáutica nos grupos célula e motopropulsor; possuir pelo menos 4 anos contínuos no exercício de atividades variadas de manutenção de grandes aviões, dos quais pelo menos 1 ano como inspetor de manutenção ou de aeronavegabilidade. O inspetor chefe pode também ser formado como técnico de nível superior, registrado junto ao CREA/CONFEA, para o exercício de atividades referentes a aeronaves, seus sistemas e componentes. A ANAC pode adaptar as funções indicadas acima de acordo com o tipo de operação e as características da empresa aérea, que deve submeter suas especificidades quando da solicitação do CHETA, inclusive quanto a possibilidade de modificação de posições ou número de profissionais requeridos, desde que o detentor ou requerente do certificado demonstre que o elemento ou elementos podem desempenhar a função com o mais alto grau de segurança. Mas todos os profissionais requeridos acima ou seus equivalentes autorizados pela ANAC devem, pessoalmente: • ser qualificados por meio de treinamento, experiência e perícia; • conhecer as operações de sua empresa, na extensão de sua responsabilidade; • conhecer padrões de segurança em avião e práticas operacionais seguras; • conhecer os RBAC, Regulamentos Brasileiros de Aviação Civil; • conhecer as especificações operativas do detentor do certificado; SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 221 Direito Aeronáutico • conhecer os requisitos de manutenção e aeronavegabilidade contidos na legislação; • conhecer o manual requerido pelo RBAC 121.133 - Manual de Procedimentos Operacionais e de Inspeção. Divisão das empresas aéreas, segundo estratégias de custos Recentemente, a mais tradicional empresa aérea brasileira, a VARIG, esteve ao ponto de desaparecer em função da sua insolvência provocada por políticas econômicas equivocadas, agravadas pela crise aérea advinda dos acontecimentos do final do século passado e do início do presente, como o atentado aos edifícios do World Trade Center, nos EUA, trilhando o mesmo caminho de duas grandes empresas, a TRANSBRASIL e a VASP. Alguns detalhes acerca dessas companhias serão disponibilizados adiante, mas para o momento podemos afirmar que a administração da VARIG colaborou em certa medida com a sua própria decadência, ao confiar exageradamente em ajuda do governo, seja pelo papel que desempenhava no mercado brasileiro, por sua posição como primeira companhia aérea do país e por seu volume de negócios e funcionários, sendo essas, infelizmente, atitudes que fazem parte de um modelo ultrapassado de gestão. Hoje é apenas uma pequena subsidiária que efetua transporte charter com a denominação de VRG Transportes Aéreos e alinhada com a Gol Linhas Aéreas. A diversificação do panorama empresarial aeronáutico mundial e nacional exigiu uma nova estratégia administrativa e operacional, caracterizado pelo gerenciamento direto de custos e de diferenciação de serviços. Esse novo modelo, aliado com novas tecnologias da ciência aeronáutica, possibilitou um rompimento gradual do vínculo que existia com o governo, o que diminuiu a política de subsídios como forma de depurar o mercado, possibilitando a emergência de companhias aéreas capazes de enfrentar as vicissitudes das operações aéreas, com os próprios recursos. A predominância do mercado de transporte aéreo brasileiro por parte dessas novas empresas, como a TAM (que se uniu à LAN) e a GOL, que hoje capitaneiam as operações aéreas nacionais em detrimento das companhias tradicionais, mostra que essa nova estratégia é fundamental para a sobrevivência no mercado, sendo esse novo modelo de gerenciamento utilizado pelas companhias mais novas ainda, como a AZUL e TRIP, que estão ampliando suas áreas de operação para além dos seus contornos iniciais, unindo-se. Inobstante, as últimas notícias acerca dos reflexos das crises políticas e econômicas indicaram mesmo que todas as companhias aéreas brasileiras estão tendo prejuízos. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 222 Capítulo 5 O que promoveu o sucesso dessas novas companhias, em detrimento das tradicionais, foi a adoção de um conjunto de medidas que visavam, primeiramente, a baratear seus custos, e, em segundo plano, a atrair passageiros pela oferta diferenciada de serviços, ao mesmo tempo em que se buscava afastar a dependência do auxílio governamental. É óbvio que a fiscalização da atividade aérea por parte dos órgãos governamentais vai continuar nos mesmos moldes, face à posição destacada no transporte aéreo no panorama econômico e social do país, mas o auxílio prestado por parte do governo dificilmente virá na forma de inversão direta de recursos, e sim o esforço de se proporcionar a segurança das operações aéreas, dotando a infraestrutura aeronáutica dos melhores meios técnicos necessários, de acordo com a política estabelecida pelo CONAC. Não faz parte do projeto desse trabalho analisar o grau de sucesso da implementação dessa política, e, aos que demandam uma posição atualizada, é útil a leitura do Comunicado 54 do IPEA, publicado no dia 31 de março de 2010 – sim, um escrito de seis anos passados, que por sua análise apurada da situação, reveste-se de grande atualidade. No que tange ao novo padrão de gerenciamento de empresas aéreas, pode-se contar com o esclarecimento de Rodrigues (2007, p. 35), A literatura sobre o setor de transporte aéreo de passageiros distingue dois modelos de empresa, cada qual com suas peculiaridades em relação ao sistema de atividade e as estratégias adotadas pelas mesmas. Os tipos são as Low Cost Carriers (LCC) e as Full Service Carriers (FSC). Estes tipos de empresas se referem, respectivamente, as estratégias de liderança em custo e diferenciação. Isso significa que as empresas aéreas hoje baseiam sua estratégia em duas vertentes: baixo custo e, por conseguinte, baixa tarifa; e diferenciação do serviço, promovendo melhorias na própria prestação do serviço. Ou seja, enquanto as LCC oferecem tarifas mais baixas, as FSC oferecem o melhor serviço. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 223 Direito Aeronáutico Esses modelos de gerenciamento possuem as seguintes características, de acordo com Gabriel Rodrigues (2007, p. 26-37 e 38): - Aeroportos: a empresa LCC prefere operar em aeroportos secundários, onde encontra tarifas de utilização mais baixa que os aeroportos primários, o que, além de diminuir os custos, ainda auxilia na pontualidade, vez que esses aeroportos são menos movimentados. - Aeronaves: enquanto a LCC prefere operar com somente um tipo de aeronaves, para buscar a uniformidade de procedimentos administrativos, de voo e de manutenção, a FSC opera com aeronaves diversificadas, normalmente com mais de 3 modelos. - Serviço: na LCC o serviço é simplificado aos mínimos, enquanto na FSC é oferecido um serviço de primeira qualidade, com grau de detalhamento que busca a satisfação das menores necessidades. - Modelo comercial: a FSC utiliza o modelo de reservas de passagens, em que o usuário pode programar-se com antecedência para a viagem, enquanto a LCC utilizaem larga escala o e-business para a venda das passagens, em que a maioria das vendas é feita por internet ou telefone. - Produtividade: os pilotos da LCC voam mais horas por ano que os pilotos da FSC, com a consequente diferenciação no salário “nas LCC’s, em média 60% dos proventos dos funcionários são o salário-base e 40% restante são fruto da sua produtividade enquanto que na FSC os salários são fixos, sem premiações. Sinteticamente, esse é o novo padrão de gerenciamento das companhias aéreas emergentes, no cenário do transporte aéreo público brasileiro. A relativa estabilidade econômica e política da nação, até o início do ano de 2015, sugeriu uma maré de otimismo com o cenário aéreo, que, no presente, está em compasso de espera diante de mais uma crise política e econômica. É certo que o mercado interno desaquecido pode levar à falta de investimento por parte das empresas em seu acervo material e em suas equipagens, mas é necessário considerar que, para além da possibilidade de investimento discricionário das empresas aéreas como resultado do seu melhor desempenho financeiro, a finalidade delas é proporcionar o transporte aéreo com segurança, vez que é um serviço público que prestam, e assim não podem esperar muito para se adaptar ao mercado atual ou declarar sua impossibilidade de operar. Esse fator econômico pode influenciar na qualidade do serviço sem demais problemas, mas é dever das empresas aéreas monitorar suas operações para plotar condições latentes propícias a acidentes aéreos. A tendência atual é de declínio dos acidentes aéreos, mas as consequências da falta de investimento em material e capacitação normalmente aparecem depois de algum tempo. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 224 Capítulo 5 Seção 2 História das companhias aéreas tradicionais brasileiras O desenvolvimento da aviação civil brasileira A aviação civil brasileira nasceu e cresceu influenciada por fatores internacionais, como o desenvolvimento de técnicas e de material pelos países industrializados e também por alguns fatores internos, como políticas públicas de transporte e de defesa. De fato, segundo Cláudia Musa Fay (2002, p. 129), “o estudo das políticas interna e externa adotadas pelos diferentes governos no Brasil, ao longo do período, revela que o desenvolvimento da aviação brasileira foi marcado por períodos de crescimento e declínio e por crises sucessivas”. Não que o desenvolvimento da aviação comercial ficasse alheio ao Governo Brasileiro, que já manifestava certa preocupação com a soberania e com a crescente importância da atividade aérea ao dispor, na década de 20, regulamentos que visavam a projetos de ampliação da fiscalização ao setor, como o Decreto 14.050, de 5 de fevereiro de 1920, que modificou a denominação de Inspetoria Federal de Viação Marítima e Fluvial para Inspetoria Federal de Navegação, e também uma regulamentação de 1925, estabelecendo que os serviços domésticos fossem operados por companhias sediadas no país. (FAY, 2002). No início da década de 30 do século XX, a preocupação do Governo Vargas era a da integração nacional, e ficou estabelecido que a aviação era um bom instrumento para essa finalidade. “Nessa época, foram criados subsídios por quilômetro voado e concedidas isenções de impostos para a aquisição de material aeronáutico pelas empresas aéreas.” (FAY, 2002, p. 130). Após o término da Primeira Guerra, alguns países que lutaram estavam com excedentes de aeronaves. Ao mesmo tempo, as indústrias que desenvolveram os aparelhos precisavam encontrar outros mercados para seus produtos, e com isso foi fomentado o desenvolvimento aéreo nos países como o Brasil, cujas dimensões continentais e a ausência de uma indústria aeronáutica própria tornavam-no um mercado promissor. A Alemanha foi derrotada nessa primeira guerra e mergulhou em uma profunda crise; além disso, pelo Tratado de Versalhes, aquele país não poderia desenvolver atividades aéreas militares e as atividades aéreas comerciais também sofreram restrições. Alguns grupos de empresários alemães trataram de driblar as imposições do tratado, fundando e operando companhias aéreas em outros países, como o consórcio alemão chamado de Sindicato Condor, o qual desenvolveu, em 1920, uma linha regular na Colômbia e, em 1927, inaugurou a primeira aerolinha no Brasil (DOLE, 1979, p. 39). SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 225 Direito Aeronáutico O Sindicato Condor era formado por duas companhias alemãs, a Deutscher Aero Lloid A. G., (precursora da Luft Hansa) e a Schlubach, Theimer and Co, de Hamburgo. O porquê da escolha de “Condor”, uma ave andina inexistente na Alemanha, é um mistério (GASTAL, 2009). Essa companhia tinha a parte sul do continente americano toda para si, pois tirando a atividade aérea militar, só havia seus aviões operando na área, diferentemente dos EUA, que, desde 1914, já tinha uma linha aérea regular operando de Tampa a St. Petesburgo, na Flórida; era a St. Petesburgo-Tampa Airboat Liner (LUCHESI, 2003). O Sindicato Condor iniciou uma linha que ia do Rio de Janeiro a Porto Alegre, com uma extensão de 160 milhas para a cidade de Rio Grande. No mesmo ano de 1927, a empresa alemã transferiu essa extensão para outra companhia aérea recém-fundada por um ex-piloto alemão da Primeira Guerra; seu nome era Otto Ernst Meyer e à companhia que fundou deu o nome de Viação Aérea Rio- Grandense, ou VARIG, a primeira companhia brasileira de transporte aéreo. Outra companhia que operou pelo Brasil nesta época foi a francesa Generale Aeropostale, oferecendo apenas serviço postal e proporcionando maior rapidez no transporte de correspondência, pois essa era transportada de Buenos Aires a Paris em apenas 8 dias, ao invés dos 16 por meio de navio (DOLE, 1979). Um fato curioso acerca da história dessa companhia francesa é que a linha de Buenos Aires tinha como etapa a Ilha de Santa Catarina, e um dos seus pilotos acabou ficando conhecido em Florianópolis: seu nome por aqui era “Zé Perri”; este piloto escreveu um livro com relatos das missões na América do Sul, cujo título é Voo Noturno, e acabou conhecido mundialmente em função dessa e de outras obras, mas por seu nome verdadeiro: Antoine de Saint-Exupéry. Voltando à história da VARIG, essa companhia logo ampliou a extensão cedida pelo Sindicato Condor para alcançar as cidades de Pelotas, Bagé, Livramento, Uruguaiana, Torres, Cruz Alta, Santa Maria, Santa Cruz e Santo Ângelo. Seu único avião era um Dornier Wal, de nome Atlântico, mas a frota da VARIG cresceu nos anos 30: em abril de 1930 ela recebe dois Junkers F-13, de fabricação alemã, prefixos P-BAAF e P-BAAG e iniciam uma rota para Livramento e Cruz Alta; mais dois aviões chegaram neste ano, o Junkers G-24 apelidado Ypiranga e outro Dornier Wal, chamado de Gaúcho (GASTAL, 2009). A VARIG conseguiu, em 1936, estabelecer a primeira linha aérea diária do Brasil, entre Porto Alegre e Pelotas. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 226 Capítulo 5 Outra empresa importante que começou a operar no Brasil em 1930 foi a Panair do Brasil (subsidiária da Pan American Airways), criada por compra da NYRBRA, linha aérea ligando New York, Rio de Janeiro e Buenos Aires, operando também de Miami a Buenos Aires (DOLE, 1979). Essa empresa iria desempenhar um papel de destaque nas operações iniciais da Segunda Guerra, como se verá adiante. Em 1931 foi criado o Departamento de Aeronáutica Civil, dentro do Ministério da Viação e Obras Públicas, para estudar e resolver os problemas da aviação. A primeira legislação regulando o setor aéreo foi o Decreto 20.914, de 06 de janeiro de 1932. Entre as diversas normas desse diploma legal está a imposição de concessão do governo para se operar uma linha aérea. Deve-se recordar também que é deste ano,1932, a Portaria do Ministério de Viação e Obras Públicas, no sentido de fixar em dois anos o prazo para que os aviões brasileiros fossem tripulados por aeronautas brasileiros. A primeira companhia totalmente brasileira de transporte aéreo foi o Aerolloyd Iguassu S/A, organizada em 1933, para operar a linha de Curitiba a São Paulo. Essa companhia foi dissolvida em 1939. No dia 4 de novembro de 1933, foi fundada a Viação Aérea São Paulo, VASP. Essa companhia foi idealizada por alguns empresários de São Paulo, mas foi comprada pelo Estado de São Paulo em 1934. Sua primeira aeronave foi um Monospar, bimotor inglês com capacidade para transportar 2 passageiros. (CIGERZA, 2008). Com o advento da Segunda Guerra Mundial, houve algumas mudanças importantes na aviação civil brasileira: em função do crescente sentimento antigermânico no Brasil (notadamente depois dos afundamentos de navios na costa brasileira por U-Boats, submarinos alemães), a empresa alemã Sindicato Condor foi nacionalizada com o nome de Cruzeiro do Sul e o fundador da VARIG, o antigo piloto alemão Otto Meyer, afastou-se da companhia e nomeou Rubem Berta como presidente. Posteriormente, a Companhia Aérea Cruzeiro do Sul foi incorporada à VARIG, que passou a se chamar VARIG-Cruzeiro. No início da Segunda Guerra Mundial também foi criado o Ministério da Aeronáutica. O Departamento de Aeronáutica Civil, que estava subordinado ao Ministério da Viação e Obras Públicas, foi a ele transferido, assim como o Correio Aéreo Nacional, formado da junção dos Correios Aéreos Naval e Militar. Também foi criada e colocada sob a égide do Ministério da Aeronáutica uma nova arma: a Força Aérea Brasileira, formada por recursos materiais e pessoais da aviação naval e do exército. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 227 Direito Aeronáutico A entrada dos EUA na guerra e a neutralidade do Brasil por algum tempo produziu um evento curioso: sendo o litoral brasileiro considerado estratégico pelo governo americano, mas para não estabelecer bases militares no nordeste, afetando a neutralidade do nosso país, os Estados Unidos alocaram recursos vultosos à Pan American Airways System, uma grande companhia que possuía, como dito, um ramo no nosso país, a Panair do Brasil. Assim, essa empresa pode iniciar a construção de campos de pouso no Amapá, Belém, São Luís, Fortaleza, Natal, Fernando de Noronha, Recife, Maceió e Salvador, sem afetar a neutralidade do Brasil nem a popularidade do Presidente Vargas. A utilização seria americana e brasileira, principalmente servindo como base aos aviões de patrulha que operavam a partir do nosso litoral, mas esses aeródromos seriam integrados à infraestrutura aeroportuária nacional. (GASTALDONI, 2007). E também durante a guerra foi ampliada a participação americana direta na aviação civil brasileira; uma nova companhia aérea, a Aerovias Brasil S/A foi fundada para transportar quartzo do interior de Goiás para Belém e daí para Miami, auxiliando no esforço de guerra americano. A Segunda Guerra Mundial produziu muitos reflexos no Brasil, mas vale a pena citar a predominância de produtos dos EUA na aviação civil e militar brasileira, principalmente pela adoção dos modelos de aeronaves fabricados naquele país. Após a Segunda Guerra repetiu-se o ocorrido com as aeronaves militares excedentes da Primeira Guerra, ou seja, as companhias civis aproveitaram os excedentes de guerra que tinham baixos preços e adaptaram esses equipamentos as suas finalidades. A incipiente indústria aeronáutica brasileira, que havia crescido durante os anos de guerra (formada tanto por empresas privadas, como a CNNA e a CAP, quanto públicas, como a Fábrica do Galeão, Fábrica Nacional de Motores e Fábrica de Lagoa Santa), foi minguando em função da grande oferta de aeronaves excedentes de guerra mais baratas e mais versáteis. De acordo com Fay (2002, p. 130), Os consumidores de aviões, tanto as forças armadas como as companhias aéreas, voltaram-se para as sobras de guerra. O resultado, de um lado, foi o fechamento das fábricas de aviões criadas no Governo Vargas e, de outro, a proliferação de empresas aéreas, muitas das quais sem condições mínimas de operar. Ao mesmo tempo, o desenvolvimento da indústria aeronáutica, para atender ao esforço de guerra, proporcionou um incremento na qualidade das aeronaves. Ressalte-se, como dito, o fato de que a influência da indústria aeronáutica europeia no Brasil foi ultrapassada pela indústria americana, a exemplo do que aconteceu com a política. Um avião americano merece destaque neste contexto: SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 228 Capítulo 5 o DC-3, que se tornou aeronave-padrão de numerosas companhias aéreas pelo mundo, inclusive no Brasil. Mas não havia somente a preocupação de desenvolvimento da aviação como meio de desenvolvimento ou de integração; a atividade aérea internacional tornou-se um símbolo político. Nesse sentido, ensina Fay (2002, p. 124), Os aparelhos, que levavam ao redor do mundo a bandeira de seus Estados, conferiam-lhe não apenas prestígio e projeção, mas também serviam aos Estados nacionais como vetores nas suas relações culturais e comerciais com outras nações. O avião, ao reduzir as distâncias entre os continentes, acelerou a circulação de riquezas e promoveu maior intercâmbio de ideias e culturas. Ao mesmo tempo, a aviação passou a ser vista pelo seu potencial estratégico na defesa, na observação e no ataque. A aviação passou a representar um risco e uma necessidade para os Estados: defender a soberania do seu espaço aéreo de um lado, e garantir a segurança dos passageiros, de outro. Uma grande companhia foi fundada no Brasil após a Segunda Guerra, precisamente em 1955: inicialmente batizada de SADIA S.A., foi equipada com três aviões Douglas DC-3 e dois Curtiss Commander C-46, e operava em duas linhas: Joaçaba – Londrina – Bauru – Ribeirão Preto e Joaçaba – São Paulo – Videira - Florianópolis, três vezes por semana. Em 1972, essa empresa mudou seu nome: de SADIA S.A. para TRANSBRASIL S.A (FARIAS NETO, 2007). Em 1947, as companhias aéreas que possuíam concessões do governo brasileiro para operar eram 31, sendo que somente 17 estavam em funcionamento. Nessa ocasião, o governo criou maiores restrições à criação de novas companhias, e no intuito de controlar mais efetivamente esse setor, foi criada, dentro do DAC, a CECLA, Comissão de Estudos e Concessões de Linhas Aéreas, com a função de considerar todas as propostas de criação de novas linhas (DOLE, 1979). Essas condições, somadas às convulsões políticas por que passou o Brasil na década de 50 do século XX, proporcionaram um ambiente caótico à atividade aérea comercial, com a sua consequente descapitalização. Isso levou o Conselho de Ministros a realizar um encontro entre as Companhias Aéreas e representantes do governo em Petrópolis, em novembro de 1961, no que ficou conhecido como Conferência de Petrópolis. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 229 Direito Aeronáutico Nessa Conferência foi reafirmado o repúdio ao monopólio, tanto governamental (foi afastada a ideia da criação de uma companhia aérea controlada pelo poder público, chamada Aerobrás), quanto por particulares. Além disso, nessa Conferência nasceu uma ajuda às Companhias Aéreas na forma de um subsídio especial de Cr$ 12,0 bilhões, como ajuda de emergência. A essa conferência sucederam-se mais duas, em 1963 e em 1968 no hotel Glória, no Rio de Janeiro. Nesses anos também ocorreram várias fusões entre as companhias, segundo uma orientação estatal, sendo que, a partir de 1975, as mais importantes operando no Brasil eram a VARIG, a VASP e a TRANSBRASIL, que não mais operam regularmente hoje, por motivos diversos. Alguns detalhes da crise por que passaram as companhiassão descritos pelo ex-coronel da FAB Farias Neto, como se apontará mais adiante. Foi nesse período que a política de fusões das companhias promoveu a incorporação, pela VARIG, da Cruzeiro do Sul, que, como dito, foi resultado da nacionalização do Sindicato Condor, companhia alemã que operava no Brasil desde 1927. O curioso é que a VARIG nasceu como um avião fornecido pelo Sindicato Condor, e operava uma linha cedida por essa companhia. A VARIG também recebeu uma concessão de rotas da PANAIR do Brasil, retirada dessa empresa pelo governo, o que acelerou o seu fechamento. “Com o apoio do governo, a empresa escolhida – VARIG – se fortaleceu e passou a dominar o setor, praticamente sem concorrência interna”. (FAY, 2002, p. 132). Em 1957, o número de cidades brasileiras atendidas pelo transporte aéreo eram 357, mas no início da década de 70 caiu para 77. A crise mundial do petróleo agravou ainda mais essa condição. Em um otimismo injustificado, o Sindicato Nacional dos Aeronautas, com as diretorias de algumas empresas aéreas, aprovou um plano de reestruturação das empresas, adquirindo novas aeronaves de altíssimo preço e de elevado custo operacional, ampliando o quadro geral da crise no setor. Deve-se ressaltar, ainda, que, além da concorrência entre as companhias aéreas, outra modalidade de transporte estava em ascensão na segunda metade do século XX: o modal rodoviário, estimulado, sobretudo, pela expansão de estradas federais pavimentadas. (KAWAMOTO, 2002). Essa realidade e as dificuldades econômicas enfrentadas pelas companhias aéreas por má administração levaram o governo a implementar a política de regionalização do transporte aéreo em 1975. Assim, para efeitos de concessões e autorizações de operações aéreas, o Brasil foi dividido em cinco regiões: Norte, Nordeste, Central, São Paulo e Centro-Oeste e Sul; as operações nessas regiões foram oferecidas às companhias de táxi aéreo, que se uniram aos grupos existentes e formaram novas empresas regulares de transporte. Segundo Cláudia Musa Fay (2002, p. 133), SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 230 Capítulo 5 No Rio de Janeiro, a TOP Taxi Aéreo, ligada ao Bradesco e à Atlântica Boavista Seguros, associou-se à VARIG e assim nasceu a Rio-Sul Linhas Aéreas. Inicialmente o capital da empresa era igualmente distribuído pelos acionistas; mais tarde a Fundação Ruben Berta passou a controlar a maioria das ações. Em São Paulo, a VASP e a Taxi Aéreo Marília (TAM) operavam interligando Mato Grosso e Goiás. No norte, na região amazônica, foi criada a TABA; no Nordeste, foi criada a Nordeste Linhas Aéreas, com a Transbrasil associando-se à Votec e ao Estado da Bahia. Esse sistema regional foi criado pelo Decreto n° 76.590, de 11 de novembro de 1975. Algumas dessas companhias nascidas como regionais cresceram para sobrepujar as linhas tradicionais e expandiram-se para todo o Brasil e, algumas, para o exterior, como é o caso da TAM. Outras nasceram operando entre as lacunas das grandes companhias, ampliando-se ao ponto de absorver essas empresas, como é o caso da GOL, que iniciou sua operação em 2001e que comprou parte da VARIG, quando essa se submeteu ao processo de recuperação judicial. A crise das companhias aéreas tradicionais brasileiras Apesar da diversificação da atividade aérea tradicional, com a implementação da regionalização do transporte pelo SITAR, Sistema Integrado de Transporte Aéreo Regional, uma sucessão de fatos trouxe muita instabilidade ao setor, ocasionando a fragilidade das companhias, que não suportaram o impacto dos diversos fatores econômicos e sociais que caracterizaram as últimas décadas do século XX. Pode-se iniciar o relato desses fatos pela errônea medida das companhias em não manter os contornos do planejamento institucional do SITAR, abandonando a utilização dos aviões de pequeno porte no transporte regional, e operando com grandes e inadequados aviões, o que acarretava a diminuição da frequência dos voos, afetando a qualidade do serviço e afastando os usuários. (RODRIGUES, 2007). Na década de 80, o controle das tarifas aéreas foi retirado do Ministério da Aeronáutica e passado ao Ministério da Fazenda, que manteve o valor congelado e, por conseguinte, defasado, por quatro anos. Essa medida foi uma das respostas do governo a uma situação de inflação galopante, fazendo parte de um pacote de ações que foi chamado de Plano Cruzado, o qual, além de congelar os preços das tarifas por quase um ano, ainda passou a autorizar os aumentos a posteriori, ou seja, após as empresas amargarem prejuízos em suas operações. Na década de 90, ocorreu a V Conferência Nacional da Aviação Civil, CONAC, que marcou um início do processo de flexibilização do setor aéreo, passando a vigorar um processo monitorado de liberalização das tarifas aéreas domésticas. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 231 Direito Aeronáutico Além disso, houve a autorização para os chamados VDC, Voos Diretos ao Centro, às empresas regionais, que passaram a operar com exclusividade as ligações entre aeroportos centrais, como Congonhas/Pampulha, Congonhas/Brasília, Santos Dumont/Brasília. Essa prerrogativa permitiu um “salto qualitativo das empresas até então marginais no mercado, que passariam a crescer de forma acelerada: TAM e RIO SUL.” (RODRIGUES, 2007, p. 62). Em 1994, a Comissão de Fiscalização de Arrecadação de Tarifa (COFAT), órgão vinculado ao DAC (Departamento de Aviação Civil, Autoridade Aeronáutica de então) reajustou as tarifas cobradas das empresas de transporte aéreo (tarifas relacionadas ao transporte de passageiros e carga) em mais de 100%, como forma de compensar o congelamento imposto pelo governo Sarney. Essa nova despesa trouxe mais prejuízos às companhias aéreas, que não podiam reajustar suas próprias tarifas sem autorização do DAC e do Ministério da Fazenda. Esses prejuízos foram agravados pela crise cambial de 1999, que iniciou na Tailândia e se espalho pelo mundo; “o Real passou de uma cotação de R$ 1,20 para R$ 2,20 frente ao dólar, o equivalente a uma desvalorização de 80%.” (RODRIGUES, 2007, p. 66). Como muitos dos gastos das empresas aéreas, principalmente com combustível, são atrelados ao dólar, é fácil imaginar que essa crise afetou profundamente todas as companhias do setor. Por último, no início do século XXI, um acordo entre o DAC e o Ministério da Fazenda permitiu que a maioria dos mecanismos de regulação fosse removida; além da flexibilização das tarifas, ainda foram inauguradas novas linhas aéreas, o que favoreceu a entrada em cena da GOL, empresa LCC, em janeiro de 2001. Os atentados terroristas de 11 de setembro desse ano provocaram uma contração da atividade aérea no maior mercado do mundo, os EUA, prejudicando empresas de transporte aéreo internacional, ao mesmo tempo em que as guerras no oriente médio encareceram ainda mais o combustível. O governo americano estabeleceu uma ajuda às companhias aéreas daquele país, o que não foi feito pelo governo brasileiro, selando seu destino. As principais empresas aéreas brasileiras finalmente sucumbiram a todos esses problemas e iniciaram um triste declínio. Isso é parte recente da história, e, para essas companhias e seus funcionários, uma trágica história. Na sequência, o relato sucinto dos reflexos desses fatos especificamente para as empresas tradicionais brasileiras: Transbrasil, Vasp e Varig. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 232 Capítulo 5 Transbrasil Nascida da inspiração de Omar Fontana, a TRANSBRASIL era a terceira maior companhia brasileira de aviação no início da década de 80. Ampliando sua frota com aeronaves Boeing 767-200, o seu presidente se preparava para ampliar também suas atividades, buscando operar no mercado internacional. Mas a crise econômica das décadas de70 e 80, agravada por sucessivos planos econômicos que arrasaram a economia brasileira daquele período, fez com que a companhia entrasse em crise. O seu presidente exigiu judicialmente a reparação pelas perdas ocasionadas pelos planos econômicos, mas ao invés disso recebeu uma severa intervenção federal que o afastou do comando de sua companhia. Um ano depois lhe foi devolvido o comando da empresa, mas o interventor havia vendido irregularmente ativos da companhia. Nova ação na justiça e Omar Fontana criou metas para superar a crise ampliando os serviços. Infelizmente, sua saúde debilitada não permitiu a consecução dos seus planos, falecendo em 8 de dezembro de 2000. O comando da companhia foi passado a Celso Cipriani, que, mesmo herdando muitas dívidas, recebeu grandes recursos advindos de uma ação ganha na justiça contra o governo federal. “Surpreendentemente, a empresa parou de voar logo depois.” (FARIAS NETO, 2006, p. 123). A TRANSBRASIL cessou suas operações logo após a Shell suspender o fornecimento de combustível, no dia 3 de dezembro de 2001, quase que simultaneamente com o início das operações de uma nova companhia de transporte aéreo: a GOL. Suas dívidas alcançaram R$ 50 milhões. (FARIAS NETO, 2006). Em 22 de janeiro de 2002, foi publicada nota oficial de que o controle acionário da empresa havia sido adquirido por Dilson Prado, proprietário da Fly Brasil, que pagou o valor simbólico de R$ 1,00 e assumiu a dívida atualizada da companhia. Em 2006, a empresa obteve uma liminar no STF modificando a cassação da sua condição de empresa concessionária de serviços de transporte aéreo. O próximo passo foi buscar investidores e apresentar à ANAC um plano de recuperação para retornar ao mercado, para novamente obter o CHETA, Certificado de Homologação de Empresa de Transporte Aéreo. Não houve mais notícias dessa empresa, que tinha o nome do nosso país desde este ano, senão as eventuais publicações de imagens dos seus aviões abandonados nos pátios secundários de grandes aeroportos, acumulando detritos e sendo corroídos pelo tempo. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 233 Direito Aeronáutico Vasp No início da década de 80, a VASP possuía uma frota de vinte e três B737- 200, quatro B727-200, três Airbus e dois cargueiros B727. No final dessa década, chamada de “perdida”, em função do desenvolvimento pífio da nação, ocorrido por políticas estatais equivocadas, o governo de São Paulo anunciou a necessidade de privatização da companhia, eis que não poderia mais investir nela; essa privatização ocorreu no governo de Orestes Quércia, em 01 de outubro de 1990. Nessa época, a VASP era a segunda maior companhia aérea brasileira. Os novos donos da VASP passaram a ser o Grupo Canhedo, de Wagner Canhedo e funcionários da companhia. Em seguida, foram tomadas providências no sentido de substituir os jatos 727, ampliando a frota para 61 aeronaves, em 1992. Mas, infelizmente, as medidas não correram a contento: A VASP não evoluiu e não promoveu o crescimento dos seus colaboradores. Suas dívidas se tornaram cada vez maiores, com o não pagamento de taxas à Infraero [...] sua dívida chegou a R$ 626 milhões em 2006. Com suas dívidas cada vez maiores, seu presidente acabou preso por apropriação indébita (FARIAS NETO, 2006, p. 128). A falência da VASP foi decretada em setembro de 2008, e, recentemente, a juíza Elisa Maria Secco Andreoni, da 14ª Vara do Trabalho de São Paulo, determinou o leilão de bens do principal acionista da VASP, Wagner Canhedo, para o pagamento de dívidas trabalhistas. Em 2013, foi confirmada a venda da fazenda da Vasp, mas não há notícias de que os recursos foram invertidos para pagamento dos trabalhadores. Varig De acordo com Farias Neto (2006), o congelamento das tarifas aéreas das décadas de 80 e 90, uma administração deficiente e as mudanças sucessivas de comando, fizeram com que a VARIG, a maior e mais antiga companhia aérea brasileira, acumulasse uma dívida de 7 bilhões de reais no início do século XXI, principalmente pelos resultados negativos apresentados a partir do ano de 1996. Conforme Rodrigues (2007, p. 90), a VARIG tinha rentabilidade positiva até 1986, tornando- se predominantemente negativa entre 1987 e 1992. Entre 1993 e 1997, a empresa apresentou recuperação de sua rentabilidade, apesar de muito próximo de zero. A partir de 1998, a rentabilidade entra em crescente decadência, voltando a se recuperar em 2003 e 2004, apesar das taxas bastante negativas. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 234 Capítulo 5 Uma tentativa de reestruturação foi efetuada depois de 1997, com a redução da frota da empresa para 14 aviões, “sendo retirados de serviço os Boeing 747 e os McDonnell Douglas DC10-30. A oferta de assentos foi reduzida em 20% nos voos internacionais e 17% nos domésticos”. (RODRIGUES, 2007, p. 124). No início do primeiro mandato do penúltimo presidente brasileiro, em 2003, foi feita uma tentativa de fusão entre a VARIG e uma nova companhia nascida no interior de São Paulo, quando houve a política de regionalização dos transportes aéreos: a TAM. Os passageiros da VARIG conheceram essa nova empresa e migraram para o serviço de melhor qualidade oferecido por aquela companhia. Quando a fusão fracassou, a VARIG viu-se sem clientes e ainda endividada. Em 2005, a justiça deferiu o pedido de recuperação judicial. O presidente da TAP Fernando Pinto (Ex-Presidente da VARIG) em novembro do mesmo ano, em conjunção com investidores brasileiros, formalizou a compra da subsidiária VARIG LOG e VEM, garantindo o pagamento de credores internacionais. A Fundação Rubem Berta (FRB) fechou um acordo em dezembro para transferir à Docas Investimento 67% das ações ordinárias da FRBPar, proprietária da VARIG. Nada foi fechado, pois a justiça do Rio de Janeiro suspendeu a operação, justificando que a troca de controle deveria passar primeiro pela aprovação dos credores. Imediatamente a FRB foi afastada da gestão da VARIG, enquanto os credores rejeitaram a oferta da Docas Investimento e aprovam um plano de reestruturação da companhia. (FARIAS NETO, 2006, p. 135). A VARIG foi vendida, afinal, por U$ 24 milhões, em leilão, para a VARIGLOG, que anunciou a continuidade dos voos para algumas capitais brasileiras, sob uma nova denominação: VRG Linhas Aéreas, que recebeu o Certificado de Homologação de Empresa da ANAC em 14 de dezembro de 2006; em 9 de abril de 2007, a VRG e a GOL linhas aéreas se fundiram e hoje aviões ainda com pintura da VARIG são operados pela GOL. Recentemente, foi publicada a notícia de que a VRG passou a fretar os aviões 767 da VARIG para destinos do exterior, como forma de custear sua manutenção. Hoje, a TAM, a Gol e a Azul dominam o mercado interno, com variado grau de sucesso. Infelizmente, estamos novamente às voltas com crises políticas e econômicas que estão sendo sentidas diretamente por essas companhias. É certo que novos modelos de gestão estão sendo implementados para garantir a continuidade das operações, tanto por interesse das empresas, por permanecer vivas, quanto por exigências de contratos internacionais com outras empresas ditas parceiras, como a TAP, que se aliou à Azul. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 235 Direito Aeronáutico Síntese Como se pôde perceber no presente capítulo, as companhias aéreas não são empreendimentos comerciais comuns, seja pelo fascínio que as envolve, seja por serem prestadoras de um dos serviços públicos mais relevantes, além de contribuir decisivamente para o prestígio da nação perante os outros países. A União é a titular da obrigação de prestar o serviço de transporte público de passageiros e carga ao povo brasileiro, mas desde que não possua empresas aéreas públicas, o serviço é repassado por concessão ou por autorização
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